Cessna UC-78 e UC-78B Bobcat


História e Desenvolvimento. 
O início de uma grande trajetória que culminaria na criação da Cessna Aircraft Company, teve seu início no mês de junho do ano de 1911, quando Clyde Vernon Cessna, um fazendeiro e entusiasta aeronáutico, residente na cidade de Rago, no estado do Kansas, construiria artesanalmente sua própria aeronave, sendo a primeira pessoa a empreender um voo  sobre o rio Mississippi e as montanhas rochosas. Este sucesso logo o motivaria a montar uma estrutura destinada a produção de aeronaves, montando uma pequena oficina na de Enid, no estado de Oklahoma, com esta decisão sendo tomada pela existência de vastas salinas, tornando este local propicio para os futuros testes de voo. Todos os seus projetos apresentariam uma concepção básica biplano, fazendo uso de estruturas em madeira, com suas asas e fuselagem sendo recobertos por tecido. Visando ampliar seu empreendimento, no qual se vislumbrava grande potencial, Clyde Vernon Cessna, iniciaria uma prospecção junto aos bancos em sua região no intuito conseguir empréstimos, porém infelizmente não lograria êxito. Desta maneira procuraria alternativas, se mudando para a cidade de Wichita no Kansas, onde se aproximaria de Walter H. Beech e Lloyd Stearman, iniciando uma nova empresa no ano de 1924, que resultaria na criação da  Travel Air Manufacturing. Ele teria destacada participação na criação de aeronaves promissoras, como os biplanos Travel Air 2000, Travel Air 5000 e Travel Air 500. Discordâncias internas levariam Clyde V Cessna a deixar a companhia, porém seu espírito empreendedor logo afloraria novamente, e em 7 de setembro de 1927, fundaria em sociedade com Victor H. Roos, a Cessna-Roos Aircraft Company. No entanto esta composição se mostraria efêmera, com seu sócio se retirando da empresa em 22 de dezembro de 1927, e a empresa seria renomeada como Cessna Aircraft Corporation. Buscando se estabelecer no mercado de forma solida, sua direção iniciaria o desenvolvimento de um ousado projeto, que receberia a designação de Cessna DC-6, com seu primeiro protótipo alçando voo em 14 de maio de 1929. A nova aeronave receberia sua certificação de aeronavegabilidade no em 29 de outubro, mesmo dia da “quebra” da Bolsa de Valores, movimento este que deflagaria um dos piores períodos da economia norte-americana e mundial.  Neste contexto, a linha de aeronaves da família “CR” representaria a principal razão pela qual a empresa foi capaz de se manter durante a Grande Depressão, apesar de um declínio catastrófico nas vendas de aeronaves. Este caótico cenário levaria Clyde V. Cessna a deixar a direção da empresa, porém em junho de 1933 um fato inusitado iria mudar o destino da empresa, este seria caracterizado quando um piloto profissional fazendo uso de um Cessna CR-3 venceu a American Air Race em Chicago, estabelecendo um novo recorde mundial de velocidade para aeronaves daquela categoria, trazendo notoriedade a marca Cessna.   

Neste momento os sobrinhos de Clyde V. Cessna,  Dwane Wallace e Dwight Wallace, se antevendo a consolidação do sucesso comercial da marca, procederiam a aquisição da companhia, trazendo assim um novo ciclo transformaria o negócio da família.  Nos anos seguintes, a economia norte-americana passaria a apresentar sinais de melhora, com a empresa implementando uma ampla pesquisa de mercado no objetivo para se identificar potenciais nichos no mercado aeronáutico. Este processo logo nortearia a companhia a focar  no desenvolvimento de aeronaves de pequeno porte para transporte, com capacidades máximas de quatro a seis passageiros. Sua aplicação se daria tanto para o mercado civil quanto militar, e neste último sendo destinado a missões de transporte de carga leve e passageiros, ligação e treinamento básico multi motor. Com estas definições o projeto seria iniciado em fins do ano de 1937 e apresentava uma aeronave de porte pequeno, monoplano em cantilever, trem de pouso principal retrátil e equipado com dois motores radiais Jacobs L-4MB de 225 cv, e hélices de passo fixo de metal do modelo Curtiss Reed. Possuía ainda asas constituídas de madeira laminada com cavernas de madeira compensada, sendo dotado ainda de um inédito sistema de ignição projetado pela Delco Automotive Company, que já era presente no segmento automotivo e por fim os flapes que eram acionados eletricamente. Seu principal diferencial era o de apresentar uma relação de custo-benefício de aquisição e operação inferior ao seu principal concorrente o Beechcraft Model 18, que naquele momento detinha ampla liderança no mercado civil norte-americano.  O modelo receberia a designação de Cessna T-50, e seu primeiro protótipo alçaria voo em  26 marco de 1939, sendo logo submetido a um intensivo programa de ensaios em voo que visam sua homologação oficial para emprego no mercado civil.  Sua certificação  de aeronavegabiliTC 722, seria concedida em 24 de março de 1940, levando ao início de sua produção em série, que seria suportada por uma excelente campanha de marketing e vendas, que passaria a despertar a curiosidade de diversos operadores comerciais e particulares. 
Desta maneira estes esforços logo seriam recompensados, resultando nos primeiros contratos de produção, e posteriormente o  inicio das operações em empresas de transporte aéreo regional, não só comprovariam as expectativas positivas da aeronave, como também as superariam, passando a chamar a atenção de grandes empresas de transporte, principalmente devido a sua excelente relação de custo benefício, o que logo se traduziria em novos contratos de produção. Visando manter esta curva de vendas ascendente e se aproximar ainda mais da participação de mercado do  Beechcraft Model 18,  no início do ano de 1940, a empresa desenvolveria a primeira versão da aeronave apresentando uma estrutura metálica mesclada com poucos componentes em madeira e novas hélices Hamilton Standard 2B-20-213 acionadas hidraulicamente, de velocidade constante. No final deste mesmo ano, junto ao governo norte-americano ficava cada dia claro que a entrada do país no conflito europeu era apenas uma questão de tempo, e desta maneira suas forças armadas deveriam se preparar principalmente no que a formação de pessoal especializado, entre estes pilotos, navegadores e tripulantes de bombardeiros. A fim de se atender a esta demanda, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) demonstraria a necessidade de se dispor de uma grande frota de aeronaves para treinamento multi motores. Neste contexto as excepcionais qualidades em voo do Cessna T-50,  a qualificariam como potencial treinador militar para esta especialidade de formação. Duas aeronaves da versão padrão seriam cedidas pelo fabricante para o emprego em um programa de avaliação,  com este processo resultando em uma série de mudanças e melhorias no projeto original, que seriam prontamente atendidas. Entres as modificações aplicadas se destacavam a adoção de   janelas do teto do cockpit, motores Lycoming R-680-09 mais potentes de 290 cv (220 kW) e rádios militares. Um primeiro contrato seria celebrado envolvendo a aquisição de  trinta e três aeronaves, que receberiam a designação de AT-8 e deveriam ser entregues as unidades de treinamento a partir de dezembro de 1940, onde após seu processo de implantação seriam inclusos no programa de formação de pilotos.

Em operação os Cessna AT-8 apresentariam excelente desempenho, levando o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em fins de 1941 a contratar a produção de quatrocentos e cinquenta novas aeronaves. Este novo lote receberia a designação de Cessna AT-17A, que receberiam janelas adicionais do cockpit, hélices em metal e motores radiais Jacobs R-755-9 de 245 cv (183 kW), e seria destinado a suprir a crescente demanda na formação de pilotos para a força de bombardeio estratégico.  Em seguida mais duzentas e vinte e três aeronaves seriam incorporadas. Em 1942, a agora renomeada Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) adotaria o modelo como aeronave de transporte leve pessoal, assinando uma compra de mais quatrocentas e sessenta e cinco aeronaves, que voltariam a ser equipadas com hélices em madeira e peso total reduzido.  Novas versões de treinamento seriam desenvolvidas como o AT-17C que contava com um elaborado sistema de rádio (sessenta aeronaves entregues), e posteriormente os os modelos  AT-17D, AT-17E, AT-17F e AT-17G que apresentavam entre si pequenas diferenças e melhorias no projeto. Em 1943, as células destinadas as missões de transporte leve pessoal seriam redesignadas como  C-78, com a Cessna Aircraft Corporation recebendo um contrato para a produção de mais de mil e trezentas células, que seriam entregues até fins de 1944. Dezessete Cessna T-50 civis seriam incorporados a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), recebendo a designação de UC-78A. Em seguida seria celebrado um novo contrato do modelo UC-78B que passava a contar com hélices de passo variável, com este termo englobando mil e oitocentas e seis células. Em fins de 1944, cento e trinta e um AT-17 seriam convertidos para o padrão UC-78C, e sendo também produzidas cento e noventa e seis novas células. Ainda no final de 1942, sessenta e sete aeronaves do modelo UC-78, seriam transferidas para a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), onde receberiam a designação de CCI-1. Operando inicialmente nos Estados Unidos, os Cessna AT-17, UC-78 também seriam empregados pelas Forças Armadas Norte-Americanas em  todos os fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, recebendo o carinhoso apelido de "Bamboo Bomber".
Em setembro de 1940, a Força Aérea Real Canadense (RCAF -  Royal Canadian Air Force), se tornaria o primeiro cliente de exportação do Cessna T-50, adquirindo cento e oitenta aeronaves que receberiam a designação local de Crane Mk.I. Este modelo estava equipado com hélices de madeira de passo fixo Hartzell, defletores de cabeça de cilindro removíveis e aquecedores de óleo, com a primeira aeronave sendo entregue em 04 de novembro do mesmo ano. Em 1941 seria assinado um contrato para a produção sob licença de seiscentas e quarenta células, que deveriam entregues até fins de 1943, estas aeronaves seriam destinadas a tarefas de transporte leve e treinamento junto ao Plano de Treinamento Aéreo da Commonwealth Britânica. Em 1942 mais cento e oitenta células do modelo Cessna AT-17A seriam cedidas a Força Aérea Real Canadense (RCAF) em regime de comodato, recebendo a designação de Crane Mk.IA.  Durante a Segunda Guerra Mundial, centenas de aeronaves desta família seriam inclusos como item do programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), passando a operar junto as forças armadas da França Livre, China Nacionalista e Brasil. Ao todo entre os anos de 1939 e 1944 seriam produzidas cinco mil quatrocentas e vinte e duas células dispostas em vinte versões, após o conflito uma grande parte destas aeronaves seria desmobilizada. Um kit de conversão para o modelo civil T-50 seria desenvolvido com centenas de células sendo compradas por pequenas companhias aéreas, operadores de fretamento e pilotos privados. Em setembro de 1947 quando da formação da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), poucos Cessnas AT-17 e UC-78 ainda estavam em serviço, com o modelo sendo declarado como obsoleto em 1949, sendo desativado logo em seguida. Uma grande quantidade de aeronaves seria doada as nações alinhadas ao interesses geopolíticos norte-americanos, dentro do escopo de programa de ajuda militar, sendo cedidos ao  Peru, Costa Rica, Etiópia, Guatemala, Polônia, França, Haiti, Nicarágua e Iêmen. Muitas destas aeronaves militares e e civis se manteriam em operação normal até o início da década de 1970. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. 

A recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização neste momento, pois dispunha em sua frota um grande número aeronaves já obsoletas, carecendo principalmente de modelos de treinamento básico e avançado, o que não lhe permitir formar quantitativamente e qualitativamente pilotos militares, necessidade esta fundamental para a preparação de uma arma aérea forte e eficiente. Além da carência apresentada no processo formação básica, a Aeronáutica não dispunha de programas específicos destinados ao emprego em missões especializadas em aeronaves multimotoras, contando para este fim com apenas algumas aeronaves do bimotor alemão  Focke-Wulf FW-58 Weihe. E mesmo o uso desta aeronave em treinamentos reduziria em muito a capacidade brasileira em realizar compor o imediato esforço de guerra nacional, direcionado principalmente as atividades relacionadas a busca e destruição de submarinos do Eixo, que até então representavam uma grave ameaça a navegação militar e civil nas costas do mar territorial brasileiro. Em atendimento a estas demandas o plano de intercambio operacional entre a Força Aérea Brasileira e a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), previa a estruturação dos meios materiais e doutrinários para a formação de pilotos, navegadores e bombardeadores, com a finalidade de prover os efetivos necessários para a realização das missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW). Assim o treinamento em aeronaves multimotores seria fundamental, para a capacitação de seus tripulantes, sendo entregues inicialmente em meados de 1942 seis treinadores do modelo  Beechcraft AT-7-BH. Neste contexto estavam previstos também o recebimento de trinta e nove bimotores Cessna UC-78, equipados com os motores Jacobs R-755-9 L-4 de 245 hp. O primeiro lote composto por dezenove células novas de fábricas, seriam entregues na base aérea de San Antonio Field no estado do Texas em dezembro de 1943, sendo transladados em voo para o Rio de Janeiro por cadetes da reserva e oficiais da Força Aérea Brasileira.  Até março do ano seguinte já eram trinta aeronaves recebidas e transladadas até o Brasil que se encontravam disponíveis, e de imediato vinte destas seriam transferidas a Escola de Aeronáutica (EAer) baseada no Campo dos Afonsos na cidade do  Rio de Janeiro.   Por sua vez, os Quartéis Generais das 2 º e 4 º Zonas Aéreas receberiam duas aeronaves UC-78 cada um, enquanto o Quartel General da 3º Zona Aérea receberia uma célula, as demais aeronaves seriam entregues a Diretoria de Rotas Aéreas (DRA), sendo destinadas ao emprego em missões de ligação e transporte leve, operando também em apoio as missões do Correio Aéreo Nacional (CAN). 
No que tange aos Cessna UC-78 destinados a Escola de Aeronáutica (EAer), estes passariam a desenvolver as tarefas de treinamento avançado, apresentando aos cadetes do terceiro ano as particularidades do voo multimotor. Este programa envolveria tarefas dedicadas de voo noturno, voo em grupo, deslocamentos de curta, média e longa distância em um programa com uma carga aproximada de cento e trinta horas de voo.  Este aprendizado visava preparar a adaptação das equipagens ao perfil de voo que encontrariam nas aeronaves de primeira linha entre eles os Douglas A-20 Havoc, Norh American B-25 Mitchel, Douglas C-47 e Lockheed PV1 Ventura.   Já as aeronaves destinadas a Diretoria de Rotas Aéreas (DRA) e aos quarteis generais anteriormente citados seriam utilizados prioritariamente em missões de transporte de pessoal, com emprego secundário em linhas curtas do  Correio Aéreo Nacional (CAN). No entanto esta organização inicial não perduraria por muito tempo, pois em fevereiro de 1945 a Força Aérea Brasileira viria a receber um segundo lote de células usadas do modelo UC-78B, que seriam concentrados também no Campo dos Afonsos para cumprirem missões de treinamento na Escola de Aeronáutica (EAer). As ressalvas sobre esta distribuição, ficariam por conta de um exemplar trazido isoladamente e destinado a Escola Técnica de Aviação (ETAv) e dois Cessna UC-78 distribuídos ao 1º Grupo de Transporte e colocados à disposição da comissão encarregada da implantação da Fábrica Nacional de Motores (FNM). Por fim transitoriamente, os últimos Cessna UC-78 permaneceriam em poder da Seção de Aviões de Comando, embora alguns tenham sido colocados a disposição da Diretoria de Aviação Civil (DAC). Neste período a Força Aérea Brasileira, se tornaria o terceiro maior operador militar das aeronaves da família Cessna T-50 - UC-78 Bobcat no contexto global, porém curiosamente em nosso país este modelo teriam uma passagem quando em serviço. Assim que encerrada a Segunda Guerra Mundial, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA), determinaria que as células remanescentes ainda lotadas na Escola de Aeronáutica (EAer), passassem a ser gradativamente transferidas as bases aéreas do Galeão, Natal, Salvador, Porto Alegre, Santa Cruz, Santos e Florianópolis (destacamentos) Nestas novas localidades passariam a atuar como aeronaves orgânicas, desempenhando uma série de tarefas administrativas e de transporte, sendo ainda ocasionalmente empregadas em proveito de linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN).   
Porém logo os anos seguintes assistiriam a rápida erosão da frota, nem sempre como consequência de algum acidente aeronáutico, mas principalmente em função da  concepção  estrutural de seu projeto. Assim por mais robusta que fosse,  por mais robusto que fosse, o extenso uso de madeira em sua estrutura faria com que a aeronave estivesse particularmente vulnerável as condições ambientais diversas existentes em todo território nacional, principalmente em áreas de alta umidade. Esta exposição prolongada nestas condições levaria a condenação de diversas células para voo pelo parque apoiador, com esta decisão sendo tomada pela identificação de grande incidência de apodrecimento do madeirame das asas e da fuselagem.  Antes de serem descartadas estas aeronaves seriam canibalizadas para a retirada de de componentes mecânicos, elétricos e hidráulicos,  visando assim manter o máximo de disponibilidade de voo da frota residual em serviço. Neste contexto apesar da redução da frota estas aeronaves se manteriam em serviço normalmente, aumentando inclusive a frequência de inspeções estruturais.  Em outubro de 1956 dentro do programa de reorganização da Força Aérea Brasileira, o boletim ministerial de número 93/52 da Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) determinava que as células remanescentes fossem redesignadas como Cessna T-17.  Neste momento haviam somente dezoito aeronaves em condição de voo, que receberiam as  matriculas de FAB 1800 a FAB 1818, porém novamente ao ingressarem no calendário de  revisão em âmbito de parque, este numero seria novamente reduzido devido a problemas de ordem estrutural. No segundo semestre de 1957 restavam apenas onze células em condições de voo , numero reduzido este que passaria a inviabilizar sua operação funcional, levando a realização de estudos sobre o futuro do modelo na Aeronáutica.  Em 17 de novembro de 1957, seriam emitido o Boletim 17/57, que determinada que todas as aeronaves remanescentes deveriam deixar o serviço ativo imediatamente, e suas células e  estoques de peças de reposição deveriam ser transferidos ao Núcleo do Parque de Aeronáutica de Porto Alegre (NuPqAer). Em uma segunda etapa, as aeronaves em melhor estado de conservação seriam revisadas e colocadas em condições de voo para serem repassadas ao Departamento de Aviação Civil (DAC), para posterior distribuição a diversos aeroclubes.  Somente seria mantido em carga, o Cessna T-17 FAB 1805, que permaneceria em  uso pela Escolta Técnica de Aviação (ETAv) até 1960 para fins de instrução em solo. Infelizmente nenhuma aeronave seria preservada, no entanto em 1989, uma célula seria adquirida junto ao acervo do “Mid-Atlantic Air Museum” (Estados Unidos da América), sendo permutado por uma  aeronave North American N.A.159 (T-28A). Após restauração esta aeronave receberia a matricula de FAB 2022 e seria inclusa no acervo de exposição do Museu Aeroespacial (MUSAL) no Rio de Janeiro.

Em Escala.
Para representarmos o Cessna UC-78 Bobcat " FAB 2720 ", empregamos o kit da Czech Model na escala 1/48 , modelo este que vem recheado com peças em resina para detalhamento e sets de photo-etched da Squadron , proporcionando um nível de detalhamento interno muito bom. Como não existe um set de decais específico para a versão brasileira, fizemos uso de peças oriundas de diversos sets da FCM Decals. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado nas aeronaves recebidas entre 1943 e 1944, sendo idêntica ao utilizado pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) durante a Segunda Guerra Mundial. As últimas unidades em operação a partir de 1947 receberiam a pintura em metal natural, mantendo este novo padrão até sua desativação em fins do ano de 1957.




Bibliografia :

- Cessna T-50 Bobcat – Brid do Ar Clovis de Athayde Boher – Revista Força Aérea Nº 94
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 2015 – Jackson Flores Jr

Grumman J4F-2 Widegon


Historia e Desenvolvimento.
O futuro engenheiro aeronáutico, Leroy R. Grumman nasceu em Nova York no ano de 1895 e concluiu sua graduação em engenharia mecânica pela Cornell University em 1926. Entusiasta da aviação, alistou-se subsequentemente na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), integrando a Reserva Naval. Durante esse período, foi reconhecido pelos seus superiores como um talento promissor, o que o levou a ser enviado à Universidade Columbia para se especializar em motores aeronáuticos. Após completar essa etapa de formação, foi designado para a Estação Naval de Miami, na Flórida, onde recebeu treinamento abrangente para atuar como instrutor de voo. Após sua qualificação, Leroy Grumman foi destacado a unidade, assumindo o papel de instrutor de voo para novos cadetes. Contudo, posteriormente, optou por abandonar essa função para se dedicar à pilotagem de bombardeiros na Aviação Naval. Seu desempenho excepcional em todas as atividades que foram confiadas testadas em uma indicação honrosa para ingressar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde cursou engenharia aeronáutica. Formado com distinção, passou a atuar como piloto de ensaios em voo, desempenhando a função de piloto de provas, passando a ensaiar  e testar novas aeronaves para a Aviação Naval. Em março de 1927, Leroy Grumman solicitou baixa do serviço militar e ingressou na Loening Aeronautical Engineering Corporation, uma empresa da indústria aeronáutica. Nesse novo ambiente, voltou a exercer a atividade de piloto de testes, com ênfase na linha de aeronaves anfíbias produzidas pela companhia, contribuindo também para o desenvolvimento desses projetos. Sua competência o levou a uma rápida ascensão dentro da organização: inicialmente foi promovido a gerente de fábrica e, em seguida, a gerente geral, assumindo responsabilidades diretas sobre o projeto de aeronaves. Ele ocupou essa posição até 1929, quando, às vésperas da Grande Depressão, quando a Loening Aeronautical Engineering foi adquirida pela Keystone Aircraft Company. A nova direção da empresa, buscando garantir suas perspectivas econômicas, implementou um amplo processo de reestruturação. Esse esforço culminou na decisão de encerrar as operações  da planta industrial em Manhattan, transferindo-as para Bristol, na Pensilvânia, como parte das medidas de adaptação ao novo contexto econômico. 

Relutante em deixar Long Island para permanecer trabalhando na Keystone Aircraft Company, Leroy R. Grumman se dedica a avaliar seu futuro profissional, considerando diversas possibilidades de carreira. Seu espírito empreendedor prevaleceu, liderando-o, em parceria com os colegas Jake Swirbul e William Schwendler, a renunciar às suas cargas na empresa e fundar, em 6 de dezembro de 1929, a Grumman Aeronautical Engineering Company. Inicialmente, a nova companhia concentrou suas atividades na realização de reparos e revisões gerais de aeronaves, com ênfase em modelos fabricados pela Loening Aeronautical Engineering. O primeiro contrato de prestação de serviços foi firmado com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que operava neste momento uma frota significativa de aeronaves anfíbias. Os recursos gerados por essa atividade possibilitaram, a partir de 1931, que a empresa expandisse suas operações para o projeto e desenvolvimento de aeronaves destinadas a transporte, treinamento e combate, com foco em atender às demandas da aviação naval. Atendendo às necessidades da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que buscava incorporar aeronaves equipadas com trem de pouso retrátil, Leroy Grumman desenvolveu e patenteou, em 1932 (Registro nº 1.859.624), o inovador “Sistema de Trem de Pouso Retrátil para Aviões”. Essa tecnologia foi integrada ao seu primeiro projeto de aeronave de combate naval, o Grumman FF-1, financiado com recursos próprios da companhia. Após o voo bem sucedido do protótipo, as características inovadoras do modelo, especialmente o trem de pouso retrátil, atraíram a atenção das autoridades navais norte-americanas, resultando na assinatura do primeiro contrato de produção significativo da empresa. Esse marco foi seguido por outros contratos de grande porte, consolidando a Grumman Aircraft Engineering Corporation como principal fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) nas cinco décadas subsequentes. Além disso, Leroy Randle "Roy" Grumman foi responsável pela concepção e desenvolvimento do sistema “Sto-Wing”, uma solução revolucionária de desdobramento de asas que otimizou o armazenamento e o envolvimento de aeronaves em porta-aviões. Esse mecanismo foi implementado pela primeira vez na caça Grumman F4F Wildcat, reforçando o legado de inovação da empresa no campo da aviação naval.
Apesar de manter uma relação estreita com o comando da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), a Grumman Aircraft Engineering Corporation, em meados da década de 1930, decidiu direcionar parte de seus esforços para o mercado civil de aeronaves de transporte, motivada por uma tendência de melhoria no cenário econômico nacional. Nesse contexto, a empresa passou a desenvolver projetos inovadores ao setor comercial, especializando-se novamente nos segmentos de aviões anfíbios de pequeno porte, utilizando como base projetos militares previamente concebidos. Nesse mesmo período, a Grumman Aircraft foi procurada por um grupo de empresários influentes norte-americanos residentes em Long Island, entre os quais se destacou o magnata E. Roland Harriman. Esses clientes exigiram o desenvolvimento de uma comissão executiva anfíbia com alcance e autonomia suficientes para conectar Long Island à cidade de Nova York. Atendendo a esses requisitos e vislumbrando um mercado promissor, Leroy R. Grumman e sua equipe iniciaram o projeto que resultaria no Grumman G-21 Goose, um avião anfíbio de luxo voltado ao transporte executivo. O protótipo do Grumman G-21 Goose realizou seu primeiro voo em 29 de maio de 1937. A aeronave apresentava uma configuração monoplana de asa alta, com construção predominantemente metálica, exceto pela metade traseira da asa principal, superfícies de controle e abas, que eram revestidas de tecido. Equipado com dois motores radiais Pratt & Whitney R-985 Wasp Junior, de nove cilindros e 450 cavalos de potência (340 kW), montados nas bordas de ataque das asas, o modelo contava ainda com uma fuselagem profunda que funcionava como casco naval e dispunha de um trem de pouso retrátil acionado manualmente. Após seu lançamento no mercado norte-americano, o Grumman G-21 Goose alcançou rápido sucesso comercial, impulsionado por sua concepção inovadora e por uma campanha de marketing que o posicionou como um “iate voador” voltado para um público exigente. As versões iniciais de produção tinham capacidade para dois a três passageiros e incluíam comodidades como um bar e um pequeno banheiro, sendo adquiridas principalmente por corporações e milionários de Manhattan. Paralelamente, algumas aeronaves desta família foram adquiridas por empresas de táxi aéreo. Nessas versões, seu interior foi configurado de maneira mais simples e funcional, simplificando os custos de aquisição e ampliando o acesso ao modelo por companhias do setor. Essa adaptação contribuiu significativamente para a popularização do Grumman G-21 Goose no mercado norte-americano.

O sucesso comercial da Grumman G-21 Goose chamou a atenção do setor militar, levando o comando da Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) a consultar a Grumman Aircraft Engineering Corporation sobre uma possível versão militarizada. Em resposta, a empresa apresentou a proposta do Grumman G-21B Goose, cuja principal distinção era a capacidade de incorporar uma artilharia Browning calibre .30, montada em uma bolha traseira, e de transportar até duas bombas de 45 kg. O protótipo dessa versão foi avaliado entre abril e maio de 1938, resultando na assinatura de um contrato para a aquisição de trinta unidades. Posteriormente, a Grumman Aircraft conquistou a sua primeira venda de exportação, fornecendo duas aeronaves para a Aviação Naval Portuguesa. Um segundo contrato internacional foi firmado com a Força Aérea Real Canadense (Royal Canadian Air Force), contemplando a entrega de vinte unidades. O desempenho notável do Grumman G-21B junto à Guarda Costeira incentivou o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a contratar, no início de 1939, a produção de dez aeronaves para missões de transporte e ligação, designadas como OA-9. Após 1941, mais unidades sessenta da variante Grumman OA-13A foram incorporadas ao serviço. Buscando atender à crescente demanda no mercado militar, a Grumman Aircraft deu início, em 1939, a estudos para o desenvolvimento de uma versão simplificada, de menor porte e custo reduzido, que pudesse ser produzida em larga escala com agilidade. Esse esforço culminou no Grumman G-44 Widgeon, cujo protótipo foi realizado seu primeiro voo em 22 de julho de 1940. Equipado com dois motores na linha Ranger L-4405, cada um com 200 cv, o modelo apresentava custos de aquisição e operação significativamente inferiores aos dos motores radiais Pratt & Whitney R-985 Wasp do G-21 Goose. O G-44 Widgeon poderia ser armado com uma artilharia Browning calibre .30 e disparado de cabines subalares para até duas bombas ou cargas de profundidade de 50 kg. Embora ofereça potência e desempenho inferiores ao G-21B Goose, o baixo custo do Grumman Widgeon permitiu a ampliação do número de aeronaves em serviço, aumentando a cobertura de áreas de patrulha marítima e liberando modelos de maior capacidade para operações em alto-mar. Mais uma vez, a Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) tornou-se a primeira instituição militar a adotar o modelo, encomendando vinte e cinco unidades da versão Grumman J4F-1, destinadas a missões de patrulha, guerra antissubmarino (ASW) e busca e salvamento (SAR).
Estas aeronaves começariam a ser entregues em meados do ano de 1941, e com o aumento do tráfego de submarinos alemães e italianos próximos a costa dos Estados Unidos, começariam a ser extensamente empregados em missões de patrulha. Em  01 de agosto de 1942, um J4F-1 pertencente ao Esquadrão de Patrulha da Guarda Costeira 212, baseado em Houma, Louisiana , avistou e atacou um submarino U-166 alemão na costa do estado, seu comandante Henry White, relatou o afundamento do inimigo, sendo condecorado com a medalha Distinguished Flying Cross. Dentro do esforço de patrulha litorânea, pelo menos dez aeronaves do modelo J4F-1 seriam operadas pelo Patrulha Aérea Civil (Civil Air Patrol CAP), um esforço empreendido para suporte as operações militares durante a Segunda Guerra Mundial, com pilotos da reserva, atuando em missões patrulha antissubmarino e guerra, patrulhas de fronteira e serviços de correio. Dentre inúmeras surtidas, destaca-se uma realizada no dia 11 de julho de 1942, quando um Grumman G-44 Widgeon, armado com duas cargas de profundidade e tripulado pelo Capitão Johnny Haggins e pelo Major Wynant Farr, avistaram e atacaram um submarino alemão, resultando em seu afundamento. Neste mesmo período a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), passaria a operar a aeronaves, com sua variante recebendo a designação de Grumman J4F-2, se distinguindo visualmente do modelo anterior, por não apresentar uma escotilha de observação na seção dianteira da fuselagem. O modelo seria fornecido nos termos do programa Leand & Lease Act  & Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), para nações aliadas, com destaque para a Marinha Real Britânica (Royal Navy), onde receberiam o codinome de Gosling, sendo empregados em missões de patrulha e busca e salvamento durante ao conflito. Após o término da Segunda Guerra Mundial, seu fabricante desenvolveria uma nova versão para o mercado civil , que passaria a apresentar um novo desenho de casco e melhores acomodações para os passageiros. Seriam produzidas setenta e seis aeronaves deste modelo, com a última sendo entregue em 13 de janeiro de 1949. Outras quarenta e três células seriam produzidas sob licença na França pela empresa Societe Aero Navale. As aeronaves militares norte-americanas remanescentes seriam retiradas do serviço ativo no final da década de 1940, sendo transferidas a nações amigas como Cuba, Israel, Portugal, Uruguai, Nova Zelândia e Noruega. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Esta ameaça começaria a ser combatida pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) com o estabelecimento de bases de operação no litoral brasileiro, de onde seus esquadrões de patrulha começariam a operar.

Nesse período, realizaram os primeiros confrontos contra submarinos alemães e italianos, envolvendo não apenas forças norte-americanas, mas equipes da Força Aérea Brasileira (FAB), que iniciaram suas primeiras missões desse tipo. Nesse contexto, surgiu a necessidade de empregar aeronaves anfíbias em operações de busca e salvamento, voltadas ao resgate de pilotos abatidos ou náufragos, resultando em naufrágios causados ​​por submarinos inimigos. No entanto, as poucas aeronaves anfíbias disponíveis no inventário da recém-criada arma aérea nacional, provenientes das décadas de 1920 e 1930, eram consideradas obsoletas e convenientes para operações em alto-mar. Embora a Força Aérea Brasileira (FAB) tenha recebido recentemente aeronaves Consolidated PBY-5 e PBY-5A Catalina, estas foram priorizadas para missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW) operando em missões de escolta de comboios. Diante disso, o Ministério da Aeronáutica (MAer) solicita ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) a cessão de aeronaves específicas para busca e salvamento. Em resposta, foi autorizada a transferência imediata nos termos do programa Lend-Lease Act,  de quatorze células novas do modelo Grumman J4F-2 Widgeon, originalmente destinadas à Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Essas aeronaves foram transladas ao Brasil em voo a partir do segundo semestre de 1942, em pares, por tripulações norte-americanas. As duas últimas aeronaves chegaram à Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1943. Na Força Aérea Brasileira (FAB), o modelo foi inicialmente designado como Grumman UCF-4F2 Widgeon, recebeu matrículas de FAB 2001 a FAB 2014, com marcações visuais na cauda e no nariz registrar os registros "FAB 1" a "FAB 14". Concentradas na Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro, estas aeronaves foram objeto de um programa de treinamento e conversão ministradas por instrutores norte-americanos para militares da 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2ª EAM), uma unidade derivada da antiga estrutura da Aviação Naval da Marinha do Brasil. Posteriormente, essa esquadrilha foi reorganizada, transformando-se no 2º Grupo da Unidade Volante, que passou a operar quatro Grumman J4F-2 Widgeon. As demais unidades foram distribuídas entre as Bases Aéreas de Belém, Florianópolis e Santa Cruz, bem como a Seção de Aviões de Comando, também localizada no Rio de Janeiro.
As quatorze aeronaves Grumman J4F-2 Widgeon foram recebidas pela Força Aérea Brasileira (FAB) devidamente preparadas para o uso de pequenas bombas e cargas de profundidade em suas cabines subalares. Embora esses armamentos estivessem disponíveis nos pais da Força Aérea Brasileira (FAB) à época, poucas missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW) foram realizadas com essas aeronaves, independentemente de serem armadas ou não. Durante o conflito, os registros oficiais indicam que o principal emprego dessas unidades ocorreu em missões de busca, salvamento, transporte e ligação. Ao longo de sua trajetória na Força Aérea Brasileira (FAB), o modelo obteve uma confiança negativa entre os pilotos, devido ao elevado número de incidentes e acidentes graves registrados. O primeiro evento desse tipo foi documentado em maio de 1945, quando uma aeronave de destaque da Base Aérea de Belém (BABE) realizou um pouso na pista principal sem que o piloto acionasse o trem de pouso, resultando em danos irreparáveis. A célula foi posteriormente declarada como perda total. Em novembro do mesmo ano, outra aeronave foi perdida em um acidente nas proximidades de Vigia de Nazaré, no estado do Pará. Os relatórios oficiais atribuíram o alto índice de sinistros às características de voo do Grumman UCF-4F2 Widgeon, especialmente seu elevado perfil de arfagem durante a corrida de amerissagem. Esse comportamento tornou-se uma operação particularmente arriscada nas mãos de pilotos inexperientes, fato evidenciado pelo maior número de incidentes registrados nessa fase do voo. Até o final da década de 1940, uma frota de quatro aeronaves sofreu sete perdas totais, todas decorrentes de acidentes operacionais. Esse cenário adverso levou à decisão de concentrar as aeronaves remanescentes em uma única localidade, com o objetivo de melhorar sua efetividade operacional e mitigar os riscos associados ao seu uso disperso. O último trimestre do ano de 1947 assistiria a algumas mudanças quanto à disposição dos Grumman J4-F2 Widegon na Força Aérea Brasileira, com as células remanescentes concentradas na Base Aérea do Galeão (BAGL), sendo transferidas para o recém-criado 1º Grupo de Transporte (1ºGT) baseado no Campo dos Afonsos. Porém posteriormente decidir-se-ia que maior parte destas células fossem alocadas junto a  Base Aérea de Belém (BABE) no estado do Pará, onde teriam por missão básica reforçar a esquadrilha de treinamento daquela organização.  Neste contexto seriam empregadas para aprimorar e ampliar o programa de treinamento para os futuros tripulantes dos Consolidated CA-10 Catalina, que passavam a ser mais intensamente utilizados no atendimento as demandas das linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN) na região amazônica. Quando não  estavam sendo empregados neste processo de treinamento,  os Grumman J4F2 Widegon eram destacados para a realização de missões de ligação entre as unidades aéreas da regiao, atuando também secundariamente no atendimento de pequenas linhas de correio aéreo na bacia do rio Amazonas.
Em agosto de 1951, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) emitiu uma instrução oficial classificando o modelo Grumman J4F-2 Widgeon como totalmente obsoleto e recomendando sua desativação em curto prazo. Tal decisão não se mostrou inesperada, uma vez que, à época da publicação, a frota desse modelo havia sido reduzida a apenas três células em condições de voo. Em abril de 1952, um acidente durante um pouso realizado em uma amerissagem forçada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A aeronave submergiu, tornando seu resgate inviável. Pouco tempo depois, outro incidente grave foi registrado nas proximidades do Aeroclube de Bauru, no interior de São Paulo, culminando na perda total de uma célula pertencente à Esquadrilha de Adestramento da Base Aérea de Santa Cruz (BASC). A última aeronave em condições operacionais permaneceu em uso regular até meados de 1958, quando foi considerada economicamente inviável para operação. Nesse momento, foi recolhida ao Parque de Material de Aeronáutica dos Afonsos (PAMA AF), no Rio de Janeiro, onde aguardou uma decisão sobre o seu destino. Posteriormente, um boletim da Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA) oficializou sua desativação, e a aeronave foi alienada para venda. Um operador civil adquiriu esse Grumman J4F-2 Widgeon para utilização como táxi aéreo, registrando-o com matrícula civil. Contudo, seu uso foi breve, pois estes registro de voo logo foi suspenso pela Diretoria de Aviação Civil (DAC) devido ao descumprimento de critérios documentais. Proibida de voar, a aeronave foi abandonada por seu proprietário no Aeroporto Campo de Marte, em São Paulo. Em 1976, após a conclusão de um processo jurídico, a célula foi reintegrada ao patrimônio da Força Aérea Brasileira (FAB). No ano seguinte, em 1977, uma diretiva foi emitida com o objetivo de preservar essa aeronave. Ela foi desmontada pela equipe do Parque de Manutenção Aeronáutica de São Paulo (PAMA SP) e transportada por via terrestre até a Base Aérea dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Incorporada ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), a tripulação passou por um minucioso processo de restauração e foi colocada em exposição, sendo restaurada com o padrão de pintura original de sua entrega à Força Aérea Brasileira (FAB). Passou a ostentar a matrícula "FAB 14", representando o período em que serviu à 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2ª EAM).

Em Escala.
Para a representação do Grumman J4F-2 Widgeon, registrado como “FAB 14”, foi selecionado o kit descontinuado da Classic Airframes na escala 1/48, reconhecido por seu elevado nível de detalhamento e pela inclusão de diversas peças em resina. Não são necessárias modificações para retratar a versão utilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo a montagem direta do modelo conforme fornecido na caixa. Dada a ausência de um conjunto de decalques específicos para essa composição, foram usados ​​​​decais variados provenientes de conjuntos da FCM Decals, complementados pelos decalques exclusivos incluídos no kit.
O esquema de núcleos está em conformidade com o padrão Federal Standard (FS), descrito a seguir, corresponde ao padrão tático naval adotado pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para aeronaves anfíbias durante a Segunda Guerra Mundial, com a adição exclusiva das marcas da Força Aérea Brasileira (FAB). Esse padrão foi interrompido após realização da primeira revisão geral das células, momento em que as aeronaves passaram a ser pintadas integralmente em cor de metal natural, com o leme nas cores verde e amarelo e as marcações nacionais aplicadas.


Bibliografia :

- Grumman G-44 Widegon - Wikipedia -  http://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_G-44_Widgeon
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916/ 2016 – Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto

Fleet Aircraft PT-26 Cornell

História e Desenvolvimento.
A Fairchild Aviation Corporation, uma das mais representativas fabricantes aeronáuticas da História, seria fundada em 1924 pelo empreendedor Sherman Fairchild, (que ao longo de sua vida seria responsável pela abertura de setenta empresas), se estabelecendo inicialmente nas cidades de Farmingdale, e East Farmingdale em Nova York. Esta organização seria designada como a empresa-mãe dos muitos interesses da companhia no segmento aeronáutico ao longo dos anos vindouros. A companhia desenvolveria e construiria a primeira aeronave norte-americana a incluir uma cabine de pilotagem (cockpit) totalmente fechada e sistema de trem de pouso hidráulico, o modelo Fairchild FC-1. Dando sequência a este processo de crescimento, outras empresas seriam adquiridas ou incorporadas a este grupo econômico, como a  Caminez Engine Company em 1925,  e em 1929 a Kreider-Reisner Aircraft Company de Hagerstown, baseada em Maryland. Atendendo a seu planejamento de expansão, em 1920 seria fundada sua primeira planta fora dos Estados Unidos, nascendo sua subsidiária canadense, a Fairchild Aircraft Ltd. instalada na  cidade de  Longueuil em Quebec, estas instalações seriam responsáveis pela produção de um grande número de aeronaves civis e militares até o início da década de 1950.  Além do modelo Fairchild FC-1 a empresa seria notabilizada após o lançamento do modelo Fairchild 71, que fora projetado especificadamente para o emprego em missões de fotografia aérea, superando assim as limitações dos modelos em uso, que eram incapazes de voar de maneira constante a uma altitude suficiente para o efetivo emprego nesta tarefa. Esta aeronave apresentava excelentes características de desempenho e capacidade de transporte, o que levaria a  se tornar um dos aviões mais populares da época, se notabilizando ainda por integrar a estrutura de aeronaves do contingente do famoso explorador Richard E. Byrd, em sua expedição  ao Polo Sul entre os anos de 1928 e 1929. Seu primeiro contrato governamental seria firmado em 1935, quando a empresa seria selecionada pelo ministério da agricultura dos Estado Unidos para o desenvolvimento de pesquisas baseadas em fotografias aéreas para rastrear e mapear a erosão do solo e seus efeitos. Neste mesmo período a empresa passaria a ser conhecida também como Fairchild Aircraft Manufacturing Company. 

Apesar de deter boa participação no mercado civil norte-americano principalmente no segmento de aeronaves de treinamento básico, sua participação no meio militar ainda era inexpressiva, se limitando apenas ao fornecimento de componentes básicos para outro fabricantes que produziam aeronaves militares para a marinha e o exército. Neste contexto a oportunidade perfeita se materializaria em fins da década de 1930,  com a efervescência do crescimento da importância arma aérea junto as forças armadas norte-americanas. Neste período o treinamento básico dos futuros pilotos do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), era praticamente realizado fazendo uso somente dos biplanos Boeing PT-17 Stearman.  Aeronave esta que apesar de apresentar uma configuração antiquada, oferecia comandos dóceis e facilidade de pilotagem, não forçando assim os cadetes a desenvolver suas melhores habilidades em voo, o que futuramente lhes seriam exigidas quando da operação de modernas aeronaves de combate de grande desempenho.  Com a finalidade de sanar esta preocupante deficiência, em 1939 o comando da aviação Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), decidiria pela substituição dos seus já obsoletos biplanos de treinamento básico. Uma concorrência seria aberta em fins deste mesmo ano, prevendo o desenvolvimento de um monomotor monoplano de asa baixa, que deveria apresentar aos futuros pilotos, diversos níveis de aprendizagem, que permitissem assim forjar suas melhores habilidades de pilotagem. Obrigatoriamente a nova aeronave deveria ainda possuir obrigatoriamente baixos custos de manutenção e operação. Oito empresas de construção aeronáuticas norte-americanas responderiam a este chamando, apresentando dezoito propostas de modelos de aeronaves de treinamento, entre estes concorrentes, estava a Fairchild Aircraft Manufacturing Company, com seu modelo M-62. Esta aeronave fora desenvolvida com recursos próprios da companhia, com seus estudos preliminares sendo iniciados no ano de 1933, capitaneados pelo engenheiro chefe Armand Thiebolt, entre uma das primícias básicas estava o emprego de componentes mecânicos intercambiáveis já existentes no mercado e materiais não estratégicos. Seu primeiro protótipo já havia alçado voo em  15 de maio de 1939, propulsado por um motor Motor Fairchild Ranger L-440 com 175 cv de potência, a partir das instalações da empresa em Hagerstown, Maryland. 
Todos estes concorrentes seriam submetidos a um extensivo programa de avaliação comparativos e ensaios em voo, com a decisão final pendendo para a escolha do modelo M-62 da Fairchild Aircraft Manufacturing Company. Esta nova aeronave de dois lugares apresentava disposição dos assentos em tandem, com cockpit aberto, apresentando a moderna configuração monoplano de asa baixa cantiléver, com trem de pouso fixo e design do volante de cauda. Seu projeto de construção simples, porém robusta, incluía uma fuselagem composta por tubos de aço soldado coberto de tecido, com as demais aéreas da aeronave fazendo uso de compensados em madeira, com uma seção central revestida de compensado, painéis de asa externos e montagem da cauda. O emprego do motor em linha invertido Ranger L-440-3 de 175 HP, permitiria uma área frontal estreita, proporcionando ao aluno e instrutor uma excelente visibilidade, enquanto seu trem de pouso fixo e amplamente separado permitia um manuseio em solo sólido e estável facilitando o processo de treinamento em solo. Em 22 de setembro de 1939, seria celebrado o primeiro contrato entre a Fairchild Aircraft Manufacturing Company e o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) prevendo a compra de duzentas e setenta aeronaves. Devido ao alto emprego de madeira na estrutura da aeronave, este acordo envolvia a subcontratação de vinte e sete empresas ligadas a este tipo de manufatura como fábricas e lojas de móveis e uma fundição para os componentes metálicos. As primeiras células começariam a ser entregues a escola de aviação militar do Exército dos Estados Unidos (US Army) a partir de meados de 1940, onde receberia a designação milita de PT-19. Rapidamente o modelo conquistaria a simpatia de instrutores e alunos das organizações responsáveis pela formação dos novos pilotos, levando assim a intenção pela formalização de encomendas de mais aeronaves. No entanto o intensificar do conflito na Europa, e as ameaças do expansionismo japonês no sudeste asiático, urgenciando acelerar os processos de fortalecimento das forças armadas norte-americanas. Neste cenário o poder aéreo seria fundamental, o que aumentaria a necessidade de formação de mais pilotos militares, o que levaria em janeiro de 1941, a celebração de um contrato emergencial prevendo a produção de mais de três mil aeronaves na versão PT-19A, agora equipadas com o novo motor Ranger L-440-3 de 200 hp de potência. 

A capacidade industrial instalada da Fairchild Aircraft Manufacturing Company, não estava apta para o atendimento pleno do cronograma de entregas previsto, sendo decidido então licenciar a produção da aeronave para as empresas Howard Aircraft Corporation, St. Louis Aircraft Corporation, Aeronca Aircraft e pôr fim a empresa canadense Fleet Aircraft. A necessidade de se treinar os pilotos para voo por instrumentos, levaria a conversão de seis aeronaves na linha de produção incorporando uma cobertura do tipo capota, de lona, que podia ser puxada sobre a cabine da frente permitindo que o cadete realizasse o voo completamente às cegas e somente por instrumentos. Essa nova versão passaria a ser denominada PT-19B e seu desempenho satisfatório levaria a sua produção em série, junto Fairchild Aircraft Manufacturing Company e a Aeronca Aircraft, totalizando novecentas células. Quando a curva de produção das células superou a produção dos motores, a equipe de projeto da empresa desenvolveria a versão PT-23, que passava a ser equipada com um motor radial Continental R-670 de 220 hp. Ao todo seriam produzidos oitocentos e sessenta e nove PT-23 e duzentos e cinquenta do PT-23A (versão para treinamento por instrumentos), pelas linhas de montagem de todas as companhias originalmente envolvidas no programa de construção da família de aeronaves PT-19. Durante o ano de 1943, o Comando de Treinamento da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) receberia uma série de reclamações sobre problemas de durabilidade com as asas de compensado do PT-19 e do PT-23 quando expostos ao alto calor ou umidade das bases de treinamento localizadas no Texas e na Flórida. Como solução paliativa seriam substituídas as seções da asa de madeira após apenas dois a três meses de serviço ativo por causa da podridão da madeira e problemas de separação de camadas.   Neste mesmo período evoluiriam negociações junto ao governo canadense para a produção de uma versão customizada para o atendimento das demandas do Plano de Treinamento Aéreo da Comunidade Britânica (Commonwealth Air Training). Este programa de vital importância, visava formar e treinar milhares de pilotos que seriam essenciais nas futuras batalhas no continente europeu, a escolha por basear este processo no Canadá se dava pelo distanciamento do front de batalha e de riscos inerentes a uma zona de conflagração. 
No entanto as extremas condições climáticas do país poderiam impactar diretamente no processo de instrução a ser realizado junto ao  Fairchild PT-19, pelo fato da aeronave apresentar a cabine aberta, expondo o instrutor e aluno ao frio intenso. Como solução seria desenvolvida uma versão com cabine de pilotagem (cockpit) totalmente fechada, que tinha por finalidade proporcionar mais conforto para os tripulantes. A versão receberia de designação de PT-26 M-62A Cornell I e estava equipado com o motor em linha Ranger L-440-3 de 200 hp. Seu primeiro protótipo alçaria voo em julho de 1942, sendo logo liberado para produção em série sob licença nas instalações da Fleet Aircraft Limited, totalizando seiscentas e setenta células. Em seguida entraria em produção o PT-26A Cornell II, que passava a fazer uso do motor  Ranger L-440-7 de 200 hp, resultando em oitocentas e sete células entregues ao Plano de Treinamento Aéreo da Comunidade Britânica (Commonwealth Air Training). Por fim em 1943 seria introduzido o PT-26B Cornell III, que dispunha de pequenas melhorias em relação ao modelo anterior, sendo entregues duzentos e cinquenta aeronaves a  Força Aérea Real do Canadá (RCAF). Estas aeronaves se manteriam em serviço até meados da década seguinte, quando foram desativados e repassados para o emprego civil em escola de pilotagem e aeroclubes regionais. Comparado aos antigos treinadores biplanos anteriores, o Fairchild PT-19 e PT-26 podem ser considerados um divisor de águas, pois pela primeira vez no estágio de treinamento básico os cadetes tinham acesso a uma aeronave de bom desempenho em altas velocidades e o carregamento das asas aproximava-se mais do das aeronaves de combate, com as características de voo exigindo mais precisão e cuidado, resultando assim na formação das habilidades e melhor rendimento dos alunos.  A exemplo dos demais modelos da família, centenas de células dos Fairchild PT-26 Cornell se manteriam em voo pelo menos até o início da década de 1960, com muitos deles ainda mantidos em condições de voos por museus ou entusiastas ao redor do mundo.   

Emprego na Marinha do Brasil
No dia  12 de dezembro de 1956, o Governo Federal Brasileiro em conjunto com Ministério da Marinha, após uma série de negociações,   procederia formalmente a aquisição de um porta-aviões leve britânico classe Colossus, o HMS R-71 Vengeance. Este navio aeródromo com um deslocamento padrão de 19.900 toneladas era um veterano da Segunda Guerra Mundial, tendo atuado nos teatros de operações do Mediterrâneo e do Pacífico. Após o término do conflito, este navio seria arrendado à Marinha Real Australiana (Royal Australian Navy), pelo período compreendido entre o dia 13 de novembro de 1952 a 13 de agosto de 1955, sendo assim devolvido ao governo britânico e colocado à disposição para venda. Após sua aquisição pelo governo brasileiro, este porta aviões seria encaminhado em meados do ano de 1957, aos estaleiros da empresa holandesa Verolme United Shipyard, na cidade de Rotterdam, a fim de ser submetido a um extenso programa de modernização e atualização. Este navio, emergiria deste processo em dezembro de 1960, ostentando a adição de convés de voo em ângulo a 8,5°, catapulta e sistema de parada modernizados, novos elevadores, nova ilha, sistemas de operação e eletrônica e atualização de sistema defensivo. Neste contexto ainda não havia estudos reais sobre as opções de aeronaves de asas fixas e rotativas a serem adquiridas pela Aviação Naval, ou mesmo pela Força Aérea Brasileira (em função da prerrogativa da exclusividade de operação de aeronaves de asa fixas), para assim se compor o grupo aéreo do novo porta aviões brasileiro. Apesar disto,  a aquisição de um navio aeródromo reacenderia no Ministério da Marinha a intenção em recuperar sua Aviação Naval, criada originalmente em 23 de agosto de 1916 com o estabelecimento da Escola de Aviação Naval (EAvN), com suas instalações localizadas na Ilha do Rijo (na Baía de Guanabara). Assim mesmo antes do apagar das luzes do ano de 1959, o comando do Ministério da Marinha passaria a elucidar estudos e esforços visando criar um planejamento e bases plausíveis para a efetiva reativação de sua Aviação Naval, não só focando esforços no segmento de aeronaves de asas rotativas, como também na área de asas fixas.

Este ambicioso programa abordava não só a estruturação de sua organização, mas também as demandas relacionadas a composição de pessoal, treinamento formação, infraestrutura, equipamentos e aeronaves. Umas das prioridades dispostas neste documento, citava a necessidade de se dispor de um esquadrão de instrução dotado somente de aeronaves de asas fixas para promover sua independência neste importante processo.  Tal tarefa seria, no entanto, dificultada, pelas circunstâncias em que se deu o ressurgimento da Aviação Naval, pois em tese neste momento, sua existência feria o Decreto-lei de 20 de janeiro de 1941 que ao criar o Ministério da Aeronáutica (MAer), concedia a Força Aérea Brasileira a exclusividade na operação de aeronaves de asas fixas no pais. Este embate fez com que a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DaerM), passasse a descartar os fornecedores internacionais tradicionais de aeronaves evitando assim potencializar esta célula, passando a procurar soluções em fontes alternativas, buscando assim compras de oportunidade.  Estes esforços se dariam em duas frentes, uma no mercado internacional buscando aeronaves usadas genuinamente militares, e outra no próprio Brasil, visando adquirir aeronaves de treinamento básico a serem negociadas com operadores particulares, principalmente com usuários do Aeroclube do Brasil, na época sediado no Campo de Manguinhos no Rio de Janeiro (RJ). Nesta segunda frente de trabalhos os primeiros resultados seriam obtidos ainda no ano de 1961 com a aquisição de aeronaves dos modelos Taylorcraft BC-12D e CAP-4 Paulistinha. Estas aeronaves seriam destacadas para operar junto ao  Destacamento Especial de Aeronaves do CIAAN (Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval), porém não em missões de treinamento de pilotos, mas sim no adestramento do Curso de Observador Aéreo Naval (COAN), e também em tarefas adestramento do pessoal, de ligação e transporte em proveito do pessoal da Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA). 
A busca por aeronaves de treinamento básico para a Aviação Naval da Marinha do Brasil persistiria, resultando em meados do ano de 1962 na aquisição de uma célula do modelo Fleet PT-26 M-62A Cornell I, que segundo relatos seria negociada junto a um particular no próprio Aeroclube do Brasil. Esta aeronave após ser recebida seria imediatamente entregue ao Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), para ser integrado ao acervo do Destacamento Especial de Aeronaves. Apesar de pertencer ao modelo inicial de produção, esta aeronave estava equipada com o sistema de radio empregado nas versões mais recentes desta aeronave. Neste momento está célula seria submetida a uma revisão básica, na qual receberia o segundo padrão de pintura a ser adotado pela Aviação Naval, bem como sua matrícula de "N708 - FV 607". Ao ser colocado inicialmente em operação começaria a apresentar anomalias em seu grupo propulsor, sendo suscetível a panes de pequena monta, desta maneira a célula seria submetida a uma completa revisão junto  a Oficina Geral da Aviação Naval (OGAvN). Neste momento em novembro de 1962,  seria emitido um relatório que dava conta de que o motor  Fairchild Ranger L-44 - 175 cv de seis cilindros em linha invertidos refrigerados a ar, daquela aeronave encontrava-se avariado, o que não tornava possível seu voo por tempo indeterminado. Este preocupante cenário retiraria de imediato o modelo do processo de instrução e formação de pilotos, tendo em vista que a segurança em voo era um dos parâmetros básicos e inegociáveis da doutrina do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). Esforços seriam realizados junto ao mercado civil na tentativa de obtenção de componentes críticos para a substituição em seu motor, porém este em muito diferia da grande maioria dos motores ainda em uso no Brasil, salientado que nesta época a frota de aeronaves civis em condições de voo dos modelos Fairchild M-62 PT-19A/B e PT-3FG que antes pertenceram a Força Aérea Brasileira já operava nos aeroclubes com grandes índices de indisponibilidade.  
Assim com base neste status, não existem indicações oficiais de que esse avião tenha registrado algum voo no transcorrer do ano de 1963, mas, em outubro de 1964, o  Fleet Aircraft PT-26 M-62A Cornell I, já figurava como parte do acervo do Destacamento de Aeronaves para Serviços Auxiliares da  Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA), onde deveria ser empregado em tarefas administrativas e de ligação. Porém naquele mesmo mês, um relatório do Estado-Maior da Armada informava que esta aeronave pertencia ao 1º Esquadrão de Aviões de Instrução do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). Novamente não existem registros oficiais sobre a realização de voos durante o final de 1964 e o inicio do ano seguinte. Paralelamente a estes evento, a  crise institucional criada pela disputa entre os Ministérios da Aeronáutica e Marinha, pelo direito a operação de aeronaves de asas fixas se agravava dia a dia, com a solução sendo auferida em 26 janeiro de 1965,  mediante promulgação do decreto presidencial Nº 55.627, que que efetivamente extinguia a aviação naval de asas fixas da Marinha do Brasil. Em consequência dos artigos apresentados naquele instrumento,  seria definido que toda estrutura material e de pessoal deveriam ser incorporadas a Força Aérea Brasileira. Assim semanas mais tarde esta célula seria entregue a seus representantes, e as avaliações iniciais apontavam como uma aeronave obsoleta não sendo recomendada sua recuperação e operação, principalmente pelo seu modelo semelhante o  Fairchild M-62 PT-19A/B e PT-3FG, ter sido retirado do processo de instrução da Escola de Aeronáutica (EAer). Desta maneira esta aeronave não receberia nem a matricula da Força Aérea Brasileira, sendo repassado diretamente ao Departamento de Aviação Civil (DAC) a fim de ser doado para qualquer aeroclube que se habilitasse. No entanto não existem registros oficiais, e acredita-se que esta célula tenha sido logo em seguida sucateada, encerrando assim sua efêmera carreira militar no Brasil.

Em Escala. 
Para representarmos o Fleet PT-26 M-62A Cornell I, "N708" pertencente ao Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), fizemos uso do excelente kit em resina na escala 1/48 do fabricante Planet Models. Modelo este que apresenta facilidade de montagem e opções de detalhamentos interessantes. Como modificação incluímos apenas o radome da antena de rádio.  Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals, presentes em diversos sets deste fabricante. 

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura adotado pela Aviação Naval da Marinha Brasileira em suas aeronaves de asas fixas e asas rotativas a partir de fins da década de 1950. Este esquema seria mantido até a transferência da célula para a Força Aérea Brasileira no início do ano de 1965. 




Bibliografia : 

História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha- http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html 
-  Aeronaves Militares Brasileiras  1916 – 2015 Jackson Flores Jr 

-  Fairchild PT-19 - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Fairchild_PT-19 

- Centenário da Diretoria de Aeronáutica da Marinha  

-  Fairchild PT-19 - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Fairchild_PT-19