O veículo militar meia lagarta (Half Track) se caracteriza por possuir rodas com pneus na sua parte dianteira e lagartas na parte traseira, concedendo uma parcial, porém satisfatória capacidade off road para a transposição de terrenos de difícil deslocamento, sendo um conceito muito empregado na primeira metade do século passado e hoje completamente abandonado. A origem deste tipo de veículo remonta ao início da década de 1920, quando na Europa começariam a ser desenvolvidos e lançados vários modelos deste tipo para aplicação civil e militar, passando a ser classificados como de grande valor para a operação em ambientes fora de estrada. O veículo de maior destaque neste período era o Citroën-Kégresse P-17 de fabricação francesa, sendo desenvolvido inicialmente para o mercado civil e logo customizado para o emprego militar. A aplicação inicial almejada seria para transporte de tropas e carga na linha de frente (considerando sua capacidade inclusive de transpor trincheiras) porém sua ótima mobilidade no ambiente fora de estrada o tornaria uma plataforma ideal para emprego em combate vindo a ser armado com metralhadoras e canhões de 37 mm. Este desempenho e versatilidade levariam esta empresa francesa a conquistar vários contratos de exportação, e curiosamente o Exército Americano (US Army) se tonaria um dos principais clientes. Em 1932 o governo norte-americano lançaria uma concorrência internacional para a compra de até duzentos veículos este tipo, diversas propostas foram apresentadas, porém o Citroën-Kégresse P-17 em testes comparativos se mostraria muito superior a seus concorrentes nacionais, vencendo assim este processo, o modelo francês se tornando o primeiro veículo meia lagarta a equipar o Exército Americano (US Army). Apesar de saírem derrotados neste processo, as indústrias norte-americanas vislumbrariam um grande potencial futuro nesta categoria de veículo militar, gerando assim esforços para o aprimoramento de projetos desta ordem.
Entre estes fabricantes norte-americanos, estava a empresa James Cunninghan & Sons de Rocheste, sediada em Nova York, que despontava rapidamente no segmento automotivo nacional. Em maio de 1933 seria então apresentado ao comando do Exército Americano (US Army) um protótipo do caminhão blindado com tração meia lagarta designado como T-24. Este blindado seria testado em campo, porém como os Citroën-Kégresse P-17 ainda se encontravam e processo de recebimento e incorporação, o T-24 não seria adotado neste momento. Porém parte do conceito e do projeto original seriam utilizados pela equipe de engenharia da montadora White Motor Company, que em meados do ano de 1938 apresentou aos militares norte-americanos uma proposta para desenvolver um veículo com tração meia lagarta baseado no blindado sobre rodas com tração integral 4X4 que já se encontrava em serviço no Exército Americano (US Army) desde o ano de 1934. A empresa receberia uma sinalização positiva, e assim iniciaria o desenvolvimento do novo veículo, chegando a concluir o projeto bem a tempo de poder participar de uma nova concorrência lançada para a aquisição de pelo menos dois mil veículos com tração meia lagarta que seriam destinados ao transporte de tropas e tração de peças de artilharia. O protótipo da White Motor Company, receberia inicialmente a designação de “T-9 Half-track Truck”, e posteriormente de “T-14 Half-track Scout Car” e foi submetido a um amplo programa de testes de campo comparativo com os demais concorrentes. A aprovação da escolha do vencedor seria influenciada pelo fato da White Motor Company ja ter em seu portfólio um veículo em serviço ativo no exército, e como o T-9 Half-track Truck compartilhava além do chassi muitos itens com o M-3 Scout Car. Assim por questões logicas de custo e padronização, este modelo seria então declarado como vencedor da concorrência. O contrato de aquisição seria celebrado em meados de 1939 com sua produção em série sendo iniciada no ano seguinte, como neste período o governo norte-americano estava empenhado em implementar seu plano de reequipamento emergencial face as tensões geopolíticas, seria decido que a produção deveria ser realizada também nas instalações fabris da Autocar Company e Diamond T. Motor Car Company.

Em operação estes veículos apesar de receberem muitos elogios iniciais, apresentariam pequenos problemas de ordem técnica, com uma série de falhas sendo relatadas ao fabricante, demandas estas que levariam a uma revisão do projeto original. O atendimento a estas modificações resultariam no surgimento da versão M-2A1 Half track Car, que além dispor de alterações no conjunto mecânico apresentava como diferencial estético a inclusão de um suporte quadrado sobre o assento do auxiliar, onde era possível acoplar uma metralhadora Browning calibre .50 operada. O veículo receberia também novas metralhadoras Browning calibre .30 (abandonando o sistema de refrigeração a agua), que continuariam instaladas sobre os trilhos laterais, melhorando assim a capacidade de autodefesa da viatura. De acordo com subversão, o veículo poderia ainda a instalação de um guincho hidráulico instalado no para choque dianteiro (podendo ser empregado para desatolamentos). Já na parte traseira da carroceria, seriam instalados dois racks dois escamoteáveis para transporte de carga extra, infelizmente este modelo ainda não seria contemplando com a instalação de uma porta traseira de acesso, inovação esta que seria implementada somente nos modelos M3 Half track Car. Seu batismo de fogo ocorreria quando da invasão das Filipinas Exército Imperial Japonês em dezembro de 1941, onde dezenas de veículos foram extremamente importantes nos esforços de defesa da ilha, sendo muito empregados em tarefas de ressuprimento de cargas e tropas para as linhas de frente dos combates. Seu emprego em larga escala se daria durante a Operação Tocha, que teve lugar em 8 de novembro de 1942, quando os Aliados desembarcaram no Norte da África (Marrocos e Argélia), abrindo uma nova frente de batalha para as tropas do Afrika Korps naquele continente. Os M-2 e M-2A1 Half track Car, tiveram destacada e continua utilização na principais batalhas na Europa e também na campanha do Pacifico representando muitas vezes em terrenos adversos o sustentáculo da operação logística aliada.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano se mostrava extremamente preocupado com uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França enfim capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria mais claro e próximo da realidade. Se a Alemanha pudesse obter bases nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo. Além disso, as conquistas japonesas no Pacífico tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na guerra. Além deste aspecto, geograficamente o país era estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional (fundamentada na filosofia militar francesa) . Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.
Nesta época, curiosamente o Exército Brasileiro já operava uma pequena quantidade de veículos meia lagarta do modelo Somua e Citroën Kegresse de origem francesa que eram empregados na tração do aparelho de localização pelo som BBT (Barbier,Bernard & Turenne), o que facilitaria a operação de novos veículos deste tipo na Força Terrestre. Neste escopo de modelo meia lagarta, os aditivos deste programa norte-americana, previam a cessão de quatrocentos e trinta carros do modelo M-2 e M-2A1 e quarenta e nove da versão M-3, que deveriam ser entregues até final de 1943. Porém este cronograma seria profundamente alterando, tendo em vista a priorização no fornecimento deste tipo de veículo as forças aliadas que se preparavam para a invasão ao continente Africano e posteriormente Europeu, assim desta forma a grande parcela destes carros blindados só seria recebida ao término do conflito, e nunca nestas quantidades originalmente definidas. Mas de fato, a partir do início de 1942 começariam a ser recebidos no Brasil, os primeiros lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras, entre vários modelos, se encontravam os carros blindados meia lagarta, sendo dispostos na ordem de oito do modelo M-2, vinte e cinco M-2A1 Half Track , além de algumas poucas unidades das versões M-3 e M-3A1. Estes novos veículos, tinham como finalidade, equipar as recém-criadas unidades blindadas motorizadas e motomecanizadas, com os veículos blindados sendo distribuídos assim que disponibilizados. Já em serviço passariam a realizar missões de transporte de cargas e tropas, além de complementar os veículos blindados sob rodas com tração integral do modelo M-3A1 Scout Car, que operavam tracionando as junto as baterias de canhões anti-carro auto rebocados de M-3 de 37 mm. Curiosamente os modelos M-2 e M-2A1 Half Track não seriam fornecidos as tropas brasileiras da Força Expedicionária Brasileira - FEB durante a campanha da Itália.

Conforme previsto, logo após o termino da Segunda Guerra Mundial na Europa, o Brasil passaria a receber sucessivos lotes dos veículos meia lagarta, dispostos na versões M-2, M-2A1, M-3, M-3A1 e M-5, lembrando que ao contrário do primeiro lote, grande parte destes eram veículos usados sendo incluídos como material excedente de guerra, mas mesmo assim estavam em excelente estado de conservação. Os últimos veículos desta família seriam recebidos no porto do Rio de Janeiro em fevereiro do ano de 1947. O significativo acréscimo da frota, possibilitaria o Força Terrestres a aumentar a capacidade de mobilidade blindada do Exército Brasileiro, elevando sua operacionalidade a um patamar jamais alcançado, se equiparando as principais forças armadas no mundo naquele momento. A partir do ano seguinte, estes veículos, passariam a designados oficialmente no Exército Brasileiro, como Carro Blindado de Transporte de Tropas - CBTP, sendo destinados a equipar vários Batalhões de Infantaria Blindada (BIB), Esquadrões de Cavalaria Mecanizada (Esq.C.Mec) e Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado (Esqd.RC.Mec). Em serviço, além de serem empregados em missões de transporte de tropa e tração de peças de artilharia M-101 (M-2) AR 105 mm, os carros meia lagarta, os meia lagarta norte-americanos seriam utilizados como veículos porta morteiros, equipados com armas de 81 mm, e por fim como carro comando, equipados nesta versão modernos sistemas de rádios de longo alcance. Apesar de suas limitações de projeto referentes a proteção de seus ocupantes e baixa blindagem, os Carro Blindado de Transporte de Tropas – CBTP M-2 e M-2A1 Half Track , cumpririam a contento suas missões no Exército Brasileiro durante toda a sua carreira.
Em fins da década de 1960, os altos custos de manutenção e a crônica falta de peças de reposição (principalmente componentes do grupo motriz a gasolina cuja produção havia sido descontinuada a mais de vinte anos), praticamente reduziriam a frota dos Carros Blindados de Transporte de Tropas – CBTP a pouquíssimas viaturas operacionais, debilitando gravemente a capacidade de mobilidade do Exército Brasileiro. Apesar de já dispor em seu inventário de vinte blindados de transporte de tropas sob esteira do modelo FMC M-59 VBTP, e se encontrar em processo final de tratativas para a incorporação de centenas de blindados do modelo FMC M-113AO (cujas primeiras unidades seriam entregues em 1967), o comando do Exército Brasileiro ainda vislumbrava neste segmento de veículos blindados a existência de uma preocupante lacuna operacional de curto prazo. Uma alternativa plausível se baseava na remotorização da frota atual destes veículos blindados, demandando assim o inicio de estudos para a viabilização técnica deste programa. Caberia então a equipe de técnicos do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2) de São Paulo a tarefa de se desenvolver este processo. Este programa de repotencialização teria como principal objetivo atingir o maior nível de nacionalização possível, com esta equipe elencando as áreas prioritárias de customização na produção destes componentes. Apesar de existirem tabus dentro do Exército Brasileiro sobre a real capacidade técnica em se proceder um repotenciamento neste nível, o consenso derivaria para que fosse dado prosseguimento a esta pauta. Como protótipo para este programa seria escolhido uma viatura do modelo M-2, com os trabalhos seriam rapidamente iniciados, neste contexto apresentava-se como objetivo crucial a troca do motor original a gasolina, por um nacional a diesel, com a escolha recaindo sobre o modelo produzido no pais, o Perkins 6357 de 6 cilindros com 142 hp de potência.

Em Escala.
Para representarmos o White Motors M-2A1 Half Track "EB10-395" tivemos de proceder uma customização (pois não existe um kit regular no mercado desta versão ), partindo de um modelo tipo “snap” na escala 1/32 do fabricante New Ray, que apresenta a versão M-16. Assim procedemos em scratch a construção de seu interior, envolvendo assentos, laterais, sistema de rádio e parte traseira, complementando o conjunto com detalhamento em resina (acessórios). Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products pertencentes ao set "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982".
Bibliografia:
- Meia Lagartas no
Exército Brasileiro por Expedito Carlos S. Bastos - Revista Hobby News Nº 27
- Blindados no
Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos
- M2 Half Track Car - Wikipedia -
http://en.wikipedia.org/wiki/M2_Half_Track_Car
- M3 Half Track Car - Wikipedia -
http://en.wikipedia.org/wiki/M3_Half-track