Engesa EE-3 Jararaca no Brasil


História e Desenvolvimento.
Em 1958, o engenheiro mecânico-eletricista José Luiz Whitaker Ribeiro marcou a história industrial brasileira ao liderar a fundação da ENGESA (Engenheiros Especializados S/A). Sob sua direção, a empresa reuniu um grupo seleto de engenheiros recém-formados, muitos dos quais oriundos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Inicialmente, a ENGESA concentrou suas atividades na fabricação de componentes e ferramentas voltadas para a exploração de petróleo, tendo como principal cliente a estatal Petrobras. A alta qualificação de seu quadro técnico permitiu à empresa destacar-se rapidamente no setor de petróleo e gás, ampliando seu volume de negócios. Durante o processo de expansão, a ENGESA enfrentou desafios logísticos relacionados ao desempenho de sua frota de caminhões em estradas de terra e barro, comuns nas regiões de operação no litoral brasileiro. Para superar essas dificuldades, José Luiz Whitaker Ribeiro liderou o desenvolvimento de uma caixa de transferência com tração total, caracterizada por sua simplicidade e robustez. Esse sistema podia ser facilmente adaptado a diversos veículos utilitários da época. Após testes bem-sucedidos em sua frota, que demonstraram desempenho significativamente superior em condições off-road, a ENGESA decidiu investir na comercialização do sistema. Em 1966, o “Sistema de Tração Total Engesa” foi lançado no mercado civil, conferindo a caminhões comerciais modificados uma capacidade off-road inédita no Brasil. O sucesso comercial do sistema de tração total chamou a atenção do Exército Brasileiro, que, na mesma época, buscava nacionalizar sua frota de caminhões de transporte. Em resposta a essa demanda, a ENGESA produziu quatro protótipos equipados com o sistema, os quais foram submetidos a testes de campo. Os resultados foram altamente satisfatórios, culminando na homologação operacional do sistema. Em 1967, o Ministério do Exército classificou a solução como de “Interesse para a Segurança Nacional”. Em 1969, a ENGESA apresentou outra inovação: o sistema de tração dupla traseira, batizado de “Boomerang”. Esse mecanismo tornou-se fundamental para o desenvolvimento de diversos veículos militares, consolidando a posição da ENGESA como uma das principais empresas do setor de defesa no Brasil. Com o objetivo de substituir os caminhões militares norte-americanos com tração integral, recebidos na década de 1940, o Exército Brasileiro abriu uma concorrência para o fornecimento de caminhões nacionais “militarizados” equipados com tração total. O modelo escolhido foi o Chevrolet C-60 e D-60, nas configurações 4x4 e 6x6, equipado com o sistema da ENGESA. A participação da empresa como fornecedora do Exército expandiu-se rapidamente, com a entrega de 960 caminhões em 1968 e additional 1.371 unidades dois anos depois. Esses contratos geraram recursos significativos, que foram reinvestidos no desenvolvimento de novos projetos. Em 1969, a ENGESA (Engenheiros Especializados S/A) apresentou o sistema de tração dupla traseira, denominado “Boomerang”. Este sistema tornou-se um marco na história da empresa, sendo essencial para o desenvolvimento de diversos veículos militares e desempenhando um papel crucial na expansão internacional de seus produtos na década de 1970. 

O projeto do Boomerang destacava-se por sua construção simples, robustez e baixo custo, características que garantiam excepcional desempenho off-road. Diferentemente dos sistemas tradicionais, que utilizavam dois eixos traseiros suportados por feixes de molas, o Boomerang operava com um único eixo de tração. Nas extremidades desse eixo, eram instaladas duas caixas de engrenagens – cujo formato remetia ao bumerangue australiano – responsáveis por distribuir o movimento para as quatro rodas traseiras. Essas caixas, independentes e com ampla variação angular em relação ao solo, asseguravam o contato contínuo das rodas com terrenos irregulares e desagregados, conferindo aos veículos uma capacidade ímpar de mobilidade. O sistema foi amplamente adotado pelas Forças Armadas Brasileiras, sendo integrado a veículos utilitários militares. Paralelamente, o Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), localizado em São Paulo, dedicava esforços ao desenvolvimento da Viatura Blindada Brasileira 1 (VBB-1), um veículo blindado sobre rodas com tração 4x4. O programa VBB-1 teve início no segundo semestre de 1968, com a produção de uma maquete em escala e a construção do primeiro protótipo funcional, concluídas no primeiro semestre de 1970. Apesar dos resultados promissores, o Comando do Exército Brasileiro demonstrou maior interesse em um veículo com tração 6x6, alinhado ao padrão estabelecido pelo blindado Ford M-8 Greyhound, utilizado com sucesso pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente, considerou-se a possibilidade de adaptar o protótipo do VBB-1, estendendo sua carroceria para uma configuração 6x6. Contudo, limitações técnicas inviabilizaram essa abordagem, levando à decisão de desenvolver um novo veículo. No início de 1970, a Diretoria de Motomecanização (DMM) do Exército Brasileiro definiu as especificações para um novo veículo blindado de reconhecimento com tração 6x6, dando origem ao programa Viatura Blindada Brasileira 2 (VBB-2). A ENGESA foi convidada a participar do desenvolvimento, trazendo sua expertise em sistemas de tração e engenharia militar. O primeiro protótipo do VBB-2 foi concluído em 1970 e submetido a um extenso programa de testes de campo, que demonstrou resultados altamente satisfatórios. Com base no desempenho do protótipo, o Exército autorizou, em maio de 1971, a produção de uma série inicial de cinco veículos pré-série, número posteriormente elevado para oito unidades, conforme contrato firmado com a ENGESA. O desenvolvimento do ferramental e dos desenhos de engenharia necessários para a produção em série enfrentou desafios, resultando em atrasos no cronograma original. A finalização do último veículo da série pré-série ocorreu apenas em 1975.
Os veículos pré-série do programa Viatura Blindada Brasileira 2 (VBB-2) foram submetidos a um rigoroso programa de testes e avaliação, percorrendo 32.000 km entre as cidades de São Paulo, Uruguaiana e Alegrete. Durante essa fase, diversas modificações foram implementadas, incluindo a substituição da torre original por uma versão derivada do blindado Ford M-8 Greyhound, com alongamentos laterais e traseiros. Após a conclusão bem-sucedida dos testes e a homologação, o veículo foi oficialmente designado Carro de Reconhecimento Médio (CRM) EE-9 Cascavel M1. Em 1974, foi formalizado um contrato para a aquisição de 110 unidades, com as primeiras entregas destinadas aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec) do Exército Brasileiro. O sucesso operacional do EE-9 Cascavel no Exército Brasileiro incentivou a diretoria da ENGESA a explorar o mercado internacional. Estudos foram conduzidos para adaptar o veículo às demandas de exportação, incluindo a incorporação de um canhão de 90 mm. Essa estratégia revelou-se eficaz, resultando na venda de 20 unidades para as Forças Terrestres do Catar (Qatari Emiri Land Forces). O desempenho excepcional do Cascavel em operações atraiu o interesse de outras nações, culminando, em 1977, na assinatura de um contrato com os Emirados Árabes Unidos para o fornecimento de 200 unidades. Esses contratos reforçaram a reputação da ENGESA no mercado global de defesa. Paralelamente, a ENGESA avançava no desenvolvimento do Carro de Transporte de Tropas Anfíbio (CTTA), posteriormente designado EE-11 Urutu. Em 1973, as primeiras seis unidades foram entregues ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN). O sucesso do Urutu no mercado interno abriu portas para exportações, com contratos firmados para o fornecimento de 40 unidades à Líbia e 37 ao Chile, além de outras negociações concretizadas nos anos subsequentes. Tanto o EE-9 Cascavel quanto o EE-11 Urutu alcançaram notável sucesso comercial, sendo adquiridos por diversas nações e gerando recursos significativos para o desenvolvimento de novos projetos pela empresa. Apesar do desinteresse do Ministério do Exército Brasileiro por veículos blindados com tração integral 4x4, a diretoria comercial da ENGESA identificou uma oportunidade promissora no mercado de exportação para viaturas com essa configuração. Assim, foram estabelecidos os parâmetros iniciais para o desenvolvimento de um novo veículo leve blindado, concebido para atender às seguintes especificações Tripulação: Composta por motorista, comandante e atirador Tração: Sistema integral 4x4, Direção: Hidráulica, com opção de acionamento mecânico em emergências, Grupo motriz: Motor diesel posicionado na traseira, acoplado a uma transmissão mecânica com cinco velocidades à frente e uma à ré e Sistema elétrico: 24 volts, com circuitos de iluminação civil e militar Esse projeto visava atender às demandas de mercados internacionais, capitalizando a expertise da ENGESA em veículos off-road e blindados. O Engesa EE-3 Jararaca, desenvolvido pela ENGESA (Engenheiros Especializados S/A), foi concebido como um veículo leve blindado com tração integral 4x4, projetado para atender às demandas do mercado internacional de defesa. 

Apesar do desinteresse do Exército Brasileiro por veículos nesta configuração, a ENGESA identificou oportunidades significativas no mercado de exportação, culminando na criação de um veículo compacto, versátil e economicamente viável. Este documento detalha as especificações técnicas, características operacionais e esforços de comercialização do EE-3 Jararaca. O EE-3 Jararaca foi projetado com foco na agilidade, mobilidade e baixo custo operacional, incorporando componentes amplamente utilizados na indústria automotiva nacional para facilitar a logística de manutenção e reposição de peças. Suas principais características incluem: Armamento principal: Metralhadora de 7,62 mm ou 12,7 mm, instalada em uma torreta giratória blindada, complementada por quatro lançadores de granadas fumígenas, Capacidade anticarro: Compatibilidade com o sistema de mísseis MBDA Milan 1A2, permitindo operações contra alvos blindados e Proteção: Blindagem leve, pneus à prova de balas com sistema automático de enchimento e conjunto ótico de periscópios para observação. Como opcional, o veículo podia ser equipado com um sistema passivo de visão noturna.  Visando a agilidade e velocidade no campo de batalha, o modelo seria concebido como de porte  extremamente compacto, apresentando um peso máximo era da ordem de apenas 5.800 kg, com uma autonomia projetada de 700 km, com baixo consumo de diesel (na ordem de 6 km/l). Deveria ainda alcançar uma velocidade máxima de 100 km/h, podendo subir rampas de 60% e inclinação máxima lateral de 30%, superando obstáculos verticais na ordem de 400 mm, podendo transpor vãos de até 800 mm. Conforme citado anteriormente a busca pela melhor relação de custo-benefício, levaria ao emprego de grande parte de seus componentes mecânicos oriundos da indústria automotiva nacional, principalmente utilizados em caminhões comerciais, o que facilitava a logística de peças de reposição. Foi escolhido o comprovado motor turbo diesel Mercedes Benz OM-314A de quatro cilindros em linha acoplado a uma caixa de mudanças Clark Equipamentos M240V operando com uma caixa de redução Engesa de engrenagens helicoidais, engrenamento constante e relação 1,0:1. Seu sistema de direção hidráulica Modelo 8058 era produzido pela ZF do Brasil e sua suspensão de tipo eixo rígido, flutuante, com molas semielípticas e amortecedores de dupla ação, sistema de freio Bendix a tambor com acionamento a ar sobre o hidráulico e freio de estacionamento mecânico. Com recursos próprios, a ENGESA concluiu a construção dos dois primeiros protótipos do EE-3 Jararaca no final de 1979. Em 1980, os veículos foram apresentados ao Comando do Exército Brasileiro em uma cerimônia protocolar. Apesar da falta de interesse da Força Terrestre Brasileira, que priorizava veículos com tração 6x6, o Jararaca recebeu elogios dos oficiais presentes pela sua concepção inovadora e desempenho. A diretoria comercial da ENGESA lançou uma campanha internacional para promover o EE-3 Jararaca, seguindo a tradição da empresa de nomear seus veículos com referências a cobras venenosas da fauna brasileira. Pesquisas de mercado conduzidas pelo departamento de marketing identificaram o Exército Iraquiano como o principal cliente em potencial, refletindo o foco estratégico da empresa em mercados com alta demanda por veículos leves blindados.
O Engesa EE-3 Jararaca, um veículo leve blindado com tração integral 4x4 desenvolvido pela empresa (Engenheiros Especializados S/A), foi projetado para atender às demandas do mercado internacional de defesa. Apesar de expectativas iniciais de sucesso comercial, o projeto enfrentou obstáculos contratuais, geopolíticos e concorrenciais que limitaram sua penetração no mercado global. Este documento detalha o processo de exportação, os desafios enfrentados e o legado operacional do EE-3 Jararaca. A Engesa S/A conduziu negociações que culminaram na assinatura de um contrato para a exportação de 280 unidades do EE-3 Jararaca ao Exército Iraquiano. Esse acordo gerou otimismo, com projeções de mercado indicando que o veículo poderia se tornar um dos principais produtos do portfólio da empresa a longo prazo. No entanto, a inadimplência do Iraque em contratos anteriores com a empresa levou à suspensão de todas as entregas, representando um revés significativo para o projeto. Apesar do contratempo inicial, a ENGESA manteve sua confiança no projeto e alcançou seu primeiro êxito comercial em 1983, com a assinatura de um contrato para o fornecimento de 15 unidades do EE-3 Jararaca à Guarda Nacional Cipriota (Εθνική Φρουρά, Ethnikí Frourá). A aquisição fez parte de um amplo plano de modernização das forças armadas do Chipre, motivado pelas tensões decorrentes da declaração de independência do norte do país. Diferentemente de sua função original de reconhecimento e exploração, os Jararacas foram utilizados em missões antitanque, equipados com mísseis guiados MBDA Milan, operando em conjunto com os blindados Engesa EE-9 Cascavel. A Engesa S/A iniciou novas negociações com o governo da Líbia, que exigiu a integração de um sistema completo de proteção contra ameaças nucleares, químicas e biológicas (NBC) para garantir a segurança dos tripulantes em ambientes hostis. A equipe de engenharia da empresa atendeu prontamente a essa demanda, incorporando kits especializados de origem norte-americana que cumpriam as especificações do Alto Comando das Forças Armadas Líbias (al-Qiyada al-ulya lil-quwwat al-musallaha). Contudo, a transação foi vetada pelo governo dos Estados Unidos, que identificou a Líbia como um possível intermediário para a transferência dos veículos a países sob embargos internacionais, interrompendo a venda. O final da década de 1980 foi marcado por transformações no cenário geopolítico, com o arrefecimento da Guerra Fria e a consequente redução global nos investimentos em defesa. Nesse contexto, a diretoria da ENGESA constatou que o EE-3 Jararaca enfrentava dificuldades para competir em concorrências internacionais, especialmente devido à crescente oferta de blindados sobre rodas com tração 6x6 e 8x8. Essas condições limitaram significativamente as oportunidades de exportação do modelo. Ao todo, foram produzidas 63 unidades do EE-3 Jararaca, com as seguintes exportações: Uruguai: 16 unidades, Gabão: 12 unidades, Guiné-Bissau: 10 unidades, Equador: 10 unidades e Chipre: 15 unidades. Diversas dessas viaturas permanecem em operação, com destaque para as unidades do Exército Nacional do Uruguai, que foram amplamente empregadas em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), notadamente na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH).

Emprego no Exército Brasileiro.
Os esforços iniciais para o desenvolvimento de um veículo leve blindado com tração integral 4x4, destinado à Força Terrestre Brasileira, tiveram origem na década de 1970. Esse período foi marcado por um movimento de modernização das forças motomecanizadas do Exército Brasileiro, que buscava substituir equipamentos obsoletos recebidos durante a Segunda Guerra Mundial. Este documento detalha o contexto histórico, os objetivos iniciais e os desafios enfrentados no desenvolvimento de tais viaturas, bem como o impacto da priorização de outros projetos. Na década de 1970, o Exército Brasileiro enfrentava a obsolescência de sua frota motomecanizada, composta majoritariamente por veículos adquiridos por meio do programa Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) durante a Segunda Guerra Mundial. Esses equipamentos, incluindo jipes Willys MB e Ford GPW, utilizados pelos Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RC Mec) em missões de exploração, careciam de blindagem, expondo seus ocupantes a alta vulnerabilidade em cenários operacionais modernos. A modernização da frota militar brasileira foi parcialmente atendida na década de 1960, com a aquisição de novos equipamentos sob os termos do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos. Entre os veículos recebidos, destacam-se: carros de combate M-41 Walker Bulldog; veículos blindados de transporte de pessoal M-59 e M-113; aminhões de transporte REO M-35 e M-34 e diversos modelos de utilitários leves. Apesar dessas aquisições, a necessidade de viaturas mais adequadas às demandas contemporâneas persistia, especialmente para missões de reconhecimento e exploração. Nesse contexto, a equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), sediada em São Paulo, apresentou, na década de 1970, as primeiras propostas para o desenvolvimento de um veículo leve blindado com tração integral 4x4, designado inicialmente como “Autometralhadora 4x4”. O objetivo principal era substituir os jipes Willys MB e Ford GPW, oferecendo maior proteção e capacidade operacional aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada. O Comando do Exército Brasileiro, à época, optou por priorizar o desenvolvimento de um veículo blindado sobre rodas com tração 6x6, em detrimento das propostas com tração 4x4. Essa decisão redirecionou os esforços do programa VBB, que foi reformulado para atender à nova demanda. O resultado foi o desenvolvimento do Engesa EE-9 Cascavel, um blindado leve que se consolidou como o maior sucesso da indústria nacional de defesa. O EE-9 Cascavel demonstrou eficácia excepcional em missões de combate, reconhecimento e exploração, atendendo plenamente às necessidades operacionais do Exército Brasileiro. Seu sucesso inviabilizou a continuidade do desenvolvimento de um veículo leve blindado 4x4 para funções semelhantes, uma vez que as capacidades do Cascavel supriram as demandas estratégicas da Força Terrestre.

Na década de 1970, a Engesa S/A, sediada em São Paulo, consolidava-se como um dos principais fornecedores das Forças Armadas Brasileiras e um relevante ator no mercado internacional de defesa. Com contratos significativos para o fornecimento de veículos como os caminhões EE-15 (4x4), EE-25 (6x6) e os blindados sobre rodas EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu (ambos 6x6), a empresa buscava expandir sua presença no segmento de viaturas blindadas. Apesar da relutância do Exército Brasileiro em adotar blindados com tração integral 4x4, a Engesa aproveitou sua sólida relação com os comandos militares para iniciar um programa de cooperação, retomando conceitos do projeto Viatura Blindada Brasileira 1 (VBB-1). Este documento detalha o desenvolvimento do Engesa EE-3 Jararaca, os esforços para atender ao mercado interno e externo, e os testes realizados pelo Exército Brasileiro. A Engesa identificou uma oportunidade estratégica no mercado de exportação e em uma potencial concorrência nacional, prevista para a aquisição de aproximadamente 1.200 viaturas blindadas leves sobre rodas. Essas viaturas seriam divididas em variantes especializadas, incluindo: Reconhecimento; Anticarro; Radar; Posto de comando; Observador avançado e Porta-morteiro. Para se posicionar competitivamente, a Engesa propôs o desenvolvimento de um veículo com alta comunalidade de componentes com os já consagrados EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu. Essa estratégia visava oferecer ao Exército Brasileiro uma solução com excelente relação custo-benefício, reduzindo os custos de operação e manutenção. O projeto também se baseava em estudos anteriores do programa VBB-1, conduzidos pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo. Apesar do desinteresse inicial do Ministério do Exército por viaturas 4x4, a Engesa demonstrou iniciativa ao financiar, com recursos próprios, a construção de dois protótipos funcionais do novo veículo. Esses protótipos, concluídos no final de 1979, foram submetidos a testes internos pela equipe de avaliação da empresa. Os resultados iniciais revelaram diversos problemas técnicos, exigindo uma revisão abrangente do projeto, que se estendeu por todo o ano de 1980. Em abril de 1981, os dois protótipos do EE-3 Jararaca foram entregues ao Exército Brasileiro e transportados para o Campo de Provas de Marambaia, no Rio de Janeiro, onde foram submetidos a um rigoroso programa de testes de campo. O objetivo era avaliar o desempenho das viaturas em condições operacionais extremas, levando-as aos seus limites máximos. O programa de testes foi concluído em meados de março de 1982, fornecendo dados valiosos sobre as capacidades e limitações do veículo.
O Engesa EE-3 Jararaca, um veículo leve blindado com tração integral 4x4 desenvolvido pela Engesa S/A, representou um esforço ambicioso para atender às demandas do mercado de defesa. Apesar do potencial inicial, o projeto enfrentou desafios técnicos e comerciais que culminaram em seu fracasso no mercado interno e em exportações limitadas. Este documento analisa o relatório final de avaliação do Exército Brasileiro, as dificuldades comerciais enfrentadas pelo Jararaca e os fatores que levaram à falência da Engesa S/A. Após extensos testes realizados no Campo de Provas de Marambaia, no Rio de Janeiro, entre abril de 1981 e março de 1982, o relatório final de avaliação do Exército Brasileiro não recomendou a adoção do EE-3 Jararaca. A decisão não foi motivada pelo conceito de um veículo com tração 4x4, mas pelas falhas mecânicas recorrentes observadas durante a operação em diversos tipos de terreno. Especula-se que essas deficiências tenham origem em falhas de engenharia negligenciadas durante a fase de projeto, possivelmente devido à pressão para cumprir o cronograma de apresentação dos protótipos a potenciais clientes. Essa avaliação negativa eliminou qualquer perspectiva de aquisição do EE-3 Jararaca pelo Exército Brasileiro, encerrando a possibilidade de adoção de viaturas blindadas leves 4x4 no país. Em junho de 1981, os dois protótipos foram devolvidos à Engesa S/A. Apesar do revés no mercado interno, a diretoria da Engesa optou por concentrar esforços na exportação do EE-3 Jararaca. Contudo, o mercado internacional de defesa na década de 1980 mostrava uma clara preferência por veículos blindados com tração 6x6 e 8x8, limitando as oportunidades de vendas em larga escala. Até meados da década, apenas 63 unidades foram produzidas para exportação, distribuídas entre países como Uruguai, Gabão, Guiné-Bissau, Equador e Chipre. Esse volume representou um fracasso comercial significativo, considerando as expectativas iniciais para o projeto. A partir de meados da década de 1980, a Engesa S/A começou a enfrentar sérias dificuldades financeiras, caracterizadas por déficits em capital de giro e fluxo de caixa. Esses problemas foram agravados por dois fatores principais: Investimento no EE-T1 Osório: O desenvolvimento do Carro Principal de Combate (Main Battle Tank - MBT) EE-T1 Osório consumiu recursos substanciais, mas o projeto não resultou em contratos de produção, comprometendo a saúde financeira da empresa. Inadimplência do Iraque: Contratos anteriores de fornecimento de veículos blindados e caminhões militares ao governo iraquiano geraram uma inadimplência de aproximadamente US$ 200 milhões, impactando severamente a liquidez da Engesa. A empresa depositava esperanças em uma possível assistência financeira do Governo Federal. No entanto, em um contexto de busca por equilíbrio fiscal, esse apoio não se materializou. Entre os muitos credores da massa falida, se destacava o  Governo Federal  como principal, com dividas alicerçadas em empréstimos bancários e impostos,  e assim seria decidido que grande parte dos ativos, veículos e peças de reposição deveriam ser incorporados ao Exército Brasileiro por autorização judicial. Após a devolução dos dois protótipos funcionais do Engesa EE-3 Jararaca pela Engesa S/A ao Exército Brasileiro em 1981, os veículos foram submetidos a revisões e alocados para uso operacional limitado. 
Apesar das limitações técnicas e da rejeição inicial para adoção em larga escala, os protótipos foram empregados em missões específicas e demonstraram potencial para operações urbanas e táticas especializadas. Este documento detalha a alocação, o emprego operacional, as características únicas dos protótipos e o contexto de sua substituição no Exército Brasileiro. Em 1981, os dois protótipos do EE-3 Jararaca foram designados para o 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado (13º RC Mec), sediado em Pirassununga, São Paulo. Antes de sua transferência, os veículos passaram por uma revisão completa nas oficinas do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) para restaurar sua plena capacidade operacional. Após a conclusão desse processo, os blindados foram trasladados à unidade de destino, onde foram integrados a missões de reconhecimento em conjunto com os blindados Engesa EE-9 Cascavel. Um dos protótipos apresentava uma configuração especializada para operações em cenários de guerra nuclear, química e biológica (NBC). Este veículo foi projetado com a missão de identificar e sinalizar a presença de substâncias tóxicas no campo de batalha, utilizando um sistema de dispenser de bandeirolas coloridas instalado em sua parte traseira. Equipado com um sofisticado sistema de proteção NBC, o protótipo contava com filtros de ar condicionado avançados e máscaras de proteção química, garantindo segurança à tripulação em ambientes contaminados. A existência de apenas duas unidades do EE-3 Jararaca no Exército Brasileiro impunha severas restrições ao seu emprego operacional. Em 2012, foi decidido que um dos protótipos seria retirado de serviço e incorporado ao acervo do Museu Blindado do Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBld), no Rio de Janeiro, para preservação histórica. O segundo protótipo permaneceu em serviço restrito no 13º RC Mec, com uso limitado devido à sua condição de unidade única. Apesar das críticas e da rejeição inicial pelo Exército Brasileiro, o EE-3 Jararaca apresentava características que poderiam ter sido vantajosas em cenários específicos. Suas dimensões compactas e mobilidade o tornavam ideal para operações em áreas urbanas, especialmente em missões de segurança pública e operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), como as realizadas em comunidades do Rio de Janeiro. Nessas situações, o Jararaca oferecia proteção blindada adequada e capacidade de manobra superior, evitando a necessidade de empregar veículos maiores, como blindados 6x6 ou sobre esteiras. No contexto militar tradicional, o veículo poderia ter sido empregado em unidades de ataque rápido, com a possibilidade de ser transportado por aeronaves de carga Lockheed C-130H Hercules da Força Aérea Brasileira, ampliando sua versatilidade em operações aerotransportadas.A lacuna deixada pela ausência de um veículo blindado leve 4x4 no Exército Brasileiro somente foi preenchida em 2022, com a entrega das primeiras unidades do Iveco LMV Lince MK2. Essas viaturas fazem parte do programa estratégico Viatura Blindada Multitarefa, Leve Sobre Rodas (VBMT-LR), que visa modernizar a frota de veículos leves blindados da Força Terrestre, atendendo às demandas operacionais contemporâneas. Os protótipos do Engesa EE-3 Jararaca, embora limitados em número e enfrentando desafios técnicos, representaram uma oportunidade perdida para o Exército Brasileiro no que diz respeito a operações urbanas e táticas especializadas. A configuração NBC de um dos protótipos demonstrou inovação, mas a falta de escala impediu sua plena utilização. A incorporação do Iveco LMV Lince MK2 em 2022 finalmente supriu a necessidade de um veículo blindado leve 4x4, destacando a relevância contínua desse tipo de viatura. O legado do Jararaca permanece como um marco da engenhosidade da Engesa S/A e da evolução da indústria de defesa brasileira.

Em Escala.
O único modelo disponível para representar o EE-3 Jararaca é um kit artesanal em resina na escala 1/35, caracterizado por sua construção rústica e simplificada. Devido à sua natureza espartana, o kit apresenta imperfeições que exigem reparos e correções significativas para alcançar um nível aceitável de realismo. Observa-se que o modelo parece ter sido inspirado no Engesa EE-9 Cascavel, também produzido pela Engesa, mas em uma versão encurtada. Essa semelhança implica a necessidade de diversas modificações, incluindo correções estruturais, mudanças de design e inclusão de detalhes adicionais para refletir com precisão as características do Jararaca. Para aprimorar a representação do veículo, foram utilizados decais do conjunto “Forças Armadas do Brasil 1983-2002”, produzido pela Decal e Books. Esses decais contribuem para a autenticidade visual, reproduzindo marcações específicas do período em que o EE-3 Jararaca esteve em serviço ou avaliação pelo Exército Brasileiro.
O Exército Brasileiro adota esquemas de pintura t (FS - Federal Standard) específicos para seus veículos blindados, visando otimizar a camuflagem e a identificação tática em operações. Este documento descreve o padrão de pintura tático em dois tons, implementado a partir de 1983 para todos os carros blindados da Força Terrestre Brasileira, bem como as variações observadas nas viaturas recebidas. Apesar da adoção do padrão de dois tons a partir de 1983, as viaturas blindadas entregues ao Exército Brasileiro apresentavam dois esquemas de camuflagem distintos. Essas variações indicam possíveis diferenças nos processos de fabricação, adaptações específicas para unidades ou ajustes realizados durante a manutenção das viaturas.


Bibliografia : 

- EE-3 Jararaca 4X4 Um Conceito Esquecido, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Engesa EE-3 Jararaca, Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/EE-3_Jararaca
- Uma Realidade Brasileira - por Expedito Carlos Stephani Bastos

Bell Model 47D1 H-13D

História e Desenvolvimento. 
O emprego de aeronaves militares de asas rotativas na Segunda Guerra Mundial remonta a meados do ano de 1940, quando o modelo alemão Flettner FL 282 “Kolibri”, um aparelho de cockpit aberto e rotores entrelaçados e assento único,  seria liberado pela Força Aérea Alema (Luftwaffe) para produção. Inicialmente pretendia-se usar esta aeronave para realizar o transbordo de cargas e passageiros entre os navios da Marinha Alemã (Kriegsmarine). Em seguida seria desenvolvida a versão  FL 282 B-2,  equipada com um segundo assento, para ser ocupado por um observador, que deveria ser encarregado de prover o reconhecimento avançado do campo de batalha.  A cada fase do programa de ensaios em voo, este conceito de aeronave se mostrava cada vez mais promissor, levando o governo a encomendar a produção de mil células a empresa Bayerische Motoren Werke AG - BMW. Porém a forte campanha de bombardeio aliado a máquina industrial nazista, arrasaria grande parte do parque fabril aeronáutico alemão, levando assim a priorização de recursos para a produção de aeronaves de combate, resultando em apenas vinte e quatro helicóptero efetivamente entregues. Já no lado dos Aliados, o desenvolvimento de aeronaves de asas rotativas apresentaria grandes avanços perto do final do conflito, com os primeiros helicópteros realmente funcionais os Sikorsky R-4, sendo destacados para operação no teatro de operações do Pacífico em junho de 1945. Mesmo neste curto espaço de tempo, ficaria claro o potencial operacional deste tipo de aeronave nos conflitos futuros. Neste momento, outros fabricantes norte-americanos ensaiavam sua participação neste novo nicho mercadológico, entre estes a Bell Aircraft Company, que passaria a investir recursos, em um projeto liderado pelo engenheiro aeronáutico Arthur Young. Oficialmente apresentado ao comando da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) no dia 03 de setembro de 1941, este projeto visava o desenvolvimento de uma aeronave de asas rotativas de pequeno porte. Este programa receberia um pujante financiamento governamental, que envolvia inicialmente a produção de dois protótipos da aeronave agora designada como Bell Model 30. Seu primeiro voo ocorreria em 26 de junho de 1943, e logo seria submetido a um extenso programa de ensaios e testes de voo. Deste processo emergiria uma nova versão aprimorada, o  Bell Model 47. 

As expectativas a cerca deste novo modelo de aeronave, levariam a empresa a criar um divisão industrial especializada a Bell Helicopter Company, com suas instalações sediadas no Forte Worth no estado do Texas. O primeiro Bell Model 47 alçaria voo no dia  8 de junho de 1945, apresentando um sistema de rotor simples com duas hélices de madeira, motor convencional, uma seção tubular de aço soldado desprovida de carenagem e com o cockpit coberto com uma bolha em de plexiglass.  Esta seção superior poderia ainda ser removida transformando a aeronave em um helicóptero conversível, posteriormente esta bolha em plexiglass passaria a ser moldada em uma peça só, se tornando visualmente a marca registrada do modelo. Este design de cabine de comando, apresentaria uma ampla e excelente visibilidade, oque tornava mais seguro sua condução. Sua versão inicial de produção o Bell Helicopter Model 47A, receberia sua homologação para o mercado civil (classificação H1) no dia 08 de março de 1946, oficialmente se tornaria a primeira aeronave comercial de asas rotativas do mundo. Sua capacidade de transporte de um piloto e mais dois passageiros e sua confiabilidade mecânica,  tornariam o modelo rapidamente um sucesso comercial no mercado civil e governamental. Neste meio tempo, encontrava-se em curso o desenvolvimento da versão militar, com via a atender as demandas das forças armadas norte-americanas que buscavam a incorporação de uma aeronave de  leve de asas rotativas para o emprego em  missões de ligação e observação. Baseado no modelo civil, esta versão se distinguia visualmente pela adoção de um cone de cauda coberto com tecido e trem de pouso com quatro rodas. Em termos de conjunto mecânico, a nova aeronave estaca equipada com um motor mais potente o Franklin 6V4-178-B3 de 178 hp. O primeiro protótipo seria entregue para avaliação em abril de 1946, e deste programa de ensaios em voo emergiria a versão militar inicial  de produção o Bell H-13 Sioux. Um primeiro contrato envolvendo  vinte e oito helicópteros seria celebrado, com as primeiras células sendo entregues ao Exército dos Estados Unidos (US Army) em dezembro do mesmo ano.
Após definida sua doutrina operacional, os primeiros Bell H-13 seriam colocados em serviço ativo atuando em tarefas de ligação e observação, e seus excelentes resultados em açao despertariam a atenção do comando da aviação naval da  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e da Guarda Costeira dos Estados Unidos (US Coast Guard). Após tratativas seriam firmados os primeiros contratos de produção para estes ramos das forças armadas, inicialmente se limitando a um pequeno número de aeronaves, com estas sendo idênticas a versão empregada pelo Exército dos Estados Unidos (US Army). As primeiras aeronaves destinadas a aviação naval seriam entregues no início do ano de 1948, e após o início das operações verificaria-se a necessidade de customização do modelo para atendimento aos parâmetros de operação naval. Suas missões geralmente compreendiam voos de longa duração sobre o mar aberto sem possibilidade de pousos de emergência, e neste contexto deveria-se priorizar o desempenho e consequente segurança. Com base nestas exigências a equipe de projeto da  Bell Helicopter Company desenvolveria a versão Bell 47D1, que passava a ser equipada com o novo motor Franklin O-335-3 que apresentava agora 200 hp de potência nominal. Apesar de manter sua capacidade de transporte de duas pessoas, teria sua carga útil aumentada para 225 kg e voltava a equipado com trem de pouso do tipo esqui, dispensando ainda a cobertura de lona na fuselagem.  As hastes horizontais de suporte dos esquis eram retas formando ângulos retos entre as hastes e os esquis, o que permitiria a colocação de uma maca em cada lado externo da aeronave para o transporte de feridos, agregando as tarefas originais de treinamento e emprego geral, a missão de evacuação aero médica o que potencializaria o valor militar da nova aeronave. Este novo modelo logo conquistaria novos contratos de produção, elevando rapidamente o número de células em serviço militar ativo nos anos seguintes. 

Seu batismo de fogo ocorreria na Guerra da Coreia (1950 a 1953), quando os novos Bell H-13D  das três forças armadas norte-americanas, seriam empregados em larga escala no conflito atuando em missoes de ligação, observação e principalmente no transporte de feridos da linha de frente diretamente para os centros médicos de campanha, recebendo esta tarefa a denominação de MEDEVAC (Medical Evacuation – Evacuação Aero médica).  Este novo escopo operacional demandaria o aumento de aeronaves de asas rotativas naquele teatro de operações, levando assim a celebração de novos contratos de aquisição envolvendo centenas de células. A grande disponibilidade destas aeronaves de asas rotativas aliadas ao desenvolvimento de uma doutrina operacional de socorro aero médico resultaria em um enorme registro de resgates de feridos, transporte e salvamento, atingindo a impressionante cifra de mais de quinze mil soldados norte-americanos salvos durante este conflito. Em seu país de origem o Bell H-13D viria a se tornar o primeiro treinador padrão primário de aeronaves de asas rotativas desempenhando esta missão junto a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), Exército dos Estados Unidos (US Army), Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps). Além da formação de uma geração inteira de pilotos estas aeronaves seriam vitais no desenvolvimento da doutrina operacional de emprego de helicópteros. A fabricação do Bell 47D em suas versões militares e civis, alcançaria a cifra de mil células produzidas até o ano 1953, quando começaram a ser desenvolvidas e fabricadas novas variantes para o atendimento de demandas de clientes internacionais nos mercados civil e militar. Dentre estes destacamos os modelos Bell 47E, Bell 47F, Bell 47G, Bell 47G2 e Bell 47H, esta última desenvolvida para o transporte de até três pessoas contando com  o canopy totalmente fechado. As oportunidades internacionais levariam no transcorrer das décadas de 1950 e 1960 a empresa a licenciar a produção dos modelos da família Bell Model 47. Um total de mil e duzentas aeronaves das versões Bell 47G e Bell 47J seriam entregues pela empresa italiana Augusta SpA e mais quatrocentos e vinte e dois helicópteros produzidos pela inglesa Westland Aircraft Company. 
Em 1952 um acordo de produção sob licença seria celebrado entre a Bell Helicopter Company e a empresa japonesa Kawasaki Aircraft Enginnering, envolvendo principalmente as versões Model 47D e do Model 47G, com sua produção sendo efetivamente iniciada somente no início do ano de 1954. Este acordo contemplava as  versões militares e civis, tanto para o mercado doméstico quanto para exportação. Este programa seria descontinuado no Japão somente em meados do ano de 1976 com quatrocentos e quarenta e sete helicópteros produzidos. Esta família de aeronaves de asas rotativas se manteria em produção ininterrupta por vinte e sete anos, com a última linha sendo descontinuada somente no ano 1977. O Bell Model 47 pode ser considerado o modelo pioneiro de aeronave de asas rotativas de alta produção e operação. Sua imagem seria eternizada no imaginário popular na série de TV Mash que retratava o dia a dia do serviço médico militar norte-americano durante a Guerra da Coréia. Ao todo até fins da década de 1970 seriam entregues entre versões civis e militares mais de cinco mil células, com muitas destas se mantendo operacionais até o ano de 1998. Seriam empregadas no serviço militar na  Alemanha Ocidental, Argentina, Austrália, Brasil, Canada, Colômbia, Dinamarca, Espanha, Cuba, El Salvador, Egito, Sudão, Senegal, Bolívia, Estados Unidos, Franca, Grécia, Israel, Itália, México, Noruega, Nova Zelândia, Paquistão, Paraguai, Peru, Reino Unido, Brasil, Suécia, Tailândia, Turquia e Vietnã do Sul. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira contava com mais de mil e quinhentas modernas aeronaves militares, com quase a sua totalidade sendo recebida a partir de 1942, nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Em termos de capacidade ofensiva dispunha-se de um grande número de células de aeronaves de primeira linha, como os famosos caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, Curtiss P-40 Warhawk e aeronaves de ataque Douglas A-20 Havoc e North American B-25 Mitchel. Esta combinação de aeronaves de combate combinada com modelos de transporte e patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), tornavam está a segunda maior força aérea das Américas, e a maior arma aérea do hemisfério sul do planeta. Apesar deste cenário se mostrar aceitável de imediato, as perspectivas futuras de médio prazo, seriam drasticamente alteradas pela evolução tecnológica aeronáutica observada no fim desta mesma década. Além da crescente participação de aeronaves movidas com motores de reação, começava a se destacar a introdução e operação dos primeiros modelos de aeronaves de asas rotativas, principalmente nas forças armadas norte-americanas, com o emprego dos primeiros Sikorsky R-4 e Bell 47D Sioux . Inclusive com sua versatilidade sendo testada e aprovada em cenários de conflitos reais em missões de transporte de pessoal, ligação, observação de campo de batalha e evacuação aero médica , como observado no transcorrer da Guerra da Coreia (1950 – 1953). Atento a estas mudanças, no início da década de 1950, o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer) empreenderia estudos envolvendo o planejamento e estruturação do seu primeiro grande plano de modernização. Entre os pontos focais deste processo estava a aquisição vetores, e a criação e operação de um núcleo destinados ao emprego de aeronaves de asas rotativas. Seria definido neste estudo, que a primeira missão deste grupo seria focada principalmente para prestar serviços de transporte  aéreo especial (VIP – Very Important Person) aos mais altos escalões do governo federal.

O programa de aquisição de aeronaves de asas rotativas, seria deflagrado pelo Ministério da Aeronáutica (MAer)  em fins do ano de 1951, e após análises técnicas, a escolha recaindo sobre o fabricante Bell Helicopter Company através do seu modelo Bell 47D1. Esta versão estava equipada com motor Franklin O-335 de 178 HP de potência, representando neste momento o modelo militar mais atualizado em produção, equipando o braço aéreo de todas as forças armadas norte-americanas. Após tratativas comerciais, em 25 de março de 1952, seria celebrado com o representante da marca no país, um contrato para a aquisição de quatro aeronaves novas de fábrica, englobando neste pacote os serviços de treinamento e fornecimento de peças de reposição. Como se tratava do modelo de série sem customizações, estas células seriam retiradas da linha de produção, acelerando assim sua montagem para o atendimento da demanda brasileira. Em novembro do mesmo ano seria concluída a produção da última aeronave, sendo estas oficialmente inspecionadas por oficiais da Aeronáutica nas instalações da Bell Helicopter Company,  em Fort Worth no estado do  Texas. Em seguida seriam desmontados e preparados para o transporte ao Brasil por via marítima, sendo recebidos no porto do Rio de Janeiro nos primeiros dias do ano de 1953. Após serem descarregadas, seriam transportadas por via terrestre até o aeroporto do Galeão, onde passariam a ser montadas nas instalações da Fábrica do Galeão (FGL) por técnicos do fabricante em conjunto com o pessoal técnico da empresa estatal brasileira. Porém neste processo observou-se que uma das células infelizmente havia sido extremamente danificada na operação de transporte ao Brasil. Análises mais aprofundadas dos danos sofridos, classificariam a recuperação da célula como economicamente inviável. Desta maneira este aeronave não chegaria a ser montada, com seus componentes sendo separados e armazenados para servirem de suprimento as demais células operacionais. 
Este helicóptero passaria a ser designado na Força Aérea Brasileira como H-13D, recebendo as matrículas 8500 a 8502. Suas operações seriam iniciadas a partir do Aeroporto Santos Dumont, onde ficavam concentradas as estruturas e aeronaves pertencentes a Seção de Aeronaves de Comando (SAC), que era subordinada ao Quartel General da III Zona Aérea, organização esta criada para uso exclusivo no transporte das autoridades do governo brasileiro. Esta unidade evoluiria no futuro, se tornando o Esquadrão de Transporte Especial (ETE) e que posteriormente seria o embrião para a formação do Grupo de Transporte Especial (GTE), com a operação de aeronaves de asas rotativas destinadas ao 2º Esquadrão. Vale salientar que estes helicópteros  foram recebidos com a provisão para emprego de kits flutuadores intercambiáveis (equipamento até então inédito no país) com os tradicionais esquis de pouso. Poderiam ainda ser empregados em tarefas de Evacuação Aero médica (MEDEVAC), pois eram equipadas com suporte laterais para instalação de um par de macas externos, destinados ao transporte de feridos. Este pacote de equipamentos especiais, possibilitaria o emprego destes helicópteros no processo de desenvolvimento inicial da doutrina operacional de missões de busca e salvamento (SALVAEREO). Visando garantir maior conforto no transporte especial, o Ministério da Aeronáutica (MAer) efetivaria no ano de 1955 a compra de aeronaves do modelo Bell 47J, versão especializada para as tarefas de transporte VIP (Very Important Person). O recebimento destas aeronaves em 1956, possibilitaria concentração dos Bell H-13D em missões de busca e salvamento SAR (Searching and Rescue). Neste momento estas aeronaves seriam transferidas para o Quartel General da 3º Zona Aérea no Rio de Janeiro (QG3ºZAé), onde operariam até março de 1958, quando foram distribuídos para a 2º Esquadrilha de Ligação e Observação (2ºELO), sediada na Base Aérea do Galeão.

A criação do 2º/10º Grupo de Aviação (2º/10ºGAv) - Esquadrão “Pelicano” em 1957, com sede na Base Aérea de Cumbica na cidade de Guarulhos, determinaria que todo o processo de formação dos pilotos de asas rotativas da Força Aérea Brasileira passaria a ficar sob responsabilidade desta nova unidade. Desta maneira, durante o transcorrer do ano de 1958, as três células remanescentes dos Bell H-13D seriam transferidos para este novo grupo de aviação. Seguindo no processo de formação, estas aeronaves seriam empregadas exaustivamente, porém infelizmente em maio de 1959 o Bell H-13D  "FAB 8500" sofreria um acidente com perda total e vítimas fatais, reduzindo a frota do modelo para somente duas aeronaves. Com a crescente demanda por mais aeronaves de asas rotativas de treinamento, formação de pilotos e também para a realização de missões em apoio ao Exército Brasileiro e a Marinha do Brasil, o Ministério da Aeronáutica (MAer) verificaria a necessidade de aumento de sua frota. Assim em meados do ano de 1959 seria negociado junto a Bell Helicopter Company a aquisição de treze novas aeronaves agora dispostas na versão mais atual o Bell H-13G2.  Estes helicópteros começariam a ser entregues em lotes, a partir do início do ano seguinte, passando a ser distribuídos incialmente ao 2º/10º Grupo de Aviação (2º/10ºGAv) - Esquadrão “Pelicano” para o emprego em tarefas de treinamento e busca e salvamento (SAR). Posteriormente seriam distribuídos a 1 º e 3 º Esquadrilhas de Ligação e Observação (ELO) operando em proveito do Exército Brasileiro e também a 2º Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO) que apoiava as atividades operacionais da Marinha do Brasil. Duas aeronaves operariam temporariamente junto 1º Grupo de Aviação Embarcada (GAE).
Visando padronizar os processos de manutenção e cadeia logística de peças de reposição pertinentes ao parque apoiador da aeronave (PqAerAF), a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) decidiria por elevar as duas últimas células remanescentes do Bell H-13D para a versão atualizada Bell H-13H. Este processo se daria através da implementação de um amplo programa de  modernização, retrofit estrutural e sistema de comunicação. No entanto a principal mudança estaria pautada na substituição do motor original  Franklin O-335-5 com 178 hp, pelo novo  Lycoming VO-435 A1A de 200 hp, muito superior em termos de performance e segurança de voo. Este processo seria conduzido durante o início do ano de 1962 junto as próprias instalações do Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) no Rio de Janeiro, com estas aeronaves sendo devolvidas para o 2º/10º Grupo de Aviação (2º/10ºGAv) - Esquadrão “Pelicano” no início do ano seguinte. Estas células emergiriam deste processo, ostentando a designação de  H-13H, seguindo em operação até o mês de setembro de 1982, quando seriam finalmente  retiradas do serviço ativo e alienadas para venda como matéria prima.

Em Escala.
Para representarmos o  Bell 47D1 - H-13D " FAB 8502 " empregamos o kit da Italeri na escala 1/48, para compormos a versão utilizada neste período e necessário promover algumas alterações, mais notadamente nos tanques de combustível. Optamos por apresentar uma aeronave  equipada com o kit de flutuação,  pertencente aos efetivos SALVAERO da 3º Zona Aérea - Rio de Janeiro. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais, oriundos de diversos sets.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado nos Bell  H-13D, pois foram originalmente recebidos na cor azul,  que era mais adequada as missões de transporte especial VIP (Very Important Person). Posteriormente receberiam este padrão tático em verde oliva (olive drab) , mantendo em uso este esquema até  implementação do processo de modernização, quando passariam a ostentar o padrão de pintura em amarelo das demais versões deste helicóptero em uso na Força Aérea Brasileira.


Bibliografia :

- Esquadrao Pelicano 50 anos de Historia - Mauro Lins Barros & Oswaldo Cruz
- Sikorsky H-19 Chicksaw - Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Sikorsky_H-19_Chickasaw
Sikorsky H-19D Na FAB, por Aparecido Camazano Alamino - Revista Asas Nº 32
- Historia da Força Aérea Brasileira – Prof Rudnei Dias Cunha
- Historia da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Kawasaki 47G3B e Bell HTL5 (47D1)

História e Desenvolvimento. 
O emprego de aeronaves militares de asas rotativas na Segunda Guerra Mundial remonta a meados do ano de 1940, quando o modelo alemão Flettner FL 282 “Kolibri”, um aparelho de cockpit aberto e rotores entrelaçados e assento único,  seria liberado pela Força Aérea Alema (Luftwaffe) para produção. Inicialmente pretendia-se usar esta aeronave para realizar o transbordo de cargas e passageiros entre os navios da Marinha Alemã (Kriegsmarine). Em seguida seria desenvolvida a versão  FL 282 B-2,  equipada com um segundo assento, para ser ocupado por um observador, que deveria ser encarregado de prover o reconhecimento avançado do campo de batalha.  A cada fase do programa de ensaios em voo, este conceito de aeronave se mostrava cada vez mais promissor, levando o governo a encomendar a produção de mil células a empresa Bayerische Motoren Werke AG - BMW. Porém a forte campanha de bombardeio aliado a máquina industrial nazista, arrasaria grande parte do parque fabril aeronáutico alemão, levando assim a priorização de recursos para a produção de aeronaves de combate, resultando em apenas vinte e quatro helicóptero efetivamente entregues. Já no lado dos Aliados, o desenvolvimento de aeronaves de asas rotativas apresentaria grandes avanços perto do final do conflito, com os primeiros helicópteros realmente funcionais os Sikorsky R-4, sendo destacados para operação no teatro de operações do Pacífico em junho de 1945. Mesmo neste curto espaço de tempo, ficaria claro o potencial operacional deste tipo de aeronave nos conflitos futuros. Neste momento, outros fabricantes norte-americanos ensaiavam sua participação neste novo nicho mercadológico, entre estes a Bell Aircraft Company, que passaria a investir recursos, em um projeto liderado pelo engenheiro aeronáutico Arthur Young. Oficialmente apresentado ao comando da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) no dia 03 de setembro de 1941, este projeto visava o desenvolvimento de uma aeronave de asas rotativas de pequeno porte. Este programa receberia um pujante financiamento governamental, que envolvia inicialmente a produção de dois protótipos da aeronave agora designada como Bell Model 30. Seu primeiro voo ocorreria em 26 de junho de 1943, e logo seria submetido a um extenso programa de ensaios e testes de voo. Deste processo emergiria uma nova versão aprimorada, o  Bell Model 47. 

As expectativas a cerca deste novo modelo de aeronave, levariam a empresa a criar um divisão industrial especializada a Bell Helicopter Company, com suas instalações sediadas no Forte Worth no estado do Texas. O primeiro Bell Model 47 alçaria voo no dia  8 de junho de 1945, apresentando um sistema de rotor simples com duas hélices de madeira, motor convencional, uma seção tubular de aço soldado desprovida de carenagem e com o cockpit coberto com uma bolha em de plexiglass.  Esta seção superior poderia ainda ser removida transformando a aeronave em um helicóptero conversível, posteriormente esta bolha em plexiglass passaria a ser moldada em uma peça só, se tornando visualmente a marca registrada do modelo. Este design de cabine de comando, apresentaria uma ampla e excelente visibilidade, oque tornava mais seguro sua condução. Sua versão inicial de produção o Bell Helicopter Model 47A, receberia sua homologação para o mercado civil (classificação H1) no dia 08 de março de 1946, oficialmente se tornaria a primeira aeronave comercial de asas rotativas do mundo. Sua capacidade de transporte de um piloto e mais dois passageiros e sua confiabilidade mecânica,  tornariam o modelo rapidamente um sucesso comercial no mercado civil e governamental. Neste meio tempo, encontrava-se em curso o desenvolvimento da versão militar, com via a atender as demandas das forças armadas norte-americanas que buscavam a incorporação de uma aeronave de  leve de asas rotativas para o emprego em  missões de ligação e observação. Baseado no modelo civil, esta versão se distinguia visualmente pela adoção de um cone de cauda coberto com tecido e trem de pouso com quatro rodas. Em termos de conjunto mecânico, a nova aeronave estaca equipada com um motor mais potente o Franklin 6V4-178-B3 de 178 hp. O primeiro protótipo seria entregue para avaliação em abril de 1946, e deste programa de ensaios em voo emergiria a versão militar inicial  de produção o Bell H-13 Sioux. Um primeiro contrato envolvendo  vinte e oito helicópteros seria celebrado, com as primeiras células sendo entregues ao Exército dos Estados Unidos (US Army) em dezembro do mesmo ano.
Após definida sua doutrina operacional, os primeiros Bell H-13 seriam colocados em serviço ativo atuando em tarefas de ligação e observação, e seus excelentes resultados em açao despertariam a atenção do comando da aviação naval da  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e da Guarda Costeira dos Estados Unidos (US Coast Guard). Após tratativas seriam firmados os primeiros contratos de produção para estes ramos das forças armadas, inicialmente se limitando a um pequeno número de aeronaves, com estas sendo idênticas a versão empregada pelo Exército dos Estados Unidos (US Army). As primeiras aeronaves destinadas a aviação naval seriam entregues no início do ano de 1948, e após o início das operações verificaria-se a necessidade de customização do modelo para atendimento aos parâmetros de operação naval. Suas missões geralmente compreendiam voos de longa duração sobre o mar aberto sem possibilidade de pousos de emergência, e neste contexto deveria-se priorizar o desempenho e consequente segurança. Com base nestas exigências a equipe de projeto da  Bell Helicopter Company desenvolveria a versão Bell 47D1, que passava a ser equipada com o novo motor Franklin O-335-3 que apresentava agora 200 hp de potência nominal. Apesar de manter sua capacidade de transporte de duas pessoas, teria sua carga útil aumentada para 225 kg e voltava a equipado com trem de pouso do tipo esqui, dispensando ainda a cobertura de lona na fuselagem.  As hastes horizontais de suporte dos esquis eram retas formando ângulos retos entre as hastes e os esquis, o que permitiria a colocação de uma maca em cada lado externo da aeronave para o transporte de feridos, agregando as tarefas originais de treinamento e emprego geral, a missão de evacuação aero médica o que potencializaria o valor militar da nova aeronave. Este novo modelo logo conquistaria novos contratos de produção, elevando rapidamente o número de células em serviço militar ativo nos anos seguintes. 

Seu batismo de fogo ocorreria na Guerra da Coreia (1950 a 1953), quando os novos Bell H-13D  das três forças armadas norte-americanas, seriam empregados em larga escala no conflito atuando em missoes de ligação, observação e principalmente no transporte de feridos da linha de frente diretamente para os centros médicos de campanha, recebendo esta tarefa a denominação de MEDEVAC (Medical Evacuation – Evacuação Aero médica).  Este novo escopo operacional demandaria o aumento de aeronaves de asas rotativas naquele teatro de operações, levando assim a celebração de novos contratos de aquisição envolvendo centenas de células. A grande disponibilidade destas aeronaves de asas rotativas aliadas ao desenvolvimento de uma doutrina operacional de socorro aero médico resultaria em um enorme registro de resgates de feridos, transporte e salvamento, atingindo a impressionante cifra de mais de quinze mil soldados norte-americanos salvos durante este conflito. Em seu país de origem o Bell H-13D viria a se tornar o primeiro treinador padrão primário de aeronaves de asas rotativas desempenhando esta missão junto a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), Exército dos Estados Unidos (US Army), Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps). Além da formação de uma geração inteira de pilotos estas aeronaves seriam vitais no desenvolvimento da doutrina operacional de emprego de helicópteros. A fabricação do Bell 47D em suas versões militares e civis, alcançaria a cifra de mil células produzidas até o ano 1953, quando começaram a ser desenvolvidas e fabricadas novas variantes para o atendimento de demandas de clientes internacionais nos mercados civil e militar. Dentre estes destacamos os modelos Bell 47E, Bell 47F, Bell 47G, Bell 47G2 e Bell 47H, esta última desenvolvida para o transporte de até três pessoas contando com  o canopy totalmente fechado. As oportunidades internacionais levariam no transcorrer das décadas de 1950 e 1960 a empresa a licenciar a produção dos modelos da família Bell Model 47. Um total de mil e duzentas aeronaves das versões Bell 47G e Bell 47J seriam entregues pela empresa italiana Augusta SpA e mais quatrocentos e vinte e dois helicópteros produzidos pela inglesa Westland Aircraft Company. 
Em 1952 um acordo de produção sob licença seria celebrado entre a Bell Helicopter Company e a empresa japonesa Kawasaki Aircraft Enginnering, envolvendo principalmente as versões Model 47D e do Model 47G, com sua produção sendo efetivamente iniciada somente no início do ano de 1954. Este acordo contemplava as  versões militares e civis, tanto para o mercado doméstico quanto para exportação. Este programa seria descontinuado no Japão somente em meados do ano de 1976 com quatrocentos e quarenta e sete helicópteros produzidos. Esta família de aeronaves de asas rotativas se manteria em produção ininterrupta por vinte e sete anos, com a última linha sendo descontinuada somente no ano 1977. O Bell Model 47 pode ser considerado o modelo pioneiro de aeronave de asas rotativas de alta produção e operação. Sua imagem seria eternizada no imaginário popular na série de TV Mash que retratava o dia a dia do serviço médico militar norte-americano durante a Guerra da Coréia. Ao todo até fins da década de 1970 seriam entregues entre versões civis e militares mais de cinco mil células, com muitas destas se mantendo operacionais até o ano de 1998. Seriam empregadas no serviço militar na  Alemanha Ocidental, Argentina, Austrália, Brasil, Canada, Colômbia, Dinamarca, Espanha, Cuba, El Salvador, Egito, Sudão, Senegal, Bolívia, Estados Unidos, Franca, Grécia, Israel, Itália, México, Noruega, Nova Zelândia, Paquistão, Paraguai, Peru, Reino Unido, Brasil, Suécia, Tailândia, Turquia e Vietnã do Sul. 

Emprego na Marinha do Brasil.
A operação de aeronaves de asas rotativas para emprego militar teve início no Brasil na primeira metade da década de 1950 com a aquisição pela Força Aérea Brasileira de quatro células do modelo Bell 47D1 - H-13D. Esta movimentação seria observada de perto pela Marinha do Brasil, que já ambicionava a implementação de sua aviação naval desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Após estudos, alocação de recursos e definição do plano estratégico, seria iniciado o programa de reativação da Aviação Naval, com o primeiro passo sendo dado em 1952 pela criação a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM),  que teria por missão criar a doutrina de emprego deste novo braço militar aeronaval. Como segundo estágio deste processo, em 1955 seria formado o Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), passando a ser baseado no km 11 da Avenida Brasil, na cidade do Rio de Janeiro – RJ (onde atualmente se encontra o Centro Recreativo da Casa do Marinheiro), sendo esta organização focada no treinamento e formação e todo o pessoal aero navegante da Marinha do Brasil. As primeiras aeronaves de instrução a serem recebidas foram três Bell 47J, aeronaves estas que foram adquiridas por intermédio da Missão Naval Americana, com estas células sendo recebidas desmontadas e acondicionadas em caixotes de madeira. O processo de montagem seria iniciado em 1957, com todos os trabalhos sendo realizados no Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), com este processo marcando o início da era da aviação de asas rotativas na Marinha do Brasil. Neste mesmo período o governo brasileiro viria a assinar um contrato com o estaleiro japonês Ishikawajima Heavy Industries, para a construção de dois navios hidrográficos, que após incorporados seriam batizados como H-21 Sirius e o H-22 Canopus.  Este acordo originalmente contemplava ainda que estes navios deveriam ser entregues com duas aeronaves orgânicas para a realização das operações de apoio as tarefas de levantamento hidrográfico. Estas embarcações por possuíram pequeno espaço para operação e hangaragem as aeronaves de asas rotativas, deveriam obrigatoriamente empregas aeronaves de asas rotativas de pequeno porte, com a escolha pendendo pela aquisição de aeronaves da família Bell 47, que apresentava por diferencial já estarem em operação nas Forças Armadas Brasileiras

Para atender a estes parâmetros técnicos e operacionais, seria definido pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) a adoção do modelo Kawasaki Bell 47G-3B como aeronave orgânica a ser operada junto a estes dois novos navios hidrográficos, com a aquisição de duas células novas de fábrica. Ao se aproximar da data de entrega dos navios H-21 Sirius e o H-22 Canopus, o comando da Aviação Naval enviaria ao Japão dois  oficiais aviadores e três  técnicos em manutenção,  para participação no programa de instrução de voo e manutenção das novas aeronaves, sendo este treinamento realizado nas instalações da Kawasaki Aircraft Enginnering, tendo estes militares a responsabilidade de atuarem como multiplicadores em seu retorno ao Brasil. Estas embarcações seriam oficialmente entregues pelo estaleiro japonês entre fevereiro e abril de 1958, partindo de Tóquio com destino ao Rio de Janeiro, trazendo a bordo os dois Kawasaki Bell 47G-3B que passaram a ser designados como HTL-6 e matriculados N-7006 e N-7007. Quando de sua chegada no pais e consequente incorporação, receberiam o carinhoso apelido de “ Sakura “, em alusão a sua origem oriental. Após a finalização do processo de adaptação da tripulação aos novos navios, seria determinado em julho de 1958 ao H-22 Canopus a missão de proceder um extenso programa de levantamento hidrográfico junto a Baia de Todos os Santos, na costa do estado da Bahia, , levando assim a ativação do Bell HTL-6 como aeronave orgânica embarcada. Em setembro do mesmo ano o H-21 Sirius recebeu a incumbência de realizar um trabalho semelhante ao do seu irmão gêmeo na foz do Rio Amazonas. Essas duas operações marcariam o primeiro registro de um destacamento aéreo embarcado na Região Amazônica e primeira vez no Brasil em que um helicóptero seria empregado como instrumento de apoio ao levantamento hidrográfico.
Apesar do grande êxito inicial nas operações de apoio as missões de levantamento hidrográfico, em 4 de junho de 1959 o Bell HTL-6 N-7006 sofreu uma perda de potência no motor quando regressava ao Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN) no Rio de Janeiro, sendo assim obrigado a fazer um pouso forçado no mar vindo a afundar. Apesar de ser recuperado do fundo do raso leito marinho horas depois, constatou se perda total da célula em função da exposição prolongada na água do mar. Este acidente viria de desmobilizar o conceito de operação como aeronave orgânica dos navios hidrográficos, pois como restaria somente restara uma unidade do modelo em serviço na Aviação Naval. Deste maneira decidiu-se que a mesma deveria ser incorporada a dotação do 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (HI-1) destacado agora na Base Aeronaval de São Pedro D'Aldeia, onde passaria a atuar nas tarefas de formação de pilotos em conjunto com os demais  Bell 47J. Mesmo assim com a adoção do HTL-6 Sakura a este esquadrão, o mesmo pouco contribuiria com as atividades de treinamento e formação, pois o 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (HI-1), se ressentia da falta de mais aeronaves de asas rotativas para realizar com proficiência suas atividades. Esta necessidade seria atendida a partir de 1960, quando a Comissão Naval Brasileira em Washington começaria a buscar por aeronaves de treinamento de asas fixas e rotativas, sendo esta última demanda contemplada com a cessão de seis células do Bell HTL-5 (versão militar do Bell 47D1) que se encontravam estocados em uma base da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) no estado do Arizona. Estas células seria empregadas na marinha daquele país inicialmente na instrução e formação de pilotos de asas rotativas e posteriormente quando foram substituídas por aeronaves mais modernas, acabariam sendo relegadas a tarefas de ligação.

Estes novos helicópteros eram bastante similares aos modelos japoneses adquiridos anteriormente, diferindo apenas em algumas características e como forma de diferenciá-los dos Bell 47G, foram designados IH-1A pela Marinha Brasileira. Apesar de serem aeronaves fabricadas entre os anos de  1951 e 1952 as células selecionadas ainda eram confiáveis e viáveis como plataforma para instrução básica, atendendo assim plenamente as necessidades do 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (HI-1). Inspeções realizadas por uma comissão brasileira enviada aos Estados Unidos atestariam a necessidade da efetivação de pequenos reparos e a aplicação de uma revisão básica, atividades estas contratadas e executas nas instalações de manutenção no Naval Air Station (Estação Área Naval) da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) na cidade de  Litchfield Park. Todas as células seriam transportadas para este centro até novembro de 1960, paralelamente foi dado início aos os preparativos da formalização da compra e o despacho ao Brasil dos helicópteros, com o acordo sendo 14 de março de 1961. Ocasião está em que já células já se encontravam em território brasileiro, estando inclusive em estavam em processo de montagem pela equipe do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). As duas aeronaves restantes receberam pequenas avarias no transporte e necessitavam de cuidados especiais de manutenção corretiva e preventiva que foram executados pela empresa Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul em sua oficina que já detinha o ferramental e experiência no suporte a aeronaves civis deste modelo. As primeiras aeronaves operacionais foram formalmente incorporadas ao 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (HI-1) em 22 de fevereiro de 196, melhorando assim sua capacidade de operação.
Infelizmente em 1961, dois acidentes reduziram a frota para quatro Bell HTL-5 e um Kawasaki HTL-6, no ano seguinte mais um HTL-5 seria perdido em uma ocorrência de média monta. Assim a reduzida frota desta família de aeronaves continuaria a desenvolver as tarefas de formação de pilotos, sendo uma aeronave esporadicamente convocada para participar das missões de levantamento hidrográfico a bordo dos navios H-21 Sirius e o H-22 Canopus. A partir de 1966 o recebimento das novas aeronaves de instrução Hughes 269A permitiria a gradativa substituição das células remanescentes dos Bell HTL-5 e um Kawasaki HTL-6. Em fins do ano seguinte seria definida a série desativação imediata dos Bell HTL-5 que ainda estavam em condições de voo, salientando que neste momento o Kawasaki HTL-6 já se encontrava fora do serviço ativo e permanecia armazenado. No início do ano de 1970, todas as aeronaves seriam baixadas do inventário da Aviação Naval, sendo alienadas para venda a operadores civis. Uma célula do Bell HTL-5 seria vendida, revisada passando a operar com a matrícula PT-FAJ, este processo se repetiria com o Kawasaki HTL-6 que passaria a operar sob a matricula PP-FAK.

Em Escala.
Para representarmos o Kawasaki-Bell 47G-3B IH-1 "N 7007" fizemos uso do excelente kit da Italeri na escala 1/48, modelo de fácil montem e  que não necessita de alterações para se compor a versão usada pela Aviação Nava da Marinha do Brasil. Empregamos decais confeccionados pelo fabricante FCM Decais  presentes no antigo e descontinuado set 48/11.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura quando do recebimento dos Kawasaki-Bell 47G-3B em 1958, mantendo este esquema até sua desativação, já os Bell HTL-5 receberam este padrão de pintura quando do processo de montagem



Bibliografia :

- Revista Força Aérea " Apoiando o Bode Verde " - Luciano Melo Ribeiro
- Revista ASAS nº 64 " Bell 47 na Aviação Naval Brasileira “ - Aparecido Camazano Alamino
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr


Aérospatiale SA330L Puma no Brasil

História e Desenvolvimento. 
No início da década de 1960 a França decidiu manter sua política de independência militar, ficando assim fora do alinhamento militar com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em detrimento das demais nações da Europa Ocidental que o fizeram. No entanto esta decisão, levaria ao repensar sua estratégia militar, pois desde o final da Segunda Guerra Mundial, as forças armadas francesas estavam equipadas principalmente com equipamento militar de origem norte-americana, o que denotava uma grande dependência externa. Este cenário seria agravado, principalmente pelo fato do grande nível de obsolescência apresentado. Buscando meios de solucionar este problema no curto prazo e buscar uma independência a médio e longo prazo, o governo Frances, passaria a investir recursos e esforços em um amplo processo de fortalecimento da indústria de defesa do país. No aspecto da aviação de asas rotativas, havia a premente necessidade em se substituir as aeronaves norte-americanas como os modelos Sikorsky c H-19D e Sikorsky SH-34, empregados principalmente pela Aviação do Exército Frances (Aviation Légère de L'armée de Terre – ALAT), nas s tarefas de transporte de carga e tropas. A fim de anteder a esta demanda, no início do ano de 1963, o Ministério da Defesa da França emitiu a fabricante de aeronaves estatal francesa Sud Aviation, detalhadas especificações para o desenvolvimento de um helicóptero de médio porte para o transporte de tropas com capacidade para até vinte soldados totalmente equipados, para operação em quaisquer condições meteorológicas. Sua linha conceitual e o consequente projeto seriam apresentados, despertando grande interesse por parte dos militares franceses, gerando assim a assinatura de um grande contrato para o desenvolvimento deste helicóptero. Apesar de contar com considerável know how na produção de aeronaves de asas rotativas equipadas com motores turbo eixo (conquistada nos programas Alouette II e Alouette III), sua experiência em aeronaves de grande porte se limitava a produção sob licença de mais de uma centena de células do modelo Sikorsky S-58 (H-34), que foram destinados a atender as demandas das forças armadas daquele país.

O modelo de helicóptero Sud Aviation SA 330, que seria inicialmente batizado como Alouette IV, estava equipado com dois novos motores turbo eixo Turbomeca Bi Bastan VII com 1.065 hp de potência cada. E esta nova aeronave seria conceitualmente projetada para ser capaz de atingir velocidades elevadas, apresentando grande capacidade de manobra, com um bom desempenho hot-and-high; os turbos eixos possuíam um nível constante de alta de energia de reserva, a fim permitir que a aeronave voasse efetivamente em peso máximo com apenas um motor de funcionamento, para assim poder prosseguir com a sua missão, se as circunstâncias assim exigissem. Seu cockpit possuía dois controles convencionais, um para o piloto e outro para o copiloto, existiria ainda a disposição de um terceiro assento para ser utilizado por um membro da tripulação de reserva ou comandante. O novo helicóptero dispunha ainda de um sistema de piloto automático eletro-hidráulico do tipo SFIM-Newmark 127; sendo capaz de controle de ângulo (roll e pitch) para estabilização da aeronave. Havia ainda a possibilidade de o operador gancho de carga poder inserir ajustes corretivos da posição do helicóptero a partir de sua estação, fazendo uso do piloto automático. Durante os estágios finais do projeto, seria adicionado a possibilidade de adoção dos novos motores Turbomeca Turmo, que ofereceriam muito mais potência que os originais escolhidos do modelo Turbomeca Bi Bastan VII. O primeiro protótipo seria completado em janeiro de 1965, com seu voo inicial ocorrendo em 15 de abril do mesmo ano. As primeiras avaliações levantadas sobre a aeronave eram extremamente positivas, levando assim o Ministério da Defesa Frances a autorizar a produção de seis células "pré-série". Estas aeronaves seriam destinadas a atender as demandas de um auspicioso programa de ensaios em voo, com as células sendo disponibilizadas pela  Sud Aviation, entre janeiro de 12 de janeiro de 1966 e 30 de julho de 1968.
O programa de testes, demandariam ao fabricante a aplicação de uma série de alterações e melhorias no projeto original, com a aeronave recebendo a homologação final para produção em série a partir de setembro de 1968. As primeiras células operacionais do agora denominado SA-330 Puma, seriam entregues oficialmente a Aviação do Exército Frances (Aviation Légère de L'armée de Terre – ALAT) em maio de 1969. As qualidades inerentes do projeto não passariam desapercebidas internacionalmente, e mesmo durante a fase de ensaios de voo, o modelo despertaria o interesse do comando da Força Aérea Real (RAF), que buscava neste mesmo período uma nova aeronave de transporte médio de asas rotativas. Esta oportunidade de negócios, motivaria a Société Nationale Industriell Aérospatiale, a adquirir o conglomerado de operações da Sud Aviation, com o objetivo principal de buscar o atendimento desta possível demanda das forças armadas britânicas. Feito isso um acordo de associação seria celebrado junto a Westland Helicopters, visando apresentar uma proposta para a produção conjunta da aeronave. Essa proposta logo seria aprovada pelo governo britânico, gerando um contrato de aquisição de quarenta e oito aeronaves. As primeiras duas células da versão Puma HC Mk 1, seriam entregues a Força Aérea Real (RAF) em 29 de janeiro de 1971, com Esquadrão 33º sendo declarado operacional em 14 de junho do mesmo ano. O sucesso operacional despertaria a atenção de forças armadas de diversos países, que se materializariam logo em seguida nos primeiros contratos de exportação, primeiramente para as forças armadas do Líbano, Marrocos, Portugal.

Novas versões seriam produzidas ao longo dos anos, sendo destinadas não só as forças armadas da França e Reino Unido, mas também a diversos países através de novos contratos de exportações como Argentina, Brasil, Paquistão, Chile, Camarões, Congo, Equador, Guiné, Indonésia, Costa do Marfim, Kuwait, Nepal, Omã, Romênia Malavi e Espanha. O grande porte e o perfil estável de voo, tornariam o SA-330 Puma uma excelente plataforma para o emprego de armas em de tarefas de suporte de fogo ao solo, com as primeiras iniciativas sendo desenvolvidas na Romênia, onde o modelo seria construído sobre licença pela empresa IAR Brașov, recebendo a designação de IAR-330 e posteriormente IAR-330 Puma Socat dedicadas ao combate antitanque. Na África do Sul, o modelo ganharia também uma versão armada, passando a ser designada localmente como Atlas Oryx. Já a versão básica de transporte de tropas e carga também seria fabricada sobre licença na Indonésia, pela empresa Indonesian Aerospace (IPTN). O batismo de fogo do Aerospatiale  SA-330 Puma, ocorreria pela primeira vez em 1974, quando aeronaves pertencentes a  Aviação do Exército Frances (Aviation Légère de L'armée de Terre – ALAT) foram empregas durante a Operação Barracuda, transportando uma equipe de assalto diretamente sobre a sede do governo do Império Central Africano. Estas aeronaves estiveram presentes também nos conflitos ocorridos no Líbano, Angola, Paquistão, Marrocos, Falklands Malvinas e Tempestade no Deserto. Vale salientar que em anos recentes, o SA 330 Puma seria ativamente empregado em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) como no Haiti (Minustah) e no Sudão (Unamid), entre outras campanhas.
Em 1974, a Société Nationale Industriell Aérospatiale, buscando se antecipar as necessidades do mercado militar de transporte de asas rotativas, iniciou o desenvolvimento de um novo helicóptero de porte médio com base em seu consagrado modelo SA-330 Puma. Se projeto conceitual e mock up seriam apresentados na edição de 1975 da Feira Aérea Internacional Paris Air Show, e apesar da nova aeronave compartir o desing e concepção estrutural semelhantes ao seu antecessor, ela passava a incorporar em seu projeto inúmeros melhoramento e inovações. Receberia a adoção dos novos e mais potentes motores turbo eixo Turbomeca Makila com 1.877 hp de potência cada, que iriam propelir o novo rotor principal composto de quatro pás, produzido em materiais compostos, desenvolvidos para aumentar a resistência a danos. Possuía ainda como diferencial uma maior extensão da fuselagem, construída de forma mais robusta para resistir ao choque e danos de batalha, receberia ainda a adoção de uma barbatana ventral sob a cauda e um nariz alongado para acomodar um novo radar meteorológico. Seu primeiro protótipo (modificado a partir de uma célula SA 330), agora designado como AS-330, alçaria voo em 5 de setembro de 1977. O intuito era empregar esta célula como um laboratório de ensaios em voo, para validação do projeto final. Os resultados obtidos neste programa culminariam no projeto final batizado como "Super Puma", com seu protótipo realizando seu primeiro voo em 13 de setembro de 1978. A este seguiria a produção de mais cinco células que seriam utilizadas para avaliação operacional. Em comparação com a geração anterior, o novo Aérospatiale, AS-330 Super Puma, apresentaria um perfil operacional muito superior com melhores índices de manobrabilidade, consumo de combustível e estabilidade em voo, chamando a atenção dos operadores tanto civis quando militares do SA-330 Puma.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A operação de aeronaves de asas rotativas para emprego militar, teve início no Brasil em 1952 com a aquisição pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), de quatro células do modelo leve Bell 47D1, que assumiriam a primeiras missões de transporte e busca e salvamento (SAR). Com o passar dos anos, a construção da doutrina operacional do emprego de helicópteros militares demandaria a aquisição de aeronaves de maior porte e maior potência, visando assim ampliar a participação de helicópteros em operações militares no país. No final da década de 1970, a Força Aérea Brasileira encontrava-se predominantemente equipada com helicópteros de origem norte-americana como os Bell UH-1D e UH-1H , que eram também suas aeronaves de maior porte de asas rotativas. Entre outros trabalhos atribuídos a Aviação e Asas Rotativas na Força Aérea Brasileira, estava o apoio ao Exército Brasileiro em missões como transporte de tropas e operações de heli desembarque. Desta maneira ficava nítida a necessidade de se contar com um helicóptero de maior porte, pois, apesar dos excelentes serviços prestados até aquele momento, as aeronaves disponíveis apresentam uma capacidade limitada de transporte de carga e tropas, podendo transportar no máximo onze combatentes totalmente equipados. Assim operações de grande monta de transporte de tropas demandariam uma expressiva quantidade de surtidas aéreas, o que geraria a estas aeronaves um proibitivo risco de exposição prolongada ao possivel fogo antiaéreo inimigo. Esta percepção seria confirmada durante a realização de diversas operações conjuntas realizadas entre a Força Aérea Brasileira e o Exército Brasileiro nos derradeiros anos da década de 1970. Este fato seria ainda catalisado no começo da década seguinte com a implementação do programa de ampliação dos esquadrões de asas rotativas, transformando neste escopo os atuais  Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque – (EMRA), no  8º Grupo de Aviação, que passaria a congregar  todas as unidades operadoras de helicópteros na  Força Aérea Brasileira.

Este novo cenário demandava a aquisição de um helicóptero de maior porte, a ser destinado especificadamente para tarefas de transporte de tropas e cargas, assim visando atender a esta demanda em 1979, uma concorrência internacional seria lançada, prevendo a aquisição de seis a dez células de um modelo de helicóptero bimotor turbo eixo de porte médio, que atendesse a diversos requisitos técnicos e de desempenho. Não existem registros oficiais, sobre quais outros modelos aeronaves de asas rotativas chegaram a participar desta concorrência, porém a escolha acabaria recaindo sobre uma proposta apresentada pela empresa francesa Société Nationale Industriell Aérospatiale, que envolvia a versão mais recente SA-330L Puma, modelo este que representava uma evolução da variante SA-330H destinada a exportação. Esta aeronave estava equipada com os novos motores turboeixo Turbomeca Turmo IVC, que geravam cerca de 1.580 hp de potência cada, e apresentavam os rotores e pás do rotor principal confeccionados em materiais compostos. Uma das principais características da versão escolhida pela Força Aérea Brasileira, era a customização do projeto, permitindo assim a operação em regiões de alto calor e umidade, ambiente predominante em nosso país. Comenta-se ainda que tal decisão de compra, tenha sido influenciada pela recente chegada ao Brasil dos primeiros exemplares do modelo Aérospatiale SA-330J Puma, que haviam sido arrendados pela empresa de transporte Cruzeiro do Sul Taxi Aéreo. Um total de nove helicópteros deste modelo seriam empregados por esta empresa, criando assim além das rotinas e infraestrutura de manutenção, uma completa linha de suprimento de peças de reposição no país. Um contrato seria celebrando prevendo a aquisição de seis células a um custo unitário de Cr$ 335.849.646,00, este acordo englobava ainda o treinamento de pilotos, tripulantes e equipes de manutenção, lotes de peças de reposição e apoio logístico e técnico. Estas aeronaves se encontravam entre as últimas produzidas, se distinguindo principalmente pela instalação no nariz de um radar meteorológico Bendix RDR-1400, apresentando a primeira tela em cores a ser empregada em uma aeronave militar brasileira.
Ficaria determinado concentrar os novos Aérospatiale SA-330L Puma no 3º/8º Grupo de Aviação (3º/8º GAv) – Esquadrão Puma, unidade esta que havia sido criada em 9 de setembro de 1980, estando equipada com helicópteros Bell UH-1H oriundos do 3º Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (EMRA), que estavam sendo empregados provisoriamente para o adestramento das equipagens. Nos meses que se seguiram, esta unidade começou a se preparar para o recebimento das novas aeronaves, com seus pilotos e mecânicos sendo enviados em março de 1981 a cidade de Mariganane, na França, onde foram recebidos nas instalações do fabricante, a fim de realizarem os cursos teóricos e práticos da aeronave SA-330L Puma. Esta etapa seria concluída com sucesso, e em setembro do mesmo todos os envolvidos já estavam de volta ao Brasil. Finalmente, em 17 de outubro do mesmo ano seria recebido no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF) no Rio de Janeiro, o primeiro dos seis Aérospatiale SA-330L Puma, transportado a bordo de um Lockheed C-130H Hercules do 1º/1º Grupo de Transporte (1º/1º GT). Sob supervisão de representantes da Aerospatiale, o primeiro helicóptero seria prontamente montado e colocado em condições de voo, realizando seu primeiro acionamento no dia 20 do mesmo mês. As demais aeronaves seriam recebidas nas semanas seguintes sempre transportadas por aeronaves da Força Aérea Brasileira. Assim que declarada operacional a aeronave agora designada como CH-33 Puma, passou a ser empregada na missão de formação de multiplicadores para o treinamento dos envolvidos.  Tal como ocorreu nas instalações do fabricante, essa fase seria executada de forma fluida e rápida, o que permitiu ao esquadrão dar início a etapa de treinamento e adestramento operacional. Os planos de atuação deste esquadrão envolviam além das missões de transporte de tropas, a execução de tarefas de busca e salvamento (SAR), infiltração e  exfiltração de forças especiais, transporte aéreo logístico e transporte de cargas externas.

Já em novembro de 1981 duas células do CH-33 Puma participariam da 8º Reunião de Aviação de Transporte de Tropa, que seria realizada na Base Aérea de Campo Grande (MS), apresentando assim as demais unidades de asas rotativas as capacidades operacionais da nova aeronave. Somente vinte semanas após o recebimento da primeira aeronave CH-33, o 3º/8º Grupo de Aviação (3º/8º GAv) - Esquadrão Puma, já estava sendo convocado para realizar tarefas de busca e salvamento (SAR) e missões de transporte presidencial. De fato, ao longo da vida operacional, os CH-33 Puma seriam empregados em incontáveis missões de busca e salvamento (SAR). Isso seria uma consequência natural não somente do enorme potencial como vetor de busca e salvamento, mas do fato de que o Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (PARA-SAR) ser praticamente “vizinho de porta” do 3º/8º Grupo de Aviação (3º/8º GAv). Esse binômio seria repetidamente empregado com sucesso nas mais variadas missões de busca e salvamento (SAR), bem como em missões humanitárias como as realizadas entre os anos de 1983 e 1984, durante as enchentes que varreram o estado de Santa Catarina. A despeito das dificuldades logísticas que assolaram os CH-33 durante toda sua carreira na Força Aérea Brasileira e que determinavam modestíssimos índices de disponibilidade, aqueles helicópteros proporcionaram uma nova dimensão a aviação de asas rotativas. Para melhor aproveitar todo o potencial da aeronave, em 1982 seria realizada por oficiais da Força Aérea Portuguesa uma série de palestras sobre o emprego do Aérospatiale SA-330, em Angola durante o conflito colonial no qual eles haviam se envolvido na década anterior. Em função deste aprendizado, bem como da visível necessidade de ampliar a capacidade de operações especiais, a equipe do esquadrão, passaria a dedicar considerável esforço ao adestramento de missões de infiltração e exfiltração de pessoal de operações especiais do Exército Brasileiro. Estas aeronaves também passariam a ser empregadas em missões de transporte de obuses de artilharia e veículos leves (utilizando seu gancho de carga). Para sua autodefesa as aeronaves eram armadas duas metralhadoras MAG calibre 7,62 mm dispostas na posição lateral.
Em fins de 1985 já se desenhava no horizonte o fim da carreira operacional dos CH-33 Puma, com o Ministério da Aeronáutica (MAer) já iniciando negociações junto a Société Nationale Industriell Aérospatiale visando assim a aquisição de um lote de helicópteros Aerospatiale AS-332 Super Puma, o sucessor maior e mais moderno do SA-330 Puma. Este processo resultaria em um contrato para o fornecimento de dez novos AS-332 Super Puma, trinta AS-350B e dez AS-355F2 Ecureiul (sendo estes últimos dois modelos passando a ser fabricados sob licença no Brasil pela Helibras S/A). Estas negociações consideravam como parte do pagamento, a devolução dos seis SA-330 Puma ao fabricante, com este processo se iniciando no início do ano e 1986, na candência de uma aeronave por mês, comas aeronaves sendo desmontadas e transportadas por aeronaves Lockheed  C-130H Hercules até as instalações do fabricante na França. No entanto apenas cinco  células seriam devolvidas, pois o CH-33 FAB  8701, acabaria sendo perdido no pátio do Terceiro Comando Aéreo Regional (III COMAR), em um acidente registrado no mês de  fevereiro do mesmo, felizmente sem causar vítimas. Assim os Aerospatiale CH-33 Puma encerrariam sua carreira na Força Aérea Brasileira em setembro de 1986,  após terem voado 11.116 horas e 25 minutos sendo substituídos pelos novos Aerospatiale CH-34 Super Puma.

Em Escala.
Para representarmos o CH-33 Puma "FAB 8702" empregamos o antigo kit da Heller na escala 1/50, infelizmente esta é a única opção disponível no mercado, sendo muita raro de encontrar. Para configurarmos a versão brasileira tivemos de proceder uma série de alterações em scratch, entre elas a adoção do radar meteorológico no nariz, modificação dos tanques de combustível suplementares laterais, inclusão de antenas de rádio e detalhamento interior. Fizemos usos de decais confeccionados pela FCM Decais pertencentes a diversos Sets, os numerais e brasões  do 3º/8º Grupo de Aviação foram impressos por nosso amigo Cesar Hares de Curitiba.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão tático norte-americano de pintura denominado como “Southeast Asia”, sendo composto em dois tons de verde, marrom e branco, com este padrão sendo empregado também nas aeronaves Bell UH-1D e UH-1H. Este esquema foi mantido até sua devolução ao fabricante em 1986.



Bibliografia:

- História da Força Aérea Brasileira, por  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 , por Jackson Flores Jr
- Aerospatiale SA.330L PUMA CH-33 na FAB, por Aparecido Camazano Alamino - Revista Asas Nº 57
- Nas Garras do Puma – 3º/8º Grupo de Aviação, por Oswaldo Claro Jr.
- Aerospatiale SA.330L – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/A%C3%A9rospatiale_SA_330_Puma