História e Desenvolvimento.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os regimentos de artilharia de campanha do Exército dos Estados Unidos (US Army) eram organizados sistematicamente, sendo compostos por um batalhão de artilharia pesada de 155 mm e três batalhões de artilharia de 105 mm. Ambos estes batalhões equipados com obuseiros de pesados e médios, apresentavam doze canhões cada, divididos em três baterias de quatro peças de artilharia. Esta sistemática dava a cada regimento, um total de doze obuses de 155 mm e trinta e seis obuses de 105 mm. Esta organização evidenciava a importância que as canhoes de artilharia de campanha de 105 mm representavam no conjunto total da força ofensiva norte americana e aliada no conflito. Neste período, o principal obuseiro empregado pelo Exército Americano (US Army), era o modelo M2A1 (mais tarde renomeado como M101 AR), arma essa que fora desenvolvida no início da década de 1940. Este obuseiro foi empregado como arma de artilharia de campanha durante toda a Segunda Guerra Mundial, se mantendo em operação durante a Guerra da Coréia (1950 – 1953), sendo ainda empregado durante o período inicial da intervenção norte americana no Vietnã. Sua produção em série em agosto de 1945 havia atingido a casa de 8.563 unidades, se mantendo em linha pelas linhas de montagem do Rock Island Arsenal até 1953, totalizando uma entrega de 10.202 peças. Apesar de sua comprovada eficiência em combate real, em fins da década de 1950, ficava clara a necessidade de desenvolvimento de um obuseiro de campanha para assim substituir os veteranos M2A1 (M101 AR) como principal arma de artilharia do Exército Americano (US Army).
Visando a atender a esta demanda, no início ano de 1960, o comando das Forças Armadas Norte Americanas, emitiu as especificações básicas para o desenvolvimento de um novo obuseiro de campanha com calibre de 105 mm. Este programa seria a base para o lançamento de uma concorrência nacional para a aquisição inicial de pelo menos 5.000 canhões. O projeto vencedor desenvolvido com o apoio técnico do Exército Americano (US Army), seria o apresentado pelo Rock Island Arsenal, tradicional produtor dos modelos M2 e M2A1 de 105 mm. Os trabalhos de desenvolvimento seriam iniciados em junho do ano de 1961, com o primeiro protótipo funcional da nova arma sendo concluído e entregue para testes no primeiro trimestre do ano seguinte. Após um extensivo programa de ensaio, o modelo seria oficialmente homologado em dezembro de 1963, recebendo agora a designação oficial como obuseiro M102 AR 105 mm, passando a ser liberado para a contratação visando assim sua produção em série. O contrato de aquisição seria firmado logo em seguida, com as primeiras unidades de série sendo entregues para aceitação do Exército Americano (US Army) em dezembro de 1965. Este novo modelo apresentava como principal evolução perante seu antecessor um reduzido peso final de apenas 1.496 kg, muito mais leve que os 2.258 kg deste último, apresentando ainda uma capacidade de giro da plataforma em 360º concedendo a capacidade de engajar alvos rapidamente em outros setores. Seu reduzido peso final, proporcionava como grande diferencial a possibilidade de ser aerotransportado por uma varia gama de helicópteros e aviões de transporte, ou ainda permitir o lançamento em voo de aeronaves Lockheed C-130 Hercules, aumentando significadamente a mobilidade dos regimentos de artilharia do Exército Americano (US Army).
Com sua homologação efetivada um contrato de produção seria firmado entre o Exército Americano (US Army) e o Rock Island Arsenal, um contrato para a produção inicial de 1.150 unidades que passaram a ser recebidas no início do ano 1966, em serviço estes obuseiros começaram a substituir os lotes mais antigos dos canhoes M2 e M2A1 (M101 AR) de 105 mm. Já declarado plenamente operacional, o novo obuseiro M102 seria enviado para o teatro de operações no Vietnã, passando a ser empregados pelo 1º Batalhão do 21º Grupo de Artilharia de Campo (1ºst Battalion, 21ºst Field Artillery), que iniciara neste conflito fazendo o uso dos veteranos M101 AR 105 mm. Apesar de ser muito superior ao seu antecessor, os novos obuseiros passariam a enfrentar uma resistência inicial por parte dos artilheiros mais experientes, que relutavam e abandonar, o velho, porém confiável M101 AR de 105 mm, este processo demandaria um certo tempo para que os novos M102 105 mm passassem a ser melhor recebidos pelos soldados norte-americanos. Como pontos negativos a operação destes novos obuseiros, estes experientes artilheiros afirmavam como argumentos aparentemente convincentes, que os velhos M101 AR 105 mm ao apresentarem altura mais restrita de sua culatra, facilitava em muito o carregamento da munição, apresentando maior distância ao solo quando no reboque da peça, ainda como fator negativo estes mesmos soldados consideram o novo canhão mais complexo de se operar e manter em condições de combate real. No entanto estes argumentos foram considerados fúteis pelo Comando do Exército Americano (US Army), pois tecnicamente o novo modelo era superior, tanto em termos de mobilidade (inclusive em terrenos irregulares), quanto em termos de eficiência de combate, pois apesar de disparar mesma munição semi-fixa que o M101, seu cano mais longo proporcionava uma velocidade de sair maior, obtendo assim um maior alcance do tiro. Outro ponto positivo era que sua baixa silhueta tornava o M102 105 mm, mais difícil para identificação em campo pelo inimigo.

O emprego operacional em larga escala na Guerra do Vietnã, evidenciaria algumas falhas de projeto, com oportunidades de melhoria sendo implementadas na linha de produção do canhão nos contratos subsequentes. Durante as décadas seguintes o obuseiro M102 AR 105 mm, se tornaria a peça padrão de artilharia de 105 mm do Exército Americano (US Army) operando com uma variada gama de munições, tendo participação destacada, em todas as ações militares em que os Estados Unidos se envolveram desde a Guerra do Vietnã. Este mesmo modelo seria também adotado a partir de 1967, pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (US Marine Corps), sendo adquiridos mais de 2.500 unidades ao longo dos anos seguintes. Em fins do ano de 1985, o Exército Americano (US Army) ainda dispunha de 526 M102 AR 105 mm, em seu inventário, ano este, onde se intensificava sua gradativa substituição pelos novos obuseiros britânicos M119 de 105 mm produzidos pela BAE Systems Land Systems. O último emprego em combate real do M102 AR 105 mm, foi registrado em 2004 quando dezessete obuses pertencentes ao 1º Batalhão, 206ª Divisão de Artilharia, da Guarda Nacional do Exército do Arkansas foram enviados para Camp Taji, no Iraque, onde realizaram de contrafogo em apoio 39º Brigada de Infantaria e a 1ª Divisão de Cavalaria. Curiosamente durante este período, soldados norte-americanos recuperaram nove canhoes deste modelo, que se encontravam em uso pelo inimigo, e que supostamente devem ter sido capturados pelos iraquianos durante a Guerra Irã – Iraque na década de 1980.
Atualmente os obuseiros M102 AR 105 mm, seguem em operação somente em algumas unidades da reserva do Exército Americano (US Army), pertencentes a Guarda Nacional. Curiosamente o obuseiro M102 105 mm Howitzer também é empregado em aeronaves Lockheed AC-130 Spectre da Força Aérea dos Estados Unidos, sendo a peça modificada para ser disparado a partir da porta lateral traseira esquerda da aeronave de ataque. O emprego desta arma nesta modalidade, teve início durante os estágios finais da Guerra do Vietna, se mantendo em uso até a atualidade nas versões mais recentes desta aeronave especializada. Desde o início de seu processo de desativação junto ao Exército Americano (US Army), centenas de unidades destes obuseiros foram cedidas a nações alinhadas a visão geopolítica norte americana, através de programas e ajuda militar, passando a figurar com principal peça de artilharia das forças armadas da Jordânia, El Salvador, Malásia, Oman, Vietnã do Sul, Irã, Arábia Saudita, Filipinas, Turquia, Brasil e Uruguai. Em fins do ano de 2021 muitos destes obuseiros ainda se mantém em serviço ativo.
Este lote de obuseiros seriam recebidos entre os anos de 1967 e 1968, com os novos canhões de campanha M102 calibre 105 mm sendo recebidos no porto do Rio de Janeiro, em julho do último ano. Após a descarregamento deste lote, os dezenove canhões deste modelo seriam transportados até as instalações do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro (AGRJ), onde foram montados e submetidos a um amplo processo de revisão para a liberação para emprego operacional. Devido a pequena quantidade recebida deste obuseiro, o comando do Exército Brasileiro, decidiu por concentrar este modelo em somente uma unidade de artilharia, direcionando todo este lote para o 25º Grupo de Artilharia de Campanha - Bagé (25º G A C), sediado na cidade de Bagé no interior do Rio Grande do Sul. Este centenário grupo de artilharia tem sua origem no 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o lendário "Boi de Botas” organizado em 1888, desempenhando importante papel na história do país, participando da Revolução Federalista, na defesa de Bagé, seguindo em 1924 para São Paulo e Alegrete, em serviço de guerra, para conter a revolução que se iniciava em São Paulo. Novamente em 1930 e 1932, esta tradicional unidade participaria das revoluções, apoiando a primeira e combatendo a segunda. Em 1942, participou da defesa de Rio Grande. Ainda em 1944, 23 militares deste, integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB), legado este que permitia a unidade, a deter uma das maiores experiências na operação de artilharia de campanha, sendo este um dos motivos catalisadores desta decisão por parte do Comando do Exército Brasileiro.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a representar no cenario global, uma posição de destaque estratégica dentro do contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos). Sendo detentor ainda, de um vasto território continental com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. Esta localização privilegiada, representava o ponto mais próximo entre o continente Americano e Africano, assim desta maneira a costa brasileira, seria fundamental como ponto de partida para o envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de cem milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, navios, veículos blindados e carros de combate. Este vasto programa de reequipamento visava proporcionar ao país, as condições básicas para o estabelecimento de um plano defesa territorial continental e ultramar eficiente. E neste cenario, o Exército Brasileiro passaria a receber uma variada gama de peças de artilharia, com equipamentos variando entre os calibres de 37 mm a 305 mm, passando assim a substituir nas linhas de frente antigos canhões de campanha de origem francesa, alemã e inglesa, representando assim um grande avanço tecnológico e operacional para a artilharia da força terrestre brasileira, que até então operavam com equipamento completamente defasado e de questionável efetividade operacional quando empregados no moderno cenário de enfrentamento terrestre.
Em termos de peças de artilharia de 105 mm, centenas de peças seriam fornecidas aos efetivos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no teatro de operações na Itália, no entanto em face das demandas de guerra e por se tratar do equipamento padrão das unidades de artilharia aliadas em todos os cenários de combate, poucas unidades dos obuseiros M-2 e M-2A1 de 105 mm seriam recebidas no Brasil durante o conflito. Este cenario somente começaria a mudar a partir da segunda metade da década de 1960, quando os obuseiros M-2 e M-2A1 (M101 AR) de 105 mm passaram a ser gradativamente substituídos em seu país de origem, por novos canhões de artilharia de campanha, gerando assim um grande lote excedente destes equipamentos, que após retirados do serviço ativo e armazenados, passariam a ser incluídos no portfólio de “ Artigos Militares Excedentes”, que seriam logo em seguida ofertados dentro dos termos dos programas de ajuda militar a nações amigas, com as quais o Governo Norte Americano, buscava fortalecer sua influência política. Entre estas nações a ser beneficiadas por estes programas, estava o Brasil, que no ano de 1952, havia celebrado em Washington, o “Acordo de Assistência Militar Brasil Estados Unidos”. Este acordo garantiria as Forças Armadas Brasileiras, o acesso em termos vantajosos econômicos, de uma variada gama de equipamentos militares e armamentos, incluindo neste pacote centenas de carros de combate, caminhões, veículos blindados e peças de artilharia. Neste último item não só o Exército Brasileiro, mas também o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, receberiam uma considerável quantidade de canhões antitanques e obuseiros dos modelos M-101 AR 105 mm e M-114 155 mm Howitzer. Curiosamente neste pacote seriam fornecidos também uma pequena quantidade dos novos obuseiros M-102 105 mm Howtizer, que passavam a ser arma padrão de 105 mm da artilhada das forças armadas norte americanas.

Em operação junto ao 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º G A C), os obuseiros M-102 105 mm foram destinados a 2º e a 3ª Bateria de Obuses, onde passaram a desempenhar em conjunto com as demais baterias de canhões, equipadas com o M-101 AR 105 mm, as missões do grupo de artilharia. O implemento desta nova peça artilharia no Exército Brasileiro, trouxe ensinamentos importantes, principalmente na melhoria da capacidade em mobilidade e operação, principalmente devido ao peso total de 1.496 kg do equipamento, quase mil quilos a menos do obuseiros M-101 AR 105 mm, o que facilitava sua operação, podendo ser facilmente transportado pelas aeronaves Fairchild C-82 e C-119 da Força Aérea Brasileira (FAB). Como ponto positivo, o fato deste obuseiro poder usar a mesma munição padrão explosiva calibre 105 mm utilizada pelos canhões M-101 AR 105 mm, e que já era nacionalizada (produzida pela Imbel - Industria de Material Bélico do Brasil), ajudava a otimizar a operação e principalmente reduzir custos, pois seu custo unitário de aquisição era muito inferior a munição similar norte americana importado. O advento da aquisição dos helicópteros Aerospatiale SA-330L Puma em 1981 pela Força Aérea Brasileira (FAB) deu início as operações de treinamento de transporte helitransportado do Exército Brasileiro, sendo os primeiros ensaios conduzidos com os obuseiros M-102 105 mm, pois originalmente esta peça de artilharia fora desenvolvida com esta finalidade inicial, visando conceder grande mobilidade ao canhão.
Apesar da grande contribuição dada ao desenvolvimento de uma doutrina militar mais atualizada junto ao Exército Brasileiro, a baixa quantidade de peças disponíveis dos obuseiros M-102 105 mm, inviabilizava economicamente os custos de operação e manutenção deste modelo. Assim no ano de 1996 o comando da Força Terrestre decidiu pela desativação deste obuseiro, tornando assim o M-101 AR, a arma padrão de 105 mm no Exército Brasileiro, levando assim novamente a um “downgrade” da doutrina operacional da artilharia nacional. Este cenário somente seria amenizado anos depois com a aquisição de modelos mais modernos, como os obuseiros britânicos os L-118 Light Gun ou italianos M-56 Oto Melara, amenizando assim um pouco a defasagem tecnológica da artilharia de campanha no Brasil. Atualmente existem dois obuseiros M-102 105 mm conservados no pais , sendo um na própria sede do 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º G A C), e outro no acervo do Museu Militar do Comando Militar do Sul, na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul.

Em Escala.
Para representarmos o obuseiro M102 105 mm, fizemos uso do excelente kit da AFV Club na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal, e borracha. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não é necessário proceder nenhuma mudança, com o modelo podendo ser montado direto da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura (camuflagem tática em dois tons) empregado nos obuseiros M102 105 mm, seguindo o mesmo esquema aplicado nos veículos militares a partir de 1983, substituindo assim a pintura original totalmente em “olive drab”, original de seu período de recebimento no Brasil.
Bibliografia:
- M102 howitzer Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M102_howitzer
- 25º Grupo de Artilharia de Campanha - http://www.25gac.eb.mil.br/
- M102 Army Guide http://www.army-guide.com/eng/product1194.html