Macchi M.7 e M.9 na Aviação Naval

História e Desenvolvimento. 
A Aeronáutica Macchi, foi uma das principais empresas de construção aeronáutica europeias do início do século XX, esta organização seria fundada em abril de 1912 por Giulio Macchi na cidade Varese, no noroeste da Lombardia como Nieuport-Macchi, com a finalidade básica de produzir aeronaves francesas de projeto da Societé A Nieuport-Delage Issy Les, para as forças armadas italianas. Das linhas de produção desta empresa saíram modelos como Nieuport-Macchi N.VI, Nieuport-Macchi Parasol, Nieuport-Macchi N.10, Nieuport-Macchi N.11, Nieuport-Macchi N.17. Este processo de fabricação sob licença traria uma importante absorção de know how no projeto e desenvolvimento de aeronaves militares. Curiosamente a gênese de uma ampla família de hidroaviões italianos de sucesso, seria baseada em um processo de em engenharia reversa, quando militares do Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano), lograram êxito em capturar uma aeronave Loher L40E austríaca, esta aeronave seria levada intacta para a estação aérea naval de Porto Corsini e de lá transportada para a fábrica da Nieuport-Macchi. A aeronave seria copiada em tempo recorde pela equipe do engenheiro italiano Alessandro Tonini, com o primeiro protótipo designado como Macchi L1, alçando voo um mês após a chegada do aerobote Loher L40E. Deste modelo quatorze células seriam produzidas e entregues a Marinha Real Italiana (Regia Marina). A busca por um melhor desempenho resultaria no modelo Macchi L-2 que passava a apresentar desing melhorado e um motor mais potente, agora o Isotta Fraschini V.4B com 160 hp de potência. Mais dez aeronaves seriam produzidas até meados do ano de 1916, porém seus resultados em voo, ainda não atendiam plenamente as demandas dos militares italianos. Novamente de volta a prancheta de projetos, nasceria em 1917  o Macchi L-3, agora renomeado como “M-3”, esta nova aeronave abandonava as influencias de desing austríaco, apresentando um novo desenho de casco e asas. Sua performance em voo agradaria o comando da Marinha Real Italiana (Regia Marina), resultando em um contrato para duzentas aeronaves que seriam empregadas em missões de bombardeio, patrulha, escolta e treinamento, sendo retirados de serviço somente em fins de 1924.

O modelo Macchi M-5 seria desenvolvido como caça a partir de 1917, pelos engenheiros Buzio e Calzavera, seguia o mesmo padrão de desing de seu antecessor, porém envolvendo refinamentos aerodinâmicos (como os flutuadores de ponta de asa redesenhados) e melhor motorização, contando agora com um motor Isotta Fraschini V.6 com 250 hp de potência. Sua produção atingiria a casa de duzentas e quarentas aeronaves, sendo empregados em seu país de origem pela Aviação da Marinha Real Italiana (Aviazione per la Regia Marina) em cinco esquadrões de patrulha marítima, com algumas células operando ainda embarcadas junto ao porta aviões Giuseppe Miraglia. No final da Primeira Guerra Mundial, aviões Macchi M.5 foram pilotados por aviadores da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC). Por suas ações enquanto voava um Macchi M.5 sobre o Mar Adriático ao largo da costa da Áustria-Hungria em 21 de agosto de 1918, o alferes da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) Charles Hammann, um piloto alistado na época, recebeu a primeira Medalha de Honra concedida a um aviador naval norte americano. Em 1918, o engenheiro italiano Alessandro Tonini, empregaria o Macchi M-5 como ponto de partida para o desenvolvimento de uma nova versão melhorada, apesar de manter a mesma motorização de seu antecessor, seu novo desenho de casco, e passava a ser armado com duas metralhadoras  inglesas Vickers de 7,7 mm, o tornando assim a primeira aeronave produzida pela Aeronautica Macchi S.p.A a estar a combater, em pé de igualdade, com seus pares terrestres. Em função do término da Primeira Guerra Mundial, seriam produzidas apenas cento e dez aeronaves, com aviões sendo exportados para o Brasil, Paraguai, Suécia e Argentina. Apesar de sua modesta produção, o Macchi M.7 conquistou seu lugar na história da aeronáutica a vencer a Schneider Cup em 1921, uma corrida realizada entre hidroaviões de diversos países, os quais representavam literalmente o que havia de mais moderno no meio aeronáutico mundial.
O Macchi M-8 começou a ser desenvolvido em paralelo a versão anterior Macchi M-7, e tinha como objetivo introduzir no projeto reforços estruturais significativos, como a introdução de novas asas rígidas (ou struts entre plantas) seu desenho de casco foi melhorado a partir de desenhos anteriores e a unidade traseira foi semelhante à desenvolvida para o Macchi M-7. As reduções orçamentárias ocorridas próximas ao final da Primeira Guerra Mundial, reduziram sua produção para apenas cinquenta e sete aeronaves, que foram empregadas pela Aviação da Marinha Real Italiana (Aviazione per la Regia Marina) em missões de reconhecimento costeiro e guerra antissubmarino, encerrando sua carreira na década de 1920 como aeronaves de treinamento básico. Atendo as possíveis necessidades dos militares italianos e possíveis clientes de exportação, em 1918 engenheiro Alessandro Tonini iniciou o desenvolvimento aerobote destinado primordialmente a missões de bombardeio naval e reconhecimento visual de longo alcance. Apesar de se assemelhar em termos de design a seu antecessor Macchi M-8, apresentando a configuração da asa biplano-sequiplana, introduzindo o sistema estrutural do tipo “Warren Truss struts style” (suportes longitudinais unidos apenas por elementos transversais angulados), que se tornaria característica do design deste fabricante. O novo Macchi M-9 era um hidroavião significadamente maior, com uma área alar de 48,5 metros quadrados, envergadura de 15,40 metros, Comprimento de 9,40 metros e altura de 3,25 metros, deslocando um peso vazio de 1.250 kg e bruto de 1.800 kg. Esta aeronave passava a ser equipada com o novo motor Fiat A12 Bis que lhe conferia cerca de 300 hp, o que o possibilitava atingir uma velocidade máxima de 188 km/h e um teto de serviço de 5.500 metros (18.050 pés).

Neste período ficava cada vez mais claro o desfecho da Primeira Guerra Mundial, com as forças aliadas pressionando cada vez mais o Império, se tornando apenas uma questão de tempo sua rendição incondicional, atento a este cenário era vital para a Aeronáutica Macchi, que a nova aeronave fosse desenvolvida, ensaiada e homologada em tempo recorde, para assim poder contribuir no esforço de guerra, logrando neste contexto um grande contrato de produção para a pela Aviação da Marinha Real Italiana (Aviazione per la Regia Marina). Correndo contra o tempo, o primeiro protótipo do novo Macchi M-9 alçaria voo em 2 de junho de 1918, sendo imediatamente entregue para os militares italianos a fim de ser submetido a ensaios em voo para aceitação. Os excelentes resultados em voo observados levariam a rápida homologação para uso militar como bombardeio naval de longo alcance, gerando um primeiro contrato para a produção de dezesseis hidroaviões do modelo, com este sendo construídos em tempo recorde também, com as primeiras aeronaves sendo entregues as unidades de linha de frente italiana em fins do mês de outubro de 1918, poucos dias então antes da declaração do armistício em novembro dele. O final da guerra traria a todas as nações europeias grandes cortes em seus orçamentos militares, levando uma redução drásticas nas entregas das aeronaves Macchi M-7 contratadas, resultando em apenas mais vinte e quatro aeronaves a serem entregues as forças armadas italianas até meados do ano de 1919, totalizando então apenas quarenta hidroaviões entregues. Contando com componentes e matérias primas em estoque adquiridas anteriormente, se fazia necessário comercializar o maior número de aeronaves possíveis, com diretoria da empresa passando a mirar um possível mercado de exportação. Assim, em fins de 1919 a áreas comercial da Aeronáutica Macchi, empreendeu esforços e recursos na realização de uma missão de propaganda militar com a finalidade promover os produtos da indústria aeronáutica italiana na América do Sul, com apresentações efetuadas para os governos locais entre eles Argentina que adquiriu dois exemplares para uso em missões de patrulha junto a Aviação Naval da Marinha Argentina (Aviación Naval Argentina),seguido por uma compra semelhante feita pela Marinha Brasileira.
Em 1921 a Marinha Polonesa (Morski dywizjon lotniczy,) assinaria contrato para a aquisição de nove células para emprego em sua aviação naval, estas aeronaves transportadas por um navio mercante, e foram recebidas desmontadas no porto de Gdansk, sendo transportadas até a base naval de Puck onde depois de montadas e ensaiadas em voo, passaram a operar em missões de patrulha. Em 1922 a empresa polonesa Centralne Warsztaty Lotnicze (CWL) assumiu a manutenção das aeronaves italianas, inclusive as poucas células militares ainda em uso que estavam alocadas em missões de treinamento. Este contrato ainda a autorizava a produção sob licença do Macchi M-9, com cinco células sendo produzidas e operadas pelo menos até o final do ano de 1926. Um pequeno número de aeronaves seria produzidas pela Aeronáutica Macchi logo após o termino do conflito, em uma configuração inusitada de transporte de passageiros denominada como Macchi M-9 Bis, sendo equipadas com quatro assentos extras, passando a ser empregadas em linhas regulares de transporte de passageiros e correio na Suíça e na Itália, se mantendo nesta função pelo menos até fins da década de 1920.

Emprego na Marinha do Brasil.
Desde que iniciou suas atividades, em 1919, a Escola de Aviação Naval (EAvN) vivia uma carência crônica de recursos financeiros e materiais. E apesar do recebimento de um punhado de hidroaviões nos anos de 1917 e 1918, a fragilidade material dessas aeronaves resultava na baixíssima disponibilidade desses meios. Numa época em que a vida útil de uma aeronave militar era medida em meses, a equipe de manutenção da aviação naval operava pequenos milagres para manter um número mínimo de hidroaviões disponíveis para a formação dos alunos matriculados naquela escola de aviação. Com o término da I Guerra Mundial, em 11 de novembro de 1918, a aquisição de material aeronáutico no exterior, bem como o intercâmbio de profissionais da aviação militar, ficou mais fácil e econômico, principalmente devido à necessidade premente das indústrias de armamentos europeias em buscar novos mercados para seus produtos, pois o final do conflito desencadearia uma série de cancelamentos de contratos de produção para o esforço de guerra aliado, com o maior impacto deste efeito sendo sentido na indústria aeronáutica. E no transcurso deste ano, a escola recebeu cinco diferentes tipos de hidroaviões. Entre estes encontrava-se um exemplar de um Macchi M-7, o qual foi montado no mês de novembro de 1919 e imediatamente entregue a Escola de Aviação Naval (EAvN). Apesar de ser originalmente uma aeronave de caça e reconhecimento, foi empregado exclusivamente no treinamento dos alunos e no adestramento dos instrutores da escola. Nesse mesmo ano a Societá Italiana di Transport Aerei, tentou organizar no Brasil um serviço de transporte aéreo, empregando inicialmente três aeronaves, como a iniciativa não logrou êxito, os aviões foram doados as forças militares brasileiras, sendo um Macchi M.7 repassado a Escola de Aviação Naval (EAvN) em fevereiro de 1920. 

A frota de aeronaves Macchi M-7 seria reforçada em 1921 quando o Capitão-Tenente De Lamare dou uma célula com a qual havia sido presenteado pelo governo italiano em reconhecimento ao seu esforço em realizar um reide Rio de Janeiro – Buenos Aires, que infelizmente fracassou após um acidente no Rio Grande do Sul em outubro de 1920.Fora as periódicas participações em desfiles aéreos ou eventos oficiais no Rio de Janeiro, o trio de hidroaviões Macchi M-7 continuou desempenhando as tarefas de instrução e treinamento. Como as demais aeronaves daquela época, a fragilidade do material fez com que estes hidroaviões fossem recolhidos para revisão geral, cada vez com maior frequência. O período de uso intensivo, pouco mais de três anos cobrou seu preço, pois em 1923 duas destas aeronaves encontravam-se recolhidas para reparo e revisão geral. Por sua vez, o terceiro acidentou-se, com perda total, no dia 13 de abril de 1923. A chegada de novas aeronaves terrestres e hidroaviões de instrução, no transcorrer de 1922 e 1923, apenas acelerou o processo de desativação dos Macchi M-7, considerado obsoleto quando comparado ao Curtiss MF, que o substituiria. Assim após serem inspecionados no dia 5 de julho de 1923 as duas células restantes foram excluídas da carga juntamente com a aeronave acidentada da Escola de Aviação Naval (EAvN), em 4 de setembro do mesmo ano. No mesmo período da aquisição dos Macchi M-7, o comando da Marinha do Brasil estava empenhado em aumentar e modernizar sua frota de aeronaves, acometida por restrições orçamentárias o foco de aquisição estava baseado em compras de oportunidade, e neste contexto a empresa italiana Aeronáutica Macchi estava promovendo a América do Sul uma campanha de demonstração de suas aeronaves militares. Entendimento seriam realizados entre a empresa e o governo brasileiro, culminando em maio de 1919, na assinatura de um contrato para a aquisição de cinco aerobotes de emprego tático novos de fábrica do tipo Macchi M-9. 
Embora estes hidroaviões fossem orginalmente destinados a execução de tarefas de reconhecimento, com limitada capacidade para efetuar missões de bombardeiro, não existem registros de que a Marinha do Brasil pretendia formar uma unidade de emprego tático. A absoluta falta de pessoal adequadamente treinado e a ausência de meios materiais para apoiar as atividades de uma unidade aérea, inibiam esta possibilidade, e prova disso é que não existem relatos sob a aquisição de armamento para estas aeronaves. O primeiro Macchi M-9 foi montado no mês de outubro de 1919, nas instalações da Escola de Aviação Naval (EAvN), então instalada nas Ilhas das Enxadas (RJ). No início do mês de fevereiro de 1920, mais um Macchi M-9 foi posto em serviço, seguido de um terceiro hidroavião em julho. No transcorrer deste ano, os últimos dois hidroaviões foram montados, sendo essas 5 aeronaves destinadas a Escola de Aviação Naval (EAvN). Nesta instituição os Macchi M-9 foram empregados em voo de adestramento do pessoal já diplomado e dos instrutores daquele estabelecimento militar de ensino aeronáutico. Nominalmente esta tarefa carecia de maiores exigências, os voos de adestramento cobravam seu preço, tendo em vista que em média 50% da frota estava sempre indisponível, passando por reparos. Em novembro de 1920, registrou-se o primeiro acidente com perda total da Aviação Naval da Marinha do Brasil, quando o Macchi M-9 de matricula “31” caiu na Baia de Guanabara, vitimando seus dois ocupantes. Reduzida a 4 apenas aviões deste modelo na frota, a Escola de Aviação Naval (EAvN), continuou empregando os Macchi M-9 nas tarefas de adestramento e formação do pessoal lotado naquela unidade. Apesar do esforço hercúleo do pessoal de manutenção da Aviaçao Naval da Mainha do Brasil, o ano de 1921 assistiu a recolhimento de 50% da frota existente de hidroaviões Macchi M-9 as oficinas a fim de passar por reparos e revisões de grande monta.
No transcorrer daquele ano, a Escola de Aviação Naval (EAvN) raramente logrou disponibilizar para voos de instrução os outros dois Macchi M-9, uma situação que se manteve durante o ano seguinte. Com a chegada do ano de 1923, esse cenário foi agravado pela perda de um dos hidroaviões. No entanto, em vista da chegada dos novos Curtiss MF, a crescente indisponibilidade daquelas aeronaves italianas, não mais representou um óbice maior devido as atividades da Escola de Aviação Naval (EAvN). Finalmente no dia 4 de setembro de 1923, foi dada a baixa em todas as células dos Macchi M-9 ainda em serviço na Aviação Naval da Marinha do Brasil. Em seguida as células foram sendo alienadas e vendidas como sucata para aproveitamento de matéria prima. 

Em Escala.
Para representarmos o Macchi M-7 da Aviação Naval matrícula "33" empregamos o kit da Fly na escala 1/48, apesar de ser um modelo com baixa qualidade de injeção, possui detalhamento em resina. A versão original representa o Macchi M.5, sendo assim necessário a realização de algumas conversões para compormos versão empregada pela Marinha do Brasil. Como não há no mercado um set de decais especifico para o modelo, fizemos uso de decais diversos produzidos pela FCM Decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura aplicado as aeronaves operacionais da Escola de Aviação Naval (EAvN) em sua primeira fase, sendo este padrão mantido nos Macchi M.7 e Macchi M.9 durante toda a sua carreira na Aviação Naval da Marinha do Brasil.



Bibliografia :

- Macchi M.7 Wikipedia  - https://en.wikipedia.org/wiki/Macchi_M.7
- Macchi M.9 Wikipedia  - https://en.wikipedia.org/wiki/Macchi_M.9
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr
- Aviação Militar Brasileira 1916 -  1984 - Francisco C. Pereira Netto