Embraer EMB 810C/D - Seneca na FAB

História e Desenvolvimento. 
A origem desta vasta linhagem de aeronaves leves de ligação transporte e instrução de grande sucesso mundial, tem início em 1927 com a fundação da empresa Taylor Brothers Aircraft Manufacturing, apresentando como primeiro produto de destaque o Taylor Cub, um pequeno avião biplace de asa alta cuja produção foi iniciada em 1931 atingindo a cifra de mais quatro mil aeronaves produzidas. Em dezembro de 1937 está pujante empresa seria renomeada como Piper Aircraft Company, e rapidamente tornar-se-ia sinônimo de aeronaves leves de treinamento e transporte, com suas vendas sempre se baseando na casa milhares de células comercializadas ao mercado civil. Durante a Segunda Guerra Mundial a companhia teria destaque no esforço de guerra aliado, sendo responsável pela produção de mais cinco mil células das versões militares do Piper J-3 Cub designadas como L-4 Grasshopper, além de produzir diversos componentes para equipamentos de defesa. A simplicidade e a robustez do projeto que o permitia operar em aeroportos com baixa infraestrutura de apoio, levaria a celebração de contratos de exportação para o mundo todo, encontrando um farto mercado nos países em desenvolvimento. Inicialmente as aeronaves eram exportadas prontas sendo montadas nos países de destino, logo em seguida o fabricante começaria a negociar os direitos (licença de produção), permitindo nestes acordos a inclusão de um percentual de componentes produzidos localmente. Esta sistemática iria ampliar o mercado desta notável família de aeronaves, que além do baixo custo de aquisição e operação, apresentavam um grande robustez e simplicidade. A combinação destes fatores permitiria que a aeronave atingisse os países mais distantes e isolados no mundo, entre eles o Brasil. No período pós guerra a empresa retomaria seu foco no segmento civil seguindo novamente a linha de sucesso em vendas, inclusive comercializando os direitos de produção para empresas aeronáuticas espalhadas ao redor do mundo. O eclodir da Guerra da Coreia em 1950 estimularia o crescimento da empresa com o recebimento de novas encomendas de aeronaves militares, esta movimentação ajudaria seu fundador Willian Piper a recuperar o controle da companhia. Neste mesmo ano e foi tomada a decisão de desenvolver uma aeronave bimotor. 

A empresa estudaria inicialmente a produção do modelo Baumann, mas depois decidiu desenvolver um projeto de propriedade intelectual da  Stinson Aircraft Corp, que se tornaria o Piper Apache PA-23, neste mesmo período a empresa começaria também a participar do mercado de pulverização aérea, com a produção da primeira aeronave agrícola o PA-25 Pawnee, sendo iniciada em 1959. Em 1960, a linha de aeronaves Piper Aircraft Company consistia em uma versão agrícola e para dois passageiros do Super Cub , duas versões do PA-24 Comanche,  e PA-25 Pawnee, entre outros modelos de menor expressão em vendas. A gênese do projeto Piper Seneca, tem sua origem no ano 1965, com o lançamento de uma ágil monomotor com trem de pouso fixo denominado como PA-32 Cherokee Six, que tinha por objetivo anteder a grande demanda no mercado de aeronaves executivas de baixo custo. O grande sucesso comercial levaria a empresa estudar uma versão bimotora com base na plataforma do modelo PA-32 Cherokee Six. O primeiro protótipo alçaria voo em fins de 1965, e esta nova aeronave diferiria do seu antecessor por contar com dois motores montados nas asas, porém mantinha ainda o motor original apresentado uma configuração trimotora, mantendo esta configuração nos estágios iniciais do programa de teste de voo. Com a decisão de se abandonar o projeto de três motores, o projeto PA-34 seguiria sendo desenvolvido como um projeto de um bimotor. O protótipo PA-34-180 Twin Six, registrado como N3401K voaria pela primeira vez em 25 de abril de 1967 estando equipado com dois motores Lycoming O-360 de 180 hp, trem de pouso fixo e uma cauda vertical do modelo Cherokee Six.  O segundo protótipo alçaria voo em 30 de agosto de 1968 e já apresentava trem de pouso retrátil e uma cauda vertical mais alta, por fim o terceiro protótipo exibido a configuração mais próxima do padrão de produção e voou em 20 de outubro de 1969; sendo equipado com motores Lycoming IO-360-A1A de 200 hp.
A primeira versão de produção do Piper PA-34-200 Seneca, receberia sua certificação para operação pela Administração Federal de Aviação  (FAA - Federal Aviation Adminstration) em 7 de maio de 1971, sendo liberado para comercialização no mercado norte-americano. A partir deste momento seriam elaborados os programas estratégicos de marketing e venda, com o modelo sendo lançado no final do mesmo ano já como modelo 1972. Esta aeronave designada agora pelo fabricante como Piper Seneca I, e estava equipada dois confiáveis motores convencionais Lycoming IO-360-C1E6, interessante citar que o motor do lado direito apresentava a designação IO-360-C1E6L, sendo indicativo que o virabrequim girava na direção oposta, fornecendo assim aos motores o efeito de contra rotação. Este sistema contra rotativo eliminava as limitações críticas de motor encontradas em outros bimotores leves e tornava a aeronave mais controlável no caso de um desligamento ou falha de qualquer um dos motores. Estas características aliadas a excelente relação de custo-benefício tornariam o Piper PA-34-200 Seneca I um grande sucesso no mercado civil norte-americano com mais de novecentas aeronaves sendo comercializadas até fins de 1973.  Apesar do evidente êxito comercial, operadores importantes relatariam problemas na qualidade de manejo da aeronave, levando a equipe de engenharia do fabricante a rever alguns pontos do projeto original. Deste estudo nasceria o Piper PA-34-200T Seneca II, com a nova aeronave incorporando uma série de mudanças nas superfícies de controle da aeronave, incluindo ailerons aumentados e balanceados, a adição de uma guia anti-servo do leme e um peso bobinado do estabilizador. O "T" na designação do novo modelo refletiu uma mudança nos motores TSIO-360E ou EB de seis cilindros turbo alimentados para desempenho aprimorado, particularmente em altitudes mais altas.

O Piper Seneca II manteria o arranjo de motor contra rotativo da primeira versão da aeronave, como novidade trazia também a opção de configuração interna "club seating", em que os dois bancos da primeira fila estariam virados para trás e os dois bancos traseiros voltados para a frente, permitindo mais espaço para as pernas na cabine de passageiros. Também como opcional esta versão poderia ser equipada com um kit STOL (Short Take-off and Landing) para operações de decolagem e pousos em curtas distância. A aeronave receberia  a certificação da Administração Federal de Aviação  (FAA - Federal Aviation Adminstration) em 18 de julho de 1974, passando a ser comercializada imediatamente. Estas novas melhorias não só atendiam aos anseios de diversos operadores, bem como expandiram o mercado do modelo, fato este comprovado pela produção de mais de duas mil e quinhentas aeronaves entre os anos de 1975 e 1981. Em agosto de 1981, o novo Piper  PA-34-220T Seneca III seria introduzido no mercado civil, recebendo sua certificação em 17 de dezembro do mesmo ano. A mudança na designação do modelo refletia uma atualização do grupo motriz, passando esta aeronave e utilizar dos novos motores TSIO-360-KB da Continental que produziam 220 cv potência (embora apenas fossem classificados como tal por cinco minutos iniciais de operação e depois caindo para 200 cv). O aumento da potência com estes motores operando acima de 2.575 rpm, em conjunto com as novas hélices tripá, melhorariam consideravelmente seu nível de ascensão e desempenho em velocidades de cruzeiro. A nova aeronave também incorporaria um para-brisa moldado em uma peça única e um painel de instrumentos em metal natural ao invés em um coberto com uma fáscia de plástico removível, e um novo sistema de ar-condicionado e degelo. Ao todo até fins de 1993 seriam produzidas mais de novecentos e trinta aeronaves.
Em 1994, a Piper Aircraft Co. introduziria no mercado norte-americano o Piper Seneca IV, tendo alcançado a sua certificação em 17 de novembro de 1993. Este modelo era similar ao Piper Seneca III, oferecendo pequenas melhorias, como um capô de motor com design simplificado para apresentar maior desempenho de cruzeiro.  Em, uma nova versão seria lançada no mercado norte-americano,  sendo denominada como PA-34-220T Seneca V, com este modelo sendo mantido em produção atualmente. Ao todos estima-se que já tenham sido entregues mais de cinco mil células de todas as versões, considerando também as aeronaves produzidas sob licença no Brasil pela Embraer S/A e na Polônia pela empresa PZL-Mielec. Além de centenas de operadores civis, as forças aéreas do Equador, Honduras, Panamá, Servia e Brasil também fizeram e fazem uso do modelo em missões de transporte leve e ligação.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em 1974 a Embraer S/A (Empresa Brasileira de Aeronáutica) completava quatro de anos de operação e já era considerada uma empresa consolidada. Com cerca três mil funcionários, apresentava em suas linhas de produção três aeronaves de sucesso no mercado: o EMB-110 (C-95) Bandeirante, o EMB-326GB AT-26 Xavante, e o EMB-200 Ipanema. As três famílias de aeronaves cobriam com consistência os mercados civil, militar e agrícola, e apesar de no momento contar com uma satisfatória taxa de ocupação de suas linhas de produção a fim de atender as demandas comerciais e governamentais, havia ainda muitas oportunidades em outros nichos de mercado a serem explorados. Neste período a aviação civil seja comercial ou executiva experimentava um processo de crescimento e expansão, ocorre, no entanto, que grande parte da estrutura de aeródromos no país ainda era composta por pistas de dimensões pequenas espalhadas pelo imenso território nacional, com estas apresentando em sua maioria precárias condições de infraestrutura aeroportuária. Apesar de já constarem em projeto uma nova família de aeronaves de médio porte com base na plataforma do EMB-110 Bandeirante, estes novos projetos não poderiam atender a contendo esta demanda represada de mercado, seja por fatores de operação ou custo de aquisição e manutenção. Nesse período o Brasil, ocupava o primeiro lugar no hemisfério sul entre os importadores de aviões leves, sejam pequenos monomotores ou bimotores para até dez lugares. Quase sempre, eram aviões produzidos pela empresa norte-americana Piper Aircraft Corporation, muito requisitados por empresas para viagens rápidas e transporte de executivos. A previsão era de que, até 1978, o mercado brasileiro absorvesse cerca de três mil aviões leves, representando assim uma excelente oportunidade de crescimento para a indústria nacional.

Com base neste potencial mercado a ser explorado a diretoria da empresa brasileira começaria a estudar alternativas para a introdução neste importante segmento comercial. A opção mais lógica passava pela associação com um grande fabricante, evitando assim altos custos no desenvolvimento das aeronaves pretendidas, com escolha do parceiro pendendo para uma parceria com empresa norte-americana Piper Aircraft Company. As negociações evoluíram para um contrato de produção sob licença de algumas de suas aeronaves no Brasil, com o conceito que a Embraer S/A passasse a adquirir conhecimento (know how)  em produção de aeronaves em larga escala, volume de vendas que poderia surgir a partir deste nicho de mercado. Durante as comemorações do quinto aniversário da Embraer S/A, um acordo seria assinado com a Piper Aircraft Company visando a cooperação nas áreas de  desenvolvimento, produção e comercialização de seus aviões leves. Em um primeiro momento este contrato englobaria apenas dois modelos, os bimotores EMB-820 Navajo (Piper Navajo Chifetais) e EMB-810 Sêneca (Piper Sêneca III). No entanto, já em 1974, a seria iniciada a produção do EMB-720 Minuano (Piper Cherokee Six), passando a compor o portifólio da empresa brasileira de aeronáutica. Neste mesmo a empresa subcontrataria a Sociedade Aeronáutica Neiva Ltda, localizada na cidade de Botucatu no estado de São Paulo, para apoiar a produção de mais duas aeronaves a serem lançadas no mercado brasileiro, o EMB-710 Carioca (Piper Cherokee 235 Pathfinder) e o EMB-711 Corisco (Piper Cherokee Arrow II), com a apresentação oficial destas aeronaves ocorrendo no dia 17 de junho de 1975. Além destes modelos, no período compreendido entre os anos de 1976 e 1984, seriam lançadas mais três aeronaves de pequeno porte oriundos desta parceria, o EMB-712 Tupi (Piper Archer II), o EMB-721 Sertanejo (Piper Cherokee Lance) e o EMB-821 Carajá, sendo esta última uma versão atualizada do Navajo. Ao está acordo de produção sobre licença evolveria oito modelos de grande sucesso comercial.
Em 1978, a Embraer S/A passaria a produzir localmente estas aeronaves com crescentes índices de nacionalização de componentes, a exceção de alguns poucos itens mais complexos como os motores, aviônica e sistemas de comunicação. Já em 1984, toda produção da linha de aviões leves da Embraer S/A seria transferida para as instalações da Sociedade Aeronáutica Neiva Ltda na cidade de Botucatu – SP, que havia se tornado uma subsidiária desta em 1980. A produção de aeronaves leves pela Embraer S/A superaria as melhores expectativas, e exemplo de seus pares norte-americanos também conquistariam a confiança dos operadores civis no Brasil. Um dois mil trezentos e vinte seis aviões derivados da parceria com a Piper Aircraft Company seriam entregues entre os anos de 1975 e 2000, dentre os quais figurava quase novecentas aeronaves da família EMB-810C Seneca (Piper Sêneca III), com grande parte delas ainda em operação. No intuito de incentivar a produção de aeronaves nacionais, principalmente as fabricadas pela Embraer S/A , o Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1977 decidiria por  adquirir um total de trinta e cinco aeronaves dos modelos EMB-810C Seneca II e EMB-810D Seneca III. Por se tratar de um modelo em linha de produção para o mercado civil sem customizações militares, as primeiras aeronaves encomendadas pela Força Aérea Brasileira começariam a ser entregues no mesmo ano, recebendo a designação de U-7 Seneca e passando a ser destinadas a missões de ligação e observação aérea, assim como ligação de comando. A medida que estas aeronaves iam sendo recebidas, passavam a ser distribuídas a diversas unidades aéreas e bases, passando assim a operar em quase todo o território nacional.

Infelizmente o Embraer EMB-810D U-7 Sêneca não seria uma aeronave bem vista no âmbito da Força Aérea Brasileira, com este fato sendo originado pelo grande número de registros de incidentes envolvendo principalmente a quebra da bequilha, durante as operações de pouso. Quando em voo estas críticas não se repetiriam, pois em seu pacote original estas aeronaves estavam muito bem equipadas para navegação por instrumentos envolvendo sistemas de navegação sistemas ADF - Collins 650D, NAV/COM -  Bendix King KX-165, Piloto Automático - Century III, sistemas VOR com ILS e Transponder Mod "C". Esta suíte eletrônica era complementada pelo extremante confiável radar monocromático RDR-2100 Bendix - King. Durante sua carreira estas aeronaves dotariam o 1º, 2º e 6º Esquadrões de Transporte Aéreo (ETA), 1º/13º GAv – Esquadrão Paquera, 1º/8º GAv – Esquadrão Falcão , 2º/8º GAv – Esquadrão Poti, 2º/8º GAv – Esquadrão Puma, 5º/8º GAv – Esquadrão Pantera, 7º/8º GAv – Esquadrão Harpia. Operariam também como aeronaves orgânicas junto a Academia da Força Aérea (AFA), Escola Preparatoria de Cadetes do Ar (EPCAr), Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAEr), Base Aérea de Brasília (BABR) e  a Base Aérea de Anápolis (BAAN). O contrato envolvia trinta e quatro células da versão EMB-810C Seneca II e uma da versão EMB-810D Seneca III, com está operando a partir da Base Aérea de Brasília. Ao longo dos anos iniciais de operação do Embraer U-7 Seneca, receberiam kits para decolagem e aterragem Curta STOL Robertson (Short Take-off and Landing) para permitir seu emprego em pistas não preparadas e de pequena extensão, muito comum nos rincões do país. Como este equipamento opcional exigia a instalação de um dispositivo nas pontas das asas, todo o processo de preparação para recebimento do kit seria realizado nas instalações do Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA LS) que era por natureza o parque apoiador da aeronave. Estas aeronaves emergiriam deste processo ostentando a a designação de U-7A Seneca.
Em fins da década de 1990 o Comando da Aeronáutica (COMAER), ao proceder uma análise de sua frota de aeronaves de transporte leve, se debruçaria o status operacional da frota de aeronaves Embraer EMB-810C/D U-7 e U-7A Seneca, verificando a idade relativa da frota e a consequente vida útil restante das células remanescentes. Com base neste estudo se determinaria o início de um gradual processo de desativação, assim aos poucos estas aeronaves foram sendo recolhidas ao Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA LS) em Minas Gerais, onde seriam submetidas a uma revisão geral e descaracterização militar , sendo posteriormente transladados em voo para o Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA AF), no Rio de Janeiro onde seriam armazenadas e colocadas sobre regime de alienação para possível venda a operadores civis. A ultima aeronave em atividade o EMB-810C Seneca II U-7A de matricula  FAB 2632 realizaria seus últimos voo oficiais em agosto de 2010, sendo então desativado e incorporado ao acervo do Museu Aeroespacial (Musal) no Rio de Janeiro. Apesar das iniciais avaliações negativas da aeronave, sua aquisição pela Força Aérea Brasileira representaria um grande salto operacional em seu ambiente de atuação principalmente pela qualidade da suíte de avionica e navegação presentes. Estas características aliadas ao pouco uso das células, levariam a venda quase imediata das aeronaves alienadas, com muitas destas aeronaves operando atualmente com usuários particulares e  pequenas empresas de taxi aéreo.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer EMB-810C Seneca II U-7A matricula   “FAB 2602” empregamos o recente kit em resina na escala 1/72 da Duarte Models, sendo um modelo de alta qualidade de acabamento nas peças e detalhamento satisfatório pela escala. Fizemos uso de decais originais do kit confeccionados pela FCM Decais.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura adotado pelas aeronaves de transporte e ligação da Força Aérea Brasileira na década de 1970.  Este esquema foi mantido em uso até a desativação das aeronaves em 2010.


Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileira 1916 – 2015 Jackson Flores Junior
- Centro Histórico da Embraer - http://www.centrohistoricoembraer.com.br/pt-BR/HistoriaAeronaves/Paginas/EMB-810.aspx
- Piper PA-34 Seneca – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Piper_PA-34_Seneca

North American BT-9 NA-46 no Brasil

História e Desenvolvimento.
Fundada no dia 6 de dezembro de 1928  na cidade de Los Angeles CA, pelo empresário Clement Melville Keys, a empresa North American Aircraft, surgiu como uma holding corporativa, que tinha por intuito negociar no mercado loca, a compra e venda de participações em diversas companhias aéreas e empresas relacionadas à aviação. Esta estratégia cairia por água abaixo quando da promulgação em 1934 da controversa “Lei do Correio Aéreo”, levando ao colapso de tais holdings neste momento. Como a empresa já se firmara como uma grande referência no meio aeronáutico, faria uso de sua notoriedade, passando a se preparar para atuar no desenvolvimento e produção de componentes e por consequente aeronaves. Neste momento a empresa passaria a ser  dirigida pelo engenheiro James H. Kindelberger "Dutch", profissional que detinha em seu currículo grande experiência obtida em sua atuação junto a Douglas Aircraft Company, operando com capital oriundo de fundos da Eastern Air Lines.  No ano de 1935, a General Motors Corporation assumiria o controle da North American Aviation, em um processo de fusão com sua divisão aeronáutica, a General Aviation Manufacturing Corporation.  Neste mesmo ano a empresa decidiria mudar sua planta fabril da cidade de Dundalk em Maryland para Los Angeles no estado da Califórnia, no intuito de poder operar principalmente as tarefas de ensaios de voo o ano todo, devido as condições climáticas mais estáveis nesta região. Nesta fase, sua estratégia comercial passou a ser orientada para o mercado de aeronaves de treinamento, que em teoria poderia apresentar uma concorrência menor do que há já existente nos demais nichos de mercado, envolvendo aeronaves maiores ou mais complexas. Deste novo direcionamento nasceriam diversos processos, entre eles se destacando os modelos North American GA-16 destinado a missões de treinamento básico e o NA GA-15 destinados a tarefas de reconhecimento e observação. Os protótipos destas novas aeronaves, realizariam seus primeiros voos em janeiro de 1935, sendo logo submetidos a diversos programas de ensaios em voo, que resultariam em sua homolgaçao em meados deste mesmo ano. Vale ainda a menção estas duas aeronaves estavam baseadas em projetos desenvolvidos anteriormente pela General Aviation Manufacturing Corporation e representariam os primeiros passos da companhia em se tornar  no futuro, em um dos maiores fornecedores de aeronaves militares para as forças armadas norte-americanas. 

O North American GA-16  após ser oficialmente apresentado, receberia a designação militar de “NA-18”, com seus dois protótipos sendo submetidos a um completo processo de avaliação para ensaios em voo. Este programa visava atendar uma consulta anterior realizada pelo comando do  Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que estava em busca de uma aeronave na configuração monoplano voltada ao treinamento e formação de pilotos.. Esta nova aeronave apresentava a configuração monoplano com trem de pouso fixo, dispondo de estrutura metálica com superfície coberta com tela aeronáutica. Em termos de motorização estava equipado com o confiável motor radial Wright R-975 de 400 hp de potência. Os resultados obtidos nesta fase de testes e ensaio, identificaria uma série de melhorias a serem implementadas, resultando assim na versão NA-19, que receberia a designação militar BT-9 Advanced Trainner. Em outubro do ano de 1935, seria  celebrado o primeiro contrato de produção para Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo quarenta e duas células, com as primeiras entregas sendo realizadas no início do ano seguinte. Logo em seguida seria firmado mais um contrato envolvendo agora quarenta células de uma nova versao, designada agora como BT-9A,  que diferia da anterior por portar duas metralhadoras calibre.30 , sendo uma instalada na asa direita e a outra fixada no nariz da aeronave sob o capo, sendo sincronizada com a hélice.  Estes dois lotes de aviões seriam divididos de imediato após sua incorporação, entre os principais centros de instrução da Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). A próxima versão adotada foi o BT-9B com cento e dezessete células encomendadas, sendo seguida pelo BT-9C com noventa e sete aviões entregues apresentando melhorias na parte elétrica e sistemas de navegação . Seu emprego no processo de formação de pilotos, logo renderia ao modelos grande elogios por parte de instrutores e alunos, com este fato despertando o  interesse do comando da aviação naval da Marinha Marinha dos Estados Unidos (US Navy), com as negociações resultando no desenvolvimento de uma versão "navalizada". Seu protótipo alçaria voo em maio de 1936, e logo seria aceito para operação, resultando em um contrato para a aquisição de quarenta aeronaves, que receberiam a designação de North American NJ-1
Apesar de se mostrar uma grande evolução, face as aeronaves de treinamento em uso até então, ficava nítido que a aeronave logo alcançaria um estágio de obsolescência, gerando a necessidade de um novo vetor de treinamento a médio prazo. Despontando com premissas básicas, a nova aeronave deveria apresentar um perfil de voo próximo as atuais aeronaves de caça, sendo equipada com um sistema de trem de pouso retrátil e superfícies recobertas em alumínio ao invés do tradicional revestimento de tela. Diferente da concorrência anterior, este novo processo englobaria uma aquisição de grande vulto, com esta demanda sendo gerada pelo intensificar das tensões políticas na Europa, o que poderia prenunciar o início de uma corrida armamentista, levando o governo norte-americano a implementar um emergencial programa de rearmamento. Com as vendas no mercado interno definidas a diretoria comercial da North American Aviation Corp decidiu investir recursos para buscar clientes de exportação, forças áreas que nesta época estavam passando por processos de modernização e almejavam dispor de modernos vetores de treinamento, que, no entanto, não apresentassem altos custos de aquisição e operação, o que poderia abalar os já tão combalidos orçamentos militares destes países. O mercado alvo definido envolvia países presentes na América Latina, Europa, Ásia e Oceania, e com base neste direcionamento a partir de meados do ano de 1937 seria criada uma grande campanha de marketing para promover o modelo no exterior. Umas das principais ferramentas desta iniciativa era a realização de um grande números de apresentações e demonstrações das qualidades das novas aeronaves nos países anteriormente selecionados. Um grande número de tours promocionais seria realizado ao longo dos meses seguintes. O primeiro seria obtido depois de uma investida na Argentina, com o primeiro contrato celebrado com o governo daquele país para o fornecimento de vinte e nove aeronaves da versão de exportação designada como NA-16-4P (NA-34), equipadas com o motor Curtiss- Wright R-975 Whirlwind que seriam destinados a Aviação Militar do Exército Argentino. Neste mesmo momento em seu pais de origem mais contratos seriam firmados, agora principalmente com a Aviação Naval da Marinha Americana (US Navy), com estas aeronaves sendo entregues no inicio do ano de 1938.

Em 1939, a equipe de demonstração da North American Co. faria mais uma apresentação na América do Sul, logrando êxito em vendas junto as forças armadas do Brasil e Venezuela aumento a participação do modelo neste continente. Porém o maior contrato seria obtido na Oceania, sendo celebrado um acordo para produção sob licença pela empresa Commonwealth Aircraft Corporation em Melbourne. Seria acordada a montagem de setecentas aeronaves da versão de treinamento avançado, estando equipados com os motores radiais Pratt & Whitney R-1340 Wasp com 600 hp de potência para uso junto aos esquadrões de treinamento da Real Força Aérea Australiana (RAAF). Neste escopo de produção sob licença mais um contrato representativo seria firmado, com o governo sueco para equipar as unidades de treinamento da Força Aérea Sueca (Flygvapnet), este contrato envolveria cento e trinta e oito aeronaves que receberam a designação local de SK14 e SK14A, que seriam montadas nas instalações da SAAB Svenska Aeroplan AB. Curiosamente estes aviões poderiam ser equipados tanto com os motores norte-americanos Curtiss-Wright Wright R-975 Whirlwind com 450 hp de potência, quanto com motores italianos Piaggio P VII C de 435 hp de potência.
Ao todo até fins do ano de 1939 seriam produzidas nos Estados Unidos pela North American Co. um total de duzentas e trinta e nove células da família NA BT-9, que passariam no ano seguinte a serem substituídos nas tarefas de treinamento avançado pelos novos BC-1 (Basic Combat – Treinador Básico de Combate), produzidos por esta mesma empresa. Já as aeronaves montadas sob licença ou destinadas à exportação totalizariam a cifra de mil e trezentas células.  Além do Brasil o modelo seria operado pelas forças armadas da Argentina, China, França (incluindo também a Força Aérea Francesa de Vichy), Alemanha Nazista (aeronaves capturadas), Honduras, Japão, Holanda, África do Sul, Rodésia do Sul, Suécia, Reino Unido e Venezuela. Seu substituto natural em quase todas estas nações, seriam as versões iniciais dos North American NA-72 e T-6 Texan, mesmo assim grande parte desta frota se manteria em operação pelo menos até o início da década de 1950.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Em meados da década de 1930, a Comando da Aviação da Marinha do Brasil se encontrava focada em um audacioso processo de modernização e reequipamento de seus meios aéreos. Grande parte destes esforços estavam destinados as etapas de treinamento e formação de seus novos pilotos militares. Neste estágio as necessidades de treinamento básico já haviam sido atendidas através de um contrato junto a empresa alemã Focke Wulf Gmbh, para a aquisição e fabricação sob licença de treinadores básicos FW-44 Stieglitz (Pintasilgo). Restava então preencher a lacuna do estágio de treinamento avançado, levando então no início do ano de 1937 a abertura de uma concorrência internacional para a seleção e escolha de uma nova aeronave. Diversas propostas seriam apresentadas e analisadas pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), com destaque para os modelos Waco D, Seversky X-BT, Curtiss 19R, Avro 626 e North American NA-16P-4P e NA-16AP, porém muitos destes projetos ainda representavam treinadores de configuração biplano, o que não atendia neste momento os anseios da Aviação Naval. Descartadas as aeronaves de concepção mais antiga, o processo se estenderia por mais seis meses devido a endêmica falta de recursos. No final, a decisão acabaria pendendo para o modelo da North American Aviation Corp. em uma proposta apresentada por seu representante no Brasil. O modelo constante desta oferta era o NA-16P-4P, que atendia plenamente as características exigidas pela Aviação Naval, esta versão se assemelhava muito ao modelo North American BT-9C empregado pela Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e apresentava algumas facetas semelhantes aos North American NA-45 encomendados pela Força Aérea Venezuelana e pelo Exército Argentino.

O contrato seria oficialmente assinado entre a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) e North American Aviation Corp, no Rio de Janeiro no dia 2 de dezembro de 1938. Este termo previa a aquisição de doze aeronaves novas de fábrica, da versão de exportação agora designada pelo fabricante como NA-46, incluindo ainda um pacote completo de suporte abrangendo grande lote de peças de reposição, pacote de treinamento para operação e manutenção, além de todo o ferramental. O primeiro lote destas aeronaves seria transportado por via naval, sendo recebido no porto do Rio de Janeiro no terceiro trimestre de 1939 com estas aeronaves apresentando os números de série de produção de 46-972 á 46-977, com as células restantes de serial 46-1991 a 46-1996 sendo incorporadas até meados de abril de 1940. Estas aeronaves estavam equipados com o motor a pistão radial Wright Whirlwind R-975-E3 de 400 hp de potência e apresentavam como configuração de armamento defensivo e ofensivo, duas metralhadoras Browning calibre .30, sendo uma instalada na asa direita e a outra no capo, podendo ainda carregar até quatro bombas de queda livre de 50 kg e dispunham ainda da opção receber uma metralhadora móvel adicional na parte traseira da cabine. Estas aeronaves receberiam a designação militar de “V1 NA”, recebendo as matrículas da Aviação Naval de V1 NA-192 a V 1N A-203 e seriam preparadas para início das operação de treinamento e instrução. 
As primeiras seis aeronaves foram distribuídas a 1ª Esquadrilha de Adestramento Militar (1º EAM) e as demais seriam posteriormente incorporadas a 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2º EAM) com sede na Base de Aviação Naval do Galeão (RJ). Estas duas unidades tinham por missão aprimorar os conhecimentos aeronáuticos dos aviadores recém-formados na Escola de Aviação Naval (EAvN). Atendendo as diretrizes elaboradas pelo Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), seria dado início a um intensivo programa de adestramento, que incluía atividades como instrução de navegação, tiro aéreo, comunicações e bombardeio, entre outros trabalhos. A chegada do segundo lote de aeronaves no mês de abril de 1940 completaria a dotação destas unidades, permitindo assim o lançamento irrestrito do programa de instrução formulado por aquela unidade aérea. Contudo, a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) no dia 20 de janeiro de 1941, um evento já estava sendo aguardado desde meados do ano anterior, anulou o esforço dos poucos integrantes da 1ª Esquadrilha de Adestramento Militar (1º EAM). A transferência das aeronaves e todo o pessoal envolvido se daria imediatamente, encerrando assim sua carreira na Aviação Naval da Marinha do Brasil. Neste momento a frota da Força Aérea Brasileira era composta mais de quatrocentas aeronaves e os North American NA-46 se enquadravam no percentual de apenas 25% do modelos que realmente possuíam algum valor estratégico, tendo em vista que a maioria deste já se encontravam em estado crítico de obsolescência. Este cenário levou ao fato de que a 1º Esquadrilha de Adestramento Militar (1º EAM) foi uma das raras unidades da Aviação Naval que foi mantida intacta, não só em termos de missão, mas também de identidade. 

Mas mal a 1ª Esquadrilha de Adestramento Militar (1º EAM) e seus North American NA-46 foram integrados a Força Aérea Brasileira, aquela unidade sofreu sua primeira perda total de material e pessoal, em um acidente em 13 de maio de 1941 próximo a cidade de Adamantina no estado de São Paulo.  Não obstante esse acidente, a unidade seguiria desenvolvendo seus trabalhos, no entanto já despontava no horizonte uma importante tarefa para aquela unidade e seus North American NA-46. Com somente 389 oficiais aviadores assim que foi criada, e uma guerra mundial que já se avizinhava, o comando da Força Aérea Brasileira prontamente percebeu a necessidade de reforçar substancialmente seu quadro de pilotos, bem como de outras áreas. A solução se daria por parte do estabelecimento de Centros de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), o que ocorreu entre junho e agosto de 1942. Com efeito, em 20 de agosto daquele ano seria criado o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) na Base Aérea do Galeão, levando assim as onze células remanescentes a serem transferidas para esta nova localidade, com a missão de transformar pilotos civis em aviadores militares. O programa estabelecido previa que o estágio de instrução básica fosse realizado nos Focke Wulf FW-44J, com o próximo passo sendo dado na instrução com os North American NA-46, com o aluno sendo posteriormente declarado aspirante a oficial aviador. O recebimento em grande volume dos novos treinadores Fairchild PT-19 a partir de 1942, promoveria uma reorganização da sistemática de treinamento, com o treinamento básico ficando centralizado na Base Aérea do Galeão, com os NA-46 sendo transferidos para a II Grupamento do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Neste momento as aeronaves receberiam novas matriculas, sendo nesta oportunidade sendo designados como BT-9.
Em maio de 1947 após serem examinados por uma comissão da Base Aérea do Galeão, cincos dos North American NA-46 foram excluídos da carga do Ministério da Aeronáutica. De acordo com a análise, essas aeronaves eram consideradas obsoletas e estavam em péssimo estado, o que tornava desaconselhável e antieconômico qualquer esforço destinado à sua recuperação. No início do ano seguinte mais dois acidentes reduziram a frota da aeronave, sendo que somente duas células estavam disponíveis para voo. Em julho de 1949 um boletim interno classificou o modelo como obsoleto para tarefas de instrução, definindo que as duas últimas aeronaves operacionais matriculadas BT-9 1039 e 1040 deveriam ser transferidas ao Destacamento da Base Aérea de Santos (DBAST) para servir como aeronaves de adestramento. Em maio de 1952 a última aeronave existente retornou ao Galeão para também ser empregado neste mesmo tipo de missão. Em agosto de 1953 seria emitida a ordem para que o último North American BT-9 fosse recolhido ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PQAerAF) para alienação e venda como sucata.

Em Escala.
Para representarmos North American NA-46  "V1NA-192  1-V-1" empregamos a única opção disponível no mercado, um antigo kit em Vac Form da Beechnut Models na escala 1/72. Este modelo necessita de grande trabalho de correção de peças para a montagem, inclusive pela necessidade de se fazer uma grande parte das peças e scratch. Como não existe um set de decais específico para a versão brasileira, empregamos decais diversos oriundos da FCM Decais.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura com o qual os North American  NA-46 foram recebidos em 1939, apesar de sua transferência para a Força Aérea Brasileira em 1941 esta sistemática foi pouco alterada, envolvendo apenas a troca dos cocares, matriculas  e a pintura em verde amarela na cauda.


Bibliografia:

- Revista ASAS nº 60 " North American T-6 na FAB ( 1942 - 1963 ) - Aparecido Camazano Alamino
- North American BT-9 Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/North_American_BT-9
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  – Jackson Flores Jr

Macchi M.7 e M.9 na Aviação Naval

História e Desenvolvimento. 
A Aeronáutica Macchi, foi uma das principais empresas de construção aeronáutica europeias do início do século XX, esta organização seria fundada em abril de 1912 por Giulio Macchi na cidade Varese, no noroeste da Lombardia como Nieuport-Macchi, com a finalidade básica de produzir aeronaves francesas de projeto da Societé A Nieuport-Delage Issy Les, para as forças armadas italianas. Das linhas de produção desta empresa saíram modelos como Nieuport-Macchi N.VI, Nieuport-Macchi Parasol, Nieuport-Macchi N.10, Nieuport-Macchi N.11, Nieuport-Macchi N.17. Este processo de fabricação sob licença traria uma importante absorção de know how no projeto e desenvolvimento de aeronaves militares. Curiosamente a gênese de uma ampla família de hidroaviões italianos de sucesso, seria baseada em um processo de em engenharia reversa, quando militares do Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano), lograram êxito em capturar uma aeronave Loher L40E austríaca, esta aeronave seria levada intacta para a estação aérea naval de Porto Corsini e de lá transportada para a fábrica da Nieuport-Macchi. A aeronave seria copiada em tempo recorde pela equipe do engenheiro italiano Alessandro Tonini, com o primeiro protótipo designado como Macchi L1, alçando voo um mês após a chegada do aerobote Loher L40E. Deste modelo quatorze células seriam produzidas e entregues a Marinha Real Italiana (Regia Marina). A busca por um melhor desempenho resultaria no modelo Macchi L-2 que passava a apresentar desing melhorado e um motor mais potente, agora o Isotta Fraschini V.4B com 160 hp de potência. Mais dez aeronaves seriam produzidas até meados do ano de 1916, porém seus resultados em voo, ainda não atendiam plenamente as demandas dos militares italianos. Novamente de volta a prancheta de projetos, nasceria em 1917  o Macchi L-3, agora renomeado como “M-3”, esta nova aeronave abandonava as influencias de desing austríaco, apresentando um novo desenho de casco e asas. Sua performance em voo agradaria o comando da Marinha Real Italiana (Regia Marina), resultando em um contrato para duzentas aeronaves que seriam empregadas em missões de bombardeio, patrulha, escolta e treinamento, sendo retirados de serviço somente em fins de 1924.

O modelo Macchi M-5 seria desenvolvido como caça a partir de 1917, pelos engenheiros Buzio e Calzavera, seguia o mesmo padrão de desing de seu antecessor, porém envolvendo refinamentos aerodinâmicos (como os flutuadores de ponta de asa redesenhados) e melhor motorização, contando agora com um motor Isotta Fraschini V.6 com 250 hp de potência. Sua produção atingiria a casa de duzentas e quarentas aeronaves, sendo empregados em seu país de origem pela Aviação da Marinha Real Italiana (Aviazione per la Regia Marina) em cinco esquadrões de patrulha marítima, com algumas células operando ainda embarcadas junto ao porta aviões Giuseppe Miraglia. No final da Primeira Guerra Mundial, aviões Macchi M.5 foram pilotados por aviadores da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC). Por suas ações enquanto voava um Macchi M.5 sobre o Mar Adriático ao largo da costa da Áustria-Hungria em 21 de agosto de 1918, o alferes da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) Charles Hammann, um piloto alistado na época, recebeu a primeira Medalha de Honra concedida a um aviador naval norte americano. Em 1918, o engenheiro italiano Alessandro Tonini, empregaria o Macchi M-5 como ponto de partida para o desenvolvimento de uma nova versão melhorada, apesar de manter a mesma motorização de seu antecessor, seu novo desenho de casco, e passava a ser armado com duas metralhadoras  inglesas Vickers de 7,7 mm, o tornando assim a primeira aeronave produzida pela Aeronautica Macchi S.p.A a estar a combater, em pé de igualdade, com seus pares terrestres. Em função do término da Primeira Guerra Mundial, seriam produzidas apenas cento e dez aeronaves, com aviões sendo exportados para o Brasil, Paraguai, Suécia e Argentina. Apesar de sua modesta produção, o Macchi M.7 conquistou seu lugar na história da aeronáutica a vencer a Schneider Cup em 1921, uma corrida realizada entre hidroaviões de diversos países, os quais representavam literalmente o que havia de mais moderno no meio aeronáutico mundial.
O Macchi M-8 começou a ser desenvolvido em paralelo a versão anterior Macchi M-7, e tinha como objetivo introduzir no projeto reforços estruturais significativos, como a introdução de novas asas rígidas (ou struts entre plantas) seu desenho de casco foi melhorado a partir de desenhos anteriores e a unidade traseira foi semelhante à desenvolvida para o Macchi M-7. As reduções orçamentárias ocorridas próximas ao final da Primeira Guerra Mundial, reduziram sua produção para apenas cinquenta e sete aeronaves, que foram empregadas pela Aviação da Marinha Real Italiana (Aviazione per la Regia Marina) em missões de reconhecimento costeiro e guerra antissubmarino, encerrando sua carreira na década de 1920 como aeronaves de treinamento básico. Atendo as possíveis necessidades dos militares italianos e possíveis clientes de exportação, em 1918 engenheiro Alessandro Tonini iniciou o desenvolvimento aerobote destinado primordialmente a missões de bombardeio naval e reconhecimento visual de longo alcance. Apesar de se assemelhar em termos de design a seu antecessor Macchi M-8, apresentando a configuração da asa biplano-sequiplana, introduzindo o sistema estrutural do tipo “Warren Truss struts style” (suportes longitudinais unidos apenas por elementos transversais angulados), que se tornaria característica do design deste fabricante. O novo Macchi M-9 era um hidroavião significadamente maior, com uma área alar de 48,5 metros quadrados, envergadura de 15,40 metros, Comprimento de 9,40 metros e altura de 3,25 metros, deslocando um peso vazio de 1.250 kg e bruto de 1.800 kg. Esta aeronave passava a ser equipada com o novo motor Fiat A12 Bis que lhe conferia cerca de 300 hp, o que o possibilitava atingir uma velocidade máxima de 188 km/h e um teto de serviço de 5.500 metros (18.050 pés).

Neste período ficava cada vez mais claro o desfecho da Primeira Guerra Mundial, com as forças aliadas pressionando cada vez mais o Império, se tornando apenas uma questão de tempo sua rendição incondicional, atento a este cenário era vital para a Aeronáutica Macchi, que a nova aeronave fosse desenvolvida, ensaiada e homologada em tempo recorde, para assim poder contribuir no esforço de guerra, logrando neste contexto um grande contrato de produção para a pela Aviação da Marinha Real Italiana (Aviazione per la Regia Marina). Correndo contra o tempo, o primeiro protótipo do novo Macchi M-9 alçaria voo em 2 de junho de 1918, sendo imediatamente entregue para os militares italianos a fim de ser submetido a ensaios em voo para aceitação. Os excelentes resultados em voo observados levariam a rápida homologação para uso militar como bombardeio naval de longo alcance, gerando um primeiro contrato para a produção de dezesseis hidroaviões do modelo, com este sendo construídos em tempo recorde também, com as primeiras aeronaves sendo entregues as unidades de linha de frente italiana em fins do mês de outubro de 1918, poucos dias então antes da declaração do armistício em novembro dele. O final da guerra traria a todas as nações europeias grandes cortes em seus orçamentos militares, levando uma redução drásticas nas entregas das aeronaves Macchi M-7 contratadas, resultando em apenas mais vinte e quatro aeronaves a serem entregues as forças armadas italianas até meados do ano de 1919, totalizando então apenas quarenta hidroaviões entregues. Contando com componentes e matérias primas em estoque adquiridas anteriormente, se fazia necessário comercializar o maior número de aeronaves possíveis, com diretoria da empresa passando a mirar um possível mercado de exportação. Assim, em fins de 1919 a áreas comercial da Aeronáutica Macchi, empreendeu esforços e recursos na realização de uma missão de propaganda militar com a finalidade promover os produtos da indústria aeronáutica italiana na América do Sul, com apresentações efetuadas para os governos locais entre eles Argentina que adquiriu dois exemplares para uso em missões de patrulha junto a Aviação Naval da Marinha Argentina (Aviación Naval Argentina),seguido por uma compra semelhante feita pela Marinha Brasileira.
Em 1921 a Marinha Polonesa (Morski dywizjon lotniczy,) assinaria contrato para a aquisição de nove células para emprego em sua aviação naval, estas aeronaves transportadas por um navio mercante, e foram recebidas desmontadas no porto de Gdansk, sendo transportadas até a base naval de Puck onde depois de montadas e ensaiadas em voo, passaram a operar em missões de patrulha. Em 1922 a empresa polonesa Centralne Warsztaty Lotnicze (CWL) assumiu a manutenção das aeronaves italianas, inclusive as poucas células militares ainda em uso que estavam alocadas em missões de treinamento. Este contrato ainda a autorizava a produção sob licença do Macchi M-9, com cinco células sendo produzidas e operadas pelo menos até o final do ano de 1926. Um pequeno número de aeronaves seria produzidas pela Aeronáutica Macchi logo após o termino do conflito, em uma configuração inusitada de transporte de passageiros denominada como Macchi M-9 Bis, sendo equipadas com quatro assentos extras, passando a ser empregadas em linhas regulares de transporte de passageiros e correio na Suíça e na Itália, se mantendo nesta função pelo menos até fins da década de 1920.

Emprego na Marinha do Brasil.
Desde que iniciou suas atividades, em 1919, a Escola de Aviação Naval (EAvN) vivia uma carência crônica de recursos financeiros e materiais. E apesar do recebimento de um punhado de hidroaviões nos anos de 1917 e 1918, a fragilidade material dessas aeronaves resultava na baixíssima disponibilidade desses meios. Numa época em que a vida útil de uma aeronave militar era medida em meses, a equipe de manutenção da aviação naval operava pequenos milagres para manter um número mínimo de hidroaviões disponíveis para a formação dos alunos matriculados naquela escola de aviação. Com o término da I Guerra Mundial, em 11 de novembro de 1918, a aquisição de material aeronáutico no exterior, bem como o intercâmbio de profissionais da aviação militar, ficou mais fácil e econômico, principalmente devido à necessidade premente das indústrias de armamentos europeias em buscar novos mercados para seus produtos, pois o final do conflito desencadearia uma série de cancelamentos de contratos de produção para o esforço de guerra aliado, com o maior impacto deste efeito sendo sentido na indústria aeronáutica. E no transcurso deste ano, a escola recebeu cinco diferentes tipos de hidroaviões. Entre estes encontrava-se um exemplar de um Macchi M-7, o qual foi montado no mês de novembro de 1919 e imediatamente entregue a Escola de Aviação Naval (EAvN). Apesar de ser originalmente uma aeronave de caça e reconhecimento, foi empregado exclusivamente no treinamento dos alunos e no adestramento dos instrutores da escola. Nesse mesmo ano a Societá Italiana di Transport Aerei, tentou organizar no Brasil um serviço de transporte aéreo, empregando inicialmente três aeronaves, como a iniciativa não logrou êxito, os aviões foram doados as forças militares brasileiras, sendo um Macchi M.7 repassado a Escola de Aviação Naval (EAvN) em fevereiro de 1920. 

A frota de aeronaves Macchi M-7 seria reforçada em 1921 quando o Capitão-Tenente De Lamare dou uma célula com a qual havia sido presenteado pelo governo italiano em reconhecimento ao seu esforço em realizar um reide Rio de Janeiro – Buenos Aires, que infelizmente fracassou após um acidente no Rio Grande do Sul em outubro de 1920.Fora as periódicas participações em desfiles aéreos ou eventos oficiais no Rio de Janeiro, o trio de hidroaviões Macchi M-7 continuou desempenhando as tarefas de instrução e treinamento. Como as demais aeronaves daquela época, a fragilidade do material fez com que estes hidroaviões fossem recolhidos para revisão geral, cada vez com maior frequência. O período de uso intensivo, pouco mais de três anos cobrou seu preço, pois em 1923 duas destas aeronaves encontravam-se recolhidas para reparo e revisão geral. Por sua vez, o terceiro acidentou-se, com perda total, no dia 13 de abril de 1923. A chegada de novas aeronaves terrestres e hidroaviões de instrução, no transcorrer de 1922 e 1923, apenas acelerou o processo de desativação dos Macchi M-7, considerado obsoleto quando comparado ao Curtiss MF, que o substituiria. Assim após serem inspecionados no dia 5 de julho de 1923 as duas células restantes foram excluídas da carga juntamente com a aeronave acidentada da Escola de Aviação Naval (EAvN), em 4 de setembro do mesmo ano. No mesmo período da aquisição dos Macchi M-7, o comando da Marinha do Brasil estava empenhado em aumentar e modernizar sua frota de aeronaves, acometida por restrições orçamentárias o foco de aquisição estava baseado em compras de oportunidade, e neste contexto a empresa italiana Aeronáutica Macchi estava promovendo a América do Sul uma campanha de demonstração de suas aeronaves militares. Entendimento seriam realizados entre a empresa e o governo brasileiro, culminando em maio de 1919, na assinatura de um contrato para a aquisição de cinco aerobotes de emprego tático novos de fábrica do tipo Macchi M-9. 
Embora estes hidroaviões fossem orginalmente destinados a execução de tarefas de reconhecimento, com limitada capacidade para efetuar missões de bombardeiro, não existem registros de que a Marinha do Brasil pretendia formar uma unidade de emprego tático. A absoluta falta de pessoal adequadamente treinado e a ausência de meios materiais para apoiar as atividades de uma unidade aérea, inibiam esta possibilidade, e prova disso é que não existem relatos sob a aquisição de armamento para estas aeronaves. O primeiro Macchi M-9 foi montado no mês de outubro de 1919, nas instalações da Escola de Aviação Naval (EAvN), então instalada nas Ilhas das Enxadas (RJ). No início do mês de fevereiro de 1920, mais um Macchi M-9 foi posto em serviço, seguido de um terceiro hidroavião em julho. No transcorrer deste ano, os últimos dois hidroaviões foram montados, sendo essas 5 aeronaves destinadas a Escola de Aviação Naval (EAvN). Nesta instituição os Macchi M-9 foram empregados em voo de adestramento do pessoal já diplomado e dos instrutores daquele estabelecimento militar de ensino aeronáutico. Nominalmente esta tarefa carecia de maiores exigências, os voos de adestramento cobravam seu preço, tendo em vista que em média 50% da frota estava sempre indisponível, passando por reparos. Em novembro de 1920, registrou-se o primeiro acidente com perda total da Aviação Naval da Marinha do Brasil, quando o Macchi M-9 de matricula “31” caiu na Baia de Guanabara, vitimando seus dois ocupantes. Reduzida a 4 apenas aviões deste modelo na frota, a Escola de Aviação Naval (EAvN), continuou empregando os Macchi M-9 nas tarefas de adestramento e formação do pessoal lotado naquela unidade. Apesar do esforço hercúleo do pessoal de manutenção da Aviaçao Naval da Mainha do Brasil, o ano de 1921 assistiu a recolhimento de 50% da frota existente de hidroaviões Macchi M-9 as oficinas a fim de passar por reparos e revisões de grande monta.
No transcorrer daquele ano, a Escola de Aviação Naval (EAvN) raramente logrou disponibilizar para voos de instrução os outros dois Macchi M-9, uma situação que se manteve durante o ano seguinte. Com a chegada do ano de 1923, esse cenário foi agravado pela perda de um dos hidroaviões. No entanto, em vista da chegada dos novos Curtiss MF, a crescente indisponibilidade daquelas aeronaves italianas, não mais representou um óbice maior devido as atividades da Escola de Aviação Naval (EAvN). Finalmente no dia 4 de setembro de 1923, foi dada a baixa em todas as células dos Macchi M-9 ainda em serviço na Aviação Naval da Marinha do Brasil. Em seguida as células foram sendo alienadas e vendidas como sucata para aproveitamento de matéria prima. 

Em Escala.
Para representarmos o Macchi M-7 da Aviação Naval matrícula "33" empregamos o kit da Fly na escala 1/48, apesar de ser um modelo com baixa qualidade de injeção, possui detalhamento em resina. A versão original representa o Macchi M.5, sendo assim necessário a realização de algumas conversões para compormos versão empregada pela Marinha do Brasil. Como não há no mercado um set de decais especifico para o modelo, fizemos uso de decais diversos produzidos pela FCM Decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura aplicado as aeronaves operacionais da Escola de Aviação Naval (EAvN) em sua primeira fase, sendo este padrão mantido nos Macchi M.7 e Macchi M.9 durante toda a sua carreira na Aviação Naval da Marinha do Brasil.



Bibliografia :

- Macchi M.7 Wikipedia  - https://en.wikipedia.org/wiki/Macchi_M.7
- Macchi M.9 Wikipedia  - https://en.wikipedia.org/wiki/Macchi_M.9
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr
- Aviação Militar Brasileira 1916 -  1984 - Francisco C. Pereira Netto