Avro 504K na Aviação Naval

História e Desenvolvimento.
A origem da notável empresa aeronáutica britânica A.V Roe and Company, ocorre no ano de 1908 quando o primeiro aeroplano projetado e fabricado artesanalmente pelo engenheiro inglês Alliot Vernon Roe, decolou dos campos de Manchester para a realização de seu primeiro voo. Podendo este modelo ser seguramente considerado como primeira aeronave de projeto 100% inglês. Motivados pelo sucesso dos primeiros testes de voo, os irmãos Humphrey, Edwin Alliott Verdon-Roe, fundaram em 1 de janeiro de 1910 no porão da companhia Everards Elastic Webbing Company em Brownsfield Mill em Manchester, a empresa A.V. Roe & Company, esta que seria também uma das primeiras empresas construtoras aeronáuticas do mundo. Paralelamente, um galpão seria alugado no Brooklands Flying Grounds para o qual Edwin Alliott movia as aeronaves acabadas, funcionando assim com uma loja, onde elas eram oferecidas a este novo mercado consumidor por apenas £450 libras esterlinas. As vendas começaram a evoluir e conjuntamente o projeto das aeronaves também, sendo que no final do ano de 1912, o negócio além de se provar viável em termos de retorno financeiro. A empresa passava também a demonstrar um fantástico potencial de crescimento, e em 11 de janeiro do ano seguinte, se tornaria um negócio completamente autônomo. Apesar do otimismo com a efervescência do mercado, cada vez mais concorrentes chegavam a este segmento, oferecendo assim riscos ao potencial de crescimento da A.V Roe and Company. O grande fator do impulso fundamental para  desenvolvimento futuro da empresa, se daria com o o lançamento do modelo Avro E (ou Avro 500), que lograria a companhia a obter o primeiro contrato militar em 1913, com a encomenda de dezoito células para Corpo Aéreo Real RFC (Royal Flying Corps) que seriam destinados a operação junto aos Esquadrões de Treinamento 3º, 4º e 5º.

Com boa aceitação junto aos pilotos e ao comando do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), a empresa decidiria investir recursos no aprimoramento do projeto, o que levaria ao conceito do novo Avro Modelo 504. Apesar de baseado em seu antecessor, o projeto se mostrava muito promissor, levando a A.V Roe and Company a optar pela fabricação de dois protótipos em julho do mesmo ano. A primeira aeronave alçou voo em 5 de setembro de 1913, bem a tempo de poder participar logo em seguida da Feira Aérea de Farnborough, logo de imediato o avançado desing da nova aeronave e sua performance em voo chamariam a atenção do comando das forças armadas britânicas, que imediatamente iniciaram junto a diretoria da empresa, tratativas para a aquisição da notável aeronave. Ao final desta, contratos seriam firmados para a aquisição de um substancial número de aeronaves não só para o Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), mas também Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service). Porém as demandas excediam em muito a capacidade produtiva da linha de fabricação, levando a empresa a se mudar para novas e maiores instalações em Clifton Street, Miles Platting - Manchester. Esta seria, no entanto, uma medida paliativa tendo em vista o breve estrangulamento da capacidade de produção desta linha, levando a empresa a migrar para as instalações da Mather & Platt Works em Newton Heath. As primeiras aeronaves seriam declaradas operacionais a partir de março de 1914, passando a atuar em missões de treinamento e observação. O eclodir da Primeira Guerra Mundial em 28 de julho de 1914 iria alterar profundamente o destino da A.V. Roe & Company e do Avro Modelo 504, elevando o patamar operacional da aeronave a um nível jamais imaginado por seus desenvolvedores .

Neste contexto de conflito, os Avro Modelo 504 assumiriam novas missões, agora já em missões de combate real na linha frente na Europa continental, cabendo ao modelo ser a primeira aeronave britânica abatida pelo fogo antiaéreo alemão em 14 de agosto de 1914, durante uma missão de bombardeio as fabricas de dirigíveis “Zeppelin Works” na região da cidade de Friedrichshafen nas margens do Lago de Constança. Em 21 de novembro do mesmo ano um grande número de Avros Modelo 504 armados com quatro bombas de 9 kg, teriam destacada participação em um bem-sucedido ataque a fabricas alemãs produtoras de hidrogênio no norte da França. Conforme o conflito ia ganhando intensidade e amplitude, a tecnologia aeronáutica avançava freneticamente, gerando uma nova geração de aeronaves de caça, bombardeio e observação mais avançadas, o que sobrepujaria o desempenho operacional dos Avro 504, tornando o ambiente de combate extremante desfavorável para o modelo. Assim rapidamente esta aeronave logo seria relegada a missões de segunda linha, sendo retirada para servir principalmente junto aos esquadrões de treinamento na Inglaterra. Neste momento o estágio de produção da aeronave já atingia milhares de células entregues, dispostas nas versões Avro 503A á Avro 504J, com os motores evoluindo de 60 hp para 80 hp de potência. A versão a ser mais produzida, no entanto, seria o Avro 504K, modelo originalmente configurado como aeronave de treinamento de dois lugares, que apresentava como curiosidade a possibilidade de poder a ser equipado como uma vasta gama de motores em virtude da escassez de componentes.

No inverno de 1917 e 1918, a alta demanda por aeronaves de caça no continente, e a urgente necessidade de se substituir os já obsoletos Vickers BE2cs nos esquadrões de defesa doméstica, levaria o comando do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps) a empregar dezenas de células dos modelos Avro 504J e Avro 504K convertidos para missões de caça. Estas versões modificadas para um único assento de tripulante, estavam armados com uma metralhadora leve Lewis .303 de calibre 7,62mm × 54 mm, montada acima da asa, além disto seria padronizado o uso de motores Gnome Monosoupape de 100hp de potência. Um total de duzentas e setenta células seriam modificadas para esta versão, passando a ser distribuídos a oito esquadrões de defesa doméstica. Em sua função principal de treinador, os Avro Modelo 504, muito em face das suas dóceis características de voo e desempenho, se tornariam o  “treinador padrão” britânico, permanecendo nesta atividade mesmo após o final da Primeira Guerra Mundial, mantendo o título de treinador básico padrão na agora recém criada Força Aérea Real (Royal Air Force), sendo substituído somente nesta atividade em meados da década de 1930. Nesta fase ainda, cerca de trezentas células do Avro Modelo 504K seriam transferidos para escolas civis de pilotos, recebendo o registro civil na Grã-Bretanha, onde passaram a ser empregados em missões de treinamento de pilotos e tarefas de reboques de faixas publicitarias permanecendo em uso até pelo menos o início do ano de 1940.
A carreira do Avro Modelo 504 seria intensa, fora de seu país de origem, sendo empregados em maior número pelo Serviço Aéreo da União Soviética, que fora formado logo após o termino da Primeira Guerra Mundial. Neste país era feito uso de células originais, bem como de aeronaves do modelo produzidas sob licença denominadas localmente como denominadas “Avrushka” ou pequeno Avro, com estas aeronaves equipadas com motores soviéticos rotativos idênticos ao Gnome Monosoupape.  O modelo ainda entraria em combate nos conflitos na China Nacionalista, quando foram usados em missões de observação e bombardeio. Ao todo foram produzidas entre os anos de 1914 e 1928 um total de 11.484 células, montadas em treze plantas industriais não só na Gra Bretanha, mas fabricados sob licença na Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Japão e União Soviética. Em termos de operadores o modelo esteve a serviço das forças armadas do Brasil, Argentina, Canada, Estônia, Finlândia, Grécia, Guatemala, Índia Britânica, Irã, Irlanda, Japão, Letônia, Malaia, México, Mongólia, Noruega, Peru, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Tailândia Uruguai e Estados Unidos.

Emprego no Marinha do Brasil.
Em fevereiro de 1914, a Escola Brasileira de Aviação seria criada, no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, através de uma parceria entre os ministérios da Guerra e da Marinha e a firma Gino, Buccelli & Cia. Este acordo tinha por base o comprometimento da empresa privada em fornecer equipamentos e instrutores para formar aviadores militares. Não havia dez anos desde o primeiro voo do mais pesado que o ar, pelas mãos do ilustre brasileiro Alberto Santos Dumont, quando a Marinha do Brasil criou a sua Escola de Aviação Naval - EAvN, em 23 de agosto de 1916. Esse pioneirismo, fruto da visão de grandes chefes navais, como o então Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino de Alencar, que, pautado no desempenho dessas plataformas nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, adquiriria nossos primeiros aviões e os entregaria ao Almirante Protógenes Pereira Guimarães, Patrono da Aviação Naval, a missão de preparar o pessoal e a doutrina de emprego aéreo na Marinha do Brasil. Quando a Escola de Aviação Naval - EAvN foi criada, em 23 de agosto de 1916, o primeiro dos três aerobotes adquiridos da fábrica Curtiss Aircraft Co. já havia voado e os dois restantes estavam em final de montagem, ficando prontos em outubro do mesmo ano. Todos seriam montados na Carreira Tamandaré do antigo Arsenal de Marinha, na base do Morro de São Bento, próximo à antiga ponte para a Ilha das Cobras, local atualmente ocupado pelo rancho do 1° Distrito Naval. Pouco tempo depois, a Escola de Aviação Naval - EAvN seria transferida para a Ilha das Enxadas, onde foram construídos dois hangares para quatro aeronaves. Ao longo dos anos seguintes esta instituição com o apoio de instrutores norte-americanos seguiu na missão de formar os primeiros aviadores navais da Marinha do Brasil. Neste contexto ficava cada vez mais claro a necessidade de não só ampliar o número de aeronaves bem como adquirir modelos mais modernos para o emprego em diversos perfis de operação militar.

Os novos desafios exigiam modernização de meios e práticas. Assim, tendo em vista que muitos dos hidroaviões de treinamento da variada coleção da Escola de Aviação Naval - EAvN chegavam ao fim de sua vida útil, decidiu-se reduzir o número de tipos e sistematizar as práticas de instrução de voo. Seria adotado o chamado “Sistema Gosport”, introduzido pelo Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service) em 1916, que, dentre outras inovações, preconizava o emprego de aviões terrestres para treinamento inicial. Assim, uma delegação de oficiais marinha seria enviada a Inglaterra, para conhecer de perto este processo e os vetores empregados. Desta maneira se daria o primeiro contato de nosso oficiais  com a aeronave Avro Modelo 504, modelo que então figurava como o treinador primário padrão deste racional e lógico sistema de treinamento. No entanto a incorporação do primeiro exemplar na Aviação Naval da Marinha do Brasil, ocorreria de forma casual, pois com a enorme disponibilidade de material aeronáutico após o término da Primeira Guerra Mundial, diversos grupos empresariais deram início a organização de empresas de transporte aéreo para operação regional e internacional. Entre muitas, a corporação inglesa Handley Page Ltda decidiu por estabelecer uma empresa aérea para operação de transporte civil no Brasil. Depois de receber autorização do governo brasileiro para operar rotas entre as principais cidades brasileiras, a empresa trouxe quatro aeronaves para o país, entre as quais um Avro Modelo 504K. A vida desta empresa seria efêmera sendo as aeronaves doadas ao governo brasileiro, com este  modelo de treinamento entregue em maio de 1920 a Marinha do Brasil.
Esta aeronave matriculada como “46” seria repassada então a Escola de Aviação Naval – EavN, não está claro se aquele Avro 504K foi recolhido a esta organização (que ainda se encontrava sediada na ilha das Enxadas e não dispunha de pista para operar aeronaves terrestres) para ser desmontado e armazenado ou se permaneceu em outro local. Neste mesmo período foram disponibilizados recursos para adquirir mais quatro células do modelo usadas e estavam equipadas com o famoso motor rotativo Gnome Monosoupape, Ao chegaram no Brasil no final do primeiro semestre de 1921, os dois primeiros foram montados no mês de agosto e encaminhados ao Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, onde iriam operar até a conclusão das obras da nova pista da Escola de Aviação Naval - EAvN na Ponta do Galeão. A perda de uma aeronave em um acidente levaria a Aviação Naval da Marinha do Brasil a proceder a montagem das duas células restantes entre novembro e dezembro de 1921. Esta dotação seria reforçada com a aquisição de mais doze células previstas em um contrato celebrado em 23 de maio de 1922, tratava-se novamente de aeronaves usadas, que seriam entregues configuradas como novos motores radiais Le Rhone de 110 hp. Em fins de 1923 estas aeronaves já se encontravam operacionais junto a 3º Esquadrilha da Flotilha de Treinamento, totalizando assim dezesseis aeronaves, porém o índice de disponibilidade se mantinha muito baixo em função de pequenos acidentes de operação.

Durante os conturbados episódios políticos que se seguiram durante ano de 1924, as atividades da Escola de Aviação Naval - EAvN foram muito reduzidas, sendo algumas vezes os Avro 504K foram armados com metralhadora Lewis .303 durante os momentos mais tensos do período revolucionário. Este quadro de instabilidade levaria a severas restrições orçamentarias que interromperam o fluxo de peças de reposição e material de apoio, levando indisponibilidade a índices alarmantes, sendo que em 1925 somente quatro células estavam aptas a voo, com as demais armazenadas ou em manutenção. No ano seguinte mais uma aeronave seria recuperada pelo Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvNRJ). Apesar do quadro de penúria, três Avro 504K realizaram um reide entre a capital carioca e a cidade de Belo Horizonte, representando um feito para aquela época, infelizmente duas aeronaves foram perdidas nesta missão. Em 1927, a frota de aviões Avro 504K encontrava-se reduzida a apenas três exemplares disponíveis para voo, com os demais perdidos em acidente ou em processo de manutenção de grande monta, com a necessidade de modernizar a frota de aeronaves de treinamento, a Diretoria Geral de Aeronáutica da Marinha examinou diversas propostas de fornecimento de mais células do modelo, no entanto optou-se pela aquisição de uma variante mais moderna o Avro 504N/O, que passaram a ser recebidos no ano seguinte, realizando em conjunto com as células originais, as missões de treinamento e formação de pilotos, com os Avro Modelo 504K registrando uma quantidade de horas de voo inferior à média anterior.
No objetivo de aumentar a vida útil das três ultimas aeronaves que se encontravam em condições de voo, foi decido em maio de 1929 pela implementação de um programa de modernização, tendo como foco principal a substituição do problemático motor rotativo por um novo radial fixo Armstrong Siddeley Lynx IVC, o mesmo  que dotava os recém chegados Avro 504N/O, sendo as três entregues entre os meses de novembro do mesmo ano e janeiro de 1930, curiosamente estas células foram adaptadas para o uso de flutuadores sendo empregadas como hidro aviões. Porém observou-se que o processo de modernização não atingiria os objetivos almejados e decidiu-se pela desativação das aeronaves, o que ocorreu após um voo de formatura da Escola de Aviação Naval - EAvN em junho de 1930, onde após este foram excluídas e alienadas para venda, encerrando assim sua carreira na Aviação Naval da Marinha do Brasil.

Em Escala.
Para representarmos o Avro 504K “A7” da Aviação Naval, empregamos o antigo kit da Airfix na escala 1/72, modelo de fácil montagem porém de baixo detalhamento exigindo a confecção em scratch dos para-brisas . Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais presentes no antigo set 72/09.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Avro 504K da Aviação Naval, inicialmente as aeronaves foram recebidas em uma tonalidade de amarelo denominada clear dope linen com o FS 33695.


Bibliografia :

- Avro 504 – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Avro_504
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- 100  anos da Aviação Naval - Marinha do Brasil & Fundação Getulio Vargas
- Asas sob os Mares , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html

L-4H-PI Piper Grasshoper no Brasil

História e Desenvolvimento.
A origem desta vasta linhagem de aeronaves leves de ligação transporte e instrução, de grande sucesso mundial tanto no mercado civil como militar, tem início em 1927 com a fundação da empresa Taylor Brothers Aircraft Manufacturing. Apresentando como primeiro produto de destaque o Taylor Cub, um pequeno avião biplace de asa alta cuja produção foi iniciada em 1931 atingindo a cifra de mais quatro mil aeronaves produzidas. Em dezembro de 1937, está pujante empresa passaria a ser renomeada como Piper Aircraft Company, e rapidamente sua marca se tornaria sinônimo de aeronaves leves de treinamento e transporte, com suas vendas sempre se baseando na casa milhares de células entregues ao mercado civil. O primeiro modelo a ser lançado foi o Piper J-2, com os modelos J-2E, J-2F, J-2G e J-2H, totalizando até 1938 a impressionante cifra de um mil e duzentas aeronaves entregues ao mercado. A próxima versão a ser produzida seria a Piper J-3 uma aeronave melhorada, que contava agora com o emprego de um motor melhor, desenvolvendo 50 cv de potência, como diferencial competitivo mantinha a mesma excelente relação de custo-benefício, apresentando como preço de venda ao consumidor final de apenas US$ 1.000,00 a aeronave. A simplicidade e a robustez do projeto lhe permitiam operar em aeroportos com baixa infraestrutura de apoio com baixo custo operacional. Estas qualidades e atributos levariam a celebração muitos de contratos de exportação para o mundo todo, encontrando um farto mercado nos países em desenvolvimento. Inicialmente suas aeronaves eram exportadas em kits,  sendo montadas nos países de destino, logo em seguida o fabricante começou a negociar os direitos de licença de produção local, permitindo a inclusão de um percentual de componentes produzidos localmente.

Em fins da década de 1930 era cada vez mais claro que o mundo seria arrastado para um novo conflito de ordem mundial, com as tensões se agravando dia a dia na Europa com os desejos expansionistas da Alemanha nazista e no Pacífico Central com o Império do Japão. Este provável cenário levaria o governo norte-americano a mobilizar esforços e investimentos em um vasto programa de rearmamento, passando envolver uma série de indústrias estratégicas no atendimento desta demanda, entre elas a Piper Aircraft Company, que passaria a produzir componentes para diversos equipamentos e sistema de defesa. Em setembro de 1939 a invasão da Polônia pelas forças armadas alemãs, tornaria emergencial não só produzir armas e equipamentos, mas também dispor de pessoal adequado para operar e manutenir, com o cenário mais prioritário focado nas armas aéreas da marinha e do exército. Para atender a esta demanda seria criado no país o Programa Civil de Treinamento de Pilotos (CPTP Civilian Pilot Training Program), e para equipar esta iniciativa seria decido na fase de instrução primária, empregar as aeronaves Piper J3L-65 Cub que estavam equipadas com o novo motor Lycoming O-145-B1 de 65hp. Esta iniciativa seria mantida até fins de 1944, chegando a formar um total de mais de quatrocentos mil pilotos militares. No entanto o baixo custo de aquisição e operação já haviam despertado o interesse do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) que buscava neste período uma aeronave leve destinada a missões de ligação e observação no campo de batalha, que dentre inúmeras atividades poderia ser empregada ainda em tarefas de vigilância de fronteira.
Assim uma concorrência seria lançada, e para atendimento a esta demanda, a Piper Aircraft Company apresentaria ao comando do Exército Americano (US Army) o modelo J3-O59, sendo esta aeronave era mecanicamente idêntica a versão civil, sendo distinguível sesta, apenas pela utilização de uma claraboia em plexiglas com efeito de estufa e janelas traseiras maiores, para melhor visibilidade. No processo de análise dos concorrentes, a balança penderia para o lado da Piper Aircraft Company, gerando o primeiro contrato de compra de quatro unidades do modelo Piper J3C-65, que foram designados pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) como YO-59. Em novembro de 1941 uma nova encomenda seria feita, agora abrangendo quarenta células que foram redesignados como Piper L-4-PI, estas novas aeronaves incorporavam uma série de modificações que os adaptavam as tarefas militares, como painéis transparentes na seção central da asa e equipamento de rádio. Assim que. As primeiras unidades a entrarem em serviço passaram a ostentar a designação militar O-59, com o “O” indicando a tarefa de observador, nesta missão embarcava-se junto com o piloto um observador equipado com radio a fins de se comunicar com o pessoal em solo para a correção de disparos de artilharia. Antes dos Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, os J-3 faziam parte de um programa de angariação de fundos para apoiar o Reino Unido. Anunciado como Flitfire, um Piper Cub J3 com as insígnias da Força Aérea Real (Royal Air Force) foi doado por W. T. Piper e Franklin Motors ao Fundo Benevolente da força aérea para ser sorteado. Os distribuidores da Piper Aircraft Company em todo o país foram incentivados a fazer o mesmo, resultando em mais quarenta e oito aeronaves doadas rapidamente. No entanto o modelo seria logo adotado pelo governo mexicano para o emprego em sua força aérea, representando assim o primeiro cliente de exportação da aeronave. 

A partir de abril de 1942 a aeronave seria redesignada como L-4 classificando a como aeronave de ligação, posteriormente o modelo receberia seu nome de batismo como Grasshoper. A aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) viria a ser o terceiro operador militar da aeronave, celebrando em 1942 um contrato para a aquisição de duzentas e cinquenta aeronaves distribuídas entre as variantes NE-1 e NE-2. Já em combate nos teatros de operações do Pacífico e Europa os L-4 além de serem empregados em missões de ligação e regulagem de tiro de artilharia, passaram a ser imbuídos em tarefas de transporte leve e evacuação médica. Durante a invasão aliada da França em junho de 1944, observou-se a tendência para o emprego da aeronave em missões de observação do campo de batalha, se tornado rapidamente a plataforma ideal para observação e detecção de veículos blindados alemães escondidos, pois sua baixa velocidade de cruzeiro e alta manobrabilidade o permitiam orbitar extensas áreas do campo de batalha. Para esta missão as aeronaves eram equipadas com um sistema de rádio que era operado por um segundo tripulante que também realizava a tarefa de observador. Curiosamente algumas células chegaram a ser equipadas com prateleiras para o transporte de bazucas, operando em duplas ou quartetos, abastecendo as tropas de infantaria aliadas na linha de frente para o ataque aos tanques alemães. O mais celebre destes L-4 configurados como aviões de apoio as tropas de, foi o “Rosie The Rocketeer”, pilotado pelo Major. Charles "Bazooka Charlie" Carpenter, a qual  foram creditados com a eliminação de seis tanques inimigos e vários carros blindados durante o seu serviço, especialmente durante a batalha de Arracourt no interior da França entre 18 e 29 de setembro de 1944.
Sua produção foi descontinuada somente em 1947, sendo entregues um total de 19.888 células, salientando que nos estágios emergências durante a Segunda Guerra Mundial, sua produção havia atingido a cadência de uma aeronave a cada 20 minutos. No período pós-guerra os L-4 foram extensivamente pela Força Aérea Americana (USAF) e pela Força Aérea da Coreia do Sul (Daehanminguk Gong-gun), atuando nas mesmas missões de regulagem de tiro de artilharia, remoção aero médica, reconhecimento do campo de batalha e controle aéreo avançado. Também neste período, centenas de aeronaves foram classificadas como excedentes de guerra e transferidas a nações como Tailândia e a França que empregariam versões destas aeronaves durante a Guerra da Algéria em 1953. A maioria das aeronaves no entanto seriam transferidas para o mercado civil onde se mantiveram e voo pelo menos até fins da década de 1960. Atualmente ainda é possível encontrar dezenas de aeronaves em condições de voo ao redor do mundo.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a representar no cenário global, uma posição de destaque estratégica dentro do contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos). Sendo detentor ainda, de um vasto território continental com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. Esta localização privilegiada, representava o ponto mais próximo entre o continente Americano e Africano, assim desta maneira a costa brasileira, seria fundamental como ponto de partida para o envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o pais ainda era signatárias da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, navios, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamentos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.

No início de 1944 seria definido que o esforço de guerra brasileiro compreenderia além do envio de tropas, duas unidades de aviação, sendo uma delas dedicada a ligação e observação para atuação em apoio as unidades do Exército Brasileiro. Para atender a esta demanda seria criada em 20 de julho de 1944 a 1º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação) que tinha como objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), atuando desta maneira em missões de ligação, observação e regulagem de tiro. A fim de atender a esta demanda seria criada em 20 de julho de 1944 a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) que tinha como objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Para equipar esta nova unidade foi definido o fornecimento nos termos do Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), dez células do modelo Piper L-4H-PI. Curiosamente o primeiro Grasshoper a ser recebido pela Força Aérea Brasileira, seria o segundo protótipo do YO-59 que foi designado como Piper L-4-PI, com esta aeronave sendo entregue em 1943 no Brasil para ser empregada como aeronave de instrução em solo na Escola Técnica de Aviação (ETAv). A 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) seria formada inicialmente com onze pilotos, sendo todos oficiais oriundos da reserva da Força Aérea Brasileira, os treinamentos para as missões de observação foram realizados em conjunto com oficiais do Exército Brasileiro no estande de tiro de Gericinó no Rio de Janeiro, onde foram praticados exercícios de observação durante a realização de tiros de artilharia. Vale citar como fato curioso que as aeronaves empregadas nesta fase eram os Fairchild PT-19 que não dispunham de cabine fechada nem de rádio, sendo este último equipamento vital para a realização das missões reais no teatro europeu.
Todo o contingente da 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), formado por trinta e cinco homens, embarcou para a Itália no dia 22 de setembro e 1944, foram transportados juntamente em navios de transporte de tropas militares da Marinha Americana (US Navy), juntamente com o 2º e 3º Escalões da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A chegada na Itália no porto de Nápoles se daria em 06 de outubro do mesmo ano, empreendendo uma viagem terrestre até Livorno. As dez células brasileiras do modelo Piper L-4H Grasshoper foram recebidas desmontadas no campo aéreo San Rossere, perto da cidade de Pisa, e seriam logo montadas pelos mecânicos do esquadrão brasileiro, recebendo as matrículas de FAB 01 a 10, mantendo inicialmente as insígnias da Força Aérea Americana (USAF), posteriormente receberam os cocares da Força Aérea Brasileira (FAB) nas laterais mantendo as marcações americanas nas asas para facilitar a identificação das tropas aliadas. Deslocada para perto da frente de batalha, a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) realizaria a primeira missão real de guerra, decolando da pista de San Giorgio, perto de Pistóia em 13 de novembro de 1944. A partir daí a unidade começou a executar missões diárias em apoio as unidades de artilharia de campanha do Exército Brasileiro, realizando suas missões antes de depois dos ataques (para assim corrigir o direcionamento e posterior conferir a efetividade dos ataques). Apesar das terríveis condições climáticas adversas motivadas por um dos mais rigorosos invernos do século XX, que congelavam os motores em voo e acumulavam gelo nas pistas, não houve registros de acidentes operacionais, atestando o alto grau de profissionalismo dos militares brasileiros do esquadrão.

Durante a campanha na Itália, os Piper L-4H da Força Aérea Brasileira (FAB) operariam desde Livorno, Pisa, Pistóia, Suviana e Porreta Teme, totalizando 684 missões reais realizadas pelos onze pilotos em companhia, de onze oficiais observadores do Exército Brasileiro e esporadicamente em conjunto com quatro  oficiais ingleses do Exército Real (Royal Army). Apesar da alta concentração de fogo antiaéreo alemão nestas regiões, felizmente nenhuma aeronave seria abatida durante o conflito.  Após o termino das hostilidades no teatro europeu, estasaeronaves foram mantidas  em  frenética operação, realizando em proveito das unidades da Força Expedicionária Brasileira (FEB), missões de transporte, ligação e correio aéreo, operando inicialmente a partir de 04 maio em Piacenza, na semana seguinte operando a partir de   Portalberta  (próximo a Milão), finalmente a partir de 12 de junho em Bergamo. Dois dias depois, a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) seria extinta pelo boletim da Artilharia Divisionária do Exército Brasileiro. Como resultado desta medida seu pessoal se reuniu junto aos efetivos do 1º Grupo de Aviação de Caça – Esquadrão Senta a Puá a fim retornarem ao Brasil no navio de transporte USS General M.C. Meigs (AP-116) que deixou o porto de Nápoles no dia 6 de junho em direção ao Brasil. Aparentemente, os dez Piper L-4H Grasshoper seriam desmontados, encaixotados e  transportados posteriormente por um outro navio da Marinha Americana (US Navy), ao chegarem em seu destino final o porto do Rio de Janeiro, seriam recolhidos ao Depósito Central de Armamentos do Exército Brasileiro, onde ali permaneceriam estocados.
Por sua vez o Piper L-4-PI, que já se encontrava no Brasil foi transferido para a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer), quando da extinção do Escola Técnica e Aviação (ETAv). Apesar de ser destinado a instrução em solo, existem evidências de que aquela aeronave foi mantida constantemente em condições de voo. Quantos aos aviões “italianos” os mesmos foram posteriormente “descobertos” estocados nas instalações do Depósito Central de Armamentos do Exército Brasileiro, sendo remontados entre os anos de 1954 e 1955, recebendo os cocares e matriculas da arma terrestre, operando de forma efêmera e sendo logo transferidos a Força Aérea Brasileira. A reativação da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) em 12 de dezembro de 1955, determinaria a distribuição dos três primeiros Piper L-4H Grasshoper para esta unidade. Nos dois anos seguintes mais células foram entregues, sendo a dotação da unidade complementada em abril de 1957 pelo pipler L-4 que pertencia a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer). No entanto a aquisição de aeronaves mais modernas determinaria a obsolescência dos Piper L-4H Grasshoper nas tarefas e ligação e observação, assim desta maneira em 1958, as células remanescentes foram recolhidas ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) e excluídas da carga do Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1959, com pelo menos nove aeronaves entregue ao Departamento de Aviação Civil (DAC).

Em Escala.
Para representarmos o Piper L-4H "FAB 09", fizemos uso kit do fabricante Hobbycraft (o modelo mais próximo seria o Smer) na escala 1/48, sendo necessário alterar a disposição das janelas laterais traseiras e também o teto, processo este facilmente executável pois as duas metades da fuselagem são injetadas em plástico transparente, bastando conformar as mesmas com fita adesiva. Os decais foram obtidos do set, presente no livro " Força Aérea Brasileira, na Segunda Guerra Mundial " de Luciano B. Monteiro & Sandro Dinarte, Editora Adler.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado e todas as aeronaves Piper L-4H Grasshoper em serviço na Força Aérea American (USAF) a durante a Segunda Guerra Mundial, durante este período as aeronaves operaram com marcações brasileiras e americanas, no pós-guerra este padrão foi acrescido das cores nacionais na cauda tanto na Força Aérea Brasileira quanto no Exército Brasileiro sendo este mantido até o final de sua carreira operacional no final da década de 1950.


Bibliografia :

- Piper J-3 Cub   Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Piper_J-3_Cub
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Os Olhos dos Pracinhas, por Ricardo Bonalume Neto - Revista Força Aérea nº 03
- Olho Nele - 2º Ten QOCon His Daniel Evangelista Gonçalves
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015  por Jackson Flores Junior

Embraer A-29A Super Tucano

História e Desenvolvimento.
Em fins da década de 1980 a Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer S/A conquistava renome mundial, não por sua linha de aeronaves comerciais leves, mas também pelos treinadores militares EMB-312 Tucano, que apresentavam um desenho avançado para a época com várias características inovadoras, que acabariam por se tornar um padrão mundial para aeronaves de treinamento básico. O EMB-312 Tucano seria o primeiro avião de treinamento desenvolvido e produzido desde o início como turboélice, mas mantendo características operacionais das aeronaves a jato, e por isso conquistaria contratos de exportação para mais de quinze países. Este sucesso encorajaria a empresa a percorrer novos passos na área de aeronaves de treinamento avançado militar. Conhecedora do promissor mercado para aeronaves de treinamento a turboélice a Embraer S/A iniciou em 1983 estudos de desenvolvimento de uma novo projeto neste segmento. Em 1984, seria desenvolvida uma variante do EMB.312 Tucano para a Força Aérea Real (Royal Air Force), o EMB-312G1 (construído sob licença na Irlanda do Norte como Shorts Tucano T.1), o qual era equipado com um motor turboélice Garret TPE331-12B (300HP mais potente do que o motor turboélice Pratt & Whitney Canada PT6A-25C de 750SHP que equipava o EMB-312 original). Isso levou a empresa brasileira a desenvolver uma nova versão do Tucano, mais possante, que receberia a designação de EMB-312H (“H” de “helicopter-killer”, já que uma das missões planejadas para a nova versão era a de destruidor de helicópteros). O desenvolvimento dessa nova versão, no início da década de 1990, coincidiu com a concorrência para equipar a Força Aérea Americana (USAF) com um novo treinador, através do programa do “Sistema de Treinamento Primário de Aeronaves” – JPATS (Joint Primary Aircraft Training System). Baseado na versão britânica, o novo Embraer EMB-312H recebeu extensões na fuselagem, no nariz (para abrigar um motor mais potente, o Pratt & Whitney Canada PT6A-67R de 1.600shp) e na porção traseira; foi dotado também do freio aerodinâmico ventral utilizado pela primeira vez na versão britânica. A aeronave foi dotada de um sistema autônomo de geração de oxigênio (OBOGS), cabine pressurizada e provisão para uso de traje anti-G.

Uma nova oportunidade se descortinaria em 1993 com a iniciativa da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no lançamento do programa NFTC NATO Flight Training in Canada (Núcleo de Treinamento de Vôo da OTAN no Canadá), que visava concentrar a formação dos pilotos militares desta organização multinacional no Canadá. Novamente a Embraer S/A se mostraria presente, apresentando uma proposta para desenvolvimento do EMB-312H Tucano, infelizmente a aeronave brasileira não lograria êxito em vencer esta concorrência. Neste mesmo ano, o Ministério da Aeronáutica (MAer) estava finalizando o processo de implantação do ambicioso projeto SIPAM - SIVAM (Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia), que deveria monitorar fiscalizar e proteger todo o tráfego aéreo das regiões do norte do pais. Este sistema deveria ser composto por sistemas de radares fixos, móveis e aerotransportados. Este programa deveria contar também com um braço armado, que serviria para a interceptação de aeronaves hostis ou ilegais, operando nestas regiões. Inicialmente as aeronaves Embraer AT-27 Tucano armadas com casulos de metralhadoras, assumiriam este papel, porém era nítido que esta aeronave não atendia plenamente todos os requisitos ideais para este tipo de operação. Desta maneira havia uma lacuna a ser preenchida, e com base nesta demanda, parâmetros foram traçados para um novo vetor, compreendendo grande autonomia, baixo custo de operação,  moderna avionica e sistemas de comunicação,  devendo ainda ser compatível com data link presente nos novos  Embraer R-99A e R-99B.. Em termos de capacidade ofensiva a nova aeronave deveria apresentar no mínimo 1.200 kg de carga útil dispostos em cinco pontos subalares, além de curiosamente dispor duas metralhadoras calibre .50 instaladas internamente nas asas. Como a Embraer S/A já estava envolvida diretamente no programa SIPAM - SIVAM (Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia), com o fornecimento de aeronaves de sensoriamento remoto e alerta aéreo antecipado, seria concedida a ela, prioridade na participação deste novo projeto.
Assim em 18 de agosto de 1995, seria assinado um contrato no valor de US$ 50 milhões para o desenvolvimento de uma nova aeronave de ataque otimizada para operação nas condições amazônica, nascendo assim o Programa ALX (Aeronave de Ataque Leve). O acordo previa a aquisição de cem células, dispostas em duas versões, sendo uma monoplace dedicado a missões de ataque, reconhecimento armado, apoio aéreo aproximado e interceptação de baixo desempenho e outra biplace para tarefas de treinamento,  controle aéreo avançado e ligação e observação. O primeiro protótipo do Embraer EMB-314 Super Tucano na configuração biplace com a designação de YAT-29 com matricula FAB 5900, alçou voo em 28 de junho de 1999, nas instalações da empresa em São José dos Campos no interior do estado de São Paulo. A aeronave estava equipada com um motor turboélice Pratt & Whitney PT6A-68/3 de 1.600 SHP, que operando em conjunto com uma hélice pentapá Hartzell, lhe proporcionaria uma  velocidade máxima de 590 km/h e um alcance de 2.855 km (com tanques externos), com autonomia máxima de 8,4 horas de voo. Possuía ainda uma blindagem protetora da cabine em kevlar (resistente a armas de calibre até 12,7 mm), para-brisa reforçado, assentos ejetáveis do tipo "zero-zero". O Embraer ALX Super Tucano, foi idealizado para atender a rígidos requisitos operacionais e logísticos exigidos pela Força Aérea Brasileira, devendo apresentar probabilidades de executar a missão em 98,5 % (mínimo); com falhas por cada 1.000 horas de voo: 150 (máximo); remoções do motor: uma a cada 4.000 horas de voo (máximo) e paradas do motor: uma a cada 40.000 horas de voo (máximo). A aeronave deveria poder operar ainda normalmente no inóspito ambiente amazônico, com o mínimo de infraestrutura, e para isso o projeto contemplava sistemas de abastecimento de combustível por pressão, gerador de oxigênio de bordo (OBOGS), capota do motor com painéis de acesso facilitado, indicador de situação horizontal (HSI), registro automático dos dados de voo e ar-condicionado para os tripulantes com ciclo automático.

A nova aeronave contava com uma moderna aviônica digital, apresentando um painel de comando composto por duas telas multifuncionais coloridas - CMFD (Colored Multi-Function Display), painel de entrada de dados à frente UFCP (Up-Front Control Panel), sistema HUD (head-up display), iluminação da cabina compatível com o emprego de visão noturna NVG (Night Vision Goggles), sistema de controle e comando HOTAS (Hands On Throttle and Sticks), que permitia ao piloto conduzir todas as fases de voo sem retirar as mãos dos comandos da aeronave, sensores para detecção passiva de alvos terrestres. Estava equipado ainda com um sistema de navegação inercial integrado INS (Inertial Navigation System) - GPS (Global Positioning System), equipamentos de comunicações de rádio com criptografia de enlace de dados, que possibilitava ainda o envio e o recebimento de dados entre aeronaves (compatível os novos Embraer R-99A e R-99B e jatos de ataque Northrop F-5EM Tiger II modernizados) e equipamentos em terra de última geração, operando em modo seguro. Podia ainda receber um completo conjunto de sensores infravermelho de visão à frente - FLIR (Forward-Looking Infrared) além de oferecer compatibilidade com capacetes do tipo HMD (Helmet Mounted Display) e pods de inteligência eletrônica e designadores de alvos por laser, infravermelho IR ou GPS. Dotado de duas metralhadoras FN Herstal MP-3 calibre 12,7mm fixas nas asas.  O Embraer A-29 Super Tucano pode transportar uma variada gama de armamentos, incluindo mísseis ar-ar guiados a infravermelho (como o nacional Mectron MAA-1 Piranha), lançadores de foguetes não-guiados e bombas explosivas ou incendiárias (burras ou inteligentes), além de tanques externos de combustível. Apresentava assim uma capacidade de transporte de até 1.550 kg de carga útil dispostos em cinco estações (quatro subalares e uma ventral).
Após entrar em serviço ativo na Força Aérea Brasileira no ano de 2004, e apresentar excelentes resultados operacionais, uma campanha de marketing seria formatada pelo fabricante, com a aeronave passando a frequentar os mais importantes salões aeronáuticos internacionais. Desta maneira o Embraer EMB-314 A-29 Super Tucano, passaria a despertar a atenção de outros países que buscavam não só um treinador avançado, mas também uma aeronave especializada em missões de contra insurgência (COIN). Seu primeiro contrato de exportação seria celebrado com a Colômbia em 2006, no valor de US$ 234 milhões envolvendo a aquisição de vinte e cinco aeronaves e completo programa de treinamento e assistência técnica. A seguir seriam negociadas doze células para a Força Aérea do Chile (FACH), com novas exportações sendo realizadas para o Equador, Angola, Burkina Faso, Mauritânia Indonésia, República Dominicana, Honduras.  O batismo de fogo da aeronave se daria em 18 de janeiro de 2007, quando um esquadrão Força Aérea Colombiana (FAC) lançaria a primeira missão de combate de seu tipo, atacando as posições das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Escondidas na selva amazônica estes insurgentes seriam atacados com bombas norte-americanas MK-82, empregando o sistema de pontaria CCIP (Continuamente Computed Impact Point).  Os excelentes resultados obtidos nesta, e nas demais missões realizadas pelos Embraer Super Tucanos colombianos, contribuíram muito para construção da reputação da aeronave, refletindo em mais de duzentas unidades já entregues e muitas mais em negociação para mais quinze potenciais clientes.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Atendendo ao cronograma anteriormente estabelecido, o programa de ensaios em voo do primeiro protótipo do Embraer EMB-314 - YAT-29 de matrícula “FAB 5900”, seria finalizado no início do ano de 2004, recebendo do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) a homologação final e liberação para produção em série. Apesar de ser desenvolvido para prover o braço armado para o programa SIPAM - SIVAM (Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia), o agora designado A-29 Super Tucano, apresentava como principal missão substituir os treinadores avançados Embraer AT-26 Xavante responsáveis pela formação de pilotos de caça, que se encontravam limiar de sua vida útil. Desta maneira o comando da Força Aérea Brasileira, determinou que 2º/5º Grupo de Aviação - Esquadrão Joker, baseado em Natal, no estado do Rio Grande do Norte, fosse a unidade precursora da introdução do binômio A-29A e A-29B Super Tucano na Aeronáutica. Assim em março deste mesmo ano, um seleto grupo composto por pilotos e mecânicos foi encaminhado para a fábrica da Embraer S/A na cidade de São José dos Campos no interior de São Paulo, para a participação em um programa de treinamento de  instrutores e multiplicadores, com este processo se estendendo até junho.  O  protótipo  do modelo A-29B de matricula “FAB 5900”, seria a primeira célula a ser incorporada ao serviço ativo, e nas semanas seguintes, seriam entregues mais aeronaves, agora também da versão A-29A Super Tucano. Durante um longo período, estas aeronaves foram gradativamente substituindo os veteranos jatos Embraer AT-26 Xavante no Curso de Formação de Pilotos de Caça (CFPC). Porém caberia ainda ao 2º/5º Grupo de Aviação Esquadrão Joker, ser o responsável pelo desenvolvimento da doutrina operacional de ataque e interceptação da nova aeronave. Esta fase seria de grande importância para a implantação da aeronave como o vetor de ataque na região norte do país, atuando nas regiões de fronteira, nas novas unidades, como o 1º/3º Grupo de Aviação – Esquadrão “Escorpião”, 2º/3º Grupo de Aviação – Esquadrão “Grifo” e 3º/3º Grupo de Aviação – Esquadrão “Flecha”, passando a substituir os Embraer AT-27 Tucano.

A introdução do Embraer A-29A e A-29B Super Tucano no Curso de Formação de Pilotos de Caça (CFPC), viria a revolucionar este processo, pois marcaria um salto de uma aeronave completamente analógica com aviônica da década de 1970 como o Embraer AT-26 Xavante, para um vetor completamente digital. A chegada da nova aeronave permitiu uma mudança significativa no processo de instrução dos novos pilotos de caça, uma vez que a análise de dados, antes e após o voo, passou a ser uma aliada dos alunos e instrutores. “A facilidade de planejar as missões de navegação e ataque permitiram atingir níveis cada vez mais altos de precisão". Após o voo, as estações de debriefing detalhavam e registravam os erros e acertos em cada manobra, auxiliando o piloto no seu desenvolvimento. Seu pacote eletrônico é composto por um sistema de transmissão e recepção de dados via data link fornecido pelo rádio Rohde & Schwartz M3AR (Série 6000) com proteção eletrônica das comunicações, como salto, criptografia e compressão de frequências, sistema FLIR (Forward Looking Infrared) modelo AN/AAQ-22 Safire, sistema de alerta de radar RWR e um sistema de alerta de aproximação de míssil MAWS eram os mesmos empregados nas aeronaves de primeira linha como os  Embraer R-99 AEW, Northrop F-5EM e Embraer Internacional A-1M AMX. Através desse sistema de data link o A-29 Super Tucano podia receber dados do radar do Embraer R-99A permitindo uma maior consciência situacional além enviar em tempo real imagens que forem captadas pelo seu sistema FLIR. Desta maneira os cadetes já são formados neste novo mundo digital, facilitando e reduziria em muito o tempo e custos no processo de adaptação após formados e transferidos as unidades de primeira linha. Outra possibilidade importante era a integração com óculos de visão noturna NVG ANVIS-9 da ITT garantindo uma total capacidade de operações noturnas ou com baixa visibilidade com segurança, algo completamente impossível de se sonhar com os antigos jatos de treinamento. Todos esses sistemas eram controlados de uma cabine especialmente feita para facilitar a vida do piloto, podendo ser considerada, também a mais moderna cabine de uma aeronave turboélice em serviço atualmente.
O primeiro lote contratado junto a Embraer S/A, compreendia setenta e seis aeronaves, sendo cinquenta e um biplaces e vinte e cinco monoplaces que foram distribuídos ao 2º/5º Grupo de Aviação - Esquadrão Joker, 1º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão Escorpião, 2º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão Grifo e 3º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão Flecha. Havia previsão de uma opção de compra de mais vinte e três aeronaves, sendo esta exercida nos anos seguintes, resultando na aquisição de mais quinze biplaces e oito monoplaces, com última entrega sendo realizada em 2009. Como vetor de ataque. o pacote de armamentos de disponível para o Super Tucano é bastante variado, chegando  a um total de 1500 kg de carga útil, tendo com arma orgânica duas metralhadoras FN Herstal M-3P calibre .50 (12,7 mm) com uma capacidade de 200 cartuchos e uma cadência de tiro na ordem de 1.100 tiros por minuto para uso em missões de interceptação sendo integrado para emprego de misseis ar-ar Piranha guiado por  infravermelho IR, de fabricação nacional, cujo alcance chega a 10 km, que podem ser usados eficazmente contra helicópteros ou outros aviões (salientando que ainda esta opção não  foi efetivada). Para missões de ataque a solo, podem ser usadas bombas MK-81 de 119 kg, bombas MK-82 de 227 kg, ou bombas guiadas a laser GBU-12 Paveway II, ou ainda casulos de foguetes de 70 mm Avibras SBAT-70 com dezenove foguetes. Todo este leque de armas é operado com apoio e informações de navegação de monitoramento do alvo, incluindo aqui o ponto de impacto continuamente monitorado (CCIP) e o ponto de lançamento continuamente computado (CCRP), o que aumenta, substancialmente a precisão do lançamento das armas. Para proteção da aeronave há ainda um sistema de alerta de radar RWR (radar warning receiver) e um sistema de alerta de aproximação de míssil do tipo  MAWS (missile approach warning system). A aeronave dispunha ainda de um lançador de iscas tipo chaff e flares para despistar mísseis guiados a radar e a calor (IR).

Nesses dezenove anos de operação na Força Aérea Brasileira, o Embraer A-29 Super Tucano se fez presente em diversas operações de defesa do espaço aéreo, como nos grandes eventos ocorridos no Brasil, entre eles a Jornada Mundial da Juventude, a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos Rio 2016. Além disso, participando ativamente da defesa aérea das fronteiras brasileiras e missões de policiamento do espaço aéreo brasileiro, operando muitas vezes em conjunto com a Polícia Federal, para atuar na interceptação de aeronaves ilícitas na região amazônica e no pantanal, operadas geralmente por traficantes e contrabandistas. Sendo principalmente os esquadrões do 3º Grupo de Aviação, responsáveis em caso de necessidade da aplicação da "Lei do Tiro de Destruição", neste contexto estas aeronaves são frequentemente acionadas para missões reais nas regiões norte e centro oeste, seja por controle terrestre ou pelos Embraer R-99A de alerta aéreo antecipado (AEW). Quando este tipo de evento ocorre, os Embraer A-29 Super Tucano interceptam a aeronave suspeita, com seus pilotos ordenando imediatamente a mudança de rota e o pouso obrigatório em aeródromo específico. No caso de negativa do "alvo", são efeitos disparos de aviso e se não houver mudança no comportamento da aeronave, e passa a ser considerada hostil, sendo assim realizados os procedimentos de tiro de detenção, com a aeronave sendo forçada a realizar um pouso de emergência. A partir de então, a Polícia Federal é acionada para assumir as Medidas de Controle de Solo (MCS). Ao longo dos anos estas ações resultariam no abate real de diversas aeronaves e consequente prisões e inúmeras apreensões de drogas, armas e contrabando.
A última unidade a receber a aeronave foi Esquadrão de Demonstração Aéreo (EDA) - Esquadrilha da Fumaça, onde viria a partir de 2012 a substituir os Embraer T-27 Tucano, que operaram nesta missão por mais de trinta anos, perfazendo ao todo 2.363 apresentações públicas. Em cerimônia militar realizada na Base Aérea de Pirassununga, no dia 01 de outubro de 2012, seriam recebidos oficialmente os A-29B “FAB 5964 e FAB 5965”.  A dotação total desta unidade compreendia quatro aeronaves biplace e oito monoplaces, porém as duas versões são operadas normalmente nas apresentações e demonstrações.  Estas células seriam customizadas para tal missão, sendo retirados equipamentos destinados as missões de ataque inclusive as metralhadoras e seus cofres de munição, visando assim aliviar o peso bruto da aeronave. Após um longo processo de adaptação e treinamento dos pilotos e equipe de apoio, a Esquadrilha da Fumaça foi novamente elevada ao status operacional de atividade, com a primeira apresentação pública  sendo realizada no Dia da Independência do Brasil em 07 de setembro de 2014 na capital federal - Brasília - DF.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer A-29A "FAB 5920" fizemos uso do kit em resina da Duarte Models na escala 1/48, modelo de excelente qualidade de acabamento e detalhamento, empregamos um set em resina da Eduard Brassin para representar os misseis ar-ar Mectron MAA- Piranha. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais presentes no set 48/07.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado por todas as aeronaves de combate da Força Aérea Brasileira a partir de fins da década de 1990, apresentando as marcações em baixa visibilidade.

Bibliografia :

- Embraer EMB-314 Super Tucano - Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Embraer_EMB-314_Super_Tucano
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- Invader na FAB , Claudio Lucchesi e José R. Mendonça  - Revista Asas  nº 10
- O Braço Armado do Sivam - Por Silvio Potengy - Revista Força Aérea Nº 27
- Fechando a Porteira - Visitando o 3º/3º Gav - Por Roberto Klanin - Revista Força Aérea Nº 50