M-577A1 e M-577A2 no Brasil

História e Desenvolvimento.
A ideia de um veículo de transporte de tropas blindado, capaz de levar soldados em segurança e protegidos, a frente de combate, podendo ainda os resgatar, remonta a Primeira Guerra Mundial, onde surgiram os primeiros carros de combate blindados, que aos poucos, foram ganhando dimensões e peso cada vez maiores, chegando inclusive a poder transportar soldados em segurança, atravessando áreas de combate. Nos conflitos posteriores, seu emprego generalizou-se, e seu ápice se deu durante a Segunda Guerra Mundial, onde uma variada gama de modelos e versões, sobre rodas ou lagartas, passariam a determinar a vitória ou derrota dos grandes exércitos. Como expoentes deste segmento, podemos citar os veículos meia lagarta norte-americanos da família M-3 e os alemães Hanomag Sd.kfz. Neste momento, as táticas e estratégias de emprego deste tipo de blindado seriam aprimoradas, surgindo assim, dentre outros, os Veículos Blindados Transporte de Pessoal – VBTP. O primeiro modelo específico surgiria com o o desenvolvimento do projeto M-44 (T16), que era originalmente derivado do carro de combate M-18 Hellcat, se tratando de um veículo de grande porte com peso total de combate de 23 toneladas, porém está caraterística seria o grande entrave para sua produção em série, levando ao cancelamento do projeto em junho de 1945. Em setembro do mesmo ano uma concorrência foi aberta e foram estabelecidos parâmetros de projeto para um novo carro blindado de transporte de tropas, que deveria ser baseado no veículo de transporte de carga T-43. A empresa International Harvester (IHC) se sagraria vencedora, recebendo um contrato em 26 de setembro de 1946 para a produção quatro protótipos a fim de serem submetidos a testes de campo. O êxito relevado neste programa culminaria na celebração dos primeiros contratos para a produção, deste novo blindado, agora designado oficialmente como M-75. Os primeiros blindados começaram a entrar em serviço no Exército Americano (US Army) em abril de 1952, porém apesar de serem mais leves que os M-44, ainda apresentavam um peso total de combate de 18 toneladas, o que o impossibilitava de acompanhar no campo de batalha a velocidade de deslocamento dos demais carros de combate.

Este cenário causaria grande preocupação por parte do Comando do Exército Americano (US Army), que em fins de 1952, lançou uma nova concorrência para o desenvolvimento de um novo veículo blindado de transporte de tropas sob esteiras para a substituição dos derradeiros carros meia lagarta da família M-2, M-3, M-5 e complementação da frota dos  recém introduzidos M-75 APC, que além de não acompanharem no campo de batalha os demais veículos blindados, apresentavam apresentava limitações quando do emprego anfíbio, não podendo também ser aerotransportado. Diversas empresas apresentaram suas propostas entre elas a International Harvester Corporation (IHC) e Food Machinery and Chemical Corporation (FMC), estudos iniciais derivaram pela escolha do projeto do segundo concorrente, designado oficialmente como T59. Um contrato inicial seria celebrado, prevendo a produção de seis protótipos, para emprego em um programa de testes de campo, com esta fase sendo vencida com êxito em maio de 1953. O novo modelo agora designado como FMC M-59 receberia um contrato de produção englobando 6.300 unidades, que deveriam ser entregues até fins de 1960. Uma das primícias deste projeto, estava baseado no baixo custo de produção, passando a empregar em sua construção muitos componentes comuns ao carro de combate M-41 Walker Buldog. Neste mesmo momento o comando militar americano passava a elaborar planos para a futura substituição dos M-75 que apesar de sua robustez e confiabilidade se mostrava inadequado a missão. Esta demanda buscava o desenvolvimento de um novo veículo que deveria eliminar as deficiências do alto peso e baixa velocidade do M-75 e a insuficiente proteção blindada do novo FMC M-59.
Os requisitos desta nova concorrência visavam criar um veículo blindado que unisse a melhores características operacionais do M-75 e M-59, com no novo modelo apresentando um desempenho compatível aos carros de combate, relativa capacidade anfíbia e possibilidade se ser aerotransportado. Estes parâmetros resultariam no conceito AAM-PVF - Airborne Armored Multi-Purpose Vehicle (Veículo Multiuso Blindado Aerotransportado). Novamente a FMC Food Machinery Corp. se sagraria vitoriosa desta concorrência, apresentando como base de sua proposta a aplicação de um sistema de blindagem em duralumínio que fora desenvolvido em parceria com a empresa Kaiser Aluminium and Chemical Co., esta solução proporcionaria ao veículo uma suficiente proteção blindada aliada a uma grande mobilidade e velocidade no campo de batalha. O novo modelo equipado com este sistema receberia a designação de T-113, este receberia em um contrato de produção em fins de 1958 de três carros pré-série para avaliação, que seriam inicialmente equipados com um motor a gasolina Chrysler 75M com 8 cilindros em V com potência de 215 hp.  Estes protótipos foram entregues e submetidos a um intensivo programa de ensaios em campo entre abril e setembro de 1959, recebendo logo em seguida um contrato inicial para a aquisição de 900 unidades para o Exército Americano (US Army). Estes novos veículos agora designados como M-113AO APC, começaram a ser entregues a partir de meados do ano seguinte. Conceitualmente este veículo fora desenvolvido como um blindado leve e confiável capaz de ser transportado e lançado por aeronaves de transporte como os Lockheeds C-130 Hercules e C-141 Starlifter.  Em campo podia transportar até a linha de frente onze soldados totalmente equipados, servindo de proteção até o desembarque da tropa, devendo então recuar para a retaguarda. Como armamento de autodefesa contava com uma metralhadora M-2 Browning de calibre .50 (12,7 mm) operada manualmente pelo comandante.

O batismo de fogo do novo modelo de  veículo de transporte blindado de tropas norte-americano, se daria a partir de 30 de março de 1962, quando trinta e dois destes carros foram enviados ao teatro de operações do Vietnã. Onde seriam destinados a dotar duas companhias mecanizadas pertencentes ao Exército da República do Vietnã (ARVN), com cada uma recebendo dezesseis M-113AO. Os primeiros embates reais se dariam em janeiro de 1963 durante a Batalha de Ap Bac na província de Dinh Tuong (agora Tien Giang), diversos ensinamentos seriam tirados desta experiência, levando a inclusão de significativas melhorias na blindagem e sistemas críticos. Neste mesmo momento e seu país de origem, era iniciada produção da nova versão designada como M-113A1, equipada com o novo motor a diesel Detroit 6V53T de 265hp. Em 1978 o modelo já representava um sucesso estrondoso, com sua produção já atingindo a cifra de mais 25.000 unidades, levando a Food Machinery and Chemical Corporation (FMC), a desenvolver e introduzir uma nova versão designada como M-113A2. Este novo modelo apresentaria melhorias significativas na suspensão e sistema de refrigeração, tornando assim o blindado como uma plataforma viável para emprego em cenários de combate de alto atrito. Seu projeto se mostraria ainda extremamente customizável para o emprego em versões especializadas, como carro comando, antiaéreo, porta morteiro, lança chamas, socorro, oficina e antitanque (com misseis Tow). Estas versões seriam produzidas aos milhares, elevando os níveis de padronização das frotas blindadas de diversas nações. A próxima versão de transporte de tropas a ser desenvolvida foi o M-113A3, que passou a ser produzida a partir de 1987, obtendo grande destaque durante a primeira Guerra do Golfo Persico contra o Iraque, quando passaram a desempenhar papéis importantes tanto no combate urbano quanto nas diversas funções de manutenção de paz, provando assim sua versatilidade e a combinação precisa de volume interior, perfil exterior, construção simples e fácil manutenção.
O M-577 seria desenvolvido em 1961, como carro comando, com o conceito de projetar um centro de operações e comunicações avançado na linha de frente dos conflitos.  Para isto sofreu alterações em seu casco, recebendo uma elevação em seu habitáculo gerando assim espaço para movimentação interna, um sistema de rádio de longo alcance e APU (unidade de potência auxiliar) de  4,2 kW disposto na parte frontal direita do veículo com capacidade para fornecer 24 volts, visando assim manter em funcionamento os sistemas. Os primeiros quatro protótipos foram construídos em fevereiro de 1962, pela United Defense Industries no Arsenal de Detroit, sob a designação de XM577, se tratando de conversões de carros M-113AO. Estes seriam enviados para o Campo de Provas de Aberdeen para testes de engenharia e avaliação.  As primeiras unidades começaram a ser entregues a partir de 1963. Um dos pontos importantes desta nova versão foi manutenção da capacidade anfíbia do restante da família M-113, e a adição de um tanque de combustível suplementar instalado na parte traseira lhe garante uma autonomia superior aos demais modelos. Embora o M-577 foi originalmente desenvolvido para ser usado como um veículo de posto de comando, também pode ser usado como um centro diretor de fogo, veículo de comunicações móvel e unidade de tratamento médico. Sua produção atingira a cifra de  7.792 unidades dispostos em dezessete  versões, sendo empregados pelo Afeganistão, Argentina, Austrália, Arábia Saudita, Alemanha, Bahrein, Brasil, Canadá, Coréia do Sul, Egito, Espanha, Grécia, Israel, Iêmen, Itália, Jordânia, Kuwait, Líbano, Lituânia, Noruega, Nova Zelândia e Portugal.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Os primeiros carros da família M-113A0 na versão inicial de produção com motor a gasolina, começaram a chegar no Brasil a partir de 1965, quando o Exército Brasileiro fazendo uso dos termos do Programa de Assistência Militar MAP (Military Assistance Program), procedeu a aquisição de mais de cinco centenas veículos blindados deste modelo. Neste momento a Marinha do Brasil começa a exercitar sua capacidade de combate anfíbio, fazendo uso dos efetivos da Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE), e logo se vislumbrava, a necessidade de ser dispor de um veículo anfíbio com o objetivo de apoiar as operações de desembarque nas praias. Esta demanda receberia uma solução paliativa a partir de meados de 1970, com o recebimento de trinta e quatro caminhões anfíbios GMC DUWK, a estes se seguiriam em 1976 a aquisição dos novos veículos blindados especializados no transporte de tropas Engesa EE-11 Urutu. No entanto em uso real, o blindado brasileiro, logo se inadequado para operações de desembarque nas praias, pois neste tipo de terreno veículos com tração por rodas enfrentavam serias dificuldades de deslocamento, levando o comando da Marinha do Brasil, a considerar a aquisição de uma família de veículo blindado com tração sob esteiras. As aspirações iniciais apontavam para a adoção dos novos veículos de assalto anfíbio FMC AAV-7A1, porém estes apresentavam um custo unitário proibitivo, com a decisão recaindo por um lote de carros do modelo FMC M-113A1, que apesar de não atenderem a todas as especificações almejadas poderiam ser adquiridas em condições favoráveis econômicas. Então negociações seriam conduzidas junto ao governo norte-americano, que se materializariam na celebração de um contrato, para a aquisição de um lote de trinta carros da família M-113, que foram divididos em quatro modelos, sendo vinte e quatro na versão M-113A1 Transporte de Tropas, dois M-125A1 carro porta morteiro, um M-113A1G oficina e um carro socorro XM-806E1.

Próximos de completar quarenta anos de serviço, toda o acervo de veículos blindados M-113A1, M-125A1 Porta Morteiro, M-577A1 Carro Comando, M-113A1G Carro Oficina e XM-806E1 Carro Socorro, apresentavam uma disponibilidade operacional média de apenas 66 %. Este cenario era proporcionado por graves problemas mecânicos e elétricos originados em função de uma combinação de fatores críticos, como desgaste operacional, conservação, manutenção inadequada e falta de regularidade na aquisição de suprimentos e peças de reposiçao, que já não eram mais facilmente encontradas no mercado internacional. Visando resolver este problema, seria decidido pela implementação de abrangente processo de modernização. Após o lançamento da concorrência, a Marinha do Brasil, passaria a receber muitas propostas, enviadas por empresas especializadas neste segmento. Um criterioso estudo comparativo seria realizado, com a decisão pendendo para a proposta apresentada pela empresa israelense Israel Military Industries, (IMI). Assim desta maneira, em 28 de novembro de 2008, seria assinado via Comissão Naval Brasileira em Londres (CNBE), um contrato no valor de US$ 15,8 milhões. O programa envolveria a substituição do motor original, pelo novo Caterpillar C7 (Versão Militar) om injeção eletrônica de 300 hp de potência, transmissão automática de sete velocidades 3200SP Allison, suspensão reforçada, nova unidade diferencial regenerativa, sistema hidráulico de freios, nova caixa de transferência, tanques de combustível externos de 360 litros cada e estação de armas Platt MR.555 Mod 2.  Já na área elétrica e eletrônica, as viaturas receberiam novos rádios de comunicação, alternador de 200 AMP, ar-condicionado fornecido pela Marvin Land Systems e sistema de extinção de fogo. Um grande diferencial deste projeto seria a presença de muitos componentes mecânicos e elétricos, encontrados facilmente no mercado nacional, minimizando assim os custos e assegurando ampla disponibilidade de sobressalentes por um longo período. Todos os carros modernizados passariam a dispor da possibilidade de emprego de um kit de navegação, o qual poderia ser acoplado ao veículo para transposição de cursos d`água. Por fim a substituição das lagartas originais tipo T-130E1, pelo modelo Diehl Systen Track 513 Agressive, mais eficientes. O pacote de modernização, previa ainda a preparação para a adoção posterior de acessórios mais complexos como,  imageadores termais e telas digitais, kits de proteção balística externa e interna e conjunto de lançadores de granadas fumigenas de 76 mm.
Estas viaturas, receberiam no Exército Brasileiro a designação de Viatura Blindada Especial Posto de Comando M-577 (VBE PC M-577A2), devendo ser utilizadas como Posto de Comando Avançado nas operações do Regimento. Após a revisão, estes veículos seriam transferidos a gestão do Comando Logístico (COLOG) que passou a distribuir os mesmos as unidades aos Grupos de Artilharia Autopropulsada, Regimentos de Carros de Combate e Batalhões de Infantaria Blindada e ao Centro de Instrução de Blindados (CI Bld) General Walter Pires. Devido à grande disponibilidade de viaturas, em 2017 o Parque Regional de Manutenção/5 (PqRMnt/5), iniciou estudos visando a conversão de um número destes carros para versão ambulância, a exemplo de viaturas deste modelo, empregados com muito êxito junto ao Exército Americano (US Army). O objetivo deste programa, visava capacitar estas viaturas convertidas, a atenderem o padrão “B”, ou seja, capaz de realizarem o Suporte Básico no campo de batalha. Entre as adaptações internas, foram instaladas tomadas com conversão de voltagem 24V/120v para receber equipamentos médicos como desfibrilador ou cardioversor, monitores de dados vitais, sistema de oxigênio/vácuo além da maca retrátil. Todo o processo foi realizado com parceria com a equipe do 20º Batalhão de Infantaria Blindada (BIB), quando convertida, a viatura terá como missão, retirar os feridos das zonas quentes (linha de frente), para a retaguarda e entregá-lo as equipes médicas já estabilizado tendo em vista os recursos de “Suporte Básico de Vida” instalados a bordo. A entrega oficial do primeiro protótipo ocorreria em 02 de outubro de 2018, com a viatura recebendo as marcações típicas de um veículo de saúde, as cruzes vermelhas. Esta viatura seria submetida a inúmeros testes de campo, supervisionados pela equipe do 20º Batalhão de Infantaria Blindada (BIB) durante o ano de 2019, validando o programa para a conversão de mais unidades a seguir.
As Viaturas Blindadas Especiais Posto de Comando M-577 (VBE PC M-577 A2), trouxeram um grande avanço nas operações em campo no Exército Brasileiro, permitindo projetar os centros de comando no front de batalha. Quando em operação real uma barraca (um dos acessórios originais do veículo), pode ser presa e estendida, quando o veículo está parado, a partir da retaguarda da viatura, fornecendo um espaço de trabalho adicional para a equipe de comando. Além disso, essas extensões podem se conectar a outras, permitindo que vários M-577 A2 estabeleçam uma estrutura maior de Posto de Comando. Quando em movimento, a barraca fica recolhida na parte superior da viatura. No interior do veículo há quadros de mapas, mesas dobráveis, rádio e outros equipamentos de comando e controle, permitindo assim, o hábil gerenciamento das operações de campo. Ao todo o Exército Brasileiro, recebeu até data 64 veículos do modelo M-577 A2, com a opção de aquisição de pelo menos mais 136 carros previstos nos temos do programa de   Vendas Militares a Estrangeiros (FMS - Foreign Military Sales). Salientando que os carros recebidos não serão submetidos a nenhum processo de modernização, tendo em vista o excelente estado de conservação das viaturas recebidas.

Em Escala.
Para representarmos o M-577 A1 "CFN 30055055", utilizamos kit da Tamiya, na escala 1/35, e apesar de ser um modelo de boa qualidade o mesmo não apresenta detalhamento interior, sendo necessário configurar o mesmo em scratch. Não há necessidade de proceder qualquer mudança se configurar a versão empregada pelo Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) . Empregamos decais confeccionados pela  Eletric Products, presentes no Set "Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil 1/35".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o terceiro padrão de pintura empregado tática empregada em toda a frota de blindados do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Já os VBE PC M-577A2 do Exército Brasileiro, receberam a aplicação do esquema tático de camuflagem considerado como padrão na Força Terrestre. 


Bibliografia : 

- Variants of the M113 armored personnel carrier-  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Variants_of_the_M113_armored_personnel_carrier
- Fuzileiros Blindados - Operacional - http://www.operacional.pt/fuzileiros-blindados-i/
- Tecnologia e Defesa por Paulo Roberto Bastos e Helio Higuchi http://tecnodefesa.com.br/novidades-na-arma-blindada-brasileira/
- O primeiro M577 versão ambulância  - Roberto Caifa - Tecnologia e Defesa - www.tecnodefesa.com.br