Jeep Willys M-38A1 e M-38A1C

História e Desenvolvimento.
Em fins da década de 1930, seriam produzidos pela Bantan Car Company of Butler os primeiros setenta veículos utilitários leves com tração 4X4, que se tornariam a gênese da mais famosa linha de veículos militares do mundo, a família "Jeep". Em seu emprego operacional inicial, este novo modelo permitiria as forças de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army), explorar grande potencial de mobilidade, realizando com sucesso em uma variada gama de tarefas. Esta perspectiva levaria a decisão em se adotar em larga escala o modelo nas forças armadas norte-americanas, culminando assim na abertura de concorrência para o desenvolvimento de uma versão aprimorada deste carro, para assim ser adquirido em larga escala. Em fins do ano de 1941, após um controverso processo de avaliação e contratação, sua produção teria início junto as plantas fabris da American Bantam Company,  Ford Motors Company e Willys-Overland Company. Os primeiros veículos de série de seriam entregues ao Exército do Estados Unidos (US Army), a partir de março do ano seguinte. Seus usuários passaram a se referir ao veículo pelo acrônimo "GP" (General Purpose - Proposito Geral), que na língua inglesa soava na pronúncia como "jeep". Curiosamente a palavra "jeep" era a única pronunciada por um personagem de quadrinhos muito famoso da década de 1930 chamado Eugene, que era o bicho de estimação de Olívia Palito, namorada do marinheiro Popeye. Este simpático personagem era detentor de uma variada gama de poderes, como super força e capacidade de caminhar pelas paredes e tetos. Assim graças a popularidade do desenho animado, os soldados passaram a chamar seus veículos de “Jeep” em alusão aos seus poderes. O termo "Hey, he's a real Jeep!" (Ei, ele é um verdadeiro Jeep!), era constantemente empregado para pessoas que apresentavam uma capacidade física superior. Durante toda a Segunda Guerra Mundial, a produção desta versátil família de utilitários leves superaria mais de meio milhão de carros, destes 363.000 produzidas pela Willys Overland Company e cerca de 280.000 entregues pela Ford Motors Company. O modelo seria ainda um dos principais expoentes do Programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com mais de 51.000 unidades fornecidas somente para a União Soviética, além de milhares mais, para os países aliados.    

O término da Segunda Guerra Mundial em agosto de 1945, levaria a uma desmobilização quase que imediata dos esforços de produção industrial militar dos Estados Unidos. Desta maneira, todas as indústrias de defesa norte-americanas, seriam profundamente afetadas por cancelamentos nos contratos de produção. Entre estas empresas estava a Willys Overland Company, que neste momento dedicava quase que a totalidade das linhas de produção e ferramental para a produção da família Jeep. Porém mesmo do término do conflito esta montadora já elucidava esforços para buscar em curto espaço de tempo uma profunda reorientação estratégica de seu portifólio automotivo, com a solução mais promissora apontando para o mercado civil, salientando Willys Overland Company deteria uma grande vantagem de marketing, tendo em vista neste período a Ford Motors Company, seria judicialmente impedida de fazer uso da marca "Jeep".  Nascia assim em fins de 1944, a versão civil do valente veterano de guerra, que passaria a receber a denominação de Willys CJ-2 (Civil Jeep), sendo completados quarenta carros pré-série. Porém sua produção só atingiria a escala industrial a partir de julho de 1945, com um novo modelo melhorado, o CJ-2A. Embora seu design fosse diretamente baseado no Willys MB militar, e apesar de fazer uso do mesmo motor Willys Go Devil (com carburador e sistema de ignição diferentes), estes não seriam apenas despojados de todas as características militares, apresentando também muitas diferenças significativas nas características da carroceria e construção em comparação com o jipe militar. O Willys-Overland CJ-3A seria introduzido em 1949, e esteve em produção até 1953, quando substituído pelo CJ-3B. Ele era alimentado pelo motor de quatro cilindros L-134 Go-Devil de 60 cv (45 kW; 61 cv) da Willys, com transmissão T-90 e caixa de transferência Dana 18, eixo dianteiro Dana 25 e eixo traseiro Dana 41 ou 44. Neste momento as Forças Armadas Norte-Americanas iniciariam um processo de renovação de frota que incluiria a curto prazo a substituição de grande parte da frota dos antigos modelos Willys MB e Ford GPW utilizados na Segunda Guerra Mundial. A solução óbvia recairia sobre viatura baseada nestes utilitários de grande sucesso, com Willys Overland Company recebendo um contrato de desenvolvimento para esta finalidade. 
Em 1950, a montadora apresentaria o novo modelo Willys M-38 G-740 (identificado como um "MC"), este era uma versão melhorada, baseada no CJ-3A. Visualmente podia ser distinguido pela presença de uma nova grande frontal que passou a   ter sete aletas de ventilação por causa do tamanho dos faróis (os MB possuíam nove aletas e faróis embutidos). Estava dotado com características militares específicas, incluindo um para-brisa dobrável de uma peça, montado na parte inferior, limpadores de para-brisa, gancho para reboque, manilhas de içamento e sistema de abastecimento de combustível no lado do motorista. Um conjunto de ferramentas primordiais (machado e pá) seriam instaladas no lado do passageiro, sendo também empregados pneus de maiores dimensões (7:00x16), e seria adotado um novo sistema elétrico à prova d'água, exigindo uma segunda bateria. A suspensão e o quadro do Willys M-38 eram mais robustos que o presente na versão civil Willys CJ-3A, apresentando ainda um eixo traseiro totalmente flutuante. Outras características distintivas do M-38, incluíam faróis salientes (com fios de proteção na frente), uma saída de ar na base do para-brisa, luzes blackout e entalhes para várias ferramentas. O modelo militar não dispunha de um degrau externo (incluído no CJ-3A), para melhorar a distância ao solo facilitando o embarque. Entre os acessórios previstos incluíam-se guinchos hidráulicos Ramsey (com um peso líquido de 2.745 libras), equipamentos para vadear depressões e sistema de respiração especial para permitir a passagem de vales em riachos. Alguns jipes Willys M-38 seriam configurados especialmente para operações nivelamento leve de solo (sendo esta considerada uma versão raríssima) com lâminas controladas hidraulicamente. Os modelos destinados a operar em áreas de clima extremo de inverno incluíam um gabinete rígido (carroceria e capota), todo em metal. O painel de instrumentos do Willys M-38 era um exercício de simplicidade, assim como seus antecessores. Os instrumentos estavam agrupados no centro com iluminação externa, com as placas de dados à direita e um porta-luvas na extrema direita. 

Os primeiros carros pré-série seriam extensamente avaliados junto ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland), sendo logo homologados para uso operacional.  Em janeiro de 1951 seria celebrado um primeiro contrato para cinco mil veículos que passariam a ser entregues no segundo semestre do mesmo ano. Este seriam implantados no principal teatro de operações durante a Guerra da Coreia (1950-1953) sendo empregados pelo Exércitos dos Estados Unidos (US Army) e pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (US Marine Corps). Mais contratos seriam firmados logo em seguida, com o modelo ficando conhecido também na Europa pela utilização por unidades militares norte-americanas na então Alemanha Ocidental. Aproximadamente dois mil e trezentos jipes M-38, seriam fabricados pela Ford Motors do Canadá para as Forças Armadas Canadenses a partir do ano de 1952, sendo localmente designados como jipe M38-CDN. Um grande número seria produzido para o mercado de exportação atendendo a contratos da Suíça, França, Holanda (M-38 NEKAF) e Bélgica. Neste meio tempo a pedido do comando do Exércitos dos Estados Unidos (US Army), já se encontrava em desenvolvimento uma nova versao deste utilitário, com este projeto culminando em fevereiro de 1952 no lançamento do MD  M-38A1 Truck, Utility G-758. Este seria o primeiro jipe a apresentar uma carroceria significativamente reestilizada, imediatamente reconhecível por seu capô arredondado e para-lamas, servindo de base para o novo modelo comercial CJ-5 produzido initerruptamente por três décadas entre os anos de 1954-1983. Seria também o modelo a fazer uso do novo motor Willys Hurricane F-Head 134 de quatro cilindros em linha, e por este apresentar um perfil mais alto, levaria a necessidade de redesenho de sua carroceria, principalmente na parte frontal. Os primeiros carros de série começariam a ser entregue em meados do mesmo ano, sendo regularmente equipados com uma metralhadora Browning M2 calibre.50 ou equipamento de rádio e montagem de antena.  Em seguida seria celebrado um grande contrato para o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (US Marine Corps), sendo customizados especialmente com maior proteção contra corrosão naval e para choques reforçados para permitir a instalação de anéis de elevação para aerotransporte. Além do mercado doméstico, grandes lotes destes veículos seriam montados sob licença no Canadá (M-38A1CDN)  e na Holanda (M-38 DAF YA-054) e por fim na Coréia do Sul  com os modelos Kia KM410 e Keohwa M-5GA1. 
Em 1953 seria apresentada a versão “canhoeira” M-38A1C, equipada com um canhão sem recuo M-40A1 106mm, acoplada a este estava um fuzil semiautomático M-8C calibre .50 (com seu cartucho sendo 22 mm curto do que o da metralhadora calibre .50 padrão). Este sistema serviria para direcionamento do tiro do canhão, sendo disparado primeiramente para garantir a efetividade de atingimento do alvo pelo projetil de 106 mm. Várias dezenas de M-38A1s seriam convertidos, montando um sistema de armas nucleares tático Davy Crockett, disparado por um rifle liso de grande diâmetro sem recuo, um M-28 de 120mm, ou um canhão M-29 155mm. Este veículo transportava dois projéteis M-388, montando a ogiva nuclear Mk-54, que apresentava um alcance efetivo entre 2 e 4 km, dependendo do tipo de canhão empregado. Este sistema de armas receberia a designação de “Battle Group Atomic Delivery System" (Sistema de entrega atômica do grupo de batalha), sendo alocado em unidades aerotransportadas. Por fim seria desenvolvida a versão ambulância o M-170 Frontline Ambulance,  com uma distância entre eixos aumentada em 51 cm (que posteriormente seria o chassi base para a versão civil CJ-6), possibilitando transportar até seis passageiros sentados, ou três deitados em macas.  Entre os anos de 1950 e 1971, seriam produzidos mais de 140.000 veículos de todos os modelos, com estes passando a ser substituídos nas forças armadas norte-americanas gradualmente a partir de 1960 pelos novos Ford M-151 Mutt. Este processo levaria ao armazenamento de milhares destes jipes que posteriormente seriam incluídos como itens de portifólio dos programas de ajuda de militar demandados pelos Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos. Neste contexto veículos dos modelos M-38, M-38A1 e M-38A1C seriam cedidos as forças armadas de Bangladesh, Brasil, Chade, Cuba, Croácia, Egito, El Salvador, Guatemala, Israel, Ira, Jordânia, Katanga, Laos, Líbano, Líbia, Mianmar, Nicarágua, Paquistão, Portugal, Congo, Rodésia, Suíça e Turquia. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O início da operação militar no Brasil de veículos utilitários leves com tração integral (4X4) do tipo jipe, teria sua origem no ano de 1942, mediante a adesão do governo brasileiro ao programa de ajuda militar norte-americano,  Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Neste contexto de acordo com os termos estabelecidos ficava previsto a cessão de quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes fornecimentos não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família, começariam a ser recebidos no país em lotes a partir de março 1942, mesclando veículos novos e usados, oriundos da frota ou da reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos (US Army). Destes, 655 seriam entregues diretamente na Itália para uso junto a Força Expedicionária Brasileira (FEB), trazendo uma experiencia operacional sem igual para a Força Terrestre, o que permearia ao longo dos anos vindouros a doutrina motomecanizada brasileira. O emprego deste substancial frota de utilitários leves, em conjunto com demais veículos de transporte de diversos modelos, entre meados das décadas de 1940 e 1950, proporcionaram as Forças Armadas Brasileiras e mais notadamente ao Exército Brasileiro uma capacidade de mobilidade para sua força de infantaria sem igual até aquele período. No entanto o passar dos anos, logo traria o peso do desgaste operacional e a consequente obsolescência, resultando em preocupantes índices de indisponibilidade na primeira metade da década de 1950. Grande parte cenário acabaria sendo provocado por falta atendimento aos processos críticos de manutenção e deficiências na obtenção de peças de reposição. A fim de sanar esta problemática, que afligia principalmente o Exército Brasileiro, o governo federal passaria a estudar a aquisição de um lote de fábrica dos novos jipes Willys M-38 ou Ford M-151 Mutt, os sucessores naturais dos veteranos Ford GPW e Willys MB, afim substituírem uma parcela considerável de sua frota deste tipo utilitário. 

Estudos preliminares realizados durante o ano de 1954, apontavam que deveriam ser adquiridos entre trezentas e seiscentas viaturas destes modelos elencados, possibilitando assim retirar de serviço os veículos mais desgastados que se encontravam em operação desde o ano de 1942. No entanto o investimento total previsto para o atendimento para esta demanda, se mostraria inviável do ponto de vista orçamentário para aquele momento.  A alternativa então, passaria a ser pautada na aquisição de viaturas usadas, assim seriam iniciadas tratativas junto ao Departamento de Estado do governo norte-americano, fazendo uso dos termos previsto nos auspícios do programa do Acordo Militar Brasil – Estados Unidos, celebrado no ano de 1952.  Porém inicialmente a totalidade da demanda não seria atendida, pois neste momento o Exército dos Estados Unidos passava a receber os primeiros lotes do Ford - Kaiser M-151 Mutt não havendo ainda disponíveis para a cessão de uma quantidade representativas dos jipes Willys M-38.  Assim os primeiros jipes deste modelo só passariam a ser disponibilizados ao Exército Brasileiro a partir de meados do ano de 1956, sendo recebidos juntamente com uma grande quantidade de carros de combate, caminhões, peças de artilharia e armamentos de infantaria. Um total de noventa jipes do modelo M-38A1 e vinte da versão canhoneira M-38A1C, seriam desembarcadas no porto do Rio de Janeiro em julho deste mesmo ano. Estes novos utilitários com tração integral 4X4 se mostrariam muito superiores aos modelos em operação até então, e logo passariam a ser distribuídos as unidades operacionais, substituindo assim os jipes mais antigo em uso. Teria assim início o movimento de recuperação da capacidade mobilidade da força, sendo também classificados no Exército Brasileiro como Viatura de Transporte Não Especializado 4X4 (VTNE). 
Porém a grande novidade para o Exército Brasileiro, ficaria por conta da incorporação da versão “canhoneira” M-38A1C, equipada com o canhão sem recuo M-40 de 106 mm, marcando a introdução deste tipo de arma de artilharia na Força Terrestre.  Visualmente este modelo se diferenciava por apresentar um novo para-brisa, dividido em duas partes, possuindo entre estas partes um suporte para fixar o canhão quando este não estava em uso. Por este motivo o vidro não basculava, somente o quadro inteiro. Não dispunha de tampa traseira e era dotado de dois pequenos assentos sobre os paralamas traseiros para os artilheiros, além de uma espécie de suporte sobre o assoalho traseiro para alojar os obuses do canhão. Apresentava também pá e machado nas laterais, uma em cada lado, além do estepe e o galão transferidos para o lado direito. Em termos de mecânica a principal diferença estava baseada em seu sistema de suspensão, que passava a ser reforçada com molas helicoidais sobre os feixes, uma em cada lado. Esta alteração se fazia necessária para o veículo suportar um forte solavanco para traz, quando do disparo do canhão sem recuo M-40 de 106 mm. Este sistema de armas quando montado sobre o jipe Willys M-38A1C se mostrava de operação bastante ági,l e sua mobilidade no campo de batalha representava o seu ponto forte, estando perfeitamente adaptado para as características dos conflitos daquela época. Os utilitários Willys M-38A1C “Canhoneiros” passariam a ser identificados pela nomenclatura de VTE (Viatura de Transporte Especializado) CSR (canhão sem recuo) 1/4 tonelada 4x4, e possuíam o código de inscrição de matrícula de frota “EB22”. 
 
Anteriormente em 1950, seria aprovada uma nova regulamentação para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que caracteriza uma profunda mudança de orientação, preparando assim o corpo para plena capacidade operativa com ênfase em operações anfíbias, criando  a Força de Fuzileiros de Esquadra ou FFE. No entanto este regulamento não determinava o início das operações, e sim apenas previa sua necessidade, pois neste momento ainda faltava a Marinha do Brasil os meios para a implementação desta nova doutrina. Nos anos seguintes seriam incorporados os primeiros navios de transporte de tropas e desembarque de veículos e carros de combate. Faltava agora a incorporação de veículos que permitissem o emprego em operações de desembarque anfíbio, a solução se daria em 1958 quando do recebimento de cinquenta jipes divididos entre os modelos Willys M-38A1 e M-38A1C, com estes veículos usados sendo oriundos dos estoques de reserva do Exército dos Estados Unidos (US Army). O advento da introdução desta arma iria trazer a Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE) novas capacidades ofensivas e defensivas, proporcionando uma capacidade de projeção de força em operações de desembarque anfíbio. Entre os anos de 1957 e 1959, mais duzentos jipes Willys dos modelos M-38A1 e M-38A1C seriam recebidos nos termos de programas de ajuda militar norte-americanos, com sua totalidade representando veículos usados, muitos dos quais com baixa quilometragem e excelente estado de conservação que recentemente haviam sido substituídos pelos novos modelos Ford – Kaiser M-151A1 e M-151A1C. Nos anos seguintes mais jipes Willys M-38A1 seriam recebidos e distribuídos ao Exército Brasileiro e ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil.
O jipe Willys M-38A1, seria empregado pelo Exército Brasileiro em um cenário de conflagração real, quando da participação das tropas pertencentes ao Batalhão Suez quem compunham a Força de Emergência das Nações Unidas - UNEF (United Nations Emergency Force). Estes veículos eram pertencentes a Organização das Nações Unidas (ONU), e seriam comodatados aos países participantes. Entre os anos de 1956 e 1957 estas viaturas atenderam operacionalmente aos vinte contingentes brasileiros participantes desta missão, operando desde missões de reconhecimento patrulha. Estes utilitários participariam nos esforços de minimização do número de   confrontos entre os lados egípcio e israelense. A partir do ano de 1959 a necessidade de substituição da frota remanescente de jipes Ford GPW e Willys MB, levaria o comando do Exército Brasileiro a derivar para a adoção de utilitários militarizados dos modelos Willys CJ-2, CJ-3, CJ-4 e CJ-5, incluindo neste contexto uma versão do jipe canhoneiro.  Nos anos seguintes a incorporação de constante lotes destas viaturas nacionais militarizadas deflagariam no Exército Brasileiro um gradual processo de desativação dos Willys M-38A1 e M-38AC, com os últimos sendo baixados no ano de 1984. Este processo se repetiria no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), com modelos M-38A1 sendo suplantados pelos novos Willys CJ-5 e os M-38A1C pelos modelos canhoneiros dos Willys CJ-5 e Toyota Xingu, com os últimos sendo retirados de serviço somente  no ano de 1989. 

Em Escala.
Para representarmos o Jipe Willys M-38A1C  "Canhoneiro” pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), fizemos uso do antigo kit produzido pela Skybow na escala 1/35. Para se compor a versão utilizada pelas Forças Armadas Brasileiras, não é necessário proceder nenhuma mudança, com o modelo podendo ser montado diretamente da caixa. Fizemos uso de decais produzidos pela Decal & Books , presentes no set especial “Forças Armadas do Brasil 1983 – 2002”.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um dos diversos padrões de camuflagem  tática aplicadas aos veículos pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) durante as décadas de 1970 e 1970. Tanto os veículos da Marinha do Brasil, quanto os do Exército Brasileiro foram recibos nas cores do Exército dos Estados Unidos (US Army). Durante sua carreira no país, diversos padrões de pintura foram aplicados. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors. 
 

Bibliografia : 

- O Jeep Militar no Brasil - http://jeepguerreiro.blogspot.com/ 

- Batalhão Suez -   http://www.batalhaosuez.com.br   

- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133. 

- Jeep Willys M-38 Wikipidia  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB 

- Primeiro Jeep Nacional https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/willys-jeep-universal-ford-jeep-cj-5/ 

M-40 (106 mm) Canhão Sem Recuo

Origem e Desenvolvimento.
O desenvolvimento do conceito técnico do “Canhão sem Recuo (CSR)”, teve seu início na década de 1910, quando o inventor e comandante Cleland Davis da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Seu primeiro protótipo funcional do sistema que seria denominado como “Davis Gun”, seria concluído em setembro de 1912, se diferenciava dos demais canhoes por uma retro abertura que permitia a saída dos gases provocados pelo disparo da sua munição, não apresentando assim o habitual movimento de recuo da arma dos modelos convencionais. O sistema estava baseado em duas armas do mesmo calibre, consecutivas interligadas, com uma virada para trás carregada de bolas de chumbo e graxa do mesmo peso que a concha na outra arma. Esta simplicidade operacional tornava o conjunto do equipamento mais leve que os tradicionais canhões de pequeno calibre, podendo ser empregado com maior mobilidade pelas tropas manualmente ou em pequenos veículos como os primeiros utilitários automotores. Durante a Primeira Guerra Mundial, esta arma seria empregada com certa limitação, e apesar de conceitualmente serem desenvolvidas como arma anticarro, seria experimentalmente usado pelos britânicos como arma anti-zeppelin e antissubmarino. A União Soviética desenvolveria a partir de 1923, o Canhão de Reação Dinâmica - DRP (Dinamo Reaktivna Pushka) sendo muito semelhante ao modelo norte-americano. Neste contexto, durante a década de 1930 seriam produzidas e testadas diversas armas, com calibres que variavam entre o 37 mm e o 305 mm, com os modelos de menor calibre sendo instalados em aeronaves como os bombardeiros leve Grigorovich IZ e Tupolev I-12. O Canhão sem recuo mais conhecido e difundindo neste período, surgiria no ano de 1935, sendo desenvolvido pelo engenheiro russo Leonid Kurchevsky, fazendo uso do calibre de 76 mm. Este modelo receberia seu batismo de fogo em 1939, durante a Guerra de Inverno, também conhecida como a Guerra Soviético-Finlandesa ou Guerra Russo-Finlandesa, operando montados em caminhões de médio porte. Duas destes canhões sem recuo, seriam capturados pelas forças finlandesas e entregues a observadores do Exército Alemão (Wehrmacht). 

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército dos Estados Unidos (US Army) faria uso nas fases finais do conflito de canhões sem recuo dos modelos M-18 de 57 mm e  M-20 de 75 mm, sendo empregados principalmente como arma anti carro, não recebendo nenhuma significativa evolução tecnológica neste período. Neste segmento de artilharia, os esforços de desenvolvimento seriam concentrados em sistemas de lança granadas foguetes portáteis, como os Panzerschrecke e Panzerfaust alemães (este quais tiveram grande êxito quando empregado em operações de invasão aerotransportadas), e a Bazooka norte-americana. Perto do final da guerra, se encontrava em desenvolvimento um canhão sem recuo com promessa de maior eficiência contra as novas blindagens dos carros de combate alemães, passando a fazer uso do calibre de 105 mm, este projeto receberia a designação de M-27. Em maio de 1945 com a rendição alemã, este projeto e muitos mais seriam descontinuados devido ao abrupto contingenciamento de verbas para a defesa. A partir de 1949, o intensificar das possíveis ameaças expansionistas representadas pelo bloco soviético levaria a retomada do investimento militar norte-americano com o projeto do canhão sem recuo M-27 sendo priorizado. As escaramuças que agora se pronunciavam na península coreana, levariam a aceleração deste processo, com esta nova arma sendo produzida às pressas após o início da Guerra da Coréia em junho de 1950. As primeiras peças do M-27 seriam postas em combate a partir de outubro do mesmo ano, e logo em um ambiente de operação e conflagração real, seriam constatados graves problemas de confiabilidade, alto peso do conjunto, dificuldade na montagem mira e disparo. Neste momento os veteranos canhões sem recuo  dos modelos M-18 de 57 mm e M-20 de 75 mm, seriam preteridos para uso em relação ao novo modelo de maior calibre. 
Apesar deste alto grau de falhas, apresentado em combate durante a Guerra da Coreia (1950 - 1953), o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), ainda acreditava no conceito de um canhão sem recuo de maior calibre, solicitando assim a equipe técnica do Watervliet Arsenal, que fossem buscadas soluções para a melhoria do projeto do canhão sem recuo M-27. Deste trabalho surgiria uma nova arma de artilharia, fazendo uso agora do calibre de 106 mm, apresentava um formato de tubo longo, com um rifle semi automático M-8C de calibre .50 montado acima, destinado a refinar o sistema de mira. Seu dispositivo de elevação e gatilho eram proporcionados por uma roldana no centro da peça, que servia também para acionar a arma. Todo o conjunto era montado em suporte em formato de trié designado como M-79, na perna frontal estava instalada uma roda de rodízio, centro da roda de rolagem. Este possuía uma roda de travamento, e quando abaixada, seu rifle passava a ser travado em rotação, e só poderia ser movido para a direita e para a esquerda com a roda de deslocamento. O canhão seu recuo seria dimensionado apenas para tiro direto, com seus equipamentos de mira para esse fim sendo fornecidos com cada arma, incluindo um rifle M-8 apontador. Este sistema simples, legava a arma um baixo peso de transporte podendo ser transportado em veículos leves, ser içado e aerotransportado pela primeira geração de helicópteros leves e ser lançado de paraquedas. As primeiras peças seriam entregues para avaliação a partir de fins de 1954, sendo homologadas para emprego operacional em dezembro do mesmo ano. Um primeiro contrato de produção seria celebrado em janeiro de 1957, com as primeiras entregas ao Exército dos Estados Unidos (US Army) em maio do mesmo ano. Logo em seguida seriam encomendados os primeiros duzentos canhões sem recuo M-40A1C para o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (US Marine Corps), com estes entrando em serviço ativo a partir de abril do ano de 1958.   

Ao ser incorporado em serviço nas unidades do Exército dos Estados Unidos (US Army), os novos M-40 106 mm passariam a ocupar a posição, com uma das principais armas antitanque e anticarro , fazendo uso de munições do tipo 105 × 607mm M-344A1 HEAT (High-explosive anti-tank warhead), podendo também empregar projeteis M-466A1 HEP (High Explosive Plastic), M-598A1 HEAP (High Explosive Anti-Personal) e Canister. Especificadamente no papel antipessoal poderia ser empregada munição do M-581 APERST (Antipersonnel-tracer flechette round). Salientamos que apesar de sua munição ser oficialmente classificada como calibre 106 mm, na verdade pertencia ao calibre 105 mm, sendo somente designada assim para evitar o emprego da munição incompatível deste mesmo calibre desenvolvida anteriormente para o canhão sem recuo M-27. Como ponto de destaque, a munição M-344A1 HEAT fabricada originalmente nos Estados Unidos, lograria êxito em penetrar mais de 400 mm de blindagem. Posteriormente munições deste tipo produzidas na Áustria e a Suécia seriam capazes de penetra mais de 700 mm de blindagem.  Além de ser tracionado manualmente quando usado por tropas de paraquedistas os canhões sem recuo M-40 passariam a ser montados em incialmente em jipes Ford - Kaiser M-151A1/C Mutt e Willys M-38A1C, e depois em veículos blindados de transporte de tropas M-113 e Mulas Mecânicas M-274. Uma versão especial denominada “Onto” seria desenvolvida sendo composta com nada menos do que seis destas armas instaladas em veículos blindados sob esteiras. Em países ocidentais de primeiro mundo os M-40 seriam empregados principalmente como armas anticarro durante as décadas de 1950 e 1960. Porém a crescente evolução da tecnologia de misseis, proporcionaria uma gradual substituição do M-40 por sistemas de armas deste tipo, sendo completamente suplantados e desativados em 1970 no Exército dos Estados Unidos (US Army) pelos misseis BGM-71 TOW. Um grande lote destas armas seria armazenado como reserva estratégica. 
Os canhões sem recuo M-40 lograriam também grande sucesso no mercado internacional, com milhares de peças sendo exportadas para as forças armadas de  Angola, Austrália, Áustria, África do Sul, Bahrein, Bangladesh,  Bolívia, Brasil, Burkina Faso, Camboja, Camarões, Canada, Chad, Chile, China, Colômbia, Congo, Coreia do Sul, Republica Dominicana, Dinamarca , Egito, Equador, El Salvador, Estônia, Espanha, Emirados Árabes, França, Filipinas, Gabão, Guatemala, Grécia, Haiti, Honduras, Holanda, Índia, Ira, Iraque, Israel, Itália, Japão, Laos, Líbano, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malásia, Mauritânia, México, Marrocos , Mianmar, Nova Zelândia, Nicarágua , Nigéria, Noruega, Paquistão, Peru, Portugal , Rodésia, Singapura, Somália, Sri Lanka, Sudão, Suriname, Suíça, Suriname, Síria, Taiwan, Tunísia, Turquia, Uruguai , Venezuela e Zimbábue. Além da produção local nos Estados Unidos, os canhões sem recuo M-40 106 mm, seriam fabricados na Áustria, China, Índia, Irã, Paquistão, Coréia do Sul e Espanha. Seu batismo de fogo se daria durante a Guerra do Vietnã, porém estes canhões teriam destacada participação em diversos conflitos regionais ao longo do século passado, como a Guerra Ira x Iraque, Guerra Indo Paquistanesa, Guerra Civil Líbanesa e a Guerra Civil na Somália, atuando principalmente como arma de apoio da infantaria e também em combates contra veículos blindados ligeiros. Apesar de estarem operando há quase setenta anos, em muitas nações os M-40 106 mm, seguem desempenhando suas funções, devendo permanecer em serviço pelo menos por mais vinte anos.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras. 
O desenvolvimento da doutrina operacional voltada a técnicas de combate anticarro e antitanque no Exército Brasileiro, teve seu início durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil ao aderir ao esforço de guerra aliado passaria a ter acesso a modernas armas de artilharia constantes no portifólio do programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Neste momento seriam recebidas grandes quantidades dos canhões anticarro e antitanque leves dos modelos M-1 de 57 mm e M-3 e M-3A1 de 37 mm. Uma grande parte destas armas passariam a equipar os regimentos de infantaria, esquadrões de reconhecimento motorizado e baterias de canhões anti-carro auto rebocados, já a outra parte estava destinada a compor os efetivos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que se preparava para lutar na Itália. Não existem registros concretos ou fotográficos sobre o real emprego destes canhões antitanque em ações reais de combate, especula-se que, no entanto, estas peças de artilharia seriam empregadas com afinco no processo de treinamento ministrado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) para pracinhas brasileiros já em solo italiano. Outra teoria corrobora que o front italiano não estava entre os prioritários e que não receberia a mesma atualização em termos de armamentos mais modernos a exemplos de outros teatros de operação, desta maneira não seriam cedidos também canhões sem recuo dos modelos M-18 de 57 mm e M-20 de 75 mm. No entanto todo este aprendizado em solo italiano, passaria a ser replicado as demais unidades do Exército Brasileiro, quando do retorno ao Brasil do contingente da Força Expedicionária Brasileira. Em fins da década de 1950 mais armas destes tipos seriam recebidos no país, mas já havia a clarificação que eram armas já obsoletas para o emprego em tarefas antitanque, se fazendo necessário então promover um novo ciclo de modernização deste segmento de artilharia, com o Ministério do Exército passando a estudar alternativas a esta importante demanda. Este trabalho culminaria em um relatório que indicaria necessidade de aquisição de um grande lote de canhões sem recuo do modelo M-40 106 mm, sucessor natural dos antigos modelos M-1 de 57 mm e M-3 e M-3A1 de 37 mm. 

Tratativas seriam feitas junto ao governo norte-americano, fazendo uso dos termos previsto nos auspícios do programa do Acordo Militar Brasil – Estados Unidos, celebrado no ano de 1952. Diversos programas de modernização seriam inclusos nestas negociações, que culminariam no recebimento, de carros de combate, caminhões, armas portáteis, canhões convencionais e os primeiros canhoes sem recuo   do modelo M-40 106 mm. Estes últimos seriam recebidos em 1956 juntamente com pequeno lote de jipes canhoneiros Willys  M-38A1C. Prontamente seriam colocados em serviço, e após um breve período de treinamento e adaptação seriam disponibilizados inicialmente aos Batalhões de Infantaria Blindada – BIB, onde provocariam uma grande evolução na doutrina operacional da Força Terrestre. O grande êxito operacional levaria o comando do Exército Brasileiro a negociar junto ao Departamento de Estado (Dod) norte-americano mais um lote destas armas, com este pleito sendo atendido e partir do ano de 1959. Com a questão do fornecimento garantido restava agora providenciar a plataforma para sua operação em campo, tendo em vista que desta vez este pacote não incluiria os jipes Willys M-38A1C. Porém neste mesmo momento a Willys Overland do Brasil, passava a fornecer jipes civis “militarizados” as Forças Armadas Brasileiras, sendo então a pedido do Exército Brasileiro, ser desenvolvida uma versão do jipe canhoneiro com base no Willys CJ-5. Estes carros começariam a ser entregues a partir de 1962, podendo assim ampliar a distribuição dos “novos” canhoes M-40 de 106 mm a novas unidades operacionais. Curiosamente a primeira experencia de operação destas armas em um cenário de possível conflagração real se daria no segundo semestre do ano de 1965, quando um contingente de soldados e oficiais passou a compor a  Força Interamericana de Paz, que fora constituída pelos Estados Unidos em conjunto com a Organização dos Estados Americanos (OEA) na Republicana Dominicana, força multinacional esta que contaria também com a participação de efetivos militares  de Honduras, Paraguai, Nicarágua, Costa Rica e El Salvador. 
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos ficaria encarregado de prover em termos de suprimento e equipamento, as nações participantes desta iniciativa, com este pacote prevendo ao Exército Brasileiro a cessão de oitenta e oito jipes dos modelos Ford Kaiser  M-151A1, M-151A1C (estes últimos equipados com canhão sem recuo M-40 de 106 mm). Neste período sob tutela de oficiais norte-americanos, os efetivos brasileiros receberiam toda a instrução necessária para operação e manutenção básica deste sistema de armas. Estes veículos seriam entregues as tropas brasileiras, quando do desembarque do primeiro contingente no país caribenho em 25 de maio de 1965. Com o fim de intervenção da Força Interamericana de Paz (IAPF)  em 21 de setembro de 1966, estes veículos juntamente com os canhões M-40 106 mm seriam doados ao Brasil, sendo transportados por navios da Marinha do Brasil, juntamente com os efetivos do último contingente do Exército Brasileiro. Em fins da década de 1960, fazendo uso nos termos do Military Assistance Program – MAP (Programa de Assistência Militar), o Exército Brasileiro passaria a receber uma grande quantidade de veículos, armamentos e munições, que seriam destinados a promover um novo ciclo de modernização da Força Terrestre. Entre estes equipamento e armas, se encontravam cinquenta canhões sem recuo do modelo M-40A1 106 mm, oriundos estes dos estoques da reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos (US Army). A necessidade em aumentar a disponibilidade destes sistema de armas no Exército Brasileiro, levaria a negociação junto ao Watervliet Arsenal,  para a produção sob licença no país. Este processo culminaria em um acordo para fabricação local destas peças junto a empresa Hydroar S/A Indústria Metalúrgica e ao Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). Contando agora com um número considerável de canhões sem recuo do modelos M-40 e M-40A1 106 mm, estes passariam a dotar mais Batalhões de Infantaria Blindada (BIB) e Batalhões de Infantaria Paraquedistas (BIPQDT), com cada grupamento recebendo a dotação de quatro peças desta arma de artilharia anticarro.  

No ano de 1958, os canhões sem recuo M-40 e M-40A1 106 mm, passariam a ser empregados também pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), quando da aquisição de um pequeno número de jipes Willys M-38A1C. O advento da introdução desta arma iria trazer a Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE) novas capacidades ofensivas e defensivas, proporcionando uma capacidade de projeção de força em operações de desembarque anfíbio. Tanto no Exército Brasileiro quanto na Marinha do Brasil, os canhões sem recuo M-40 e M-40A1 106 mm, operariam com uma variada gama de munições como os tipos M-344 e M-344A1 HEAT (anticarro, antipessoal, contra edifícios e contra fortificações) e M-581 APERST (Antipersonnel-tracer flechette round). Esta última munição disparava como carga centenas de flechetes com poder de atuação e saturação. Em operação, os canhões sem recuou, apesar de apresentarem fácil manuseio de operação, alta velocidade de tiro, poder de impacto e resultados confiáveis em campo, possuíam como principal desvantagem, o alto estampido do disparo e a consequente grande geração de fumaça provocada pelo escape das gazes, denunciando facilmente ao inimigo a posição do atirador. Junto ao Exército Brasileiro, estes canhões seriam mais habitualmente operados a bordo de veículos utilitários leves, como os jipes Willys M-38A1C, WOB CJ4 e CJ-5, Ford Kaiser M-105A1C, Toyota Xingu, recebendo a designação operacional de VTE CSR  1/4 ton 4x4 (Viatura de Transporte Especializado- Canhão sem recuo). Seriam também empregados temporariamente montados nos blindados de transporte de tropas VBTP M-113, com testes sendo realizados também para operação a bordo de versões modificadas do utilitário nacional militarizado Gurgel X-15. Atuariam neste contexto operacional contra veículos leves e em tarefas de apoio a infantaria. 
Em meados da década de 1980, o Ministério do Exército, passaria a estudar opções para aquisição de mísseis anticarro e antitanque que pudessem substituir a contento os canhões em recuo M-40A1 de 106 mm, seguindo assim um movimento realizado anteriormente por outras nações.  Diversas alternativas seriam estudadas envolvendo a produção sob licença de misseis como o norte-americano TOW (Hughes), sueco Bill (Bofors) e o Missile Anticarro della Fanteria (MAF), da italiana Oto Melara em parceria com a brasileira Engesa S/A. Porém neste meio tempo, ganhariam destaques iniciativas voltadas ao desenvolvimento do Programa Nacional do Sistema de Armas Míssil Superfície-Superfície Anticarro MSS 1.2 AC, com este passando a ser priorizado. Este programa seria oficialmente iniciado no ano de 1986, com a criação da empresa Órbita Sistemas Aeroespaciais S.A, de São José dos Campos, uma sociedade com 40% de capital da Engesa S/A , 40% da Embraer S/A, e os demais 20% sendor divididos entre as empresas Indústria de Material Bélico do Brasil -IMBEL, Esca  Ltda e Parcom Ltda, com este míssil sendo batizado MSS-1.2 LEO, em homenagem ao ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves. No entanto durante à década de 1990 o cenário político-econômico nacional impactaria em seu desenvolvimento, resultando em um grande atraso. A solução tampão seria atendida através da aquisição de canhões sem recuo portáteis do modelo Carl Gustav de 84 mm, adotados também pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN). Esta operação conjunta dos canhões sem recuo M-40 e M-40A1 106 mm com os Carl Gustav de 84 mm e lança rojão AT-4 perduraria até o ano de 2010, quando seria decidido iniciar o programa de desativação dos canhões  M-40 e M-40A1 106 mm, com este culminando a edição da Portaria Nº 64 -EME, de 0507/2011, que oficialmente desativaria este sistema de armas no Exército Brasileiro. Este movimento seria seguido no mesmo período pela Marinha do Brasil, encerrando assim uma carreira de quase cinquenta anos. 

Em Escala.
Para representarmos o “Canhão sem Recuo M-40A1 106mm", fizemos uso do excelente kit da AFV Club na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro ou pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), bastando apenas seguir as orientações do manual não sendo necessário implementar nenhuma modificação. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o único padrão de pintura empregado nas Forças Armadas Brasileiras, desde o recebimento das primeiras peças em 1956 e nos lotes subsequentes, mantendo este esquema até sua retirada de serviço em fins do ano de 2011. 


Bibliografia: 
- M-40 Recoilless Rifle  - Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M40_recoilless_rifle
- O Brasil e a Rep Dominicana  Bruno P . Vilella http://www.uff.br
- MSS 1A2  https://www.forte.jor.br/2018/09/01/brasil-leva-mais-de-30-anos-para-desenvolver-missil-anticarro

Dodge M-37, M-43 & M-56

História e Desenvolvimento.
Em 1900, os irmãos John F. Dodge e Horace E. Dodge decidiram construir um automóvel diferente dos modelos existentes no mercado naquele momento. Passando inicialmente a produzir quase que artesanalmente dezenas de veículos, este processo evoluiria para um status de produção em série a partir do ano de 1914. Agora a montadora denominada como Dodge Brothers Motors Company, logo ganharia notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio, passando a conquistar um importante fatia daquele mercado. Este sucesso permitiria a empresa a amealhar recursos para iniciar em meados da década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários para emprego no mercado comercial civil. Infelizmente, pouco tempo depois os irmãos fundadores faleceriam, com a empresa em 1928 passando a integrar o conglomerado de empresas da Chrysler Corporation. Os primeiros modelos utilitários criados e lançados no mercado, eram baseados nas plataformas dos veículos comerciais de passageiros desta mesma marca, resultando assim em menores investimentos para projeto e produção. A exemplo dos veículos de passeio desta montadora, esta nova série de veículos alcançaria rapidamente excelentes resultados comerciais em vendas no mercado interno, provando que marca Dodge também poderia ser associada a robustez no transporte de cargas e outras atividades pesadas em ambientes fora de estrada. Na primeira metade da década de 1930, um preocupante cenário geopolítico começava a se avizinhar na Europa, principalmente na Alemanha. Este movimento passaria a preocupar uma série de nações entre elas o próprio Estados Unidos, que apesar de sua política aparente de neutralidade, estava sempre a antecipar possíveis ameaças futuras. Neste contexto em 1934, a montadora direcionaria seus investimentos ao promissor nicho de mercado milita, levando ao desenvolvimento dos primeiros projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de porte médio e grande. Em 1937, a empresa realizaria ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) uma apresentação oficial de seu primeiro modelo experimental, um caminhão de 1 ½ toneladas com tração integral nas quatro rodas, designado como K-39-X-4. Este veículo seria submetido a teste de campo, com seus resultados gerando ótimas impressões junto aos militares, com este processo culminando na assinatura de um contrato de quase oitocentos caminhões. Neste mesmo período ficava cada vez mais evidente que as forças armadas norte-americanas deveriam ser emergencialmente modernizadas e reequipadas, visando fazer frente as ameaças geopolíticas.  Em junho de 1940 o Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) já havia testado e aprovado seus três primeiros caminhões comerciais padrão, com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 1⁄2 tonelada 4x4, o GMC 2 de ½ tonelada 6x6 e o Mack ½ tonelada 6X6. Definiu-se que cada uma das principais montadoras receberia um contrato para a produção de uma classe específica de caminhões.

Assim no verão de 1940, a montadora Dodge - Fargo Division da Chrysler seria agraciada com um contrato para a produção de quatorze mil unidades do modelo de meia tonelada com tração integral 4X4, que seria denominado pelo fabricante como série VC.  Sua produção em série em larga escala teve início em novembro de 1940 e logo após o início da Segunda Guerra Mundial o modelo teve sua designação original alterada para WC (Weapons Carriers), com letra “W“ para representar o ano do início da produção (1941) e C para classificação de meia tonelada, sendo que o código C, posteriormente seria mantido para a tonelada ¾ e 1 ½ tonelada 6×6, com o primeiro modelo desta família sendo representado pela versão G-505 WC de  ½ tonelada. Os modelos Dodges WC-1 e WC-50 pertenceriam a faixa de veículos de  ½ tonelada, sendo novamente intercambiáveis em 80% em componentes de serviços dos novos modelos da linha de 3/4 toneladas lançados posteriormente. Em 1942, a carga útil seria atualizada, com sua linha de caminhões se dividindo entre o modelo 3⁄4 toneladas, 4×4 mais curto denominado como G-502 com tração integral 4X4 e o modelo G-507 mais longo de ½ tonelada que seria destinado a transporte de carga e tropas que passava a contar com tração integral 6X6. Curiosamente a montadora reteria confusamente os códigos de modelo da família de utilitários Dodge WC. Embora as versões de 3⁄4 toneladas apresentassem melhorias significativas no design, estes novos veículos manteriam o percentual de componentes intercambiáveis, e peças de serviço com os modelos de ½ toneladas, sendo este um requisito exigido pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) para a manutenção em campo e a operacionalidade dos caminhões próximos a linha de frente. Novamente o grande percentual de intercambialidade. Esta característica de projeto facilitaria em muito o processo de logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito seriam desenvolvidas um total de trinta e oito variantes, entre elas, transporte de tropas, carga, ambulância, carro comando, estação móvel de comunicações, canhoneiro com arma de 57 mm , oficina leve, reconhecimento, entre outros. Ao  todo até 1946, seriam produzidos aproximadamente 535.000 veículos de todos os modelos representando um recorde em termos de veículos desta categoria. Este sucesso seria proporcionado pela enorme resistência em campo e custo-benefício de construção e operação.   
O término da Segunda Guerra Mundial em agosto de 1945, levaria a uma desmobilização quase que imediata dos esforços de produção industrial militar dos Estados Unidos. Desta maneira, todas as indústrias de defesa norte-americanas, seriam profundamente afetadas por cancelamentos nos contratos de produção. Entre estas empresas estava a Dodge Motors Company  que neste momento dedicava quase que a totalidade das linhas de produção e ferramental para a produção da família WC.  Desta maneira, a diretoria desta montadora, elucidaria esforços buscando emergencialmente uma reorientação estratégica de seu portifólio automotivo, com a solução mais promissora apontando para o mercado civil. Visando reduzir custos, e acelerar o processo de desenvolvimento de uma nova linha de utilitários, seriam empregados os projetos originais da família militar WC, fazendo uso inclusive de todo o ferramental existente. Após o encerramento do último contrato militar com a entrega dos Dodges WC-52 restantes, a empresa passaria a se dedicar a este novo projeto, com este se alongando durante todo o ano de 1946, com o primeiro protótipo conceitual sendo concluído em março do ano seguinte. Durante os anos de 1948 e 1949 mais cinco protótipos seriam apresentados, com a plataforma básica agora também apresentando uma possível versão militar. No entanto as versões civil e militar seriam definidas até maio de 1950, com o primeiro veículo piloto do lote de pré-produção deixando a linha de montagem da Warren Truck Assembly no dia 14 de dezembro do mesmo ano. Como previsto este modelo empregava muitos componentes da família militar WC, incluindo o motor Dodge T-245 seis cilindros de 78 hp de potência (derivado do antigo modelo civil Chrysler Straight-6 desenvolvido na década de 1930) e seu sistema de transmissão mecânico de quatro marchas. Como diferencial principal passava a apresentar um chassi de picape comercial (modelo WDX), substituindo o conjunto militar original, simplificando e barateando assim produção. A produção em série do novo utilitário comercial com tração integral 4X4 com foco no mercado comercial teria início em janeiro de 1951, e rapidamente passaria a conquistar uma significativa parcela em vendas deste nicho específico. 

Neste mesmo período o Exército dos Estados Unidos (US Army) iniciaria estudos preliminares, visando a aquisição de novo utilitário de porte médio a fins de iniciar um gradual processo de substituição de uma parte da frota de Dodges WC-51 e WC-52 Beep, que se encontravam em serviço desde o início da década de 1940. Antes mesmo de ser aberta uma concorrência a montadora apresentaria a versão militar do seu novo utilitários o Dodge M-37. Por se tratar de uma evolução dos modelos já em serviço e apresentar similaridades em termos de processo de manutenção e peças de reposição, essa passaria a ser a solução mais lógica.   Um primeiro contrato seria celebrado em abril de 1951, envolvendo um modelo equipado com o confiável motor a diesel Dodge T-245 que desenvolvia 78 hp de potência, operando em conjunto com uma caixa de mudanças manual Model 88950 4X2. Este grupo motriz proporcionava uma velocidade final máxima de 89 km/h com uma autonomia de 362 km, apresentando uma performance superior quando comparado aos antigos Dodges WC-51 e WC-52 Beep. Até o final deste mesmo ano seriam entregues ao Exército dos Estados Unidos (US Army), um total de onze mil veículos deste modelo, passando de imediato a substituir as viaturas mais antigas dos modelos de utilitários ainda em serviço. Seu batismo de fogo se daria durante a Guerra da Coreia (1950 - 1953), com os primeiros veiculando sendo despachados para a península coreana em maio de 1952 onde seriam operados em conjunto com os Dodges WC-51 e WC-52 Beep. A demanda gerada por novos contratos com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD), manteria a linha de produção em plena operação, sendo completados até meados de 1954 mais cinquenta e duas mil viaturas. Além da versão básica picape, seriam desenvolvidos modelos especializados como o M-42 Carro Comando, M-43 Ambulância, M-56 Oficina, M-B2 bombeiro e R-2 Veículo de Resgate de Aeroporto. Em 1958, o projeto original seria submetido a estudos voltados a busca de aperfeiçoamentos de ordem mecânica, e paralelamente seriam aplicadas mudanças no design, gerando assim uma nova versão que receberia a designação de  M-37B1. Este modelo seria empregado em cenários reais de conflagração durante as fases iniciais da Guerra do Vietnã, estando a serviço do Exército dos Estados Unidos e do Exército da República do Vietnã (ARV). Até o final do ano de 1968 seriam produzidos mais quarentas e sete mil viaturas dispostos nos modelos M-37B1, M-201V41 Veículo de Manutenção Telefônica, M-283 Veículo de Carga (LWB),  M-596 Veículo de transporte de Peroxido de Hidrogênio (projeto Red Stone), V-126 Plataforma móvel para sistema e radar AN/MPX-7, além de três modelos experimentais XM-152, XM-708 e XM-711 destinados a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). 
Entre os anos de 1951 e 1955, um total de quatro mil e quinhentos veículos desta família, seriam montados sob licença no Canada, recebendo a designação de M-37CDN e a denominação local de “Power Wagon", sendo dispostos principalmente nas versões básicas de transporte e ambulância. Parte destes veículos canadenses já usados, seriam repassados as foças armadas gregas e israelenses, onde permaneceriam e serviço por muitos anos. A partir do ano de 1968 os Dodge M-37 e M-37B1 começariam a ser substituídos no Exército dos Estados Unidos (US Army) pelos novos utilitários Kaiser Jeep M-715.  Embora estes novos veículos apresentassem uma maior capacidade nominal de carga (1 1⁄4 ou cinco quartos de tonelada), se tratava de "Veículos comerciais prontos para uso- Cots (Commercial Off-The-Shelf) militarizados. Assim em uso inicial seriam considerados por seus usuários, como pouco potentes e frágeis, em comparação com os caminhões táticos Dodge M-37. Este processo de substituição geraria um grande excedente de veículos em considerável bom estado de conservação, que após serem retirados de serviço, passariam a ser fornecidos a países como Argentina, França, Espanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Grécia, Irã, Cuba, Portugal, África do Sul, Israel e Suíça, através de programa de ajuda militar patrocinados pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos. Seriam empregados também em diversos conflitos regionais como Guerra Civil no Camboja, Revolução na Nicarágua, Guerra Civil em El Salvador e Guerra Civil na Guatemala. Até fins da década de 1990 ainda existiam centenas destes veículos em operação militar a redor do mundo.   

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Os primeiros veículos militares utilitários com tração 4X4 fabricados pela Dodge Motors Company, começariam a ser empregados pelo Exército Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial quando nos termos do programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos) seriam recebidos em fins de 1942 as primeiras unidades dos veículos utilitários com tração integral 4X4 Dodge WC-51 e WC-52 Beep. A introdução em serviço no Exército Brasileiro, destes novos utilitários com tração integral 4X4 contribuiriam fundamentalmente para elevar a doutrina operacional da força terrestre a outro patamar. Para compor a frota de veículos militares a disposição da Força Expedicionária Brasileira (FEB), seriam disponibilizadas cento e quarenta oito unidades do Dodge WC-51 e trinta Dodge WC-52, constam nos registros que pelo menos três WC-51 seriam entregues a Força Aérea Brasileira que os empregaria em tarefas de transporte de pilotos e cargas em atendimento as missões das unidades do 1º Grupo de Avião de Caça (1° GAvCa) e 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ºELO). Até meados do ano de 1945, seriam entregues as Forçar Armadas Brasileiras um total de novecentos e cinquenta e quatro viaturas destes modelos. Logo no início do período pós-guerra a frota destas viaturas que ganharam o carinhoso apelido de “Dodge Japão” passariam a ser gradativamente sendo distribuídos a diversas unidades espalhadas pelo território nacional. Assim ao longo dos anos seguintes estes utilitários prestariam por muitos anos, excelentes serviços as Forças Armadas Brasileiras.  Em meados da década de 1950, a frota nacional de utilitários dos modelos Dodges WC-51 e WC-52 começava a apresentar um baixo índice de disponibilidade operacional, causado em virtude de graves problemas no fluxo de obtenção no mercado internacional de peças de reposição (tendo em vista que o modelo fora descontinuado pelo fabricante em 1946). Este cenário se agravaria a cada ano, gerando grande preocupação ao comando do Exército Brasileiro, afetando incisivamente a capacidade de mobilidade da Força Terrestre. Neste contexto passariam a ser feitos estudos visando a busca de uma solução a curto prazo, para o atendimento desta importante  demanda.  

Neste contexto a aquisição dos sucessores naturais dos modelos em uso, os novos Dodge M-37 e M-43 se mostraria inviável, pois deviam ser incorporados, algo na ordem de mais de mil e duzentas viaturas (necessidade mínima para substituição dos antigos modelos Dodge WC-51, WC-53, WC-54, WC-56 e WC-57), com este investimento total, excedendo a dotação orçamentaria do Ministério do Exército, dedicada originalmente a este programa de renovação de frota. Esta realidade também seria compartilhada junto aos dois demais ramos das Forças Armadas Brasileiras. A solução então, deveria ser adequada a realidade orçamentaria daquele momento, fazendo assim os olhares se voltarem para indústria nacional automotiva.  Nesta época a Willys Overland do Brasil (WOB) já havia se consolidado como uma das mais importantes montadoras em operação no país, já sendo um habitual fornecedor de veículos militares ao Exército Brasileiro. Seriam então desenvolvidas versões militarizadas com base nas plataformas do modelo Rural Willys, entre estes o modelo Camioneta Militar Jeep Willys 3/4 ton 4x4” , que seria customizado para o atendimento a uma variada gama de missões, com uma grande parte da frota sendo equipadas com suporte para o emprego de metralhadoras de 12,7 mm ou 7,62 mm. Variantes mais especificas seriam empregadas ainda com plataforma para canhões sem recuo M-40A1 106 mm e lançamento de  foguetes não guiados (versão M-106).  A introdução destes modelos a partir do ano de 1962, viria a recuperar a capacidade operacional da Força Terrestre, porém por ser um veículo civil “militarizado” não apresentava a mesma capacidade e robustez dos antigos Dodge WC-51 e WC-52, gerando assim uma lacuna na frota. Neste mesmo período o Ministério do Exército, fazendo uso dos termos do Programa de Assistência Militar – Brasil Estados Unidos (MAP), passaria a negociar junto ao Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos um grande pacote visando a aquisição carros de combate, blindados de transporte de tropas, veículos leves e caminhões militares que seriam dedicados a tão necessária renovação dos meios do Exército Brasileiro.
Estes esforços a partir do ano de 1964, resultariam no recebimento de centenas de veículos de transporte, destinados a equipar não só Exército Brasileiro, mas também a Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil. Entre os veículos militares que seriam destinados ao país, previam-se a cessão de uma grande quantidade de utilitários com tração integral 4X4 do modelo básico Dodge M-37, M-56 carro de manutenção de telecomunicações, e da versão ambulância M-43 ambulância (se tratando este último do tipo M-615). A partir de abril de 1966, começariam a ser recebidos no porto do Rio de Janeiro – RJ os primeiros lotes, logo aferia-se que grande parte da frota se encontrava me excelente estado de conservação. E conforme eram descarregados, já passavam a ser separados por destino, para assim serem empregados entre os três ramos das Forças Armadas. Como esperado, o Exército Brasileiro receberia a maior quantidade de veículos Dodge M-37, M-56 e M-43 ambulância, passando estes a serem imediatamente distribuídos as unidades de infantaria e médicas que ainda operavam os veículos remanescentes dos antigos modelos  Dodges WC-51 e WC-52 e W-C54 Ambulância. Esta decisão seria motivada pelo alto índice de intercambialidade de peças de reposição com estas veteranas viaturas, visando assim manter o maior índice de disponibilidade possível. O emprego real no dia a dia na Força Terrestre, seja em operações cotidianas ou em exercícios operacionais, logo mostrariam as excepcionais qualidades do modelo, superando em muitos seus antecessores. Curiosamente os registros fotográficos de época, não comprovam no país, o recebimento da versão do M-37 equipada com guincho hidráulico Braden LU-4 PTO.  Ao longo dos seguintes, o recebimento de novas viaturas nacionais militarizadas, permitiria fechar o ciclo operacional dos Dodges WC-51 e WC-52 e W-C54 Ambulância, com seus sucessos ser tornado a viatura mais robusta neste segmento em operação no Exército Brasileiro. Pelo menos dez M-37 e cinco M-43 seriam destinados a Força Aérea Brasileira, sendo operados como viaturas orgânicas de bases aéreas, Comandos Regionais e hospitais da Aeronáutica. 

A partir do ano de 1968 seriam recebidos pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN) pelo menos três dezenas do modelo Dodge M-37. A introdução deste utilitário com tração integral representaria um salto qualitativo em termos de capacidade de mobilidade dos batalhões de infantaria da Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE). Em 1971, seria incorporado a Marinha Brasileira, o navio norte-americano de  desembarque de carros de combate da classe LST 511 – 1152, esta seria a primeira embarcação da esquadra brasileira a contar com a capacidade de permitir o desembarque de veículos sob rodas diretamente nas praias, possibilitando assim os Dodge M-37 a operar diretamente nas missões de desembarque anfíbio. E em abril de 1974 estes utilitários seriam empregados em grande escala durante a Operação Dragão IX, desembarcando no teatro de operações fictício,  a partir do navio de desembarque de carros de combate NDCC Garcia D'Avila - G 28. Os Dodge M-37 pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN) se mantiveram em serviço até meados da década de 1980, quando passaram a ser substituídos completamente pelos novos Toyota Bandeirante na versão militar.  No Exército Brasileiro os Dodge M-37 receberiam o carinhoso apelidado de “Pata Choca” por parte da tropa, se mantendo em uso pelas décadas de 1970 a 1990. Já os M-43 Ambulância e o M-56 de seriam os primeiros modelos a serem retirados do serviço ativo, sendo substituídos viaturas de  fabricação nacional. Curiosamente em fins da década de 1980,  os Dodge M-37 ganhariam uma sobrevida, com algumas dezenas de carros sendo repotencializados, recebendo o motor diesel de produção nacional Perkins OM4236 (Q20B) que passaria a operar em conjunto com uma caixa de mudanças Clark de cinco  marchas a frente e uma a ré. Este processo estenderia sua vida útil até meados da década de 1990, quando seriam substituídos pelos novos Engesa EE-34.

Em Escala.
Para representarmos o Dodge M-37 pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), empregamos o kit da Roden na escala 1/35. Modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão com o guincho mecânico frontal. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals e Books presentes no set " Forças Armadas do Brasil".

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o último padrão de pintura tático empregado nos veículos leves e médios do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Inicialmente estes, bem como as viaturas destinadas as demais Forças Armadas, seriam recebidas no esquema padrão do Exército dos Estados Unidos (US Army). Ao longo dos anos seguintes os Dodge M-37, M-43 e M-56  em serviço no Exército Brasileiro e na Força Aérea Brasileira receberiam padrões distintos de pintura e marcações.



Bibliografia : 
- Dodge M-37  – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947
- Revista da FFE – Edição Comemorativa de aniversário da Força de Fuzileiros da Esquadra