M-101 AR 105 mm Howitzer no Brasil

História e Desenvolvimento.
Após a Primeira Guerra Mundial, o Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (US Army) capturou e estudou diversos modelos de obuseiros alemães de calibre 105 mm, este interesse seria motivado por demonstrarem grande eficácia quando empregados em situação de combate real. Deste estudo surgiriam as bases para o desenvolvimento de uma nova gama de peças de artilharia na década seguinte, entre estes  estava o projeto do obuseiro M1920 Howtizer de 105 mm, seriam também desenvolvidos projetos de obuseiro em que possuía uma flecha com formato retangular (M1925E) e dois outros projetos com duas flechas (T1 e T2), representando uma grande evolução quando comparados aos obuseiros de 75 mm em uso nos seus regimentos de artilharia de campo. Este fator motivou o comando do Exército Norte Americano a estabelecer a ousada pretensão de substituir em um curtíssimo prazo as antigas peças de 75 mm pelas novas de 105 mm, mas a falta de alocação adequada de recursos muito em função da crise econômica de 1929, impediria a concretização deste projeto, sendo o mesmo completamente abandonado neste ano. Porém uma versão modificada do obuseiro M1 de 105 mm foi testada em 1932, que usava munição semi-fixa em vez de munição de carregamento separado. Como esse desenvolvimento exigia um bloco de culatra diferente, a nova peça foi designada como o obuseiro M2 de 105 mm, sendo contratada a produção de 48 peças, porém restrições orçamentarias levaram ao atraso das entregas, com as primeiras peças sendo entregues somente em 1939. Estas entregas seriam favorecidas em função do um amplo processo de renovação da artilharia de campanha do Exército Americano (US Army), iniciado em meados desta mesma década, motivado em muito pelo agravar das tensões políticas na Europa a partir do ano de 1936 com a ascensão do partido nazista na Alemanha. Este programa resultaria também do desenvolvimento do obuseiro Howtizer M1 com calibre de 155 mm, que em conjunto com o M2 de 105 mm seriam as peças padrão de artilharia de campo dos aliados na Segunda Guerra Mundial.

Os quarenta e oito obuseiros M2 de 105 mm entregues a partir do início do ano de 1939, foram concebidas originalmente 7 anos antes e carregavam a influência de uma artilharia de campanha “hipomóvel” com sua plataforma M1 foi projetada para ser tracionada por cavalos sendo equipado inclusive com rodas de madeira. Porém está logo seria substituída pelo modelo M2 T5 própria para ser rebocada por caminhões ou veículos utilitários médios com tração 4X4, passando a dispor de pneus, com este equipamento sendo padronizado a partir de fevereiro de 1940. Novas melhorias seriam adicionadas ao projeto, entre as mais relevantes destaca-se a alteração do anel da culatra, que passou a ser implementada no projeto em março do mesmo ano, meses antes do início da produção em larga escala. Curiosamente a arma era pesada para o seu calibre, mas isso ocorreu porque a arma foi projetada para ser durável. Assim, o tubo e a carruagem podem ter grande utilidade e permanecer funcionais sem se desgastar. O conjunto final de produção do obuseiro agora designado como M2A1 de 105 mm montado sobre o carro de transporte M2 T5, teria sua montagem destinada aos arsenais de Rock Island Arsenal e US Springfield Armory. As primeiras peças começaram a ser incorporadas em janeiro de 1941 aos primeiros regimentos de artilharia baseados no continente, sendo depois entregues durante os primeiros anos do conflito a todos as unidades existentes nos mais variados teatros de operações durante a Segunda Guerra Mundial. Estes regimentos passaram a ser padronizados e constituídos de um batalhão de artilharia de equipados com os M1 de 155 mm e três batalhões de artilharia equipados com os M2A1 de 105 mm. Ambos os batalhões de 155 mm e 105 mm possuíam doze canhões cada, divididos em três baterias de quatro canhões. Isso deu a cada regimento um total de doze obuses de 155 mm e trinta e seis obuses de 105 mm, isto evidenciava a importância que os obuses M1 de 155 mm representavam no conjunto total.
Seu batismo de fogo junto ocorreu durante a Operação Tocha que foi iniciada em 8 de novembro de 1942, quando os exércitos aliados desembarcaram no norte da África, e rapidamente ganhou a reputação de ser confiável e eficiente, e a partir daí seria empregado em todos os fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. Passou a ser fornecido a todas as nações aliadas nos termos do Leand & Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) durante o conflito, entre elas Canadá, Brasil, Australia e França Livre. Até o final da Segunda Guerra Mundial, 8.536 obuseiros M2A1 de 105 mm foram produzidos em diversas versões chegando até a modelos autopropulsados como o Howitzer Motor Carriage T19 e T32 empregados em conjunto com os carros meia lagarta M2A1 e M3 Half Track e T76 e T88 montados nos chassis dos carros de combate M24 Chaffe e M18. Os M2A1 Howtizer voltariam a ativa no Exército Norte Americano durante a Guerra da Coreia (1950-1953), quando novamente formaram o sustentáculo da artilharia de campanha daquele exército, participando ativamente de todos os embates daquele conflito. A França e o Estado do Vietnã usaram howitzers M2A1 105 mm, durante a Primeira Guerra da Indochina, assim como as forças de guerrilha Viet Minh contra as quais lutaram, que foram fornecidas com pelo menos 24 pela República Popular da China, juntamente com outras peças de artilharia e morteiros norte-americanas anteriormente operadas pelas forças nacionalistas chinesas (os militares kuomintang) e tropas americanas lutando na Coreia. Em 1962 sistema de designação de artilharia militar do Exército dos Estados Unidos (US Army) seria alterado com a designação do obuseiro M2A1 105 mm, sendo alterada para M101A1 105 mm. 
Sua produção foi oficialmente encerrada em setembro de 1953 com 10.202 unidades entregues, logo após o termino da Segunda Guerra Mundial, um grande número de obuseiros M2A1 105 mm foram classificados como “excedente de guerra”, passando a ser cedidos a nações alinhadas aos interesses norte-americanos como Argentina, África do Sul, Australia, Áustria, Arabia Saudita, Bahrein, Brasil, Bangladesh, Bélgica, Benin, Bolívia, Bósnia, Burkina Faso, Camarões, Canada, Chile, Chade, Colômbia, Croácia, Dinamarca, República Dominicana, Equador, Espanha, Etiópia, El Salvador, Filipinas, Gabão, Grécia, Guatemala, Honduras, Holanda, Indonésia, Ira, Iraque, Japão, Coréia do Sul, República Khmer, Vietnã do Sul, Laos, Líbano, Libéria, Lituânia, Macedônia, Malásia, Mauritânia, Madagascar, México, Marrocos, Moçambique, Myanmar, Nova Zelândia, Nicarágua, Noruega, Paquistão, Peru, Portugal, Rodésia, Ruanda, Senegal, Sudão, Tailândia, Togo, Tunísia, Turquia, Uruguai e Venezuela. Atualmente muitos exércitos ainda mantem os M2A1 – M101A1 em uso em suas unidades de linha de frente, com nações mais desenvolvidos os empregando apenas com armas cerimonias

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a representar no cenario global, uma posição de destaque estratégica dentro do contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos). Sendo detentor ainda, de um vasto território continental com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. Esta localização privilegiada, representava o ponto mais próximo entre o continente Americano e Africano, assim desta maneira a costa brasileira, seria fundamental como ponto de partida para o envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de cem milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, navios, veículos blindados e carros de combate. Este vasto programa de reequipamento visava proporcionar ao país, as condições básicas para o estabelecimento de um plano defesa territorial continental e ultramar eficiente. Entre estes equipamentos estavam os primeiros canhões modernos a serem recebidos em grande número variando de calibres de 37 mm a 305 mm, representando um grande avanço para a artilharia do Exército Brasileiro.

Dentre os equipamentos destinados a compor o regimento de artilharia da Força Expedicionária Brasileira estavam 12 canhões M-2A1 Howitzer 105 mm que seriam entregues no front italiano para o emprego do Exército Brasileiro, pela Artilharia Divisionária da FEB. Este grupo seria composto por quatro batalhões de obuseiros (Grupos de Obuses), sendo três deles com 12 obuseiros M-2A1 105 mm cada, e um Batalhão de Artilharia (IV) com 12 obuseiros M-1 155mm. O batismo de fogo ocorreria no dia 16 de setembro de 1944, no sopé do Monte Bastione, ao norte da cidade italiana de Lucca, na Toscana, um vento gelado já prenunciava os rigores do inverno próximo. Precisamente às 14 horas e 22 minutos foi lançado contra o inimigo nazista o primeiro tiro jamais disparado pela artilharia brasileira fora do continente sul-americano, atingindo com precisão o objetivo previsto: Massarosa. Durante todo o avanço das tropas da Força Expedicionária Brasileira na Itália os M-2A1 Howitzer 105 mm estiveram sempre presentes, tendo fundamental papel na campanha. Durante a guerra mais unidades seriam recebidas, passando a dotar pelo menos mais grupo de Artilharia Divisionária constituída por três grupos de M-2A1 105 mm e um de M-1 155 mm sendo sediados no Rio de Janeiro. Adoção destes novos canhões possibilitaria um avanço na doutrina operacional da artilharia existente até então no Exército Brasileiro que na época estava equipado com antigos canhões de 75 mm de origem alemã oriundos de tecnologia da Primeira Guerra Mundial, entre os avanços destacavam se o aumento do calibre, emprego de trajetórias curvas e o fato de serem auto rebocados.
Ao término do conflito todos os doze M-2A1 Howitzer 105 mm foram despachados ao Brasil, juntamente com os demais carros e equipamentos empregados pela Força Expedicionária Brasileira na Itália, sendo incorporados aos Grupos de Artilharia de Campanha do Exército, se somando as peças entregues diretamente no Brasil durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial. A partir do início da década de 1970 dentro dos auspícios do programa de Acordo de Assistência Militar Brasil Estados Unidos seriam recebidos pelo menos 160 conjuntos, M-101A1 105 mm oriundos dos estoques dos Exército Norte Americano (US Army). Neste pacote estavam pelo menos 12 unidades destinadas a equipar o Batalhão de Artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN). Totalizando 320 peças o M-2A1 - M-101A1 Howitzer 105 mm ou como é oficialmente designado como M-101AR, é um dos principais armamentos da Artilharia de Campanha Leve do Exército Brasileiro e do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha, principalmente devido a sua fácil locomoção no terreno e sua ótima eficácia durante o combate. É amplamente usada em disparos indiretos contra pessoal e material, podendo realizar tiros mergulhantes e verticais. Esse obuseiro pode utilizar também vários tipos e quantidades de cargas propulsoras, permitindo que o alcance possa variar dentro da mesma elevação de tiro, consoante as cargas escolhidas, baseado através das sete cargas existentes em que são utilizadas para devidos fins, com grande parte das munições sendo produzidas nacionalmente pela Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL),  como a de Tiro 105 mm AE, tiro 155mm AE M107 e tiro de Salva 105 Slv.

No início da década de 1980 a arma de Artilharia de Campanha Leve do Exército Brasileiro e o Batalhão de Artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais, passaram a incorporar novos obuseiros de 105 mm, agora de fabricação inglesa do modelo L118 Light Gun (em 1980) e italianos M-56 Oto Melara (em 1985). Estes novos obuseiros vieram proporcionar um alento pois além de serem armas de concepção mais moderna vieram a recomplementar a dotação, tendo em vista que muitos dos M-101 AR estavam fora de uso devido a problemas de desgaste e quebra de componentes críticos, deixando muitas unidades desfalcadas de sua equipagem completa de combate. Por volta do ano de 2015 muitos dos M-101 AR contavam já com mais de 70 anos de bons serviços prestados ao Exército Brasileiro, gerando assim uma demanda a curto e médio prazo para sua efetiva substituição. Este cenário culminaria no ano de 2018 na elaboração do Programa de Artilharia de Campo do Programa Estratégico do Exército para ‘Obtenção de Capacidade Operacional Plena’, o esforço é planejado para reestruturar o portfólio de artilharia de campo e fornecer tropas terrestres com poder de fogo adequado e preciso até 2031. Neste contexto, o acervo de peças de artilharia envolvia um total de 211 obuseiros M-101AR , 60 Oto Melara M-56  e 40 L-118 Light Gun, este plano tinha por objetivo colocar em campo um único sistema, buscando assim aprimorar o treinamento, a operação e a logística, além de fornecer maior mobilidade e poder de fogo às unidades de artilharia de campo. Infelizmente este programa não se materializaria nos anos seguintes muito em função de restrições orçamentarias. Na ausência da realização deste programa os olhos do Exército se voltaram para a implementação de um programa de revitalização dos M-101 AR, com este programa sendo incluído no PIT 2020, ficando sobre os auspícios do Arsenal de Guerra General Câmara (AGGC) a implementação deste. Infelizmente os efeitos correlatos a pandemia de Covid-19 ocasionar a elevação dos custos de insumos e matéria prima, algumas empresas tiveram dificuldades em entregar itens de produção nos prazos requeridos. Somente em abril de 2021 os primeiros seis obuseiros revitalizados por meio de manutenção de 3º e de 4º escalões, na oficina de armamento pesado da unidade foram entregues aos grupos de Artilharia de Campanha.
Apesar de conceder uma sobre vida, o fato de os obuseiros M-101 AR 105 mm possuírem, em média, cerca de 75 anos de uso, se torna inadiável mais uma vez sua substituição, assim em 2021 o  Subprograma Sistema de Artilharia de Campanha (SPrg SAC) criou um grupo de estudo para verificar a viabilidade da aquisição. Em 30 de abril de 2021, foi publicado no Boletim do Exército nº 17/2021 a portaria EME/C Ex nº 379, aprovou a diretriz de início do projeto de modernização da Artilharia rebocada da Força Terrestre (Exército Brasileiro), constituindo uma equipe para estudar a viabilidade da aquisição e revitalização de 86 obuseiros M-119A2, de 105mm, dos estoques do Departamento de Defesa do governo dos Estados Unidos (DoD), junto a materiais para a sua operação, através do “Foreign Military Sales” (FMS). De acordo com a diretriz do Subprograma Sistema de Artilharia de Campanha (SPrg SAC), caso a aquisição se efetive, o recebimento deverá ocorrer em um período de até sete anos a partir da assinatura do contrato.  Porém, segundo informou o tenente-coronel Nei Altieri Pereira dos Santos, diretor do Arsenal de Guerra General Câmara (AGGC), o arsenal manterá a capacidade operacional dos M-101 AR 105 mm durante todo esse tempo. Disparando deste os campos da Itália em 1944, enfim os veteranos obuseiros de 105 mm terão comprido sua missão.

Em Escala.
Para representarmos o M101A1 AR Howitzer de 105 mm fizemos uso do excelente kit da Testors - Italeri na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento possibilitando apresentar todas as partes móveis do obuseiro, além de contar com as caixas de munição e equipe de operação. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não há necessidade de se realizar nenhuma alteração, bastando montar o modelo direto da caixa.

Empregamos tintas fabricadas pela Tom Colors, para compor o esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado desde o recebimento das primeiras peças em 1944, seguindo o esquema tático de camuflagem em dois tons adotado a partir de 1983 pelo Exército Brasileiro, já as peças empregadas pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN) empregam outro padrão de pintura.

Bibliografia: 

- M101A1 – M2A1 105 mm Howitzer Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M101_howitzer

- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf

- Exército mantém os M101A operacionais – Paulo Roberto Bastos Jr - https://tecnodefesa.com.br/

- Exército busca substitutos para os M101 AR  – Luiz Padilha - http:// www.defesaaereanaval.com.br