Leopard 1A5 Krauss Maffei no Brasil

História e Desenvolvimento.
A origem da família carros de combate Leopard remonta ao período pós-guerra, onde a Alemanha então dividida a entre as forças do Pacto de Varsóvia (Oriental) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte OTAN (Ocidental), representava a linha de frente no conflito da Guerra Fria entre as superpotências, criando nesta região um clima de extrema tensão. No início deste período a Alemanha Ocidental permaneceu completamente desmilitarizada, sendo proibida pela regulamentação aliada após sua rendição incondicional em 1945 de constituir instituições militares, mesmo para autodefesa.  Em um segundo este conceito seria revisionado, dado a necessidade de se reforçar as defesas da região, para assim fazer frente a constante ameaça soviética. Assim em 12 de novembro de 1955 seria promulgada a constituição de uma nova estrutura das forças armadas da República Federal da Alemanha, sendo compostas pelo Deutsches Heer (Exército Alemão), Deutsche Marine (Marinha Alemã) e a Deutsche Luftwaffe (Força Aérea Alemã). Em termos e recursos as novas forças armadas seriam imediatamente equipadas com sistemas de armas de origem norte americana, no segmento de blindados, os carros de combate médios fornecidos eram os modelos americanos M-47 e M-48 Paton, veículos que já se mostravam inadequados as ameaças apresentadas pelas forças blindadas do Pacto de Varsóvia. Para atender a esta demanda foi previsto e desenvolvido amplo projeto reconstrução da força militar blindada da Alemanha Ocidental em fins na década de 1960, este processo previa a construção com projetos nacionais, ou ainda a aquisição de uma variada gama de veículos blindados, desde carros de combate, transporte e versões especializadas.

As especificações de projeto para o desenvolvimento de um novo MBT (Main Battle Tank), foram definidas no ano de 1956, estando baseadas na necessidade de superar seus oponentes soviéticos, entre estes os novos carros de combate T54 e T55, em serviço nos exércitos do Pacto de Varsóvia. Assim os parâmetros do projeto foram definidos, compondo um veículo com peso na ordem de mais 30 toneladas, com alta mobilidade como prioridade em detrimento ao poder de fogo, devendo ser ainda equipado com canhão de 105 mm. Vários projetos iniciais foram estudados pelo governo alemão, no ano seguinte estes esforços seriam incrementados, quando o governo francês se juntou ao projeto, pois também buscava um substituto comum, para seus antigos blindados de combate de origem norte americana. Desta união de demandas nasceria o conceito do programa “Europa Panzer”, que receberia ainda 1958, a adesão da Itália. Diversas empresas europeias e norte americanas participaram da concorrência, apresentando aos membros do comitê internacional "Europa Panzer", os primeiros protótipos em 1960. Após uma apurada análise comparativa entre todos os concorrentes, o projeto “Model 734” apresentado pela empresa automotiva alemã Dr. Ing. H.C. F. Porsche AG, foi declarado vencedor da concorrência. Esta decisão, no entanto, levaria a repercussões de ordem política e motivado por sentimentos nacionalistas o governo da França decidiu abandonar o consorcio, optando em desenvolver um veículo novo totalmente nacional que resultaria no futuro no carro de combate MBT AMX 30.
O projeto do novo carro de combate, foi batizado pelo Deutsches Heer (Exército Alemão) como Leopard I, e se tornaria o primeiro Main Battle Tank (carro principal de combate) produzido nacionalmente, do período pós-guerra. Como considerado nas especificações iniciais, este novo tanque estava equipado com uma versão alemã do consagrado canhão inglês, Royal Ordinance L7 de calibre 105 mm, dispunha ainda de completo sistema de proteção NBc (Radiação Nuclear e Química). Em termos de blindagem atendendo aos parâmetros de mobilidade, possuía uma blindagem leve, porém eficiente com capacidade de resistir a rápidos de armas de 20 mm em qualquer direção. Estas características lhe permitiam atingir uma velocidade máxima de 65 km/h no campo de batalha. Após a finalização de um programa de testes de aceitação, foi assinado entre a Dr. Ing. H.C. F. Porsche AG e o República Federal da Alemanha um contrato para aquisição inicial de 100 carros. A produção em série nas instalações fabris da Krauss Maffei em Munique, seria iniciada em setembro de 1964, com os primeiros carros passando a ser entregues as unidades Deutsches Heer (Exército Alemão) entre setembro de 1965 e junho de 1966. O emprego operacional revelaria qualidades de projeto do Leopard I, passando a despertar o interesse de outras nações pelo modelo (além da Itália), gerando assim contratos de exportações para a Bélgica, Holanda, Noruega, Itália, Dinamarca, Austrália, Canada, Turquia e Grécia.
A última versão de produção foi o Leopard 1A1A4, que passou a contar com os sistemas integrado de controle de tiro EMES 12A1 e visão noturna PERI R12, este modelo passou a ser entregue a partir de maio de 1974 tendo atingido a cifra de 250 fabricadas. O próximo estágio evolutivo seria representado pelo Leopard 1A5 que foi concebido no intuito de rivalizar novos blindados soviéticos T-64, T-72, T-72M1 e T-80. Para cumprir essa nova missão, o carro de combate Leopard 1A5 recebeu aperfeiçoamentos na capacidade de combate noturno e sob mau tempo, outro ponto aperfeiçoado foi sua capacidade de efetuar disparos contra alvos em movimento, garantindo assim maior mobilidade e flexibilidade no campo de batalha. As primeiras unidades desta versão atualizada foram entregues em 1987, com grande parte dos 4.744 veículos construídos anteriormente sendo elevados a este patamar, tornando esta versão o Leopard mais empregado em todo o mundo.

Emprego no Exército Brasileiro.
Em meados da primeira década do ano 2000 o comando do Exército Brasileiro vislumbrou a necessidade de substituir os carros de combate Leopard 1A, que foram incorporados a partir do ano de 1996, com estes veículos representando no novo século, a espinha dorsal da força de carros de blindados brasileira. Apesar de serem veículos confiáveis, sua aquisição se deu diretamente junto ao governo da Bélgica, com esta negociação não sendo acompanhada de nenhum contrato de apoio técnico ou manutenção junto ao fabricante. Este fator resultaria em graves problemas no fluxo de obtenção de peças de reposição, o que resultaria em altos indicies de indisponibilidade da frota, gerando um sinal de alerta. Pesava contra o modelo também, sua obsolescência natural de projeto, pois os carros adquiridos pelo Exército Brasileiro eram oriundos do primeiro lote de mais de trezentos carros pertencentes ao Forças Armadas Belgas (La Défense), que foram produzidos entre os anos de 1968 e 1971, que apesar de serem modernizados na década de 1980, e já não podiam fazer frente as ameaças hipotéticas desenhadas no século vinte e um. Com base nesta necessidade procedeu se a análise no mercado internacional de possíveis candidatos a substituição dos carros de combate atuais.  Desde o início a possibilidade de aquisição de carros de combate novos de fábrica seria descartada, devido a restrições orçamentarias vigentes naquela época. Neste contexto surgiria inclusive uma proposta norte-americana para o fornecimento de carros de combate MBT M-1 Abrams nos termos do Programa de Vendas Militares Estrangeiras (FMS -Foreign Military Sales), que apesar de ser extremamente interessante em termos financeiros, seria declinada, pois estes carros de combate excediam em termos de peso bruto a capacidade da infraestrutura nacional.

Mais propostas seriam analisadas, porém lista de possíveis opções seria extremamente reduzida com tantas amarras de ordem financeira ou técnica. A escolha então começaria a pender para o aspecto mais lógico, ou seja, a aquisição de um lote de carros de combate usados em bom estado de conservação da família Leopard 1, modelo no qual já detínhamos certa expertise nas tarefas de manutenção e operação do conjunto mecânico. Neste período o Exército Alemão (Deutsches Heer)dispunha de uma grande quantidade carros de combate em excelente estado de conservação Krauss-Maffei Leopard 1A5 armazenados em reserva técnica, após serem retirados do serviço ativo com a introdução dos novos Leopard II. Assim negociações seriam conduzidas entre os governos brasileiro e alemão, visando alinhar os termos para a obtenção de mais de duas centenas deste modelo, incluindo neste pacote também veículos especializados de serviço baseados na mesma plataforma. As negociações se materializaram na compra de duzentos e cinquenta carros de combate  Leopard 1A5, sete Viaturas Blindadas Especializadas Socorro (VBE Soc), quatro Viaturas Blindadas Especializadas Lança-Pontes (VBE L Pnt), quatro Viaturas Blindadas de Combate de Engenharia (VBC Eng) e quatro Viaturas Blindadas Escola de Motorista. Diferente do processo de aquisição dos Leopard 1A1 em 1996, esta negociação seria acompanhada da contratação de todo o suporte técnico e garantia de fluxo de peças de reposição com o fabricante original do modelo, a  Krauss-Maffei Wehrtecnik GmbH, possibilitando assim manter altos índices de disponibilidade e operacionalidade.
A versão do Krauss-Maffei Leopard 1A5 adquirida pelo Exército Brasileiro, é a mais moderna da família Leopard 1 produzida, empregando sistemas eletrônicos desenvolvidos para serem usados no sucessor o carro de combate Krauss-Maffei Leopard II. Estes sistemas permitem ao veículo uma sobrevida nos campos de batalha modernos, entre estes, destaca-se no o conjunto o controle de tiro fabricado pela Krupp-Atlas Elektronik EMES-18, que é baseado em um computador de tiro que possui uma mira integrada HZF (Hauptzielfernrohr) fabricado pela Carl Zeiss, este aparato em conjunto com um telêmetro a laser substituem os sistemas ópticos anteriormente usados nas versões mais antigas do veículo. Seu computador de controle de fogo pode calcular soluções de tiro contra alvos distanciados em até 4 km de distância, e como diferencial este sistema permite o carro se mover por terreno irregular com o canhão se mantendo apontado para o alvo, permitindo disparar em movimento com alta probabilidade de acerto no primeiro tiro. Como novidade nos carros de combate operados até então pelo Exército Brasileiro o Krauss-Maffei Leopard 1A5 apresentava reforços em sua proteção balística através de placas de blindagem extra montadas na torre do tanque e o habitáculo do veículo é protegido para condições de ambiente NBQ (nuclear, bacteriológico e químico).

Os primeiros dez carros chegaram ao Brasil em 2009, sendo distribuídos entre os Arsenais de Guerra do Rio de Janeiro e São Paulo, Escola de Material Bélico (EsMB), Parque Regional de Manutenção 3 e Centro de Instrução de Blindados (CIBld), no intuito de desenvolver os processos de nacionalização de componentes, treinamento de mecânicos e desenvolvimento de manuais de operação. Como citando anteriormente, o contrato de aquisição englobava serviços de revisão e manutenção preventiva e corretiva junto a empresa alemã Krauss-Maffei Wegmann GmbH&KG para aplicação junto aos 220 carros de combate operacionais (30 serão usados como fonte de peças de reposição), veículos de serviço e aos sistemas de simuladores. Este contrato garante ainda o fluxo de peças de reposição até o ano de 2027. O segundo lote composto por 70 carros chegou ao Brasil no mesmo ano do primeiro lote, sendo distribuídos na ordem de 26 carros para o 1º RCC (Regimento de Carros de Combate), 26 para o 4º RCC e 14 para 3º RCC e 4 carros para o Centro de Instrução de Blindados (CIBld). Mais dois lotes foram recebidos entre 2010 e 2012 distribuído mais carros para as unidades descritas anteriormente e também unidades que passaram a dotar o 5º RCC, substituindo os Leopard 1A1 e M-60 Patton. A adoção deste modelo elevou o patamar operacional da arma blindada do Exército Brasileiro, outro ponto positivo foi a implementação da doutrina alemã com foco total na manutenção preventiva, cultura está até então inexistente no Brasil que proporciona além da economia a extensão da vida útil dos componentes.
A inauguração da fábrica da Krauss-Maffei na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul em março de 2018 garantiu a operacionalidade por muitos anos não só da frota de Krauss-Maffei Leopards 1A15 mas também dos Krauss-Maffei Gepard 1A2, permitindo também a possível implementação de programas de modernização que visem aumentar a vida útil destes veículos no Brasil. Ocorre porém que a partir de 2027 fecha-se o ciclo de operação deste carro sendo necessário buscar soluções para sua substituição em breve. Desse modo, acredita-se que a migração da plataforma Leopard 1 para Leopard 2 apresenta-se como possivelmente mais vantajosa, sob a perspectiva de que o Brasil manteria sua doutrina de material ordenada com a linha alemã atual, permitindo o aproveitamento do conhecimento já adquirido por seus quadros, havendo apenas a necessidade de poucas adaptações. E, por fim, permitiria a continuidade de um contrato de SLI semelhante ao celebrado com a KMW para a manutenção da frota de 1 A5, aproveitando inclusive a presença da planta de Santa Maria-RS (ANNES, 2012).

Em Escala.
Para representarmos o Krauss-Maffei  Leopard 1A5 "EB 12453", empregamos o excelente kit da Italeri na escala 1/35, não sendo necessária nenhuma alteração para se compor a versão brasileira. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals & Books presentes no set "Forças Armadas Brasileiras".
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Alemão empregado em todos os veículos Leopard 1A5 recebidos, sendo este esquema mantido apenas com a retirada das marcações e matriculas originais e aplicação das identificações do Exército Brasileiro.


Bibliografia :

- Leopard 1  - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Leopard_1
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado Volume II - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Leopard-1 A5 – Brasil em Defesa - http://www.brasilemdefesa.com/2012/05/leopard-1-a5.html

M-125A1 Porta Morteiro na Marinha

História e Desenvolvimento.
A ideia de um veículo de transporte de tropas blindado, capaz de levar soldados em segurança e protegidos, a frente de combate, podendo ainda os resgatar, remonta a Primeira Guerra Mundial, onde surgiram os primeiros carros de combate blindados, que aos poucos, foram ganhando dimensões e peso cada vez maiores, chegando inclusive a poder transportar soldados em segurança, atravessando áreas de combate. Nos conflitos posteriores, seu emprego generalizou-se, e seu ápice se deu durante a Segunda Guerra Mundial, onde uma variada gama de modelos e versões, sobre rodas ou lagartas, passariam a determinar a vitória ou derrota dos grandes exércitos. Como expoentes deste segmento, podemos citar os veículos meia lagarta norte-americanos da família M-3 e os alemães Hanomag Sd.kfz. Neste momento, as táticas e estratégias de emprego deste tipo de blindado seriam aprimoradas, surgindo assim, dentre outros, os Veículos Blindados Transporte de Pessoal – VBTP. O primeiro modelo específico surgiria com o o desenvolvimento do projeto M-44 (T16), que era originalmente derivado do carro de combate M-18 Hellcat, se tratando de um veículo de grande porte com peso total de combate de 23 toneladas, porém está caraterística seria o grande entrave para sua produção em série, levando ao cancelamento do projeto em junho de 1945. Em setembro do mesmo ano uma concorrência foi aberta e foram estabelecidos parâmetros de projeto para um novo carro blindado de transporte de tropas, que deveria ser baseado no veículo de transporte de carga T-43. A empresa International Harvester (IHC) se sagraria vencedora, recebendo um contrato em 26 de setembro de 1946 para a produção quatro protótipos a fim de serem submetidos a testes de campo. O êxito relevado neste programa culminaria na celebração dos primeiros contratos para a produção, deste novo blindado, agora designado oficialmente como M-75. Os primeiros blindados começaram a entrar em serviço no Exército Americano (US Army) em abril de 1952, porém apesar de serem mais leves que os M-44, ainda apresentavam um peso total de combate de 18 toneladas, o que o impossibilitava de acompanhar no campo de batalha a velocidade de deslocamento dos demais carros de combate.

Este cenário causou preocupação no Comando do Exército Americano (US Army), que em fins de 1952, lançou uma nova concorrência para o desenvolvimento de um novo veículo blindado de transporte de tropas sob esteiras para a substituição dos derradeiros carros meia lagarta da família M-2, M-3, M-5 e complementação da frota dos  recém introduzidos M-75 APC, que além de não acompanharem no campo de batalha os demais veículos blindados, apresentavam apresentava limitações quando do emprego anfíbio, não podendo também ser aerotransportado. Diversas empresas apresentaram suas propostas entre elas a International Harvester Corporation (IHC) e Food Machinery and Chemical Corporation (FMC), estudos iniciais derivaram pela escolha do projeto do segundo concorrente, designado oficialmente como T59. Um contrato inicial seria celebrado, prevendo a produção de seis protótipos, para emprego em um programa de testes de campo, com esta fase sendo vencida com êxito em maio de 1953. O novo modelo agora designado como FMC M-59 receberia um contrato de produção englobando 6.300 unidades, que deveriam ser entregues até fins de 1960. Uma das primícias deste projeto, estava baseado no baixo custo de produção, passando a empregar em sua construção muitos componentes comuns ao carro de combate M-41 Walker Buldog. Neste mesmo momento o comando militar americano passava a elaborar planos para a futura substituição dos M-75 que apesar de sua robustez e confiabilidade se mostrava inadequado a missão. Esta demanda buscava o desenvolvimento de um novo veículo que deveria eliminar as deficiências do alto peso e baixa velocidade do M-75 e a insuficiente proteção blindada do novo FMC M-59.
Os requisitos desta nova concorrência visavam criar um veículo blindado que unisse a melhores características operacionais do M-75 e M-59, com no novo modelo apresentando um desempenho compatível aos carros de combate, relativa capacidade anfíbia e possibilidade se ser aerotransportado. Estes parâmetros resultariam no conceito AAM-PVF - Airborne Armored Multi-Purpose Vehicle (Veículo Multiuso Blindado Aerotransportado). Novamente a FMC Food Machinery Corp. se sagraria vitoriosa desta concorrência, apresentando como base de sua proposta a aplicação de um sistema de blindagem em duralumínio que fora desenvolvido em parceria com a empresa Kaiser Aluminium and Chemical Co., esta solução proporcionaria ao veículo uma suficiente proteção blindada aliada a uma grande mobilidade e velocidade no campo de batalha. O novo modelo equipado com este sistema receberia a designação de T-113, este receberia em um contrato de produção em fins de 1958 de três carros pré-série para avaliação, que seriam inicialmente equipados com um motor a gasolina Chrysler 75M com 8 cilindros em V com potência de 215 hp.  Estes protótipos foram entregues e submetidos a um intensivo programa de ensaios em campo entre abril e setembro de 1959, recebendo logo em seguida um contrato inicial para a aquisição de 900 unidades para o Exército Americano (US Army). Estes novos veículos agora designados como M-113AO APC, começaram a ser entregues a partir de meados do ano seguinte. Conceitualmente este veículo fora desenvolvido como um blindado leve e confiável capaz de ser transportado e lançado por aeronaves de transporte como os Lockheeds C-130 Hercules e C-141 Starlifter.  Em campo podia transportar até a linha de frente onze soldados totalmente equipados, servindo de proteção até o desembarque da tropa, devendo então recuar para a retaguarda. Como armamento de autodefesa contava com uma metralhadora M-2 Browning de calibre .50 (12,7 mm) operada manualmente pelo comandante.

O batismo de fogo do novo veículo de transporte blindado de tropas norte-americano, se daria a partir de 30 de março de 1962, quando trinta e dois destes carros foram enviados ao teatro de operações do Vietnã. Onde seriam destinados a dotar duas companhias mecanizadas pertencentes ao Exército da República do Vietnã (ARVN), com cada uma recebendo dezesseis M-113AO. Os primeiros embates reais se dariam em janeiro de 1963 durante a Batalha de Ap Bac na província de Dinh Tuong (agora Tien Giang), diversos ensinamentos seriam tirados desta experiência, levando a inclusão de significativas melhorias na blindagem e sistemas críticos. Neste mesmo momento e seu país de origem, era iniciada produção da nova versão designada como M-113A1, equipada com o novo motor a diesel Detroit 6V53T de 265hp. Em 1978 o modelo já representava um sucesso estrondoso, com sua produção já atingindo a cifra de mais 25.000 unidades, levando a Food Machinery and Chemical Corporation (FMC), a desenvolver e introduzir uma nova versão designada como M-113A2. Este novo modelo apresentaria melhorias significativas na suspensão e sistema de refrigeração, tornando assim o blindado como uma plataforma viável para emprego em cenários de combate de alto atrito. Seu projeto se mostraria ainda extremamente customizável para o emprego em versões especializadas, como carro comando, antiaéreo, porta morteiro, lança chamas, socorro, oficina e antitanque (com misseis Tow). Estas versões seriam produzidas aos milhares, elevando os níveis de padronização das frotas blindadas de diversas nações. A próxima versão de transporte de tropas a ser desenvolvida foi o M-113A3, que passou a ser produzida a partir de 1987, obtendo grande destaque durante a primeira Guerra do Golfo Persico contra o Iraque, quando passaram a desempenhar papéis importantes tanto no combate urbano quanto nas diversas funções de manutenção de paz, provando assim sua versatilidade e a combinação precisa de volume interior, perfil exterior, construção simples e fácil manutenção.
Concebido para dar mobilidade a infantaria, que podia viajar protegida em seu interior, a família de blindados de transporte de tropa M-113 APC, se converteu em um autêntico “taxi para o campo de batalha”, o mais famoso de sua categoria, possuindo características ímpares, como fácil condução, manutenção simplificada, operação econômica. Seu sucesso comercial internacional seria catapultado por programas de apoio na aquisição de material militar norte-americano com o programa Military Assistance Program – MAP (Programa de Assistência Militar) e posteriormente o programa Foreign Military Sales – FMS (Vendas Militares a Estrangeiros), facilitando o acesso a 62 países. O primeiro carro Mortar Carrier derivado do M-113 foi designado como M-106 estando armado com um morteiro M-30 de 107 mm, sua terceira variante o M-106A3 portava um morteiro de 120mm.  A partir de 1968 surgia a nova versão denominada M-125 com motorização a diesel, que a exemplo do M-106 possuía a estrutura do piso reforçado com feixes de aço soldado para poder suportar a reação do disparo da arma, prateleiras para o armazenamento de até 69 cargas explosivas e uma plataforma interna giratória para orientação do morteiro M-29 de 81mm, também levava uma plataforma menor para operação externa da arma. Sua guarnição era composta pelo motorista, comandante e quatro operadores da arma.

Emprego na Marinha do Brasil.
Os primeiros carros da família M-113A0 na versão inicial de produção com motor a gasolina, começaram a chegar no Brasil a partir de 1965, quando o Exército Brasileiro fazendo uso dos termos do Programa de Assistência Militar MAP (Military Assistance Program), procedeu a aquisição de mais de cinco centenas veículos blindados deste modelo. Neste momento a Marinha do Brasil começa a exercitar sua capacidade de combate anfíbio, fazendo uso dos efetivos da Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE), e logo se vislumbrava, a necessidade de ser dispor de um veículo anfíbio com o objetivo de apoiar as operações de desembarque nas praias. Esta demanda receberia uma solução paliativa a partir de meados de 1970, com o recebimento de trinta e quatro caminhões anfíbios GMC DUWK, a estes se seguiriam em 1976 a aquisição dos novos veículos blindados especializados no transporte de tropas Engesa EE-11 Urutu. No entanto em uso real, o blindado brasileiro, logo se inadequado para operações de desembarque nas praias, pois neste tipo de terreno veículos com tração por rodas enfrentavam serias dificuldades de deslocamento, levando o comando da Marinha do Brasil, a considerar a aquisição de uma família de veículo blindado com tração sob esteiras. As aspirações iniciais apontavam para a adoção dos novos veículos de assalto anfíbio FMC AAV-7A1, porém estes apresentavam um custo unitário proibitivo, com a decisão recaindo por um lote de carros do modelo FMC M-113A1, que apesar de não atenderem a todas as especificações almejadas poderiam ser adquiridas em condições favoráveis econômicas. Então negociações seriam conduzidas junto ao governo norte-americano, que se materializariam na celebração de um contrato, para a aquisição de um lote de trinta carros da família M-113, que foram divididos em quatro modelos, sendo vinte e quatro na versão M-113A1 Transporte de Tropas, dois M-125A1 carro porta morteiro, um M-113A1G oficina e um carro socorro XM-806E1.

Os primeiros veículos começaram a ser recebidos em 07 de novembro de 1976, passando a ser incorporadas ao Batalhão de Transporte Motorizado (BtlTrnpMtz), neste momento um grande programa de treinamento operacional seria ministrado por equipes do fabricante em parceria com oficiais do Exército Brasileiro, atuantes em unidades que já operavam este modelo. Neste momento os novos veículos blindados de transporte de tropa passariam a operar juntamente com os Engesa EE-11 Urutu. Logo estes veículos ganhariam o status de operacionalidade plena, e em 20 de dezembro de 1977, visando adequar a nomenclatura a missão principal da unidade, o Batalhão de Transporte Motorizado (BtlTrnpMtz), seria extinto, sendo criado assim em seu lugar, a Companhia de Viaturas Blindadas (CiaVtrBld). Desde o início das operações anfíbias da Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE), o M-125A1, seria o primeiro carro porta morteiro a ser incorporado a força, e apesar de só se disporem de dois os carros os mesmos foram fundamentais na doutrina de operações ofensivas de saturação de área, para apoio e defesa nas operações de desembarque anfíbio, operando a partir de navios de desembarque de carros de combate Marinha do Brasil. O primeiro exercício de grande monta com este tipo de plataforma de artilharia aconteceria em abril 1981, quando os dois M-125A1 foram desembarcados no litoral do Espírito Santo a partir do navio de desembarque de carros de combate G26 - Duque de Caxias (classe De Soto County). Em 1986 a unidade passou a ser designada como Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf) permanecendo assim até o ano de 2003, quando da ativação do Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais (BtlBldFuzNav), concentrando neste batalhão todos os veículos da família M-113 em operação no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).
Próximos de completar quarenta anos de serviço, junto ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), toda o acervo de veículos blindados M-113A1, M-125A1 Porta Morteiro, M-577A1 Carro Comando, M-113A1G Carro Oficina e XM-806E1 Carro Socorro, apresentavam uma disponibilidade operacional média de apenas 66 %. Este cenario era proporcionado por graves problemas mecânicos e elétricos originados em função de uma combinação de fatores críticos, como desgaste operacional, conservação, manutenção inadequada e falta de regularidade na aquisição de suprimentos e peças de reposiçao, que já não eram mais facilmente encontradas no mercado internacional. Visando resolver este problema, em 2007, o Comando da Marinha do Brasil iniciaria estudos visando a substituição de toda a sua frota de Viaturas Blindadas Especial Sobre Lagartas FMC M-113A1, chegando a considerar a aquisição de terceiro lote de veículos de assalto anfíbio United Defense AAV-7A1. Porém neste período, o orçamento da Marinha do Brasil enfrentava um processo de contingenciamento, o que eliminaria este anseio. Desta maneira, uma nova frente de debate seria estabelecida, buscando soluções ou alternativas para a implementação de um abrangente processo de modernização, que poderia depois de concluindo recuperar a capacidade operacional da frota, estendendo ainda sua vida útil pôr no mínimo vinte anos. Uma equipe técnica passaria então a analisar diversos programas semelhantes já aplicados ao longo dos anos a veículos desta família, as percepções obtidas, norteariam o estabelecimento dos critérios e objetivos a serem alcançados, gerando assim os parâmetros a serem aplicados em uma futura concorrência internacional.

Após o lançamento da concorrência, a Marinha do Brasil, passaria a receber um grande número de propostas enviadas por empresas especializadas neste segmento. Um criterioso estudo comparativo seria realizado, com a decisão pendendo para a proposta apresentada pela empresa israelense Israel Military Industries, (IMI). Assim desta maneira, em 28 de novembro de 2008, seria assinado via Comissão Naval Brasileira em Londres (CNBE), um contrato no valor de US$ 15,8 milhões, prevendo a à modernização de vinte e quatro viaturas de transporte de pessoal M-113A1, duas viaturas posto de comando M-557A2, duas viaturas porta-morteiros M-125A1, uma viatura de reparos M-113A1G e um veículo de recuperação XM-806E1. Além de apresentar a melhor relação custo-benefício, este pacote oferecia como principal diferencial a execução de todos os trabalhos junto as instalações do Centro de Reparos e Suprimentos Especiais do Corpo de Fuzileiros Navais (CTeCFN), operando sobre a tutela do Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais (CTecCFN) com assistência da Israel Military Industries, (IMI). O programa envolveria a substituição do motor original, pelo novo Caterpillar C7 (Versão Militar) om injeção eletrônica de 300 hp de potência, transmissão automática de sete velocidades 3200SP Allison, suspensão reforçada, nova unidade diferencial regenerativa, sistema hidráulico de freios, nova caixa de transferência, tanques de combustível externos de 360 litros cada e estação de armas Platt MR.555 Mod 2.  Já na área elétrica e eletrônica, as viaturas receberiam novos rádios de comunicação, alternador de 200 AMP, ar-condicionado fornecido pela Marvin Land Systems e sistema de extinção de fogo. Um grande diferencial deste projeto seria a presença de um grande número de componentes mecânicos e elétricos, encontrados facilmente no mercado nacional, minimizando assim os custos e assegurando ampla disponibilidade de sobressalentes por um longo período.
Todos os carros modernizados passariam a dispor da possibilidade de emprego de um kit de navegação, o qual poderia ser acoplado ao veículo para transposição de cursos d`água. Por fim a substituição das lagartas originais tipo T-130E1, pelo modelo Diehl Systen Track 513 Agressive, mais eficientes. O pacote de modernização, previa ainda a preparação para a adoção posterior de acessórios mais complexos como,  imageadores termais e telas digitais, kits de proteção balística externa e interna e conjunto de lançadores de granadas fumigenas de 76 mm. Os veículos porta morteiros, foram os primeiros a serem submetidos a este processo, passando a ser designados como M-125MB1 (MB – Marinha do Brasil e 1 – primeiro modernizado). Os últimos carros seriam entregues no início de 2016, encerrando um excelente projeto, que não só trouxe um novo patamar de operacionalidade, mas também proporcionou a equipe técnica da Marinha do Brasil um grande ganho de conhecimento e experiência, principalmente nos assuntos relacionados à soldagem, manutenção, mecânica e integração de sistemas. 

Em Escala.
Para representarmos o M-125A1 "CFN 3110551" utilizamos o antigo kit Academy (versão original M-106A1), na escala 1/35. Para compormos a versão empregada pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), faz se necessário proceder a troca do morteiro, pois o kit contempla uma peça de 107 mm, a solução encontrada foi a de utilização de um morteiro de 81 mm presente no kit LAV-M da Trumpeter na mesma escala. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals e Books presentes no set " Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado tático empregada em toda a frota de blindados do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), sofrendo mais duas alterações de esquema de camuflagem ao longo da década de 1990 e 2000. Um novo padrão passa a ser empregado nos veículos modernizados a partir de 2009.


Bibliografia : 

- Variants of the M113 armored personnel carrier-  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Variants_of_the_M113_armored_personnel_carrier
- M-113 APC - http://en.wikipedia.org/wiki/M113_armored_personnel_carrier
- Fuzileiros Blindados - Operacional - http://www.operacional.pt/fuzileiros-blindados-i/
- M-113 no Brasil – Expedito Carlos Stephani Bastos

Engesa EE-9 Cascavel M2, M6 e M7

História e Desenvolvimento.
O desenvolvimento da família brasileira de carros de blindados sob rodas, é particularmente ligado a gênese da indústria de defesa nacional, tendo como ponto de partida a necessidade de revitalização de veículos de reconhecimento Ford M-8 Greyhound do Exército Brasileiro, recebidos nos termos do Leand & Lease Act (Leis de Empréstimos e Arrendamentos) durante a Segunda Guerra Mundial. Sob a tutela da competente equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo (PqRMM/2), seria implementada na década de 1960 um programa de  remotorização destes carros, substituindo o conjunto original a gasolina por um nacional produzido pela   Mercedes Benz, o motor OM321, movido a diesel com 120 hp de potência. Este programa atingiria pleno êxito, sendo aplicado não só em grande parte da frota de blindados Ford M-8 Greyhound, mas também gerando programas derivados a implementação em outros tipos de veículos militares de origem norte-americana em serviço no Exército Brasileiro, como os carros blindados meia lagarta M-2 - M-3 e M-5 Half Track, veículo sobre rodas M-3 Scout Car e por fim, caminhões com tração total 6X6, como os GMC CCKW e Studebaker US6G. Consequentemente a imersão de toda a equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar (PqRMM/2) no projeto de revitalização dos blindados Ford M-8 Greyhound, forneceria os subsídios primários para se aventar a possibilidade de se desenvolver o conceito de uma viatura blindada sobre rodas com tração 4X4. Esta iniciativa se dava principalmente pela necessidade inevitável a médio de prazo, de se substituir os veículos revitalizados. Esforços nesta direção resultariam na criação do projeto designado como VBB-1 4X4 (Viatura Blindada Brasileira 1 com tração integra), que consequente seria suplantado pelo desenvolvimento do programa VBB-2 6x6 (Viatura Blindada Brasileira 2 com tração integral). A partir de 1970, este projeto evoluiria sobre para o conceito de Carro de Reconhecimento sobre Rodas (CRR), que apresentaria logo em seguida os primeiros exemplares de produção pré-série, que seriam submetidos a um extensivo programa de testes de campo.  

Após a conclusão do programa de testes em campo, seriam determinadas melhorias a serem implementadas na versão de produção final, sendo assim celebrado entre o Ministério do Exército e a empresa paulista Engesa S/A, um contrato para a aquisição 110 carros (incluindo os oito veículos pré-série), que receberam a designação de Carro de Reconhecimento Médio (CRM) EE-9 M1 e M2 Cascavel. Em 1974, estes blindados sobre rodas, começaram a ser entregues aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec), onde passaram a atuar em conjunto com os derradeiros Ford M-8 Greyhound ainda em serviço, até substitui-los por completo em 1987. A excelente aceitação do blindado no Exército Brasileiro, motivou a diretoria da Engesa S/A  a estudar a possibilidade de exportação do Cascavel. Uma relação de potenciais clientes foi elaborada, com a primeira proposta sendo apresentada para o Governo Português, que nesta época estava envolvido na "Guerra do Ultramar", travada nas regiões de Angola, Moçambique e Guiné Bissau. O blindado foi bem recebido, mas ficou a clara a necessidade em se contar com um maior poder de fogo pois o canhão de 37 mm não era mais eficaz contra as ameaças atuais. A sugestão foi equipá-lo com a torre e o canhão (62F1 de 90 mm), da empresa francesa Sofma, porém as dimensões do carro não eram compatíveis com o novo armamento. A solução foi criar uma nova carcaça mais larga e comprida, dando origem a versão de exportação denominada como EE-9 Cascavel MKII. No início de 1974, os primeiros EE-9 MK-II foram enviados a Portugal para testes, porém mudanças naquele conflito, determinaram a suspensão do processo de aquisição, diante deste contratempo a saída, foi a prospecção de novos clientes em potencial. Neste contexto. a empresa reorientaria seus esforços para um novo plano de prospecção internacional, com o modelo portando um canhão de 90 mm baixa-pressão (o mesmo empregado no blindado francês sobre rodas Panhard AML), passando ainda por um refinamento ao receber uma nova transmissão automática. 
O principal foco deste esforço seria o mercado do Oriente Médio, com a primeira venda sendo concretizada através de contrato para o fornecimento de vinte blindados para o Catar. O sucesso operacional do Engesa EE-9 Cascavel MKII nas Forças Terrestres do Catar (Qatari Emiri), abriria as portas deste importante mercado para a empresa brasileira. Em 1977 uma segunda conquista seria celebrada, agora com uma encomenda para 200 carros para as Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos. Paralelamente o modelo participaria em duas concorrências internacionais, agora para equipar os exércitos do Iraque e Líbia, derrotando neste programa, os modelos franceses Panhard AML-90 e ERC-90 Sagaie, representando algo na ordem de mais de US$ 800 milhões de dólares em contratos. As forças armadas da Líbia em 1977, empregaram os blindados da Engesa S/A com grande êxito contra carros de combate egípcios de origem soviética (provavelmente T-54, T-55 ou T-62). Do ponto de vista operacional, a agilidade e velocidade do EE-9 Cascavel foi fundamental durante a tarefa de atingir a localidade e cercar as tropas aerotransportadas egípcias, fazendo uso de seu canhão de 90 mm para em rápidas investidas repelir os blindados inimigos e atacar as tropas em solo. Apesar deste fator positivo os blindados seriam gravemente afetados pelas intemperes do deserto apresentando a deficiente proteção do motor contra a areia do deserto. Estes blindados líbios seriam novamente submetidos a combate, durante a intervenção no Chade, onde enfrentaram os Panhard AML-90 pertencentes a Legião Estrangeira Francesa (Légion étrangère) e ao Corpo de Fuzileiros Franceses (Fusiliers Marins). Um número desconhecido destes veículos seriam doados na década de 1980 ao movimento político e militar rebelde do Saara Ocidental - Frente Polisario e ao Governo de Transição da Unidade Nacional (GUNT) do Chade.

Neste momento o comando do Exército Brasileiro acompanhava atentamente a evolução do modelo de exportação, verificando as vantagens operacionais proporcionadas pela introdução de um canhão de maior calibre. Esta observação motivaria o inicio de estudos visando a possível atualização de sua frota de 102 carros Engesa EE-9 Cascavel M2, que se encontravam em serviço. Este programa apresentava como premissa básica a adoção de um canhão de 90 mm, em substituição a já ineficiente arma de 37 mm, que comprovadamente já não apresentava eficácia frente as possíveis ameaças  que o pais poderia enfrentar naquele período. As analises se inclinariam principalmente para a relação custo beneficio, apontando para a adoção da versão nacional do canhão belga Cockerill de 90 mm (EC-90).  Pesaria nesta escolha também o desejo do Ministério do Exército, em gradualmente reduzir a dependência externa em termos de componentes vitais importados. Assim desta maneira a Engesa S/A negociariam um amplo pacote de produção sob licença do armamento belga, incluindo treinamentos e ferramental adequado para nacionalização. A exemplo do  versões de exportação, a adoção do novo canhão de 90 mm, implicaria também na substituição da torre original. Inicialmente pensou-se em adotar a mesma torre usada nos carros configurados para o contrato líbio, opção rapidamente  descartada em detrimento da adoção de uma torre de fabricação nacional.
Desta maneira no final do ano de 1977, seria celebrado um contrato entre o Ministério do Exército e a empresa paulista Engesa S/A, visando a modernização de uma grande parte da frota remanescente destes carros blindados de reconhecimento. Assim no inicio do ano seguinte, oito carros da versão inicial Engesa EE-9 Cascavel M2 pertencentes a dois Regimentos de Cavalaria Mecanizada (ReCMec), foram encaminhados as instalações da empresa na cidade de São José dos Campos no interior de São Paulo, a fim de servirem de protótipos funcionais para o programa de modernização. Além da alteração da arma principal o modelo receberia a nova torre nacional, nascendo assim a nova versão designada como Engesa EE-9 Cascavel M2 Série 3, sendo contemplados neste processo 55 carros da frota original. 

Emprego no Exército Brasileiro
O recebimento dos primeiros carros modernizados EE-9 Cascavel Modelo2 Série 3 (de um total de cinquenta e cinco veículos contratados anteriormente) no inicio de 1977, clarificaram ao Comando do Exército Brasileiro a superioridade operacional do canhão belga Cockerill de 90 mm (produzido sob licença no pais) que permitia uma  cadencia de seis tiros por minuto, com um alcance de 1600 a 3500 metros, parâmetros operacionais estes, muito superiores as armas de 37 mm adotadas anteriormente. Esta melhoria, pode ampliar o leque de missões do blindado, passando também a realizar missões de enfrentamento de outros tipos de carros blindados, atividade que seria impossível nas primeiras versões produzidas. O conceito deste veiculo foi originalmente baseado com  foco na velocidade e mobilidade, que  aliadas ao eficiente sistema de suspensão do tipo boomerang, permitia o Cascavel realizar manobras rápidas em qualquer tipo de terreno, mantendo as rodas traseiras sempre em contato com o solo, podendo assim  atingir velocidades elevadas, cobrindo grandes distancias em pouco tempo, podendo sobrepujar no campo de batalha os veículos mais lentos sob esteira. Sua robustez era proporcionada pela simplicidade do projeto que fazia usar de uma grande gama de  componentes básicos existentes na indústria automotiva nacional, o que permitia o barateamento de seu custo operacional além de simplificar a cadeia logística de peças de reposiçao básicas e criticas.. Podia ainda  facilmente customizado de acordo com as necessidades de cada cliente, sempre compatível com sistemas de eletrônico de controle de tiro, telêmetro a laser, manga de supressão de fumaça, entre outras sofisticações presentes naquele período, o que o tornariam um sucesso de vendas internacional, com sua produção totalizando 1.738 unidades exportadas para doze países.

O novo canhão de EC-90 de 90 mm, permitia  fazer uso de uma série de munições especiais, entre elas o do tipo HE-T contra pessoal ou alvos leves, HEAT-T para exercício, Smoke WP-T Fumígena - incendiária e HESH-T contra blindagens leves e edificações. Isto foi visto com uma oportunidade pelo comando do Exército Brasileiro, que não mediu esforços para nacionalizar a produção destas opções, com uma variada gama de munições sendo produzidas pela empresa brasileira Engequimica Ltda (uma subsidiária da Engesa S/A,  antiga FEEA – Fábrica de Estojos e Espoletas) localizada na cidade Juiz de Fora, no interior do estado de Minas Gerais. Este novo portfólio de munições especiais receberia não só contratos do governo brasileiro, mas também de exportação para vários países. Ainda neste contexto conduziam-se estudos para implementação de modificação no freio da boca do canhão EC-90 de 90 mm, permitindo o emprego de munição perfurante do modelo APFSDS 90 (Flecha) e do tipo Canister, o que aumentaria ainda mais a letalidade do Engesa EE-9 Cascavel no campo de batalha. Esta iniciativa se baseava em uma demanda do governo Iraquiano, porém  infelizmente não passou do estágio de protótipo, não sendo adquirido também pelo Exército Brasileiro.  Esta versatilidade de emprego operacional renovaria o interesse do Exército Brasileiro no veículo, levando assim a formalização um novo contrato de compra em 1977, englobando agora, 46 carros Modelo 2 Série 5. A nova versão empregava o mesmo conjunto mecânico dos veículos adquiridos anteriormente, infelizmente o motor configurado para os veículos de exportação o Detroit Diesel 6V53N de 212 hp muito mais potente não foi adotado. Em termos visuais quando comparado com os carros modernizados, o novo Cascavel se diferenciava por possuir todo o grupo ótico frontal embutido na carroceria. Um novo lote com nove carros agora da versão Modelo 2 Série 7 seria adquirida em 1980 com os veículos sendo entregues no ano seguinte.
Em 1977,  Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN) adquiriu seis unidades do Engesa Cascavel EE-9 M2 Série 5, destinados a equipar a recém criada Companhia de Carros de Combate (CiaCC). Entregues no ano seguinte, tiveram seu emprego operacional iniciado de imediato, e apesar de serem poucos eficazes em missões de desembarque anfíbio (devido a sua tração por rodas), foram fundamentais na tarefa de servir como embrião da mentalidade de utilização de carro de combate para o corpo de fuzileiros. Em fins da década de 1990 os Engesa EE-9 Cascavel começaram a ser gradativamente substituídos por novos blindados sob lagartas austríacos SK105A2S Kürassier, mais indicados para este tipo de missão. Em 1982 a Engesa S/A apresentaria ao mercado a versão M6, que passava a contar com um moderno conjunto mecânico, apresentando um cambio automático Alisson AT455 no lugar do cambio mecânico Clark Equipament e um novo sistema de freio a disco.  Estas modificações melhorariam em muito a condução do veiculo, primeiro liberando uma atividade do motorista na troca de marchas e segundo aumentando a segurança quando em deslocamentos de alta velocidade. Um novo contrato foi firmado com o Exército Brasileiro, prevendo agora a aquisição de 30 carros divididos em dois lotes de produção, com o primeiro apresentando de 12 carros do Modelo M6 Série 3, porém  neste ínterim novas modificações foram implementadas, gerando as novas versões Modelos M6 Série 4 e 5, que seriam contempladas no segundo lote de encomenda com nove e dezesseis carros recebidos. A partir de 1983 a empresa lançaria os últimos modelos de série a serem produzido, o Engesa EE-9 M7 e M9,  que passavam a contar com cambio automático Allison MT-643. Destes seriam entregues para o Exército Brasileiro até fins do ano de 1988 respectivamente nove e duzentas e treze unidades, totalizando 311 carros adquiridos.

Empregados em um grande numero de unidades blindadas do Exército Brasileiro, os Engesa EE-9 Cascavel seriam destinados a realizar missões além mar, quando foram destacados a participar de contingentes brasileiros juntos a força de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), como a ONUMOZ em Moçambique (1993 a fevereiro de 1994) e UNAVEM III em Angola (1995 a julho de 1997. Nestes dois momentos os blindados brasileiro foram utilizados com sucesso, sendo  imersos em uma situação real de conflito. Aplicado como equipamento padrão de todos os  Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec), seu uso  constante ao longo de mais de 25 anos serviço, impactaria em um grande atrito operacional, resultando em baixos e preocupantes índices de disponibilidade da frota. Este cenario seria ainda agravado  falta de suporte técnico do fabricante que  havia encerrado suas atividades no ano de 1990.  A fim de se reverter este quadro, em 2001 foi iniciado um grande programa de repotenciamento e modernização, com esta tarefa sendo capitaneada pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), localizado na cidade de Osasco - SP, em parceria com empresas privadas. Este programa denominado oficialmente como Manutenção de 5º Escalão de Viaturas Blindadas sobre Rodas, previa o atendimento a quase duzentas unidades do Engesa EE-9 Cascavel, englobando também um numero similar de veículos do modelo de transporte de tropas Engesa EE-12 Urutu. Este processo envolvia completa desmontagem dos veículos, revisão estrutural, retificação e substituição de componentes, melhorias nos motores Mercedes Benz Diesel OM352 6 cilindros, e a troca de cambagens e adoção de sistemas de comunicação mais modernos e confiáveis. O principal intuito deste processo era gerar uma sobrevida aos modelos envolvidos, visando assim cobrir uma lacuna temporal até a possível introdução de uma versão armada do novo Iveco Guarani 6X6.
No entanto atrasos no programa da versão armada do Iveco Guarani 6X6, levaria o comando do Exército Brasileiro a aventar a possibilidade de implementar um novo programa de modernização em sua frota de Engesa EE-9 Cascavel. A primeira iniciativa se materializaria em 2015 através de uma parceria entre o Centro Tecnológico do Exército, do Arsenal de Guerra de São Paulo e a empresa paulista Equitron Ltda com esta proposta avançando para o estágio de um protótipo funcional designado como EE-9U MX8, apresentando em 2016. Apesar de promissor este processo não seguiria em frente, sendo cancelado logo em seguida. No segundo semestre de 2021 o interesse em implementar um amplo programa de modernização voltaria à tona, com uma concorrência oficial sendo lançada, envolvendo a contratação para até 201 unidades. Em 04 de maio de 2022 a empresa Akaer Engenharia S.A seria declarada vencedora, a proposta aprovada consiste em um amplo pacote de modernização e adoção de novas tecnologias que envolve uma nova motorização e suspensão, fundamentais para incrementar as capacidades de locomoção do veículo nos mais variados tipos de terreno. Um sistema de ar-condicionado será implantado para melhorar o ambiente operacional da tripulação composta por motorista, atirador e comandante. Em relação a consciência situacional, característica vital para as rápidas tomadas de decisões no campo de batalha, a Akaer irá substituir a atual torre mecânica do comandante por uma nova torre automatizada.  Essa melhoria irá incrementar a velocidade de resposta aos comandos e precisão de operação. Visando o aumento da efetividade operacional no emprego de armas, o programa inclui a substituição das miras ópticas, por um moderno sistema optrônico para busca e pontaria dos alvos e identificação de eventuais ameaças. Essa tecnologia permitirá a operação diurna e noturna e em condições atmosféricas degradadas. Um moderno computador de tiro será responsável pela execução de todos os cálculos balísticos, proporcionando um aumento significativo na probabilidade de acerto de alvos. O EE-9 Cascavel modernizado contará com a adição de um lançador de mísseis antitanque em sua torre principal introduzindo essa capacidade em veículos blindados de reconhecimento do Exército Brasileiro.

Em Escala:
Para representarmos o EE-9 Cascavel M2 Série 5 "EB 25291 ¨", fizemos uso de um modelo em resina de fabricação artesanal na escala 1/35. Como se trata de um modelo rústico, tivemos de aplicar diversas correções em scratch e também proceder a inclusão de detalhamentos oriundos de outros modelos. Empregamos decais fabricados pela Decals e Books presentes no Set " Forças Armadas do Brasil ".
O esquema  de cores  ( FS ) descrito abaixo representa o  padrão de pintura empregado em todos os carros de reconhecimento médios Engesa Cascavel MKIII Exército Brasileiro, desde seu recebimento até os dias atuais.


Bibliografia : 
- Blindados no Brasil - Um Longo e Arduo Aprendizado - Volume I , por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Blindados no Brasil - Um Longo e Arduo Aprendizado - Volume II, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Modernização do Cascavel Defesa Net - http://www.defesanet.com.br/guarani/noticia/25920/Modernizacao-do-Cascavel/
- Akaer vence licitação para modernização do  EE-9 Cascavel - https://www.akaer.com.br/
- EE-9 Cascavel Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/EE-9_Cascavel