Leopard 1A1 - Krauss Maffei no Brasil

História e Desenvolvimento.
A origem da família carros de combate Leopard remonta ao período pós-guerra, onde a Alemanha então dividida a entre as forças do Pacto de Varsóvia (Oriental) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte OTAN (Ocidental), representava a linha de frente no conflito da Guerra Fria entre as superpotências, criando nesta região um clima de extrema tensão. No início deste período a Alemanha Ocidental permaneceu completamente desmilitarizada, sendo proibida pela regulamentação aliada após sua rendição incondicional em 1945 de constituir instituições militares, mesmo para autodefesa.  Em um segundo este conceito seria revisionado, dado a necessidade de se reforçar as defesas da região, para assim fazer frente a constante ameaça soviética. Assim em 12 de novembro de 1955 seria promulgada a constituição de uma nova estrutura das forças armadas da República Federal da Alemanha, sendo compostas pelo Deutsches Heer (Exército Alemão), Deutsche Marine (Marinha Alemã) e a Deutsche Luftwaffe (Força Aérea Alemã). Em termos e recursos as novas forças armadas seriam imediatamente equipadas com sistemas de armas de origem norte americana, no segmento de blindados, os carros de combate médios fornecidos eram os modelos americanos M-47 e M4-8 Paton, veículos que já se mostravam inadequados as ameaças apresentadas pelas forças blindadas do Pacto de Varsóvia. Para atender a esta demanda foi previsto e desenvolvido amplo projeto reconstrução da força militar blindada da Alemanha Ocidental em fins na década de 1960, este processo previa a construção com projetos nacionais, ou ainda a aquisição de uma variada gama de veículos blindados, desde carros de combate, transporte e versões especializadas.

As especificações de projeto para o desenvolvimento de um novo MBT (Main Battle Tank), foram definidas no ano de 1956, estando baseadas na necessidade de superar seus oponentes soviéticos, entre estes os novos carros de combate T54 e T55, em serviço nos exércitos do Pacto de Varsóvia. Assim os parâmetros do projeto foram definidos, compondo um veículo com peso na ordem de mais 30 toneladas, com alta mobilidade como prioridade em detrimento ao poder de fogo, devendo ser ainda equipado com canhão de 105 mm. Vários projetos iniciais foram estudados pelo governo alemão, no ano seguinte estes esforços seriam incrementados, quando o governo francês se juntou ao projeto, pois também buscava um substituto comum, para seus antigos blindados de combate de origem norte americana. Desta união de demandas nasceria o conceito do programa “Europa Panzer”, que receberia ainda 1958, a adesão da Itália. Diversas empresas europeias e norte americanas participaram da concorrência, apresentando aos membros do comitê internacional "Europa Panzer", os primeiros protótipos em 1960. Após uma apurada análise comparativa entre todos os concorrentes, o projeto “Model 734” apresentado pela empresa automotiva alemã Dr. Ing. H.C. F. Porsche AG, foi declarado vencedor da concorrência. Esta decisão, no entanto, levaria a repercussões de ordem política e motivado por sentimentos nacionalistas o governo da França decidiu abandonar o consorcio, optando em desenvolver um veículo novo totalmente nacional que resultaria no futuro no carro de combate MBT AMX 30.
O projeto do novo carro de combate, foi batizado pelo Deutsches Heer (Exército Alemão) como Leopard I, e se tornaria o primeiro Main Battle Tank (carro principal de combate) produzido nacionalmente, do período pós-guerra. Como considerado nas especificações iniciais, este novo tanque estava equipado com uma versão alemã do consagrado canhão inglês, Royal Ordinance L7 de calibre 105 mm, dispunha ainda de completo sistema de proteção NBc (Radiação Nuclear e Química). Em termos de blindagem atendendo aos parâmetros de mobilidade, possuía uma blindagem leve, porém eficiente com capacidade de resistir a rápidos de armas de 20 mm em qualquer direção. Estas características lhe permitiam atingir uma velocidade máxima de 65 km/h no campo de batalha. Após a finalização de um programa de testes de aceitação, foi assinado entre a Dr. Ing. H.C. F. Porsche AG e o República Federal da Alemanha um contrato para aquisição inicial de 100 carros. A produção em série nas instalações fabris da Krauss Maffei em Munique, foi iniciada em setembro de 1964, com os primeiros carros passando a ser entregues as unidades Deutsches Heer (Exército Alemão) entre setembro de 1965 e junho de 1966. O emprego operacional revelaria qualidades de projeto do Leopard I, passando a despertar o interesse de outras nações pelo modelo (além da Itália), gerando assim contratos de exportações para a Bélgica, Holanda, Noruega, Itália, Dinamarca, Austrália, Canada, Turquia e Grécia.

Após a entrega dos três primeiros lotes de carros de combate ao Deutsches Heer (Exército Alemão), vislumbrou-se a oportunidade de implementação de melhoramentos, levando em 1968 ao desenvolvimento do modelo Leopard 1A1, a principal inovação estava baseada no novo sistema de estabilização do canhão, que efetivamente permitia o tiro em movimento, além deste novo carro de combate passar a dispor também de aparatos de proteção ao longo das laterais para proteger a parte superior das lagartas. Este modelo receberia inúmeros contratos de produção tanto do governo alemão, quanto de outros países levando a produção de novas 875 unidades. Vislumbrando um potencial de mercado para o atendimento de   seus clientes iniciais a Krauss Maffei, passou a produzir um kit de atualização, logrando êxito em comercializar centenas destes a diversos países. Neste processo alguns clientes optaram por incluir uma armadura de torre adicional desenvolvida pela Blohm & Voss, alterando assim a estética visual do veículo. Em 1980 um novo plano de modernização foi implementado, incluindo um intensificador de imagens noturnas PZB 200, surgindo a versão 1A1A2, que seria sucedida pelo Leopard  1A1A3 que passaram a contar com novo sistema de rádio digital SEM80/90.
A última versão de produção foi o Leopard 1A1A4, que passou a contar com os sistemas integrado de controle de tiro EMES 12A1 e visão noturna PERI R12, este modelo passou a ser entregue a partir de maio de 1974 tendo atingido a cifra de 250 fabricadas. O próximo estágio evolutivo seria representado pelo Leopard 1A5m que foi concebido no intuito de rivalizar novos blindados soviéticos T64, -72, T72M1 e T80. Para cumprir essa nossa missão, o Leopard 1A5 recebeu aperfeiçoamentos na capacidade de combate noturno e sob mau tempo, outro ponto aperfeiçoado foi sua capacidade de efetuar disparos contra alvos em movimento, garantindo assim maior mobilidade e flexibilidade no campo de batalha. As primeiras unidades foram entregues em 1987 com grande parte dos 4.744 veículos construídos anteriormente sendo elevados a este patamar, tornando esta versão o Leopard padrão.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da década de 1990, a força de carros de combate do Exército Brasileiro estava composta na linha de frente por tanques modernizados M-41B e M4-1C Caxias, que apesar de disponíveis em uma quantidade suficiente já se mostravam ultrapassados quando comparados as ameaças regionais hipotéticas ao país. Se fazia necessário então prover a substituição destes na linha de frente e também neste processo realocar um certo número de M41C Caxias em substituição aos X-1 Pioneiro & X-1A1/A2 Carcará que ainda equipavam dois Regimento de Carros de Combate. O caminho para o atendimento desta demanda começou a tomar forma com a elaboração de um ambicioso programa de modernização denominado como FT-90 ou Força Terrestre 90, dentre as prioridades constantes neste programa estava a aquisição de um substancial lote de carros blindados de nova geração. Estudos de análise de desempenho e capacidade econômica foram realizados, com a equipe técnica do exército se debruçando sobre propostas do modelo francês AMX 30, o alemão Leopard I, o norte americano M-60 e curiosamente até o russo T-80 que chegou a ser avaliado por uma comitiva brasileira em uma viagem a aquele país. Apesar da preferência pender para o modelo alemão, estudos econômicos tornaram a aquisição se carros de combate novos de fábrica como inviável, pois deveria ser inicialmente adquirido mais de 100 unidades o que levaria o valor a um patamar irreal devido as restrições orçamentárias do Ministério do Exército. Assim o programa passou a ser norteado com buscas em compras de oportunidade o que acabou se concretizando mediante oferta do governo belga, envolvendo unidades usadas do carro de combate Leopard 1A1 que se encontravam estocadas, e que eram oriundos do primeiro lote de 334 carros adquiridos entre 1968 e 1971, que haviam sido atualizados na década de 1980 para a versão intermediaria.

Após as tratativas iniciais junto ao governo da Bélgica, foi formada uma Comissão de Aquisição do Exército Brasileiro, que trataria em dezembro de 1994 de identificar e avaliar in loco inicialmente sessenta e um veículos em melhor estado de conservação. As unidades escolhidas deveriam obedecer a critérios basicos eliminatórios, como, vida útil do canhão, quilometragem da transmissão e menor número de horas de uso motor. Após parametrização estatística, seria definido o status do "Carro Médio Padrão" com estes devendo apresentar no máximo 500,8 horas de uso do motor, 3.229 km de quilometragem da transmissão e 172 EFC de vida útil do canhão. Com os carros escolhidos, seria necessário proceder um processo de revisão básica mecânica e seu consequente transporte até o Brasil, sendo neste momento contratada a empresa belga Stiles Antwerp Lt, especializada nestas atividades e homologada como prestador de serviços Forças Armadas Belgas (La Défense). Os Leopard 1A1, seriam recebidos, prevendo a entrega em três lotes com intervalo de quatro meses entres cada remessa. Somente a munição que em regime de exceção seria despachada integralmente com o primeiro lote de carros. Os pagamentos seriam realizados na ordem dos recebimentos dos lotes, sendo no primeiro vinte carros, no segundo mais vinte carros e por fim no terceiro lote vinte e um carros. Uma comissão formada por oficiais do Exército Brasileiro seria encarregada de acompanhar todo o processo até o embarque dos respectivos lotes ao Brasil. Além dos carros seriam despachados do a gama de ferramental existente permanente ao veículo, bem com kits de manutenção até de quarto escalão.
Em vias de se receber o primeiro lote destes veículos, em 17 de maio de 1996, o Ministério do Exército, definiria uma diretriz para a implantação das Viaturas Blindadas de Combate, VBC -CC Leopard 1A1 no Exército Brasileiro. Após o recebimento de todos os carros e o material de apoio, seriam concentrados junto a instalações do Parque Regional de Manutenção/1 (PqRMnt/1) no Rio de Janeiro, e de lá foi distribuído às respectivas unidades entre 1997 e 2000.  Neste meio tempo um contingente de militares brasileiros seria enviado a Bélgica para treinar junto as unidades operacionais daquele exército toda a operação e manutenção do carro de combate Leopard 1A1 em nível de 1º, 2º e 3º Escalões.Fatos importantes marcam esta nova fase da arma blindada no Exército Brasileiro, como a criação em 1996 do Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBld), responsável pela formação, padronização, modernização e atualização na instrução e adestramento dos futuros combatentes blindados, com este programa sendo iniciado no Rio de Janeiro e depois transferido para Santa Maria no Rio Grande do Sul em 2004. A implementação deste modelo no Brasil proporcionou grande mudanças na sistemática operacional da arma blindada do exército, pois toda uma nova infraestrutura teve de ser criada, indo desde o processo de treinamento, instalações, doutrinas e sistemas de transporte (terrestre ou ferroviário), além de uma variada gama de veículos de apoio e socorro mais adequadas ao porte do novo modelo.

No ano de 1998, o comando do Exército Brasileiro decidiu se pela aquisição de mais sessenta e sete carros de combate da mesma versão recebida anteriormente, atendendo a mesma sistemática, estes carros foram escolhidos, revisado e despachados ao Brasil em lotes, com o último recebido em maio do ano de 2000. Junto com este novo contrato seriam adquiridos também carros na versão Leopard Escola, Leopard Socorro (Bergepanzer Standart), além de outros dois modelos únicos no mundo configurados na versão de socorro Leopard HART (Heavy Armoured Recovery Tank) produzidos pela empresa belga Sabiex. Com esta aquisição a frota de carros Leopard 1A1 passaria a ser de cento e vinte oito unidades, melhorando a distribuição destes carros de combate no Exército Brasileiro. Além do Centro de Instrução de Blindados (CIBld), os Leopard 1A1. Além do Centro de Instrução de Blindados (CIBld), os Leopard 1A1 foram destinados a quatro Regimentos de Carros de Combate alocados nas regiões Sul e Sudeste. Apesar do pródigo início operacional, os carros de combate alemães, que apresentavam inúmeros avanços quando comparados aos carros de combate norte-americanos M-41B e M-41C Caxias, ao longo dos anos seguintes passariam a enfrentar deficiências graves em sua cadeia logística, proporcionando indicies de indisponibilidade não satisfatórios. Pode-se atribuir a este preocupante cenário, a inexistência de qualquer contrato de prestação de serviço com o fabricante referente a manutenção ou fornecimento de peças de reposição, bem com a fatores técnicos decorrente da idade do projeto do carro de combate alemão.  
No anseio padronizar seus meios, o Comando do Exército, assinou no ano de 2008 junto ao governo alemão e a fabricante Krauss-Maffei Wehrtecnik GmbH, um contrato para a aquisição, modernização e manutenção de 250 carros de combate do modelo  Leopard 1A5. Os primeiros lotes deste modelo começaram a ser recebidos no Brasil, a partir de 2009.  O principal objetivo deste programa era além de modernizar sua frota de carros de combate, contar com um constante suporte técnico do fabricante, evitando assim incorrer nos mesmos erros da aquisição dos modelos Leopard 1A1. O recebimento gradativo destes novos carros de combate, permitiram o comando da Força Terrestre a estruturar um plano de desativação gradual dos Leopard 1A1 mais antigos. Este plano definia que dos cento e vinte oito carros originais adquiridos, setenta e quatro, seriam retirados de serviço imediatamente, sendo parcialmente desmontados a fim de proporcionarem um estoque de segurança na cadeia de suprimentos dos novos Leopard 1A5. Dos carros restantes, seria definido que os trinta e nove carros em melhor estado, deveriam ser mantidos em operação, sendo divididos em três esquadrões de treze carros a fim de substituírem os derradeiros M-41 Caxias ainda em uso em alguns Regimentos de Cavalaria Blindada (RCC). Ja os carros restantes seriam destinados para acervo de museus militares.

Em Escala.
Para representarmos o Leopard 1A1 "EB 006047 Itatiaia", empregamos o excelente kit da Revell na escala 1/35. Para compormos a versão brasileira, tivemos de produzir em scratch as quatro caixas de ferramentas que são acondicionadas nas laterais do veículo. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals & Books presentes no set  "Forças Armadas Brasileiras".
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos os veículos  Leopard 1A1, utilizados desde o recebimento até os dias atuais. Alguns carros foram padronizados com o esquema tático de dois, especula-se que os carros que serão mantidos em serviço venham a adotar o mesmo padrão de camuflagem dos antigos M-41C Caxias.

Bibliografia :

- Leopard 1  - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Leopard_1
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado Volume II - Expedito Carlos Stephani Bastos

Avro 504K na Aviação Naval

História e Desenvolvimento.
A origem da notável empresa aeronáutica britânica A.V Roe and Company, ocorre no ano de 1908 quando o primeiro aeroplano projetado e fabricado artesanalmente pelo engenheiro inglês Alliot Vernon Roe, decolou dos campos de Manchester para a realização de seu primeiro voo. Podendo este modelo ser seguramente considerado como primeira aeronave de projeto 100% inglês. Motivados pelo sucesso dos primeiros testes de voo, os irmãos Humphrey, Edwin Alliott Verdon-Roe, fundaram em 1 de janeiro de 1910 no porão da companhia Everards Elastic Webbing Company em Brownsfield Mill em Manchester, a empresa A.V. Roe & Company, esta que seria também uma das primeiras empresas construtoras aeronáuticas do mundo. Paralelamente, um galpão seria alugado no Brooklands Flying Grounds para o qual Edwin Alliott movia as aeronaves acabadas, funcionando assim com uma loja, onde elas eram oferecidas a este novo mercado consumidor por apenas £450 libras esterlinas. As vendas começaram a evoluir e conjuntamente o projeto das aeronaves também, sendo que no final do ano de 1912, o negócio além de se provar viável em termos de retorno financeiro. A empresa passava também a demonstrar um fantástico potencial de crescimento, e em 11 de janeiro do ano seguinte, se tornaria um negócio completamente autônomo. Apesar do otimismo com a efervescência do mercado, cada vez mais concorrentes chegavam a este segmento, oferecendo assim riscos ao potencial de crescimento da A.V Roe and Company. O grande fator do impulso fundamental para  desenvolvimento futuro da empresa, se daria com o o lançamento do modelo Avro E (ou Avro 500), que lograria a companhia a obter o primeiro contrato militar em 1913, com a encomenda de dezoito células para Corpo Aéreo Real RFC (Royal Flying Corps) que seriam destinados a operação junto aos Esquadrões de Treinamento 3º, 4º e 5º.

Com boa aceitação junto aos pilotos e ao comando do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), a empresa decidiria investir recursos no aprimoramento do projeto, o que levaria ao conceito do novo Avro Modelo 504. Apesar de baseado em seu antecessor, o projeto se mostrava muito promissor, levando a A.V Roe and Company a optar pela fabricação de dois protótipos em julho do mesmo ano. A primeira aeronave alçou voo em 5 de setembro de 1913, bem a tempo de poder participar logo em seguida da Feira Aérea de Farnborough, logo de imediato o avançado desing da nova aeronave e sua performance em voo chamariam a atenção do comando das forças armadas britânicas, que imediatamente iniciaram junto a diretoria da empresa, tratativas para a aquisição da notável aeronave. Ao final desta, contratos seriam firmados para a aquisição de um substancial número de aeronaves não só para o Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), mas também Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service). Porém as demandas excediam em muito a capacidade produtiva da linha de fabricação, levando a empresa a se mudar para novas e maiores instalações em Clifton Street, Miles Platting - Manchester. Esta seria, no entanto, uma medida paliativa tendo em vista o breve estrangulamento da capacidade de produção desta linha, levando a empresa a migrar para as instalações da Mather & Platt Works em Newton Heath. As primeiras aeronaves seriam declaradas operacionais a partir de março de 1914, passando a atuar em missões de treinamento e observação. O eclodir da Primeira Guerra Mundial em 28 de julho de 1914 iria alterar profundamente o destino da A.V. Roe & Company e do Avro Modelo 504, elevando o patamar operacional da aeronave a um nível jamais imaginado por seus desenvolvedores .

Neste contexto de conflito, os Avro Modelo 504 assumiriam novas missões, agora já em missões de combate real na linha frente na Europa continental, cabendo ao modelo ser a primeira aeronave britânica abatida pelo fogo antiaéreo alemão em 14 de agosto de 1914, durante uma missão de bombardeio as fabricas de dirigíveis “Zeppelin Works” na região da cidade de Friedrichshafen nas margens do Lago de Constança. Em 21 de novembro do mesmo ano um grande número de Avros Modelo 504 armados com quatro bombas de 9 kg, teriam destacada participação em um bem-sucedido ataque a fabricas alemãs produtoras de hidrogênio no norte da França. Conforme o conflito ia ganhando intensidade e amplitude, a tecnologia aeronáutica avançava freneticamente, gerando uma nova geração de aeronaves de caça, bombardeio e observação mais avançadas, o que sobrepujaria o desempenho operacional dos Avro 504, tornando o ambiente de combate extremante desfavorável para o modelo. Assim rapidamente esta aeronave logo seria relegada a missões de segunda linha, sendo retirada para servir principalmente junto aos esquadrões de treinamento na Inglaterra. Neste momento o estágio de produção da aeronave já atingia milhares de células entregues, dispostas nas versões Avro 503A á Avro 504J, com os motores evoluindo de 60 hp para 80 hp de potência. A versão a ser mais produzida, no entanto, seria o Avro 504K, modelo originalmente configurado como aeronave de treinamento de dois lugares, que apresentava como curiosidade a possibilidade de poder a ser equipado como uma vasta gama de motores em virtude da escassez de componentes.

No inverno de 1917 e 1918, a alta demanda por aeronaves de caça no continente, e a urgente necessidade de se substituir os já obsoletos Vickers BE2cs nos esquadrões de defesa doméstica, levaria o comando do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps) a empregar dezenas de células dos modelos Avro 504J e Avro 504K convertidos para missões de caça. Estas versões modificadas para um único assento de tripulante, estavam armados com uma metralhadora leve Lewis .303 de calibre 7,62mm × 54 mm, montada acima da asa, além disto seria padronizado o uso de motores Gnome Monosoupape de 100hp de potência. Um total de duzentas e setenta células seriam modificadas para esta versão, passando a ser distribuídos a oito esquadrões de defesa doméstica. Em sua função principal de treinador, os Avro Modelo 504, muito em face das suas dóceis características de voo e desempenho, se tornariam o  “treinador padrão” britânico, permanecendo nesta atividade mesmo após o final da Primeira Guerra Mundial, mantendo o título de treinador básico padrão na agora recém criada Força Aérea Real (Royal Air Force), sendo substituído somente nesta atividade em meados da década de 1930. Nesta fase ainda, cerca de trezentas células do Avro Modelo 504K seriam transferidos para escolas civis de pilotos, recebendo o registro civil na Grã-Bretanha, onde passaram a ser empregados em missões de treinamento de pilotos e tarefas de reboques de faixas publicitarias permanecendo em uso até pelo menos o início do ano de 1940.
A carreira do Avro Modelo 504 seria intensa, fora de seu país de origem, sendo empregados em maior número pelo Serviço Aéreo da União Soviética, que fora formado logo após o termino da Primeira Guerra Mundial. Neste país era feito uso de células originais, bem como de aeronaves do modelo produzidas sob licença denominadas localmente como denominadas “Avrushka” ou pequeno Avro, com estas aeronaves equipadas com motores soviéticos rotativos idênticos ao Gnome Monosoupape.  O modelo ainda entraria em combate nos conflitos na China Nacionalista, quando foram usados em missões de observação e bombardeio. Ao todo foram produzidas entre os anos de 1914 e 1928 um total de 11.484 células, montadas em treze plantas industriais não só na Gra Bretanha, mas fabricados sob licença na Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Japão e União Soviética. Em termos de operadores o modelo esteve a serviço das forças armadas do Brasil, Argentina, Canada, Estônia, Finlândia, Grécia, Guatemala, Índia Britânica, Irã, Irlanda, Japão, Letônia, Malaia, México, Mongólia, Noruega, Peru, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Tailândia Uruguai e Estados Unidos.

Emprego no Marinha do Brasil.
Em fevereiro de 1914, a Escola Brasileira de Aviação seria criada, no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, através de uma parceria entre os ministérios da Guerra e da Marinha e a firma Gino, Buccelli & Cia. Este acordo tinha por base o comprometimento da empresa privada em fornecer equipamentos e instrutores para formar aviadores militares. Não havia dez anos desde o primeiro voo do mais pesado que o ar, pelas mãos do ilustre brasileiro Alberto Santos Dumont, quando a Marinha do Brasil criou a sua Escola de Aviação Naval - EAvN, em 23 de agosto de 1916. Esse pioneirismo, fruto da visão de grandes chefes navais, como o então Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino de Alencar, que, pautado no desempenho dessas plataformas nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, adquiriria nossos primeiros aviões e os entregaria ao Almirante Protógenes Pereira Guimarães, Patrono da Aviação Naval, a missão de preparar o pessoal e a doutrina de emprego aéreo na Marinha do Brasil. Quando a Escola de Aviação Naval - EAvN foi criada, em 23 de agosto de 1916, o primeiro dos três aerobotes adquiridos da fábrica Curtiss Aircraft Co. já havia voado e os dois restantes estavam em final de montagem, ficando prontos em outubro do mesmo ano. Todos seriam montados na Carreira Tamandaré do antigo Arsenal de Marinha, na base do Morro de São Bento, próximo à antiga ponte para a Ilha das Cobras, local atualmente ocupado pelo rancho do 1° Distrito Naval. Pouco tempo depois, a Escola de Aviação Naval - EAvN seria transferida para a Ilha das Enxadas, onde foram construídos dois hangares para quatro aeronaves. Ao longo dos anos seguintes esta instituição com o apoio de instrutores norte-americanos seguiu na missão de formar os primeiros aviadores navais da Marinha do Brasil. Neste contexto ficava cada vez mais claro a necessidade de não só ampliar o número de aeronaves bem como adquirir modelos mais modernos para o emprego em diversos perfis de operação militar.

Os novos desafios exigiam modernização de meios e práticas. Assim, tendo em vista que muitos dos hidroaviões de treinamento da variada coleção da Escola de Aviação Naval - EAvN chegavam ao fim de sua vida útil, decidiu-se reduzir o número de tipos e sistematizar as práticas de instrução de voo. Seria adotado o chamado “Sistema Gosport”, introduzido pelo Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service) em 1916, que, dentre outras inovações, preconizava o emprego de aviões terrestres para treinamento inicial. Assim, uma delegação de oficiais marinha seria enviada a Inglaterra, para conhecer de perto este processo e os vetores empregados. Desta maneira se daria o primeiro contato de nosso oficiais  com a aeronave Avro Modelo 504, modelo que então figurava como o treinador primário padrão deste racional e lógico sistema de treinamento. No entanto a incorporação do primeiro exemplar na Aviação Naval da Marinha do Brasil, ocorreria de forma casual, pois com a enorme disponibilidade de material aeronáutico após o término da Primeira Guerra Mundial, diversos grupos empresariais deram início a organização de empresas de transporte aéreo para operação regional e internacional. Entre muitas, a corporação inglesa Handley Page Ltda decidiu por estabelecer uma empresa aérea para operação de transporte civil no Brasil. Depois de receber autorização do governo brasileiro para operar rotas entre as principais cidades brasileiras, a empresa trouxe quatro aeronaves para o país, entre as quais um Avro Modelo 504K. A vida desta empresa seria efêmera sendo as aeronaves doadas ao governo brasileiro, com este  modelo de treinamento entregue em maio de 1920 a Marinha do Brasil.
Esta aeronave matriculada como “46” seria repassada então a Escola de Aviação Naval – EavN, não está claro se aquele Avro 504K foi recolhido a esta organização (que ainda se encontrava sediada na ilha das Enxadas e não dispunha de pista para operar aeronaves terrestres) para ser desmontado e armazenado ou se permaneceu em outro local. Neste mesmo período foram disponibilizados recursos para adquirir mais quatro células do modelo usadas e estavam equipadas com o famoso motor rotativo Gnome Monosoupape, Ao chegaram no Brasil no final do primeiro semestre de 1921, os dois primeiros foram montados no mês de agosto e encaminhados ao Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, onde iriam operar até a conclusão das obras da nova pista da Escola de Aviação Naval - EAvN na Ponta do Galeão. A perda de uma aeronave em um acidente levaria a Aviação Naval da Marinha do Brasil a proceder a montagem das duas células restantes entre novembro e dezembro de 1921. Esta dotação seria reforçada com a aquisição de mais doze células previstas em um contrato celebrado em 23 de maio de 1922, tratava-se novamente de aeronaves usadas, que seriam entregues configuradas como novos motores radiais Le Rhone de 110 hp. Em fins de 1923 estas aeronaves já se encontravam operacionais junto a 3º Esquadrilha da Flotilha de Treinamento, totalizando assim dezesseis aeronaves, porém o índice de disponibilidade se mantinha muito baixo em função de pequenos acidentes de operação.

Durante os conturbados episódios políticos que se seguiram durante ano de 1924, as atividades da Escola de Aviação Naval - EAvN foram muito reduzidas, sendo algumas vezes os Avro 504K foram armados com metralhadora Lewis .303 durante os momentos mais tensos do período revolucionário. Este quadro de instabilidade levaria a severas restrições orçamentarias que interromperam o fluxo de peças de reposição e material de apoio, levando indisponibilidade a índices alarmantes, sendo que em 1925 somente quatro células estavam aptas a voo, com as demais armazenadas ou em manutenção. No ano seguinte mais uma aeronave seria recuperada pelo Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvNRJ). Apesar do quadro de penúria, três Avro 504K realizaram um reide entre a capital carioca e a cidade de Belo Horizonte, representando um feito para aquela época, infelizmente duas aeronaves foram perdidas nesta missão. Em 1927, a frota de aviões Avro 504K encontrava-se reduzida a apenas três exemplares disponíveis para voo, com os demais perdidos em acidente ou em processo de manutenção de grande monta, com a necessidade de modernizar a frota de aeronaves de treinamento, a Diretoria Geral de Aeronáutica da Marinha examinou diversas propostas de fornecimento de mais células do modelo, no entanto optou-se pela aquisição de uma variante mais moderna o Avro 504N/O, que passaram a ser recebidos no ano seguinte, realizando em conjunto com as células originais, as missões de treinamento e formação de pilotos, com os Avro Modelo 504K registrando uma quantidade de horas de voo inferior à média anterior.
No objetivo de aumentar a vida útil das três ultimas aeronaves que se encontravam em condições de voo, foi decido em maio de 1929 pela implementação de um programa de modernização, tendo como foco principal a substituição do problemático motor rotativo por um novo radial fixo Armstrong Siddeley Lynx IVC, o mesmo  que dotava os recém chegados Avro 504N/O, sendo as três entregues entre os meses de novembro do mesmo ano e janeiro de 1930, curiosamente estas células foram adaptadas para o uso de flutuadores sendo empregadas como hidro aviões. Porém observou-se que o processo de modernização não atingiria os objetivos almejados e decidiu-se pela desativação das aeronaves, o que ocorreu após um voo de formatura da Escola de Aviação Naval - EAvN em junho de 1930, onde após este foram excluídas e alienadas para venda, encerrando assim sua carreira na Aviação Naval da Marinha do Brasil.

Em Escala.
Para representarmos o Avro 504K “A7” da Aviação Naval, empregamos o antigo kit da Airfix na escala 1/72, modelo de fácil montagem porém de baixo detalhamento exigindo a confecção em scratch dos para-brisas . Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais presentes no antigo set 72/09.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Avro 504K da Aviação Naval, inicialmente as aeronaves foram recebidas em uma tonalidade de amarelo denominada clear dope linen com o FS 33695.


Bibliografia :

- Avro 504 – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Avro_504
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- 100  anos da Aviação Naval - Marinha do Brasil & Fundação Getulio Vargas
- Asas sob os Mares , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html

L-4H-PI Piper Grasshoper no Brasil

História e Desenvolvimento.
A origem desta vasta linhagem de aeronaves leves de ligação transporte e instrução, de grande sucesso mundial tanto no mercado civil como militar, tem início em 1927 com a fundação da empresa Taylor Brothers Aircraft Manufacturing. Apresentando como primeiro produto de destaque o Taylor Cub, um pequeno avião biplace de asa alta cuja produção foi iniciada em 1931 atingindo a cifra de mais quatro mil aeronaves produzidas. Em dezembro de 1937, está pujante empresa passaria a ser renomeada como Piper Aircraft Company, e rapidamente sua marca se tornaria sinônimo de aeronaves leves de treinamento e transporte, com suas vendas sempre se baseando na casa milhares de células entregues ao mercado civil. O primeiro modelo a ser lançado foi o Piper J-2, com os modelos J-2E, J-2F, J-2G e J-2H, totalizando até 1938 a impressionante cifra de um mil e duzentas aeronaves entregues ao mercado. A próxima versão a ser produzida seria a Piper J-3 uma aeronave melhorada, que contava agora com o emprego de um motor melhor, desenvolvendo 50 cv de potência, como diferencial competitivo mantinha a mesma excelente relação de custo-benefício, apresentando como preço de venda ao consumidor final de apenas US$ 1.000,00 a aeronave. A simplicidade e a robustez do projeto lhe permitiam operar em aeroportos com baixa infraestrutura de apoio com baixo custo operacional. Estas qualidades e atributos levariam a celebração muitos de contratos de exportação para o mundo todo, encontrando um farto mercado nos países em desenvolvimento. Inicialmente suas aeronaves eram exportadas em kits,  sendo montadas nos países de destino, logo em seguida o fabricante começou a negociar os direitos de licença de produção local, permitindo a inclusão de um percentual de componentes produzidos localmente.

Em fins da década de 1930 era cada vez mais claro que o mundo seria arrastado para um novo conflito de ordem mundial, com as tensões se agravando dia a dia na Europa com os desejos expansionistas da Alemanha nazista e no Pacífico Central com o Império do Japão. Este provável cenário levaria o governo norte-americano a mobilizar esforços e investimentos em um vasto programa de rearmamento, passando envolver uma série de indústrias estratégicas no atendimento desta demanda, entre elas a Piper Aircraft Company, que passaria a produzir componentes para diversos equipamentos e sistema de defesa. Em setembro de 1939 a invasão da Polônia pelas forças armadas alemãs, tornaria emergencial não só produzir armas e equipamentos, mas também dispor de pessoal adequado para operar e manutenir, com o cenário mais prioritário focado nas armas aéreas da marinha e do exército. Para atender a esta demanda seria criado no país o Programa Civil de Treinamento de Pilotos (CPTP Civilian Pilot Training Program), e para equipar esta iniciativa seria decido na fase de instrução primária, empregar as aeronaves Piper J3L-65 Cub que estavam equipadas com o novo motor Lycoming O-145-B1 de 65hp. Esta iniciativa seria mantida até fins de 1944, chegando a formar um total de mais de quatrocentos mil pilotos militares. No entanto o baixo custo de aquisição e operação já haviam despertado o interesse do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) que buscava neste período uma aeronave leve destinada a missões de ligação e observação no campo de batalha, que dentre inúmeras atividades poderia ser empregada ainda em tarefas de vigilância de fronteira.
Assim uma concorrência seria lançada, e para atendimento a esta demanda, a Piper Aircraft Company apresentaria ao comando do Exército Americano (US Army) o modelo J3-O59, sendo esta aeronave era mecanicamente idêntica a versão civil, sendo distinguível sesta, apenas pela utilização de uma claraboia em plexiglas com efeito de estufa e janelas traseiras maiores, para melhor visibilidade. No processo de análise dos concorrentes, a balança penderia para o lado da Piper Aircraft Company, gerando o primeiro contrato de compra de quatro unidades do modelo Piper J3C-65, que foram designados pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) como YO-59. Em novembro de 1941 uma nova encomenda seria feita, agora abrangendo quarenta células que foram redesignados como Piper L-4-PI, estas novas aeronaves incorporavam uma série de modificações que os adaptavam as tarefas militares, como painéis transparentes na seção central da asa e equipamento de rádio. Assim que. As primeiras unidades a entrarem em serviço passaram a ostentar a designação militar O-59, com o “O” indicando a tarefa de observador, nesta missão embarcava-se junto com o piloto um observador equipado com radio a fins de se comunicar com o pessoal em solo para a correção de disparos de artilharia. Antes dos Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, os J-3 faziam parte de um programa de angariação de fundos para apoiar o Reino Unido. Anunciado como Flitfire, um Piper Cub J3 com as insígnias da Força Aérea Real (Royal Air Force) foi doado por W. T. Piper e Franklin Motors ao Fundo Benevolente da força aérea para ser sorteado. Os distribuidores da Piper Aircraft Company em todo o país foram incentivados a fazer o mesmo, resultando em mais quarenta e oito aeronaves doadas rapidamente. No entanto o modelo seria logo adotado pelo governo mexicano para o emprego em sua força aérea, representando assim o primeiro cliente de exportação da aeronave. 

A partir de abril de 1942 a aeronave seria redesignada como L-4 classificando a como aeronave de ligação, posteriormente o modelo receberia seu nome de batismo como Grasshoper. A aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) viria a ser o terceiro operador militar da aeronave, celebrando em 1942 um contrato para a aquisição de duzentas e cinquenta aeronaves distribuídas entre as variantes NE-1 e NE-2. Já em combate nos teatros de operações do Pacífico e Europa os L-4 além de serem empregados em missões de ligação e regulagem de tiro de artilharia, passaram a ser imbuídos em tarefas de transporte leve e evacuação médica. Durante a invasão aliada da França em junho de 1944, observou-se a tendência para o emprego da aeronave em missões de observação do campo de batalha, se tornado rapidamente a plataforma ideal para observação e detecção de veículos blindados alemães escondidos, pois sua baixa velocidade de cruzeiro e alta manobrabilidade o permitiam orbitar extensas áreas do campo de batalha. Para esta missão as aeronaves eram equipadas com um sistema de rádio que era operado por um segundo tripulante que também realizava a tarefa de observador. Curiosamente algumas células chegaram a ser equipadas com prateleiras para o transporte de bazucas, operando em duplas ou quartetos, abastecendo as tropas de infantaria aliadas na linha de frente para o ataque aos tanques alemães. O mais celebre destes L-4 configurados como aviões de apoio as tropas de, foi o “Rosie The Rocketeer”, pilotado pelo Major. Charles "Bazooka Charlie" Carpenter, a qual  foram creditados com a eliminação de seis tanques inimigos e vários carros blindados durante o seu serviço, especialmente durante a batalha de Arracourt no interior da França entre 18 e 29 de setembro de 1944.
Sua produção foi descontinuada somente em 1947, sendo entregues um total de 19.888 células, salientando que nos estágios emergências durante a Segunda Guerra Mundial, sua produção havia atingido a cadência de uma aeronave a cada 20 minutos. No período pós-guerra os L-4 foram extensivamente pela Força Aérea Americana (USAF) e pela Força Aérea da Coreia do Sul (Daehanminguk Gong-gun), atuando nas mesmas missões de regulagem de tiro de artilharia, remoção aero médica, reconhecimento do campo de batalha e controle aéreo avançado. Também neste período, centenas de aeronaves foram classificadas como excedentes de guerra e transferidas a nações como Tailândia e a França que empregariam versões destas aeronaves durante a Guerra da Algéria em 1953. A maioria das aeronaves no entanto seriam transferidas para o mercado civil onde se mantiveram e voo pelo menos até fins da década de 1960. Atualmente ainda é possível encontrar dezenas de aeronaves em condições de voo ao redor do mundo.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a representar no cenário global, uma posição de destaque estratégica dentro do contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos). Sendo detentor ainda, de um vasto território continental com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. Esta localização privilegiada, representava o ponto mais próximo entre o continente Americano e Africano, assim desta maneira a costa brasileira, seria fundamental como ponto de partida para o envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o pais ainda era signatárias da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, navios, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamentos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.

No início de 1944 seria definido que o esforço de guerra brasileiro compreenderia além do envio de tropas, duas unidades de aviação, sendo uma delas dedicada a ligação e observação para atuação em apoio as unidades do Exército Brasileiro. Para atender a esta demanda seria criada em 20 de julho de 1944 a 1º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação) que tinha como objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), atuando desta maneira em missões de ligação, observação e regulagem de tiro. A fim de atender a esta demanda seria criada em 20 de julho de 1944 a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) que tinha como objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Para equipar esta nova unidade foi definido o fornecimento nos termos do Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), dez células do modelo Piper L-4H-PI. Curiosamente o primeiro Grasshoper a ser recebido pela Força Aérea Brasileira, seria o segundo protótipo do YO-59 que foi designado como Piper L-4-PI, com esta aeronave sendo entregue em 1943 no Brasil para ser empregada como aeronave de instrução em solo na Escola Técnica de Aviação (ETAv). A 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) seria formada inicialmente com onze pilotos, sendo todos oficiais oriundos da reserva da Força Aérea Brasileira, os treinamentos para as missões de observação foram realizados em conjunto com oficiais do Exército Brasileiro no estande de tiro de Gericinó no Rio de Janeiro, onde foram praticados exercícios de observação durante a realização de tiros de artilharia. Vale citar como fato curioso que as aeronaves empregadas nesta fase eram os Fairchild PT-19 que não dispunham de cabine fechada nem de rádio, sendo este último equipamento vital para a realização das missões reais no teatro europeu.
Todo o contingente da 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), formado por trinta e cinco homens, embarcou para a Itália no dia 22 de setembro e 1944, foram transportados juntamente em navios de transporte de tropas militares da Marinha Americana (US Navy), juntamente com o 2º e 3º Escalões da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A chegada na Itália no porto de Nápoles se daria em 06 de outubro do mesmo ano, empreendendo uma viagem terrestre até Livorno. As dez células brasileiras do modelo Piper L-4H Grasshoper foram recebidas desmontadas no campo aéreo San Rossere, perto da cidade de Pisa, e seriam logo montadas pelos mecânicos do esquadrão brasileiro, recebendo as matrículas de FAB 01 a 10, mantendo inicialmente as insígnias da Força Aérea Americana (USAF), posteriormente receberam os cocares da Força Aérea Brasileira (FAB) nas laterais mantendo as marcações americanas nas asas para facilitar a identificação das tropas aliadas. Deslocada para perto da frente de batalha, a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) realizaria a primeira missão real de guerra, decolando da pista de San Giorgio, perto de Pistóia em 13 de novembro de 1944. A partir daí a unidade começou a executar missões diárias em apoio as unidades de artilharia de campanha do Exército Brasileiro, realizando suas missões antes de depois dos ataques (para assim corrigir o direcionamento e posterior conferir a efetividade dos ataques). Apesar das terríveis condições climáticas adversas motivadas por um dos mais rigorosos invernos do século XX, que congelavam os motores em voo e acumulavam gelo nas pistas, não houve registros de acidentes operacionais, atestando o alto grau de profissionalismo dos militares brasileiros do esquadrão.

Durante a campanha na Itália, os Piper L-4H da Força Aérea Brasileira (FAB) operariam desde Livorno, Pisa, Pistóia, Suviana e Porreta Teme, totalizando 684 missões reais realizadas pelos onze pilotos em companhia, de onze oficiais observadores do Exército Brasileiro e esporadicamente em conjunto com quatro  oficiais ingleses do Exército Real (Royal Army). Apesar da alta concentração de fogo antiaéreo alemão nestas regiões, felizmente nenhuma aeronave seria abatida durante o conflito.  Após o termino das hostilidades no teatro europeu, estasaeronaves foram mantidas  em  frenética operação, realizando em proveito das unidades da Força Expedicionária Brasileira (FEB), missões de transporte, ligação e correio aéreo, operando inicialmente a partir de 04 maio em Piacenza, na semana seguinte operando a partir de   Portalberta  (próximo a Milão), finalmente a partir de 12 de junho em Bergamo. Dois dias depois, a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) seria extinta pelo boletim da Artilharia Divisionária do Exército Brasileiro. Como resultado desta medida seu pessoal se reuniu junto aos efetivos do 1º Grupo de Aviação de Caça – Esquadrão Senta a Puá a fim retornarem ao Brasil no navio de transporte USS General M.C. Meigs (AP-116) que deixou o porto de Nápoles no dia 6 de junho em direção ao Brasil. Aparentemente, os dez Piper L-4H Grasshoper seriam desmontados, encaixotados e  transportados posteriormente por um outro navio da Marinha Americana (US Navy), ao chegarem em seu destino final o porto do Rio de Janeiro, seriam recolhidos ao Depósito Central de Armamentos do Exército Brasileiro, onde ali permaneceriam estocados.
Por sua vez o Piper L-4-PI, que já se encontrava no Brasil foi transferido para a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer), quando da extinção do Escola Técnica e Aviação (ETAv). Apesar de ser destinado a instrução em solo, existem evidências de que aquela aeronave foi mantida constantemente em condições de voo. Quantos aos aviões “italianos” os mesmos foram posteriormente “descobertos” estocados nas instalações do Depósito Central de Armamentos do Exército Brasileiro, sendo remontados entre os anos de 1954 e 1955, recebendo os cocares e matriculas da arma terrestre, operando de forma efêmera e sendo logo transferidos a Força Aérea Brasileira. A reativação da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) em 12 de dezembro de 1955, determinaria a distribuição dos três primeiros Piper L-4H Grasshoper para esta unidade. Nos dois anos seguintes mais células foram entregues, sendo a dotação da unidade complementada em abril de 1957 pelo pipler L-4 que pertencia a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer). No entanto a aquisição de aeronaves mais modernas determinaria a obsolescência dos Piper L-4H Grasshoper nas tarefas e ligação e observação, assim desta maneira em 1958, as células remanescentes foram recolhidas ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) e excluídas da carga do Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1959, com pelo menos nove aeronaves entregue ao Departamento de Aviação Civil (DAC).

Em Escala.
Para representarmos o Piper L-4H "FAB 09", fizemos uso kit do fabricante Hobbycraft (o modelo mais próximo seria o Smer) na escala 1/48, sendo necessário alterar a disposição das janelas laterais traseiras e também o teto, processo este facilmente executável pois as duas metades da fuselagem são injetadas em plástico transparente, bastando conformar as mesmas com fita adesiva. Os decais foram obtidos do set, presente no livro " Força Aérea Brasileira, na Segunda Guerra Mundial " de Luciano B. Monteiro & Sandro Dinarte, Editora Adler.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado e todas as aeronaves Piper L-4H Grasshoper em serviço na Força Aérea American (USAF) a durante a Segunda Guerra Mundial, durante este período as aeronaves operaram com marcações brasileiras e americanas, no pós-guerra este padrão foi acrescido das cores nacionais na cauda tanto na Força Aérea Brasileira quanto no Exército Brasileiro sendo este mantido até o final de sua carreira operacional no final da década de 1950.


Bibliografia :

- Piper J-3 Cub   Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Piper_J-3_Cub
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Os Olhos dos Pracinhas, por Ricardo Bonalume Neto - Revista Força Aérea nº 03
- Olho Nele - 2º Ten QOCon His Daniel Evangelista Gonçalves
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015  por Jackson Flores Junior