M114 155 mm Howitzer no Brasil

História e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1930 o Comando do  Exército Americano (US Army) buscava efetivar um amplo processo de renovação de sua artilharia de campanha, este projeto englobava os principais calibres, e entre estes objetiva-se substituir os ja obsoletos canhões de M1918 de 155 mm, da Primeira Guerra Mundial, que foram fabricados sob licença anteriormente, a partir do modelo francês 155 C Modelo 1917 Schneider. O projeto de uma nova peça de artilharia foi confiado ao arsenal de Rock Island Arsenal, que iniciou os trabalhos de desenvolvimento desta nova arma a partir do segundo semestre de 1939. O primeiro protótipo funcional foi concluído em 15 de maio de 1941, e apresentava um cano alongado de 20 calibres e um novo mecanismo de culatra. Excepcionalmente, este foi o único sistema que empregava um mecanismo de parafuso interrompido por 'cone lento' a entrar no serviço no Exército Americano (US Army) após a década de 1920, isto significava que dois movimentos separados eram necessários para abrir a culatra, contra o movimento único do mecanismo de "cone íngreme" que girava e retirava simultaneamente a culatra. Testes de aceitação foram feitos, definindo assim que o agora oficalmente designado canhão Howtizer M1 155 mm, seria a peça de artilharia padrão do exército, com sua produção em série sendo destinada no início de 1942 as linhas de produção do US Springfield Armory. As primeiras entregas se iniciaram em fins do mesmo ano, passando logo em seguinda  a dotar, os regimentos de artilharia do Exército Americano (US Army). 

A necessidade emergencial em se modernizar a artilharia de campanha do Exército  Norte Americano face ao aumento das tensões na Europa e no Oceano Pacífico, levaram a assinatura de contratos de produção em larga escala no início de 1943. Com a produção em ritmo acelerado Howtizer M1 155 mm, passou a dotar todos os regimentos de artilharia, sendo estes constituídos de um batalhão de artilharia de equipados com os M1 de 155 mm e três batalhões de artilharia equipados com os M2 de 105 mm. Ambos os batalhões de 155 mm e 105 mm possuíam doze canhões cada, divididos em três baterias de quatro canhões. Isso deu a cada regimento um total de doze obuses de 155 mm e trinta e seis obuses de 105 mm, isto evidenciava a importância que os obuses M1 de 155 mm representavam no conjunto total. Entre as melhorais apresentadas sobre os canhões da Primeira Guerra Mundial estava a nova “carreta” que ao longo de sua produção passou a apresentar sensíveis melhorias como a substituição dos freios elétricos originais da Warner pelos freios a ar Westinghouse na versão M1A1. Ambos os vagões de transporte dos modelos, M1 e M1A1, usaram um pedestal de disparo no meio do eixo que foi estendido por um mecanismo de catraca. O novo M1A2 substituiu a catraca por um sistema de macaco e modificou a trava de deslocamento. Já o vagão de transporte do  M1A1E1 foi planejado para uso em terreno lamacento e substituiu as rodas do M1A1 por uma suspensão de esteira livre, mas o projeto foi encerrado após o termino da Segunda Guerra Mundial sem ter atingido a produção contratada.
Os  canhões M1 Howitzer 155 mm possuíam um alcance máximo  limitado a 14.800 m, que o classificaria como médio dentro dos regimentos de artilharia do Exército Americano (US Army), e era guarnecido e operado por 11 soldados e normalmente eram tracionados por tratores sob esteiras como os M4 e M5 High Speed Tractor. Podiam disparar uma variada gama de projeteis a uma velocidade de 564 metros por segundo, usando munição de "carregamento separado" composta de quatro componentes: um projétil, uma carga de propulsor ensacada separada, um fusível e um primer. Os projeteis tinham um peso de 43 kilos , os fusíveis foram colocados na base do projétil depois que um anel usado para transporte era removido, a carga propulsora continha sacos individuais de pó, que podiam ser reduzidos para se ajustar à faixa de fogo. Os projeteis disparados podiam ser desde explosivos como HE M102 Shell e HE M107 Shell, fósforo branco como FS M105 Shell e WP M105 Shell, químicas CNS M110 Shell e H M110 Shell (nunca usadas em função dos tratados internacionais), luminosas do modelo Illuminating M118 Shell e perfurantes como Dummy Mk I Projectile e Dummy M7 Projectile. Seu batismo de fogo junto ocorreu durante a Operação Tocha que foi iniciada em 8 de novembro de 1942, quando os exércitos aliados desembarcaram no norte da África. A partir dai seria empregado em todos os fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. Ao término do conflito em agosto de 1945 cerca de 4.000 unidades do M1 Howitzer 155 mm foram entregues as forças armadas americanas, ao contrário dos demais armamentos e equipamentos estes obuses permaneceram em produção continua até fins de 1953, totalizando mais de 10.300 peças completadas.

O M1 Howitzer 155 mm se fariam presentes também na Guerra da Coreia, quando o Exército do Povo da Coreia do Norte (socialista) invadiu o território do sul em todo o 38º Paralelo na data de 25 de junho de 1950. Neste período o Exercito Americano estava passando por um período de desmobilização e não dispunha dos mesmos efetivos para artilharia de campanha, a exemplo do que possuía no final da Segunda Guerra Mundial. Assim desta maneira somente vinte e um M1 Howitzer 155 mm foram empregados nas primeiras fases do conflito. Apesar de serem reforçados por novas peças de artilharia , muitas destas se perderam em combate, sendo abandonadas perante o avanço das forças inimigas. Mesmo assim este modelo de obuseiro provaria novamente seu valor no campo de batalha. A partir de 1962 o modelo seria renomeado atendendo ao nova padrão de designação do Exército Americano, passando a ser conhecido como M114, época no qual passaram a dotar também os grupos de artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Estados Unidos. Dentro dos esforços de apoio a Coréia do Sul o M114 AR passaria a ser produzido sob licença pela Kia Machine Tool (atualmente Hyundai Wia) fornecendo ao exército daquele país um arsenal de artilharia capaz de rivalizar com seu maior oponente.  O inicio da Guerra do Vietnã traria os M114 e M114AR de novo a ação real, se tornando novamente a peça de artilharia padrão no calibre de 155 ml para ações de médio alcance, sendo fornecidos também ao Vietnã do Sul. Com o termino deste conflito em 1975 os M114 capturados pelas forças do exército da República Socialista do Vietnã passar a integrar esta força se mantendo em uso até a década de 1980.
Além das versões tradicionais ocorreram experimentos com versões autopropulsadas, com somente uma variante produzida em série o M41 Howitzer Motor, que empregava como base o chassi do carro de combate M24 Chaffe, sendo empregado na Guerra da Coreia, sendo substituídos pelo M44 Howitzer após o termino deste conflito. Nas forças armadas americanas os M114 começariam a ser substituídos a partir de 1979 pelo novo M198 Howitzer 155mm, as unidades remanescentes se mantiveram em uso em unidades da Guarda Nacional até meados da década de 1980, quando foram retirados de serviço. A retirada de serviço do M114 junto ao Exército Americano, proporcionou um volume excedente que passou a ser fornecida a diversas há pelo menos 46 países ao longo das décadas de 1970 e 1980 e atualmente o modelo ainda se encontra em uso no Afeganistão, Argentina, Tunísia, Brasil, Camarões, Chipre, Chile, Equador, Irã, Coreia do Sul, Laos, Líbano, Marrocos, Paquistão, Peru, Filipinas, Portugal, Taiwan, Tailândia, Turquia, Uruguai, Venezuela, Vietnã e Indonésia, e existem indícios que muitos países ainda devem manter este obuseiro em uso pelas próximas décadas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o pais ainda era signatárias da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. Este processo de reequipamento teria início em meados de 1941 após a adesão do governo brasileiro do presidente Getúlio Vargas ao programa norte americano denominado Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Os termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamento seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália. Entre estes equipamentos estavam os primeiros canhões modernos a serem recebidos em grande número variando de calibres de 37 mm a 305 mm, representando um grande avanço para a artilharia do Exército Brasileiro.

Dentre o equipamento destinado a compor o regimento de artilharia da Força Expedicionária Brasileira estavam 18 canhões M1 Howitzer 155 mm que seriam entregues no front italiano para o emprego do Exército Brasileiro pela Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira, sendo composta por quatro batalhões de obuseiros (Grupos de Obuses), sendo três deles com 12 obuseiros M2 105mm cada, e um Batalhão de Artilharia  (IV) com 12 obuseiros M1 AR 155mm. O batismo de fogo ocorreia no dia 16 de setembro de 1944, no sopé do Monte Bastione, ao norte da cidade italiana de Lucca, na Toscana, um vento gelado já prenunciava os rigores do inverno próximo. Precisamente às 14 horas e 22 minutos foi lançado contra o inimigo nazista o primeiro tiro jamais disparado pela artilharia brasileira fora do continente sul-americano, atingindo com precisão o objetivo previsto: Massarosa. Durante todo o avanço das tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, os M1 AR Howitzer 155 mm estiveram sempre presentes, tendo fundamental papel na campanha. Durante a guerra mais unidades seriam recebidas, passando a dotar pelo menos mais grupo de Artilharia Divisionária constituída por três grupos de obuseiros M2 AR 105 mm e um de M1  AR 155 mm sendo sediados no Rio de Janeiro. Adoção destes novos canhões, possibilitaria um avanço na doutrina operacional da artilharia existente até então no Exército Brasileiro que na época estava equipado com antigos canhões de 75 mm de origem alemã oriundos de tecnologia da Primeira Guerra Mundial, entre os avanços destacavam se o aumento do calibre, emprego de trajetórias curvas e o  fato de serem auto rebocados.
Ao término do conflito, todos os doze M1 Howitzer 155 mm foram despachados ao Brasil, juntamente com os demais carros e equipamentos empregados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. E logo no recebimento, foram incorporados aos Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) do Exército, se somando as peças entregues diretamente no Brasil durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial. Na década de 1960, mais obuseiros deste modelo seriam recebidos, operando em conjunto com tratores de esteiras de 13 toneladas M5 High Speed Tractor. A partir do início da década de 1970 dentro dos auspícios do programa de Acordo de Assistência Militar Brasil - Estados Unidos, seriam recebidas pelo menos mais 90 unidades da versão mais atual o M114A2 AR 155 mm, que apresentavam sensíveis melhorias, sendo estes de fabricação sob licença sul-coreana. Estas novas peças, tinham por missão substituir os conjuntos mais desgastados e permitir a realocação das demais unidades do M114 AR 155mm, que eram oriundas da produção da década de 1940. Desta maneira os novos M114A2 AR 155 mm foram direcionados principalmente ao 13 º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) – Grupo General Polidoro e ao 11 º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) - Grupo Montese. Neste período os tratores sobre esteiras M5 High Speed Tractor, passaram a ser substituídos pelos novos caminhões Mercedes Benz – Engesa LG-1519 & LG-1819 6×6 Mamute, para assim tracionar estas peças no campo de batalha. Uma pequena quantidade destes obuseiros também seria incorporada na década de 1970 ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), para emprego de suporte junto as unidades de infantaria anfíbias

Os obuseiros  M114 AR 155 mm e M114A2  AR 155 mm, se mantem em operação até os dias atuais no Exército Brasileiro, representando a dotação dos Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) orgânicos da Artilharia Divisionária. Apesar de ser um equipamento antigo, apresenta aspectos positivos, tais como a simplicidade e rusticidade, sendo particularmente útil em operações defensivas, devido ao seu poder de fogo elevado, proporcionado pela variedade munição de 155 mm disponivel nos paios, sendo produzida no Brasil. Como pontos negativos apresenta peso elevado de deslocamento (5.700kg) que impacta profundamente na mobilidade das viaturas tratoras, seu grande porte reflete em dificuldades no prazo mínimo para ser disposto e sair da posição de combate, vale citar também que seu o alcance insuficiente, dificultam a missão de aprofundar o combate, realizar os fogos de contrabateria e comprometem a possibilidade de sobrevivência no campo de batalha. Porém a principal deficiência que evidencie a obsolescência de seu projeto é seu tubo de apenas 24 calibres é um impedimento para o emprego das munições de maior tecnologia, que necessitam de tubos mais longos, fato que limita sua eficiência. Uma solução paliativa seria a implementação do programa de modernização da RDM de 155 mm de 30 calibres que aumentaria consideravelmente seu alcance, somente uma peça deste modelo foi adquirido pelo Exército Brasileiro, estando o mesmo desativado atualmente e exposto como monumento.
Apesar dos 92 M114 AR e M114A2  AR 155 mm pertencentes ao Exército Brasileiro apresentarem plena disponibilidade operacional muito em função de serem submetidos a manutenções frequentes e processos de atualização técnica que contam inclusive ainda com a produção local de peças de reposição, fica notório que este equipamento não atende mais as às necessidades de mobilidade, alcance e amplitude de campo de tiro exigidas no combate moderno. Assim desta maneira o Ministério da Defesa iniciou estudos para a modernização de sua artilharia de campanha rebocada, buscando nos termos do programa  Excess Defense Articles  (Artigos Excedentes de Defesa)  a aquisição dos obuseiros M198 Howitizer 155 mm de segunda mão provenientes do Exército Americano, que trariam a artilharia de campanha um grande avanço técnico e operacional.

Em Escala:
Para representarmos o M114 AR Howitzer 155 mm fizemos uso do excelente kit da Bronco Models na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal e photo etched. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não há necessidade de se realizar nenhuma alteração, bastando montar o modelo direto da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado desde o recebimento das primeiras peças em 1942 e nos lotes subsequentes, após o ano de 1983 os M114 AR e M114A2  AR 155 passaram a ostentar o novo esquema de camuflagem tática em dois tons, mantendo este padrão até a atualidade.



Bibliografia: 

- M114 Howitzer Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M114_155_mm_howitzer
- M114A2 Towed 155mm Howitzer - https://www.hmdb.org/
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf

Dassault Mirage 2000C RDI no Brasil

História e Desenvolvimento. 
Desde meados da década de 1960 o caça interceptador Marcel Dassault Mirage IIIE representava o sustentáculo Força Aérea Francesa (Armée de l'Air ) na realização de missões de primeira linha, sendo crucias também na missão de repelir prováveis ataques de bombardeiros soviéticos a seu território.  No entanto o rápido evoluir da tecnologia aeronáutica acelerada pela intensificação da Guerra Fria entre as potências ocidentais e orientais, relegaria rapidamente este vetor a obsolescência. Assim o governo francês imbuído na preocupação que este cenario trazia a tona, decidiu derivar por opções diversas de atuação, entre muitas o "Programa ACF -  Avion de Combat Futur" (Avião de Combate do Futuro), um conceito de avançada aeronave multifuncional esta que abordava a configuração com asas em de geometria variável. Este programa fora erigido para que esta se tornasse a médio prazo a aeronave padrão de caça e ataque frances, no entanto os altos custo de desenvolvimento deste projeto levariam ao seu cancelamento no ano de 1972. Neste mesmo período a Marcel Dassault Aviatiom focava todos seus esforços na exportação do seu caça tático Dassault Mirage F1, porém seu desempenho nem de longe se assemelhava ao êxito comercial obtido pela família Dassault Mirage III. Neste contexto seu principal rival passava a ser representado pelo caça norte-americano General Dynamics F-16 Fighting Falcon, que frequentemente derrotava o Dassault Mirage F1 nas concorrências internacionais.  Estes reveses motivaram a direção  a empresa a buscar o desenvolvimento de uma nova aeronave que apesar de objetivar ser um vetor multimissão, ao contrário do programa  ACF deveria apresentar um moderado custo de desenvolvimento e uma excelente relação custo benefício em termos operacionais, para assim substituir na Força Aérea Francesa (Armée de l'Air ), as aeronaves de combate Mirage IIIC e Mirage IIIE , Breguet - BAC Spect Jaguar e  Dassault Mirage F1.

Nascia assim o programa do "Mirage 2000", sendo iniciado um projeto secundário chamado provisoriamente de "Delta 1000" no ano de 1972, período em que a empresa focava seus recursos no programa ACF,  e com cancelamento deste os olhares se voltaram para o projeto “Dov Delta 1000". Visando reduzir os custos do desenvolvimento muito das soluções criadas para o programa “Avião de Combate do Futuro – ACF” seriam incorporados a esta nova aeronave, entre estes o excelente motor SENECMA M53 e slats em todo o bordo de ataque, os quais eram autuados automaticamente através do “software” de controle de voo (sistema Fly By Wire).  A retomada do formato da asa em delta, apresentava algumas vantagens em relação ao sistema de geometria variável, como maior de construção, menor assinatura de radar e melhor capacidade de armazenamento de combustível, porém este perfil exigia uma velocidade mais alta de aterrisagem, distância maior de decolagem e aterrisagem e baixa manobrabilidade a baixa altura. Estas deficiências seriam resolvidas com a incorporação do conceito de instabilidade dinâmica no Dassault Mirage 2000, movendo o centro de pressão para traz do centro de gravidade da aeronave. Com isso, melhorou se a manobrabilidade e reduziu se a distância de decolagem; já a distância de aterrissagem foi reduzida utilizando se um sistema de freios a base de fibra de carbono. Este modelo estava dotado de um sistema de “fly by wire” redundante e o piloto a controla usando o sistema “hands on throttle and stick (HOTAS), com a qual maioria dos sistemas de aeronave são ativados através de botões instalados no manche e no manete de potência do motor.
O primeiro protótipo voou em 10 de março de 1978, apenas 27 meses após do programa ter sido autorizado pelo governo francês e foi oficialmente apresentado ao público no Farnborough Air Show em setembro do mesmo ano. O segundo protótipo voou em outubro, e o terceiro em abril de 1979, após um amplo programa de ensaios em voo foi celebrado um primeiro contrato envolvendo trinta e sete células, com o primeiro exemplar de produção sendo entregue em novembro de 1982, com os primeiros caças interceptadores Dassault Mirage 2000C declarados operacionais em 1984. Estas primeiras aeronaves estavam equipadas com o radar Thomson CSF RDM (Radar Doppler Multifuncion), e foram construídos nos padrões S1 a S3 (este último permite o lançamento de misseis ar ar guiados por radar Matra Super R-350F). O próximo contrato abrangia a produção oitenta e sete  aeronaves configuradas nos padrões S4 a S5 recebendo o radar Thomson CSF RDI (Radar Doppler Impulse), as células entregues a partir de 1987 passara a contar com uma melhor capacidade “look-down”, com a adoção deste novo radar introduziu se também o emprego de misseis ar ar guiados por radar Matra Super R-350D de maior alcance. Nesta variante o armamento utilizado para combate ar ar é composto de um par de canhões DEFA 554 de 30 mm (com 125 cartuchos cada), dois mísseis ar ar com guiagem infravermelho Matra Magic 2, além de dois misseis Super R-530F/D. Em missões de ataque ao solo a aeronave pode ser equipada com bombas convencionais de queda livre e guiadas a laser e foguetes não guiados; com a designação dos alvos podendo ser feita através de um pod  especial ou por outra aeronave especializada nesta tarefa.

Uma variante destinada a missões de ataque nuclear tático foi desenvolvida, recebendo a designação de Mirage 2000N e estava destinada a transportar o míssil nuclear stand-off Air-Sol Moyenne Portée (ASMP). O programa de ensaios em voo teve início em 3 de fevereiro de 1983, e durante um primeiro voo de 65 minutos a aeronave atingiu uma velocidade de Mach 1,5, mais um protótipo foi completado se juntando ao programa em 1984. Esta nova variante entrou em serviço operacional em 1988, operando inicialmente a partir da Base Aérea Luxeil com 4º Esquadrão de Caça (Escadre de Chasse). O bom desempenho levaria a criação de variante de ataque convencional dedicada designada Mirage 2000D, o voo inicial do protótipo (um protótipo Mirage 2000N modificado) ocorreu em 19 de fevereiro de 1991, e após validação um contrato foi firmado para a produção de setenta e cinco células do Mirage 2000N e oitenta e seis Mirage 2000D, com as primeiras unidades deste último modelo passando a ser entregues em 31 de março de 1993, com sua entrada em serviço operacional ocorrendo em abril de 1995. As encomendas totais da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) totalizariam trezentas e quinze aeronaves incluindo vinte células de treinamento da versão Mirage 2000B. Todas as versões 2000C empregam um pacote de contra medidas eletrônicas (CME) e de autodefesa composto pela sistema de iluminação por radar (RWR) Thales Serval(com antenas nas pontas das asas e na parte traseira no topo da deriva), pelo sistema CME Dassault Sabre e um dispensador de “chaff e flare” Matra Spirale, instalado na raiz de cada asa atrás. A partir de 1990, fseria desenvolvido a versão Dassault Mirage 2000-5.
Em 1993, a fim de promover essa variante no mercado internacional, a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) converteu trinta e sete células do modelo C-S4 e CS-5 para a versão Mirage 2000 5-F, a qual incorporava o radar Thomson CSF RDY (radar doppler multicible, capaz de engajar quatro alvos simultâneos), porém mantendo a mesma suíte de contramedidas eletrônicas e de auto defesa na versão Mirage 2000C, dotados com o radar RDY, os Mirage 2000 5F passaram a empregar os mísseis ar ar de guiagem radar autônoma Matra MICA. Com a entrada em serviço do radar RDY, os radares RDI previamente instalados nas aeronaves convertidas para a versão 5F foram instalados nos Mirage 2000C equipados com o radar RDM. Apesar de todas estas melhorias o projeto estava obsoleto quando comparado as aeronaves de nova geração, e a partir do ano de 2001 a introdução dos primeiros Dassault Rafale na  Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) determinaram o início do processo de substituição das primeiras versões do Mirage 2000C, sendo o mesmo continuado até a primeira metade da década de 2000. Exemplares da família ainda permanecem em serviço na Índia, Grécia, Taiwan, Egito, Peru, Catar e Emirados Árabes Unidos.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Desde o início da década de 1990 a Força Aérea Brasileira tinha plena consciência que a vida útil da frota de aviões Dassault Mirage IIIEBR e IIIDBR e  Northrop F-5E e F-5F Tiger II se aproximavam do fim. Os interceptadores franceses deveriam sair de operação entre os anos  de 2004 e 2005, já os caças norte-americanos entre os anos de 2007 e 2010. Desta maneira em fins de 1991, seriam iniciados os planos para substituí-los com a criação do "Programa FX BR" que fazia parte do Plano Fênix, um ambicioso programa de renovação dos meios da Força Aérea Brasileira (FAB). O objetivo inicial era equipar os atuais esquadrões de caça de primeira linha com uma nova aeronave supersônica, com um número total que poderia chegar a mais de cem aeronaves, para substituir de uma vez só todas as aeronaves em operação junto 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) – Esquadrão Jaguar, 1º/1º Grupo de Aviação Caça – Esquadrão Jambock, 2º/1º Grupo de Aviação Caça – Esquadrão Pif Paf e 1º/14º Grupo e Aviação – Esquadrão Pampa. Cada esquadrão seria composto de doze a dezesseis aeronaves, devendo ser criados ainda, novos grupos de combate como o 2º Grupo de Defesa Aérea. Os estudos e análises das propostas transcorreram normalmente, porém o cenário político no pais levaria a sucessivos atrasos na escolha do novo vetor, o que levaria a estudos de processos alternativos como o programa de modernização dos Northrop F-5E e F-5F Tiger II. Porém decidiu-se não replicar esta solução a frota de interceptadores Dassault Mirage IIIEBR F-103E, em função da obsolescência das células que já estavam em serviço há mais de trinta anos e estavam próximos ao limiar da vida útil estrutural das células. Alternativas para a aquisição de um caça tampão seriam estudadas, como propostas de leasing de doze caças Kfir C-10 israelenses, aluguel de doze caças russos Sukhoi Su-27SK  ou ainda a compra de dezoito caças usados norte-americanos  General Dynamics F-16 Fighting Falcon usados da Força Aérea Holandesa (RNLAF). No entanto infelizmente por diversos motivos estas propostas não passariam das fases preliminares de estudo.

O programa de aquisição de novas aeronaves de caça só seria retomado no ano de 2003, recebendo a designação de FX2-BR. Diversas propostas atualizadas seriam recebidas, com as análises sendo totalmente reiniciadas, e o cronograma previa a definição do vencedor prevista para março de 2004, mediante decisão em sessão específica do Conselho de Defesa Nacional (CDN). Porém o passar dos anos agravava ainda mais a situação operacional da combalida frota de interceptadores Dassault Mirage IIIEBR e IIIDBR - F-103E/D, e este consequente adiamento geraria um atraso de no mínimo cinco anos entre a escolha do vencedor e as primeiras entregas, o que seria inadmissível, pois deixaria a defesa aérea desfalcada por um período muito extenso. Visando amenizar esta problemática o comando da Força Aérea Brasileira (FAB) retomaria estudos com o intuito de se buscar uma solução temporária, optando por uma aquisição ou aluguel de novos vetores de caça. Novamente possíveis opções seriam analisadas, incluindo uma nova proposta oferecida pela empresa francesa Dassault Aviaton, que participava da concorrência do programa "FX2" com seu caça multimissão Rafale C. Esta proposta consistia na venda de dez células da versão Mirage 2000C e duas da versão biplace Mirage 2000B, aeronaves estas que ainda se encontravam em operação nos esquadrões operacionais da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). Como esta solução apresentava uma excelente relação de custo-benefício, com estas condições sendo teoricamente subsidiadas pela Dassault Aviation que mantinha grande interesse na concorrência brasileira. Desta maneira o Ministro da Defesa validaria a proposta, levando em 12 de julho de 2003 na cidade de Paris a assinatura de um contrato de aquisição entre os presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Jacques Chirac.
Este contrato avaliado no valor de oitenta milhões de Euros (de acordo com o Decreto nº 5.625, de 22 de dezembro de 2005), previa a transferência de doze caças Dassault Mirage 2000 (dez “C” e dois “B”),  provenientes de unidades de primeira linha de combate da Força Aérea Francesa (Armée de l’Air), treinamento operacional e suporte técnico. Uma comissão formada por oficiais da Força Aérea Brasileira, seria enviada a França para proceder a escolhas das células em melhor estado de conservação. Desta maneira seriam destacas dez aeronaves da versão Mirage 2000C, fabricadas no ano de 1984, equipadas com os motores turbo jatos SNECMA M53-5 com 8.998 Kg de empuxo, radar RDI Thales S 5.2 C Pulse Doppler com capacidade llok down/shoot down, sistema de alerta de radar RWR Serval e lançadores de chaffs - flares Eclair.  Juntamente com um amplo suprimento de peças de reposição foram adquiridos um pacote de um pacote de armamentos composto por misseis ar ar BVR Matra Super 530D, misseis Matra Magic 2, cartuchos de munição de calibre 30 mm, chaffs e flares, também foram fornecidos tanques suplementares de combustível ventrais de 1.300 litros e 2.000 litros (fixados nos pontos internos de cada asa). Desta maneira foram selecionados pilotos e mecânicos brasileiros a fim de serem enviados a França para treinamento e conversão para o novo vetor na base aérea da  Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) de Orange no interior do pais. Após este processo definiu-se um cronograma com as entregas e transladados sendo feitas por pilotos do 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) em três lotes distintos de quatro aeronaves cada, sendo os primeiros entregues em 2006, outros quatro em 2007 e os últimos em 2008.

As aeronaves foram declaradas operacionais já no ano de 2006, substituindo os jatos de treinamento avançado Embraer AT-26 Xavante que se encontravam provisoriamente em uso junto ao 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) desde dezembro de 2005, quando os últimos F-103E IIIEBR Mirage foram desativados.  Apesar de ser um modelo de terceira geração com tecnologia da segunda metade da década de 1980, o Mirage 2000C era muito superior a seu antecessor F-103E IIIEBR Mirage, tanto em termos de desempenho operacional e eletrônica embarcada, sendo ainda a primeira aeronave de combate da Força Aérea Brasileira (FAB) a dispor de sistemas de controle por computador das superfícies móveis de um avião “Fly By Wire”. Todos estes avanços aliados a capacidade de combate "além do alcance visual" BVR (Before Visual Range), com os misseis Matra Super 530D possibilitaram as equipagens do 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea)  uma significativa evolução na doutrina operacional, não só da unidade, mas também de toda a Força Aérea Brasileira (FAB) pois possibilitou a realização de treinamentos de combate dissimilar BVR, contra as aeronaves  Northrop F-5EM Tiger II, proporcionando embates entre aeronaves de diferentes parâmetros de desempenho. Vale salientar também que os misseis ar ar de curto alcance Magic 2 apresentavam performance muito superior ao Rafael Python 3 que equipavam o Dassault F-103E Mirage e Northrop F-5E Tiger II, trazendo a tona uma dificuldade maior no enfrentamento, melhorando a capacitação técnica nos treinamentos. Em sua curta carreira na Força Aérea Brasileira, os agora designados como Dassault F-2000C Mirage tiveram destacada participação em inúmeros exercícios multinacionais de defesa, entre eles CRUZEX 2006.
Apesar de recebidos a partir de 2006, estas aeronaves tinham tempo definido de operação na Força Aérea Brasileira (FAB), compreendendo seu uso até fins de 2013 (pois quando adquiridas da Força Aérea Francesa- Armée de l'Air, estavam no limiar de sua vida útil contando com somente mais 1.000 horas de voo por célula). Análises preliminares efetuadas se mostrariam completamente desfavoráveis a qualquer processo de retrofit das aeronaves ou modernização, com base nestes dados decidiu se pela desativação do modelo em 31 de dezembro de 2013. Como as primeiras células do modelo SAAB Gripen NG F-39E (vencedor do processo FX-2), seriam somente entregues a partir do ano de 2022, sendo que novamente o 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) passou a ser equipado provisoriamente com aeronaves tampão, agora os  Northrop F-5EM Tiger II modernizados. Em 2013 apenas seis aeronaves F-2000C/B Mirage estavam em operação, sendo as demais desmontadas para servir com fonte de peças de reposição. O último voo foi realizado em 20 de dezembro de 2013 quando o F-2000C Mirage FAB 4948 , partiu da base aérea de Anápolis, em Goiás, às 10h42, com destino ao Museu Aerospacial (MUSAL) no Rio de Janeiro, onde passaria a fazer parte do acervo daquela organização.

Em Escala.
Para representarmos o Dassault Mirage F-2000C "FAB 494 " empregamos o modelo na Italeri na escala 1/48, kit este que mescla detalhes em alto e baixo relevo e representa naturalmente e a versão empregada pela Força Aérea Brasileira (FAB) sem a necessidade de se implementar mudanças. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais, presentes no recente set 48/40.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelas aeronaves francesas, por se tratar de um modelo “stop gap” foram apenas adicionadas as marcações nacionais se mantando o padrão original quando do recebimento das células. Em 2012 o Dasault F-2000C "FAB 4946" foi apresentado na feira internacional "XVI FIDAE" no Chille, com um esquema de pintura em tons de cinza com marcações de baixa visibilidade, porém este padrão foi aplicado somente nesta célula.



Bibliografia :

- Mirage 2000 Mudança de Vetores, Marcelo Mendonça - Revista Força Aérea Nº 40
- Anápolis a Toca dos Jaguares, Luciano R Melo – Revista Força Aérea Nº 61
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Vultee V-11 GB2 no Brasil

História e Desenvolvimento. 
Os empreendedores norte-americanos Gerard "Jerry" Freebairn Vultee (1900-1938) e Vance Breese (1904-1973) fundariam em abril de 1932 na cidade de Los Angeles, Califórnia, uma nova indústria aeronáutica, a Airplane Development Corporation. Neste contexto "Jerry", detinha larga experiencia no segmento, após participar por algum tempo como engenheiro aeronáutico estrutural na Douglas Aircraft, da equipe do renomado projetista John Knudsen "Jack" Northrop, na Douglas Aircraft Company.  Seu primeiro projeto comercialmente viável, o Vultee V-1, uma aeronave monoplano de asa baixa e produzido inteiramente de metal, com um trem de pouso com bequilha retrátil, seria concebido para o transporte executivo para até oito passageiros. Seu primeiro protótipo, alçaria voo em 19 de fevereiro de 1933 e despertaria um grande interesse por parte da direção executiva da empresa de transporte aérea American Airlines. Os resultados amostrados em seu programa de ensaios de voo se mostrariam extremamente promissor, inclusive registrando recordes de velocidade e autonomia. Logo em seguida, como esperado a American Airlines se tornaria seu primeiro usuário operacional, resultando em um contrato para a compra de quatorze aeronaves, que seriam empregadas em rotas domésticas. A empresa de transporte aéreo regional Bowen Airlines do Texas, se tornaria o segundo cliente do modelo. Apesar deste excelente início comercial, suas futuras projeções de vendas seriam, no entanto, impactadas por novas regulamentações impostas pela autoridade aeronáutica civil norte-americana que obrigaria o emprego de apenas aeronaves com dois motores em rotas regulares de transporte de passageiros. Isto limitaria as vendas deste modelo de aeronave, sendo produzidos pela Airplane Development Corporation, apenas vinte e sete aeronaves. Em 1934 uma nova legislação a "Lei do Correio Aéreo" demandaria uma série de reestruturação no meio aeronáutico norte-americano, levando em 30 de novembro do mesmo ano, ao estabelecimento da  Aviation Manufacturing Corporation (AMC), através da aquisição das participações da Cord, incluindo a Vultee's Airplane Development Corporation. Logo em seguida no dia 1 de janeiro de 1936 a Aviation Manufacturing Corporation seria liquidada, levando a formação da Vultee Aircraft Division, que passaria a ser uma subsidiária autônoma. Neste mesmo período, sete aeronaves que anteriormente pertenceram a American Airlines e outras oito células (adquiridas pelo governo espanhol para tarefas de transporte) seriam empregadas pelas forças republicanas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), com quatro aeronaves Vultee V-1 sendo capturados e operados também pelas forças nacionalistas.  

Este inusitado emprego militar, despertaria a diretoria da empresa, o vislumbre de um novo e promissor nicho de mercado, levando assim a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, iniciar o desenvolvimento de uma versão militar do modelo V-1. Apesar das restrições operacionais existentes neste período, quanto ao emprego de aeronaves monomotoras para emprego em tarefas bombardeio, foi decidido levar adiante este projeto. Esta nova aeronave estava equipada com um motor radial Wrigth Cyclone SR 1830-F53, de 750hp, que conservava as excelentes características de desempenhos vistas no modelo comercial V-1. Este modelo receberia a designação de Vultee V-11, e fazia uso do mesmo motor, trem de pouso e estrutura alar de seu antecessor, com as demais parte e componentes sendo desenvolvidas para esta nova aeronave. Sua principal missão era atuar no perfil de bombardeio de mergulho (picado), com opção para emprego também como treinador avançado. O primeiro protótipo realizou seu voo inaugural em 17 de setembro de 1937, empreendendo um voo entre as cidades de Los Angeles e Glendale. Porém o início da campanha de ensaios em voo não seria exatamente auspicioso, visto que este protótipo sofreria uma pane no motor durante a decolagem, resultando na perda total de material e pessoal. Apesar deste contratempo o segundo protótipo seria concluído em 03 de outubro do mesmo ano, e incorporava alguns aperfeiçoamentos, como hélice tripa e a capacidade de portar uma metralhadora MG-40 calibre .30, em uma gondola, alocada na fuselagem inferior da aeronave. Desta vez a campanha de ensaios ocorreria tranquilamente definindo o projeto final com mais alguns aperfeiçoamentos permitindo assim a empresa a iniciar uma agressiva campanha comercial de exportação junto a nações amigas a partir do ano seguinte.
Este investimento inicial não tardaria a render bons resultados, com o primeiro contrato de exportação sendo celebrado com o governo da China Nacionalista, envolvendo a encomenda de trinta aeronaves da versão Vultee V-11G configurado para operação com dois tripulantes e a pedido do cliente equipado com o motor Wright R-1820-G2 Cyclone com 1.000 hp de potência. Um segundo contrato com este governo seria firmado em 1939, agora para vinte e seis aeronaves da versão Vultee V-12-C equipados com o motor Wright R1-820-G105B Cyclone de 1.100 hp, destes uma célula seria entregue pronta e as demais fornecidas na forma de kits para serem montadas na unidade fabril da Central Aircraft Manufacturing Company em Loiwing, perto da fronteira entre a China e a Birmânia.  Por fim um terceiro acordo seria celebrado para a montagem local de cinquenta e duas aeronaves na versão Vultee V-12-D, novamente empregando a evolução de seu grupo propulsor, fazendo uso agora do Curtiss Wright R-2600 Cyclone 14 de 1.600 hp. Após a montagem da primeira célula a fábrica sofreu um bombardeiro por parte das forças de invasão japonesas, ficando evidente o risco de novos ataques, assim desta maneira decidiu-se por transferir a linha de produção para a fábrica da Hindustan Aircraft Limited em Bangalore na Índia para que fossem concluídas as montagens das demais aeronaves, porém após a montagem de algumas unidades a produção foi interrompida de forma definitiva. Os Vultee V-11 e V-12 foram usados como bombardeiros leves e alcançaram algum sucesso, incluindo a missão de bombardear o aeródromo japonês com quatro aeronaves no Yuncheng em 5 de fevereiro de 1939, pelo 10º Esquadrão da Força Aérea da República da China (ROCAF), antes que as aeronaves fossem retiradas das missões de bombardeio, para treinamento e funções de ligação a partir de 1940.

O próximo cliente internacional seria a Turquia, que assinaria em 1936 com a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, um contrato para a aquisição de quarenta e uma aeronaves na versão básica Vultee V-11GB. Neste mesmo ano, a União Soviética celebraria um contrato, envolvendo a compra de quatro aeronaves na versão de bombardeiro de mergulho, para três tripulantes e a produção sob licença de mais trinta e duas aeronaves da versão Vultee V-11GB que passariam a ser designados localmente BSh-1 (Bronirovanny Shturmovik). Estas aeronaves seriam configuradas para missões de ataque a solo passando a contar com um leve conjunto de blindagem extra, em pontos críticos da aeronave, visando assim melhorar sua capacidade de sobrevivência.  Com o início das operações junto a Força Aérea Soviética, verificou-se que este conjunto de blindagem, reduzia sensivelmente o desempenho da aeronave, não sendo assim recomendada a sua operação em missões de ataque. Este fator levaria a decisão de transferir todas estas aeronaves para a empresa estatal de transporte aéreo Aeroflot, onde o modelo passou a ser redesignado como PS-43, com emprego para transporte de passageiros em alta velocidade, executando com primazia esta tarefa até o advento da invasão alemã em 1941. Depois o início do conflito com a Alemanha, as aeronaves remanescentes seriam novamente incorporadas à Força Aérea Soviética para emprego em missões de ligação entre as bases aéreas.  O próximo pais a adquirir a aeronave em sua versão militar seria o Brasil, que em fevereiro de 1939 assinaria um contrato para entrega de vinte e seis aeronaves, para uso em sua Aviação Militar.
O Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) assinaria em 1938 um contrato para a aquisição de sete células da versão militar designada localmente como Vultee YA-19. Estas aeronaves estavam armadas com seis metralhadoras bronwing calibre .30, operando com capacidade para até 490 kg de bombas de queda livre, transportadas em um bomb bay interno. Estas aeronaves de pré-produção seriam então submetidas a um extenso programa de avaliação e ensaios em voo, no entanto os resultados deste processo determinaram que os parâmetros operacionais deste modelo e aeronave, não atendiam as necessidades mínimas exigidas pelos Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC).  Neste mesmo período, o mais provável cliente potencial da aeronave, a Marinha Americana (US Navy), estava em pleno processo de introdução de suas novas aeronaves de bombardeio de mergulho Douglas TBD Devastador, cerceando assim todas as expectativas de sucesso deste modelo, levando assim ao cancelamento dos esforços de desenvolvimento das aeronaves em sua versão militar.  Ao todo seriam produzidos até fins de 1940 um total de duzentos e vinte e cinco células, sendo dispostas em doze versões distintas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No final da década de 1930, a Aviação Militar do Exército Brasileiro iniciava um programa de modernização de suas aeronaves de caça, ataque, bombardeio e treinamento. No que tange as missões de bombardeio, buscava-se especificadamente a aquisição de uma aeronave de bombardeio de precisão (picado), no intuito de substituir os já antigos e obsoletos biplanos Vought V-65B Corsair e Boeing 256 e 267, que representavam o esteio da aviação de ataque brasileira, e que no momento se encontravam muito defasados tecnologicamente devido aos grandes avanços ocorridos durante esta década. Uma concorrência internacional seria aberta pelo Governo Brasileiro, com o comando do Exército Brasileiro, passando a receber propostas comerciais de diversos fabricantes europeus e americanos. Estas propostas seriam então analisadas pela Diretoria de Material da Aviação Militar do Exército (DAvM), com a decisão de escolha recaindo sobre a proposta comercial apresentada pela empresa norte-americana, Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division. Esta escolha seria profundamente influenciada pelas percepções obtidas quando da apresentação do modelo Vultee V-11, realizada no Brasil em abril de 1937 durante um tour de promoção desta aeronave militar. Assim em 9 de dezembro do mesmo ano seria assinado com o fabricante norte-americano, um contrato no valor de US$ 1,4 milhões de dólares para a aquisição de vinte células da versão V-11GB2, incluindo neste acordo, um amplo suprimento de peças de reposição, ferramental, documentação e treinamento de pilotos e equipes de manutenção. De acordo com o contrato original, estas aeronaves seriam entregues com o novo motor radial Wrigth Cyclone R-1820-G2 com 850 HP de potência, sendo superior a versão anterior. As aeronaves brasileiras seriam equipadas com duas metralhadoras Colt MG-53 de calibre .50 e duas metralhadoras Colt MG-40 de calibre .30 instaladas nas asas, ao contrário das quatro metralhadoras Browning .30 que equipavam as demais versões militares da aeronave.

Ademais também, as aeronaves adquiridas, receberiam um armamento de autodefesa suplementar, sendo composto por duas metralhadoras móveis Colt MG-40, dispostas na posição dorsal e ventral. Dispunham ainda de seis pontos duros, subalares que poderiam portar até 1.681 kg de carga útil, sendo fornecidos neste mesmo contrato bombas de demolição de 45 a 500 kg, e bombas químicas de 45 kg, produzidas pela empresa norte americana Lake Erie Chimical Co. Para as missões de bombardeio vertical, a aeronave estava equipada com um sistema de visor de mira Stoppey D-48 que podia ser complementado com uma câmera vertical Fairchild K3B, para emprego em missões de reconhecimento ou documentação fotográfica dos ataques. As primeiras aeronaves foram transportadas ao Brasil por via naval, sendo recebidas e posteriormente montadas nos hangares da Panair do Brasil, localizados no Aeroporto Santos Dumont (Rio de Janeiro). As demais células seriam montadas nas instalações do Parque Central da Aeronáutica da Aviação Militar, com este processo sendo finalizado no dia 5 de junho de 1938. Os Vultee V-11-GB2 brasileiros, receberam as matrículas seriais de "105 a 129", sendo esta sistemática mantida durante toda a sua operação no Exército Brasileiro. Assim que foram incorporadas, as aeronaves foram destinadas ao 1º Regimento de Aviação (1º RAv), sendo lotadas no Grupo de Bombardeio (esta unidade ostentava como emblema, um "jacaré" estilizado montado em uma bomba). Os primeiros voos operacionais das novas aeronaves, passariam a ocorrer a partir da primeira semana de novembro de 1938. Em setembro de 1939, três aeronaves foram transferidas ao 3º Regimento de Aviação (3ºRAv), sediado em Porto Alegre (RS). A Escola de Aviação Militar (EAvM) sediada no Campo dos Afonsos, receberia em 13 de abril de 1939 três aeronaves deste modelo, com a finalidade de adestrar os instrutores e cadetes do último ano.
As alterações solicitadas ao fabricante pela Diretoria de Aviação Militar do Exército, fizeram com que os Vultee V-11GB2 brasileiros, apresentassem um desempenho ligeiramente inferior aos V-11GB originais, principalmente em termos de velocidade máxima, razão de subida e teto operacional, porém como contrapartida, passava a apresentar um alcance significativamente maior. Esta autonomia pode ser praticamente aferida em um dos feitos mais marcantes na Aviação Militar Brasileira, com esta aeronave norte-americana sendo, responsável pelo estabelecimento do recorde de permanência no ar e distância por aeronaves brasileiras, ao completar no dia 8 de julho de 1939, um voo sem escalas com duração de 11:45 horas no trecho compreendido entre as cidades de Fortaleza no estado do Ceará no Nordeste e Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul,  na região sul do país. Este perfil operacional encorajaria a Diretoria de Aviação Militar (DAvM) a aumentar a quantidade de aeronaves em sua frota operacional, agregando mais cinco células da aeronave ao contrato original firmado anteriormente, com estas nova células, configuradas com duplo comandos para as tarefas de instrução. Além disso a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division chegaria a desenvolver uma versão com flutuadores, denominada Vultee V-11GB2F, a qual se destinava a uma possível compra por parte da Aviação Naval da Marinha do Brasil, com a construção de um protótipo que seria apresentado em 1939 no Rio de Janeiro, e diante da negativa desta arma, seria posteriormente incorporado a Aviação Militar do Exército.

A nova década trouxe poucas alterações quanto as atividades dos Vultee V-11GB2 em operação no 1º Regimento de Aviação (RAv), mantendo assim o programa anual de instrução desta unidade, sendo executado dentro das limitações da época, e periodicamente pontuada por exercícios de pequena envergadura. Curiosamente, apesar de existir uma aeronave com duplo comando, esta célula seria reconfigurada para o padrão das demais aeronaves. Como consequência e a partir de 1940, a instrução dos novos pilotos era realizada de forma peculiar, e como parte do ciclo de instrução, o piloto era obrigado a alojar-se de bruços diretamente atrás e acima em um espaço que existia na aeronave, espiando por cima do ombro do piloto, em uma posição totalmente desconfortável. Com a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em 27 de janeiro de 1941, as vinte e três células remanescentes seriam incorporadas ao acervo da recém-criada Força Aérea Brasileira, mantendo temporariamente suas marcações originais da Aviação Militar, passando a ostentar novas matriculas com seriais de quatro dígitos. As necessidades de incremento de missões de patrulhamento no litoral nordestino, obrigariam o deslocamento de seis V-11-GB2 do 1º Regimento de Aviação (RAv) para Recife, onde foram empregados nesta tarefa no período compreendido entre outubro de 1941 a maio de 1942, quando foram substituídos por aeronaves especializadas para este tipo de missão. Apesar do grande número de horas voadas em missões de patrulhamento do litoral brasileiro neste período, não existem registros oficiais que indiquem o ataque de algum aparelho deste modelo a submarinos alemães. Em 17 de abril de 1945, foram transferidos três aviões do 1º Regimento de Aviação (RAv)  para o 3º Regimento de Aviação (RAv), com o objetivo de reforçar as atividades de patrulhamento no litoral sul do Brasil.
Ao término do conflito as dezesseis aeronaves restantes, seriam transferidas ao 1º Grupo de Bombardeio Picado (1ºGBPi) sediado na Base Aérea de Santa Cruz, nesta fase a disponibilidade das células estava muito reduzida, pois a maioria das aeronaves necessitava ser submetida a uma ampla revisão geral no Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), para onde seriam transladadas em voo no dia 7 de outubro de 1947. Neste momento as primeiras avaliações estruturais levariam a decisão de se condenar e descarregar a maior parte destas células, por não ser economicamente recomendável sua recuperação. Somente dois aviões, que estavam em melhores condições (FAB 5005 e FAB 5009), seriam revisados e entregue em plenas condições operacionais, sendo então destinados para operação junto ao destacamento da Base Aérea de Curitiba em 24 de março de 1949, onde seriam utilizados em tarefas de transporte, ligação  e adestramento. Sua carreira nesta unidade, no entanto seria efêmera, sendo desativadas e descarregadas da frota da Força Aérea Brasileira em 8 de março de 1950.

Em Escala.
Para representarmos o Vultee V-11GB2 "113" da Aviação Militar do Exército Brasileiro, fizemos uso da única opção disponível no mercado, fabricado em resina na escala 1/72 pela empresa brasileira Commando5 (infelizmente o fabricante encerrou suas atividades). Modelo este que merece elogios em sua concepção e facilidade de montagem, como alteração incluímos uma bomba em seu cabide ventral. Fizemos uso de decais oriundos do próprio modelo que foram confeccionados pela FCM decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves Vultee V-11GB2 durante seu emprego pela Aviação Militar do Exército Brasileiro até janeiro de 1941, posteriormente já em serviço na Força Aérea Brasileira chegaram a receber novos padrões de pintura e marcações.

Bibliografia :

- Revista ASAS nº 51 " O Vultee V-11GB2 no Brasil - Aparecido Camazano Alamino
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 - Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Vultee V-11 – Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Vultee_V-11