O desenvolvimento da família de carros de blindados sob rodas é particularmente ligado a gênese da industria de defesa nacional, tendo como ponto de partida a necessidade de revitalização de veículos M8 Greyhound recebidos nos termos do Leand & Lease Act (Leis de Empréstimos e Arrendamentos) durante a Segunda Guerra Mundial. Sob a tutela compente da equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo – PqRMM/2 , foi implementada a remotorização destes carros, substituindo o conjunto original a gasolina por um nacional Mercedes Benz OM321, movido a diesel com 120 hp. Este programa foi existoso sendo aplicado não só em grande parte da frota de M8 Greyhound, mas também derivado a programas para outros tipos de veículos militares de origem norte americana e serviço no Exército Brasileiro como os M2/M3/M5 Half Track, M3 Scout Car e caminhões GM CCKW e Studebaker.Curiosamente esta imersão no projeto de revitalização dos M8 Greyhound, despertariam a motivação da equipe do PqRMM/2 a estudar a possibilidade de conceituar um projeto de uma viatura blindada sobre rodas com tração 4X4, tendo em vista que a médio prazo a substituição dos veículos revitalizados era inevitável. Esforços nesta direção resultaria no projeto do VBB-1 (Viatura Blindada Brasileira 1) com tração 4X4, seguido pelo desenvolvimento do VBB-2 (Viatura Blindada Brasileira 2) com tração 6X6, no ano de 1970, que visava assim atender as necessidades do Exército Brasileiro. O projeto evoluiria para o Carro de Reconhecimento sobre Rodas, que apresentaria seus primeiros veículos pré serie que foram submetidos a testes de campo, elaborados pelo Exército Brasileiro e supervisionados pela equipe do PqRMM/2.
Após a conclusão deste estudo foi celebrado um contrato para aquisição de 110 carros (incluindo os oito carros pré série) que receberam a denominação de Engesa Cascavel EE-9 M1 e M2 que começaram a ser recebidos a partir de 1973 sendo distribuídos aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada e Esquadrões de Cavalaria Blindada, onde passaram a atuar em conjunto com os derradeiros M8 Greyhound ainda em serviço, até substitui-los por completo em 1987.A aceitação do blindado no Exército Brasileiro, motivou a diretoria da Engesa em 1973 a estudar a possibilidade de exportação do Cascavel, assim diversos clientes potencias foram identificados para apresentação, entre estes o Exército Português, que na época estava envolvido com a Guerra do Ultramar, travada em Angola, Moçambique e Guiné Bissau. O blindado foi bem recebido, mas ficou a clara a necessidade em se contar com um maior poder de fogo pois o canhão de 37 mm não era mais eficaz contra as ameaças atuais. A sugestão foi equipá-lo com a torre e o canhão (62F1 de 90 mm), da empresa francesa Sofma, porém as dimensões do carro não eram compatíveis com o novo armamento. A solução foi criar uma nova carcaça mais larga e comprida, dando origem a versão de exportação denominada como EE-9 Cascavel MKII. No início de 1974, os primeiros EE-9 MK-II foram enviados a Portugal para testes, porém mudanças naquele conflito, determinaram a suspensão do processo de aquisição, diante deste contratempo a saída, foi a prospecção de novos clientes em potencial. A Engesa comercializou esse Cascavel fortemente modificado com transmissão automática e o mesmo canhão 90 mm de baixa-pressão do Panhard AML. Este modelo, destinado à exportação, atraiu o interesse de países do Médio Oriente e vinte foram adquiridos imediatamente pelo Catar.A venda do Cascavel ao Catar se provou um grande sucesso para a Engesa e o primeiro sucesso do Brasil no comércio armamentista árabe. Abu Dhabi seguiu o exemplo com uma compra de duzentos Cascavéis em 1977.

O comando do Exército Brasileiro atento as movimentações da Engesa no mercado internacional, dispondo neste momento em sua frota de 102 carros EE-9 Cascavel M2 operacionais em seus regimentos de cavalaria mecanizada decidiu promover estudos referentes a implementação de um programa de modernização tendo com principal foco a troca do antigo canhão de 37 mm, que comprovadamente já não apresentava eficácia frente as possíveis ameaças que o pais poderia enfrentar naquele período. O sucesso do calibre de 90 mm determinou esta premissa como básica e os estudos baseados na relação de custo e beneficio apontaram pela do canhão belga Cockerill de 90 mm, além de muito contribuir para esta escolha diversos requisitos técnicos. Uma das premissas da Engesa e também refletia o desejo do Ministério do Exército era a gradual e necessária redução da dependência externa em termos de componentes, assim sendo a empresa optou por adquirir os direitos de fabricação sob licença deste canhão, incluindo treinamentos e ferramental adequado para sua produção nacional. A exemplo das versões de exportação a adoção do novo canhão envolvia também a substituição da torre, inicialmente pensou em se adotar a mesma torre usada nos carros destinados ao exército líbio, opção descartada em detrimento da adoção de uma torre de fabricação nacional.

Emprego no Exército Brasileiro
O recebimento dos primeiros carros modernizados EE-9 Cascavel M2 Série 3 ( de um total de 60 veículos contratados anteriormente) no inicio de 1977, clarificaram ao Comando do Exército Brasileiro a superioridade operacional do canhão Cockerill de 90 mm que apresentava uma cadencia de 6 tiros por minuto com um alcance de 1600 a 3500 metros, frente aos antigos canhões de 37 mm. Esta novidade pode ampliar o leque de missões do blindado, passando também a realizar missões de enfrentamento de outros tipos de carros blindados, atividade que seria impossível nas primeiras versões produzidas. O blindado foi originalmente projetado com foco na mobilidade e graças a suspensão do tipo boomerang o Cascavel era capaz de realizar manobras rápidas em qualquer tipo de terreno , mantendo as rodas traseiras sempre em contato com o solo, também podia atingir velocidades elevadas, cobrindo grandes distancias em pouco, a somatória de todas estas qualidades esbarrava no fraco armamento original. O conceito do projeto original baseava-se na simplicidade e no emprego de diversos componentes básicos existentes na industria automotiva nacional, apesar de apresentar um projeto conceitual básico, o Cascavel podia ser facilmente customizado de acordo com as necessidades de cada cliente, podendo ser equipado com telêmetro a LASER, manga de supressão de fumaça, sistema eletrônico de controle de tiro, entre outras sofisticações presentes naquele período. Esta simplicidade aliada a versatilidade e baixo custo de operação seria a mola mestra do sucesso deste blindado, com sua produção totalizando 1.738 unidades exportadas para 12 paises.
O novo canhão de EC-90 de 90 mm permitia fazer uso de uma série de munições entre elas HE-T contra pessoal ou alvos leves, HEAT-T exercício, Smoke WP-T Fumígena e incendiária e HESH-T contra blindagens leves, edificações, etc. Isto foi visto com uma oportunidade pelo comando do Exército Brasileiro que não mediu esforços para nacionalizar a produção , com uma variada gama de munições sendo produzidas pela empresa brasileira Engequimica (subsidiária da Engesa antiga FEEA – Fábrica de Estojos e Espoletas) de Juiz de Fora - MG, recebendo não só contratos do governo brasileiro mas também de exportação para vários países. Ainda neste contexto conduziam-se estudos para implementação de modificação no freio da boca do canhão permitindo o emprego de munição perfurante APFSDS 90 (Flecha) e Tipo Canister o que aumentaria ainda mais a letalidade do Cascavel no campo de batalha. Esta iniciativa se baseava em uma demanda do governo Iraquiano e infelizmente não passou do estágio de protótipo não sendo adquirido também pelo Exército Brasileiro. Este leque de oportunidades renovaria o interesse do Exército Brasileiro, levando assim a formalização um novo contrato de compra em 1977 englobando agora 46 carros Modelo 2 Série 5. A nova versão empregava o mesmo conjunto mecânico dos veículos adquiridos anteriormente, infelizmente o motor configurado para os veículos de exportação o Detroit Diesel 6V53N de 212 hp muito mais potente não foi adotado. Em termos visuais com os carros modernizados o novo Cascavel se diferenciava por possuir todo o grupo ótico frontal embutido na carroceria. Um novo lote com nove carros agora da versão Modelo 2 Série 7 seria adquirida em 1980 com os veículos sendo entregues no ano seguinte.

Empregados em um grande numero de unidades blindadas do Exército Brasileiro, os EE-9 Cascavel seriam destinados a realizar missões além mar, quando foram destacados a participar de contingentes brasileiros juntos a força de paz da ONU, como a ONUMOZ em Moçambique (1993 a fevereiro de 1994) e UNAVEM III em Angola (1995 a julho de 1997. Nestes dois momentos foram utilizados com sucesso, sendo sendo imersos em uma situação real de conflito. Aplicado como equipamento padrão de todos os Esquadrões e Regimento de Cavalaria Blindados, o atrito de operacional de mais de 25 anos de serviço, levaram os índices de disponibilidade da frota a atingir taxas preocupantes, sendo este fator ter sido agravado pela falta de suporte técnico do fabricante que encerrou suas atividades em 1990. A fim de se reverter quadro em 2001 foi iniciado um grande programa de repotenciamento e modernização pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) em parceria com empresas privadas, com o objetivo envolver quase duzentos, sendo este processo denominado como Manutenção de 5º escalão de Viaturas Blindadas sobre Rodas (incluindo também os EE-11 Urutu). Este processo envolvia completa desmontagem dos veículos, revisão estrutural, retificação e substituição de componentes, melhorias nos motores Mercedes Benz Diesel OM352 6 cilindros, com 174 hp de potência, e a troca de cambagens e sistemas rádios obsoletos por outros mais modernos e confiáveis. Este processo gerou uma sobrevida ao modelo visando assim cobrir o gap para a introdução de uma versão armada do Iveco Guarani 6X6.

Em Escala:
Para representarmos o EE-9 Cascavel MK III "EB 25291 ¨", fizemos uso de um modelo em resina de fabricação artesanal na escala 1/35, como se trata de um modelo rustico, tivemos de aplicar diversas correções em scratch e também proceder a inclusão de detalhamentos oriundos de outros modelos. Empregamos decais fabricados pela Decals e Books presentes no Set " Forças Armadas do Brasil ".
O esquema de cores ( FS ) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos os carros de reconhecimento médios Engesa Cascavel MKIII Exército Brasileiro, desde seu recebimento até os dias atuais.
Bibliografia :
- Blindados no Brasil - Um Longo e Arduo Aprendizado - Volume I , por
Expedito Carlos Stephani Bastos
- Blindados no Brasil - Um Longo e Arduo Aprendizado - Volume II, por
Expedito Carlos Stephani Bastos
- Modernização do Cascavel Defesa Net - http://www.defesanet.com.br/guarani/noticia/25920/Modernizacao-do-Cascavel/
- EE-9 Cascavel Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/EE-9_Cascavel