GMC Duwk & Camanf Bisseli

História e Desenvolvimento.
O mundo a partir da segunda metade da década de 1930, presenciaria um forte programa de rearmamento por parte Alemanha, que apesar de possuir sérias limitações impostas pelo Tratado de Versalhes (assinado após o término da Primeira Guerra Mundial) avançava em escaramuças a largos passos. O governo alemão que era regido partido nacional socialista (Partido Nazista), começava a esboçar preocupantes ambições em termos de expansão territorial na Europa. O plano secreto de fortalecimento militar alemão, estava focado no desenvolvimento de novos conceitos e doutrinas militares, que acabariam resultando na tática de combate "Blitzkrieg" (Guerra Relâmpago), um revolucionário método de guerra ofensiva projetado para desferir um golpe rápido e focado em um empregar em conjunto forças móveis e manobráveis, incluindo tanques blindados e apoio aéreo. Este conceito apresentava como um de seus principais pilares a alta mobilidade no campo de batalha, prevendo o rápido avanço de tropas, que deveria ser suportada por eficiente cadeia de apoio logístico para reabastecimento da linha de frente. Neste mesmo período atento a estas movimentações, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) estava imbuído em grande processo de modernização de suas forças armadas. Entre os principais objetivos figurava a aquisição em larga escala de uma nova família de caminhões fora de estrada com tração integral tipo 6X6.  Em atendimento a esta demanda, seria lançada em julho de 1939, uma concorrência, que apresentava como parâmetros básicos um novo caminhão com tração integral 6X6, que deveria dispor de uma área de carga útil de 3,7 metros, apresentando uma capacidade de transporte de até 2.268 kg. Diversas propostas seriam apresentadas ao comando do Corpo de Armas do Exército dos Estados Unidos (United States Army Ordnance Corps) no início do ano de 1940, a fim de serem analisadas. A escolha acabaria recaindo sobre uma proposta apresentada pela General Motors Company, o modelo desenvolvido com base no GMC ACKWX 353 6X6 projetado sobre encomenda para o Exército Francês (Armée de Terre). Sua produção seria destinada inicialmente a planta fabril da MGT Yellow Truck and Coach Division's Pontiac, Michigan, e ao longo do conflito representaria o esteio da força de transporte terrestre dos Aliados. 

O desenrolar dos eventos no início da Segunda Guerra Mundial, resultariam em grandes campanhas exitosas de conquista territorial por parte do Eixo (Alemanha – Itália – Japão), esta realidade trazia à tona que qualquer esforço de retomada de territórios deveria ser realizado por meio de grandes operações de desembarque anfíbio. Este cenário demandaria a necessidade de se dispor de um grande número de modelos de veículos e embarcações adequados a estas demandas, focando principalmente o aspecto logístico de suporte a força invasora. Pois após os primeiros pousos nas praias, havia a premente necessidade de movimentação de carga e pessoal para a linha de frente, e neste contexto soluções seriam estudadas, culminando no conceito do caminhão anfíbio. Este projeto seria capitaneado a partir de meados do ano de 1941, pelo Comitê de Pesquisa de Defesa Nacional e pelo Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico, com seus trabalhos liderados pelos engenheiros Roderick Stephens, Jr e Dennis Puleston (um marinheiro britânico) da empresa Sparkman e Stephens, Inc. em parceria com o projetista Frank W. Speir, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.  Este novo anfíbio deveria ser lançado no mar por navios de desembarque, próximos as praias, transportando assim cargas e pessoal, evitando assim o tempo de espera para o estabelecimento de portos improvisados nos cenários de desembarque.  Sua concepção especial em forma de barco lhe permitiria ampla mobilidade no ambiente aquático (inclusive em águas agitadas) e sua tração integral 6X6 lhe garantia a operação em terra como um caminhão convencional para emprego em terrenos fora de estrada. A principal premissa básica seria o emprego de plataformas de caminhões já existentes agilizando assim o processo de produção e facilitando a manutenção em campo devido a comunalidade de peças de reposição.  O projeto seria então baseado no chassi do modelo do caminhão General Motors AFKWX, modelo cab-over-engine (COE) de 2,5 toneladas com tração integral 6x6, com a adição de um casco estanque e uma hélice.   
Estaria equipado com um motor GMC Model 269 de seis cilindros em linha de 5,4 (270 L), acoplado a uma transmissão overdrive de cinco velocidades, que acionava uma caixa de transferência para a hélice e, em seguida, uma caixa de transferência de duas velocidades para acionar os eixos. A hélice e o eixo dianteiro eram selecionáveis a partir de sua caixa de transferência. O primeiro protótipo seria completado no início do ano seguinte, recebendo o codinome militar de DUWK, sendo a letra D referente ao ano de 1942, U de utilitário, K de veículo sobre rodas e a letra W referente a seus dois eixos de hélice. Em seguida seria disponibilizado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para aplicação em um programa de testes, porém apesar de promissores resultados este programa seria inicialmente rejeitado pelos oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC). No entanto este conceito seria superado em um evento, quando uma lancha de patrulha da Guarda Costeira dos Estados Unidos, encalharia em um balcão de areia nas cercanias de Provincetown, Massachusetts. Neste momento um protótipo deste modelo estava próximo a esta área, e mesmos os ventos de até 60 nós (110 km/h) chuva e ondas pesadas que impediam que as embarcações convencionais resgatassem os sete homens, não limitariam que este novo veículo executasse esta tarefa com êxito. Este inusitado evento derrubaria toda e qualquer oposição militar ao emprego do caminhão anfíbio Duwk, com este programa recebendo sinal verde para continuidade. Assim seu projeto final de produção seria aperfeiçoado pela equipe de engenharia da Yellow Truck & Coach em Pontiac, Michigan. Entre os refinamentos seria incorporado um sistema de bomba de porão de alta capacidade, que manteria a tona o veículo, se o casco fino fosse rompido por furos de até 2 polegadas (51 mm) de diâmetro. Seria também o primeiro caminhão militar a dispor de um sistema de controle de pressão dos pneus, sendo operado remotamente pelo motorista, permitindo assim a para adaptação dos pneus em ambientes de terrenos diversos, como de areia, para desembarque nas praias, estradas de terra e estradas pavimentadas. 

Os primeiros contratos de fornecimento seriam celebrados em regime emergencial, com sua produção sendo destinada principalmente as fábricas da General Motors Corporation, tendo em vista que neste momento as linhas da Yellow Truck and Coach Corporation estava praticamente ocupadas pela produção dos caminhões GMC CCKW 352 e CCKW 353. As primeiras entregas seriam priorizadas ao Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC) para futuro emprego no teatro de operações do Pacífico, com os lotes subsequentes sendo destinados ao Exército dos Estados Unidos (US Army). Seu batismo de fogo ocorreria no dia 7 de agosto de 1942, quando fuzileiros norte-americanos iniciaram a Campanha de Guadalcanal ou Operação Torre de Guarda, uma série de desembarques anfíbios em Guadalcanal, Tulagi e Florida, nas Ilhas Salomão. Neste mesmo teatro de operações, os GMC Duwks seriam empregados em travessias de áreas de recifes de corais como Saipan e Guam, com seus pneus e cascos não sendo afetados por estas formações naturais. Sua estreia no teatro de operações da Europa se daria em julho de 1943 durante a Operação Husky, a Invasão da Sicília, sendo novamente empregados nas operações Shingle e Avalanche em agosto do mesmo ano durante as batalhas de Anzio e Salerno na Itália. Nos auspícios do programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seriam fornecidos dois mil GMC Duwk a Grã-Bretanha e quinhentos e trinta e cinco a Austrália. Seriam largamente empregados durante durante a segunda leva de pousos nas praias da Normandia durante a Operação Overlord, e posteriormente durante a operação Dragoon sul da França, em 15 de agosto do mesmo ano. Nesta oportunidade os GMC Duwk provariam sua excelente navegabilidade cruzando o Canal da Mancha. Em seguida participariam em diversas operações de grande importância como a Batalha do Escalda, Operação Veritable e Operação Plunder. Nestas e demais operações acreditava-se que as cabeças de ponte anfíbias eram altamente vulneráveis a um contra-ataque inimigo, e como havia o eminente risco do esgotamento das munições das primeiras unidades desembarcadas o GMC Duwk representaria um papel fundamental transportando suprimentos dos navios para a terra e também realizando transporte médico de feridos nas praias para os navios hospitalares. 
Próximo ao término do conflito, os GMC Duwks seriam empregados na travessia do Lago de Garda, na Itália, utilizados pela 10ª Divisão de Montanha do Exército dos Estados Unidos (US Army), um destes afundaria durante a travessia de Torbole sul Garda para Riva del Garda na noite de 30 de abril de 1945. Ao todo até fins de 1945 seriam produzidos pelas plantas industriais da  Yellow Truck and Coach Co (GMC Truck and Coach Div. após 1943), Pontiac West e Chevrolet Div. da General Motors Corporation, totalizando 21.147 veiculos entregues. Após a Segunda Guerra Mundial, um número reduzido seria mantido em serviço pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Austrália, com o restante sendo armazenados para descarte e possível reciclagem de materiais. Em 1946, uma grande quantidade destes veículos seria transferida para França, sendo empregados pela Força de Fuzileiros Navais (Troupes de Marine). Muitos destes seriam usados em tarefas de transporte em seus territórios ultramarinos. O eclodir da Guerra da Coréia (1950-1953), demandaria a reativação de pelo menos quatrocentos GMC Duwk, com o 1º Grupo de Treinamento de Substituição de Transporte fornecendo treinamento paras as tripulações. Em atuação na península seriam empregados extensivamente para trazer suprimentos para terra durante a Batalha do Perímetro de Pusan e nos desembarques anfíbios em Incheon.  A Grã-Bretanha enviaria seus GMC DUKWs para a Malásia durante a Emergência Malaia (1948-1960), com muitos sendo realocados para Bornéu, durante o confronto Indonésia Malásia (1962-1966). Os veículos franceses seriam novamente empregados em um cenário de conflagração real durante a Primeira Guerra da Indochina, e alguns destes veículos receberiam novos cascos na década de 1970, com o último sendo aposentado em 1982. Curiosamente cinco GMC Duwk seriam revisados e mantidos em condições operacionais até o ano de 2012, sendo operados pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha Real (Royal Marines). 

Emprego na Marinha do Brasil
Durante a Segunda Guerra Mundial, as Forças Armadas Brasileiras foram submetidas a um grande processo de modernização, com este se iniciando após a adesão do país ao programa de ajuda militar norte-americano denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Este acordo viria a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Neste contexto a Marinha do Brasil receberia uma grande quantidade de meios navais, porém com seu foco quase que exclusivamente dedicado a guerra antissubmarino (ASW). Este fato em essência significava que neste momento, que outros braços do poder naval não seriam contemplados com a mesma oferta de meios e equipamentos, ficando de fora principalmente a guerra anfíbia. Este modal operativo passaria a ser visto como primordial pelo comando da Marinha do Brasil já próximo ao término do conflito, principalmente pela sua grande contribuição na vitória dos aliados. Na década de seguinte, uma das principais prioridades era o estabelecimento de estrutura de combate anfíbia, com os primeiros passos sendo dados nos anos seguintes com o objetivo de se constituir uma força de combate anfíbia nos moldes do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC). Neste contexto seria aprovação uma nova regulamentação para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que caracterizaria uma profunda mudança de orientação, preparando assim a força para plena capacidade operativa, com ênfase em operações anfíbias. Criava-se assim a Força de Fuzileiros de Esquadra ou FFE, no entanto este regulamento não determinava o início das operações em si, prevendo apenas a sua necessidade. Em meados da década de 1950, seriam recebidos os primeiros navios especializados na missão de transporte de tropas, o G-20 Custodio de Mello, G-16 Barroso Pereira, G-21 Ary Parreiras e G-22 Soares Dutra e também as embarcações de desembarque de pessoal, material e viaturas (EDVP e EDVM), criando as bases para o lançamento para operações anfíbias em larga escala. 

Neste momento seriam adquiridos os primeiros veículos destinados ao emprego nas operações de desembarque anfíbio como os jipes M-38A1, M-38A1C, Willys CJ-5 e utilitários leves como os Dodge M-37, que operariam a partir das Embarcações de Desembarque de Viaturas e Material (EDVM). Seriam iniciados os primeiros ciclos de adestramento fundamentados na realização de desembarques de pequena complexibilidade, envolvendo tropas, veículos leves, peças de artilharia e cargas. Entre estes podemos citar no ano de 1959 as operações Brisa em outubro, Corvina em novembro, sendo nesta última ativado pela primeira vez o Destacamento de Praia. Em setembro de 1960, seria realizada a operação Arfagem, simultaneamente a essa nova onda de exercícios anfíbios, as unidades da Força de Fuzileiros de Esquadra (FFE), se envolveriam em uma sequência de manobras interaliadas, quer permitiriam aos oficiais e praças adquirir mais conhecimento e acumular experiencia acerca da moderna guerra anfíbia, concedendo ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) um novo poder de projeção militar. Todo este esforço de dedicado a estas manobras de pequeno porte, criariam a condições básicas operacionais para a implementação de operações de maior porte. Assim no início do ano de 1964, teria lugar no litoral do estado do Espírito Santo a primogênita da série das Operações Dragão. Além da tropa percussora helitransportada a partir do porta aviões ligeiro A-11 Minas Gerais, seriam projetados em terra, em um período de dez horas (incluindo a movimentação navio para terra por superfície) um total de oitocentos militares, vinte viaturas leves e quatro obuseiros M-3A3 de 105 mm na cabeça de praia. Estes exercícios demonstrariam a necessidade de se contar com veículos anfíbios sobre esteiras que poderiam projetar tropas ou cargas diretamente nas praias e depois movimentá-las para a linha de frente após o estabelecimento da cabeça de ponte. 
Neste período no mercado de defesa, destacavam-se os modernos veículos de desembarque de pessoal rastreados norte-americanos LVTP-5 ou blindados de transporte de tropas FMC M-113, apesar de serem modelos com cunho aspiracional, seus custos de aquisição eram algo completamente fora da realidade orçamentária da Marinha do Brasil. Assim em fins da década de 1960, começariam a ser estudas opções alternativas de "compras de oportunidade de material bélico" que se adequassem aos investimentos disponíveis, com está derivando para possível compra de caminhões anfíbios GMC Duwk, que apesar da idade ainda se encontravam disponíveis em grande número no mercado internacional.  Dentre as opções existentes, chamaria a atenção a uma proposta apresentada em 1972, pelo governo francês, para o fornecimento de um lote de caminhões anfíbios deste modelo. A Marinha Nacional Francesa (Marine Nationale) após o término da Segunda Guerra Mundial ser tornara o segundo maior operador dos caminhões GMC Duwk, dispondo ainda neste período de uma grande quantidade destes veículos em sua frota. As as tratativas comerciais serem finalizadas, uma comitiva de oficiais brasileiros seria enviada a base naval de Angoulême, sede do 1º Regimento de Infantaria de Fuzileiros Navais (1º RIMa), para proceder a escolha de trinta e quatro caminhões deste modelo, tomando como critério o estado de conservação. Neste meio tempo seria negociado junto a empresa brasileira Novatração Artefatos de Borracha Ltda, um contrato para revitalização e revisão destes veículos, com esta empresa passando a alugar instalações de manutenção no porto de Antuérpia localizado em Flandres na Bélgica. Este processo seria conduzido com pleno êxito, com os trinta e quatro caminhões sendo então despachados por via naval ao Brasil e dezembro do ano de 1973. 

Após seu recebimento e incorporação junto a frota do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, os caminhões GMC Dukw, receberiam a designação de Caminhão Anfíbio - CAMANF. Após a realização do treinamento de seus condutores e equipes de manutenção estes veículos seriam destacados para operação do  Batalhão de Blindados do Corpo de Fuzileiros Navais, sediado no Rio de Janeiro. Com a adoção deste caminhão, seria possível enfim implementar completamente a doutrina de desembarque anfíbio, empregando os GMC Duwk da mesma maneira, que foram operados nas grandes campanhas durante a Segunda Guerra Mundial, realizando o reabastecimento rápido de suprimentos e munição para as tropas nas cabeças de ponte. Sua excelente capacidade de transporte de carga (incluindo até um jipe leve) ou de até cinquenta e nove soldados totalmente equipados, seriam de extrema importância na consolidação da doutrina de operações de transporte e desembarque de tropas das forças anfíbias. Ao longo dos anos seguintes os GMC Duwk participariam ativamente de exercícios operacionais de grande escala, como as operações Dragão.  Apesar desta boa performance operacional, estes veículos haviam sido produzidos há mais de trinta anos e já apresentavam o peso da idade, com este fator agravado por problemas no fluxo de peças de reposição do motor a gasolina GMC 270. Esta combinação de fatores passaria a gerar altos índices de indisponibilidade da pequena frota existente. Inicialmente no ano de 1975, pensou-se em aplicar um processo de revitalização e remotorização da frota existente (a exemplo do que foi realizado pelo Exército Brasileiros com com os caminhões GMC CCKW e Studebaker).  Porém posteriormente aferiu-se que o estado de conservação da grande maioria dos GMC Duwk era precário, levantando-se assim dúvidas sobre a viabilidade econômica de um tal programa. Neste momento nasceria o conceito visando o desenvolvimento de veículo nacional similar, a exemplo do que foi feito na União Soviética na década de 1950. Assim o Ministério da Marinha passaria a fazer consultas a empresas nacionais visando o atendimento a esta importante demanda.  A empresa paulista Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda responderia a este programa, firmando um contrato para desenvolvimento desta nova viatura, com este envolvendo a produção de vinte e cinco caminhões anfíbios, bem como a reforma de quatro GMC Duwk que se encontravam em  melhor estado de conservação. 
O chassi escolhido seria o pertencente ao caminhão nacional Ford F-7000 6×6, que recebeu modificações e reforços, com sua carroceria sendo inspirada nos GMC Duwks, omposta totalmente em aço laminado a frio, com estrutura de proa reforçada, tração nas seis rodas e pneus PPB a prova de balas 900 X 20 de rodagem simples. Estava equipado ainda com um sistema de inflamento e desinflamento dos pneus para qualquer terreno, que ao ser acionado armazenava o ar em um reservatório de alta pressão e distribuído por tubos de cobre as laterais do veículo, de onde mangueiras com conectores para enchimento dos pneus ficavam presas em suportes próximos da tomada de ar. O modelo faria uso do motor nacional Detroit Diesel 4-53N com 145 cv, operando em conjunto com uma caixa de transmissão manual Clark Equipament,  de onde um eixo de transmissão extra sai da transmissão para a caixa de transferência da hélice e atravessa o veículo todo até chegar à hélice posicionada na traseira, em arranjo similar ao do modelo original.  Este conjunto mecânico e casco seriam projetados para desenvolver velocidade máxima em terra de 72 km/h na água de 14 km/h com autonomia para 480 km em terra ou 18 horas em água, com um peso na ordem de 13.500 kg e carga máxima de 5 toneladas em terra ou águas calmas e 2,5 toneladas em águas agitadas. Para autodefesa poderia ser equipado com uma metralhadora Browning M-2HB calibre .50 (12.7 mm). Apesar do projeto se mostrar promissor durante a fase de teste dos protótipos, o modelo nunca seria produzido em larga escala, sendo completados apenas cinco unidades que mesmo assim prestariam relevantes serviços ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Esta decisão seria tomada com a finalidade de se priorizar recursos na aquisição de veículos anfíbios mais modernos e dotados de melhor proteção blindada como os nacionais Engesa EE-11 Urutu e os novos M-113A1 ACAV (em processo de recebimento a partir de 1976). Os últimos Bisseli CAMANFs foram retirados do serviço ativo em fins de 1988, com uma sendo unidade preservada no Quartel do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro. 

Em Escala.
Para representarmos o GMC Duwk   "CFN 2343319",  pertencente ao Batalhão de Blindados do Corpo de Fuzileiros Navais, utilizamos a nova edição do kit da Italeri na escala 1/35, sendo este modelo de ótima qualidade e nível de detalhamento. Para completarmos o conjunto fizemos uso de itens de carga em resina produzidos pela Eletric Products. Empregamos decais confeccionados pela Decals e Books, pertencentes ao set "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão empregando em todos as unidades dos modelos GMC Duwk e Bisseli CAMANF operadas pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, desde o seu recebimento até sua desativação em fins da década de 1980. Como principal diferença visual entre os modelos, o CAMANF apresentava a logomarca da Biselli em alto relevo aplicada na parte frontal do casco.  


Bibliografia :
- CAMANF – Um americano naturalizado brasileiro - http://nivelandoaengenharia.com.br/
- DUWK Caminhão Anfíbio do CFN - Expedito Carlos S. Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/DUKW.pdf

Jeep Anfíbio Ford GPA

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), passaria a dedicar cada mais esforços e recursos, com o objetivo assim acelerar o processo de transição de uma força terrestre hipomóvel para uma força mecanizada. E neste contexto cada vez mais se valia dos avanços tecnológicos implementados pela pujante indústria automotiva norte-americana. Este importante programa, além de abranger uma variada gama de veículos de carga e transporte de pessoal, priorizava o desenvolvimento de um veículo utilitário leve com tração integral 4X4, capaz de operar em ambientes fora de estrada devendo superar com facilidades obstáculos e ainda transportar até quatro soldados totalmente equipados. Diversas iniciativas seriam trabalhadas pelos militares em conjunto com a indústria automotiva para o atendimento deste objetivo, porém o conceito final deste novo utilitário só se materializaria a partir do início do ano de 1932. Seu idealizador o Coronel Robert G. Howie, um dos comandantes do 7º Companhia de Tanques, baseada no Fort Smelling Minn no estado de Minessota, e um dos principais defensores do conceito de motomecanização total da força terrestre. E assim tinha plena ciência das necessidades da força terrestre neste novo espectro operacional. Seu primeiro protótipo funcional, seria construído nas oficinas do Forte Sam Houston no estado do Texas, sendo imediatamente submetidos a testes práticos de campo. Excelentes resultados seriam apurados neste processo, levando a decisão do comando do exército em liberar recursos para a contratação da produção de um lote pré-série de setenta carros, porém esta fase seria adiada devido a restrições orçamentarias vigentes naquele período. Este programa só seria retomado em fins do ano de 1936, quando a montadora Bantan Car Company da Pensilvânia, seria escolhida em uma concorrência para esta tarefa. Estes veículos passariam se entregues a partir de meados do ano de 1938, sendo destinados ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland). Dispondo agora de uma frota maior, os militares poderiam ampliar a abrangência de se programa de testes em campo, iniciando neste contexto também a formatação da doutrina de emprego operacional deste novo tipo de veículo utilitário. 

Neste completo programa de testes de campo, verificou-se que este novo veículo utilitário com tração integral 4X4, permitiria ao Exército dos Estados Unidos (US Army) explorar um grande potencial de mobilidade para força terrestre operando com sucesso em uma variada gama de tarefas em ambientes fora de estrada (off road). Esta perspectiva levaria a decisão em se adotar em larga escala o modelo nas forças armadas norte-americanas, culminando assim na abertura de concorrência para sua produção em série. Neste processo seriam emitidos convites a mais de cem empresas dispostas a participar da concorrência, prevendo a apresentação de suas propostas técnicas e comerciais e protótipos funcionais. No entanto o aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul naquele momento, iriam afetar drasticamente este processo de concorrência, pois cada vez se tornava mais claro a emergencial necessidade em se modernizar as forças armadas norte-americanas face as novas possíveis ameaças representadas pela Alemanha Nazista e pelo Império do Japão. E devido a este importante fato, o cronograma inicial desta grande concorrência seria alterado, e passaria a contar como exigência básica, a apresentação de um protótipo funcional do veículo em apenas quarenta e nove dias. De montadoras convidadas a participar deste processo, apenas a Ford Motor Company, American Bantam Compay e Willys-Overland Company aceitariam o desafio, porém somente a segunda conseguiu entregar o protótipo funcional dentro do prazo exigido. Apesar do protótipo apresentando pela American Bantam Company lograr êxito no processo de avaliação comparativo, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em face a necessidade emergencial de reequipamento militar, definiria por aprovar também as propostas dos demais concorrentes. Os processos de avaliação e testes resultariam em modificações sobre o protótipo original, nascendo assim o modelo pré-série de produção designado como Bantan BRC, que apresentava em termos de desing traseiro, grande semelhança com os projetos automotivos daquela década. 
Apesar da aprovação para a produção dos três modelos, ainda pairavam dúvidas sobre os projetos apresentados pela Ford Motor Company e pela Willys-Overland Company, levando a uma nova etapa de testes de campo nos campos de prova do Quartel General do Departamento Exército no Forte Holabird, que seriam realizados de 27 de setembro a 16 de outubro de 1940, com o modelo Bantan BRC, novamente se destacando aos olhos atentos dos engenheiros destes concorrentes, pela sua superioridade técnica, abandonando assim inicialmente a ideia de produzir três modelos distintos. Em seguida no dia 31 de março de 1941 seria celebrado um contrato entre o governo norte-americano e a American Bantam Company envolvendo a produção de mil e quinhentos carros. Apesar desta grande vitória, era notório que a montadora não dispunha da capacidade industrial e estabilidade financeira para o atendimento em cadência aos necessários contratos subsequentes que deveriam ser firmados, podendo assim prejudicar o cronograma emergencial de reequipamento das forças armadas. Assim no intuito de sanar esta deficiência, o Departamento de Guerra Norte Americano (The War Department), tomaria uma decisão polemica, que envolveria a cessão do projeto e as plantas originais do BRC 40 para a Ford Motor Company e da Willys-Overland Company, O próximo contrato de produção agora envolvendo dezesseis mil carros seria direcionado em agosto do mesmo ano a montadora Willys Overland Company, que designaria este veículo como "MA Quad" (posteriormente MB).  Em seguida novos contratos seriam celebrados, porém agora neste contexto Ford Motors Company passaria até o final do ano de 1945 a receber as maiores encomendas de produção. Oficialmente o modelo produzido por esta montadora receberia a designação de Ford GPW (General Purpose Willys Veículo para uso geral). No Exército dos Estados Unidos (US Army), seus primeiros condutores referiam popularmente ao veículo pelo acrônimo GP", que na língua inglesa soava na pronúncia como "jeep".  Curiosamente a palavra "jeep" era a única pronunciada por um personagem de quadrinhos muito famoso da década de 1930, chamado Eugene, que era o animal de estimação de Olívia Palito, namorada do marinheiro Popeye. Este simpático personagem era detentor de uma variada gama de poderes, como super força e capacidade de caminhar pelas paredes e tetos.  

Assim graças a popularidade do desenho animado, os soldados passariam a chamar seus veículos de “Jeep” em alusão aos poderes deste simpático personagem. O termo "Hey, he's a real Jeep!" (Ei, ele é um verdadeiro Jeep!), era constantemente empregado para pessoas que apresentavam uma capacidade física superior. Desta maneira nascia assim um dos mais famosos nomes de veículos da história mundial de todos os tempos. Conforme as montadoras aceleravam o processo de fabricação, mais e mais unidades militares norte-americanas passavam a integrar o modelo em suas frotas. Neste mesmo período, a “Comissão de Defesa Nacional de Defesa e Pesquisa” do Exército dos Estados Unidos (US Army), começaria a analisar as possibilidades de múltiplo emprego da plataforma original que se encontrava em produção em massa. Entre várias potencialidades vislumbrou-se a viabilidade técnica para o desenvolvimento de uma versão para um veículo leve anfíbio com tração 4X4, esta demanda seria provocada pela degradação da estrutura viária daquele continente, com a destruição sistemática grande parte das pontes e viadutos.   Este cenário poderia retardar o avanço das tropas aliadas motorizadas que em breve seriam empregadas naquele front de batalha, por isto se fazia necessário a criação de um carro anfíbio que pudesse transpor estes obstáculos. Um dos inspiradores deste projeto seroa o engenheiro e designer Roderick Stephens Jr., líder de projeto da Sparkman & Stephens Inc, empresa especializada no projeto construção de iates (que anteriormente havia participado do projeto com caminhão anfíbio GMC DUWK 6X6). Assim uma equipe de projetistas seria reunida para o desenvolvimento deste novo veículo, com os dois primeiros protótipos sendo completados em fins do ano de 1941.  Além do modelo da Ford Motors Company, uma proposta concorrente seria apresentada pela empresa Marmon-Herrington Company, que ao ser entregue seria submetido a inúmeros testes e avaliações de campo, sendo colocado em testes de campo comparativos. Ao final desta concorrência, o desempenho superior e o fator de comunalidade de linha de produção e peças de reposição, levariam a Ford a vencer a concorrência gerando assim um contrato de produção em larga escala a partir de janeiro de 1942.
Este novo veículo viria a receber a designação de G.P.A 4X4 (G - Goverment, P - Distância entre eixos de 80 polegadas e A – Amphibian), sendo originado da plataforma estendida do Jeep Ford GPW padrão. O novo utilitário apresentava um casco naval muito semelhante aos dos caminhões GMC DUWK, sendo composto também em placas de aço soldadas. O painel de controle do Jeep Ford GPA diferia do modelo original, por contar com os comandos para as operações de tração alternada (4X2 ou 4X4), tipo de condução Oi-range - Lo-range, controle de leme e hélice de impulso. O carro ainda dispunha de um sistema de guincho elétrico para tração e ancora para operação fluvial. As primeiras unidades de série começariam a ser entregues as forças armadas norte-americanas a partir de meados de 1942. Porém ao contrário dos caminhões anfíbios, o Ford GPA não apresentaria uma boa performance quando em uso real, sendo alvo de severas críticas de seus usuários. O principal fator deste perfil operacional inadequado estava baseado em seu peso total de 1.600 kg, que havia extrapolado em 400 kg o peso do projeto original, não havendo nenhuma compensação no aumento do tamanho do carro. Como consequência sua capacidade de transporte de carga ficava muito prejudicada quando no modo de condução anfíbio, mais notadamente em águas agitadas, levando ao risco de afundamento. Estas características comprometeriam uma das suas principais missões, que era a de apoiar o desembarque anfíbio de soldados entre os navios de transporte de tropas e as praias. Estas observações seriam comprovadas durante os desembarques na Sicília em setembro de 1943, e ficaria claro também que o veículo apresentava deficiências de condução em terra, ficando frequentemente atolado devido ao seu peso de deslocamento. Estas deficiências levariam ao cancelamento da produção em série em dezembro mesmo ano, contabilizando apenas 12.778 unidades entregues. Grande parte deste total produzido seria direcionado as nações aliadas dentro dos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), com a União Soviética recebendo o maior volume destes veículos. Logo após o término do conflito, os soviéticos produziriam versão local denominada GAZ 46 MAV, que acabaria sendo exportada a vários países alinhados ao bloco socialista durante as décadas de 1940 e 1950. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país.

Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações. Os contratos inicialmente celebrados entre os governos brasileiro e norte-americano, previam o fornecimento quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família começariam a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados, estes oriundos da frota pertencente ao Exército dos Estados Unidos (US Army). Existindo ainda relatos de alguns modelos raríssimos, como alguns Willys MA (sem registro) poucos "Slatt Grill" (grade de grelha), e até uma unidade do modelo primordial Bantam BRC-40. Salientamos que a partir de registros fotográficos, nos permitem atestar que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado assim modelos da fase inicial de produção. Com este processo atendendo ao procedimento formal de cessão de equipamento militar a aliados, priorizando assim a entrega de versões mais novas e aprimoradas para as forças armadas norte-americanas, com estas repassando veículos usados para exportação. Seriam ainda disponibilizados neste pacote treze utilitários anfíbios do modelo Ford GPA 4X4, representado o primeiro veiculo deste modelo a entrar em serviço no Exército Brasileiro. O advento do recebimento desta grande frota de veículos utilitários leves com tração integral 4X4, contribuiria em muito no  no processo de implantação da motomecanização em larga escala no Exército Brasileiro, não só por sua versatilidade, mas também pela quantidade disponível. Pois neste momento a frota de veículos com tração integral deste porte se resumia a poucos e antigos veículos do modelo Vidal & Sohn Tempo G1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém disponíveis em um número insuficiente para se dotar sequer uma unidade operacional completa. 
Do total de veículos previstos para cessão ao Brasil contratados no programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seria decidido que 660 deveriam ser entregues diretamente na Itália, para assim equipar as unidades operativas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), quer seriam compostas por cerca de vinte e cinco mil soldados. Neste lote se encontrariam cinco utilitários anfíbios do modelo Jeep Ford GPA. A exemplo dos demais modelos de jipes recebido na Itália, os cinco anfíbios Ford GPA seriam retirados dos estoques estratégicos de recomplemementação do 5º Exército dos Estados Unidos (5th US Army) baseado na cidade italiana de Tarquinia. Destas viaturas, muitas podiam ser consideradas como “veteranas de guerra”, devido ao seu intenso emprego anterior nas campanhas militares na Sicília e no Norte da África. O principal motivo da cessão de carros usados e muitas vezes em péssimo estado de conservação para as forças militares brasileiras, era a necessidade de alocação de recursos, veículos e equipamentos de primeira linha que deveriam ser empregados em junho do mesmo ano na invasão da França durante o "Dia D" na operação Overlord.  Nesta localidade, seus respectivos motoristas e mecânicos seriam submetidos a um breve treinamento, envolvendo aos primeiros todos os macetes referentes a condução em terra e na água, e aos demais os princípios de manutenção preventiva e corretiva. Após o batismo de fogo das forças brasileiras no dia 14 de setembro de 1994, os Ford GPA se mostrariam presentes nos primeiros combates nas cercanias da cidade de Pisa. Estas viaturas seriam ainda empregadas junto as unidades de infantaria motorizada e reconhecimento, sendo assim muitas vezes empregados em patrulhas de exploração e reconhecimento. Sua capacidade anfíbia seria fundamental ao transpor rios e lagos devido a inexistência de pontes, tendo em vista que estrutura rodoviária do país fora quase dizimada anteriormente através das campanhas de bombardeio aliadas. 

Após o término do conflito em maio de 1945, os jipes Ford GPAs bem como os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos seriam entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta unidade os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Estes se juntariam aos demais veículos da mesma classe que já se encontravam no país em serviço desde 1942 sendo distribuídos as unidades operativas. Antes mesmo do término deste ano mais mais sessenta e oito utilitários deste modelo seriam recebidos no Rio Janeiro, ainda sendo constantes do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Estes “novos” carros se juntariam ao demais em serviço, sendo distribuídos aos Regimentos de Cavalaria Mecanizados,  onde seriam empregados em missões de reconhecimento e transporte ao longo dos anos seguintes. O Jeep Ford GPA seria também empregado pela Marinha do Brasil, com esta demanda sendo proporcionada pelo evoluir da doutrina operacional de guerra anfíbia junto a Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE). A fim de se buscar a plena capacidade operativa, com base na sistemática empregada pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), seria decidido a incorporação de veículos anfíbios que ampliassem a capacidade de movimentação de cargas após os primeiros desembarques.  Fazendo uso de um limitado orçamento militar seria negociado inicialmente a aquisição de um lote de caminhões anfíbios GMC Duwk, oriundos dos estoques da força de Fuzileiros Navais Franceses (Troupes de Marine), com estes sendo recebidos no início do ano de 1960. Paralelamente seriam estabelecidas conversações pelo adido naval brasileiro em Washington - DC com o Departamento de Estado Norte Americano (DoD), visando a aquisição de mais veículos e equipamentos, com este processo sendo concretizado com a cessão de dezoito jipes Ford GPA, nos termos do Programa de Assistência Militar (Military Assistence Program – MAP). Após serem recebidos e revisados, estas viaturas seriam distribuídas ao Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf), onde receberiam a designação de “Jipanf” (Jipe Anfíbio). 
Nos anos que se seguiram, tanto no Exército Brasileiro quanto no Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha, os jipes Ford GPA teriam destacada participação no processo de formatação e implementação das doutrinas de operações anfíbias. Este desenvolvimento seria ainda capitaneado pelo emprego real em combate da viatura quando em uso Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. A exemplo de quase a totalidade dos veículos militares recebidos entre as décadas de 1940 e 1950, o constante emprego, natural obsolescência e graves problemas na cadeia de abastecimento de peças de reposição, afetariam drasticamente a quantidade de viaturas em condições operacionais. O Exército Brasileiro determinaria a retirada em serviço deste modelo por volta de meados de 1967, com um grande número sendo cedido ao Marinha do Brasil para desmanche e aproveitamento de componentes críticos. Já o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil só desativaria o modelo no ano de 1982, preservando uma viatura que é empregada até os dias de hoje como viatura cerimonial pertencente ao Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf). Alguns carros anteriormente pertencentes ao Exército Brasileiro seriam preservados, como o modelo existente no acervo do Museu de Armas, Veículos e Máquinas Eduardo André Matarazzo na cidade Bebedouro no interior de São Paulo, outros em poder de museus militares ou colecionadores civis. 

Em Escala.
Para representarmos o jipe anfíbio Ford G.P.A "EB23-164“ pertencente ao 2° Regimento de Cavalaria Mecanizado (2º RC Mec) , empregamos o excelente kit da Tamiya na escala 1/35. Modelo este de fácil montagem e excelente nível de detalhamento. Complementamos o conjunto com decais confeccionados pelo fabricante Eletric Products, presentes no Set "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982 ".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) em todos os veículos utilizados no teatro europeu durante a Segunda Guerra Mundial, com os quais estes modelos foram recebidos a partir de 1943. Já em uso no país receberiam apenas as marcações e matrículas nacionais, mantendo este padrão até sua desativação. Os Jipes Anfíbios “Jipanf” pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil empregariam o mesmo padrão durante seu tempo de serviço, a exceção do veículo cerimonial preservado que recebeu uma pintura no padrão cinza naval. 


Bibliografia: 

- Jeep Willis MB - http://www.willysmb.com.br/ 

- FEB na Segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa Monteiro 

- Ford GPA - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Ford_GPA 

- Exército Brasileiro - http://www.exercito.gov.br 

LCVP "Higgins Boats" na Marinha

História e Desenvolvimento.
A embarcação de desembarque, veículo e pessoal (landing craft, vehicle, personnel) ou simplesmente LCVP, seria empregada extensivamente em desembarques anfíbios durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial apresentando um papel fundamental junto ao esforço de guerra aliado. O conceito fundamental desta embarcação, teria sua origem em meados da década de 1920, tendo como base um projeto naval de autoria do engenheiro naval norte-americano Andrew Higgins. Este empreendedor iniciaria sua carreira na década de 1930, na cidade de Nova Orleans, mediante a fundação de uma empresa especializada na construção de barcos de pesca e emprego geral. Seu modelo inicial, a embarcação “Eureka” seria desenvolvida no ano de 1926, apresentando um perfil de calado raso para uso por perfuradores de petróleo e caçadores em operações ao longo da costa do Golfo e no baixo rio Mississippi. Com uma hélice embutida em um semitúnel no casco, o barco poderia ser operado em águas rasas, onde obstáculos submersos poderiam sujar, emperrar ou mesmo danificar os tipos usuais de hélice. Ele projetou um arco de "colhereiro" para sua embarcação, permitindo que ela fosse executada às margens do rio e depois recuasse com facilidade. Especula-se que, no entanto, que o principal objetivo de Andrew Higgins, ao desenvolver este modelo de embarcação, era o de comercializar estes barcos para grupos especializados na contravenção de   contrabando de bebidas alcóolicas, durante a Lei Seca nos Estados Unidos (1920 – 1933). No entanto, próximo a fase final de conclusão deste projeto, a política norte-americana, ganharia novos ramos e está polemica lei acabaria sendo revogada. Este movimento impactaria diretamente nos planos de comercialização de Andrew Higgins, apesar deste revés, sua empresa se manteria no negócio, projetando e construindo lanchas, rebocadores e barcaças, para o mercado privado, bem como para a Guarda Costeira dos Estados Unidos (US Coast Guard), e em breve uma nova janela de oportunidade logo se abriria junto ao segmento militar. 

No início da década de 1930, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (USMC), demonstrava grande interesse em encontrar melhores maneiras de levar os infantes através de uma praia durante operações de pouso anfíbio. Tentativas de desenvolvimento de uma embarcação dedicada a esta missão seriam efetivadas pelo Departamento de Construção e Reparação da Marinha (Bureau of Construction and Repair), porém não atenderiam plenamente as demandas exigidas. Neste momento os olhos se voltariam ao projeto da embarcação “Eureka”, com Andrew Higgins, sendo convidado em maio de 1938, para a realização de uma apresentação oficial de seu projeto. A partir de janeiro do ano seguinte, seriam realizados testes operacionais com o modelo, com este modelo civil se mostrando superior a todos as embarcações experimentais desenvolvidas pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Apesar do modelo agora designado como Embarcação de Desembarque de Pessoal - LCP (Landing Craft Personnel), ter sido homologado, ficava como ponto de indagação seu processo de descarga, com homens e equipamentos desembarcando sobre seus lados, o que os exporia ao fogo inimigo em uma situação de combate. tornando ainda este processo demorado e complexo. No entanto, este era no momento, o melhor projeto de embarcação disponível e assim seria decidido colocá-lo em produção, com as primeiras embarcações sendo entregues a marinha no início do ano de 1940. Dentro do programa de ajuda ao governo britânico centenas destes barcos seriam entregues para o emprego pelos comandos ingleses, recebendo a designação local de R-Boat. No entanto o necessário aprimoramento do modelo LCP, seria baseado em embarcações similares japonesas, que empregavam rampas frontais, que foram utilizadas pelo Exército Imperial desde o verão de 1937, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa. Estes barcos foram alvo de intenso escrutínio por parte observadores militares norte-americanos em Xangai, em particular incluindo o futuro general Victor H. Krulak. Estes relatórios com farta documentação fotográfica seriam apresentados a Andrew Higgins, que imediatamente solicitaria a sua equipe de projetos a adaptação deste conceito japonês ao modelo “Eureka”, levando a criação de uma maquete.
Fazendo uso de recursos próprios, seriam concluídas três embarcações, que seriam cedidas ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (USMC) em maio de 1941. Estes seriam intensivamente testados no Lago Pontchartrain no estado da Louisiana, com este programa sendo acompanhado por altos oficiais do Departamento Naval – BuShip (Bureau of Ships). Este programa obteria êxito no processo de embarque e desembarque de trinta e seis funcionários da empresa, simulando tropas, cargas e veículos leves. As excelentes impressões causadas, levariam a celebração do primeiro, de muitos contratos de produção, sendo esta embarcação designada como Embarcação de Desembarque de Pessoal e Veículo - LCVP (Landing Craft, Vehicle, Personnel), que posteriormente seria popularmente denominado como barco “Higgins”. Sua produção teria início em fevereiro de 1942, nas instalações da Higgins Industries localizada na cidade de Nova Orleans, e curiosamente para a época, por uma exigência do próprio empresário, todos os colaboradores envolvidos no processo brancos, negros, masculinos ou femininos, receberiam o mesmo salário com base em sua posição profissional.  Apresentando pouco mais de onze metros de comprimento e menos de três metros e meio de largura, o LCVP – Higgins Boat, não era uma embarcação de grande porte. Engenhosamente suas partes laterais e traseiras eram compostas por uma estrutura de metal e placas de madeira compensada, proporcionando certo nível de proteção contra o fogo inimigo, reduzindo também seu custo de produção, economizando aço, material tão importante naquele período. A embarcação era propulsionada por um motor a diesel Gray Marine 671 com 71 cv de potência (versão marinizada do General Motors Detroit Diesel 6-71), que proporcionava uma potência a 12 nós. Quando operada em mar agitando, a embarcação tendia a balançar muito, causando desagradáveis enjoos a seus tripulantes, mesmo em curtos deslocamentos.  

Seu calado raso com dimensões de 3 pés na popa e 2 pés e 2 polegadas à frente, permitiria que a   embarcação pudesse subir a costa, um  semi-túnel embutido em seu casco na posição traseira protegia a hélice da areia e outros detritos. A rampa de acesso configurada em aço disposta na parte frontal, podia ser baixada rapidamente melhorando as operações de desembarque. Era possível para a embarcação, desembarcar rapidamente homens e suprimentos, dar ré na praia e voltar ao navio de suprimentos para outra carga em três a quatro minutos. O LCVP Higgins Boat podia compor três modais básicos de transporte, envolvendo um pelotão de trinta e seis homens completamente equipados, três toneladas e meia de carga ou uma combinação de doze homens e um jipe Willys MB - Ford GPW. Em operação real, seu sistema de blindagem representaria um grave problema, causando a morte de muitos fuzileiros durante as operações de desembarque, porém posteriormente seriam identificadas outras importantes falhas conceituais de projeto, como por exemplo a impossibilidade de o barco não poder atravessar águas rasas e recifes. Este cenário levaria a necessidade de criação de outras embarcações ou veículos para o atendimento as demandas das operações anfíbias. O batismo de fogo do LCVP “Higgins Boat” ocorreria no dia 8 de novembro de 1942, durante o lançamento da Operação Tocha, quando os aliados desembarcaram no norte da África, abrindo uma nova frente de batalha contra as tropas do Afrika Korps pertencentes ao Exército Alemão (Wehrmacht). Sua estreia no teatro de operações da Europa se daria em julho de 1943 durante a Operação Husky, a Invasão da Sicília, sendo novamente empregados nas operações Shingle e Avalanche em agosto do mesmo ano durante as batalhas de Anzio e Salerno na Itália. Em junho de 1944, estas embarcações seriam fundamentais ainda durante as primeiras ondas de pouso nas praias da Normandia durante a Operação Overlord, e posteriormente durante a operação Dragoon sul da França, em 15 de agosto do mesmo ano, garantindo o estabelecimento das cabeças de ponte decisivas para a concretização da invasão da Europa. 
Já no teatro de operações do Pacífico as embarcações LCVP – Higgins Boat, tiveram grande importância, com seu primeiro envolvimento ocorrendo em durante a invasão das ilhas de Guadalcanal e posteriormente durante as invasões de Tarawa, Filipinas, Iwo Jima e Okinawa.O comandante supremo dos Aliados, general Dwight D. Eisenhower, declarou que o barco Higgins foi crucial para a vitória dos Aliados na Frente Ocidental Europeia, no Pacifico e nos combates anteriores no norte da África e na Itália.    

“Andrew Higgins ... é o homem que ganhou a guerra por nós. ... Se Higgins não tivesse projetado e construído essas Embarcações de Desembarque de Pessoal e VeículoS – LCVP, nunca poderíamos ter desembarcado em uma praia aberta. Toda a estratégia da guerra teria sido diferente”   

Até o começo do ano de 1945, mais de 23.528 embarcações do modelo LCVP Higgins Boat, seriam produzidas, sendo empregadas com grade êxito pelas forças aliadas em todos os teatros de operação durante a Segunda Guerra Mundial. Logo após o conflito milhares destas embarcações seriam retiradas para a reserva do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (USMC). Um grande número destes barcos seria cedido a vários países nos termos de programas de ajuda militar norte-americano, com França recebendo uma considerável quantidade, que seriam principalmente empregadas pela Marinha Francesa durante Primeira Guerra da Indochina para patrulhar o delta do rio Mekong. Em seu país de origem, os LCVP – Higgins Boats, passariam, a ser gradualmente substituídos por modelos de embarcações de desembarque mais novos, a partir de fins da década de 1950. 

Emprego na Marinha do Brasil.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano, que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Neste contexto a Marinha do Brasil receberia uma grande quantidade de meios navais, porém com seu foco quase que exclusivamente dedicado a guerra antissubmarino (ASW). Este fato em essência significava que outros braços do poder naval não seriam contemplados com a mesma oferta de navios e equipamentos específicos para uma variada gama de missões. Dentre estes ramos, encontrava-se toda a estrutura de combate anfíbia, que no âmbito do comando Marinha Brasileira, representava um grande anseio na obtenção e desenvolvimento desta capacidade, observada desde o final do conflito em agosto de 1945.  

Assim logo no ano seguinte, no âmbito da Marinha do Brasil, seriam dados os primeiros passos no processo de constituição de uma força de combate anfíbia nos moldes do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), que obtivera amplo sucesso em operações de desembarque durante o conflito nos teatros de operações da África, Europa e Pacífico. Estas campanhas serviriam ao propósito de estudo e apresentação de uma doutrina de guerra anfíbia que, em breve, passaria a servir de farol para a criação de uma força terrestre, que estava prestes a ser gerida. A criação de uma força anfíbia inspirada nos moldes norte-americanos exigiria grandes mudanças nos paradigmas do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), haja vista a tendência que os preceitos da força de infantaria eram oriundos do aprendizado obtido nos cursos de aperfeiçoamento de oficiais, realizados, naquela época, no Exército Brasileiro. Além disso, ainda faltava ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) meios para executar os desembarques, não apenas meios para ser empregados em terra que possuíssem características anfíbias, mas principalmente os meios navais para que se pudesse cumprir uma ação essencial dessa natureza, quais sejam os navios e embarcações de desembarque. A grande colaboração brasileira no esforço de guerra aliado criaria uma aproximação e estreitamento de laços com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), o que proporcionaria os primeiros programas de intercâmbio.  Desta maneira grandes grupos de oficiais brasileiros seriam enviados ao Estados Unidos para participação em cursos e estágios, o que criaria a cultura operacional e clima favorável a aplicação das mudanças necessárias. Estes militares retornavam ao Brasil embasados pela doutrina operacional de guerra anfíbia aplicada pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), e logo se tornariam instrutores a fim de tornarem multiplicadores nas escolas de formação da Marinha do Brasil. Contudo ainda havia alguns obstáculos a serem vencidos, sendo impositivo colocar em pratica os ensinamentos aprendidos, mesmo fazendo uso improvisado dos meios de desembarque que estavam à disposição naquela época. 
Assim em agosto de 1948, seria estruturado o primeiro exercício de desembarque anfíbio, tendo como alvo para pouso das tropas a praias da ilha de Pombeba na baia de Septiba, no litoral do Rio de Janeiro. Uma Companhia de Desembarque reforçada (que incluía pessoal do Exército Brasileiro operando lança-chamas, equipamento que não fazia parte da dotação de na força anfíbia), oriunda da Guarnição Central seria transportada nos contratorpedeiros de escolta Beberibe - Be2 e Bocaina - Be8. É interessante notar que esta tropa seria desembarcada por lanchas que pertenciam aos Encouraçados Minas Geraes e São Paulo, conhecidas como "Bois". Durante este exercício, a preparação das praias de desembarque seria realizada com tiro real a partir do contratorpedeiro classe Marcilio Dias o Greenhalgh - M 3, com apoio de aeronaves da Força Aérea Brasileira. Em meados do ano de 1950, seria aprovado uma nova regulamentação para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que caracterizaria uma profunda mudança de orientação, preparando assim a força para plena capacidade operativa, com ênfase em operações anfíbias. Criava-se assim a Força de Fuzileiros de Esquadra ou FFE, no entanto este regulamento não determinava o início das operações em si, prevendo apenas a sua necessidade. Em março do ano de 1952, seria celebrado o “Acordo Militar Brasil-Estados Unidos” que passaria a garantir ao Brasil acesso a uma variada gama de material militar como aeronaves, embarcações, veículos, carros de combate e equipamentos pessoais em condições econômicas extremamente vantajosas.  Este programa possibilitaria principalmente a Marinha do Brasil a concentrar recursos para a aquisição de navios especializados na missão de transporte de tropas, com processo se concretizando no ano de 1954 com a incorporação dos novos navios G-20 Custodio de Mello e o  G-16 Barroso Pereira, sendo seguidos em 1957 pelo G-21 Ary Parreiras e G-22 Soares Dutra. Estes novos navios foram projetados especificamente para missões de transporte de tropa e base de lançamento para operações anfíbias em larga escala, assim desta maneira pela primeira vez o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) passava a contar com um substancial frota de navios de transporte dedicada ao emprego em operações anfíbias.  

Estes contratos de construção naval firmados durante a década de 1950, com o estaleiro japonês Ishikawajima Heavy Industries Company Ltd, incluíam também a aquisição de vinte e quadro Embarcações de Desembarque de Pessoal (EDVPs). Para reforçar esta dotação e permitir um melhor aproveitamento das operações de desembarque anfíbio, seria negociado junto ao Departamento de Estado do Governo norte-americano a aquisição de um lote de trinta e quatro Embarcações de Desembarque de Pessoal e Veículos – LCVP Higgins Boats, barcos estes usados, porém em bom estado, que eram pertencentes a reserva estratégica do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (USMC). Estes barcos seriam transladados ao país em navios de transporte de tropas da Marinha do Brasil, sendo recebidos no porto do Rio de Janeiro em fins no ano de 1956.  Já em serviço receberiam a denominação também de Embarcação de Desembarque de Pessoal (EDVP), passando a operar em conjunto com as Embarcações de Desembarque de Viaturas e Material (EDVM), integrando a Força de Transporte da Marinha que havia sido criada no mesmo ano. Ao realizar missões em proveito da Força de Fuzileiros de Esquadra (FFE), os LCVP Higgins Boats seriam empregados em um ciclo de adestramento fundamentado na realização de desembarques de pequena complexibilidade, envolvendo tropas, veículos leves, peças de artilharia e cargas. Entre estes podemos citar no ano de 1959 as operações Brisa em outubro, Corvina em novembro, sendo nesta última ativado pela primeira vez o Destacamento de Praia. Em setembro de 1960, seria realizada a operação Arfagem, simultaneamente a essa nova onda de exercícios anfíbios, as unidades da Força de Fuzileiros de Esquadra (FFE), se envolveriam em uma sequência de manobrar interaliadas, quer permitiriam aos oficiais e praças adquirir mais conhecimento e acumular experiencia acerca da moderna guerra anfíbia, concedendo ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) um novo poder de projeção militar. 
Todo este esforço de dedicado a estas manobras de pequeno porte, criariam a condições básicas operacionais para a implementação de operações de maior porte. Assim no início do ano de 1964, teria lugar no litoral do estado do Espírito Santo a primogênita da série das Operações Dragão. Além da tropa percussora helitransportada a partir do porta aviões ligeiro A-11 Minas Gerais, projetados em terra, em um período de dez horas (incluindo a movimentação navio para terra por superfície) um total de oitocentos militares, vinte viaturas leves e quatro obuseiros M-3A3 de 105 mm na cabeça de praia. Participariam deste exercício, quatorze LCVP  Higgins Boats, operando em conjunto com pelo menos mais vinte barcos dos tipo de Embarcação de Desembarque de Pessoal (EDVP) e Embarcação de Desembarque de Viaturas e Material (EDVM). Durante os anos seguintes os LCVP  Higgins Boats, seguiram prestando relevante serviços a Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE), participando de outras manobras de relevada importância. Destaca-se sua atuação entre os anos de 1965 e 1966 durante formação e emprego da Força Armada Interamericana Brasileira (Faibrás), na República Dominicana, onde seriam enviados cerca de quatro mil militares brasileiros com a missão de "assegurar a paz" naquela região. Em meados da década seguinte vislumbrou-se a necessidade de substituir os LCVP  Higgins Boats, por embarcações mais novas, tendo em vista a idade da frota, desta maneira iniciar-se-ia um processo de desativação gradual, mediante a   incorporação de embarcações produzidas nacionalmente. Apesar de sua obsolescência já apresentada na década de 1960, os LCVP “Higgins Boat” foram fundamentais para a formação da doutrina referente as Operações Anfíbias, Operações Ribeirinhas e Operações Terrestres de caráter naval, a fim de contribuir para a aplicação do Poder Naval. 

Em Escala.
Para representarmos o LCVP “Higgins Boat” ou Embarcação de Desembarque de Viaturas e Pessoal (EDVP), pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), empregamos o kit básico da Airfix na escala 1/72. Para se compor a versão operada pelo Marinha do Brasil não é necessário proceder qualquer alteração, com o modelo podendo ser montado diretamente da caixa. Empregamos decais originais do modelo em conjunto com uma bandeira nacional impressa em papel normal. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo, representa o primeiro padrão de pintura empregado nas embarcações de desembarque de pessoal e veículos – LCVP “Higgins Boat”, quando de sua incorporação na Marinha do Brasil quando do seu recebimento. Posteriormente seriam alteradas as marcações de identificação, ocorrendo também a inclusão de uma singela faixa em verde e amarelo, a exemplo a aplicada nas demais embarcações de desembarque de pessoal (EDVP). 


 Bibliografia : 

- LCVP Higgins Boats Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/LCVP_(United_States)
- Revista da FFE – Edição Comemorativa de aniversário da Força de Fuzileiros da Esquadra 
- Poder Naval por Alexandre Galante - www.naval.com.br
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/