O projeto do Osório pode ser considerado “o Canto do Cisne” da Engenheiros Especializados S/A (Engesa), empresa que chegou a ser o mais importante produtor de equipamentos militares de uso terrestre do país. Fundada em São Paulo (SP), em 1958, por um grupo de engenheiros a empresa, que nos primeiros anos se dedicou à fabricação de equipamentos para a prospecção, produção e refino de petróleo, acabou por colocar o Brasil, na década de 1980, na quinta posição entre os maiores exportadores mundiais de material militar. Congregando em seu quadro técnico profissionais de excelente formação, a história de sucessos da empresa teve início em 1966, com o projeto e fabricação de um sistema de tração 4×4 para equipar veículos de série nacionais, comercialmente anunciado como Tração Total, logo foi seguido das versões 6×4 e 6×6, ambas aproveitando eixos e feixes de molas traseiros originais do veículo. Preparada para as linhas de picapes e caminhões Chevrolet e Ford (e mais tarde Dodge), a Tração Total Engesa, dotava-os de comportamento fora-de-estrada de desempenho desconhecido no país em veículos da categoria. A primeira mostra da grande capacitação da Engesa como fabricante de armamentos modernos ocorreu em abril de 1971, com a apresentação à imprensa de dois blindados sobre rodas, construídos segundo projeto e especificações básicas definidos pelo Exército Brasileiro – um veículo para reconhecimento (CRR) e um anfíbio para transporte de tropas (CTR-A): eram os protótipos do EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu, inaugurando a série de equipamentos militares com nomes de cobras venenosas que a Engesa produziria nos anos seguintes. As primeiras unidades do Cascavel foram equipadas com armamento de 37 mm usado, retirado de velhos blindados da Segunda Guerra Mundial; a segunda série já recebeu equipamento atualizado – torreta francesa com canhão de 90 mm. No entanto, além de ser excessivamente cara, a Engesa S/A estava obrigada a solicitar autorização à França para exportar veículos equipados com tal armamento, o que levou a empresa a fabricar seu próprio canhão 90 mm (sob licença com base em um projeto belga). O EE-9 Cascavel armado com canhão nacional seria considerado, por analistas internacionais, um dos melhores blindados leves de reconhecimento do mundo.
Estimulada pelos planos de investimentos das Forças Armadas Brasileiras, e vislumbrando o grande mercado do Oriente Médio, em 1974 a Engesa S/A transferiu suas instalações principais para a cidade São José dos Campos (SP); criando a Engex S/A, fábrica de engrenagens, caixas e canhões em Salvador (BA). Ainda em 1974 lançaria seus dois primeiros modelos de caminhão, o EE-15 e EE-25, respectivamente para 1,5 e 2,5 t, em utilização fora-de-estrada (ou o dobro, em pisos regulares). No final de 1982 seria comissionada pelo Exército Brasileiro, para fabricar carros de combate médios sobre lagartas, da classe de 35 t o mais pesado do país e primeiro da empresa. Dada a reduzida demanda interna, a Engesa S/A decidiu dotar o veículo de características adequadas ao mercado externo, elevando o peso para 41 t. Neste mesmo período o exército saudita emitiu especificações para a aquisição de um novo carro de combate principal (MBT) com a finalidade de substituir os já obsoletos AMX-30B, de fabricação francesa. A empresa brasileira, então vislumbraria um novo nicho de mercado, e naquela época a Engesa S/A era um dos principais fornecedores de veículos militares e equipamentos as nações do oriente médio. Porém o simples fato de não possuir experiência na produção deste tipo de veículo blindado, levaria a empresa brasileira a buscar parcerias com tradicionais fabricantes alemães, entre eles a Porsche e a Tyssen-Henschel, esta possível associação tinha como objetivo a transferência de tecnologia buscando assim uma redução de custos de desenvolvimento do projeto. No entanto diversos pontos de divergência comercial entre as empresas e os parâmetros de projetos, inviabilizariam estas possíveis parcerias. Descartadas as possibilidades de parcerias com tradicionais fabricantes de carros de combate, a solução derivaria para o desenvolvimento de um projeto próprio, agregando-lhe o que mais de moderno existia no mercado em termos de tecnologia, derivando assim o projeto em duas vertentes, com customizações destinadas a atender as demandas do mercado de exportação e outra voltada para o Exército Brasileiro.

Em julho de 1985, o protótipo do Osório foi embarcado para a Arábia Saudita para participar do processo de pré-seleção dos concorrentes à licitação que previa, a princípio, aquisição de mil carros de combate em contrato na ordem de US$ 3 bilhões, pois a Engesa tencionava mostrar a existência de um carro de combate brasileiro, adaptado a operações naquele tipo de terreno, característico de deserto, o esforço foi positivo atingindo os objetivos pretendidos. O carro brasileiro foi escolhido, ao lado de três modelos da França, Grã-Bretanha e EUA. Em julho de 1987 o protótipo definitivo, equipado com canhão de 120 mm e o estado-da-arte em eletrônica embarcada, partiu para o Oriente Médio para a seleção final. Eram os seguintes seus dados de desempenho: rampa máxima, 65%; máximo obstáculo vertical, 1,15 m; vau, 1,20 a 2,00 m (sem e com preparação); velocidade máxima, 70 km/h; autonomia, 550 km. Nenhum tanque da categoria, no mundo (à exceção do alemão Leopard, fora da disputa), reunia em um só projeto a qualidade mecânica e todos os sofisticados sistemas de controle agregados ao Osório. Como era de se esperar, sua performance diante dos demais concorrentes foi excepcional, especialmente nos testes de autonomia e tiro (neste, o Osório foi o único a acertar alvo a 4 km de distância; dos tiros a alvos móveis entre 1,5 e 2,5 km, acertou oito vezes em 12, enquanto o candidato norte-americano acertou cinco e os demais apenas um).

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da década de 1980, o Brasil possuía duas empresas fortemente consolidadas na área de veículos militares: a Bernardini S.A. Indústria e Comércio e a Engesa Engenheiros Especializados S.A. A primeira empresa havia se especializado no repotenciamento e modernização de velhos carros de combate M-3A1 “Stuart” e M-41 “Bulldog”(estes últimos um pouco mais recentes) do Exército Brasileiro (EB). Já a Engesa havia conquistado fama mundial no desenvolvimento e fabricação de veículos militares sobre rodas. Ambas as empresas resolveram partir, de forma independente, para o desenvolvimento de um carro de combate (“tanque”) nacional. A Bernardini saiu na frente e optou por um veículo mais leve, na categoria “carro de combate médio”, com sistemas mais simples para torná-lo mais acessível ao EB. Já a da Engesa, que tinha como principal alvo o mercado externo e buscava assim o desenvolvimento de um MBT (Main Battle Tank). Neste período o comando do Exército Brasileiro buscava alternativas para a substituição de sua frota de carros de combate, que era ainda formada pelos obsoletos carros leves Bernandini X-1 e X-1A2 e pelos tanques médios M-41 Walker Buldog, que mesmo modernizados, remontavam a tecnologia, poder de fogo e desempenho da década de 1960. Para conquistar parte do mercado externo de carros de combate de primeira linha, a Engesa não poderia atender ao Exército Brasileiro. Isso porque o EB não tinha intenção de empregar um carro de combate com mais de 40 toneladas e largura superior a 3,5 metros. E mesmo um carro com exatamente esse peso máximo e dimensões seria, ainda, bem mais leve e menor do que os seus concorrentes ocidentais. No entanto, como o carro da Engesa necessitava do aval do Exército Brasileiro para ser vendido, ficou acordado com o Exército Brasileiro que o programa seria acompanhado por engenheiros militares do CTEx (Centro Tecnológico do Exército).
O MBT (Carro Principal de Combate) nacional recebeu o nome do patrono da arma da cavalaria do Exército Brasileiro, o Marquês do Herval, General Manuel Luís Osório e teve sua variante designada como EET-1 P1. Este veículo estava equipado com um canhão britânico de alma raiada Royal Ordenance L7, de 105mm, sistema de controle de fogo Marconi Centaur, sendo equipado com periscópios OiP LRS-5DN (comandante) e LRS-5DNLC (atirador), ambos com sistema de visão noturna. O grupo motriz se manteve o mesmo da versão de exportação tendo e vista que o conjunto poderia ser nacionalizado pelo fato que ambas as empresas fabricantes contavam com instalações no pais. A torre contava com sensores para prover parâmetros de disparo para o sistema de controle de fogo e uma metralhadora de ação por corrente Hughes EX-34, em calibre 7.62x51mm NATO, de construção americana, posicionada como metralhadora coaxial, metralhadoras pesadas belgo-americanas FN/Browning M2HB, em calibre 12.7x99mm NATO (.50BMG) em posição antiaérea, podendo ser substituída por uma metralhadora média belga FN MAG, em calibre 7.62x51mm. Os testes com o protótipo destinado ao modelo nacional, tiveram início em dezembro de 1986, se estendo até fins de abril de 1987, neste período foram percorridos 3.296 km, sendo 750 km em condições adversas no campo de testes de Marambaia no Rio de Janeiro. Com a finalidade de avaliação da mobilidade do veículo, foram ainda disparados 50 tiros com o canhão de 105 mm. Estes testes geraram dois relatórios técnicos (Retex e Retop ) , que foram extremamente favoráveis ao desempenho do blindado.

O inerente fracasso comercial daquele que pode ser considerado um excelente projeto, porém um mal negócio, custaria caro a empresa, informações conflitantes dos custos totais de desenvolvimento do projeto Osório oscilam na da casa de US$ 50 a US$ 150 milhões de dólares. Neste mesmo período isso a situação financeira da empresa se agravava muito em função da a inadimplência na ordem de US$ 200 milhões de dólares junto ao governo iraquiano, que até então era um dos maiores clientes da empresa. Como clarificado a em crise a empresa entrou em um continuo processo de exaustão e desgaste, até que o pedido de concordata preventiva fora requerido em março de 1990. Sem poder reagir a este cenário a falência da empresa foi decretada em 1993, o principal motivo alegado para a derrocada foi a perda da concorrência na Arábia Saudita. Este foi, porém, apenas o estopim que detonou a grande crise financeira que hibernava na empresa, sempre adiada pelo potencial imenso do mercado mundial de armamentos e pela aparentemente incessante capacidade do seu corpo técnico desenvolver produtos competitivos. A guerra pela sobrevivência foi perdida, simultaneamente, no terreno externo e no interno, com a decisiva contribuição (negativa) da própria Engesa, empresa com excepcional capacidade técnica de engenharia e projeto, agressiva no mercado internacional, porém temerária na gestão de seus negócios e desinteressada em enfrentar, estruturalmente, as dificuldades que ano a ano se avolumavam.

Em Escala:
Para representarmos o Engesa Osório EE-T2 "EB 346606180" fizemos uso do Kit da Trumpeter na escala 1/35, modelo este que demanda uma série de alterações para equalização ao projeto original. Empregamos decais originais e também complementos oriundos do set "Exército Brasileiro 1983-2002" da Eletric Products.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura exclusiva, empregada no protótipo do Osório EE-T2, sendo que o outro protótipo foi caracterizado no padrão de pintura oficial dos demais carros de combate do Exército Brasileiro.
Bibliografia:
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume I , por
Expedito Carlos Stephani Bastos
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume II, por
Expedito Carlos Stephani Bastos
- Engesa EE-T1 Osório - https://www.forte.jor.br/2015/12/27/engesa-ee-t1-osorio/
- Engesa – Lexicar - http://www.lexicarbrasil.com.br/engesa/