Durante a Segunda Guerra Mundial o excelente desempenho dos carros de combates produzidos na União Soviética (URSS) como o T-34 clarificou o talento da indústria daquela nação em produzir blindados de qualidade e poder de fogo. Este sucesso se repetiria com os novos T-44 e T-54 lançados em fins da década de 1940 e início da década seguinte. A resposta da indústria norte americana viria inicialmente no desenvolvimento do M-41 Walker Buldog e posteriormente com os tanques da família M-46, M-47 e M-48 Patton mais bem armados e com proteção blindada adicional. Na segunda metade da década de 1950 o aparecimento de versões atualizadas do T-54 e o do novo T-55 Soviético, clarificaram que M-48 Patton, que na época era o esteio da força blindada norte-americana não seria páreo para enfrentar estas novas ameaças representadas nos hipotéticos campos de batalha na Europa, durante a Guerra Fria. Além das qualidades destes novos carros de combate, a balança pesava a favor das Forças do Pacto de Varsóvia pela sua incrível superioridade numérica. Este grave cenário levaria ao estudo de se implementar uma emergencial modernização na frota de carros de combate M-48 Patton, porém estudos detalhados revelaram que qualquer processo que fosse implementado neste sentido iria resultar em pouco resultado prático. A fim de se atender a esta demanda, em maio de 1957, o comando do Exército Americano (US Army) decidiu pelo desenvolvimento de um novo carro de combate, que deveria representar o primeiro MBT (Main Battle Tank - Carro de Combate Principal) desta força terrestre, e seria também o primeiro a receber o novo canhão de 105 mm a fim de sobrepujar seus antagonistas soviéticos equipados com armas de calibre 100 mm.
Este programa denominado como MBT T-95 teve início em 1957, e apresentava dentre vários componentes inovadores e experimentais o canhão T-208 de alma lisa de 90 mm, fixado rigidamente à sua torre, design inovador de motor em forma de "X", blindagem composta e sistema de telêmetro infravermelho. Porém o desenvolvimento destas inovações e sua implementação no projeto, acabariam resultando em consideráveis atrasos no cronograma geral. O projeto apesar de promissor seria muito influenciado por um fato inusitado, pois em 1956 durante a Revolução Húngara, um T-54A foi levado pelos húngaros à embaixada do Reino Unido em Budapeste e assim submetido a um breve exame por parte de oficiais e técnicos. Esta rápida análise, levaria a conclusões importantes, entre elas que as munições dos tipos HEAT ou APC até então existentes no inventário da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) eram incapazes de penetrar sua blindagem frontal. Providencias deveriam ser tomadas, para que se criassem condições técnicas a fim de se rivalizar esta grande ameaça. Do lado britânico um novo canhão o Royal Ordnance L7 seria desenvolvido a fim de se equipar o carro de combate Centurion visando assim oferecer um poder de fogo que pudesse infringir danos a blindagem dos carros soviéticos. Já no lado norte-americano as alterações no projeto do MBT T9-5 resultariam no XM-60, com este programa passando a ser gerido pelo Army Combat Vehicle-ARCOVE (Comite do Exército para Veículos de Combate). A fim de favorecer o custo de aquisição e operação (além de aproveitamento de ferramental) seria definido que novo carro de combate fosse desenvolvido a partir do conceito do conceito básico do blindado do M-48 Patton, portando ainda várias características do carro de combate pesado M-26 Pershing.
A arma principal foi escolhida após um teste de tiro comparativo de seis canhoõe diferentes realizadas em Aberdeen Proving Grounds em 1958. Os fatores avaliados foram precisão, letalidade de um golpe, taxa de tiro e desempenho de penetração, neste processo a escolha pendeu para o canhão T-123E6 de 105 mm (sendo este uma versão sob licença do canhão britânico Royal Ordnance L7), que além de apresentar melhor resultado no comparativo fazia uso de uma ampla variedade de munições já usadas no canhão M-58. Ao final deste processo de desenvolvimento, o novo canhão seria designado como M-68 passando a ser produzido pelo Arsenal de Guerra Watervliet em Nova York. Os painéis de blindagem eram construídos em apliques compostos feitos com vidro de sílica fundido, sendo projetados para serem montados no casco (conceito abandonado na segunda versão de produção, levando a adoção de uma armadura de aço convencional). Isso levaria a um completo redesenho da frente do casco na forma de uma cunha plana, em vez da frente elíptica presente no desing do M-48 Patton. O novo sistema que apresentava ainda melhorias no sistema de proteção final do casco, que apesar de dispor de 93mm ao invés de 114 mm possuía um ângulo mais íngreme, aumentando assim a eficiência da blindagem. O novo veículo receberia ainda o moderno motor a diesel Continental V-12 Twin Turbo refrigerado a ar desenvolvendo 750 hp de potência. O contrato de aquisição seria aprovado em abril de 1959, com a produção inicial iniciada em junho nas linhas de montagem da fábrica de defesa da Chrysler Corporation em Delaware, com as primeiras entregas ocorrendo em novembro deste mesmo ano, e o modelo oficialmente atingindo a capacidade operacional plena em dezembro de 1960.
Apesar de representar um grande avanço sobre os M-48 Patton, verificou se durante seu processo de introdução no serviço ativo, que o novo carro de combate carecia ainda de melhorias de projeto. Assim no início do ano de 1960 nascia o programa M-60A1, com os primeiros protótipos sendo submetidos a testes no mês de março e abril. A nova versão abandonava o sistema de blindagem composto, e passava a dispor de uma torre com maior proteção balística, periscópios IR de visão infravermelho e motor Continental AVDS-1790-2A (que apresentava um perfil de uso mais econômico e com menor emissão de fumaça). Após um amplo programa de testes de campo realizados campo em Fort Knox, o modelo receberia em 22 de outubro de 1961 a aceitação operacional. Com as definições oficializadas a versão final agora denominada M-60A1 seria aprovada nem fins do ano de 1960, celebrando um contrato de US$ 61 milhões de dólares prevendo a aquisição inicial de 720 carros. Sua produção teve início em 13 de outubro de 1962, a partir das linhas de montagem da Detroit Arsenal Tank Plant, uma subsidiária da Crysler Automotive Co. A próxima versão seria designada como M-60A2 e seria fruto de estudos para o emprego de misseis antitanques guiados disparados pelo veículo. Diversos protótipos foram testados no campo de provas de Aberdeen, com o modelo M-60A1E2 sendo aceito pelo Exército Americano (US Army) em 1970. Um contrato de 540 carros seria firmado, com as entregas sendo efetuadas a partir de 1975. No entanto, os modelos M-60A1 e M-60A2 ainda eram incapazes de disparar com precisão em movimento, esta deficiência começou a ser solucionada a partir de 1978, quando iniciaram-se os trabalhos de desenvolvimento da variante M-60A3. Essa versão além de agregar um eficiente sistema de estabilização de tiro em movimento, que em conjunto com novo computador balístico M-21 criava uma plataforma estabilizada que permitia a realização do tiro a longas distancias, (incluindo munição tipo flecha APFDS ) com elevada probabilidade de acerto no primeiro tiro, mesmo contra alvos em movimento e sob qualquer situação climática e de visibilidade. Os primeiros carros começaram a ser entregues as unidades do Exército Americano (US Army) a partir de meados de 1979.
A produção do M-60A3 seria encerrada em 1987, e a todo seriam produzidos mais de 15.000 carros de combate, dispostos em vinte oito versões originais e mais dezessete variantes internacionais, frutos de conversões e processos de modernização. Muito dos M-60A1 e M-60A2 foram reconstruídos na versão M-60A3. Estes carros de combates pertencentes aos efetivos blindados do Exército Americano (US Army) e o Corpo de Fuzileiros Navais Americanos (USMC) se mantiveram na linha de frente até fins de 1993, registrando ainda destacada participação nas duas guerras do Golfo. Começariam, no entanto, a ser gradativamente substituídos a partir de meados da década de 1980 pelas primeiras versões do novo Carro de Combate Principal norte-americano, o M-1 Abrams. Os veículos em melhor estado de conservação foram transferidos para unidades de treinamento e da reserva permanecendo em serviço até o ano de 2005. Além de carros novos, milhares de M-60 usados, seriam cedidas as forças armadas da Bósnia, Herzegovina, Egito, Grécia, Irã, Jordânia, Líbano, Marrocos, Omã, Portugal, Arábia Saudita, Espanha, Taiwan, Sudão, Tailândia, Tunísia, Brasil, Turquia, Áustria, Etiópia, Itália e Israel, onde muitos ainda permanecem em serviço ativo.
Emprego no Exército Brasileiro.
No início da década de 1990, a força de carros de combate do Exército Brasileiro estava composta na linha de frente por tanques modernizados M-41B e M-41C Caxias , que apesar de disponíveis em uma quantidade suficiente já se mostravam ultrapassados quando comparados as ameaças regionais hipotéticas ao país. Se fazia necessário então prover a substituição destes carros de combate na linha de frente, e também neste processo realocar um certo número de M-41C em substituição aos Bernadin X-1 Pioneiro e X-1A1/A2 Carcará que ainda equipavam dois Regimentos de Carros de Combate (RCC). O caminho para o atendimento desta demanda começaria a tomar forma com a elaboração de um ambicioso programa de modernização denominado como "FT-90" ou Força Terrestre 90. Dentre as prioridades constantes neste programa estava a aquisição de um substancial lote de carros blindados de nova geração. Estudos de análise de desempenho e capacidade econômica foram realizados, com a equipe técnica do Exército Brasileiro, se debruçando sobre propostas de carros de combate, como os franceses AMX 30, o alemão Leopard I, o norte americano M-60 e curiosamente até o russo T-80 que chegou a ser avaliado por uma comitiva brasileira em uma viagem a aquele país. Apesar da preferência pender para o modelo alemão, estudos econômicos tornaram a aquisição se carros de combate novos de fábrica como algo inviável, pois deveriam ser inicialmente adquiridos mais de 100 unidades o que levaria o valor a ser investido em um patamar irreal devido as restrições orçamentárias do Ministério do Exército. Assim o programa passou a ser norteado para "compras de oportunidade", cenario que acabaria se materializando através de uma oferta do governo belga para a venda de um lote de carros de combate alemães Leopard 1A1.
Esta movimentação não passaria desapercebida pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos, que buscava neste momento fortalecer sua influência junto ao governo brasileiro, tentando assim indiretamente conter esta tendencia de aquisição de material militar junto a fornecedores europeus. Neste contexto seria oferecido ao Exército Brasileiro, uma proposta envolvendo a cessão de carros de combate em forma de leasing, sendo escolhido para este programa um lote de veículos usados, porém em excelente estado de conservação do modelo M-60A3 TTS, que se encontravam em reserva técnica após serem substituídos pelos novos M-1 Abrams. A proposta previa a entrega de um lote de noventa e um carros a um custo total de US$ 12 milhões de dólares, e apesar do contrato de cessão apresentar normas relativas a limitações de uso, como inspeções regulares e emprego do carro em cenários de conflito somente com prévia anuência do governo norte-americano, o processo se mostrava vantajoso, tanto em termos técnicos quanto econômicos, culminando na aceitação por parte do governo brasileiro. Assim neste mesmo ano, uma comitiva de oficiais do Exército Brasileiro foi enviada Fort Drum em Nova York, nos Estados Unidos, onde estes veículos estavam armazenados, procedendo a avaliação e escolha deste lote. Paralelamente outra equipe formada, desta vez formada por Oficiais e Sargentos de Material Bélico, foi enviada ao Fort Dix, em New Jersey, a fim de realizar o curso de manutenção da nova viatura. E por fim uma terceira equipe composta por Oficiais e Sargentos de Cavalaria seria selecionada para ser tornarem os multiplicadores do curso de guarnição do M-60A3 TTS.
Apesar do contrato de aquisição dos carros de combate Leopard 1A1 ter sido firmado antes deste processo de cessão por leasing, os blindados norte-americanos M-60A3 TTS seriam curiosamente recebidos no país em fevereiro de 1997, um pouco antes dos carros belgas, reforçando assim o interesse do Departamento de Estado daquele país em não perder influência junto ao governo brasileiro. Após realizada inspeção padrão de recebimento, estas viaturas seriam distribuídas ao 4º Regimento de Carros de Combate (RCC), em Rosário do Sul no estado do Rio Grande do Sul, ao 5º Regimento de Carros de Combate (RCC), em Rio Negro, no estado do Paraná, ao Centro de Instrução de Blindados (CiBld), no Rio de Janeiro e na Escola de Material Bélico (EsMb), no Rio de Janeiro. A incorporação do carrp de combate M-60A3 TTS proporcionaria ao Exército Brasileiro, o acesso a tecnologias inéditas embarcadas em carros de combate, não disponíveis na família M-41C Caxias ou X1A1/A2 Carcará, como os sistemas Tank Thermal Sight (equipamento de visão noturna passiva e residual), tiro estabilizado e indireto, telêmetro laser e computador balístico de tiro M-21. Além possuir uma blindagem mais resistente e armamento mais poderoso, representado pelo canhão de 105 mm com alcance de 4 km, sendo classificado como o primeiro MBT (Main Battle Tank) empregado em nossa Força Terrestre. Apesar destes pontos positivos a operação cotidiana deste modelo no apresentaria algumas limitações em termos de deslocamento pelo interior do país, fator este ocasionado pelo seu peso bruto total, o que o tornava inadequado para operar em algumas regiões, principalmente pela estrutura rodoviária e ferroviária nacional não ter sido dimensionada para operação e transporte de blindados desta categoria.
Apesar de se tratar de um veículo complexo, e de problemas de padronização entre as unidades recebidas (pequenas diferenças mecânicas ou elétricas, resultantes de programas de modernização), este fato nunca chegou a afetar a operacionalidade da frota ao longo destes anos. Ficando toda sua manutenção a cargo do Parque Regional de Manutenção da 5º Região Militar (PqRMnt/5), que inclusive procedeu com grande exito a nacionalização de componentes críticos como, filtro de bomba injetora, óleo lubrificante, filtros de óleo de motor, baterias de 150 Ah, filtros primários de óleo e combustível, bandagens da cinta da fricção e outros. Em 2006 o Exército passou a considerar a curto prazo um substituto para os carros de combate Leopard 1 A1 e M-60A3 TTS, com este processo culminando na aquisição de mais duas centenas de carros usados agora do moldeo Leopard 1A5, com os primeiros dez sendo recebidos em 2009. O início desta nova fase promoveu um programa de redistribuição das forças blindadas, com o Leopard 1A5 se tornando o principal carro de combate do Exército Brasileiro. Neste contexto decidiu-se promover a desativação dos derradeiros M-41C Caxias que ainda se encontravam em operação junto 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) sediado na cidade de Campo Grande no Mato Grosso do Sul, pertencente a estrutura do Comando Militar do Oeste (CMO). Foi então o M-60A3 TTS passaria a dotar esta unidade, com trinta e dois carros sendo transferidos, com o restante da frota sendo deslocados ao Parque Regional de Manutenção da 9º Região Militar (PqRMnt/9), a fim de serem desmontados e seus componentes armazenados para aproveitamento de componentes como suprimento de 2ª classe. Três M-60A3 TTS ainda foram mantidos no Centro de Instrução de Blindados (CiBld) para serem utilizadas nos estágios de formação.
Em operação junto ao 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB)o modelo tem apresentado bons resultados com destaque para a operação de tiro em Roraima, quando em 29 de setembro 2015 um M-60A3 TTS depois de ser deslocado por mais de 9.000 km desde a cidade de Campo Grande (MS), até Boa Vista (RR), disparou sete vezes o seu canhão de 105 mm, no Lavrado (terreno similar ao cerrado de Goiás) na Serra do Tucano, Município de Bonfim, próximo à capital. Foi a primeira vez na história, que um carro de combate operou e disparou no Teatro de Operações da Amazônia e no extremo setentrional do Brasil. Dentro do Exército Brasileiro existem ainda diversos estudos referentes a modernização ou extensão da vida útil dos M-60A3 TTS remanescentes. Se viável este processo a ser realizado por empresas nacionais visando abranger, principalmente, o sistema de controle de tiro (SCT), a troca para um giro elétrico da torre e o sistema de intercomunicação, além da inclusão do Gerenciador de Campo de Batalha, dentre outros. Caso fique comprovada a inviabilidade de sua modernização, os VBC CC M-60A3 TTS serão manutenidos com os meios e recursos disponíveis, até serem descartadas, podendo ser enfim substituídas por possível versão modernizada dos Leopard 1 A5.
Em Escala.
Para representarmos o M-60A3 TTS do Exército Brasileiro (lembrando que em função do contrato de leasing os mesmos inicialmente não receberam marcações ou numeração serial) empregamos o excelente kit da Tamiya na escala 1/35, modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento fornecendo ainda um set extras de equipamentos, tripulação e munição para emprego.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura adotado pelo exército americano em sua força de M60A3 TTS baseada na Europa, por questões contratuais do processo de leasing sua operação no Brasil manteve esta padronização, não portando ainda nenhuma marcação nacional. Os carros transferidos ao 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) passaram a ostentar a pintura camuflada semelhante a aplicada aos M-41C Caxias.
Bibliografia :
- Blindados no Brasil – Um Longo e Árduo Aprendizado Vol II, por Expedito Carlos S. Bastos
- M60A3 TTS no Brasil – www.defesanet.com
- M-60 Patton - http://en.wikipedia.org/wiki/M60_Patton