Volkwagen MAN Worker VTNE e VTE

História e Desenvolvimento.
Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, os termos do acordo de Postdam rezavam que as indenizações as nações aliadas seriam pagas mediante a reconstrução da economia alemã, garantindo assim recursos para que isto concretizasse de forma sustentável. Neste contexto a indústria automotiva seria de vital importância, e a Volkswagen despontaria com um dos principais agentes deste processo, apesar de que grande parte de seu parque fabril se encontrava parcialmente destruído após os bombardeios de abril de 1945. Após a rendição das forças alemães, estas instalações seriam capturadas pelos norte-americanos e posteriormente entregues aos britânicos, em cuja zona de ocupação a cidade e a fábrica foram destinadas. Imediatamente os trabalhos de reconstrução das fabricas seriam iniciados, e já no ano de 1946, a produção seria parcialmente retomada, tendo com único produto o carro de passeio do modelo VW Sedan. Três anos mais tarde a marca chegaria ao Brasil, com este movimento proporcionado pelo estabelecimento de um acordo entre a montadora alemã e a Chrysler Corporation, no qual a Volkswagen autorizava a marca norte americana a comercializar seus produtos fora dos Estados Unidos. Para atendimento da futura demanda do mercado brasileiro, já no ano de 1951 seria iniciada a montagem dos primeiros VW Sedan no sistema de CKD (completely knocked down) nas instalações da Companhia Distribuidora Geral Brasmotor, distribuidor oficial da Chrysler Corporation no país. Logo em seguida seria lançado no mercado brasileiro o utilitário VW Kombi, e nos primeiros anos os excelentes resultados em vendas, logo despertariam a atenção da matriz da montadora alemã, que vislumbraram o enorme potencial do mercado consumidor brasileiro, este cenário levaria a decisão em se estabelecer uma planta industrial no país. Esta decisão se materializaria a partir de março de 1953, em uma associação da montadora alemã ao grupo brasileiro Monteiro Aranha (com 20% do capital), que tinha por objetivo montar com componentes importados os veículos da marca Volkswagen no país. Operando a partir de modestas instalações alugadas no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP) e contando com apenas doze operários, em abril do mesmo ano seria iniciada a montagem em série dos modelos VW Kombi e VW Sedan. Em 1956, antes mesmo da criação do GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística, a montadora alemã iniciaria a construção de um complexo industrial junto à rodovia Anchieta, na cidade São Bernardo do Campo, com está sendo a primeira planta a ser edificada fora da Alemanha, linha de produção onde seriam instaladas as maiores prensas da América do Sul.  De lá sairia, em setembro de 1957, o primeiro Volkswagen de produção nacional, a VW Kombi de passageiros, já contando com mais de 50% de conteúdo nacional. (motor e câmbio eram ainda importados). Nos anos seguintes novos modelos seriam lançados, inclusive alguns com grande sucesso comercial, gerando recursos necessários para uma nova expansão.  

Durante a década de 1960, o parque industrial automotivo brasileiro se encontrava em um estado de plena efervescência, com várias empresas multinacionais  se estabelecendo no pais, entre estas a Chrysler Corporation, que iniciou suas operações no pais através de uma parceria com o grupo Brasmotor para a montagem de carros de passeio em  regime CKD, evoluindo para o estabelecimento de uma operação industrial local com a aquisição da empresa Simca do Brasil, divisão da francesa Simca, cuja propriedade e direitos foram adquiridos, em nível mundial. Esta aquisição previa a melhoria da fábrica e ampliação de portfólio, incluindo também a partir de 1969 a produção de 1969 três modelos de caminhões Dodge; o grande D-700, o médio D-400, e a pick-up D 100 (1969 a 1971).  No ano de 1976 a Volkswagen do Brasil inaugurava uma nova planta industrial para a produção da família de veículos BX (Gol,Voyage,Parati e Saveiro) concretizando assim seu parque fabril para a produção de carros. Neste momento seriam iniciados os primeiros estudos visando o desenvolvimento de uma divisão especializada na produção de caminhões leve e médios, tendo em vista o excelente potencial do mercado nacional para este segmento. Em julho de 1979 à Volkswagenwerk Braunschweig, controladora da Volkswagen do Brasil S/A, surpreenderia o setor, anunciando a aquisição do controle acionário da subsidia brasileira da Chrysler Motors Company, suas fábricas e o direito de produção e comercialização de seus veículos no país. É evidente que, apesar das negativas enfáticas da diretoria da montadora quanto à permanência em linha dos veículos marca Dodge, este cenário não perduraria por muito tempo, pois principal interesse, como logo adiante se veria, era dispor de uma base industrial que lhe permitisse ensaiar a entrada no mercado de caminhões, segmento do qual estava mundialmente ausente. Em novembro do mesmo ano Volkswagenwerk Braunschweig assumiria o controle total da Chrysler do Brasil, adquirindo os 33% restantes ainda nas mãos da matriz norte-americana. Em fevereiro de 1981 a montadora teria sua razão social alterada para Volkswagen Caminhões S/A, levando em seguida ao encerramento da produção dos carros de passeio da marca Dodge, permanecendo em linha até o ano de 1984 apenas o portifólio de caminhões da família Dodge Série D, que geraria know how em termos de engenharia de produto e processos, abrindo espaço para o futuro desenvolvimento e lançamento da primeira geração de caminhões da Volkswagen Caminhões S/A.
Os primeiros caminhões de concepção de marca Volkswagen do Brasil seriam lançados em março de 1981, envolvendo os modelos médios VW 11-130 e VW 13-130, projetos alemães, que seriam desenvolvidos e testados no Brasil.  Ambos apresentavam cabine avançada basculante oriunda da montadora alemã MAN (Maschinenfabrik Augsburg-Nürnberg AG), com a qual em 1975, a Volkswagenwerk assinara um acordo de cooperação. Assim a partir do ano de 1979, esta parceria resultaria na produção de modelos leves de até 8 toneladas de peso bruto total (PBT).  O VW 11-130 estava equipado com o motor diesel MWM (seis cilindros, 5.883 cm3, injeção direta e 132 cv), caixa sincronizada de cinco marchas, eixo traseiro com uma ou duas velocidades, chassi tipo escada, suspensão por molas semi-elípticas e amortecedores, freios hidráulicos com auxílio a vácuo e direção mecânica. Já o VW 13-130 além de fazer uso do mesmo conjunto propulsor estava equipado com chassi e embreagem reforçados e de novas relações na transmissão, e trazia rodas raiadas, freios a ar e direção hidráulica. Os dois modelos seriam lançados no mercado com três opções de distâncias entre eixos, com peso bruto total (PBT) na ordem de 11 e 13 toneladas, e se destinavam a concorrer diretamente no mercado nacional com os caminhões "best sellers" Mercedes-Benz MB-1113 e MB-1313. Sua ousada estratégia comercial no mercado nacional objetivava até o final da década de 1980 conquistar 27% do mercado nacional de caminhões. Esta família seria expandida em agosto de 1982, com o lançamento da linha de 6 toneladas de peso bruto total (PBT), com os modelos VW 6.80 e VW 6.90, respectivamente equipados com motor diesel Perkins de 3.860 cm3 e 85 cv e MWM de 3.920 cm3 e 91 cv, ambos com câmbio de cinco marchas, freios hidráulicos assistidos a vácuo, direção mecânica e cabine avançada basculante, inédita no segmento. Os dois modelos seriam apresentados na III Feira Brasil Transpo, acompanhados da versão VW 6.140 a álcool, equipada com o antigo motor V8 de 145 cv da Chrysler e caixa de cinco marchas, com a 1ª marcha não sincronizada. No entanto a pequena diferença de preço com relação às versões diesel, não concederia a este modelo qualquer chance de sucesso. Também seria desenvolvido um projeto de microônibus, em trabalho conjunto com a empresa Marcopolo S/A, sobre chassi VW 6.90 diesel com entre eixos 60 cm maior (4,10 m), molas parabólicas e carroceria para vinte e quatro passageiros; porém baixíssima demanda por este tipo de equipamento, na época, levou ao seu abandono no final do ano seguinte. Nos anos seguintes a montadora apresentaria um notável desempenho no mercado, com suas vendas internas se mostrando 40% superiores aos patamares de 1984. Seriam firmados vários contratos de exportação, entre eles um acordo para a venda a China de dez mil caminhões VW 11-130, e um contrato de dez anos com a montadora norte-americana Paccar Inc, envolvendo a exportação de quatro mil caminhões ano dos modelos de 11 e 13 toneladas de peso bruto total, que seriam comercializados nos Estados Unidos e Canadá sob as marcas Peterbilt e Kenworth.  

Estes caminhões receberiam grande número de alterações com relação aos modelos disponibilizados no mercado brasileiro, como a adoção do motor Cummins de 210 cv, caixa de seis marchas, chassi de longarinas retas, duplo eixo traseiro, rodas de disco e pneus radiais sem câmara, além de freios pneumáticos de novo tipo. Já no Brasil, preparando-se para voos mais altos, a empresa transferiria suas linhas de montagem da acanhada fábrica de Santo André para um anexo na planta de automóveis da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo (SP). Em 1989 a montadora iniciaria a comercialização de uma nova linha de caminhões leves e desde o ano de 1994, os modelos 7100 e 8140 permitiram a empresa alemã a competir no segmento com motores a partir de 120 cv.  Mas sem dúvida um dos artífices da consolidação da marca no mercado sul-americano seria o modelo VW 8-150, lançado em 1995, apresentando uma excelente relação de custo-benefício. Com dimensões externas compactas o modelo era ideal para o transporte cargas leves, além de ser ágil no tráfego das grandes cidades, sendo utilizado desta forma em serviços entregas rápidas em centros urbanos, nos quais a pontualidade representava um fator essencial. Outro fator apreciado por seus usuários era sua facilidade de condução, devido ao seu reduzido diâmetro de viragem. Sua cabine de nariz chato contribuía para suas dimensões exteriores, que combinada com a boa visibilidade oferecida ao motorista. Para os clientes que necessitavam de maior espaço de comprimento de carga, existiam diversas configurações com distância curta e longa entre eixos, e comprimentos totais que podiam alcançar 7,6 metros. Além disso para garantir uma correta mobilidade inclusive sobre terrenos irregulares, a altura livre até o solo era de 19,7 cm.  Em 2003, a Volkswagen Caminhões S/A implantaria diversas melhorias no modelo VW 8-150, com mais aperfeiçoamentos sendo implementados na linha 2005, resultando em uma geração que receberia a denominação de o Delivery VW 8-150. Esta família já estava equipada com um novo motor a diesel, completamente adequado a normativa ambiental Euro III, capaz de responder de forma mais rápida e flexível as aplicações, principalmente urbanas, do modelo. No ano de 2007 a família Delivery iria proporcionar a montadora pela primeira vez a liderança no mercado brasileiro, com um total de 6.144 caminhões licenciados. Toda sua produção seria concentrada na planta industrial de Resende no interior do Rio de Janeiro, unidade está responsável também pela produção de kits de exportação no sistema CKD (completely knocked down), para montagem em suas subsidiarias na África do Sul, México e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.   
No dia 16 de março de 2009, seria criada no Brasil  a montadora de caminhões e ônibus  MAN Latin America , com este processo sendo resultante da aquisição da Volkswagen Caminhões e Ônibus S/A pela empresa alemã MAN SE AG. Neste momento seriam intensificados os investimentos dedicados a pesquisa e desenvolvimento, passando a incorporara na linha de produtos brasileiros uma variada gama de melhorias e acessórios. Atualmente no mercado civil,  a linha de caminhões Volkswagen VW Delivery continua figurando como um dos principais pilares do portifólio de produtos da montadora, abrangendo deste o pequeno modelo VW 5150 dotado com um motor Cummins de 3,8 litros com 150 cv de potência, até os modelos Volkswagen  VW 8-160, VW 9-160 e VW 10-160, sendo esta linha complementada pelos modelos Worker VW 8-150, VW 9-150 e VW 10-150.  Sua próxima evolução seria baseada na família Volkswagen VW 15.190 Worker, que viria a se desdobrar em uma série de versões que seriam customizadas em modelos com diversos níveis de militarização leve, com estes passando a seguir a serem adotados em larga escala pelas Forças Armadas Brasileiras. Na Europa, a MAN SE AG detinha há décadas,  grande experiencia na produção de veículos militares, com estes projetos sendo compartilhados com a divisão de projetos da subsidiaria brasileira, criando assim condições extremamente favoráveis para o desenvolvimento de versões militares mais adequadas ao cenário sul-americano. Esta decisão seria motivada pela necessidade a médio prazo de um processo de renovação de grande parte da frota de caminhões militares de transporte da Força Terrestre, que até aquele momento estava baseada em modelos militarizados produzidos pela   principalmente Mercedes Bens do Brasil S/A, adquiridos em larga escala durante as décadas de 1980 e 1990, que apresentavam sinais de degastes e problemas de disponibilidade operacional.   

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O Exército Brasileiro desde a meados da década de 1940 ocupava lugar de destaque entre as forças armadas terrestres latino-americanas, não por dispor de um grande contingente, mas também por apresentar uma grande capacidade de mobilidade operacional. Esta vantagem tática regional seria  conquistada inicialmente com o recebimento durante a Segunda Guerra Mundial de milhares de caminhões militares norte-americanos representados principalmente pelos modelos General Motors GMC CCKW-352 /& 353 e  Studebaker US6-G. Ao longo dos anos seguintes, o desgaste operacional e a obsolescência desta importante frota levariam a implementação de soluções nacionais focadas na manutenção desta capacidade operacional, com destaque para os modelos nacionais militarizados como os FNM Série D e Mercedes Benz LP. Este processo seria intensificado durante as décadas de 1970 e 1980, quando o governo federal, imbuído em um forte programa de fomento a indústria de defesa nacional, passaria a celebrar inúmeros contratos de aquisição com as montadoras brasileiras como Ford Motors do Brasil, General Motors do Brasil e Chrysler do Brasil S/A. Estes caminhões derivados de modelos civis seriam empregados principalmente pelo Exército Brasileiro na classificação de viatura de transporte não especializado e viatura de transporte especializado (cisterna de água, cisterna de combustível, socorro, oficina, frigorifico, baú e basculante). Os demais ramos das Forças Armadas Brasileiras, também viriam a incorporar estes caminhões, todos apresentando um nível mínimo de militarização. Paralelamente a partir do ano de 1967,  o advento do lançamento do sistema “Tração Total”, produzido pela empresa paulista Engesa S/A, possibilitaria a veículos de médio e grande porte comuns a passar a apresentar um perfil operacional do tipo "fora-de-estrada" (off road). Nascia assim a primeira geração de caminhões militares nacionais de alto desempenho com tração integral e sistema de suspensão "Boomerang"  Engesa 4x4 e 6X6, como os Ford F-600, Chevrolet D-60, Mercedes Benz L/ LG e Dodge Chrysler Série D, que trariam a Força Terrestre sua plena disponibilidade operacional, recuperando os patamares observados durante as décadas de 1940 e 1950. Em 1984 o processo econômico comercial que levaria ao encerramento da linha de caminhões da Dodge produzidas naquele momento pela Volkswagen Caminhões S/A, levaria ao lançamento de uma nova linha de caminhões desta montadora brasileira, e seu sucesso comercial no mercado nacional abriria espaço para a introdução no serviço militar nas Forças Armadas Brasileiras da primeira geração de caminhões leves desta subsidiaria da montadora alemã.    

Entendimentos neste sentido seriam mantidos, culminando no ano de 1985 pela aquisição pelo Exército Brasileiros dos primeiros caminhões produzidos pela Volkswagen Caminhões e Ônibus S/A, representados pelos modelos VW11-130 e VW13-130 com peso bruto total de onze e treze toneladas. Estes caminhões com tração convencional seriam destinados ao emprego em tarefas utilitárias e não diferiam em nada das versões civis, sendo entregues com carroceira na versão carga seca, cisterna de água, frigorifico e baú com carroceria em alumino. Sua incorporação permitiria iniciar o processo de desativação das primeiras levas dos modelos Ford F-600, Chevrolet C-60 e Dodge D-700, D-750. No ano seguinte a Força Aérea Brasileira procederia a aquisição de um pequeno lote dos mesmos modelos, passando a dotas diversas bases aéreas espalhadas pelo território nacional. A partir de 1987 seriam adquiridos mais caminhões na categoria de seis toneladas, dispostos nos modelos  VW 6.80 e VW 6.90, que respectivamente estavam equipados com os motores a diesel Perkins de 3.860 cm3 e 85 cv e MWM Diesel  de 3.920 cm3 e 91 cv, ambos com câmbio de cinco marchas, freios hidráulicos assistidos a vácuo, direção mecânica e cabine avançada basculante, sendo entregues  as Forças Armadas Brasileiras nas versões de carroceira  de cisterna de combustível, bombeiro , baú e basculante.  Durante a década de 1990, o sucesso comercial obtido pela Volkswagen Caminhões e Ônibus S/A no mercado brasileiro, levaria a montadora a celebrar principalmente com o Exército Brasileiro, sucessivos contratos de produção. Seu principal emprego se dava como viaturas de transporte não especializado, com tração convencional, dispostos nos modelos VW12-140, VW12-170, VW12-180, VW12-220, VW13-130, VW14-140, VW14-150, VW14-170, VW14-180, VW14-200, VW14-220, VW16-170, VW16-200, VW16-220, VW17-180, VW17-210 e VW17-220. Apesar de  se manter atuante como fornecedor habitual das Forças Armadas Brasileiras, a direção comercial da montadora se ressentia em não penetrar no segmento de caminhões com alto grau de militarização(principalmente no Exército Brasileiro), segmento este que representava um dos maiores e mais lucrativos nichos do mercado militar, com esta reserva de mercado sendo totalmente ocupada ela Mercedes Benz do Brasil com seus caminhões equipados com os kits especiais de tração e suspensão produzidos pela Engesa S/A, com destaque para o modelo MB L/LG Mamute. Apesar de objetivar este nicho de mercado, a empresa tinha clara ciência que caminho a percorrer tinha todo o viés de ser árduo e muito difícil pois seu principal concorrente era uma empresa conterrânea de alta tecnologia, que havia se consolidado como o principal fornecedor militar nesta categoria de veículos, fazendo uso de modelos desenvolvidos nacional e importados como os MB Unimog.  Este cenário começaria a mudar a partir de meados da década de 2000 , quando passou a ocorrer uma maior integração entre a equipe de projetos brasileira, agora pertencente a MAN Latin America, com seus pares europeus, criando assim as bases de projeto para o desenvolvimento no país de versões genuinamente militares, tendo em vista a experiência da matriz alemã na produção de caminhões militares fora de estrada. 
Neste mesmo período o Exército Brasileiro já desenvolvia estudos a fim de promover a gradual renovação de sua frota de caminhões 4X4 e 6X6 que até então estava composta por milhares de unidades dos modelos militarizados das Mercedes Benz adquiridos entre as décadas de 1980 e 1990. Após analisar as exigentes especificações emitidas pela Força Terrestre, a montadora iniciaria o desenvolvimento de seu projeto, buscando no mercado nacional e internacional os componentes que fossem mais adequados para o atendimento dos parâmetros operacionais de uma nova família de veículos militares. Destaca-se neste processo a adoção dos eixos dianteiros e caixa de transferência central (instalada no centro geométrico da viatura) produzidos pelas empresa norte-americana Marmon-Herrigton, tradicional fornecedor de componentes militares para a  Oshkosh Defense Corporation.  Em fins de 2005 seriam concluídos os primeiros protótipos que seriam entregues ao Exército Brasileiro para fins de avaliação operacional. Este programa de ensaios comparativos envolveria diversos caminhões concorrentes, como os produzidos pela Ford Caminhões do Brasil S/A, Mercedes Benz do Brasil e MAN Latin America, com estes testes sendo realizados durante quase um ano, em diversos campos de provas. Os protótipos da MAN Latin America, da versão VW Worker 15.210 4×4, seriam submetidos a um teste de alta duração, percorrendo 34.000 quilômetros partindo desde os campos de prova da Restinga da Marambaia (Rio de Janeiro) Mangaratiba (Itacuruçá) e Duque de Caxias (Rio de Janeiro), passando por Goiânia (Goiás), Cachoeira do Sul (Rio Grande do Sul), finalizando este processo ao participar de manobras operacionais no Estado do Espírito Santo. Ao atender os Requisitos Operacionais Básicos do Exército (ROB), seu processo de homologação incluiria rodagens em terrenos arenosos, alagados e com lama, além de manobras de embarque aéreo e marítimo, transporte de pontes, uso de biodiesel em mistura B2 (2% de mistura ao diesel convencional). Seriam anda realizados testes de balística, conferindo a resistência da cabine a estilhaçamentos de armas de medio calibre. Para certificar a resistência do conjunto motor-transmissão, dos eixos e da suspensão, outro protótipo passaria por quatro edições do Rally Internacional dos Sertões, cada uma com cerca de 5.500 quilômetros de estradas sem pavimentação e trilhas em condições extremas. Ao final deste processo e após atender a todos os parâmetros operacionais exigidos o modelo receberia sua homologação, sendo declarado o vencedor desta concorrência. Em janeiro de 2007 seria celebrado o primeiro contrato envolvendo a compra de quatorze caminhões do modelo VW15.210 Worker para emprego junto a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, sendo esta unidade foi escolhida incialmente por ser a mais próxima das instalações fabris da montadora na cidade de Resende, facilitando assim o acompanhamento do processo de avaliação do novo modelo.

A principal diferencia entre a versão civil e a militarizada (além da tração integral 4X4), estava baseada na adoção de soluções que viesse  conceder ao caminhão maior robustez e altura do solo em relação aos modelos tradicionais, optando pelo emprego de um sub-chassis para receber o  conjunto agregado de eixo e molas traseiras, com esta solução e outras também importantes o veículo ganhou grandes capacidades  para operação em ambientes fora de estrada (off road) podendo transpor terrenos alagados e pequenos cursos d'água. Sua montagem seria realizada inicialmente na planta fabril da montadora em Resende, seguindo o processo dos modelos comerciais, recebendo eixos reforçados e suspensão diferenciada. A seguir os chassis iniciariam a fase de militarização pela divisão de customização da montadora, a BMB Mode Center, recebendo a aplicação de blindagem da cabine e pintura camuflada, posteriormente sendo encaminhados para o processo de beneficiamento, recebendo carrocerias e componentes específicos de acordo com cada versão militar encomendada. Neste momento poderiam apresentar cobertura de lona para transporte de soldados ou estrutura para transporte de materiais ou armamentos. Este contrato quebraria a hegemonia de quase cinquenta anos da Mercedes Benz do Brasil como principal fornecedor de caminhões militarizados para as Forças Armadas Brasileiras, recebendo no Exército Brasileiro a designação de VOP2 5QT (veículo é do tipo operacional militarizado, capaz de transportar cinco toneladas em qualquer tipo de terreno). Seu emprego inicial atestaria as expectativas operacionais do caminhão, levando a celebração de novos contratos de fornecimento, envolvendo não só a versão de transporte não especializado, mas também caminhões na configuração de versão de transporte especializado como cisterna de água e combustível. Como prova de fogo, as primeiras unidades operacionais do segundo lote foram destinadas as Forças Brasileiras de Paz alocadas no Haiti operando junto a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), onde o modelo teve a chance de ser o posto à prova em condições reais de uso, atestando assim a decisão acertada do Exército Brasileiro em sua aquisição. O modelo seria ainda empregado em condições reais de operação em um terreno completamente desfavorável, quando no ano de 2009 uma grande tragedia climática se abateria sobre a reunião serrana do Rio de Janeiro. Neste cenário os VW15.210 Worker 4X4 operariam sem restrições nos mais difíceis terrenos, ao contrário de modelos semelhantes produzidos pela Mercedes Benz, que muitas vezes sofriam diversos tipos de avarias mecânicas, com mais destaque para a queima de embreagem, ocasionados principalmente pelo emprego neste terreno desfavorável. 
Durante os anos seguintes, o governo federal através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) buscava fomentar a indústria de caminhões no país, e destinaria grandes recursos para aquisições de caminhões militares, com o Ministério da Defesa e Ministério da Infraestrutura passando a celebrar importantes contratos com as montadoras. Todas as Forças Armadas, seriam beneficiadas com destaque para o Exército Brasileiro que receberia a maior destinação de verbas, com a frota Força Terrestre passando a dispor de mais de cinco mil caminhões produzidos pela MAN Latin America. Neste contexto se destacariam os novos VW Worker de 2,5 toneladas e 5 toneladas, sendo configurados em diversas versões de carroceria, entre elas o modelo desenvolvido para operações de deslocamento aerotransportado que são dotados cabine com cobertura de lona e vidro dianteiro rebatível para transporte aéreo em aeronaves Lockheed C-130H Hercules ou Embraer KC-390 Mileniun da Força Aérea Brasileia. Ganharia destaque também o emprego dos VW15.210 Worker 4X4, junto aos Grupos de Artilharia de Campanha, Companhia de Morteiros Pesado e Seções de Morteiros Pesados das Unidades de Cavalaria e Artilharia. Em seguida seriam incorporados modelos pesados como o VW Constellation 31.320 6x6 , desenvolvimento especialmente para atendimento as demandas do Exército Brasileiro, principalmente para a tarefa de reboque de peças de artilharia de alto calibre, substituindo os cansados Mercedes Benz - Engesa LG-1519 6x6 em uso desde a década de 1970. Passaria também a ser empregado no transporte pontes de engenharia portáteis servindo ainda a aplicações críticas como o transporte de contêineres pesados, sendo dimensionado para o transporte off-road de 10 toneladas. O último contrato seria celebrado entre a montada e o Ministério da Defesa em setembro de 2013 e envolvia a aquisição de oitocentos e sessenta caminhões a um custo total de R$ 270.000.000,00, consolidando assim a posição de principal fornecedor de caminhões militares ao Exército Brasileiro, culminado em uma renovação de mais de 40% da frota atual. 

Em Escala.
Para representarmos o Volkswagen Worker 4X4 15210  “EB-3412170380”, empregamos como base um modelo em die cast da Axio produzido para  Altaya  na escala 1/43. Porém como este originalmente representa um modelo Delivery VW 8150, para se representar a versão militar, tivemos de aplicar um grande processo de conversão. Este contempla principalmente a  elevação da suspensão, remoção dos faróis originais, reforço do para-choque frontal com aplicação de luzes de comboio e faróis da versão VW15.210, inclusão protetor de motor e câmbio inferior dianteiro e construção  plasticard de uma nova carroceria de carga. Para finalizarmos o conjunto fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set  "Exército Brasileiro  1983 - 2016".

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares a partir de 1983, existem, no entanto, na frota de VW15 210 Workers alterações no que tange a marcação e posicionamento dos símbolos nacionais e seriam de número de frota.. Os únicos veículos que receberam um esquema diferente deste, foram os destinados ao contingente da Missão das Nações Unidas (ONU) para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), onde passaram a ostentar o padrão de pintura padrão das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). 



Bibliografia : 

- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos VW 8150 – Editora Altaya 

- Infodefensa www.infodefensa.com/ 

- VW Worker 15.210 4X4 – Expedito Carlos S. Bastos http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/VW15210.pdf 

- Caminhões Volkswagen  Lexicar – www.lexicar.com.br 

 

Vultee BT-15 Valiant

História e Desenvolvimento.
Os empreendedores norte-americanos Gerard "Jerry" Freebairn Vultee (1900-1938) e Vance Breese (1904-1973) fundariam em abril de 1932 na cidade de Los Angeles, Califórnia, uma nova indústria aeronáutica, a Airplane Development Corporation. Neste contexto "Jerry", detinha larga experiencia no segmento, após participar por algum tempo como engenheiro aeronáutico estrutural na Douglas Aircraft, da equipe do renomado projetista John Knudsen "Jack" Northrop, na Douglas Aircraft Company.  Seu primeiro projeto comercialmente viável, o Vultee V-1, uma aeronave monoplano de asa baixa e produzido inteiramente de metal, com um trem de pouso com bequilha retrátil, seria concebido para o transporte executivo para até oito passageiros. Seu primeiro protótipo, alçaria voo em 19 de fevereiro de 1933 e despertaria um grande interesse por parte da direção executiva da empresa de transporte aérea American Airlines. Os resultados amostrados em seu programa de ensaios de voo se mostrariam extremamente promissor, inclusive registrando recordes de velocidade e autonomia. Logo em seguida, como esperado a American Airlines se tornaria seu primeiro usuário operacional, resultando em um contrato para a compra de quatorze aeronaves, que seriam empregadas em rotas domésticas. A empresa de transporte aéreo regional Bowen Airlines do Texas, se tornaria o segundo cliente do modelo. Apesar deste excelente início comercial, suas futuras projeções de vendas seriam, no entanto, impactadas por novas regulamentações impostas pela autoridade aeronáutica civil norte-americana que obrigaria o emprego de apenas aeronaves com dois motores em rotas regulares de transporte de passageiros. Isto limitaria as vendas deste modelo de aeronave, sendo produzidos pela Airplane Development Corporation, apenas vinte e sete aeronaves. Em 1934 uma nova legislação a "Lei do Correio Aéreo" demandaria uma série de reestruturação no meio aeronáutico norte-americano, levando em 30 de novembro do mesmo ano, ao estabelecimento da  Aviation Manufacturing Corporation (AMC), através da aquisição das participações da Cord, incluindo a Vultee's Airplane Development Corporation. Logo em seguida no dia 1 de janeiro de 1936 a Aviation Manufacturing Corporation seria liquidada, levando a formação da Vultee Aircraft Division, que passaria a ser uma subsidiária autônoma. Neste mesmo período, sete aeronaves que anteriormente pertenceram a American Airlines e outras oito células (adquiridas pelo governo espanhol para tarefas de transporte) seriam empregadas pelas forças republicanas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), com quatro aeronaves Vultee V-1 sendo capturados e operados também pelas forças nacionalistas.  

Este inusitado emprego militar em um ambiente de guerra moderna, despertaria a diretoria da empresa, o vislumbre de um novo e promissor nicho de mercado, levando assim a Vultee Aircraft Division,  a iniciar o desenvolvimento de uma versão militar do modelo V-1. Apesar das restrições operacionais existentes neste período, quanto ao emprego de aeronaves monomotoras para emprego em tarefas bombardeio, seria decidido levar adiante este ousado projeto. Esta nova aeronave estaria equipada com um motor radial Wrigth Cyclone SR 1830-F53 com 750 hp de potência, que conservava as excelentes características de desempenhos vistas no modelo comercial V-1. Este modelo receberia a designação de Vultee V-11, e além de empregar o mesmo motor, faria uso também do trem de pouso e estrutura alar de seu antecessor civil, com as demais partes e componentes, sendo desenvolvidas para esta nova aeronave. Seu principal emprego se destinaria a missões de bombardeio de mergulho (picado), podendo ser também utilizado como como treinador avançado. Apesar de um início promissor como aeronave de ataque conquistando contratos de exportação, suas vendas não superariam a casa das duzentas células, porém aproximaria a empresa ao comando do Corpo Aéreo dos Estados Unidos (USAAC), o que se mostraria extremamente interessante para as futuras oportunidades de negócios. Uma nova oportunidade se descortinaria no final da década de 1930, quando seria diagnosticado carências no processo de formação dos novos pilotos militares norte-americanos. Este programa era composto por três fases de instrução, com a primeira destinada ao treinamento primário, fazendo uso dos confiáveis biplanos Boeing PT-17 Stearman, após esta fase os cadetes evoluiriam para a instrução junto aos monoplanos Fairchild PT-19, com o treinamento avançado sendo realizado nos modernos North American T-6 Texan para formação monomotor e os Cessna T-50 Bobcat e Beerchcraft AT-17 para formação multimotor. Seu ponto falho estava na fase intermediaria, pois os Fairchild PT-19 não preenchiam plenamente os critérios estipulados para este processo. No intuito de se buscar uma solução a esta demanda, em setembro de 1938, o comando do Corpo Aéreo dos Estados Unidos (USAAC) lançaria uma concorrência para o desenvolvimento de um novo treinador intermediário. 
Ao receber o convite para este processo, a diretoria da Vultee Aircraft Company, decidiria por aproveitar e adaptar um projeto existente em seu portifólio que ainda se encontrava em fase final de desenvolvimento. Esta aeronave teve sua concepção iniciada anteriormente, estando sob a tutela de Richard Palmer (chefe de engenharia da empresa), e seria concebida inicialmente como uma moderna aeronave de caça e ataque a solo. Adaptações seriam implementas em seu escopo original, nascendo assim o modelo Vultee V-51, sendo apresentado na forma de uma interessante proposta técnica e comercial. A aeronave se classificaria entre os finalistas desta concorrência, recebendo um contrato para a produção de um protótipo, que receberia a designação militar de V-51. Seu primeiro voo seria realizado no dia 24 de março de 1939, e apesar de se mostrar tecnicamente superior aos seus concorrentes. Apresentava como diferenciais o motor radial Pratt & Whitney R-1340-S3H1-G Wasp de 600 hp (447 kW) de potência , uma hélice de metal de passo variável com duas pás e sistemas de trem de pouso retrátil e flaps operados hidraulicamente. Porém todos estes atributos o tornavam muito caro e complexo para operação, sendo considerado pelos militares como inadequado para o treinamento objetivado por este programa. Neste momento seria declarado como vencedor o modelo North American BC-2, que presentava uma melhor relação de custo-benefício, no entanto esta decisão não representaria uma derrota total para a empresa, pois o comando do Corpo Aéreo dos Estados Unidos (USAAC), optaria por adquirir o protótipo Vultee BC-51, para assim ser empregados em um novo programa de desenvolvimento de aeronaves.  Este movimento colaboraria com a visão da equipe de projetos da Vultee Aircraft Corporation, vislumbrava um grande potencial comercial na aeronave e solicitou a direção a empresa a permissão e recursos para continuar o desenvolvimento do projeto. O principal objetivo era o de buscar a simplificação do modelo, resultando em um custo final de aquisição próximo a seus principais concorrentes, descortinando assim também sua possibilidade de exportação. Assim então seria definido por suprimir todos os sistemas considerados superficiais ou inovadores em demasia.    

Assim seria desenvolvido o novo modelo Vultee VF-54 destinado principalmente ao mercado de exportação, que empregava o mesmo design da versão anterior BC-51, apresentando agora um trem de pouso fixo, sistemas de flaps acionados através de comandos mecânicos, e por fim um motor radial mais conservador, o  Pratt & Whitney R-985-25 de 450 hp de potência.  Mantinha, ainda como diferencial, sua estrutura e fuselagem metálica com a superfície dos comandos entelada, naceles cobertas dispostas em tandem com comandos duplicados, equipamento de rádio e possibilidade de instalação de sistemas para voo noturno e por instrumentos.  O grande trunfo da aeronave, no entanto estava baseada em seu excelente custo de aquisição, aliado a uma expectativa de robustez com baixo custo de operação e manutenção. Infelizmente o modelo não conquistaria nenhum contrato de exportação, levando a diretoria da empresa a nortear seus esforços para o mercado doméstico, desta medida nasceria o modelo  Vultee VF-54A. Este modelo com seu protótipo seria apresentado ao comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em agosto de 1939. Sua nova performance de voo e a promessa de uma excelente relação de custo-benefício operacional, agradariam ao comando militar norte-americano levando a sua rápida aceitação. Esta decisão seria profundamente influenciada pelo intensificar do conflito na Europa, e pelas ameaças do expansionismo japonês no sudeste asiático, levando assim a necessidade de se acelerar os processos de fortalecimento das forças armadas norte-americanas, e neste cenário o poder aéreo seria fundamental, o que aumentaria a necessidade de formação de mais pilotos militares. Assim desta maneira em janeiro de 1940, seria celebrado um primeiro contrato prevendo a aquisição de trezentas células do novo treinador, que receberia agora a designação militar BT-13.  As primeiras células passariam a ser entregues a partir de junho de 1940, com seu desempenho sendo extremamente elogiado por seus instrutores e cadetes, apesar disto melhorias seriam sugeridas, resultando na versão BT-13A, que receberia um novo contrato, agora englobando mais de seis mil células. 
Paralelamente a aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), faria a opção pela incorporação da aeronave, concretizando a seguir um contrato com a  Vultee Aircraft Corporation para a aquisição de mais de mil células do modelo BT-13, sob a designação SNV-1 e seiscentos e cinquenta unidades do BT-13A sob a designação de SNV-2. Em meados do ano de 1940 seria desenvolvida a versão BT-13B que apresentava uma modificação em seu sistema elétrico, fazendo uso da tensão agora de 24 volts ao invés dos 12 volts dos modelos anteriores, resultando em mais de mil aeronaves produzidas. No segundo semestre de 1941, o fabricante de motores Pratt & Whitney Company atingiria sua capacidade máxima de produção, com suas linhas não conseguindo atender a crescente demanda por parte do esforço de guerra aliado. Desta maneira a fim de atender aos contratos vigentes, a equipe de engenharia da companhia procederia alterações no projeto original, permitindo assim a aeronave a operar com motor radial  Wright R-975-11 com 450 hp de potência. Esta nova versão receberia a designação de Vultee BT-15, recebendo encomendas superior a mil e seiscentas células, sendo destinadas principalmente a países aliados dos Estados Unidos. Ao todo, até o novembro do  do ano de 1944 seriam entregues mais de onze mil e quinhentas aeronaves de todas as versões, com o modelo passando a ser item importante no programa de ajuda militar Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Logo após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, todas as células remanescentes em serviço nas forças armadas norte-americanas seriam retiradas do serviço ativo, com grande parte da frota sendo sucateada para o aproveitamento no motor e de matéria prima. Centenas de células seriam cedidas a nações alinhadas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, com muitas destas permanecendo em operação até o início da década de 1960. Além de seu país de origem os Vultee BT-13 e BT-15 seriam operados pela Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Equador, Egito, El Salvador, França, Guatemala, Haiti, Honduras, Israel, Indonésia, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Taiwan, União Soviética e Venezuela. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, com o envio de um contingente militar para atuação no front europeu. 

No que tange a  recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização, pois dispunha em sua frota aeronaves já obsoletas, carecendo inclusive de aeronaves de treinamento básico e avançado, o que não lhe permitir formar quantitativamente e qualitativamente pilotos militares, necessidade fundamental para a preparação de uma arma aérea forte e eficiente. Em termos de aeronaves de treinamento, estavam disponíveis limitadas quantidade de aeronaves dos modelos Stearman Boeing A75 - A76 e B76, De Havilland DH-60T Moth Trainer, De Havilland DH-82 Tiger Moth, Focke-Wulf FW-44J Stieglitz e pouquíssimas aeronaves modernas como os North American BT-9 e NA 72.  Este cenário começaria a ser revertido a partir de meados do ano de 1942, pois o programa de apoio militar norte-americano previa a entrega de grandes quantidades de aeronaves de treinamento básico e avançado, que seriam fornecidos em lotes. Neste pacote inicial estavam dispostas cem células novas de fábrica do modelo Fairchild PT-19 Cornell, que deveriam ser empregados em tarefas de instrução básica. Os primeiros dez treinadores avançados a serem recebidos, os North American AT-6B seriam, no entanto, concentrados ao Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), onde seriam destinados ao estágio final de formação dos pilotos brasileiros, porém em face ao cenário de necessidade de se prover uma cobertura eficiente em tarefas de patrulha costeira seriam desviados de das atividades de treinamento. Ficava ainda a lacuna para o treinamento no estágio avançado dos novos pilotos militares brasileiros, que passaria a ser amenizada em agosto de 1941, quando seria determinado a cessão de cento e vinte e duas células do modelo Vultee BT-15 Valiant. Devido as ameaças de ataques a comboios de navios de carga por parte dos submarinos do Eixo, seria determinado que todas as aeronaves fossem transladas em voo dos Estados Unidos, o que seria considerado um feito notável para a época, principalmente porque os pilotos brasileiros eram recém-formados nos Estados Unidos e tinham poucas horas de voo de experiência, principalmente em missões de grande deslocamento. Assim, a partir de dezembro de 1941, março e abril de 1942 seriam transladados até o Rio de Janeiro, cinquenta e uma aeronaves, constituindo de pequenas esquadrilhas, normalmente apoiadas por uma aeronave de maior porte. No ano de 1943 seriam recebidos mais sessenta e oito aviões, com os últimos dois chegando a Base Aérea de Santa Cruz,  em maio de 1945. 
As primeiras aeronaves recebidas no Brasil, ainda ostentavam as cores, cocares e números de registro do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com a fuselagem em azul marinho e as asas e profundores em amarelo. Já o lote recebido em 1943 já seria recebido com as cores da  Força Aérea Brasileira, com a aeronave toda em alumínio brilhante com as matrículas no estilo FAB 01 a FAB 122. A Escola de Aeronáutica (EAer), sediada no Campo dos Afonsos na cidade do Rio de Janeiro, organização responsável pela formação dos pilotos na Aeronáutica, seria a primeira unidade a receber os novos aviões, destinando-os para instrução básica dos cadetes e também treinamento por instrumentos. Com a incorporação destas nova aeronaves, os três grupamentos do CPOR (Curso de Preparação de Oficiais da Reserva) sediados no Rio de Janeiro; o II GT CPOR (Galeao), III GT CPOR, em São Paulo (Cumbica); e o IV GT CPOR, em Canoas (RS); também seriam dotados com os novos Vultee BT-15 para a formação de pilotos da reserva. Como nos Estados Unidos, estes aviões seriam empregados no estágio intermediário de treinamento, atuando entre o período de instrução realizado nos Fairchild PT-19 empregados naquele momento na formação básica e os North American BT-9, NA 72 e AT-6 usados para a instrução avançada.  Em julho de 1945, de acordo com uma nova sistemática seriam alocadas a estas aeronaves as matrículas no sistema de quatro dígitos de FAB 1048 a 1166 e de FAB 1373 a 1375. Durante a Segunda Guerra Mundial os Vultee BT-15 Valiant tiveram participação fundamental na formação de pilotos militares no país. Com o final do conflito, o processo de formação de pilotos militares voltaria as demandas normais de tempos de paz, e estas aeronaves seriam retiradas do serviço ativo junto a Escola de Aeronáutica (EAer). A partir de 1946, os  Vulteezinhos, ou Vultee Perna Dura, como eram conhecidos os Vultee BT-15 para diferenciá-los do seu “irmão mais velho”, o Vultee V-11 GB2, ou Vulteezão), passariam a ser distribuídos a diversas bases aéreas onde passaram a equipar as Esquadrilhas de Adestramento, Quartéis-Generais de Zonas Aéreas e Parques de Aeronáutica, dentre outras unidades e organizações do Ministério da Aeronáutica (MAer). Neste novo contexto operacional, seriam empregados também em missões administrativas em proveito destas unidades e organizações militares.

A Escola Técnica de Aviação (ETAv), também receberia duas células deste modelo, com estas recebendo as matrículas de FAB 1374 e 1375, destinados a tarefas de instrução em solo para seus alunos. Em 28 de junho de 1949 uma terceira aeronave seria recebida, portando a matrícula FAB 1373, estas aeronaves seriam posteriormente transferidas a Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAr), sediada na cidade de Guaratinguetá no interior do estado de São Paulo. Uma destas células receberia um esquema de pintura diferenciando, ostentando a carenagem do motor na cor amarela, que representava uma característica das aeronaves do antigo Grupo Motopropulsor. A carreira dos Vultee BT-15 Valiant na Força Aérea Brasileira, seria marcada ainda por seu envolvimento no ousado projeto de produção nacional de motores aeronáuticos sob licença. Esta iniciativa seria concebida inicialmente no ano de 1939, quando o governo brasileiro decidido a formar seu parque industrial, fundou a Fábrica Nacional de Motores - FNM,  com o objetivo de produzir motores aeronáuticos para o atendimento da aviação militar e à nascente produção nacional de aviões para uso civil. Acordos seriam celebrados com o governo norte-americano resultando em um contrato para a produção local de motores radiais Curtiss-Wright R-975-11. Sob supervisão de técnicos do fabricante, esse processo seria conduzido a partir de 1942, porém devido ao conflito seria postergado pelos anos seguintes. Os trabalhos seriam recomeçados em 1946, com duas aeronaves deste modelo sendo cedidas pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), para serem empregados como banco de testes estático e em voo para os novos motores "nacionais" designados oficialmente como FNM R-975-11 de 450 hp. O Vultee BT-15 Valiant  "FAB 1082" seria escolhido para o programa de ensaios reais em condições normais de operação, com o primeiro voo da aeronave com o protótipo do motor ocorrendo em 19 de março de 1946. Após ser submetido a um completo programa de testes, seria autoriza a conversão de mais sete aeronaves, com as matrículas FAB 1052, 1072, 1080, 1083, 1127, 1144 e 1147, sendo equipados com os novos motores, testados e validados até meados do ano seguinte. No entanto neste momento o mercado de defesa mundial seria inundado uma grande oferta de aeronaves usadas, consideradas como excedentes de guerra, com preços extremamente baixos, o que eliminaria qualquer chance de exportação de seus motores aeronáuticos. Assim desta maneira este importante projeto seria prematuramente cancelado. 
No ano de 1951, tanto a aeronave quando seu motor radial Curtiss-Wright R-975-11, seriam declarados pela Diretoria e Material da Força Aérea Brasileira como parcialmente obsoletos, sendo iniciados estudos visando a implementação de um gradual programa de desativação. Por outro lado, a designação de BT-15 seria modificada para T-15 pela Portaria nº R2A4-521013 promulgado em 17 de outubro de 1952, com esta sistemática se mantendo até sua retirada do serviço militar. Em 20 de fevereiro de 1953, seis aeronaves (FAB 1059, 1060, 1090, 1123 e 1165) seriam entregues para a companhia de transporte aéreo Varig S/A, que seriam destinadas a instrução de pilotos comerciais junto a Varig Aéreo Esporte - EVAER. Em seguida cinco aeronaves Vultee T-15 (FAB 1049, 1063, 1076, 1112 e 1161) seriam transferidas agora para a Real (Redes Estaduais Aéreas Ltda), que também seriam destinados a sua escola de pilotos. Em 1957, a crônica falta de peças de reposição, o obsoletismo e o desgaste decorrente de sua intensa operação levariam a desativação dos Vultee T-15 na Força Aérea Brasileira, encerrando sua operação militar no país. Porém muitas células ainda dispunham de algum tempo de vida útil, sendo transferidos ao Departamento de Aviação Civil (DAC), que os distribuiria a diversos aeroclubes, onde se manteriam em operação até os anos de 1963 e 1964, quando foram então desativados para alienação para venda. Em 1 de setembro de 1964, as células remanescentes seriam leiloadas pelo então Parque de Aeronáutica de São Paulo (PASP), que era o parque apoiador da aeronave. O Vultte T-15 Valiant que mais tempo operou no Brasil, foi o FAB 1084, que se encontrava então no Centro Técnico da Aeronáutica (CTA), onde seria empregado até 21 de agosto de 1968, quando foi autorizada sua alienação para venda como sucata, encerrando sua carreira na Força Aérea Brasileira. Atualmente existem duas aeronaves preservadas no Brasil, sendo uma no Museu Aeroespacial (Musal) e uma no Museu Asas de m sonho da TAM na cidade de São Carlos no interior paulista. 

Em Escala.
Para representarmos o Vultee BT-15 Valiant  “FAB 110321” (número de série original norte-americano, alterado posteriormente) empregamos o excelente kit em resina na escala 1/48 produzido pela Planet Models. Apesar do modelo representar a versão BT-13, pode ser utilizado para a versão emprega ppela Força Aérea Brasileira, pois a diferença está localizada apenas em seu motor radial. Como não existe no mercado um set de decais específicos para o modelo quando em sua atuação na Força Aérea Brasileira, fizemos uso de decais oriundos de diversos sets confeccionados pela FCM Decais. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa padrão de pintura de aeronaves de treinamento do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com o qual as aeronaves  do primeiro lote foram recebidas a partir de 1942. As demais células recebidas a partir de 1943 apresentavam um esquema de pintura total e alumínio. Posteriormente logo após o termino da Segunda Guerra Mundial, as células receberam o esquema de aeronaves de instrução da Força Aérea Brasileira, mantendo este padrão até a sua desativação no ano 1957.



Bibliografia :

- Vultee BT-13 Valiant – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Vultee_BT-13_Valiant
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- BT-15 no Brasil Revista Asas Edição 81 Aparecido Camazano Alamino