Lockheed C-60 e C-66 Lodestar

História e Desenvolvimento.
A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, uma empresa norte-americana do setor aeronáutico, foi estabelecida em 1912 pelos irmãos Allan e Malcolm Lockheed, na cidade de San Diego, estado da Califórnia. Inicialmente, a companhia concentrou suas atividades no desenvolvimento e na fabricação de aeronaves de pequeno porte, voltadas para o turismo e o treinamento civil. Nas décadas seguintes, a empresa experimentou um notável crescimento em suas vendas. Contudo, o término da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, gerou desafios significativos para o mercado aeronáutico, devido à desmobilização de milhares de aeronaves militares subutilizadas, que passaram a inundar o mercado global de aviação civil. Esse contexto provocou uma crise sem precedentes na comercialização de novas aeronaves, culminando no encerramento de diversas fabricantes, entre elas a Lockheed Aircraft Manufacturing Company. Após a suspensão de suas operações, os irmãos Allan e Malcolm Lockheed redirecionaram seus esforços empreendedores para outros setores do mercado, visando assegurar sua sustentabilidade empresarial. Em 1926, Allan Lockheed associou-se aos engenheiros John Northrop, Kenneth Kay e Fred Keeler para fundar um novo empreendimento. Com o respaldo de investidores, conseguiram angariar os recursos financeiros necessários para criar a Lockheed Aircraft Company, sediada em Hollywood, Califórnia. A nova empresa utilizou a tecnologia desenvolvida anteriormente para o Modelo S-1 como fundamento para o projeto do Lockheed Vega, seu primeiro modelo de destaque. O êxito comercial foi alcançado rapidamente: em 1928, a companhia transferiu sua sede para Burbank e, ao final daquele ano, registrou vendas superiores a um milhão de dólares. Nesse período, a produção atingiu centenas de aeronaves, empregando mais de trezentos colaboradores em uma linha de montagem com capacidade para finalizar até cinco unidades por semana. Em julho de 1929, Fred Keeler, então acionista majoritário, negociou 87% das ações da empresa com a Detroit Aircraft Corporation, possibilitando a implementação de um ambicioso plano de expansão. Todavia, a crise econômica conhecida como Grande Depressão, deflagrada no mesmo ano, impactou gravemente o setor aeronáutico, conduzindo a Lockheed a uma situação de insolvência. Em 1932, durante o processo de liquidação judicial, a companhia foi adquirida por um grupo de investidores liderado pelos irmãos Robert e Courtland Gross, em conjunto com Walter Varney. Essa transação marcou o início de uma nova etapa para a empresa, que logrou sua recuperação ao longo daquela década, especialmente com o desenvolvimento de novas aeronaves. Apesar das adversidades, a Lockheed conseguiu consolidar rapidamente a confiança do mercado civil e comercial dos Estados Unidos, impulsionada pelo sucesso do Lockheed Modelo 10 Electra, uma aeronave totalmente metálica com capacidade para transportar até dez passageiros. Em 1935, reconhecendo a demanda por uma aeronave de menor porte, destinada tanto ao mercado de pilotos privados quanto ao papel de alimentador das principais linhas de transporte aéreo, a Lockheed Aircraft Company desenvolveu o Electra Junior12A . Tratava-se de uma variante projetada para seis passageiros, derivada do Modelo 10 Electra, que atendia de forma eficaz às necessidades identificadas. Esse marco reforça a capacidade da empresa em adaptar-se às exigências do mercado, solidificando sua posição no setor aeronáutico.

A aeronave em questão apresentava um desempenho excepcional, caracterizado por uma velocidade máxima de 362 km/h a uma altitude de 1.525 metros, uma razão de ascensão de 427 metros por minuto, um teto de serviço de 6.980 metros e um alcance de 1.290 quilômetros. Esses atributos a posicionavam como uma opção altamente vantajosa em sua categoria e propósito, consolidando sua relevância no mercado aeronáutico da época. Com o objetivo de explorar um novo segmento de mercado voltado para aeronaves de maior porte, a Lockheed Vega Aircraft Company iniciou o desenvolvimento de um novo modelo, utilizando como base o Lockheed Modelo 10 Electra. Esse projeto envolveu o alongamento da fuselagem, ampliando a capacidade de transporte para até quatorze passageiros, o que resultou na criação do Modelo L-14 Super Electra. Este foi concebido com a intenção de competir diretamente com o Douglas DC-2. Todavia, análises mais detalhadas indicaram que o L-14 Super Electra seria superado por seu concorrente em aspectos fundamentais. O principal obstáculo residia nos custos operacionais e de manutenção, que se revelaram consideravelmente superiores aos do Douglas DC-2, comprometendo sua competitividade no mercado comercial norte-americano. Apesar disso, o projeto do Super Electra foi objeto de aprimoramentos significativos. Dentre as melhorias implementadas, destacou-se a adição de uma seção de 1,68 metro à fuselagem, elevando a capacidade para até dezoito passageiros. O voo inaugural dessa versão atualizada ocorreu em 21 de setembro de 1938, seguido por um breve programa de ensaios em voo. Os resultados foram considerados extremamente promissores, o que levou a diretoria da empresa a autorizar a reconstrução de mais duas células nesse padrão. Os dados obtidos nos testes forneceram a fundamentação técnica para o desenvolvimento de um novo modelo, cujo protótipo realizou seu primeiro voo em 2 de fevereiro de 1939. Esse projeto foi submetido a um programa rigoroso de ensaios e testes, resultando em ajustes específicos que culminaram na versão inicial de produção, designada como Lockheed L-18 Lodestar. A inclusão de assentos adicionais otimizou significativamente a relação custo-benefício da aeronave, aproximando seu desempenho do principal concorrente e equilibrando a competição no mercado. Desde o início, a empresa estabeleceu que a relação custo-benefício operacional seria um dos pilares diferenciais de seus produtos. Nesse contexto, a possibilidade de padronização dos procedimentos de manutenção foi considerada um fator determinante. Assim, o L-18 Lodestar foi projetado para utilizar diversos tipos de motores radiais, começando pelo Curtiss-Wright Cyclone R-1820-87 na versão L-18-05, seguido pelo Pratt & Whitney S1E-3G Hornet na versão L-18-07, pelo Wright Cyclone GR-1820-G102A no modelo L-18-40, pelo Wright Cyclone GR-1820-G202 no L-18-50 e, finalmente, pelo Wright Cyclone GR-1820-G205. 
A flexibilidade na escolha de motores ampliou significativamente a versatilidade e a eficiência operacional da aeronave, culminando na obtenção de seu certificado de operação civil em 30 de março de 1940. O primeiro cliente do modelo foi a Mid-Continent Airlines Co., uma empresa de transporte aéreo regional. Conforme planejado, a adição de assentos extras aprimorou de maneira expressiva a relação custo-benefício da aeronave, equiparável ao desempenho de seu principal concorrente, o Douglas DC-2, nivelando a competição comercial. Contudo, a Douglas Aircraft Company antecipou essa estratégia e, no início de 1939, lançou o DC-3. A American Airlines, primeiro cliente do novo modelo, iniciou suas operações em 26 de junho daquele ano. Rapidamente, o DC-3 conquistou a atenção de companhias aéreas norte-americanas e internacionais, dominando as vendas no mercado. O impacto do lançamento do DC-3 consolidou sua posição como líder no segmento, capturando a maior parte das vendas. Nos meses seguintes, o Lockheed L-18 Lodestar registrou apenas 94 encomendas, um número consideravelmente abaixo das expectativas e insuficiente para justificar os investimentos realizados em seu desenvolvimento. Apesar dos avanços técnicos e do potencial demonstrado, o Lodestar não alcançou o sucesso comercial almejado, evidenciando os desafios enfrentados pela Lockheed Aircraft Company em um mercado altamente competitivo. Esse cenário colocou a empresa diante de uma nova crise financeira, reminiscentes das dificuldades enfrentadas no final da década anterior. Entretanto, o agravamento das tensões na Europa e no Oceano Pacífico alterou esse panorama. As forças armadas dos Estados Unidos intensificaram seus esforços em um amplo programa de reequipamento militar, no qual o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) priorizou a aquisição emergencial de milhares de aeronaves destinadas ao transporte de pessoal e carga. Entre os modelos avaliados, o Lockheed L-18 Lodestar destacou-se, apesar de sua limitada presença no mercado civil nacional, devido ao seu excelente desempenho operacional. Após adaptações para atender às exigências militares, a Lockheed entregou, em abril de 1940, a primeira aeronave customizada, derivada do modelo L-18-50, para avaliação. Equipada com dois motores Wright 1820-89 de 1.100 hp cada, essa unidade passou por testes que resultaram em uma solicitação do USAAC para aumentar a potência nominal. Esse processo culminou na versão de pré-produção, designada C-56A, equipada com dois motores Wright Cyclone 1820-97 de 1.200 hp cada. O programa de ensaios em voo gerou pequenas melhorias, levando à definição da versão final de produção em série, batizada como C-56B. Um contrato inicial para a fabricação de trinta unidades foi firmado, seguido por encomendas adicionais das variantes C-56C e C-56D, consolidando a transição do Lodestar para o contexto militar.
Uma variante do Lockheed L-18 Lodestar, designada como C-59 e oficialmente nomeada "Lodestar IA", foi desenvolvida especificamente para a Força Aérea Real (RAF) do Reino Unido,  estando equipada com motores Pratt & Whitney R-1690-25 Hornet. Posteriormente, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) encomendou versões adicionais, designadas como C-60. A partir de 1942, a aeronave passou a ser utilizada também pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy), pelo Corpo de Fuzileiros Navais (USMC) e pela Guarda Costeira (USCG), recebendo as designações militares R-5O e C-111, respectivamente. Além de seu emprego pelas forças armadas norte-americanas e britânicas em praticamente todos os teatros de operações da Segunda Guerra Mundial, a família de aeronaves Lodestar foi incluída como item prioritário no âmbito do programa de assistência militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Nesse contexto, dezenas de unidades foram fornecidas às forças aéreas de países como Nova Zelândia, Austrália, Brasil, Noruega e Canadá. No período pós-guerra, diversas aeronaves pertencentes à Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) foram retiradas do serviço ativo e classificadas como excedentes de guerra. Essas unidades foram armazenadas para posterior transferência a nações aliadas, incluindo Venezuela, Colômbia, Haiti, Israel, México, Noruega e África do Sul. Paralelamente, uma parcela significativa dessa frota foi disponibilizada para comercialização no mercado de transporte civil, sendo adquirida e operada por companhias aéreas em países como Portugal, Bélgica, Bolívia, Canadá, Chile, Finlândia, França, Honduras, Quênia, Uganda, Porto Rico, Venezuela, Trindade e Tobago, além do Brasil, onde foi utilizada por empresas como Panair do Brasil, NAB, Transportes Aéreos Universal, SAVAG, Linhas Aéreas Wright e Viação Aérea Bahiana. Um aspecto notável é que uma versão esticada do Super Electra, semelhante ao Lodestar, foi produzida sob licença no Japão pela Kawasaki, sob a designação Ki-56. Ao todo, 121 exemplares foram fabricados e empregados como aeronaves de transporte pela Força Aérea do Exército Imperial Japonês entre 1942 e 1945. Até janeiro de 1944, a Lockheed Aircraft Corporation havia produzido um total de 625 unidades do Lodestar, abrangendo tanto as variantes militares quanto as civis. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a avaliar com significativa preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo, integradas por Alemanha, Itália e Japão. Essa inquietação intensificou-se em junho de 1940, com a rendição da França, evento que ampliou as perspectivas estratégicas da Alemanha Nazista. A capitulação francesa possibilitou o estabelecimento de bases operacionais em territórios como as Ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, que poderiam servir como pontos de partida para uma eventual ofensiva militar contra o continente americano. Nesse cenário, o Brasil destacou-se como o alvo mais provável de uma incursão, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, incluído nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul consolidaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima vital para a produção de borracha, recurso estratégico essencial à indústria bélica. A posição geográfica privilegiada do litoral brasileiro, sobretudo na região Nordeste, revelou-se ideal para a implantação de bases aéreas e instalações portuárias militares. A cidade de Recife emergiu como o ponto de menor distância entre os continentes americano e africano, configurando-se como um elo logístico estratégico para o transporte de tropas, suprimentos e aeronaves aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Esse contexto favoreceu uma rápida aproximação política e econômica entre Brasil e Estados Unidos, concretizada por meio de investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. A crescente ameaça dos submarinos alemães e italianos ao longo da costa brasileira tornou-se uma prioridade após a declaração de guerra do Brasil aos países do Eixo, em agosto de 1942. A partir desse marco, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) passou a operar esquadrões antissubmarino com base em instalações localizadas predominantemente no litoral nordestino brasileiro. Nesse período, a recém-constituída Força Aérea Brasileira (FAB) enfrentava sérias limitações operacionais, incluindo a ausência de treinamento especializado e de equipamentos adequados para missões de patrulha marítima. Sua frota, herdada das extintas aviações Militar e Naval, consistia majoritariamente em aeronaves obsoletas, sendo os modelos mais avançados, como o Vultee V-11 e o Focke-Wulf FW-58 Weihe, insuficientes para atender às necessidades de combate aos submarinos inimigos. Essas operações, fundamentais ao esforço de guerra brasileiro, tinham como objetivo principal a localização e neutralização de submarinos do Eixo, que representavam uma ameaça significativa à navegação militar e civil nas águas territoriais do país. Diante desse quadro, tornou-se essencial um esforço emergencial para modernizar os recursos da Força Aérea Brasileira. Esse processo foi impulsionado pela criação da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada nos Estados Unidos, com a missão de identificar e adquirir equipamentos capazes de suprir as demandas de modernização e fortalecer a capacidade operacional do Brasil no âmbito do conflito global.

A adesão do governo brasileiro ao programa Lend-Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos) garantiu ao país uma linha de crédito inicial de 100 milhões de dólares, destinada à aquisição de equipamentos bélicos. Esse financiamento viabilizou a obtenção de armamentos modernos, abrangendo aeronaves, veículos blindados e carros de combate. No que diz respeito às aeronaves de transporte, a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB) contava, inicialmente, com apenas quatro unidades do modelo Lockheed L-12A Electra Junior. A esse contingente somaram-se outras quatro aeronaves do mesmo modelo, previamente adquiridas pelo Exército Brasileiro e entregues em abril de 1941. Essas unidades foram destinadas à Seção de Aviões de Comando. Apesar de serem os aviões de transporte de pessoal mais avançados em serviço no Brasil à época, logo se constatou que sua baixa autonomia, limitada capacidade de voo por instrumentos e inadequação das acomodações internas as tornavam impróprias para o transporte do Presidente da República e de autoridades do primeiro escalão governamental. Para atender a essa necessidade específica, o Ministério da Aeronáutica (MAer), por meio da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada em Washington, negociou, no âmbito do Lend-Lease Bill Act, a aquisição de uma unidade do modelo Lockheed L-18-08 Lodestar (número de série 18-2148). Essa aeronave foi convertida para a versão VIP L-18-10-0, originalmente projetada para o transporte de oficiais de alta patente do Exército dos Estados Unidos (US Army). Designada como Lockheed C-66, essa unidade constituiu-se como a única produzida pelo fabricante nessa configuração, especialmente adaptada para uso presidencial. Suas características internas incluíam poltronas, mesas, sofá, galley e outros itens que a diferenciavam das demais aeronaves Lockheed Lodestar fabricadas para as forças armadas norte-americanas. Em 25 de dezembro de 1941, o Major Aviador Nero Moura e o Capitão Aviador Oswaldo Pamplona Pinto receberam o Lockheed C-66 nas instalações da Lockheed Vega Aircraft Co., em Los Angeles, Califórnia. O objetivo foi familiarizar-se com as especificidades da aeronave antes de realizar o voo de translado para o Brasil. Após sua chegada ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, o Lockheed C-66 foi oficialmente incorporado ao acervo da Seção de Aviões de Comando e imediatamente colocado em serviço como aeronave presidencial. Posteriormente, o avião ficou conhecido popularmente como “O Avião de Getúlio”. Durante seu período de operação, foi frequentemente pilotado pelo Major Aviador Nero Moura, que, anos mais tarde, assumiria o comando do 1º Grupo de Aviação de Caça na campanha da Itália.
Apesar do recebimento contínuo de aeronaves de diferentes tipos durante esse período, o Ministério da Aeronáutica (MAer) ainda enfrentava a carência de um número suficiente de aeronaves de transporte. Inicialmente, o Comando da Aeronáutica (COMAER) solicitou a incorporação dos modernos Douglas C-47. Contudo, a cessão imediata dessas aeronaves foi negada, devido à priorização do esforço de guerra aliado no teatro de operações europeu, o que resultou no recebimento das primeiras unidades desse modelo pelo Brasil apenas em 1945. Diante dessa conjuntura, no início de 1943, o pleito foi reformulado, passando a focar outros modelos de aeronaves. Ainda assim, o cronograma sofreu novos atrasos, sendo o primeiro recebimento de uma aeronave de transporte registrado somente em novembro de 1944, com o translado de um Lockheed C-60A-1-LO Lodestar. No início de 1945, mais sete unidades, nas versões C-60A-1-LO e C-60A-5-LO Lodestar, foram entregues às autoridades brasileiras na base aérea San Antonio Field, pertencente à Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), localizada no estado do Texas. Essas aeronaves foram gradualmente transladadas em voo por pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB), com a última unidade chegando ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em julho de 1945. Configuradas para a missão básica de transporte de tropas, essas aeronaves tinham capacidade para acomodar até dezoito soldados totalmente equipados. Inicialmente, foram alocadas à Seção de Aviões de Comando (SecAvCom), onde passaram a desempenhar funções de transporte de pessoal e a atender às linhas de longo alcance do Correio Aéreo Nacional (CAN). Entre os exemplares recebidos, destaca-se o Lockheed C-60 Lodestar FAB 2002 (ex-USAAF 42-55916), que, lamentavelmente, foi perdido em um acidente na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1944. Em janeiro de 1945, esta frota de aeronaves foi transferido para o 1º Grupo de Transporte (1º GT). Apesar dessa reestruturação, não houve alterações na sistemática das missões originalmente atribuídas. Em julho de 1945 o Lockheed C-60 Lodestar FAB FAB 2003 (Ex USAAF 42-55928), seria configurado para as tarefas de transporte VIP (Very Important Person), recebendo a designação de VC-60A. Em 1947 o C-60A Lodestar FAB 2004 (Ex USAAF 42-55929), seria perdido em um acidente na cidade de São Paulo - SP afetando ainda mais a disponibilidade operacional deste modelo na Força Aérea Brasileira (FAB). Já em abril de 1952, a Seção de Aviões de Comando (SecAvCom) seria reorganizada como unidade aérea, retendo as células remanescentes dos veteranos Lockheed Lodestar nas versões C-60A e VC-66. Porém nesta nova fase o VC-66 Lodestar presidencial, deixaria de ser aeronave preferencial a ser empregada nas missões de transporte presidencial e dos demais membros do primeiro escalão governamental. 
A missão de transporte presidencial passou a ser desempenhada por duas células do modelo Douglas VC-47, que foram configurados localmente para atender a essa função. Estas aeronaves receberiam um interior requintado, adaptado ao padrão VIP (Very Important Person), visando atender às exigências de conforto e segurança. Dois anos após sua introdução, em 1958, essa unidade tornou-se a base para a criação do Esquadrão de Transporte Especial (ETE). Naquele período, apenas quatro células do Lockheed C-60A Lodestar permaneciam em condições de voo, uma vez que as demais haviam sido desativadas devido a acidentes ou desgaste operacional precoce. No final de 1956, o Esquadrão de Transporte Especial (ETE) foi extinto, dando lugar ao Grupo de Transporte Especial (GTE). Com a redefinição dos parâmetros de missão, que passaram a priorizar segurança e conforto, constatou-se que os modelos Lockheed VC-60 e VC-66 Lodestar não mais atendiam às necessidades do transporte especial no perfil VIP. Entre 1957 e 1958, essas aeronaves foram realocadas para tarefas de transporte orgânico e distribuídas aos Parques de Aeronáutica dos Afonsos, Recife e São Paulo. Dentre esses, o Parque de São Paulo destacou-se como o principal operador, utilizando as aeronaves em benefício das bases aéreas que dependiam do suporte logístico daquela unidade. Por volta da metade da década de 1960, apenas duas unidades do Lockheed C-60 e o VC-66 Lodestar permaneciam operacionais, embora em condições extremamente precárias. As demais células foram sucateadas ou destinadas a exercícios de combate a incêndios. Dentre as aeronaves remanescentes, o VC-60A FAB 2003 (ex-USAAF 42-13567) foi perdido em um acidente durante uma operação de pouso no Campo de Marte, em São Paulo. Em 1963, o VC-66 Lodestar, conhecido como “O Avião de Getúlio”, foi transferido para a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR), onde passou a ser utilizado em atividades de instrução em solo. Essa função foi mantida até 12 de novembro de 1971, quando a aeronave foi oficialmente desativada e sucateada. Em 17 de abril de 1968, o último Lockheed Lodestar foi entregue à Escola de Aeronáutica (EAer), onde foi preservado e mantido em exposição ao ar livre. Posteriormente, a aeronave foi transferida para o acervo do Museu Aeroespacial (Musal), onde passou por um processo de restauração e foi incorporada à exposição permanente da instituição.

Em Escala.
Para representarmos o Lockheed C-60A Lodestar "FAB 2002" empregamos o excelente kit da Classic Airframes na escala 1/48, modelo este que vem com a opção para se compor também a versão civil Lockheed L-14 Super Electra. Para apresentarmos a versão militar operada pela Força Aérea Brasileira, quando em uso na década de 1950 pelo Esquadrão de Transporte Especial (ETE), é necessário proceder alterações me scratch, entre estas aberturas de janelas de observação na parte traseira da fuselagem, redesenho do cooling dos motores, inclusão de dutos de admissão e escape e alteração de antenas do sistema de comunicação e navegação. Como não há set de decais específicos para este modelo nas cores militares brasileiras, optamos por usar decais produzidos pela FCM Decals oriundos de diversos sets.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o terceiro padrão de pintura empregado pelos Lockheed Lodestar durante meados da década de 1950. As primeiras quatro células foram recebidas com o esquema tático de transporte da Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em olive drab. As demais aeronaves recebidas posteriormente, foram entregues em metal natural com as cores nacionais nos lemes da deriva. Após a revisão geral em âmbito de parque todas as células receberam o esquema padrão de pintura de aeronaves do transporte especial  da Força Aérea Brasileira, mantendo este até sua desativação.


Bibliografia :

- Lockheed Lodestar Model 18 - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_Model_18_Lodestar~
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  por Jackson Flores Junior
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha  -http://rudnei.cunha.nom.br

Curtiss C-46A Commando na FAB

História e Desenvolvimento.
A Curtiss-Wright Corporation seria criada em 1929, a partir da consolidação da Curtiss Airplane and Motor Company (fundada em 1916 por Glenn Hammond Curtiss), a Wright Aeronautical (fundada por Glenn L. Martin e Orville Wright como Wright-Martin), agregando neste processo, diversas empresas menores. Esta corporação teria destacada participação no esforço aliado durante a Segunda Guerra Mundial, se tornando a maior fabricante de aviões e componentes aeronáuticos dos Estados Unidos. Este resultado seria fruto do esforço da empresa, que em inúmeras ocasiões empregou recursos próprios no desenvolvimento de seus projetos. Um destes exemplos pode ser representado na aeronave Curtiss Model 75, uma aeronave de caça concebida com investimento privada da Curtiss-Wright Corporation, que fora criada visando antever possíveis demandas do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Este aeronave seria projetada pelo engenheiro aeronáutico Don R. Berlin, que trazia grande experiência obtida junto sua passagem pela Northrop Aircraft Company. O primeiro protótipo foi concluído em 1934, e apresentava uma moderna construção, toda em metal com superfícies de controle cobertas de tecido, um motor radial Wright XR-1670-5 desenvolvendo 900 hp (670 kW) Estava armado com duas metralhadoras calibre 7,62 mm instaladas nas asas e uma metralhadora de calibre 12,7 mm disparando através do arco da hélice.  Nesta fase inicial, a aeronave não dispunha de blindagem de cabine ou tanques de combustível auto vedantes. Seu trem de pouso retrátil girava 90 ° para dobrar as rodas principais na parte traseira da asa, apoiado sobre as extremidades inferiores das hastes laterais quando retraído, sendo este um revolucionário projeto patenteado anteriormente pela Boeing Aircraft, razão pela qual Curtiss-Wright Corporation teria de que pagar royalties.

Em fins do ano de 1936, a empresa passaria a receber grandes contratos governamentais principalmente capitaneados pelos caças Curtiss Wright P-36A Hawk, gerando uma grande base de recursos financeiros permitindo assim a expansão de sua linha de projetos e desenvolvimento de aeronaves. Neste momento a Curtiss-Wright Corporation começaria a esboçar os primeiros passos no segmento de aeronaves de transporte comercial que poderiam também atender a propósitos militares. Assim neste mesmo ano, seria formada uma equipe de projetos, que seria liderada pelo engenheiro aeronáutico George W. Page, este time teria por objetivo formatar parâmetros e primícias para o desenvolvimento de uma aeronave de transporte de grande porte que pudesse rivalizar com seu principal concorrente neste segmento, o Douglas DC-3 – C-47 Skytrain. Seria definido que a nova aeronave deveria contar com inúmeras inovações, entre estas a pressurização da cabine de passageiros e pilotos, resultando na formatação da secção principal da fuselagem com a adoção do conceito de desing “double-bubble” (bolha dupla), solução esta que permitiria o aumento do volume útil da aeronave. Por se tratar de um conceito novo a ser a aplicado a aeronaves comerciais, este projeto seria revisado constantemente, recebendo correções e melhorias. O primeiro protótipo receberia a designação de CW-20T com a matricula civil NX-19436, e realizaria seu voo inaugural em 26 de março de 1940 nas instalações da Curtiss Wright Corporation, em Saint Louis no estado do Missouri. A seguir seria implementado um programa inicial de ensaios em voo para as validações sobre a segurança e desempenho da aeronave. Nesta fase a empresa iniciaria uma larga campanha comercial e de marketing da nova aeronave, visando assim, se antecipar as concorrências junto as empresas áreas com o Douglas DC-3, paralelamente a este processo a aeronave continuava a ser submetida a campanha de ensaios.
Nesta fase de desenvolvimento e avaliação final, mais alterações seriam implementadas, entre as mais significativas se daria na mudança do conjunto de cauda, que originalmente apresentava uma configuração de duas empenagens verticais, passando assim apresentar um projeto de concepção convencional, sendo composta na forma de uma única peça, buscando assim uma significativa melhoria da estabilidade em baixas velocidades.  Além de perspectivas positivas junto ao mercado civil de transporte de passageiros, o agravamento das tensões na Europa e no Pacífico, levaria o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a empreender esforços para o aumento emergencial de sua frota de aeronaves de transporte. O projeto básico da aeronave seria apresentado pela Curtiss Wright Corporation em julho de 1940, e inicialmente as características do modelo despertaram o interesse dos militares, com a aeronave recebendo exigências de pequenas adequações. Um protótipo seria produzido, recebendo a designação de C-55 (CW-20A), com sendo destinado a testes para aplicação militar, com este processo sendo capitaneado pelo General Henry H. "Hap", oficial responsável pelo processo de seleção de aeronaves. Seu relatório final recomendava a adoção do modelo como aeronave de transporte de carga militar, com uma versão simplificada sem a adoção do sistema de pressurização, o Curtiss Wright CW-20A sendo escolhida para adoção. Assim em 13 de setembro de 1940, seria assinado o primeiro contrato para a aquisição, envolvendo  quarenta e seis aeronaves já com a designação militar de C-46-CU Commando. Deste contrato as últimas vinte e uma aeronave seriam configuradas na versão Curtiss Wright CW-20B, recebendo a designação de C-46A-1-CU Commando.

As primeiras aeronaves começariam a ser entregues ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), somente no início do ano de 1941, e colocadas em operação logo em seguida. Porém diversos problemas operacionais seriam identificados nos Curtiss Wright C-46-CU Commando, levando a decisão de remeter trinta células para o fabricante, a fim de receberam a implementação de cerca de cinquenta e três alterações urgências de projeto. Estas células emergiriam deste processo com a designação de C-46A, recebendo novas portas de carga ampliadas, um piso de carga reforçado e uma cabine conversível, que proporcionaria maior agilidade na configuração da aeronave para o transporte de carga ou tropas. A primeira aeronave seria apresentada pelo seu criador, o engenheiro George A. Page Junior, aos militares norte-americanas em maio de 1941, finalmente o modelo seria aceito para operação. Desta maneira um novo contrato seria celebrado entre as partes, agora envolvendo duzentas aeronaves divididos em dois lotes. Problemas de ordem burocrática atrasariam o início da produção, sendo que até 7 de dezembro de 1941 apenas duas aeronaves seriam entregues. Neste momento a alteração de projeto mais importante seria a troca dos motores originais Wright Twin Cyclones, por dois novos e mais potentes motores Pratt & Whitney R-2800 Double Wasp de 2.000 hp cada, porém ao longo da produção, até novembro de 1943, mais de setecentas alterações e melhorias seriam aplicadas nos modelos de produção, embora muitas destas fossem pequenas, como mudanças no sistema de combustível e redução de janelas de cabine. Novos contratos seriam firmados elevando a frota para mil quatrocentas e cinquenta quatro aeronaves, quarenta das quais seriam destinadas ao Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps), recebendo a designação de R5C-1. Esta versão apresentava portas duplas de carga, piso reforçado e um guincho de movimentação de carga operado hidraulicamente; com possibilidade de instalação de quarenta assentos dobráveis.
Durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial, seriam produzidas 3.140 células de diversas versões do C-46 Curtiss Commando, sendo empregados em todos os teatros de operações sendo destinados a missões de transporte de carga – tropas, transporte especial (VIP) transporte e remoção aero médica. O modelo teria destacada atuação nos teatros de operações da China, Burma e Índia. No subcontinente asiático, o modelo seria essencial nas tarefas de ressuprimento das tropas aliadas na China, em face de suas características de desempenho superior aos Douglas C-47 em voos de grande altitude, tendo em vista que estas rotas de abastecimento aéreo exigiam o sobrevoo do Himalaia. No teatro de operações do Pacifico, seu grande raio de alcance o tornou ideal nas missões de ressuprimento das unidades militares espalhadas por centenas de ilhas. No entanto na Europa sua atuação seria extremamente tímida quando comparada ao maciço emprego dos Douglas C-47 que praticamente representaram o esteio da aviação de transporte aliada. Após o fim do conflito, a Força Aérea Americana (USAF) promoveria a desmobilização de grande parte de sua frota de aeronaves de transporte, envolvendo centenas de células do modelo C-46 Curtiss Commando que se encontravam e bom estado de conservação. Assim um grande número destas aeronaves seria cedido a nações alinhadas ao posicionamento ideológico norte-americano como Argentina, Bolívia, Columbia, Republica da China, Cuba, Equador, Republica Dominicana, Egito, Haiti, Honduras, Israel, Coreia do Sul, Japão, México, Laos e Peru. Uma representativa parte destas aeronaves, seria ainda comercializada no emergente mercado internacional de transporte de carga e passageiros.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Após o termino da Segunda Guerra Mundial, o Estados Unidos possuía em suas unidades de reserva milhares de aeronaves de transporte, bombardeio, patrulha e ataque que haviam recentemente sido retiradas de suas unidades operacionais e classificadas como excedente militar. No entanto o número de aeronaves que fora desmobilizado logo após ao fim do conflito era de proporções gigantescas, e neste contexto seria decidido que a esmagadora quantidade de aeronaves de caça e bombardeio deveriam ser sucateados e reciclados como matéria prima. Grande parte desta frota desmobilizada era composta mais notadamente por aeronaves de transporte de carga e tropas, se apresentando em milhares de células dos modelos Douglas C-47 Sky Train, Consolidated C-87 Liberator e Curtiss C-46 Commando, estando a maioria em excelente estado de conservação com poucas horas de voo. Além da cessão de centenas destas aeronaves para forças militares das nações amigas, o conceito principal era o de se dar vazão deste volume excedente mediante oferta ao mercado de transporte civil nos Estados Unidos e demais países, procedendo a desmilitarização das células e sua consequente alienação para venda. Os preços de partida para venda destes gerariam uma grande oportunidade para as empresas aéreas e investidores, pois as aeronaves de transporte foram oferecidas ao mercado civil por valores irrisórios que oscilavam entre US$ 40 e US$ 50 mil dólares por célula. Rapidamente milhares de aeronaves seriam adquiridas por operadores civis de todo o mundo, culminando em uma efervescência na criação de novas empresas de transporte aéreo regional. Porém este processo traria um grave efeito colateral com consequências danosas para a indústria aeronáutica daquele país, pois criou se um efeito colateral, prejudicando as vendas de novas aeronaves gerando uma crise sem precedentes nas principais fabricantes de aeronaves comerciais. A fim de se agravar esse cenário seria decidido interromper esta iniciativa, com as aeronaves restantes sendo desmontadas sistematicamente para o aproveitamento de matéria prima, nascia assim oficialmente a filosofia e a indústria de reciclagem.

Neste mesmo período nosso país se encontrava em um período de grandes esforços e interesses no estabelecimento de uma maior integração nacional de seu vasto território continental, despertando o interesse de inúmeros empresários e investidores potenciais, que vislumbravam no transporte aéreo regional uma grande oportunidade de negócios. Este sentimento seria potencializado pela oferta de aeronaves usadas de transporte ao mercado civil, com seus preços de aquisição representando uma verdadeira “pechincha”, ou seja, o cenário estabelecia as condições ideias para o surgimento de empresas de transporte aéreo no país. Assim muitas companhias seriam fundadas nesta época, com a maioria destas apresentando vidas efêmeras, seja muito por falta de recursos ou mesmo estratégias comerciais e operacionais duvidosas. O ponto comum a todas estas iniciativas era a participação do empresário Vinicius Valadares Vasconcellos, que se especializaria na importação e revenda de aeronaves usadas dos Estados Unidos, entre seus principais produtos estavam o Douglas C-47 Skytrain e o Curtiss C-46 Commando que foram fornecidas as dezenas ao mercado brasileiro. Na aviação civil brasileira. Apesar de estarem disponíveis em níveis inferiores de frota quando comparados aos Douglas C-4 (DC-3), as aeronaves da Curtiss Wright Corporation, teriam destacado papel no processo de integração nacional, principalmente devido a seu alcance superior, que o permitiam em voos sem escalas alcançar regiões longínquas. Seu primeiro grande operador seria a empresa Varig S/A,  que ao incorporar a aeronave em 1948 estenderia sua malha viária pela primeira vez para a região do nordeste brasileiro, empregando estas aeronaves nas configurações de transporte somente de passageiros (luxo), misto (passageiros e carga) e cargueiro (especialmente transformado para esse fim). A versão luxo, tinha apenas trinta e seis assentos, sendo as poltronas dispostas numa configuração 2+2, mais largas que na configuração original, e apresentava ventiladores na cabine de passageiros. Já a versão mista tinha quarenta e seis assentos, com as poltronas dispostas em configuração 2+3. O segundo maior operador civil do Curtiss C-46 Commando seria a empresa Real-Aerovias-Nacional. 
Em fins de 1948 a empresa gerida por Vinicius Valadares Vasconcellos atravessaria um período de dificuldade financeira, passando a não dispor de um fluxo de caixa compatível com os compromissos existentes com parceiros e fornecedores. Neste momento a companhia dispunha em estoque de duas células usadas do modelo Curtiss Comando C-46A prontas para o emprego comercial sendo matriculadas como PP-XBR e PP-XBX, e estas seriam usadas no objetivo de gerar caixa, sendo então oferecidas a condições interessantes para o Ministério da Aeronáutica (MAer). Negociações seriam conduzidas culminado em sua aquisição para o emprego em tarefas de transporte de pessoal e carga, sendo incorporadas e transferidas no dia 15 de outubro de 1948 para o 2º Grupo de Transporte (GT), baseado no aeroporto internacional do Galeão no Rio de Janeiro. Já de posse da unidade receberiam a designação militar de C-46 e as matriculas militares de FAB 2057 e FAB 2058. Nesta unidade, os Curtiss C-46 Commando passariam a realizar tarefas de transporte de carga e passageiros, sendo as empregados em maior frequência nas missões em apoio ao governo federal, principalmente devido a volumosa capacidade de transporte interna. As duas aeronaves eram veteranas Segunda Guerra Mundial, com o C-46 FAB 2057 operando a serviço da Força Aérea Americana (USAF) no continente, já o FAB 2058 serviria diretamente no front de batalha no pacifico a serviço do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) operando sob a designação R5C-1 (BuaAer 50711) junto ao esquadrão VMR-252 que estava sediado na ilha Kwajalein, unidade esta que estava encarregada diretamente do ressuprimento das tropas e evacuação aero médica nas operações táticas destinadas a invasão da ilha de Okinawa.

Os Curtiss C-46 Commando continuariam ao longo dos meses seguintes a registrar excelentes desempenho em suas missões junto ao 2º Grupo de Transporte (2º GT) principalmente nas tarefas em linhas a proveito do Correio Aéreo Nacional (CAN), no país e também no exterior, rendendo inúmeros elogios por parte de seus pilotos e tripulantes. Infelizmente em 13 de outubro de 1949 o Curtiss C-46 Commando FAB 2057, apenas onze meses após ter sido incorporado sofreria um grave acidente nas proximidades da cidade boliviana de Oruro, quando operação de uma linha internacional do Correio Aéreo Nacional (CAN), resultando em perda total de material e pessoal. Mais afortunado, o Curtiss C-46 Commando FAB 2058 seguiria desempenhando as mesmas missões atribuídas ao 2º Grupo de Transporte (2º GT), operando em parceria com os Douglas C-47 Skytrain que representavam o esteio da unidade. Porém ao longo dos meses seguintes, virtude de padronização dos processos de manutenção e gestão do fluxo de peças de reposição não era aconselhável operar somente com uma célula de um modelo específico de aeronave. Assim em novembro de 1952 o Curtiss C-46 Commando FAB 2058 seria transferido para 2º/2º Grupo de Transporte Esquadrão Corsário onde serviria até fins de 1956. Em janeiro do ano seguinte a aeronave seria transferida para o Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PAAF), onde seria empregado como aeronave orgânica, realizando missões de apoio às unidades da Força Aérea Brasileira, cujos aviões eram revisados naquele parque apoiador. Apesar de registrar novamente excelentes resultados operacionais, começavam a se registrar grandes dificuldades no processo de obtenção de peças de reposição (devido a descontinuação da produção modelo há mais de quinze anos). Este critico cenário levaria a decisão pela desativação da aeronave, sendo a mesma excluída do serviço ativo da Força Aérea Brasileira em 17 de abril de 1968, encerrando assim a sua carreira militar no Brasil.
Após a sua desativação, o Curtiss C-46 Commando FAB 2058 permaneceria estacionado no pátio do Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PAAF), sendo até temporariamente incluído no acervo do recém-criado Museu Aeroespacial (MUSAL) em 1973, entrando em reserva técnica para posterior restauro. Infelizmente um parecer da curadoria do museu não recomendaria sua preservação, pois o classificaria como de baixo valor histórico para a História da aeronáutica militar no pais, em virtude de sua efêmera folha de serviços. Em fins de 1980, a aeronave seria  trasladada para o Aeroporto Santos-Dumont no Rio de Janeiro, onde permaneceu por cerca de oito anos abandonada no tempo e na maresia, quando foi recuperada novamente e deslocada para Belém no estado do Para , onde operou na Taxi Aéreo Royal até meados de 1996, quando foi quando foi desativada e abandonada neste mesmo aeroporto. Em 1997 a nova direção do Museu Aeroespacial (Musal) imbuída de uma nova filosofia de preservação iniciaria negociações com os proprietários da aeronave, visando novamente adquirir esta célula que agora ostentava a matricula civil PP-LBP. As tratativas seriam bem-sucedidas, e após uma revisão geral, a aeronave seria transladada em voo até as oficinas da empresa Varig S/A no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro. Deste processo de revisão e restauração a aeronave emergiria ostentando o ultimo padrão de pintura empregado quando em uso como aeronave orgânica junto ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PAAF). Seu último voo ocorreria no dia 03 de julho de 1998, na rota Galeão - Campo dos Afonsos, sendo pilotado pelos Comandantes José Jaú Margalho e Elizeu Fernandes, sendo assim finalmente incorporado ao acervo do Museu Aeroespacial (Musal).
Em Escala.
Para representarmos o C-46 Commando "FAB 2058" utilizamos o antigo kit do fabricante Willian Bross na escala 1/72, modelo este que demanda extrema paciência e perseverança do modelista dado o nível de qualidade do mesmo, porém esta é a única opção para se representar esta aeronave. Decais confeccionados pela FCM Decais presentes em vários sets compuseram a finalização do modelo.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o terceiro padrão de pintura empregado pela aeronave, sendo inicialmente recebidas em um esquema de metal natural, que foi alterada em 1953 com marcações em day glo de alta visibilidade, e em 1958 após uma revisão em âmbito de parque viria a receber o mesmo esquema padrão dos Douglas C-47.



Bibliografia :

- Curtiss C-46 na Varig -  https://www.varig-airlines.com/pt/c46.htm
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr
- Curtiss C-46 Commando   Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Curtiss_C-46_Commando
História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha -  http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

M-59A1 - Conversão M-41 Walker Buldog

Conceito e Objetivo : 

O carro blindados de transporte de tropas FMC M59 APC é um dos poucos veículos blindados originários das décadas de 1950 e 1960 que não apresenta um kit para se montar seja na escala 1/35 ou mesmo 1/72. Apesar de não representar um famoso modelo o mesmo logra a historia de ser uma das bases de desenvolvimento para o clássico M113, assim desta maneira como o M59 foi empregado por mais de duas décadas no Exercito Brasileiro, decidimos replicar o modelo em escala, criando assim o "Projeto M59".

Para realizarmos a concepção deste projeto, partimos com base no kit Tamiya na escala 1/35, tendo por base que o M59 foi desenvolvido com base no projeto do carro de combate médio M-41 Walker Buldog, apesar de ser um modelo espartano atende bem as necessidades de emprego nesta conversão. Basicamente como poderemos ver a seguir empregamos do modelo original apenas uma parte do casco do M-41 ( parte frontal e traseira ), sistema de suspensão, bogies, esteiras e peças avulsas para detalhamento. Podemos assim considerar que construímos em  scratch aproximadamente 80 % do veículo empregando uma variedade de materiais, como peças em resina, linha de costura, material de pesca, plasticard, papelão, canudos de refrigerante, clips de papel, entre outros.
Toda a confecção foi baseada em fotos de arquivo, tendo em vista a baixa quantidade de material de pesquisa disponível na internet. Procuramos fidelizar ao máximo o modelo pretendido, porém a ausência de desenhos técnicos específicos e fotos mais detalhadas podem gerar divergências entre nosso veículo e o original.

Apesar de representar um processo trabalhoso com o envolvimento de muito scratch, massa plástica, fases de lixamento, correção estrutural e muita paciência na localização de materiais alternativos , o resultado final gera é  surpreendente pois não  há nada mais recompensador do que poder ter em seu acervo um modelo diferenciado e único.

Para conferir o modelo finalizado acesse o artigo sobre o emprego dos VBTT M59A1 FMC no Brasil


Embraer C-95 Bandeirante


História e Desenvolvimento. 
No início da década de 1960, a Força Aérea Brasileira comprometeu-se com um ambicioso programa de integração nacional. Neste contexto, quase toda a sua frota de aeronaves Douglas C-47 e Beechcraft C-45 foi mobilizada, com o intuito de expandir não apenas as linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), mas também de realizar missões de assistência logística e médica nas regiões mais remotas do país.  Contudo, ao longo dos anos, o uso intensivo dessas aeronaves resultou em desgastes estruturais significativos, o que impactou diretamente nos índices de indisponibilidade da frota. Esta situação foi ainda mais exacerbada pelas dificuldades na obtenção de peças de reposição, evidenciando a necessidade premente de substituir integralmente a frota existente. Neste cenário, o Coronel Ozires Silva apresentou ao comando da Aeronáutica uma proposta para o desenvolvimento de uma aeronave bimotora nacional de médio porte. Os esforços para a concretização deste projeto começaram a tomar forma em junho de 1965, em colaboração com o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, com o lançamento do programa IPD-6504. Sob a supervisão do engenheiro francês Max Holst, que havia projetado diversas aeronaves, incluindo o MH-1521 Broussard, utilizado pela Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), uma equipe dedicada foi formada para atender a essa demanda. O projeto envolvia o desenvolvimento de uma aeronave bimotora de asa baixa, com estrutura metálica, medindo 12,74 metros de comprimento, janelas em formato de bolha e capacidade para oito passageiros. A partir do início de 1967, após a elaboração dos cálculos e desenhos necessários, iniciou-se a construção de um mock-up em escala 1:1, com o corte e a moldagem dos painéis realizados manualmente sobre o modelo. Paralelamente, foram selecionados motores turbo-hélice Pratt & Whitney PT6A-20 de 550 shp cada, que garantiriam à aeronave o alcance dos patamares de desempenho desejados. O programa de desenvolvimento e construção se estendeu por três anos e quatro meses, totalizando cento e dez mil horas de trabalho e envolvendo diretamente cerca de trezentos colaboradores. O primeiro protótipo, designado YC-95 Bandeirante (nome dado em  honra aos desbravadores do Brasil, no século XVI), foi concluído no início de outubro de 1968 e preparado para seu primeiro voo. Os motores do Bandeirante funcionaram pela primeira vez no dia 17 de outubro, incrivelmente seis dias antes do primeiro voo. Vários testes de solo foram realizados exaustivamente pelos projetistas e pilotos, para garantir a confiabilidade dos sistemas, um trem de pouso foi danificado durante um taxiamento, mas consertado antes do dia previsto. 

O grande  momento histórico ocorreu na manhã do dia 22 do referido mês, quando o YC-95 decolou para seu voo de testes. Durante este voo inaugural, foi detectada uma instabilidade direcional na aeronave, que foi prontamente corrigida pela equipe técnica do CTA. Após a realização de ajustes menores, em 27 de outubro de 1968, o YC-95 Bandeirante, registrado sob a matrícula FAB 2130, foi oficialmente apresentado em uma cerimônia no aeroporto de São José dos Campos, São Paulo. A cerimônia contou com a presença de autoridades, representantes da imprensa e um público estimado em 15 mil pessoas. Sob os atentos olhares dos presentes, a aeronave decolou de uma pista não pavimentada, pilotada pelo Major Mariotto Ferreira e pelo Engenheiro Michel Cury, celebrando assim os anos de dedicação investidos no programa da aeronave brasileira. Em 1969, devido a divergências de opinião sobre a condução do desenvolvimento do projeto, o engenheiro francês Max Holste deixou a equipe. Nesse mesmo ano, o Coronel Ozires Silva e sua equipe iniciaram esforços para buscar parcerias no setor privado nacional para a produção em série da nova aeronave. Apesar das muitas negativas enfrentadas, o Coronel não se deixou desanimar; uma grande oportunidade surgiu durante um encontro inesperado com o presidente Artur da Costa Silva, no qual ele conseguiu convencê-lo a investir no projeto de produção em série. Esse esforço resultou na criação de uma empresa estatal de capital misto, estabelecida na cidade de São José dos Campos, São Paulo, com sua fundação ocorrendo em 19 de agosto de 1969. A nova empresa recebeu o nome de Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), tendo o Coronel Ozires Silva como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1986. Assim, o projeto IPD-6504 e seus dois protótipos foram transferidos para a nova empresa, recebendo a designação oficial de EMB-100 Bandeirante. Subsequentemente, iniciaram-se trabalhos focados na melhoria do projeto e no desenvolvimento da engenharia de processo para a futura produção em série da aeronave. Como resultado desse trabalho, foi criado um terceiro protótipo, que recebeu a matrícula PP-ZCN e realizou seu voo inaugural em 29 de junho de 1970. Apesar de seu bom desempenho durante os testes de voo, constatou-se que as condições e os parâmetros operacionais para os quais o projeto havia sido originalmente concebido haviam se modificado. Em particular, a capacidade de transporte de até oito passageiros se tornara insuficiente, pois o mercado passou a preferir modelos com capacidade para até doze passageiros. Essa mudança trazia desafios significativos para o sucesso do EMB-100 nos segmentos comercial nacional e internacional, levando a empresa a um processo de reformulação do projeto. 
Assim, nasceu o Embraer EMB-110, uma nova versão com maior porte, que atendia à nova demanda por transporte civil e cuja variante militar (C-95) poderia também carregar uma carga útil maior, incorporando avanços técnicos significativos. A partir das novas definições  de projeto estabelecidas, em novembro teve início a produção do primeiro exemplar pré-série da versão militar, designado como C-95, recebendo a matrícula FAB 2133. Este modelo apresentava uma fuselagem alongada em relação aos primeiros protótipos, com 14,23 metros de comprimento, e passava a incorporar janelas retangulares em vez das ovais originais. Possuía também  um novo estabilizador vertical, naceles de motores redesenhadas e motores turboélices mais potentes do modelo Pratt & Whitney PT6A-27, cada um com 680 hp. O primeiro voo do C-95 FAB 2133 ocorreu em 9 de agosto de 1972, sendo imediatamente destinado a um extenso e detalhado programa de testes e ensaios em voo conduzido pela Força Aérea Brasileira. Posteriormente, a aeronave recebeu homologação operacional oficial do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) e de demais órgãos governamentais responsáveis pelo transporte aéreo. Nesse contexto, foi formalizado um contrato entre a Embraer S/A e o Ministério da Aeronáutica (MAer) para a aquisição de oitenta células, com as primeiras aeronaves previstas para entrega à Força Aérea Brasileira a partir de fevereiro de 1973. Contudo, até o final de 1976, foram produzidas e incorporadas apenas cinquenta e cinco células. Embora tenha sido concebido inicialmente para fins militares, o Embraer C-95 Bandeirante demonstrou também um notável potencial civil. Assim, que foi lançado o modelo EMB-110C, que apresentava capacidade para até dezesseis passageiros o que despertaria o interesse de operadores regionais. O primeiro contrato comercial foi celebrado com a empresa Transbrasil S/A, que recebeu seu primeiro exemplar em abril de 1973, ostentado a matrícula PT-TBA. Em seguida, Vasp S/A, uma empresa estadual paulista de capital misto, tornou-se o segundo operador comercial do modelo, com esta variante atingindo a  produção total de trinta e quatro células. Devido ao seu projeto bem dimensionado para o o atendimento de trechos regionais com considerável desempenho, o EMB-110 Bandeirante rapidamente iniciaria seus primeiros passos no mercado internacional, conquistando vários contratos nos Estados Unidos. Em 1975, foi concretizada a primeira exportação de uma versão militar para a Força Aérea do Uruguai (FAU). Apenas dois anos depois, a companhia aérea francesa Air Littoral se tornou o primeiro cliente internacional da versão civil. 

Nos anos subsequentes, o Embraer EMB-110 consolidou-se como referência no mercado regional norte-americano, conquistando uma ampla base de clientes composta por empresas renomadas de transporte regional. Buscando diversificar seu portifólio, seria desenvolvida a  versão EMB-110E, derivando diretamente do EMB-110C, destinada ao mercado  de transporte executivo, com seu interior podendo ser customizado para seis ou oito passageiros; apesar de representar um grande diferencial, apenas quatro aeronaves seriam produzidas e comercializadas. Já versão a nova  EMB-110J representou um desenvolvimento do EMB-110E, dos quais foram produzidos apenas doze exemplares. O emprego operacional desta versão inicial, motivaria a equipe de projetos da  Embraer S/A a estudar novas modificações no projeto, visando assim melhorar o a performance do modelo tanto no requisito de desempenho, quanto em capacidade de carga. O fruto deste estudo se concretizaria em 1975 no desenvolvimento da versão EMB 110K1 Bandeirante, que tinha como principal objetivo o mercado de transporte militar (atendendo primordialmente uma demanda da Força Aérea Brasileira), esta aeronave teria sua fuselagem alongada em 0,87 cm, permitindo assim a inclusão de uma porta traseira de carga e uma porta extra para a tripulação e passageiros. Passaria a contar com o novo modelo mais potente do motor Pratt & Whitney PT6A-34 com 750 shp e aprimoramentos na avionica, trens de pouso e sistemas elétricos e de combustível. Esta nova versão receberia a designação de C-95A Bandeirante. Duas versões civis derivaram do modelo militar, sendo o EMB-110P1 para até dezenove passageiros ou carga e o EMB-110P2 para transporte exclusivo de até vinte e um passageiros, que ao invés da porta de carga, dispunha uma porta de serviço. Em fins da década de 1970, surgiria a versão militar EMB 110P1(K) que passou a ser conhecida como C-95B Bandeirante, tratava-se de um modelo com uma série de melhorias e aprimoramentos sobre seu modelo antecessor, entre estes destaca-se a adoção de uma porta de serviço de 1,42 X 0,63m, embutida na porta de carga, que podia ser aberta em voo para o lançamento de cargas ou paraquedistas. Dispondo de uma capacidade de transporte de carga de até 1.700 kg o Embraer C-95B Bandeirante se tornaria o esteio das unidades de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB) que operariam o modelo.
Entre os anos de 1981 e 1982, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu cinco exemplares da versão EMB-110P1K SAR, aeronaves projetadas especificamente para a execução de missões de busca e salvamento. Essas aeronaves, designadas SC-95B foram registradas sob as matrículas FAB 6542 a FAB 6546, sendo incorporadas ao 2º/10º Grupo de Aviação - Esquadrão Pelicano, onde passariam a substituir os antigos anfíbios Grumman SA-16 Albatross empregados até este momento. Os SC-95B foram fornecidos internamente para realizar evacuações aeromédicas, possuindo capacidade para transportar até seis feridos em macas. Além disso, a aeronave permite o lançamento de botes salva-vidas e paramédicos por meio de paraquedas através da porta traseira. Para melhorar as operações de observação e busca, foram instaladas duas amplas janelas ovais em formato de bolha na parte posterior da fuselagem. Em 1983, a Embraer S/A desenvolveu a última variante militar do modelo, o EMB-110P1(A) Bandeirante, que recebeu a designação C-95C. Esta versão foi aprimorada com melhorias significativas, incluindo um isolamento acústico mais eficiente, modernização dos sistemas de aviônica e a adoção de estabilizadores horizontais com um ângulo de diedro positivo de 10 graus, medida destinada a incrementar a estabilidade e o desempenho da aeronave. Até o fim de sua produção, em dezembro de 1991, foram fabricadas 498 unidades do EMB-110 Bandeirante de todas as versões, atendendo tanto ao mercado civil regional em oito países quanto a nove operadores militares, entre os quais se destacam Chile, Brasil, Gabão, Uruguai, Cabo Verde, Colômbia e Angola. Este projeto foi um divisor de aguas para o pais, passando de um simples fornecedor de comodities para um dos expoentes da indústria aeronáutica internacional. Quando  ouvimos a palavra “Bandeirante” lembramos do início da maior indústria aeronáutica do Brasil, a Embraer S/A, fundada em motivação da comercialização dessa aeronave com todo o planeta, seria o primeiro passo para futuros projetos e parcerias internacionais. O conhecimento agregado com o Bandeirante possibilitou à criação do o EMB-121 Xingu, pressurizado, compartilhando asas modificadas e trem de pouso, com nova fuselagem de seção cilíndrica. Na sequencia seria desenvolvido o EMB-120 Brasilia, que  com base eu projeto daria origem a família de jatos regionais EMB-145, levando a empresa brasileira a  entrar no mercado comercial de jatos de transporte de passageiros e jatos executivos, galgando o posto de terceira maior fabricante do mundo.

Emprego na Força Aérea Brasileira
O Embraer C-95 Bandeirante foi desenvolvido em atendimento a uma solicitação da Força Aérea Brasileira (FAB), que buscava substituir gradualmente sua frota de aeronaves de transporte, composta pelos modelos Douglas C-47 e Beechcraft C-45. Essas aeronaves, devido ao prolongado tempo de uso, apresentavam sinais evidentes de obsolescência em suas estruturas. Nesse contexto, foi formalizado o primeiro contrato de aquisição, com o objetivo de fornecer 80 unidades do C-95, quantidade considerada suficiente para equipar imediatamente os principais esquadrões de transporte aéreo da Força Aérea Brasileira (FAB). O processo de reequipamento priorizou as unidades responsáveis pelas missões do Correio Aéreo Nacional (CAN), com ênfase nas operações realizadas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. As três primeiras unidades do C-95, registradas sob as matrículas FAB 2132, FAB 2133 e FAB 2134, foram entregues a partir de 9 de fevereiro de 1973 e alocadas inicialmente ao 3º Esquadrão de Transporte Aéreo (3º ETA) – Pioneiro, sediado na Base Aérea do Galeão. Essas aeronaves passaram a desempenhar de imediato funções essenciais no âmbito do III Comando Aéreo Regional (IIICOMAR), incluindo transporte logístico regional, operação de linhas aéreas regionais, integração nacional, além de missões de salvamento e evacuação aeromédica, entre outras atividades. A partir de meados de 1974, a Embraer S/A alcançou uma cadência de produção de quatro unidades mensais do C-95 Bandeirante, ritmo que permitiu a rápida distribuição do modelo entre diversas unidades de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB). Posteriormente, as aeronaves foram destinadas aos esquadrões 1º ETA, 2º ETA e 4º ETA, bem como ao Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipamentos (CATRE), unidade estabelecida em janeiro de 1974 na cidade de Natal, onde o C-95 foi empregado em tarefas orgânicas. Nos primeiros anos de operação, a frota composta por 55 unidades do C-95 Bandeirante, abrangendo as matrículas FAB 2132 a FAB 2175 e FAB 2179 a FAB 2189, demonstrou seu valor operacional, consolidando um avanço significativo na aviação de transporte da Força Aérea Brasileira. Com o objetivo de substituir os veteranos Douglas EC-47, a Embraer S/A desenvolveu a variante EMB-110A, designada como EC-95, destinada à calibragem de auxílios à navegação. Essa versão possuía capacidade para até seis passageiros ou operadores dos sistemas eletronicos. Posteriormente, foi criada a variante EMB-110B, designada como R-95, voltada para missões de aerofotogrametria. Equipada com câmeras Zeiss e aviônicos adicionais, essa versão tinha capacidade para até cinco passageiros ou operadores. Em operação militar, as aeronaves da família Bandeirante destacaram-se pela elevada disponibilidade operacional e por apresentarem uma excelente relação custo-benefício.

A experiência inicial com o Embraer C-95 Bandeirante revelou oportunidades de aprimoramento no projeto original, questão que foi objeto de extensos debates entre a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Embraer. Como resultado dessas discussões, foi desenvolvida a variante EMB-110K1 Bandeirante, designada militarmente como C-95A, consolidando os esforços para otimizar o desempenho e a funcionalidade da aeronave. No início de 1976, o Ministério da Aeronáutica (MAer), em conjunto com a fabricante, revisou o contrato inicial, decidindo converter o último lote de 25 unidades para a nova versão EMB-110K1 Bandeirante. Essa variante, projetada primordialmente para o transporte militar, incorporava motores Pratt & Whitney Canada PT6A-34 de 750 HP, uma nova deriva ventral, fuselagem com comprimento de 14,60 metros, uma porta de carga traseira e uma porta adicional para passageiros e tripulação. As entregas dessas aeronaves, registradas sob as matrículas FAB 2280 a FAB 2299, tiveram início em meados de 1976. A primeira unidade a operar o modelo C-95A foi o 5º Esquadrão de Transporte Aéreo (5º ETA), em outubro de 1977, sediado na Base Aérea de Canoas. O processo de entrega das demais unidades se estendeu até setembro de 1978, com as células restantes sendo distribuídas entre os cinco esquadrões de transporte aéreo então existentes. Em 1978, as aeronaves do 5º ETA passaram a ser empregadas pelo 3º Esquadrão de Instrução Aérea (EIA), unidade dedicada à formação de pilotos de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB). Três anos mais tarde, em 1981, esse esquadrão foi extinto, e a missão de instrução foi transferida para o 1º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão Rumba. Este esquadrão assumiu a responsabilidade pela formação de pilotos multimotores até 1993, retomando essa função com os C-95 Bandeirante em 2001. Durante sua atuação no Esquadrão Rumba, foi criada a Esquadrilha Deadalus, composta por cinco aeronaves C-95 Bandeirante, com o objetivo de realizar demonstrações aéreas. A primeira apresentação ocorreu em Natal, em 10 de fevereiro de 1982, durante as solenidades de passagem de comando do Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipagens (CATRE). Posteriormente, em 18 de agosto de 1982, a esquadrilha realizou sua primeira exibição com uso de fumaça, em São José dos Campos, como parte das comemorações do aniversário da Embraer S/A. Contudo, a Esquadrilha Deadalus foi dissolvida em 1983, e as aeronaves retornaram exclusivamente às missões de formação de pilotos multimotores e transporte orgânico. 
A partir de outubro de 1976, as aeronaves Embraer C-95 Bandeirante, registradas sob as matrículas FAB 2187 e FAB 2189, foram temporariamente alocadas ao 1º/7º Grupo de Aviação (GAv) – Esquadrão Orungan. Essas unidades serviram como aeronaves de transição após a desativação dos Lockheed P-15 Netuno, em setembro do mesmo ano, até a chegada dos novos Embraer EMB-111 P-95 Bandeirulha, cujo recebimento teve início em 1978. Durante sua trajetória na Força Aérea Brasileira (FAB), os C-95 Bandeirante destacaram-se pelo desempenho consistente em missões de transporte de passageiros e formação de pilotos, além de atenderem às necessidades de operações de patrulha, reconhecimento, busca e salvamento e transporte logístico. No início de 1981, os C-95 Bandeirante remanescentes encontravam-se distribuídos entre o 1º/5º Grupo de Aviação (GAv) – Esquadrão Rumba, o 1º/15º GAv – Esquadrão Onça e os sete Esquadrões de Transporte Aéreo (ETA). Essas aeronaves desempenharam um papel relevante como unidades orgânicas a serviço de diversas instituições, incluindo a Academia da Força Aérea (AFA), a Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAr), o Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA), o Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipagens (CATRE), bem como bases aéreas localizadas em Florianópolis, Santa Cruz, Anápolis, Fortaleza e Campo Grande. Em fins de 1979, o Ministério da Aeronáutica (MAer) formalizou uma nova encomenda junto à Embraer S/A, optando pelo modelo mais recente, o EMB-110P1(K). Essa aquisição envolveu 31 unidades, designadas como C-95B Bandeirante, que receberam as matrículas FAB 2300 a FAB 2330. As entregas tiveram início em fevereiro de 1980 e se estenderam até outubro de 1984. As primeiras unidades operacionais da FAB a receberem o C-95B foram o 2º/2º Grupo de Transporte (2º/2º GT) – Esquadrão Corsário e o 1º/15º GAv – Esquadrão Onça, este último substituindo seus bimotores canadenses De Havilland C-115 Buffalo pela nova aeronave de fabricação nacional. Gradativamente, outras unidades passaram a operar o Embraer C-95B Bandeirante, e foi estabelecida uma divisão interna para otimizar a alocação dos modelos. O C-95 original foi concentrado nos 2º, 4º e 5º Esquadrões de Transporte Aéreo (ETA), enquanto os novos C-95B foram destinados aos 1º, 3º, 6º e 7º ETA, bem como ao 2º/2º GT – Esquadrão Corsário e ao 1º/15º GAv – Esquadrão Onça. Essas últimas unidades, com foco em operações táticas militares, destacaram-se especialmente em tarefas como lançamento de paraquedistas e reabastecimento aéreo.

A incorporação do turboélice Embraer C-95 Bandeirante, equipado com desempenho aprimorado e modernos instrumentos de navegação e comunicação, elevou a aviação de transporte militar brasileira a um novo patamar, promovendo uma significativa evolução em sua doutrina operacional. Entre 1973 e 1981, os modelos C-95 e C-95B substituíram gradualmente os veteranos bimotores norte-americanos, processo concluído em 1982, quando o último voo de um Douglas C-47 foi realizado pela Força Aérea Brasileira (FAB). Em 1987, foi formalizada uma nova encomenda de 12 aeronaves, desta vez do modelo EMB-110P1(A), caracterizado principalmente pela adoção de estabilizadores horizontais com 10° de diedro positivo. As primeiras unidades, designadas C-95C e registradas sob as matrículas FAB 2331 a FAB 2342, começaram a ser entregues em junho de 1988. Dessas, 11 foram destinadas ao 6º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA), enquanto uma foi alocada como aeronave orgânica na Base Aérea de Anápolis. A entrega da última unidade deste contrato ocorreu apenas em agosto de 1990. Nesse interim, já se vislumbrava o fim da vida operacional das primeiras células incorporadas há quase 15 anos. Diante disso, o Comando da Aeronáutica iniciou estudos para definir o destino dessas aeronaves. Análises técnicas indicaram a necessidade de retirar de serviço as unidades mais desgastadas, com o objetivo de padronizar a frota em torno dos modelos mais modernos, como os C-95A, C-95B e C-95C. Assim, a partir de 1988, a FAB deu início à desativação gradual dos EMB-110 C-95 Bandeirante, começando pelas 13 aeronaves mais antigas. As células FAB 2133, 2134, 2135, 2136, 2137, 2138, 2139, 2140 e 2142 foram desmontadas e estocadas no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF), no Rio de Janeiro. Por sua vez, as quatro unidades restantes, registradas como FAB 2132, 2144, 2145 e 2147, passaram por revisão e foram colocadas em leilão, sendo adquiridas por operadores civis em outubro de 1990. Quatro anos depois, em 1994, foi determinada a retirada de serviço de mais 21 aeronaves. Essas unidades foram desmilitarizadas, revisadas e novamente oferecidas em leilão, sendo adquiridas por empresas de táxi aéreo e operadores particulares. Muitas dessas aeronaves permanecem em operação, especialmente como táxi aéreo nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Ao descontar da frota original quatro aeronaves perdidas em acidentes, o total de unidades disponíveis reduziu-se a 17 células. Para atender às demandas de treinamento, esse número foi elevado a 21 com a conversão de quatro aeronaves do modelo EC-95, transferidas do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV) no início dos anos 2000, após serem substituídas pelos novos EC-95C. Em setembro de 1995, o Exército Brasileiro celebrou um acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), que permitiu o arrendamento de quatro Embraer C-95 e uma unidade C-95B Bandeirante para suprir as necessidades de apoio aéreo daquela força. As aeronaves, provenientes do 7º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA) – matrículas FAB 2150, 2171 e 2183 – e do 1º/15º Grupo de Aviação (GAv) – matrícula FAB 2175 –, mantiveram as tripulações e as marcações da Força Aérea Brasileira (FAB), sendo identificadas oficialmente apenas pelo brasão do Exército Brasileiro aplicado na parte frontal da fuselagem. Os voos em benefício da Força Terrestre tiveram início em novembro de 1995 e se estenderam até o final de 1999, totalizando 7.200 horas de voo dedicadas exclusivamente ao Exército Brasileiro. Com o retorno dessas aeronaves, o 1º/5º GAv – Esquadrão Rumba passou a concentrar todas as células operacionais do C-95, mantendo a proficiência nas missões de instrução até 2011. A partir desse ano, os C-95 começaram a ser gradualmente substituídos pelos C-95A Bandeirante, e as unidades remanescentes foram encaminhadas ao Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF) para estocagem. Algumas aeronaves desse modelo foram preservadas como monumentos, enquanto outras foram doadas a governos estaduais ou instituições de ensino, permanecendo em operação até 2020. Os últimos voos dos C-95 Bandeirante na FAB ocorreram até meados de 2014, quando foram oficialmente retirados de serviço.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer EMB-110 Bandeirante C-95  “FAB 2143” empregamos o  kit em resina do fabricante GIIC Model Kits na escala 1/72, modelo que apesar de antigo pode proporcionar um resultado final satisfatório. Fizemos uso de decais originais do modelo combinados com decais confeccionados pela FCM Decals oriundos de diversos sets.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura adotado em toda a frota de aeronaves Embraer C-95 e C-95A, com a primeira versão desta aeronave mantendo este esquema até sua retirada de serviço em 2014. As células que foram arrendadas ao Exército Brasileiro mantiveram este padrão, adicionando apenas o brasão da organização junto a parte frontal da aeronave.


Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 por Jackson Flores Jr
- Centro Historico da Embraer – www.centrohistoricoembraer.com.br
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html