O desenvolvimento da família brasileira de carros de blindados sob rodas, é particularmente ligado a gênese da indústria de defesa nacional, tendo como ponto de partida a necessidade de revitalização de veículos de reconhecimento Ford M-8 Greyhound do Exército Brasileiro, recebidos nos termos do Leand & Lease Act (Leis de Empréstimos e Arrendamentos) durante a Segunda Guerra Mundial. Sob a tutela da competente equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo (PqRMM/2), seria implementada na década de 1960 um programa de remotorização destes carros, substituindo o conjunto original a gasolina por um nacional produzido pela Mercedes Benz, o motor OM321, movido a diesel com 120 hp de potência. Este programa atingiria pleno êxito, sendo aplicado não só em grande parte da frota de blindados Ford M-8 Greyhound, mas também gerando programas derivados a implementação em outros tipos de veículos militares de origem norte-americana em serviço no Exército Brasileiro, como os carros blindados meia lagarta M-2 - M-3 e M-5 Half Track, veículo sobre rodas M-3 Scout Car e por fim, caminhões com tração total 6X6, como os GMC CCKW e Studebaker US6G. Consequentemente a imersão de toda a equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar (PqRMM/2) no projeto de revitalização dos blindados Ford M-8 Greyhound, forneceria os subsídios primários para se aventar a possibilidade de se desenvolver o conceito de uma viatura blindada sobre rodas com tração 4X4. Esta iniciativa se dava principalmente pela necessidade inevitável a médio de prazo, de se substituir os veículos revitalizados. Esforços nesta direção resultariam na criação do projeto designado como VBB-1 4X4 (Viatura Blindada Brasileira 1 com tração integra), que consequente seria suplantado pelo desenvolvimento do programa VBB-2 6x6 (Viatura Blindada Brasileira 2 com tração integral). A partir de 1970, este projeto evoluiria sobre para o conceito de Carro de Reconhecimento sobre Rodas (CRR), que apresentaria logo em seguida os primeiros exemplares de produção pré-série, que seriam submetidos a um extensivo programa de testes de campo.
Após a conclusão do programa de testes em campo, seriam determinadas melhorias a serem implementadas na versão de produção final, sendo assim celebrado entre o Ministério do Exército e a empresa paulista Engesa S/A, um contrato para a aquisição 110 carros (incluindo os oito veículos pré-série), que receberam a designação de Carro de Reconhecimento Médio (CRM) EE-9 M1 e M2 Cascavel. Em 1974, estes blindados sobre rodas, começaram a ser entregues aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec), onde passaram a atuar em conjunto com os derradeiros Ford M-8 Greyhound ainda em serviço, até substitui-los por completo em 1987. A excelente aceitação do blindado no Exército Brasileiro, motivou a diretoria da Engesa S/A a estudar a possibilidade de exportação do Cascavel. Uma relação de potenciais clientes foi elaborada, com a primeira proposta sendo apresentada para o Governo Português, que nesta época estava envolvido na "Guerra do Ultramar", travada nas regiões de Angola, Moçambique e Guiné Bissau. O blindado foi bem recebido, mas ficou a clara a necessidade em se contar com um maior poder de fogo pois o canhão de 37 mm não era mais eficaz contra as ameaças atuais. A sugestão foi equipá-lo com a torre e o canhão (62F1 de 90 mm), da empresa francesa Sofma, porém as dimensões do carro não eram compatíveis com o novo armamento. A solução foi criar uma nova carcaça mais larga e comprida, dando origem a versão de exportação denominada como EE-9 Cascavel MKII. No início de 1974, os primeiros EE-9 MK-II foram enviados a Portugal para testes, porém mudanças naquele conflito, determinaram a suspensão do processo de aquisição, diante deste contratempo a saída, foi a prospecção de novos clientes em potencial. Neste contexto. a empresa reorientaria seus esforços para um novo plano de prospecção internacional, com o modelo portando um canhão de 90 mm baixa-pressão (o mesmo empregado no blindado francês sobre rodas Panhard AML), passando ainda por um refinamento ao receber uma nova transmissão automática.
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O principal foco deste esforço seria o mercado do Oriente Médio, com a primeira venda sendo concretizada através de contrato para o fornecimento de vinte blindados para o Catar. O sucesso operacional do Engesa EE-9 Cascavel MKII nas Forças Terrestres do Catar (Qatari Emiri), abriria as portas deste importante mercado para a empresa brasileira. Em 1977 uma segunda conquista seria celebrada, agora com uma encomenda para 200 carros para as Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos. Paralelamente o modelo participaria em duas concorrências internacionais, agora para equipar os exércitos do Iraque e Líbia, derrotando neste programa, os modelos franceses Panhard AML-90 e ERC-90 Sagaie, representando algo na ordem de mais de US$ 800 milhões de dólares em contratos. As forças armadas da Líbia em 1977, empregaram os blindados da Engesa S/A com grande êxito contra carros de combate egípcios de origem soviética (provavelmente T-54, T-55 ou T-62). Do ponto de vista operacional, a agilidade e velocidade do EE-9 Cascavel foi fundamental durante a tarefa de atingir a localidade e cercar as tropas aerotransportadas egípcias, fazendo uso de seu canhão de 90 mm para em rápidas investidas repelir os blindados inimigos e atacar as tropas em solo. Apesar deste fator positivo os blindados seriam gravemente afetados pelas intemperes do deserto apresentando a deficiente proteção do motor contra a areia do deserto. Estes blindados líbios seriam novamente submetidos a combate, durante a intervenção no Chade, onde enfrentaram os Panhard AML-90 pertencentes a Legião Estrangeira Francesa (Légion étrangère) e ao Corpo de Fuzileiros Franceses (Fusiliers Marins). Um número desconhecido destes veículos seriam doados na década de 1980 ao movimento político e militar rebelde do Saara Ocidental - Frente Polisario e ao Governo de Transição da Unidade Nacional (GUNT) do Chade.
Neste momento o comando do Exército Brasileiro acompanhava atentamente a evolução do modelo de exportação, verificando as vantagens operacionais proporcionadas pela introdução de um canhão de maior calibre. Esta observação motivaria o inicio de estudos visando a possível atualização de sua frota de 102 carros Engesa EE-9 Cascavel M2, que se encontravam em serviço. Este programa apresentava como premissa básica a adoção de um canhão de 90 mm, em substituição a já ineficiente arma de 37 mm, que comprovadamente já não apresentava eficácia frente as possíveis ameaças que o pais poderia enfrentar naquele período. As analises se inclinariam principalmente para a relação custo beneficio, apontando para a adoção da versão nacional do canhão belga Cockerill de 90 mm (EC-90). Pesaria nesta escolha também o desejo do Ministério do Exército, em gradualmente reduzir a dependência externa em termos de componentes vitais importados. Assim desta maneira a Engesa S/A negociariam um amplo pacote de produção sob licença do armamento belga, incluindo treinamentos e ferramental adequado para nacionalização. A exemplo do versões de exportação, a adoção do novo canhão de 90 mm, implicaria também na substituição da torre original. Inicialmente pensou-se em adotar a mesma torre usada nos carros configurados para o contrato líbio, opção rapidamente descartada em detrimento da adoção de uma torre de fabricação nacional.
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Desta maneira no final do ano de 1977, seria celebrado um contrato entre o Ministério do Exército e a empresa paulista Engesa S/A, visando a modernização de uma grande parte da frota remanescente destes carros blindados de reconhecimento. Assim no inicio do ano seguinte, oito carros da versão inicial Engesa EE-9 Cascavel M2 pertencentes a dois Regimentos de Cavalaria Mecanizada (ReCMec), foram encaminhados as instalações da empresa na cidade de São José dos Campos no interior de São Paulo, a fim de servirem de protótipos funcionais para o programa de modernização. Além da alteração da arma principal o modelo receberia a nova torre nacional, nascendo assim a nova versão designada como Engesa EE-9 Cascavel M2 Série 3, sendo contemplados neste processo 55 carros da frota original.
Emprego no Exército Brasileiro
O recebimento dos primeiros carros modernizados EE-9 Cascavel Modelo2 Série 3 (de um total de cinquenta e cinco veículos contratados anteriormente) no inicio de 1977, clarificaram ao Comando do Exército Brasileiro a superioridade operacional do canhão belga Cockerill de 90 mm (produzido sob licença no pais) que permitia uma cadencia de seis tiros por minuto, com um alcance de 1600 a 3500 metros, parâmetros operacionais estes, muito superiores as armas de 37 mm adotadas anteriormente. Esta melhoria, pode ampliar o leque de missões do blindado, passando também a realizar missões de enfrentamento de outros tipos de carros blindados, atividade que seria impossível nas primeiras versões produzidas. O conceito deste veiculo foi originalmente baseado com foco na velocidade e mobilidade, que aliadas ao eficiente sistema de suspensão do tipo boomerang, permitia o Cascavel realizar manobras rápidas em qualquer tipo de terreno, mantendo as rodas traseiras sempre em contato com o solo, podendo assim atingir velocidades elevadas, cobrindo grandes distancias em pouco tempo, podendo sobrepujar no campo de batalha os veículos mais lentos sob esteira. Sua robustez era proporcionada pela simplicidade do projeto que fazia usar de uma grande gama de componentes básicos existentes na indústria automotiva nacional, o que permitia o barateamento de seu custo operacional além de simplificar a cadeia logística de peças de reposiçao básicas e criticas.. Podia ainda facilmente customizado de acordo com as necessidades de cada cliente, sempre compatível com sistemas de eletrônico de controle de tiro, telêmetro a laser, manga de supressão de fumaça, entre outras sofisticações presentes naquele período, o que o tornariam um sucesso de vendas internacional, com sua produção totalizando 1.738 unidades exportadas para doze países.
O novo canhão de EC-90 de 90 mm, permitia fazer uso de uma série de munições especiais, entre elas o do tipo HE-T contra pessoal ou alvos leves, HEAT-T para exercício, Smoke WP-T Fumígena - incendiária e HESH-T contra blindagens leves e edificações. Isto foi visto com uma oportunidade pelo comando do Exército Brasileiro, que não mediu esforços para nacionalizar a produção destas opções, com uma variada gama de munições sendo produzidas pela empresa brasileira Engequimica Ltda (uma subsidiária da Engesa S/A, antiga FEEA – Fábrica de Estojos e Espoletas) localizada na cidade Juiz de Fora, no interior do estado de Minas Gerais. Este novo portfólio de munições especiais receberia não só contratos do governo brasileiro, mas também de exportação para vários países. Ainda neste contexto conduziam-se estudos para implementação de modificação no freio da boca do canhão EC-90 de 90 mm, permitindo o emprego de munição perfurante do modelo APFSDS 90 (Flecha) e do tipo Canister, o que aumentaria ainda mais a letalidade do Engesa EE-9 Cascavel no campo de batalha. Esta iniciativa se baseava em uma demanda do governo Iraquiano, porém infelizmente não passou do estágio de protótipo, não sendo adquirido também pelo Exército Brasileiro. Esta versatilidade de emprego operacional renovaria o interesse do Exército Brasileiro no veículo, levando assim a formalização um novo contrato de compra em 1977, englobando agora, 46 carros Modelo 2 Série 5. A nova versão empregava o mesmo conjunto mecânico dos veículos adquiridos anteriormente, infelizmente o motor configurado para os veículos de exportação o Detroit Diesel 6V53N de 212 hp muito mais potente não foi adotado. Em termos visuais quando comparado com os carros modernizados, o novo Cascavel se diferenciava por possuir todo o grupo ótico frontal embutido na carroceria. Um novo lote com nove carros agora da versão Modelo 2 Série 7 seria adquirida em 1980 com os veículos sendo entregues no ano seguinte.
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Em Escala:
Para representarmos o EE-9 Cascavel M2 Série 5 "EB 25291 ¨", fizemos uso de um modelo em resina de fabricação artesanal na escala 1/35. Como se trata de um modelo rústico, tivemos de aplicar diversas correções em scratch e também proceder a inclusão de detalhamentos oriundos de outros modelos. Empregamos decais fabricados pela Decals e Books presentes no Set " Forças Armadas do Brasil ".
O esquema de cores ( FS ) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos os carros de reconhecimento médios Engesa Cascavel MKIII Exército Brasileiro, desde seu recebimento até os dias atuais.
Para representarmos o EE-9 Cascavel M2 Série 5 "EB 25291 ¨", fizemos uso de um modelo em resina de fabricação artesanal na escala 1/35. Como se trata de um modelo rústico, tivemos de aplicar diversas correções em scratch e também proceder a inclusão de detalhamentos oriundos de outros modelos. Empregamos decais fabricados pela Decals e Books presentes no Set " Forças Armadas do Brasil ".
O esquema de cores ( FS ) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos os carros de reconhecimento médios Engesa Cascavel MKIII Exército Brasileiro, desde seu recebimento até os dias atuais.
Bibliografia :
- Blindados no Brasil - Um Longo e Arduo Aprendizado - Volume I , por
Expedito Carlos Stephani Bastos
- Blindados no Brasil - Um Longo e Arduo Aprendizado - Volume II, por
Expedito Carlos Stephani Bastos
- Modernização do Cascavel Defesa Net - http://www.defesanet.com.br/guarani/noticia/25920/Modernizacao-do-Cascavel/
- Akaer vence licitação para modernização do EE-9 Cascavel - https://www.akaer.com.br/
- EE-9 Cascavel Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/EE-9_Cascavel