Astros II (AV-LMU) e (VtrBldEsp)

História e Desenvolvimento. 
Na década de 1950, o Brasil encontrava-se em pleno processo de reconstrução nacional, ainda assimilando os efeitos econômicos e institucionais decorrentes da Segunda Guerra Mundial. Sob a presidência do marechal Eurico Gaspar Dutra (1946–1951), o país mantinha uma economia essencialmente agrária  aproximadamente 70% de sua base produtiva estava concentrada na exportação de café  e uma estrutura industrial incipiente, caracterizada pela forte dependência tecnológica do exterior. Foi nesse cenário de limitações produtivas e de busca por modernização que emergiu a figura do marechal Casimiro Montenegro Filho, oficial da Aeronáutica formado na França e reconhecido por sua visão estratégica e vanguardista. Montenegro concebeu um projeto que romperia paradigmas: a criação de um centro nacional de excelência em engenharia aeronáutica, capaz de formar profissionais altamente qualificados e de consolidar a autonomia tecnológica do país no setor aeroespacial. Sua proposta não se limitava à aquisição de aeronaves estrangeiras  pretendia dotar o Brasil da capacidade de projetar, desenvolver e fabricar seus próprios sistemas aeronáuticos, assegurando independência científica e industrial. Inspirado no modelo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Montenegro idealizou uma instituição que integrasse ensino, pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico, pilares de uma nação moderna e soberana. Com apoio do governo federal, foi selecionada uma área de cerca de 2 mil hectares na cidade de São José dos Campos, no Vale do Paraíba  localidade de posição estratégica, próxima à capital paulista, dotada de clima ameno e afastada de potenciais zonas de vulnerabilidade costeira. Entre as encostas cobertas pela Mata Atlântica e os antigos cafezais da região, nascia o embrião da futura ciência aeronáutica brasileira: o Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), instituído oficialmente pelo Decreto nº 28.060, de 11 de maio de 1950. Nos primeiros anos, o CTA mais se assemelhava a um acampamento militar de pesquisa do que a um centro científico consolidado. Barracões de madeira abrigavam laboratórios improvisados; professores norte-americanos, contratados diretamente do MIT, ministravam aulas em inglês, auxiliados por intérpretes; e os primeiros alunos — jovens oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) e civis aprovados em rigoroso processo seletivo — viviam em alojamentos simples, dedicando-se intensamente aos estudos e experimentações. Em 2 de dezembro de 1954, foi oficialmente inaugurado o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), concebido como o braço acadêmico do CTA e responsável pela formação técnica e científica de uma nova geração de engenheiros. A primeira turma, composta por 30 alunos bolsistas integrais do governo federal, iniciou um curso de cinco anos em Engenharia Aeronáutica, com uma grade curricular fortemente influenciada pela tradição técnico-científica norte-americana. Esses jovens  oriundos de diferentes regiões do país, muitos filhos de imigrantes  viam na ciência e na tecnologia não apenas um meio de ascensão pessoal, mas também uma oportunidade de contribuir para a soberania e o desenvolvimento nacional. Entre os jovens engenheiros formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), destacou-se João Verdi Carvalho Leite, cuja trajetória pessoal e profissional se entrelaça profundamente com a história da indústria aeroespacial brasileira. Dotado de notável capacidade analítica e espírito de liderança, Verdi demonstrava um perfil eminentemente pragmático característica que ele próprio sintetizaria, anos mais tarde, ao afirmar ser alguém capaz de “transformar papel em metal”.

Seus primeiros anos de atuação profissional foram dedicados ao Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD), órgão vinculado ao então Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), onde participou de projetos pioneiros na área de foguetes experimentais. Entre eles, destacou-se o desenvolvimento do Sonda I, lançado em 1961  um foguete de quatro metros de comprimento, capaz de atingir cerca de 60 quilômetros de altitude. Esse feito representou um marco simbólico: o ingresso do Brasil na era espacial, ainda que em caráter experimental, consolidando a vocação científica e tecnológica do recém-criado complexo aeroespacial de São José dos Campos. O ano de 1961 também assinalou um ponto de inflexão tanto na trajetória pessoal de João Verdi quanto na evolução da tecnologia nacional de defesa. Inspirado pelo ambiente inovador do ITA e imerso em um contexto político em que o regime militar, passaria a priorizar investimentos estratégicos em defesa e pesquisa científica, Verdi liderou a formação de um grupo composto por doze engenheiros formados pela instituição. Desse núcleo emergiria a Avibras Indústria Aeroespacial S.A., oficialmente fundada em 14 de setembro de 1977, embora registros indiquem que suas origens informais remontem ao início da década de 1960, sob a forma de uma pequena iniciativa voltada à produção de componentes e sistemas aeroespaciais experimentais. Esse movimento se inseria em um ecossistema nacional, no qual o governo federal buscava estimular a consolidação de uma base industrial de defesa, por meio da transferência de tecnologias desenvolvidas no CTA para empresas privadas com potencial técnico e produtivo. Essa política resultou em uma frutífera colaboração entre a academia militar, institutos de pesquisa e o nascente setor industrial brasileiro, criando as condições para o surgimento de projetos de maior complexidade tecnológica. Foi nesse contexto que ganhou forma o projeto do foguete X-40, um dos primeiros esforços conjuntos entre o Instituto Militar de Engenharia (IME) e a Avibras. O programa tinha por objetivo superar as limitações de alcance, estabilidade e desempenho dos propelentes sólidos então utilizados, que dependiam de importações de insumos estratégicos, como o perclorato de amônio. O motor-foguete de propergol sólido compósito desenvolvido nessa iniciativa foi concebido para aplicações táticas em artilharia de saturação e sistemas de defesa antiaérea, inaugurando uma nova geração de propulsão nacional. Os primeiros protótipos foram fabricados em instalações modestas da Avibras, em São José dos Campos, e posteriormente submetidos a ensaios experimentais no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), no Rio Grande do Norte, que oferecia infraestrutura adequada para testes sob condições reais de lançamento. O projeto contou ainda com colaborações técnicas do IME, especialmente no desenvolvimento do bico de exaustão e da câmara de combustão, ambos otimizados para maior eficiência térmica e redução de vibrações estruturais. Os resultados dos testes realizados em 1978 foram promissores: as queimas estáticas atingiram impulsos específicos superiores aos obtidos pelo foguete Sonda II, evidenciando o avanço tecnológico alcançado e confirmando a viabilidade operacional dos sistemas de propulsão sólida desenvolvidos no país. Esses resultados estabeleceram as bases sobre as quais a Avibras construiria, nos anos seguintes, uma sólida reputação como referência internacional em engenharia de foguetes e sistemas de artilharia de saturação, consolidando o início da era moderna da indústria aeroespacial e de defesa brasileira.
Esse ano marcou um ponto de virada: além do X-40, a Avibras iniciou a produção da linha SBAT (foguetes ar-ar e ar-terra, desenvolvidos pelo CTA) e do motor X-20 (também desenvolvido pelo CTA), consolidando sua expertise em sistemas de propulsão. Uma aplicação notável surgiu em cooperação com a Indústria Bernardini S.A., a Avibras participou da adaptação do X-40 (ou de uma variante designada XF-40) para emprego embarcado sobre chassi blindado. O resultado foi o protótipo XLF-40: um lançador múltiplo montado sobre o casco de um M-3 Stuart modernizado, com uma rampa elevável capaz de acomodar três foguetes de calibre 300 mm. Executados entre 1978 e 1979, os ensaios incluíram disparos direcionados ao mar com o objetivo de avaliar precisão, estabilidade e comportamento balístico em condições práticas. Os testes revelaram, contudo, limitações operacionais relevantes — notadamente instabilidades no sistema hidráulico de elevação e dispersão balística excessiva — que comprometeram a eficácia do conjunto. Em face desses problemas técnicos e do custo para as correções necessárias, o projeto foi abandonado em 1980. Paralelamente, o programa Sistema Brasileiro Ar-Terra (SBAT) constituiu um dos produtos de maior repercussão da Avibras S/A. Originalmente concebido pelo Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), o SBAT foi desenvolvido para oferecer foguetes não guiados de 70 mm (linha SBAT-70) e de 127 mm (linha SBAT-127), otimizados para emprego contra alvos terrestres e aéreos em missões de saturação e de apoio de curta distância. Neste contexto caberia a Avibras transformar os protótipos em armas viáveis para produção em massa.  A força da linha SBAT residia em sua modularidade e simplicidade, permitindo integração em lançadores leves como pods de 7 ou 19 tubos, compatíveis com aeronaves de asa fixa ou rotativa. Projetados para alta taxa de fogo (até 300 disparos por minuto em salvas), eles priorizavam impacto psicológico e saturação de área, com ogivas explosivas de alto fragmentamento ou perfurantes para blindados. Os SBAT-70, por exemplo, aceleravam a 67 G, com estabilização aerodinâmica via aletas dobráveis, e eram lançados de ângulos de até 45° para maximizar dispersão. Uma inovação notável do programa foi a submunição denominada “Dardo” — um dardo de 22 mm projetado para se separar do corpo principal no apogeu da trajetória, estendendo o tempo de exposição e aumentando a probabilidade de engajamento de alvos aéreos. Ensaios desta solução foram realizados no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) em 1989, no âmbito da denominada Operação Pioneira. A produção em série dos foguetes SBAT teve início em 1978, com a Avibras fabricando milhares de unidades para atendimento das necessidades da Força Aérea Brasileira e do Exército Brasileiro. A versatilidade e resistência dos foguetes em condições tropicais favoreceram também a exportação: lotes foram comercializados para países como Iraque, Líbia e Indonésia, impulsionados pelo desempenho operacional e por uma relação custo-benefício competitiva (referida, na época, como aproximadamente 20% do custo de equivalentes ocidentais). A produção em escala começou em 1978, com a Avibras fabricando milhares de unidades para a Força Aérea Brasileira e o Exército Brasileiro. Em 1979, integrou-se ao lançador múltiplo 108-R, um rebocável para 16 foguetes, que equipou a Artilharia de Costa do Exército Brasileiro.

O auge veio no início da década durante o eclodir Guerra Irã-Iraque, quando o sistema SBAT foi comercializado em grandes volumes, proporcionando assim a empresa recursos adicionais que levariam ao desenvolvimento de novos produtos. Em 1981 o comando militar do Iraque ciente de sua inferioridade numérica no efetivo de combatentes em relação ao Irã, solicitou à Avibras uma arma que fosse capaz de compensar essa desvantagem no efetivo, arma a qual deveria possuir grande capacidade de destruição. Um contrato inicial de desenvolvimento no valor de US$ 50 milhões iniciais seria assinado entre as partes, envolvendo um sistema de artilharia de foguetes que contivesse uma larga faixa de alcance para emprego (60 km), três tipos de munições de calibres diferentes, fosse ati-carro e proteção blindada, além de possuir diferentes efeitos nas cabeças de guerra. Neste contexto seria estabelecido o prazo de apresentação do protótipo até início de 1983. Desta maneira seriam iniciados estudos visando o desenvolvimento de um sistema de artilharia de foguetes movél e modular, inspirado em modelos como o norte-americano e o soviético BM-21 Grad. Nasceria assim o sistema de saturação por foguetes nacional, recebendo a denominação de Astros (Artillery SaTuration ROcket System, ou Sistema de Foguetes de Artilharia para Saturação de Área). O primeiro protótipo funcional o Astros I, foi montado sobre um chassi Mercedes-Benz L2013 6x2 nacional, com cabine blindada. Apelidado carinhosamente de "Brucutu" pela aparência robusta seria encaminhado para um amplo programa de testes, com estes revelando graves limitações, como por exemplo tração em terrenos irregulares e falta de capacidade do chassi em suportar o peso do conjunto. Neste momento seria considerado empregar um chassi nacional a ser desenvolvido pela Engesa S/A, mas divergências empresariais impediram esta parceria. Como opção diretoria da Avibras buscou uma solução independente, criando uma empresa subsidiária destinada a fornecer o conjunto mecânico dos veículos terrestres, nascendo assim em 1982 a Tectran Indústria e Comércio S.A. Seu primeiro produto foi um caminhão pesado 6×6, projetado a partir de um similar Mercedes-Benz  2028-A 6x6, importado da Alemanha, que serviu de base para as cinco viaturas componentes do sistema antiaéreo de defesa Astros II. Montado sobre chassi com longarinas de perfil U, o veículo estava equipado motor Mercedes-Benz V8 importado (284 cv e 106 kgf.m), câmbio de cinco marchas com reduzida e bloqueio nos diferenciais, suspensão traseira em tandem, direção hidráulica, cabine blindada e controle interno da pressão dos pneus. Assim, em 1982, o ASTROS II foi apresentado oficialmente as autoridades iraquianas: um lançador autopropulsado com módulos intercambiáveis para foguetes de 127 mm (SS-30), 180 mm (SS-40) e 300 mm (SS-60), alcance de até 90 km e capacidade para 32 disparos em salvas.  O protótipo após testes seria aprovado pelos oficiais do Exército Iraquiano, sendo assinado neste momento o primeiro contrato de aquisição envolvendo 18 lançadores.  Novas encomendas seriam feitas, atingindo o patamar de US$ 1,2 bilhão em compras envolvendo 66 lançadores e e mais de 30 mil foguetes (principalmente SS-60 de 300 mm, com alcance de 90 km), com as entregas sendo realizadas entre os anos de 1984 e 1987.
Paralelamente a Arábia Saudita diversificava suas fontes de armamento para contrabalançar a dependência dos Estados Unidos, especialmente após a crise do petróleo de 1973 e tensões com o Irã xiita. O reino, rico em petrodólares, buscava sistemas acessíveis e eficazes para proteger suas fronteiras e campos petrolíferos, viu no sistema brasileiro uma alternativa para preencher esta lacuna em seu sistema de defesa. Em 1986 seria firmado um contrato avaliado em US$ 300 milhões (equivalente a cerca de US$ 800 milhões em 2025, ajustado pela inflação), envolvendo 60 lançadores ASTROS II Mk1, incluindo foguetes SS-30 (127 mm, alcance 30 km) e SS-40 (180 mm, 40 km), além de veículos de suporte como remuniciadores (AV-RMD) e postos de comando (AV-UCF). Estes conjuntos passaram a ser entregues em lotes a partir de 1986, com o pacote envolvendo treinamento para operadores sauditas no Brasil, no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (RN). O valor total desta negociação chegou a US$ 1 bilhão quando somados munições e logística, tornando-o o segundo maior contrato da Avibras S/A , atrás apenas do iraquiano. Os Astros II foram alocados à Guarda Nacional Saudita e ao Exército Real, equipando brigadas de artilharia para defesa de fronteiras com o Iêmen e Iraque.  O batismo de fogo do sistema Astros II ocorreria em  17 de abril de 1988, o Iraque lançou a Segunda Batalha de Al-Faw como parte da Operação Tawakalna ala Allah (Confiamos em Deus), uma ofensiva final para quebrar o impasse. Com 100 mil tropas, tanques T-72 soviéticos e apoio aéreo, os iraquianos usaram o ASTROS II de forma massiva: baterias posicionadas a 50–80 km de distância saturaram as linhas iranianas com salvas de 32 foguetes por lançador, em ciclos de 18 segundos. Cada salva cobria uma área de 500x300 metros com fragmentos e explosivos, criando "tapetes de fogo" que desmoralizavam e isolavam as trincheiras iranianas. O sistema permitiu barragens de artilharia remota, sem expor tropas iraquianas aos contra-ataques suicidas do Irã. Relatos de comandantes iraquianos (como o general Ra'ad Majid al-Hamdani) destacam que os ASTROS foram cruciais para suprimir baterias iranianas de 155 mm e abrindo corredores para infantaria. Em 24 horas, o Iraque reconquistou 80% da península, capturando 15 mil prisioneiros e equipamentos intactos. Já os Astros II sauditas, veriam combate real em 1991, durante a Operação Tempestade no Deserto, sendo empregados contra forças iraquianas invadindo o Kuwait. Posicionados na fronteira, os sistemas dispararam barragens para suprimir artilharia inimiga. O maior reconhecimento das capacidades do sistema Astros II talvez tenha sido feito pelas forças norte-americanas, nessa altura, quando se tentava encontrar as posições dos tanques e carros de combate do Iraque, foi considerada da maior importância, para os militares da coalização, ter a garantia de que as forças agressoras não poderiam utilizar os seus 66 Astros contra as forças da coalização.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A corrida global pelo desenvolvimento de foguetes e mísseis intensificou-se a partir do término da Segunda Guerra Mundial. Os avanços tecnológicos alcançados durante o conflito, notadamente pelos projetos alemães, como as bombas voadoras V‑1 e os foguetes balísticos V‑2, demonstraram ao mundo a viabilidade de sistemas propulsivos de alto desempenho e despertaram um profundo interesse, que se estendeu simultaneamente aos campos civil e militar.  No Brasil, tais reflexos foram percebidos com especial sensibilidade nas instituições militares de ensino e pesquisa. As primeiras investigações sistemáticas sobre foguetes foram iniciadas na então Escola Técnica do Exército  embrião da formação de engenheiros militares no país, que posteriormente evoluiria para o atual Instituto Militar de Engenharia. Os primeiros protótipos brasileiros empregavam propelentes sólidos e utilizavam tubos de aço cedidos pela Marinha do Brasil, uma escolha que refletia não apenas a busca por confiabilidade, mas também a necessidade pragmática de aproveitar capacidades produtivas já consolidadas. Esses artefatos iniciais foram montados sobre reboques adaptados a viaturas leves Jeep 4×4, o que evidenciava a inventividade das equipes, num período em que a indústria nacional começava a retomar sua expansão e ainda carecia de linhas dedicadas à defesa. Era um tempo de engenhosidade técnica aliada à responsabilidade nacional: pesquisadores militares sabiam que cada teste representava um passo, por menor que fosse, em direção a um futuro de maior autonomia científica. A partir do aprendizado acumulado nessa fase pioneira, foi concebido o foguete de duplo estágio F‑114 DE. Testado com êxito em 1957, o modelo consolidou-se como um marco de amadurecimento tecnológico. Capaz de ultrapassar 3.700 km/h, transportar uma carga útil de 3 kg e atingir alcances superiores a 30 km, o projeto refletia um extraordinário avanço para o país e permaneceria como o mais sofisticado artefato de sua categoria até o início da década de 1970. Sua performance só seria superada, internamente no Brasil, cerca de quinze anos mais tarde, uma prova do elevado nível de inovação alcançado por seus idealizadores. Entre 1966 e 1968, novos ciclos de pesquisa buscaram ampliar a mobilidade e a proteção das plataformas de lançamento, acompanhando a crescente mecanização das Forças Armadas. Viaturas blindadas 6×6 norte-americanas, como o M‑20 Comando e o M‑8 Greyhound, foram experimentalmente empregadas como plataformas móveis, simbolizando a transição de um período artesanal para um estágio mais estruturado de integração entre defesa e engenharia aplicada. Ainda nesse recorte temporal, foram estudados e prototipados dois foguetes de 81 mm, a partir de esforços conjuntos liderados pela Diretoria de Pesquisa e Ensino Técnico e pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, com participação científica do Instituto Militar de Engenharia (IME). Embora utilizassem a mesma base veicular, os sistemas de lançamento adotavam arranjos técnicos distintos, pois neste momento buscava-se avaliar diferentes concepções doutrinárias e soluções mecânicas, num ambiente de experimentação metodológica e de aperfeiçoamento incremental. 

O Exército Brasileiro buscava, naquele momento, modernizar seus meios de apoio de fogo com um sistema que equilibrasse mobilidade, alcance, precisão e autonomia industrial, alinhando-se às doutrinas militares mais avançadas do período pós-guerra e às demandas de defesa de um território continental. Assim  o  ASTROS II (Artillery Saturation Rocket System) começou a ser formalmente estudado a partir de 1986, que  implementando uma solução de lançamento de foguetes para saturação do campo de batalha.  diferentemente de outras armas de artilharia recebidas no passado por acordos internacionais cujo suporte logístico se tornava dependente da importação de peças e canais diplomáticos externos, o ASTROS II oferecia um diferencial inédito: produção local, manutenção nacional, e possibilidade de evolução tecnológica contínua sob domínio brasileiro. Assim em 1987, o governo brasileiro, por intermédio do Ministério do Exército, formalizou o primeiro contrato de aquisição do sistema de artilharia de saturação de longo alcance, capaz de realizar saturação de área em profundidade, com elevada mobilidade estratégica e rápida cadência de fogo, introduzindo a possibilidade real de negação de área, neutralização de alvos logísticos e engajamento de objetivos situados além do alcance tradicional da artilharia de corpo de tropa.  Também se iniciava um processo de formação de quadros em novas especialidades: Direção de Tiro Automatizada, balística de foguetes, meteorologia aplicada ao tiro e logística modular de remuniciamento em alta cadência. Este acordo estimado na ordem de US$ 57 milhões em valores correntes de 1987, envolvia a aquisição de uma bateria completa, sendo composta por  06 × Viaturas Lançadoras Múltiplas de Foguetes AV-LMU baseadas no chassi 6×6 Tectran VBT-2028; 06 × Viaturas de Remuniciamento AV-RMD, também sobre a plataforma Tectran VBT-2028; 02 × Postos de Comando de Bateria AV-UCF (Unidade de Comando e Controle de Fogo), montados sobre caminhão táctico Mercedes-Benz L-1113; 01 × Radar de Meteorologia / Unidade Meteorológica AV-MET, embarcado em caminhão Mercedes-Benz L-1113; 01 × Oficina de Manutenção de Bateria AV-OFV, instalada sobre caminhão Mercedes-Benz L-1113; 01 × Viatura de Direção de Tiro FDC/ASTROS, integrada ao posto de comando e Viaturas adicionais de apoio logístico leve (transporte de equipe, segurança e observação), predominantemente modelos 4×4 da frota existente no Exército Brasileiro à época. Essa configuração a tornava auto-suficiente em comando, cálculo balístico, observação meteorológica, remuniciamento em alta cadência e manutenção de campo, um diferencial expressivo na doutrina de artilharia nacional naquele momento histórico. Por fim neste investimento inicial estava prevista a  aquisição de estoques iniciais de foguetes não guiados, com calibres modulares padrão do sistema (127 mm, 180 mm e 300 mm).  Neste contexto um dos principais pilares da efetividade do sistema Astros II se baseava no sistema de comando e coordenação com o sistema de Direção de Tiro FDC (Fire Direction Center). O processo balístico compilava dados das  viaturas lançadoras (LMU),  Unidade de Controle de Fogo (UCF), viatura meteorológica (MET), sensores externos ou radares de vigilância e  postos de observação avançada. Estas dados seriam empregados para a gerar soluções de tiro e determinar o momento exato de disparo, com o FDF sendo ainda responsável pela  quantidade de munições a serem lançadas; tipo de foguete empregado; sequência dos disparos; intervalos e correções.
Atendendo ao cronograma inicial os primeiros veículos e seus respectivos sistemas pertinentes ao modelo ASTROS II MK3 seriam entregues ao Exército Brasileiro a partir de agosto de 1989 em uma cerimônia presidida pelo Comandante do Exército General Leônidas Pires Gonçalves. Inicialmente estes novos equipamentos seriam destinados a operação a estrutura de material e pessoal do 32° GAC (Grupo de Artilharia de Campanha). Posteriormente para a operaçao do sistema ASTROS II, seria criado o 6º Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes (6º GLMF), sediado na cidade de sediado em Formosa, no estado de Goiás, próximo à capital federal Brasília.  Após a conclusão de um abrangente programa de formação e adestramento das primeiras guarnições, a primeira bateria do Sistema de Artilharia de Foguetes ASTROS II foi oficialmente ativada em meados de 1990, marcando a incorporação efetiva desse novo vetor de apoio de fogo ao Exército Brasileiro. Os resultados operacionais obtidos durante as avaliações iniciais revelaram-se amplamente positivos, demonstrando a elevada capacidade destrutiva, mobilidade tática e flexibilidade do sistema. Este desempenho motivou o Exército Brasileiro a ampliar progressivamente sua dotação, culminando na aquisição de novos meios até alcançar o total de cinco baterias, distribuídas pelas seguintes organizações militares: 6º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (6º GACosM) – Praia Grande (SP) ;  8º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (8º GACosM) – Niterói (RJ); b1º/10º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado – Macaé (RJ);  1ª Bateria de Lançadores Múltiplos de Foguetes (1ª Bia LMF) – Brasília (DF) e  3ª Bateria de Lançadores Múltiplos de Foguetes (3ª Bia LMF) – Cruz Alta (RS) O conjunto de meios então incorporado totalizava vinte viaturas lançadoras (LMU), dez  viaturas carregadoras-municiadoras (RMD), duas Unidades de Controle de Fogo (UCF), duas Unidades Oficina (OFV), além de viaturas meteorológicas (MET) essenciais para o cálculo balístico e correção de tiro. Ao longo do início da década de 2000, o Exército Brasileiro passou a adotar uma doutrina de artilharia de foguetes mais abrangente, orientada para o conceito de “fogos profundos”, interoperáveis com outras armas e compatíveis com as exigências operacionais contemporâneas. Nesse contexto, novas baterias foram ativadas ou reorganizadas; iniciou-se a migração para estruturas modulares; as unidades passaram a ser agrupadas em Grupos de Lançadores Múltiplos de Foguetes (GLMF), centralizando comando, controle e logística. Essas mudanças foram acompanhadas por avanços tecnológicos relevantes, entre eles a integração de munições de maior alcance, como o foguete SS-40 e seus sucessores; a incorporação de sistemas digitalizados de comando e controle; a modernização dos processos logísticos e da cadeia de suprimento. Em 2009, a Alemanha suspendeu a exportação de chassis Mercedes-Benz para a Avibras, o que inviabilizou a continuidade do emprego dessa plataforma nos novos lotes do ASTROS II. Como consequência, a empresa buscou uma alternativa internacional e selecionou o chassi Tatra T-815-7 (6x6), de origem tcheca. Essa mudança representou um salto qualitativo importante, pois o novo chassi conferiu: maior mobilidade em terrenos acidentados; melhor desempenho off-road e maior capacidade de carga e estabilidade para vetores de foguetes de maior calibre. 

A evolução das ameaças regionais e globais colocou em evidência a importância de capacidades de dissuasão baseadas em fogos de longo alcance; munições guiadas com precisão; operações conjuntas apoiadas por sensores avançados; mobilidade estratégica e capacidade de sobreviver em ambientes saturados. Além disso, conflitos contemporâneos como as Guerras do Golfo, do Afeganistão e do Cáucaso  demonstraram o valor de sistemas de saturação e mísseis táticos capazes de atingir alvos críticos em profundidade. Neste contexto apesar o sistema ASTROS II, embora eficiente, operava com um parque de viaturas com mais de 30 anos de uso, e fazia uso ainda de sistemas analógicos para operação de direção e tiro, se fazendo necessário promover um ciclo de atualização tecnológico. Como resposta, o Exército Brasileiro, por meio da Estratégia Braço Forte e do Plano de Articulação e Equipamento da Força Terrestre (PAEEx), instituiu o Projeto Estratégico ASTROS 2020, conduzido em parceria com a Avibras. O desenvolvimento formal foi iniciado em 2011, com três pilares centrais, com o primeiro se baseando na modernização das viaturas existentes (MK-3), envolvendo novos sistemas de navegação inercial/GPS; computadores embarcados de missão; softwares de controle de fogo compatíveis com o sistema 2020; novos rádios táticos criptografados; cabine climatizada e reforçada. O segundo pilar envolvia o desenvolvimento de uma nova geração de plataformas baseada no chassi Tatra T-815-7 (6x6) com a viatura recebendo a designação de ASTROS MK-6.  E por fim a criação de um míssil tático nacional o AV-TM 300, tornando o Brasil o único país do Hemisfério Sul com capacidade de dissuasão por mísseis táticos guiados de 300 km de alcance, respeitando os limites do MTCR (Missile Technology Control Regime). A nova família ASTROS 2020 além de poder fazer uso do sistema de foguetes padrão, poderia empregar ainda os foguetes SS-80, FOG-MP (foguete guiado) e como dito o míssil tático guiado AV-TM 300.  O grande destaque, no entanto, se daria pela suite eletrônica, com a Viatura de Busca de Alvos -  AV-VBA sendo equipada com radar de vigilância terrestre, sensor eletro-óptico infravermelho, telêmetro laser, designador de alvos e enlace de dados para integração com o sistema de comando e controle. Já a Unidade de Controle de Fogo - AV-UCF estaria equipada com um sistema digital de comando e controle com apuração de tiro automatizada, sendo ainda integrada com redes do Exército Brasileiro e com sensores estratégicos. O contrato inicial formalizado em 2012 para a atualização tecnológica de 38 viaturas MK-3 existentes na frota, bem como a aquisição de 8 novas baterias da versão MK-6.  No início de 2014 seria entregue o primeiro lote do MK-6, compreendendo 6 LMU (lançadoras múltiplas universal), 1 remuniciadora (RMD), 1 posto de comando/controle (PCC), 1 posto meteorológico (MET). Em meados do ano seguinte seriam recebidos o primeiro lote de viaturas modernizadas MK-3M, composto por 6 lançadores e 1 remuniciador. Vale ainda ressaltar que em 2015 o Exército Brasileiro decidiu pelo sistema de Controle de Tiro e Rastreamento Fieldguard 3 Fire Control da empresa alemã Rheinmetall, passando este sistema a ser adotados nos lotes subsequentes de viaturas MK-3M e MK-6. Ainda dentro do cronograma inicial estima-se que 2026 ocorra a operacionalização inicial do míssil tático AV-TM 300, envolvendo a entrega  de 1 bateria experimental de mísseis (2–4 LMU configurados e de  20 a 30 mísseis).
No início da década de 2000, o  Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil , seguindo tendências internacionais de forças anfíbias modernas, passou a estudar a implementação de capacidade de apoio de fogo de longo alcance, capaz de reforçar operações anfíbias; prover negação de área (A2/AD) em apoio à Esquadra e atingir alvos em profundidade no litoral ou no interior.  Nesse contexto, o sistema ASTROS 2020 da Avibras passou a ser visto como uma alternativa nacional, móvel e já consolidada no Exército Brasileiro. Após estudos, em 2012 dentro dos termos do Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB), seria celebrado um contrato prevendo a aquisição de uma bateria completa, treinamento de pessoal dos Fuzileiros, suporte logístico integrado e foguetes dos modelos SS-30,  SS-40, SS-60 e SS-09 TS.  Em 13 de janeiro de 2014, o Comando de Material de Fuzileiros Navais (CMatFN) assinou o contrato com a empresa AVIBRAS para aquisição de uma viatura-oficina veicular e eletrônica, que complementará o previsto no “Sistema Astros CFN 2020”. Já em 17 de março do mesmo ano o setor operativo da Marinha do Brasil receberia o Sistema de Lançadores Múltiplos de Foguetes Astros CFN 2020, com este lote envolvendo três unidades dotadas de lançadores múltiplos de foguetes superfície-superfície, uma especializada em remuniciamento, outra em comando e controle e uma de monitoramento meteorológico. Para sua operação seria criada a Bateria de lançadores Múltiplos de Foguetes (BialMF), sendo diretamente subordinada ao Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav). Oficialmente o veículo lançador receberia a designação de Viatura Blindada Especial (VtrBldEsp) 6x6 ASTROS AV-LMU. Em 2016 o Curso de Operação do Sistema ASTROS foi inaugurado e ministrado pelo Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais, sendo supervisionado pelo Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC).  Sua introdução operacional fazendo uso com foguetes com alcance em 30 e 80 km, possibilitaria o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) a empregar o conceito de “Batalha Profunda" com grande poder de fogo, com efeito de saturação sobre alvos que anteriormente só podiam ser atingidos por aeronaves. Além da sua capacidade de saturação de área, o Sistema Astros CFN 2020 também compatível com o projeto do Míssil Tático de Cruzeiro MTC-300, desenvolvido pela Avibras, e espera-se que este incorporado a arsenal da Bateria de lançadores Múltiplos de Foguetes (BialMF).  Contudo o avançar do desenvolvimento do Míssil Antinavio Nacional (MANSUP), descortinaria mais uma opção de emprego dos Astros MK-6  do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).  Em outubro de 2024, a SIATT  S/A  (Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico) anunciou a integração do míssil com o lançador múltiplo de foguetes Astros MK-6 como uma variante de bateria costeira. Este processo sob orientação da Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM), seria finalizado com êxito no dia 17 de dezembro de 2024, quando foi realizado o primeiro lançamento, no centro de testes da Restinga da Marambaia em 17 de dezembro de 2024. Conceitualmente o MANSUP foi desenvolvido para garantir a proteção das águas territoriais brasileiras, sendo projetado para neutralizar navios de combate que representem ameaças à soberania marítima. A grande vantagem da integração deste míssil na lançadora do sistema de foguetes de artilharia para saturação de área, é que os usuários de sistema poderão expandir sua capacidade de atingir alvos no mar com altíssima precisão.

Em Escala.
Para representarmos o Avibras Astros II MK-6  (AV-LMU) "EB51681", fizemos uso de um kit em resina impresso pelo fabricante  3D Scale Models na escala 1/35, modelo que pode ser impresso sob encomenda em várias escalas. O modelo apresenta bom nível  impressão e detalhes das peças, sendo  no entanto configurar alguns itens complementares em scratch build como os para-brisas transparentes e seus respectivos limpadores e  equipamentos internos. Empregamos decais oriundos de diversos sites confeccionados pela FCM Decais alusivos ao Exército Brasileiro. 
O esquema de cores FS (Federal Standart) representado uma camuflagem tática em dois tons, descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura aplicado aos ASTROS MK-3, salientando que a os veículos pertencentes ao primeiro lote entregue receberam um esquema total em verde oliva. Já os v ASTROS MK-6 pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, receberam o esquema de camuflagem diferente do Exército Brasileiro, se adequando ao padrão aplicado aos veículos táticos da Marinha do Brasil. 
Bibliografia: 
A Bateria de lançadores Múltiplos de Foguetes (BialMF) - Marinha do Brasil 
- ASTROS II -Defesa Aerea e Naval  https://www.defesaaereanaval.com.br/
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf
- SIATT – MANSUP está pronto para defesa de litoral -  https://tecnodefesa.com.br/

M-4 Sherman Composite Hull (CCM)

História e Desenvolvimento.
Durante a segunda metade da década de 1930, o cenário político e militar europeu foi profundamente transformado pelo processo de rearmamento conduzido pelo governo nacional-socialista da Alemanha. Diferentemente de iniciativas anteriores, esse ambicioso plano não se limitava à produção de novos armamentos, mas fundamentava-se na formulação de conceitos e doutrinas militares inovadoras, que seriam aplicadas de forma integrada no campo de batalha. Os carros de combate passaram a ocupar papel central nessa estratégia, concebidos não apenas como instrumentos de apoio à infantaria, mas como o eixo principal da ofensiva.  Apesar das restrições impostas pelo Tratado de Versalhes, o regime nazista conduziu um vigoroso e clandestino programa de rearmamento. A partir de meados da década de 1930, as forças armadas alemãs (Wehrmacht) apresentavam notável avanço tecnológico e operacional, despertando crescente preocupação entre as potências ocidentais. Do outro lado do Atlântico, o serviço de inteligência do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) acompanhava atentamente essa evolução.  Os relatórios produzidos nesse período apontavam que os novos carros de combate alemães já superavam em desempenho os modelos norte-americanos então em uso, como os M-1 e M-2. Diante desse cenário, em abril de 1939, foi instituído um programa nacional de desenvolvimento de novos carros de combate, com o objetivo de modernizar a força blindada norte-americana.  O plano previa a criação de um veículo que combinasse mobilidade, proteção e poder de fogo compatíveis com as exigências dos combates modernos. Entre as diretrizes técnicas definidas para o novo modelo que resultaria no M-3 Light Tank — destacava-se a instalação do canhão M-22 de 37 mm, considerado adequado para confrontar os blindados leves da época, e a aplicação de um sistema de blindagem projetado para resistir ao impacto de projéteis antitanque do mesmo calibre. Contudo, desde as fases iniciais, pairavam dúvidas quanto à real capacidade de proteção do veículo e à efetividade de seu armamento diante dos modernos carros de combate alemães e japoneses, que já demonstravam clara superioridade no campo de batalha. Os temores expressos por uma significativa parcela dos oficiais foram confirmados em junho de 1940, com o início da campanha na França, onde os  blindados alemães Panzer III e Panzer IV, obtiveram vitórias esmagadoras contra os melhores carros de combate franceses e britânicos disponíveis na época. Tornou-se evidente que o canhão  de 37 mm se mostrava completamente ineficaz, tornando necessário equipar os novos carros de combate com um canhão de calibre 75 mm.  Entretanto os os novos M-3 poderiam ser adaptados para acomodar essa arma, uma vez que seu peso maior exigiria o desenvolvimento de uma nova torre giratória. Embora essa abordagem estivesse sendo considerada, buscou-se simultaneamente uma solução provisória, que envolveu uma modificação experimental de um M-2, resultando na criação de um obuseiro autopropulsado de 75 mm. Os testes de campo desse protótipo levaram à conclusão de que o chassi do M-2 existente poderia ser utilizado em combinação com uma superestrutura redesenhada, mantendo ainda a arma de 37 mm instalada em uma torre giratória. Nascia assim o carro de combate médio M-3, um modelo que apesar de apresentar certas limitações técnica, poderia ser produzido em larga escala e com maior rapidez em comparação aos carros de combate convencionais, atendendo, assim, às demandas emergenciais não apenas dos Estados Unidos, mas também da Grã-Bretanha. 

No final de janeiro de 1942, os primeiros tanques M-3 Grant, chegaram ao Norte da África para reforçar as forças britânicas. As tripulações foram submetidas a um rigoroso programa de treinamento, com o objetivo de prepará-las para confrontos contra as forças do Eixo. O canhão principal M-2 de 75 mm, baseado em um modelo de artilharia de campanha francês, permitiu ao Exército Real Britânico (Royal Army) utilizar amplos estoques de munição remanescentes da Primeira Guerra Mundial. O batismo de fogo  ocorreu em 27 de maio de 1942, durante a Batalha de Gazala, no Norte da África. Sua introdução representou uma surpresa tática para as forças alemãs, que não estavam preparadas para enfrentar o canhão de 75 mm. Nesta batalha os M-3s foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso potência e armadura rebitada.  Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico (Royal Army), enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição nas forças aliadas. O projeto que culminaria no desenvolvimento do Medium Tank M-4, futuramente consagrado pelo nome “Sherman”, teve início ainda antes da entrada em serviço do modelo M-3 Lee/Grant. A iniciativa foi conduzida pelo U.S. Army Ordnance Department, refletindo a necessidade premente de dotar as forças norte-americanas de um carro de combate médio moderno, confiável e de fácil produção em larga escala, capaz de aliar mobilidade, poder de fogo e simplicidade de manutenção — atributos considerados essenciais diante da iminência de um conflito global de proporções industriais. Naquele contexto, os Estados Unidos preparavam-se para uma guerra que exigiria o máximo de eficiência de sua base industrial. Assim, decidiu-se que o novo modelo deveria aproveitar parte da estrutura e da experiência adquirida com o M-3, mas incorporando melhorias fundamentais, entre elas a instalação de uma torre totalmente rotativa de 360 graus equipada com o canhão M-3 de 75 mm, o que representava um avanço considerável em relação ao armamento lateral fixo do modelo anterior. O protótipo do M-4 foi finalizado em outubro de 1941, nas instalações da Baldwin Locomotive Company, na Filadélfia — um dos tradicionais complexos industriais mobilizados para o esforço de guerra. O veículo apresentava peso bruto de aproximadamente 30 toneladas e utilizava o sistema de suspensão vertical por molas volutas (VVSS), já comprovado pela robustez e facilidade de manutenção. Seu sistema de propulsão era garantido por um motor radial aeronáutico Curtiss-Wright Continental R-975E, movido a gasolina, que desenvolvia 330 cavalos de potência, assegurando ao tanque um bom equilíbrio entre desempenho e confiabilidade. A meta inicial estabelecida pelo Departamento de Artilharia previa uma produção de cerca de 2.000 unidades mensais, demonstrando a magnitude do planejamento industrial que começava a se consolidar.  Antes, porém, o protótipo passou por extensos programas de testes e avaliações de campo, durante os quais foram identificadas e corrigidas falhas de projeto e incorporadas melhorias ergonômicas e mecânicas. Esses ajustes deram origem à primeira versão de produção em série, cuja fabricação iniciou-se em fevereiro de 1942. 
Nesta batalha os M-3s foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso-potência e armadura rebitada. Esta última apresentava a desvantagem de gerar ricochetes internos dos rebites sob impacto, causando ferimentos às tripulações.  Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico (Royal Army), enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição nas forças aliadas. O projeto que culminaria no desenvolvimento do Medium Tank M-4, futuramente consagrado pelo nome “Sherman”, teve início ainda antes da entrada em serviço do modelo M-3 Lee/Grant. A iniciativa foi conduzida pelo U.S. Army Ordnance Department, refletindo a necessidade premente de dotar as forças norte-americanas de um carro de combate médio moderno, confiável e de fácil produção em larga escala, capaz de aliar mobilidade, poder de fogo e simplicidade de manutenção — atributos considerados essenciais diante da iminência de um conflito global de proporções industriais. Naquele contexto, os Estados Unidos preparavam-se para uma guerra que exigiria o máximo de eficiência de sua base industrial. Assim, decidiu-se que o novo modelo deveria aproveitar parte da estrutura e da experiência adquirida com o M-3, mas incorporando melhorias fundamentais, entre elas a instalação de uma torre totalmente rotativa de 360 graus equipada com o canhão M-3 de 75 mm, o que representava um avanço considerável em relação ao armamento lateral fixo do modelo anterior. O protótipo do M-4 foi finalizado em outubro de 1941, nas instalações da Baldwin Locomotive Company, na Filadélfia  um dos tradicionais complexos industriais mobilizados para o esforço de guerra. O veículo apresentava peso bruto de aproximadamente 30 toneladas e utilizava o sistema de suspensão vertical por molas volutas (VVSS), já comprovado pela robustez e facilidade de manutenção. Seu sistema de propulsão era garantido por um motor radial aeronáutico Curtiss-Wright Continental R-975E, movido a gasolina, que desenvolvia 330 cavalos de potência, assegurando ao tanque um bom equilíbrio entre desempenho e confiabilidade. A meta inicial estabelecida pelo Departamento de Artilharia previa uma produção de cerca de 2.000 unidades mensais, demonstrando a magnitude do planejamento industrial que começava a se consolidar. Antes, porém, o protótipo passou por extensos programas de testes e avaliações de campo, durante os quais foram identificadas e corrigidas falhas de projeto e incorporadas melhorias ergonômicas e mecânicas. Esses ajustes deram origem à primeira versão de produção em série, o M-4, cuja fabricação iniciou-se em fevereiro de 1942. Para atender às especificações do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), foi desenvolvido o modelo M-4A2, que substituiu o motor original a gasolina pelo motor diesel General Motors Twin 6-71. Essa alteração visava unificar o tipo de combustível utilizado pelas forças blindadas com o empregado pela frota naval, otimizando a logística. 

O M-4 Sherman teve seu batismo de fogo em 23 de outubro de 1942, durante a Segunda Batalha de El Alamein, travada no deserto do Norte da África. O confronto, conduzido pelo 8º Exército Britânico sob o comando do general Bernard Montgomery, marcou um ponto de inflexão na guerra do deserto e, ao mesmo tempo, revelou o potencial do novo carro de combate médio norte-americano. Operado por tripulações britânicas experientes, que já haviam adquirido ampla vivência em operações mecanizadas contra as forças do Afrika Korps de Erwin Rommel, o M-4 demonstrou superioridade técnica e operacional em relação ao seu antecessor, o M-3 Lee/Grant. Seu canhão de 75 mm, montado em torre totalmente giratória, proporcionava melhor capacidade ofensiva e flexibilidade tática, enquanto a confiabilidade mecânica e o bom desempenho em terrenos arenosos o tornaram um recurso valioso para as forças aliadas. Nas areias de El Alamein, o M-4 Sherman provou-se um elemento decisivo na retomada da iniciativa estratégica pelos Aliados no Norte da África. Contudo, quando o modelo foi empregado pela primeira vez em larga escala pelo Exército dos Estados Unidos, durante a Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, os resultados foram menos animadores. Enfrentando forças alemãs veteranas e bem equipadas, as unidades da 1ª Divisão Blindada norte-americana sofreram pesadas perdas, reflexo direto da inexperiência das tripulações e da falta de coordenação tática entre as armas de infantaria, artilharia e blindados. A derrota em Kasserine representou, contudo, um aprendizado doloroso, que levaria à rápida reformulação das doutrinas de emprego das forças blindadas dos Estados Unidos.  Posteriormente, a pedido do Exército dos Estados Unidos (US Army), foi criada a variante M-4A3, equipada com o motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 hp, proporcionando maior potência. A versão final de produção, o M-4A4, tornou-se disponível em julho de 1942. Embora visualmente semelhante ao M-4A1, o M-4A4 distinguia-se por seu chassi construído com chapas retas soldadas, em vez de uma peça única fundida. As primeiras unidades apresentavam uma blindagem frontal tripartida, unida por parafusos, característica herdada diretamente do tanque M-3 Lee.  No teatro de operações europeu, o M-4 Sherman foi introduzido durante a Operação Husky, a invasão aliada da Sicília, em julho de 1943. Nesse estágio da guerra, os M-4A1 frequentemente operando ao lado dos tanques leves M-3 Stuart  enfrentaram forte resistência por parte das tropas alemãs e italianas, que faziam uso extensivo de canhões antitanque e armas automáticas de 37 e 50 mm. Em 11 de julho de 1943, os M-4 prestaram apoio crucial à infantaria aliada em Piano Luco. Durante os combates na Itália, as forças aliadas sofreram a perda de centenas de veículos, mas a 3ª Brigada da 1ª Divisão Blindada alcançou êxito ao entrar em Roma.  Durante a Operação Overlord o M-4 desempenhou um papel crucial, apesar  de enfrentar desafios significativos contra os tanques alemães Tiger e Panther, que possuíam armamento e blindagem superiores. Contudo a quantidade e a confiabilidade dos Shermans permitiram que as forças aliadas mantivessem a superioridade numérica e logística. Ao longo da campanha europeia, os M-4 foram essenciais no confronto com os tanques Panzer, contribuindo para a progressão aliada até a derrota da Alemanha em 1945.
No teatro de operações do Pacífico, o M-4 Sherman foi a principal arma blindada do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), seu primeiro grande teste ocorreria durante a Campanha das Ilhas Gilbert e Marshall (1943–1944).  Na Batalha de Tarawa, em novembro de 1943, tanques do tipo M-4A2 do 2º Batalhão de Tanques dos Fuzileiros Navais desembarcaram sob intenso fogo inimigo. Nos combates subsequentes, como nas Campanhas das Ilhas Marianas e Palau (1944)  especialmente em Saipan, Tinian e Peleliu , os M-4 Sherman consolidaram seu papel como instrumento fundamental no apoio às forças de infantaria. Durante a Campanha das Filipinas (1944–1945) e a Batalha de Okinawa (1945), os Shermans atuaram em conjunto com engenheiros de combate e unidades lança-chamas, desempenhando papel essencial na destruição de posições entrincheiradas e túneis subterrâneos. A experiência de combate levou ao desenvolvimento de variantes adaptadas, como o M-4A3R3 "Zippo", equipado com lança-chamas, amplamente utilizado pelos Fuzileiros Navais em Okinawa e Iwo Jima. A produção do M-4 Sherman foi realizada em diversas fábricas nos Estados Unidos, incluindo Baldwin Locomotive Works, Pressed Steel Car Company, American Locomotive Co., Pullman-Standard Car Company e Detroit Tank Arsenal. Entre 1942 e julho de 1945, foram fabricadas 49.234 unidades, excluindo protótipos. A grande maioria foi destinada às forças armadas norte-americanas, com uma parcela significativa fornecida a aliados por meio do programa Lend-Lease Act. Após o término do conflito milhares de M-4 foram abandonados na Europa pois seu processo de retorno aos Estados Unidos se mostraria economicamente inviável.  Muitos foram aproveitados por governos locais em suas forças armadas ou vendidos como sucata.  Quando, em junho de 1950, as tropas da Coreia do Norte invadiram o território sul-coreano, equipadas majoritariamente com tanques soviéticos T-34/85, os norte-americanos se viram diante de um conflito repentino. Nos primeiros meses da guerra, o contingente norte-americano destacado para a península coreana dispunha apenas de tanques leves M24 Chaffee, claramente inferiores aos T-34/85 em poder de fogo e blindagem. Essa disparidade evidenciou a urgência de reforçar as unidades com blindados mais robustos, elencando-se o Sherman.  As versões mais empregadas foram os M-4A3E8, conhecidos como “Easy Eight”, com se batismo de fogo ocorrendo ainda em julho de 1950, quando unidades blindadas norte-americanas enfrentaram forças do Exército Popular da Coreia (KPA) nos arredores de Osan e Taejon. Com a consolidação das linhas de defesa e a chegada de reforços, o Sherman passou a desempenhar funções cruciais no apoio direto à infantaria, defesa de posições avançadas e operações ofensivas de ruptura, em conjunto com o mais moderno M-26 Pershing e, posteriormente, com o M-46. Posteriormente grande parte da frota residual seria cedida nos termos do  Programa de Assistência Militar (MAP) a  pelo menos 47 nações amigas dos Estados Unidos. Entre os conflitos em que o M-4 teve participação destacada, merecem menção especial as Guerras Árabe-Israelenses. Modelos como o M-50 “Super Sherman” e o M-51 “Isherman”, equipados com canhões franceses de 75 mm e 105 mm, participaram ativamente nas campanhas de 1956 (Crise de Suez), 1967 (Guerra dos Seis Dias) e 1973 (Guerra do Yom Kippur). O M-4 também figurou nos campos de batalha do subcontinente indiano, durante a Guerra Indo-Paquistanesa de 1965.  O último registro oficial de Shermans em uso militar efetivo remonta ao início do século XXI, com unidades isoladas ainda ativas no Chile e em países do Oriente Médio e do Caribe, encerrando, assim, a trajetória operacional de um dos tanques mais emblemáticos e longevos da história militar moderna.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), o governo dos Estados Unidos passou a observar com crescente apreensão a possibilidade de uma incursão das potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão — no continente americano. A rápida expansão militar alemã na Europa, culminando com a capitulação da França em junho de 1940, agravou essas preocupações, sobretudo pela hipótese de que forças nazistas pudessem utilizar territórios coloniais franceses, como Dacar, na África Ocidental, e as Ilhas Canárias, no Atlântico, como bases avançadas para operações militares. Nesse cenário de incerteza geopolítica, o Brasil emergiu como peça fundamental na estratégia hemisférica de defesa dos Aliados, tanto por sua posição geográfica privilegiada no Atlântico Sul  o ponto mais próximo entre as Américas e o continente africano  quanto por seu papel como fornecedor de matérias-primas indispensáveis ao esforço de guerra. A vulnerabilidade do litoral brasileiro, especialmente da região Nordeste, despertou a atenção dos planejadores norte-americanos, que viam o país como o elo mais frágil da defesa continental. A proximidade com a costa africana, aliada às ambições expansionistas alemãs naquele território, tornava o Brasil o ponto mais provável para uma tentativa de desembarque inimigo em caso de ofensiva do Eixo no hemisfério ocidental. Paralelamente, a expansão japonesa no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul ampliava o valor estratégico do Brasil. Com a queda da Malásia sob domínio nipônico, o país consolidou-se como o principal fornecedor mundial de látex natural — matéria-prima essencial para a produção de borracha, componente vital da indústria bélica aliada. A crescente dependência norte-americana desses insumos fortaleceu os laços comerciais e políticos entre Brasília e Washington. Do ponto de vista geoestratégico, o Nordeste brasileiro assumiu papel central na logística intercontinental. As cidades de Natal, Recife e Fortaleza ofereciam condições ideais para o estabelecimento de bases aéreas e navais, permitindo o trânsito de tropas, aeronaves e suprimentos entre a América e os teatros de operações no Norte da África e na Europa. A chamada “rota do Atlântico Sul” tornou-se vital para o transporte de material bélico, configurando o território brasileiro como uma verdadeira ponte entre os continentes. A intensificação das ameaças globais e o avanço das potências do Eixo aproximaram politicamente o Brasil dos Estados Unidos. Essa cooperação resultou em acordos bilaterais de defesa e em expressivos investimentos militares, voltados à modernização das Forças Armadas Brasileiras. O ponto culminante dessa parceria foi a adesão do Brasil ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), promulgado pelo governo Roosevelt, que permitiu o fornecimento de armamentos, veículos e aeronaves aos países aliados. Naquele momento, o Exército Brasileiro enfrentava sérias limitações materiais e doutrinárias, operando com equipamentos obsoletos e insuficientes. Por meio do Lend-Lease, o Brasil recebeu uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material militar moderno  incluindo carros de combate, viaturas motorizadas, aeronaves e armamentos leves.

Esses recursos foram fundamentais não apenas para a modernização das forças terrestres e aéreas brasileiras, mas também para garantir a defesa do Atlântico Sul, onde submarinos alemães promoviam intensa campanha contra embarcações mercantes. Nesse contexto de reestruturação militar e alinhamento estratégico com os Estados Unidos, o Exército Brasileiro passou a receber um número expressivo de veículos de origem norte-americana, em especial carros de combate destinados à modernização de sua força terrestre. Até então, o parque de blindados nacional era limitado a poucos exemplares dos antigos Fiat-Ansaldo CV3-35 Modelo II, de procedência italiana, já tecnicamente ultrapassados frente às exigências da guerra moderna. No âmbito do Programa de Assistência Militar (Lend-Lease Act), o Brasil foi inicialmente contemplado com veículos considerados de padrão intermediário, uma vez que os tanques médios M-4 Sherman  então empregados em larga escala pelos Aliados na Europa e no Pacífico  eram prioritariamente destinados às frentes de combate. Assim, as primeiras remessas enviadas ao país consistiram em carros de combate leves M-3 Stuart e médios M-3 Lee, ambos já retirados de serviço ativo, porém em excelente estado de conservação, tendo sido utilizados apenas em unidades de instrução e cavalaria blindada nos Estados Unidos. Com a chegada desse material, o Exército Brasileiro iniciou a criação de suas primeiras unidades motomecanizadas, inspiradas na doutrina operacional do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army). Essas formações combinavam blindados de combate com veículos rápidos de reconhecimento, o que representava um salto qualitativo na capacidade de mobilidade e resposta das forças terrestres nacionais. Ao final do processo, o país dispunha de cerca de 300 carros de combate leves e médios, consolidando-se, naquele momento, como a principal potência militar terrestre da América Latina. Com o término das hostilidades na Europa, em maio de 1945, o governo dos Estados Unidos passou a atender as demandas remanescentes de seus aliados. Nesse contexto, o Brasil recebeu, em 27 de julho de 1945, o primeiro lote de carros de combate médios M-4 Sherman, desembarcado no porto do Rio de Janeiro (RJ). O carregamento era composto por 16 unidades, distribuídas entre as versões M-4 Mid Production e M-4 Composite Hull, que receberam as matrículas EB-11-347, 348, 350, 351, 352, 353, 393, 394, 396, 400, 403, 404, 405, 408, 409 e 412. Essas viaturas foram imediatamente destinadas ao 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC), sediado no antigo Derby Club, na cidade do Rio de Janeiro. Poucos dias depois, em 10 de agosto de 1945, chegou ao país um segundo lote, composto por 17 carros de combate de diferentes variantes, que receberam as matrículas EB-11-360, 414 a 429. Finalmente, em 23 de agosto do mesmo ano, desembarcou o terceiro e último lote, contendo 20 unidades adicionais, matriculadas sob os números EB-11-341, 342, 344 a 349, 354 a 356, 395, 397 a 399, 401, 402, 406, 407, 411 e 413. No total, o Exército Brasileiro recebeu 53 carros de combate M-4 Sherman, em distintas versões, que foram reunidos sob a administração do 1º BCC. 
Em termos organizacionais, o batalhão foi estruturado com:  1 Companhia de Comando, equipada com 02 M-4 Sherman; 3 Companhias de Carros de Combate Médio, cada uma dotada de 17 M-4 Sherman; 01 Companhia de Carros de Combate Leve, equipada com 17 M-3A1 Stuart; 1 Companhia de Serviços, composta por 47 veículos utilitários, incluindo 03 semi lagartas M-3 destinados ao transporte e apoio logístico. A introdução dos carros de combate M-4 Sherman no Exército Brasileiro marcou um ponto de inflexão no processo de modernização e aperfeiçoamento das forças blindadas nacionais, elevando substancialmente o nível tático e operacional da tropa mecanizada. Comparados aos modelos então em uso — os leves M-3A1 Stuart e os médios M-3 Lee —, os novos blindados demonstraram clara superioridade técnica e funcional, refletindo o salto qualitativo promovido pela cooperação militar com os Estados Unidos ao final da Segunda Guerra Mundial. Embora compartilhassem o mesmo canhão M-3 de 75 mm presente no M-3 Lee, os Shermans introduziam um diferencial tecnológico notável: o sistema de giro-estabilizador vertical, um dos primeiros dispositivos do gênero incorporados a carros de combate no mundo. Tal inovação conferia ao M-4 maior precisão de tiro em movimento  um avanço expressivo para a época  e representou, no contexto brasileiro, um marco técnico de grande relevância, inaugurando uma nova era no emprego de armamento estabilizado. Além do canhão principal, o arsenal brasileiro foi significativamente enriquecido com uma variedade de munições de última geração, entre elas os projéteis M-61 Armour Piercing Capped (APC), M-72 Armour Piercing (AP) e M-84 High Explosive (HE). Essa diversidade permitia ao Sherman atingir cadência de fogo de até vinte disparos por minuto, ampliando sua versatilidade no campo de batalha. No que tange à mobilidade, o M-4 Sherman incorporava um sistema de partida elétrica inovador, que reduzia o tempo necessário para colocar o veículo em operação, em contraste com os mecanismos manuais empregados em modelos anteriores. Seu armamento secundário era composto por duas metralhadoras Browning M-1919 calibre .30 e uma Browning M-2 calibre .50, oferecendo eficaz capacidade de defesa antiaérea e antipessoal. Alguns exemplares dos primeiros lotes recebidos apresentavam ainda um morteiro de duas polegadas acoplado à torre, destinado ao lançamento de granadas fumígenas, e uma submetralhadora Thompson M-1928A1 calibre .45, de uso pessoal do comandante. A torre fundida, controlada por sistemas elétricos ou hidráulicos conforme a versão, possuía design de perfil elevado, o que, embora aumentasse a silhueta do veículo, proporcionava melhor habitabilidade e conforto à guarnição, composta por quatro tripulantes comandante, artilheiro, municiador e motorista. Importante destacar que todos os M-4 Sherman entregues ao Brasil eram novos de fábrica, acompanhados de seus respectivos acessórios, ferramentas e manuais técnicos, cuidadosamente embalados e lacrados.  Todavia, a barreira linguística representou um desafio relevante: a documentação técnica encontrava-se redigida exclusivamente em inglês, idioma com o qual a maioria dos oficiais e mecânicos brasileiros não possuía familiaridade. 

Essa limitação dificultou, nos primeiros meses, a correta implementação e manutenção do material, exigindo esforços adicionais de tradução e adaptação por parte das equipes técnicas do Parque Central de Motomecanização e das unidades operacionais. O Carro de Combate Médio (CCM) M-4 Sherman simbolizou um notável avanço técnico e operacional para o 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC) do Exército Brasileiro durante a década de 1950. Sua incorporação marcou o amadurecimento da doutrina blindada nacional, proporcionando ao país um nível de capacidade tática até então inédito. Embora sua introdução exigisse um período considerável de adaptação, treinamento e ajustes operacionais para alcançar a plena prontidão, as qualidades técnicas do M-4 Sherman colocaram o Exército Brasileiro em um patamar comparável, em termos materiais, às forças blindadas norte-americanas. Assim, o 1º BCC consolidou-se como referência regional no emprego de veículos de combate mecanizados no período pós-guerra. No início da década de 1950, a Escola de Motomecanização (EsMM) — sediada em Marechal Deodoro, no Rio de Janeiro — recebeu seis novos CCM M-4 Sherman, registrados sob as matrículas EB11-343, 583, 584, 585, 586 e 587. Esses blindados foram empregados nas atividades de instrução e adestramento de oficiais e praças, operando em conjunto com os Carros de Combate Leve (CCL) M-3 Stuart e os CCM M-3 Lee. O objetivo era proporcionar uma formação prática e moderna aos futuros comandantes de unidades blindadas, familiarizando-os com a doutrina e os procedimentos empregados pelas forças norte-americanas. Os Shermans permaneceram em serviço na EsMM até 1957, quando, com exceção do veículo EB11-723, foram transferidos para o Regimento Escola de Infantaria (REsI), que passava a concentrar as atividades de instrução e manutenção relacionadas a blindados. Ainda no início daquela década, mais seis M-4 Sherman usados foram incorporados ao parque de viaturas do Exército Brasileiro, ampliando a frota nacional e permitindo maior flexibilidade nos programas de treinamento. Em 1954, o Brasil recebeu um lote adicional de 24 veículos M-4 Sherman excedentes do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army), remanescentes do término da Guerra da Coreia (1950–1953). Desses, 22 foram entregues no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), abrangendo as versões M-4 Composite Hull e M-4A1, acompanhadas de 50 motores de reposição. Dentre os diversos modelos recebidos podemos citar o M4A-1 EB11-722 que estava equipado com extensores de lagarta “duckbill” em ambos os lados de cada lagarta, e por possuir este acessório, era chamado equivocadamente, de Super Sherman. Também foi recebido um M-4 Composite Hull equipado com sistema de pá niveladora, com este veículo recebendo a matrícula de EB11-720 estando em serviço junto ao 6º RCB. Esse reforço logístico e material representou uma nova etapa de fortalecimento das unidades blindadas brasileiras, garantindo a manutenção operacional dos veículos por vários anos.  Durante a Revolução de 1964, um pelotão de M-4 Sherman do Regimento Escola de Infantaria foi mobilizado para um possível enfrentamento com forças sediadas em São Paulo  um embate que, felizmente, não chegou a ocorrer. 
Apesar de sua comprovada robustez e longevidade, os M-4 Sherman apresentaram, com o passar dos anos, limitações técnicas típicas de seu tempo. Entre as principais dificuldades relatadas estavam as falhas mecânicas decorrentes do ressecamento dos diafragmas das bombas de gasolina, que causavam interrupções no funcionamento dos motores, especialmente em veículos que permaneciam longos períodos inativos. Além disso, o sistema de lagartas estreitas, desproporcional ao peso do veículo, reduzia sua mobilidade em terrenos arenosos ou alagadiços, ocasionando atolamentos frequentes durante exercícios de campanha. Os relatos da tropa, em tom descontraído, afirmavam que os M-4 Sherman “atolavam até no asfalto”. A verdade é que a despeito das deficiências citadas, os M-4 Sherman durante grande parte de sua carreira no 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC), apresentariam um alto índice de operacionalidade na ordem de 80% , muito maior que a dos outros batalhões  sediados também no Rio de Janeiro, que faziam uso dos CCL M-3 Stuart e CCM M-3 Lee que ficavam na ordem de 55%.  Com o avanço do tempo, os Carros de Combate Médios (CCM) M-4 Sherman enfrentaram desafios significativos relacionados à disponibilidade de peças de reposição, impactando sua manutenção e operacionalidade no Exército Brasileiro. O envelhecimento da frota de M-4 Sherman brasileira resultou em dificuldades no suprimento de componentes essenciais, com destaque para : Geradores auxiliares ; Caixas reguladora e principalmente os motores radiais Wright Continental R-975 Whirlwind a gasolina. A escassez dessas peças comprometeu a manutenção regular dos veículos, exigindo soluções alternativas para assegurar sua funcionalidade. Apesar dos entraves logísticos, as equipes de manutenção do Exército Brasileiro demonstraram notável capacidade de adaptação, implementando soluções criativas, tais como:Reutilização de componentes provenientes dos motores de aeronaves Stearman A-76, desativadas pela Força Aérea Brasileira (FAB) e canibalização de peças de Carros de Combate M-3 Lee, previamente retirados do serviço ativo. Essas medidas permitiram a continuidade operacional dos M-4 Sherman, ainda que de forma improvisada, mitigando os impactos da falta de peças originais. Os desafios logísticos enfrentados na manutenção dos CCM M-4 Sherman, particularmente a escassez de peças de reposição, foram superados com soluções inovadoras e eficazes. A expertise das equipes de manutenção, aliada à utilização de recursos alternativos, garantiu a operacionalidade dos veículos, reforçando a resiliência do Exército Brasileiro frente às limitações impostas pelo tempo. O  M-4 Sherman desempenhou um papel crucial na modernização das forças blindadas brasileiras, proporcionando avanços técnicos expressivos, mas enfrentando limitações decorrentes de seu projeto e da manutenção. No início da década de 1970, os M-4 Sherman remanescentes já estavam concentrados principalmente em unidades de instrução e reservas de mobilização. A Escola de Blindados (antiga Escola de Motomecanização), sediada no Rio de Janeiro, manteve alguns exemplares para fins didáticos, utilizados em cursos de mecânica, manutenção e condução de carros de combate. Em 1973, a desativação dos M-4 Sherman foi oficialmente concluída, encerrando um período de quase três décadas de operação.

Em Escala.
Para a representação do M-4 Sherman Composite Hull, identificado pelo registro “EB-11 720”, foi empregado o consagrado kit da Dragon Models na escala 1/35, reconhecido pelo elevado padrão de engenharia e fidelidade de detalhes. A fim de reproduzir com exatidão a configuração adotada pelo Exército Brasileiro, o modelo recebeu a adaptação do sistema de lâmina niveladora, cujo conjunto foi integrado a partir das peças opcionais presentes no kit da  Academy referente ao M-4A3 Sherman. Empregamos decais Eletric Products pertencentes ao set  "Exército Brasileiro 1942 - 1982".
O esquema de cores, referenciado pelo padrão Federal Standard 595 (FS/FS 595), descrito a seguir, corresponde ao padrão oficial de pintura empregado pelo Exército dos Estados Unidos na fase de aceitação em fábrica e entrega dos carros de combate M-4 Sherman ao Exército Brasileiro durante as décadas de 1940 e 1950, A configuração visual original perdurou até a desativação definitiva dos carros de combate médios M-4 Sherman no Brasil, ocorrida em 1978. 

Bibliografia :
- M-4 Sherman - Wikipédia  http://pt.wikipedia.org/wiki/M4_Sherman
- M-4 Sherman no Brasil , por Helio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Junior 
- Blindados no Brasil Volume I – Expedito Carlos Stephani Bastos

C-98A/B Cessna C-208 Caravan

História e Desenvolvimento. 
O início de uma grande trajetória que culminaria na criação da Cessna Aircraft Company, teve seu início no mês de junho do ano de 1911, quando Clyde Vernon Cessna, um fazendeiro e entusiasta aeronáutico, residente na cidade de Rago, no estado do Kansas, construiria artesanalmente sua própria aeronave, sendo a primeira pessoa a empreender um voo  sobre o rio Mississippi e as montanhas rochosas. Este sucesso logo o motivaria a montar uma estrutura destinada a produção de aeronaves, montando uma pequena oficina na de Enid, no estado de Oklahoma, com esta decisão sendo tomada pela existência de vastas salinas, tornando este local propicio para os futuros testes de voo. Todos os seus projetos apresentariam uma concepção básica biplano, fazendo uso de estruturas em madeira, com suas asas e fuselagem sendo recobertos por tecido. Visando ampliar seu empreendimento, no qual se vislumbrava grande potencial, Clyde Vernon Cessna, iniciaria uma prospecção junto aos bancos em sua região no intuito conseguir empréstimos, porém infelizmente não lograria êxito. Desta maneira procuraria alternativas, se mudando para a cidade de Wichita no Kansas, onde se aproximaria de Walter H. Beech e Lloyd Stearman, iniciando uma nova empresa no ano de 1924, que resultaria na criação da  Travel Air Manufacturing. Ele teria destacada participação na criação de aeronaves promissoras, como os biplanos Travel Air 2000, Travel Air 5000 e Travel Air 500. Discordâncias internas levariam Clyde V Cessna a deixar a companhia, porém seu espírito empreendedor logo afloraria novamente, e em 7 de setembro de 1927, fundaria em sociedade com Victor H. Roos, a Cessna-Roos Aircraft Company. No entanto esta composição se mostraria efêmera, com seu sócio se retirando da empresa em 22 de dezembro de 1927, e a empresa seria renomeada como Cessna Aircraft Corporation. Buscando se estabelecer no mercado de forma solida, sua direção iniciaria o desenvolvimento de um ousado projeto, que receberia a designação de Cessna DC-6, com seu primeiro protótipo alçando voo em 14 de maio de 1929. A nova aeronave receberia sua certificação de aeronavegabilidade no em 29 de outubro, mesmo dia da “quebra” da Bolsa de Valores, movimento este que deflagaria um dos piores períodos da economia norte-americana e mundial.  Neste contexto, a linha de aeronaves da família “CR” representaria a principal razão pela qual a empresa foi capaz de se manter durante a Grande Depressão, apesar de um declínio catastrófico nas vendas de aeronaves. Este caótico cenário levaria Clyde V. Cessna a deixar a direção da empresa, porém em junho de 1933 um fato inusitado iria mudar o destino da empresa, este seria caracterizado quando um piloto profissional fazendo uso de um Cessna CR-3 venceu a American Air Race em Chicago, estabelecendo um novo recorde mundial de velocidade para aeronaves daquela categoria, trazendo notoriedade a marca Cessna.  No final da década de 1930, os sobrinhos de Clyde V. Cessna, Dwane L. Wallace e Dwight Wallace, vislumbraram uma oportunidade singular para consolidar o legado da empresa fundada por seu tio.

Com visão estratégica e confiantes no potencial de crescimento da Cessna Aircraft Company, os irmãos decidiram adquirir o controle acionário da companhia em um momento crucial de sua trajetória. Esse movimento marcou o início de um novo ciclo de transformação, que não apenas revitalizou o negócio familiar, mas também posicionou a empresa como uma das protagonistas no competitivo mercado aeronáutico dos Estados Unidos. Naquela época, a economia norte-americana começava a exibir sinais de recuperação após os desafios da Grande Depressão, iniciada em 1929. Sensível às mudanças no cenário econômico e às demandas emergentes, a nova gestão da Cessna conduziu uma ampla pesquisa de mercado, com o objetivo de identificar nichos promissores no setor de aviação. Esse estudo revelou um crescente interesse por aeronaves de pequeno porte, voltadas tanto para o mercado civil quanto militar, com capacidade para transportar de quatro a seis passageiros. No âmbito militar, essas aeronaves seriam destinadas a missões de transporte de cargas leves, ligação entre bases e treinamento básico de pilotos em aeronaves multimotoras. No mercado civil, a demanda por aviões acessíveis, confiáveis e versáteis abria uma janela de oportunidade para a inovação. Com base nessas diretrizes, a Cessna deu início, em fins de 1937, ao desenvolvimento de um projeto ambicioso o Cessna T-50/UC-78 "Bamboo Bomber" , que tonaria um grande sucesso comercial, representando durante a Segunda Guerra Mundial,  o pilar da instrução multimotora na América do Norte. Este período permitiu à empresa ganhar estabilidade financeira e experiência em produção em larga escala, que mais tarde seria crucial no pós-guerra. Neste momento a  empresa percebeu rapidamente que haveria milhares de pilotos civis a regressar do serviço militar, levando ao crescimento da aviação de turismo e transporte pessoal. Nasceria assim o projeto do Cessna 140 /120, desenvolvido para ser confortável,  atraente para o público civil e barato de produzir. O primeiro protótipo seria apresentado em julho de 1946, e após sua homologação se tornaria um sucesso comercial, com a empresa durante um período tendo dificuldades de atender a contento as demandas de vendas. Até meados de 1951 seria produzidas 7.500 aeronaves, se tornando uma das aeronaves mais populares do período pós-guerra. Durante a década de 1950, a empresa expandiu a sua família de aviões ligeiros, criando modelos que se tornariam históricos como Cessna 170,  180 , 185, 172 Skyhawk (tornou-se o avião mais produzido da história), 182 Skylane e por fim o  310 o primeiro bimotor da família. A partir dos anos 60, a Cessna identificou outro nicho em expansão: aviões executivos a jato, representando assim  uma mudança estratégica monumental, resultando em 1969 no lançamento do Cessna 500 que deu origem à família Citation, que se tornaria uma das mais populares do mundo dos jatos executivo. 
Ao final da década de 1970, a Cessna Aircraft Company consolidava-se como a principal fabricante de aviões leves do mundo. Modelos como o Cessna 152, 172 e 182 figuravam entre os mais populares e representavam, de maneira incontestável, o domínio da empresa no segmento da aviação geral. Contudo, apesar dessa liderança, a Cessna enfrentava uma lacuna estratégica em seu portfólio: faltava-lhe um monomotor de maior capacidade, capaz de transportar cargas significativas, operar em pistas curtas e não preparadas, e ainda oferecer custos operacionais substancialmente inferiores aos dos tradicionais bimotores. Além disso, buscava-se um sistema propulsor mais robusto e confiável que os motores a pistão então utilizados, algo que os turboélices emergentes começavam a proporcionar com grande vantagem. Paralelamente, no mercado civil norte-americano e canadense, acentuava-se a obsolescência de aeronaves de grande porte e reconhecida robustez, como os de Havilland Canada DHC-2 Beaver e DHC-3 Otter. Mesmo os consagrados, porém menores, Cessna 180, 185 e 206 já não atendiam plenamente às demandas de carga e versatilidade do período. Nesse contexto, ao final dos anos 1970, a Cessna passou a considerar a criação de um novo modelo que reunisse desempenho elevado, simplicidade operacional e grande resistência estrutural, de modo a atender às necessidades emergentes de operadores civis, empresas de correio, aeroclubes e comunidades isoladas. A diretriz que se formou dentro da empresa era clara: desenvolver uma aeronave monomotora turboélice, com dimensões adequadas para transportar aproximadamente dez passageiros ou até uma tonelada de carga, que pudesse receber esquis para operar nas regiões nevadas do Canadá e flutuadores para servir nos grandes rios e lagos da América do Norte. Idealizava-se, portanto, um avião de grande versatilidade, baixa manutenção, estrutura superdimensionada e cabine modular, facilmente reconfigurável entre versões cargueiras e de transporte de passageiros características que ultrapassassem tudo o que existia no segmento monomotor até então. Com essas premissas, os primeiros estudos evoluíram rapidamente dos desenhos técnicos para a construção de uma maquete em escala real, concluída em 1979. Essa etapa foi decisiva para que o projeto assumisse sua forma definitiva: uma aeronave de porte considerável, asa alta, trem de pouso fixo e linhas otimizadas para operação em ambientes rústicos. No início de 1982, a divisão Pawnee Aircraft, da própria Cessna, iniciou a construção do primeiro protótipo. Designado Modelo 208A e batizado com o sugestivo nome “Caravan I”, o novo avião realizou seu voo inaugural em 9 de dezembro de 1982, em Wichita, Kansas. O protótipo, registrado como N208LP, não apenas confirmou como superou as expectativas da equipe de desenvolvimento. Seguiram-se então os programas de ensaios e certificações, que culminaram com a homologação formal emitida pela Federal Aviation Administration (FAA) em 23 de outubro de 1984.

O impacto comercial do projeto, porém, antecedeu até mesmo sua certificação. Já em dezembro de 1983, a Federal Express  que buscava uma aeronave robusta e econômica para conectar pequenas cidades dos Estados Unidos  encomendou 30 unidades do Caravan I, posteriormente ampliadas para mais 109 aviões, com opção de compra para outros 90 exemplares. A adoção do modelo pela empresa firmou o Caravan como solução ideal para logística aérea de pequeno porte. Impulsionado pelo sucesso da Federal Express, o Caravan conquistou operadores em diversas partes do mundo. Setenta aeronaves adicionais foram rapidamente adquiridas por empresas da Europa, da Ásia e do Canadá, consolidando o Cessna 208 Caravan I como um êxito global e marcando o início de uma das mais icônicas e versáteis famílias de aeronaves já produzidas na aviação civil moderna.Para atender às crescentes demandas operacionais de seu principal cliente  a Federal Express, que à época expandia rapidamente sua malha logística regional a Cessna deu início ao desenvolvimento de uma variante ampliada do Modelo 208. Essa nova versão, concebida para oferecer maior capacidade volumétrica e eficiência no transporte de cargas, recebeu a designação Cessna 208B e foi batizada comercialmente como Super Cargomaster. O 208B representava uma evolução direta do Caravan original. Sua fuselagem, visivelmente mais alongada, proporcionava um aumento significativo na cubagem interna, permitindo o transporte de volumes maiores e a acomodação mais racional de contêineres e encomendas. A esse conjunto somava-se ainda um generoso bagageiro ventral  também aplicável à versão 208A  com capacidade para até 3,2 m³ de carga adicional. Essa solução refletia a necessidade de maximizar o espaço útil sem comprometer a simplicidade operacional, característica essencial para operações de curta distância e alta frequência, como as realizadas pela Federal Express em pequenas e médias comunidades norte-americanas. O protótipo do Super Cargomaster, registrado sob a matrícula N9767F, realizou seu voo inaugural em 3 de março de 1986, demonstrando imediatamente o potencial da nova configuração. Tamanho foi o sucesso do projeto que, ainda nas fases iniciais de testes, a Federal Express formalizou uma expressiva encomenda inicial de 160 aeronaves, destinadas a desempenhar exatamente o mesmo papel logístico que seu antecessor, o 208A, porém com maior eficiência e capacidade de carga. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos, antevendo o uso militar do aparelho, realizou uma detalhada avaliação do Caravan I, em meados de 1985, e designou-o militarmente como U-27A, porém, até a atualidade, o Exército dos Estados Unidos (U. S. Army) não adquiriu nenhuma aeronave do tipo, não obstante, essa designação militar possuir algum teor comercial embutido, que divisou a possibilidade de algumas unidades serem comercializadas para os aliados dos americanos através da Foreign Military Sales – FMS (Vendas Militares Estrangeiras), com destaque para Etiópia,  Indonésia e  Emirados Árabes Unidos.  
A partir da década de 1990 e, sobretudo, ao longo das primeiras décadas do século XXI, o cenário estratégico internacional passou por transformações significativas. A proliferação de conflitos assimétricos, a necessidade de vigilância de fronteiras e o fortalecimento de operações de segurança interna impulsionaram a demanda por aeronaves econômicas, de operação simples e capazes de cumprir missões de Intelligence, Surveillance and Reconnaissance (ISR) — termo que engloba atividades de coleta de informações, vigilância persistente e reconhecimento aéreo. Neste contexo em 1998, 1998 o Departamento do Estado Department of State (INL – Bureau of International Narcotics and Law Enforcemen em conjunto com a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) seriam deflagrados os programas de Light Enforcement Program - LEP & Medium Enforcement Program - MEP.  Foi nesse contexto que o Cessna 208 Caravan, já consolidado mundialmente como aeronave utilitária robusta e de elevada confiabilidade, tornou-se uma plataforma altamente atrativa para programas de modernização e adaptação ao emprego militar e governamental. Sua capacidade de operar em pistas curtas e não preparadas, seu baixo custo por hora de voo e a ampla disponibilidade logística tornaram-no ideal para nações que necessitavam de uma solução ISR eficaz, porém financeiramente acessível. Para operar em missões de vigilância, o Caravan recebeu modificações específicas que transformaram sua arquitetura simples em uma plataforma de inteligência sofisticada. Entre os avanços mais comuns incluem-se: Torres eletro-ópticas e infravermelhas (EO/IR) instaladas em pods ventrais para observação diurna e noturna; Sistemas de link de dados táticos, permitindo transmitir informações em tempo real para centros de comando; Radares de vigilância terrestre e marítima, capazes de identificar embarcações, veículos e atividades suspeitas;  Consoles operacionais internos, que transformam a cabine em um pequeno centro de inteligência aérea e aumento de autonomia por meio de tanques suplementares, permitindo longas horas de patrulhamento contínuo.  A combinação desses equipamentos fez do Caravan uma alternativa versátil a aeronaves maiores e mais custosas, como turboélices bimotores ou jatos especializados. A partir dos anos 2000, o Caravan ISR foi amplamente adotado em programas de assistência militar e cooperação internacional, principalmente pelos Estados Unidos. Diversos países do Oriente Médio, África, América Latina e Ásia receberam versões ISR do 208B para monitorar fronteiras, combater atividades ilícitas, vigiar áreas marítimas e fornecer apoio a forças terrestres em regiões remotas. A natureza simples, porém eficaz, do Caravan aproximou-o de operadores como Jamaica, Nigéria, Quénia, República Dominicana, Filipinas, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Iraque e Libando, que não possuíam infraestrutura ou orçamento para aeronaves mais complexas preenchendo exatamente a lacuna entre helicópteros policias e grandes aeronaves de patrulha.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A trajetória dessas aeronaves no Brasil iniciou-se com a criação do Núcleo do Centro de Lançamento de Alcântara (NuCLA), estabelecido pelo Decreto nº 88.136, de 1º de março de 1983, no municipio de Alcântara no estado do Maranhão . Posteriormente, o NuCLA seria elevado ao status de Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) pela Portaria nº 1.050/GM3, de 30 de dezembro de 1992. Nos primeiros anos de funcionamento, uma das maiores dificuldades enfrentadas pela organização era a realização de deslocamentos rápidos e seguros entre a área de lançamento e a cidade de São Luís. A travessia exigia sobrevoar cerca de 20 quilômetros de mar, separando o continente, onde se situa Alcântara, da capital maranhense, instalada na ilha de São Luís. Diante dessa limitação operacional, tornou-se evidente a necessidade de incorporar uma aeronave simples, confiável e suficientemente versátil para cumprir essa rota de maneira eficiente. Foi nesse contexto que, em 1986, ocorreu no Brasil um tour de demonstração do Cessna Caravan I. A visita da aeronave permitiu que seu desempenho fosse avaliado pelo pessoal da Força Aérea Brasileira (FAB). No entanto, a doutrina vigente à época não contemplava o emprego de aeronaves monomotoras em missões de transporte, o que impediu, inicialmente, a adoção do  Cessna C-208 Caravan tanto na versão com trem de pouso fixo quanto na versão hidroavião com flutuadores, posteriormente apresentada ao 1º  e ao 7º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA). No caso amazônico, a aeronave também não obteve aprovação, em razão de sua autonomia limitada frente às vastas distâncias da região. Persistindo o problema logístico no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), diversas aeronaves foram analisadas e comparadas. Ao final do processo, o Cessna Caravan I destacou-se como a opção mais adequada, por atender ao maior número de requisitos da missão. Em consequência, no final de 1987 foi adquirida a primeira unidade, recebendo a designação militar C-98 e a matrícula FAB 2701. O desempenho da aeronave, aliado à sua robustez, levou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a ampliar sua presença na frota. Após criteriosa avaliação conduzida pelo Comando-Geral do Ar (COMGAR), foram adquiridas, em meados de 1988, mais duas aeronaves destinadas à recém-criada 1ª Esquadrilha do 7º Esquadrão de Transporte Aéreo (1ª/7º ETA), sediada em Boa Vista (RR). Seu emprego estava voltado principalmente ao apoio ao então nascente Projeto Calha Norte, iniciativa estratégica para a presença do Estado brasileiro na faixa de fronteira amazônica. Essas aeronaves matriculadas como "FAB 2702 e FAB 2703" foram transladadas em voo desde a fábrica da Cessna Aircraft Company, na cidade de Wichita, nos Estados Unidos, até Manaus no estado do Amazonas, chegando ao destino em 18 de agosto de 1988, conduzidas por pilotos do própria 1ª/7º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA). Após a fase inicial de incorporação, as aeronaves C-98 Caravan foram transferidas para a Base Aérea de Boa Vista, no Estado de Roraima, passando a operar diretamente na extensa e desafiadora faixa de fronteira amazônica.

A presença do C-98 Caravan na região rapidamente se revelou um marco operacional para a Força Aérea Brasileira (FAB). Sua habilidade de pousar e decolar em pistas rudimentares, aliada ao baixo consumo de combustível e à simplicidade de manutenção, transformou o C-98 em uma ferramenta fundamental para a logística militar em um dos ambientes mais complexos do país. A adaptação das aeronaves às condições amazônicas foi notavelmente bem-sucedida. Mesmo diante do clima rigoroso, da infraestrutura limitada e das longas distâncias envolvidas, o C-98 demonstrou excepcional confiabilidade. Esse desempenho positivo motivou a Força Aérea Brasileira (FAB) a ampliar sua frota: em meados de 1989, foram adquiridos mais cinco exemplares, matriculados como FAB 2704 a FAB 2708. A chegada ao Brasil seguiu o cronograma: as aeronaves FAB 2704 e 2705 em 14 de novembro de 1989; FAB 2706 e FAB 2707 em 30 de novembro do mesmo ano; e, por fim, o FAB 2708 em 31 de janeiro de 1990. Essas novas unidades foram distribuídas conforme as necessidades estratégicas da Força Aérea Brasileira (FAB). A 2ª Esquadrilha do 7º ETA, em Porto Velho (RO), recebeu parte da frota, enquanto o 1º ETA, sediado em Belém (PA), passou a empregar o C-98 em missões de apoio à Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA), entidade responsável pela implantação e manutenção de pistas fundamentais para a integração regional. Uma das aeronaves foi destinada ao II Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA II), em Curitiba (PR), onde passou a executar voos de apoio aos Destacamentos de Proteção ao Voo distribuídos por sua área de responsabilidade. À medida que o Projeto Calha Norte se consolidava, os C-98 assumiram papel ainda mais relevante. Tornaram-se presença constante na criação e no abastecimento de pelotões de fronteira, apoiando a instalação de novas unidades do Exército e fortalecendo a atuação de órgãos federais na Amazônia setentrional. Nessa missão, o Caravan assumiu múltiplas funções essenciais: transporte de suprimentos para destacamentos isolados; evacuações aeromédicas em condições frequentemente adversas; apoio a operações interagências, especialmente em ações de presença do Estado e fiscalização ambiental; deslocamento de militares, técnicos e equipes civis envolvidas em obras de infraestrutura; além de promover a integração de comunidades indígenas e ribeirinhas, levando desde profissionais de saúde até mantimentos e material escolar. A operação dos C-98 permaneceu contínua nessas unidades até 1995, quando as Esquadrilhas do 7º ETA foram reorganizadas e transformadas no 1º/3º Grupo de Aviação (1º/3º GAV) e no 2º/3º GAV. A chegada dos turboélices Embraer  AT-27 Tucano a essas unidades resultou na redistribuição dos Caravan como aeronaves orgânicas das Bases Aéreas de Boa Vista (BABV) e Porto Velho (BAPV), preservando sua atuação em áreas prioritárias da Amazônia.
Uma das missões mais relevantes realizadas pelos C-98 da Força Aérea Brasileira (FAB) ocorreu em apoio à MOMEP (Missão de Observadores Militares Equador–Peru), estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1995 na localidade de Patuca, no Equador. Sua finalidade era supervisionar o cessar-fogo e assegurar o cumprimento dos acordos que encerraram o conflito no Vale do Cenepa, região disputada entre Peru e Equador. A MOMEP reuniu militares de diversas nações, entre eles um general do Exército Brasileiro que exercia a função de coordenador-geral da missão. Para garantir a mobilidade desse oficial e apoiar os deslocamentos entre os centros de negociação e as áreas monitoradas, a Força Aérea Brasileira destacou um C-98 do 1º Esquadrão de Transporte Aéreo (1º ETA). A aeronave permaneceu mobilizada durante todo o período de participação do Brasil na operação, cujo início se deu em 5 de agosto de 1995. O C-98 foi inicialmente baseado na cidade de Cuenca, no Equador, ampliando posteriormente seu raio de atuação para diversas localidades: Lima, Chiclayo, Piúra e Bágua, no Peru; e Quito, Guayaquil, Patuca, Pastaza e Macas, no Equador. As particularidades do teatro operacional impuseram desafios significativos. Devido à menor performance em altitude, o Caravan operava com velocidade de cruzeiro relativamente reduzida, entre 180 e 200 nós. Operariam neste cenário em voos de  grande altitude, sendo que o nível de cruzeiro médio utilizado é de 18.000 pés (5.450 metros), chegando a existir aerovia onde o nível mínimo é de 21.000 pés (6.360 metros), pois a Cordilheira dos Andes corta a maior parte dos dois países. Levando-se em consideração que o Caravan não é pressurizado, houve a necessidade da instalação de kits de oxigênio, para que os tripulantes e passageiros transportados pudessem suportar as grandes altitudes voadas, o que foi conseguido com sucesso, devido a adaptações realizadas pelo Esquadrão de Suprimento e Manutenção da Base Aérea de Belém – ESM-BE, que desenvolveu o sistema de distribuição de oxigênio para a aeronave, utilizando um cilindro de oxigênio central, que o distribui ao mesmo tempo para a tripulação e eventuais passageiros. A partir de 1998, a responsabilidade pela missão foi transferida ao 7º ETA. Nesse mesmo ano, entretanto, ocorreu um episódio marcante na história da frota. Em 18 de setembro de 1998, o C-98 de matrícula FAB 2705, pertencente ao 7º ETA, sofreu um acidente durante o voo entre Patuca e Cuenca, transportando cinco tripulantes. Todos foram resgatados no dia seguinte, apresentando apenas ferimentos leves; contudo, a aeronave foi irrecuperável, tornando-se o primeiro C-98 perdido pela Força Aérea Brasileira (FAB). Após três anos de atuação contínua em território equatoriano e peruano, o emprego da aeronave chegou ao fim em 1998, quando a missão concluiu seus trabalhos de monitoramento e verificação do cessar-fogo no Vale do Cenepa, pondo termo a décadas de tensões fronteiriças entre Peru e Equador.

Inicialmente, os primeiros C-98A receberam uma pintura em branco e cinza, com uma faixa em azul-marinho ao longo da fuselagem e as cores nacionais em verde e amarelo no leme. Porém, já a partir do FAB 2524, as aeronaves foram recebidas no atual padrão de camuflagem verde e cinza da Força Aérea Brasileira (FAB). Já os C-98 tiveram vários padrões. O primeiro C-98, o FAB 2701, chegou com uma pintura diferenciada, em branco com uma pequena faixa azul ao longo da fuselagem. Posteriormente, todos os C-98 adotaram o padrão em branco e cinza, com leme em verde e amarelo. Apenas um C-98, o FAB 2707, usou, por um período, a camuflagem em dois tons de verde e um de castanho, idêntica àquela usada no AT-26, porém, no estilo wrap around, isto é, envolvendo toda a aeronave sem o cinza claro nas superfícies inferiores. Essa aeronave foi danificada quando operava no PAMA-LS, não sendo recomendada sua recuperação, e foi descarregada em 16 de março de 2009. Houve duas perdas operacionais de C-98A na Força Aérea Brasileira (FAB). A primeira ocorreu em 29 de outubro de 2009, quando o FAB 2725 do 7º ETA fez um pouso forçado no Igarapé Jacurapá, na margem direita do Rio Ituí (AM), quando voava de Cruzeiro do Sul (AC) para Tabatinga (AM). Dos 11 ocupantes, 10 sobreviveram. O segundo acidente ocorreu no dia 2 de agosto de 2011, quando o FAB 2735 do 5º ETA caiu em Bom Jardim da Serra (SC), vitimando todos os seus oito ocupantes.  A partir da década de 2010, a Força Aérea Brasileira (FAB) passou a observar que a frota de aeronaves C-98 Caravan então distribuída entre diversos Esquadrões de Transporte Aéreo (ETA) e algumas unidades operacionais necessitava de um processo de modernização capaz de alinhar seus sistemas às novas demandas de navegação aérea, comunicações e segurança de voo. O Caravan, embora amplamente respeitado por sua robustez e pela versatilidade em missões amazônicas, começava a demonstrar limitações tecnológicas diante do avanço dos requisitos internacionais de aviação, especialmente no que se refere à navegação baseada em performance (PBN) e à crescente digitalização dos aviônicos. O programa envolveu em termos de aviônicos e navegação, com as aeronaves recebendo a a suíte digital Garmin G1000 ou equivalente, substituindo o painel analógico tradicional, com a instalação de duas s telas multifuncionais (PFD e MFD) de alta resolução, permitindo ainda a integração de mapas digitais, rotas, cartas e informações meteorológica.  Navegação PBN, incluindo certificação RNAV e RNP, permitindo seguir padrões modernos de navegação; GPS de alta precisão integrado ao sistema operacional, melhorando a capacidade de aproximações de não precisão com maior segurança e redução de margens de erro. Este processo levaria a redução da carga de trabalho dos pilotos, proporcionando maior consciência situacional. Por fim além do retrofit estrutural, buscou-se padronizar a frota, reduzindo a diversidade de configurações, facilitando treinamento, logística e manutenção. Atualmente a Força Aérea Brasileira (FAB) possui uma frota de 32 C-98/A, das 35 aeronaves recebidas.

Ao longo da década de 1990 e início dos anos 2000, o C-98 Caravan consolidou-se como uma das aeronaves mais versáteis e indispensáveis da Força Aérea Brasileira (FAB), especialmente na Região Norte. Sua presença tornou-se tão marcante que uma das unidades chegou a ser alocada ao Parque de Material Aeronáutico de Belém (PAMA-BE), responsável pelas inspeções, revisões e manutenção de toda a frota. Ali, o Caravan mostrou-se não apenas um vetor operacional, mas também uma plataforma que facilitava sobremaneira o suporte logístico da própria instituição. Em 1998, a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou uma nova etapa na modernização de sua aviação utilitária com a aquisição da versão alongada e mais potente do modelo, o Cessna C-208B Grand Caravan, que recebeu a designação militar de C-98A. Naquele ano, foi incorporado o primeiro exemplar matriculado FAB 2709, seguido por outras quatro unidades entregues em 2001. Entre 2001 e 2004, mais seis aeronaves foram recebidas, embora todas de segunda mão. Destas, quatro provinham da antiga frota da empresa de transportes TAM Express, o que demonstra o esforço da Força Aérea Brasileira (FAB) em ampliar sua capacidade aérea a partir de oportunidades disponíveis no mercado civil. A introdução do C-98A representou significativo avanço operacional. Sua maior capacidade de carga, autonomia ampliada e desempenho superior permitiram que o 1º e o 7º Esquadrões de Transporte Aéreo (ETA) expandissem suas frotas. O 2º/6º Grupo de Aviação (GAV) também passou a operar o Grand Caravan, reforçando sua atuação em missões de apoio logístico, transporte regional e operações em pistas curtas e não preparadas características essenciais na Amazônia. A modernização prosseguiu na década seguinte. Em 2008, por meio de um contrato firmado entre a CABW (Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington) e a Cessna, a Força Aérea Brasileira (FAB) adquiriu nove novos C-208B equipados com avançados painéis digitais (glass cockpit), ao custo de US$ 18,9 milhões. A essa encomenda somaram-se mais dois contratos, celebrados em 2011 e 2012, que garantiram a aquisição de cinco aeronaves adicionais, totalizando quatorze novas unidades do modelo C-98A. As entregas tiveram início em 2009, com as aeronaves sendo trasladadas diretamente dos Estados Unidos por tripulações da própria FAB. A ampliação da frota permitiu a redistribuição de meios para um conjunto maior de unidades operacionais. Assim, os 2º, 5º e 6º ETA, bem como o 1º/15º GAV, o CINDACTA II e bases aéreas como Santa Cruz e Santa Maria, passaram a empregar o Grand Caravan em suas missões diárias. Paralelamente, aumentou-se a disponibilidade de aeronaves tanto no 1º quanto no 7º ETA, tradicionalmente responsáveis pelo emprego do Caravan em regiões remotas e de difícil acesso.  A incorporação contínua do C-98A simbolizou a maturidade alcançada pelo programa de aviação utilitária da Força Aérea Brasileira (FAB) , que viu no Caravan  e posteriormente no Grand Caravan uma solução robusta, econômica e plenamente adequada às necessidades geográficas do Brasil, especialmente na Amazônia e em operações de enlace, apoio logístico e ações de presença do Estado Brasileiro.

Em Escala.
Infelizmente, até o momento, não há kits dessa aeronave disponíveis no mercado de plastimodelismo convencional. Para representar com fidelidade o modelo brasileiro do Cessna C‑98A Caravan na escala 1/48, utilizamos um modelo impresso em 3D, produzido pela Hobby Modelista. O conjunto é dividido em 16 peças, com montagem simplificada e excelente nível de detalhamento, acabamento e precisão de formas. Cabe, no entanto, uma ressalva: o modelo não inclui as transparências das janelas da cabine e do compartimento de passageiros, limitação inerente ao processo de impressão 3D. Na ausência de uma folha de decalques específica para o C-98A, recorremos a decalques avulsos provenientes de diferentes sets. Esses itens foram selecionados a partir de coleções produzidas pela FCM Decais, contemplando as escalas 1/48 e 1/72, o que nos permitiu compor a identidade visual da aeronave com precisão e coerência histórica.
O esquema de cores em padrão Federal Standard (FS) apresentado a seguir corresponde ao padrão de pintura tático de baixa visibilidade, adotado pela Força Aérea Brasileira a partir de 1997. Esse foi o terceiro padrão de camuflagem aplicado à frota das aeronaves C-98A e C-98B, marcando uma evolução doutrinária em direção a perfis operacionais menos detectáveis e mais alinhados às exigências do ambiente tático contemporâneo.  Historicamente, as primeiras células da família C-98 foram recebidas novas de fábrica ainda na década de 1980, ostentando um padrão de pintura de alta visibilidade, caracterizado por superfícies claras e marcações contrastantes, similar ao então empregado nas aeronaves Embraer U‑7 Seneca e Neiva U‑42 Regente.

Bibliografia :
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 - Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
C-208 Caravan Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Cessna_208