Breguet 14A2 e 14B2

História e Desenvolvimento. 
Louis Charles Breguet, nascido em 1880, integrava uma tradicional família francesa profundamente ligada às ciências exatas e à engenharia. Fiel a esse legado, formou-se engenheiro eletricista, mas desde muito cedo passou a dedicar atenção especial às experiências e inovações que despontavam no então incipiente campo da aviação. Sua curiosidade científica e vocação experimental logo o colocariam entre os pioneiros do setor aeronáutico europeu. Em 1905, Breguet projetou e construiu um túnel de vento de concepção avançada, empregado em ensaios sistemáticos com aerofólios, iniciativa que marcou o início de suas contribuições relevantes à aerodinâmica aplicada e à engenharia aeronáutica. Dois anos mais tarde, em 1907, concebeu e construiu sua primeira aeronave, um pequeno biplano experimental, cuja realização representou um ponto de inflexão em sua trajetória profissional. Esse esforço culminaria, em 1911, na fundação da Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet, empresa destinada a se tornar uma das mais influentes da indústria aeronáutica francesa. Ainda em 1911, um dos primeiros aeroplanos projetados por Breguet estabeleceu um recorde internacional de velocidade em um voo de dez quilômetros, conferindo projeção imediata à jovem companhia. No ano seguinte, 1912, a empresa ampliou seu campo de atuação ao projetar e produzir seu primeiro hidroavião, demonstrando notável versatilidade técnica e capacidade de inovação. Nos anos que se seguiram, diversos projetos foram desenvolvidos, mas foi com o Breguet III que a empresa consolidou sua reputação como um dos principais fornecedores da então recém-estruturada Aviação Militar Francesa (Aviation Militaire Française). Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet assumiu papel de grande relevância no esforço de guerra francês, passando a produzir uma ampla gama de aeronaves militares, incluindo bombardeiros, aviões de reconhecimento e caças de escolta. As aeronaves de reconhecimento, em particular, distinguiram-se pelo desempenho superior e pela robustez, sendo amplamente empregadas durante o conflito e permanecendo em serviço ativo mesmo no período pós-guerra, ao longo da década seguinte. Os primeiros anos do conflito forneceram à equipe de projetos da empresa lições fundamentais, evidenciando a necessidade de aeronaves de combate mais eficientes, com maior alcance, carga útil e desempenho global, em comparação aos modelos disponíveis em 1914. À luz dessas experiências operacionais, em junho de 1916, a empresa iniciou o desenvolvimento de uma inovadora aeronave biplana de porte médio, concebida para cumprir missões de bombardeio e reconhecimento com autonomia suficiente para realizar incursões profundas em território inimigo. Tal conceito representava um avanço significativo para os padrões tecnológicos da época e despertou considerável entusiasmo entre os comandantes militares franceses, que vislumbravam naquele projeto um importante incremento de capacidade ofensiva. Com os parâmetros técnicos e operacionais devidamente definidos, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet deu início à construção do protótipo, designado Type AV. 

O primeiro voo da nova aeronave ocorreu em 21 de dezembro de 1916, nas proximidades de Paris, tendo o próprio Louis Charles Breguet atuado como piloto de ensaios nessa etapa inicial, fato que ilustra não apenas seu envolvimento direto com o desenvolvimento do projeto, mas também o espírito pioneiro que caracterizou sua contribuição à história da aviação. O Breguet Type AV foi formalmente inscrito, ainda em dezembro de 1916, em um programa lançado pela Seção Técnica da Aviação Militar Francesa (Aviation Militaire Française), o qual previa o desenvolvimento de quatro novos tipos de aeronaves de combate, destinadas a atender às crescentes e cada vez mais complexas exigências operacionais impostas pela Primeira Guerra Mundial. O edital estabelecia, como diretriz preferencial, o emprego dos consagrados motores espanhóis Hispano-Suiza 8A, um V-8 de 180 hp, amplamente reconhecido por sua robustez, eficiência mecânica e elevado desempenho, já comprovados em aeronaves emblemáticas como o SPAD S.VII e o Sopwith Camel. Apesar dessa orientação inicial, a direção da Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet optou por adotar, no desenvolvimento do Type AV, o motor francês Renault 12 FE, um V-12 de 200 hp, que oferecia maior potência e atendia às ambições de desempenho previstas para a aeronave. Tal decisão, fundamentada em critérios técnicos e industriais, foi plenamente aceita pelas autoridades militares francesas, permitindo que o projeto prosseguisse para a etapa seguinte de avaliação, já enquadrado nas categorias de bombardeio e reconhecimento. Ao longo dos primeiros meses de 1917, o Type AV foi submetido a um rigoroso e abrangente programa de ensaios em solo e em voo, conduzido sob a supervisão direta da Aviação Militar Francesa. Desde as avaliações iniciais, a aeronave chamou a atenção por sua concepção estrutural inovadora, que incorporava materiais e técnicas construtivas avançadas para os padrões da época, refletindo a visão pioneira de Louis Breguet e de sua equipe de engenharia. O elemento mais distintivo do projeto era o uso extensivo do duralumínio, uma liga de alumínio desenvolvida na Alemanha por Alfred Wilm cerca de uma década antes, ainda pouco difundida no meio aeronáutico militar. A adoção desse material conferia à aeronave uma combinação notável de leveza estrutural e elevada resistência mecânica, representando um avanço significativo em relação às construções predominantemente em madeira então em serviço. Entre as principais características estruturais do Type AV destacavam-se: Fuselagem: a seção traseira era constituída por tubos de aço soldados, enquanto outras partes combinavam duralumínio com encaixes de tubos de aço, reforçados por amarrações de fio de piano, garantindo rigidez e integridade estrutural. Asas: construídas a partir de tubos retangulares de duralumínio, complementados por calços de madeira de carvalho; os pontos de fixação eram protegidos por baías revestidas em chapas de aço, assegurando maior durabilidade. Componentes em madeira: o emprego de compensados em áreas específicas contribuía para a redução do peso total sem comprometer a resistência estrutural.
A utilização de materiais tão inovadores gerou, inicialmente, ceticismo entre oficiais da Aviação Militar Francesa, pouco familiarizados com o emprego do duralumínio em aeronaves de combate. Todavia, à medida que os ensaios avançavam, os resultados obtidos dissiparam essas reservas. O Type AV demonstrou desempenho consistente, boa margem estrutural e qualidades de voo compatíveis — e, em certos aspectos, superiores  às expectativas do programa. Concluído com êxito o ciclo de avaliações, o programa de ensaios em voo do Breguet Type AV foi oficialmente aprovado, e a aeronave recebeu autorização para cumprir as funções de bombardeio e reconhecimento previstas pelo Serviço Técnico da Aviação Militar Francesa. Esse resultado não apenas validou as escolhas técnicas adotadas no projeto, como também consolidou a Société Breguet como uma das empresas mais inovadoras e influentes da aviação militar europeia durante a Primeira Guerra Mundial. Durante o programa de ensaios, o protótipo demonstrou desempenho amplamente satisfatório, atingindo a expressiva velocidade máxima de 172 km/h a 2.000 metros de altitude (aproximadamente 6.600 pés), um resultado notável para uma aeronave de médio porte concebida para missões de reconhecimento e bombardeio naquele estágio da Primeira Guerra Mundial. Esse desempenho confirmou a solidez das soluções técnicas adotadas no projeto e reforçou a confiança das autoridades militares em seu potencial operacional. Diante dos resultados positivos obtidos nos testes, as tratativas avançaram rapidamente para a formalização de um contrato de produção em série. A Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet intensificou seus preparativos industriais e comunicou oficialmente ao governo francês, em 2 de março de 1917, que os gabaritos de produção encontravam-se concluídos, sinalizando plena capacidade para iniciar a fabricação em larga escala. Poucos dias depois, em 6 de março de 1917, a empresa recebeu sua primeira encomenda oficial, contemplando a produção de 150 aeronaves de reconhecimento, que passaram a ser designadas Breguet 14 A.2. Em sequência, em 4 de abril do mesmo ano, foi emitido um segundo pedido, prevendo a construção de 100 unidades da versão de bombardeio, identificadas como Breguet 14 B.2. A versão de reconhecimento Breguet 14 A.2 foi equipada com um conjunto de quatro câmeras fotográficas instaladas na fuselagem, destinadas a missões de observação aérea e levantamento fotográfico do campo de batalha. Algumas aeronaves receberam ainda sistemas de rádio de longo alcance, ampliando significativamente suas capacidades de coordenação e transmissão de informações em tempo real. Já a versão de bombardeio Breguet 14 B.2 incorporava racks de bombas fabricados pela Michelin, instalados nas asas inferiores, com capacidade para transportar até 32 bombas de 115 mm (4,5 polegadas), adequadas às missões de ataque tático então empregadas pela Aviação Militar Francesa.

As primeiras entregas do Breguet 14 A.2 às esquadrilhas de observação ocorreram em maio de 1917, enquanto os Breguet 14 B.2 passaram a equipar as unidades de bombardeio a partir de outubro do mesmo ano. Rapidamente, o Breguet 14 destacou-se como uma aeronave de desempenho excepcional nas funções de bombardeio, observação e reconhecimento, superando muitos de seus contemporâneos. Entre suas principais qualidades operacionais, sobressaíam-se: Robustez estrutural: o amplo emprego de duralumínio na treliça da fuselagem conferia elevada resistência e, simultaneamente, menor peso estrutural quando comparado às aeronaves que ainda dependiam majoritariamente de estruturas em madeira. Velocidade elevada: o Breguet 14 apresentava desempenho superior ao de muitos caças contemporâneos, o que aumentava sua sobrevivência em missões sobre território inimigo e ampliava sua eficácia operacional. A combinação de robustez, leveza e desempenho acima da média consolidou o Breguet 14 como uma das aeronaves mais eficazes e bem-sucedidas de sua geração, exercendo papel de grande relevância nas operações da Aviação Militar Francesa ao longo da Primeira Guerra Mundial. O desempenho consistente do modelo levou as autoridades militares francesas a determinarem um expressivo aumento na produção, a fim de atender às crescentes demandas do conflito. Para viabilizar esse esforço industrial, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet estabeleceu parcerias com diversas empresas, às quais foram atribuídas quotas específicas de fabricação: Darracq et Cie: responsável pela produção de 330 aeronaves; Compagnie Générale des Établissements Michelin SCA: encarregada da construção de 600 células e  Farman Aviation Works: contratada para a produção de 120 aeronaves. Essa ampla rede de cooperação industrial permitiu escalar rapidamente a produção do Breguet 14, assegurando o fornecimento contínuo das versões A.2 (reconhecimento) e B.2 (bombardeio) às forças armadas francesas, fortalecendo de maneira decisiva sua capacidade aérea e contribuindo para o esforço de guerra aliado durante a Primeira Guerra Mundial. Com o objetivo de mitigar o risco de descontinuidade no fornecimento do motor Renault 12 FE V-12, elemento vital do projeto, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet adotou uma política de flexibilidade industrial, incorporando alternativas de motorização ao Breguet 14. Nesse contexto, diversas aeronaves destinadas à Bélgica e aos Estados Unidos foram equipadas com o motor Fiat A.12, enquanto outra opção considerada foi o propulsor produzido pela Lorraine-Dietrich, que, embora mais leve, oferecia potência inferior à do Renault. Já nos Breguet 14 B.2 de produção tardia, passou a ser empregado o motor American Liberty, configuração que deu origem à designação Breguet 14 B.2 L, ampliando a interoperabilidade do modelo com as cadeias industriais aliadas. O Breguet 14 desempenhou um papel de destaque no esforço aéreo aliado durante a Primeira Guerra Mundial, assumindo particular relevância no Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (United States Army Air Service – USAAS), onde cerca de 600 unidades, nas versões de reconhecimento e bombardeio, foram amplamente empregadas.
Ao longo do conflito, o modelo tornou-se aquele com a maior frota em serviço ativo, notabilizando-se sobretudo nas missões de observação aérea e bombardeio tático. Até o Armistício de 11 de novembro de 1918, as aeronaves desse tipo haviam lançado mais de 1.887.600 quilogramas de bombas sobre posições inimigas, evidenciando sua importância operacional e sua elevada disponibilidade. O simbolismo histórico do Breguet 14 também se manifestou nos momentos finais da guerra. Em 8 de novembro de 1918, um Breguet 14 A.2 foi empregado para transportar o Major alemão von Geyer, partindo de Tergnier com destino às negociações preliminares de rendição. Para garantir sua segurança, a aeronave foi ostensivamente marcada com grandes bandeiras brancas de trégua, a fim de evitar ataques por parte da aviação adversária. Encerrado o conflito, o Breguet 14 continuou a demonstrar sua versatilidade e robustez, sendo empregado em voos de longa distância que reforçaram sua reputação técnica. Entre os feitos mais notáveis destacam-se: 26 de janeiro de 1919: o Tenente Roget e o Capitão Coli realizaram uma travessia dupla do Mar Mediterrâneo; 5 de abril de 1919: Roget efetuou um voo de Lyon a Roma, prosseguindo posteriormente até Nice; 1919 (data não especificada): Roget e Coli estabeleceram um recorde francês de distância, ao voarem de Paris a Kenitra, no Marrocos, cobrindo aproximadamente 1.900 km (1.200 milhas) em 11 horas e 15 minutos. Durante o período pós-guerra, o Breguet 14 permaneceu em serviço ativo, sendo amplamente empregado nas operações coloniais francesas ao longo da década de 1920, em teatros como Síria, Vietnã, Marrocos e Rússia, no contexto da intervenção francesa na Guerra Civil Russa. Para atender às exigências impostas por climas severos e terrenos hostis, foi desenvolvida uma variante específica, designada Breguet 14 TOE (Théâtres des Opérations Extérieures), adaptada para operar em ambientes extremos. A produção do Breguet 14 estendeu-se até 1928, totalizando mais de 8.000 aeronaves construídas por diferentes empresas. As últimas unidades militares francesas foram retiradas de serviço em 1932, enquanto as variantes civis, voltadas ao transporte de cargas e passageiros e produzidas na primeira metade da década de 1920, permaneceram em operação comercial até o final da década de 1930. Ao longo de sua extensa trajetória, o Breguet 14 consolidou-se como uma das aeronaves mais emblemáticas de sua época, destacando-se pela robustez estrutural, adaptabilidade operacional e longevidade em serviço. Seu legado reflete de forma inequívoca o impacto duradouro das inovações introduzidas pela Société Breguet, tanto no campo militar quanto na aviação civil, marcando de maneira indelével a história da aeronáutica mundial.

Emprego no Exército Brasileiro.
A Aviação do Exército Brasileiro tem suas raízes nos campos de batalha da Guerra da Tríplice Aliança, especificamente nas batalhas de Humaitá e Curupaiti, em 1867. Durante esse conflito, o patrono do Exército Brasileiro, Luiz Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, demonstrou pioneirismo ao empregar balões cativos em operações militares na América do Sul. Esses balões foram utilizados com o objetivo de observar as linhas inimigas, reconhecendo a relevância da terceira dimensão (o espaço aéreo) no campo de batalha.  Essa iniciativa conferiu ao Exército Brasileiro a distinção de ser a primeira força militar do continente a utilizar balões para fins de observação e coleta de informações. A utilização desses equipamentos permitiu às forças aliadas obter informações estratégicas sobre as fortificações paraguaias em Curupaiti e Humaitá, contribuindo significativamente para o planejamento e execução de uma ofensiva de grande escala. Após o término da Guerra da Tríplice Aliança, o Exército Brasileiro institucionalizou o uso de balões com a criação do Serviço de Aerostação Militar. Esse serviço permaneceu ativo por 47 anos, consolidando as atividades balonísticas como parte integrante das operações militares brasileiras. Durante esse período, o uso de balões foi aprimorado, destacando-se como uma ferramenta essencial para reconhecimento e planejamento tático. Em 1913, um marco significativo foi alcançado com a criação da Escola Brasileira de Aviação (EsBAv), localizada no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Nesse momento, o Exército Brasileiro adquiriu seus primeiros aviões, fabricados na Itália, marcando a transição do uso de balões para aeronaves motorizadas. Essa evolução refletiu a adaptação do Exército às inovações tecnológicas da época, ampliando suas capacidades operacionais. A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) trouxe avanços tecnológicos significativos em armamentos, equipamentos e doutrinas militares, evidenciando a obsolescência das forças armadas brasileiras em relação aos padrões globais. Diante desse cenário, o comando das Forças Armadas Brasileiras reconheceu a necessidade de modernização para acompanhar as transformações do contexto internacional. Com o objetivo de reverter essa defasagem, o governo brasileiro iniciou, no segundo semestre de 1918, negociações com o governo francês para estabelecer uma parceria de consultoria e assessoria militar. As tratativas foram conduzidas em Paris pelo adido militar brasileiro, coronel Malan d’Angrogne, e o ministro da Guerra francês, Georges Clemenceau. As negociações culminaram na assinatura de um contrato em Paris, posteriormente ratificado no Rio de Janeiro, que instituiu oficialmente a Missão Militar Francesa. Esse acordo estipulava que oficiais franceses assumiriam o comando de diversas escolas militares brasileiras, incluindo a Escola de Estado-Maior (EEM), a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), a Escola de Intendência e a Escola de Veterinária, por um período de quatro anos. Além disso, o contrato determinava que o Brasil priorizaria a aquisição de equipamentos e armamentos da indústria francesa, desde que os preços, prazos de entrega e qualidade fossem competitivos em relação a outros fornecedores internacionais. O contrato firmado entre os governos do Brasil e da França em 1919 representou um marco significativo na trajetória de profissionalização e modernização do Exército Brasileiro. Esse acordo, parte integrante da Missão Militar Francesa, visava atualizar as Forças Armadas Brasileiras por meio de consultoria, treinamento e aquisição de equipamentos modernos. 

No âmbito da aviação militar, o contrato possibilitou a retomada e expansão das atividades aéreas do Exército, fortalecendo seu poder militar e alinhando-o às inovações tecnológicas do período pós-Primeira Guerra Mundial. A modernização da aviação militar foi impulsionada pela necessidade de superar a obsolescência das forças brasileiras, identificada durante o conflito global. Nesse contexto, o Exército Brasileiro tomou a decisão estratégica de retomar suas atividades aeronáuticas, culminando na criação, em 1919, do embrião da Escola de Formação de Aviadores Militares, precursora do atual Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx). O acordo com a França resultou na aquisição imediata de diversas aeronaves destinadas à formação de aviadores e ao fortalecimento da capacidade operacional do Exército. A maioria dessas aeronaves era composta por modelos de treinamento, voltados para a instrução de futuros pilotos. Contudo, o contrato também incluiu aeronaves de combate, destinadas não apenas ao treinamento, mas também à criação de um núcleo inicial de aviação de combate no Brasil. Em 1918, um ano antes da formalização da Missão Militar Francesa, o Exército Brasileiro celebrou um contrato com a empresa francesa Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet para a aquisição de 30 aeronaves dos modelos Breguet 14A2 (reconhecimento) e Breguet 14B2 (bombardeio). Apesar de diferenças técnicas sutis entre as versões, como a maior envergadura do Breguet 14B2, a documentação histórica não permite determinar com precisão a quantidade exata de cada modelo incorporada ao acervo brasileiro, especialmente devido ao fato de que as aeronaves não foram montadas simultaneamente. Evidências sugerem que, durante os oito anos de operação plena na Aviação Militar do Exército, não mais de 12 aeronaves Breguet 14 (somando ambas as versões) estavam montadas e disponíveis para voo em qualquer momento. As aeronaves chegaram ao Brasil por via marítima ao longo de 1920, sendo gradualmente integradas às atividades da aviação militar. A Escola de Aviação Militar (EAvM), sediada no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, foi o principal centro de formação de aviadores militares. No final de 1920, os primeiros três exemplares dos Breguet 14 foram disponibilizados para o Curso de Aperfeiçoamento, marcando o início de sua utilização operacional. A partir de março de 1921, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 foram oficialmente incorporadas ao inventário da EAvM, sendo distribuídas para uso em treinamentos específicos. Equipadas com estações de rádio e equipamentos fotográficos, essas aeronaves desempenharam um papel crucial na formação operacional dos cadetes. Elas foram utilizadas em dois programas principais: Curso de Observador Aéreo: Voltado para o treinamento de militares em técnicas de reconhecimento e coleta de informações aéreas. Curso de Aperfeiçoamento: Destinado ao aprimoramento das habilidades de pilotos e à instrução em operações de combate e reconhecimento.  Na década de 1920, a Aviação do Exército Brasileiro consolidou-se como um componente estratégico das Forças Armadas, impulsionada pela modernização promovida pela Missão Militar Francesa e pela aquisição de aeronaves modernas, como os Breguet 14A2 e 14B2.
Em 1922, a criação do Grupo de Aviação no Sul marcou a primeira expansão significativa dos meios aéreos para além do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Além disso, em 1923, dois reides de longa distância realizados com aeronaves Breguet romperam as limitações operacionais impostas pela Missão Militar Francesa, destacando o potencial da aviação militar brasileira. Este documento analisa esses eventos e seu impacto na evolução da aviação do Exército. Em junho de 1922, o Exército Brasileiro estabeleceu o Grupo de Aviação no Sul, sediado no estado do Rio Grande do Sul, nas cidades de Santa Maria e Alegrete. Essa iniciativa representou o primeiro desdobramento quase permanente dos meios aéreos da Aviação Militar para fora do Campo dos Afonsos, ampliando a presença da aviação militar no território nacional. O Grupo foi composto por três esquadrilhas, cada uma com funções específicas: Esquadrilha de Bombardeio: Equipada com quatro aeronaves Breguet 14B2, voltadas para operações de bombardeio. 3ª Esquadrilha de Observação: Equipada com seis aeronaves Breguet 14A2, destinadas a missões de reconhecimento e observação. 1ª Esquadrilha de Caça: Embora mencionada, não há detalhes específicos sobre seu equipamento ou atividades na documentação disponível. As esquadrilhas de bombardeio e observação permaneceram ativas no Rio Grande do Sul até 1928, quando o Grupo de Aviação no Sul foi dissolvido. Após a dissolução, todo o acervo aeronáutico, incluindo as aeronaves Breguet, foi transferido de volta ao Campo dos Afonsos. Apesar de sua operação por quase seis anos, há escassez de registros detalhados sobre as atividades realizadas pelas aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 no Sul. Essa lacuna documental limita a compreensão do impacto operacional do Grupo na região. Na Escola de Aviação Militar (EAvM), sediada no Campo dos Afonsos, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 continuaram a desempenhar um papel central na formação de aviadores entre 1921 e 1922. A rotina de instrução permaneceu inalterada durante esse período, com ênfase em cursos como o Curso de Observador Aéreo e o Curso de Aperfeiçoamento. Contudo, dois incidentes marcaram esse período: a perda de duas aeronaves Breguet em acidentes, refletindo os desafios inerentes à operação de equipamentos complexos em um contexto de formação. No segundo trimestre de 1923, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 protagonizaram dois reides de longa distância que marcaram um momento de ruptura com as restrições operacionais impostas pela Missão Militar Francesa. Até então, os voos da Aviação Militar eram limitados a um raio de 10 km ao redor do Campo dos Afonsos, conforme diretrizes francesas. Esses reides não apenas desafiaram tais limitações, mas também ganharam destaque na imprensa nacional, reforçando o prestígio da aviação militar brasileira. O primeiro reide, realizado em 21 de abril de 1923, envolveu três aeronaves Breguet 14 (A2 e B2) que formaram a Esquadrilha Anhangá. O voo partiu do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, com destino à cidade de São Paulo. O reide foi concluído com sucesso, embora uma das aeronaves tenha sofrido um pequeno acidente durante o retorno ao Campo dos Afonsos. Esse evento demonstrou a capacidade da Aviação Militar de realizar missões de longa distância, ampliando seu alcance operacional. Dois dias após o primeiro reide, em 23 de abril de 1923, uma única aeronave Breguet 14 realizou um voo de longa distância entre o Campo dos Afonsos e a cidade de Curitiba, no Paraná. Esse reide, embora menos documentado, reforçou a quebra das limitações impostas pela Missão Militar Francesa e evidenciou a versatilidade das aeronaves Breguet em missões de maior complexidade. 

A criação do Grupo de Aviação no Sul e os reides de 1923 representaram marcos significativos na consolidação da Aviação do Exército Brasileiro. O desdobramento das esquadrilhas para o Rio Grande do Sul ampliou a presença da aviação militar no território nacional, enquanto os reides de longa distância demonstraram a capacidade operacional das aeronaves Breguet e a autonomia do Exército Brasileiro em relação às diretrizes francesas. Esses eventos fortaleceram a confiança nas capacidades da aviação militar e pavimentaram o caminho para sua expansão nas décadas seguintes. A Revolução de 1924, deflagrada em julho daquele ano, representou um dos principais conflitos internos enfrentados pelo Brasil no início do século XX. Com focos de rebelião em São Paulo e no Norte do país, o Exército Brasileiro mobilizou recursos significativos, incluindo os meios aéreos da Escola de Aviação Militar (EAvM), para conter as forças revoltosas. Entre os ativos empregados, destacaram-se as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2, que desempenharam papéis cruciais em missões de reconhecimento, observação e bombardeio. Contudo, o período pós-conflito foi marcado por severas dificuldades orçamentárias que comprometeram a operacionalidade dessas aeronaves, sinalizando o declínio de sua carreira na Aviação Militar do Exército Brasileiro. Este documento analisa o emprego dos Breguet 14 na Revolução de 1924 e os desafios enfrentados posteriormente. Com o início da Revolução de 1924, as forças legalistas, sob o comando do Exército Brasileiro, organizaram-se rapidamente para suprimir os focos rebeldes. A Aviação Militar, sediada no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, foi acionada para apoiar as operações terrestres, fornecendo suporte aéreo essencial. Entre os meios disponíveis, seis aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 foram selecionadas para integrar as operações.As seis aeronaves Breguet foram desmontadas e transportadas por via férrea até a cidade de Mogi das Cruzes, no estado de São Paulo, onde foram reassembladas para iniciar as operações contra as forças rebeldes.  A escolha de Mogi das Cruzes como base operacional reflete a necessidade de posicionar os meios aéreos próximos ao principal foco de resistência em São Paulo.  As operações aéreas com os Breguet 14A2 e 14B2 ocorreram entre os dias 19 e 28 de julho de 1924 e foram divididas em duas fases principais: Missões de Reconhecimento e Observação (19 a 21 de julho):  Inicialmente, as aeronaves foram empregadas em missões de reconhecimento aéreo e observação, coletando informações sobre as posições e movimentos das forças revoltosas. Essas missões foram fundamentais para o planejamento das operações terrestres. Surtidas de Bombardeio (a partir de 22 de julho): A partir do dia 22, os Breguet 14 passaram a realizar ataques de bombardeio contra alvos estratégicos, muitos localizados no perímetro urbano da cidade de São Paulo. Apesar da escala limitada das operações aéreas, o emprego dos Breguet 14A2 e 14B2, juntamente com outras aeronaves da Aviação Militar, produziu efeitos notáveis. As ações aéreas contribuíram para desestabilizar as forças revoltosas, demonstrando o potencial da aviação como ferramenta de apoio tático. 
As severas restrições financeiras enfrentadas pelas Forças Armadas Brasileiras após 1924 limitaram os investimentos na Aviação Militar. A manutenção das aeronaves Breguet, que dependiam de componentes importados, foi particularmente afetada. A escassez de recursos dificultou a aquisição de peças de reposição, essenciais para reparar danos causados por acidentes operacionais ou pelo desgaste natural. Como resultado, os índices de indisponibilidade de voo aumentaram significativamente, comprometendo a capacidade operacional da frota. Apesar de sua robustez, projetada para suportar condições adversas, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 sofreram com o desgaste acumulado e os danos decorrentes de acidentes. A falta de peças de reposição levou à prática de canibalização, na qual aeronaves inoperantes eram desmontadas para fornecer componentes às unidades ainda em condições de voo. Em 1927, a frota de Breguet 14 foi reduzida a apenas seis ou sete células operacionais, com as demais servindo como fonte de peças. Em 1928, os últimos Breguet 14A2 e 14B2 foram oficialmente suspensos das atividades de voo da Aviação Militar do Exército Brasileiro. As aeronaves remanescentes foram alienadas e vendidas como sucata, encerrando sua carreira no Brasil. Infelizmente, nenhuma unidade foi preservada para fins históricos, resultando na perda de um importante patrimônio da aviação militar brasileira. Além de sua utilização pelo Exército Brasileiro, as aeronaves Breguet também foram empregadas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que adquiriu duas unidades em 1923 para o Serviço de Aviação da Brigada Militar. Essa aquisição representa um caso singular de uso regional dessas aeronaves. As duas aeronaves foram adquiridas na Argentina por meio do representante local da Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet, Sr. Patrick Hassett. Embora não haja registros precisos sobre o modelo exato, acredita-se que fossem do tipo Breguet 14A2, voltado para missões de observação. Fotografias de época sugerem que as aeronaves poderiam pertencer à variante Breguet 14T, caracterizada pela presença de tanques suplementares de combustível sob a asa superior, uma modificação destinada a aumentar a autonomia de voo. As aeronaves receberam as matrículas BM-1 e BM-2 e foram integradas ao Serviço de Aviação da Brigada Militar, com o objetivo de apoiar operações regionais. Não há registros detalhados sobre o emprego dessas aeronaves em conflitos regionais ou outras atividades no Rio Grande do Sul. A ausência de documentação também impede a determinação de seu destino final, seja por desativação, venda ou destruição. Essa lacuna documental reflete os desafios de preservação histórica enfrentados pelas instituições militares regionais na década de 1920. As aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 desempenharam um papel significativo na consolidação da Aviação do Exército Brasileiro, mas seu declínio após 1924 ilustra os desafios de manter uma frota operacional em condições adversas. A alienação das aeronaves em 1928, sem preservação de unidades para fins históricos, representa uma perda para o patrimônio militar brasileiro. Por outro lado, a utilização de aeronaves Breguet pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul destaca a versatilidade dessas aeronaves e o interesse em sua aplicação em contextos regionais. Esses eventos reforçam a importância de políticas sustentáveis para o desenvolvimento e manutenção da aviação mili


Em Escala
Para representar o Breguet 14A2, foi utilizado o único kit disponível na escala 1/48, um modelo clássico produzido pela K & B Manufacturing no início da década de 1970. Este modelo correspondente à versão de reconhecimento operada pela Aviação Militar do Exército Brasileiro. Os decais utilizados foram desenvolvidos pelo modelista Rafael Pinheiro em um set especifico para este período.
O padrão de cores (FS) descrito a seguir foi determinado com base em registros consultados em perfis disponíveis em publicações especializadas, sites e fotografias de época. Esse esquema de pintura corresponde a um padrão previamente identificado em outras aeronaves utilizadas pela Escola de Aviação Militar (EAvM) do Exército Brasileiro durante o mesmo período.

Bibliografia :

- Aviação Militar Brasileira 1916 – 2015 – Jackson Flores Jr
- Breguet 14  Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Breguet_14
- O Serviço de Aviaçao da Brigada Militar do Rio Grande do Sul – Diego Klein Penha Unisul