Lockheed 12A UC-40 Electra Junior

História e Desenvolvimento.
A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, uma companhia norte-americana do setor aeronáutico, foi fundada em 1912 pelos irmãos Allan e Malcolm Lockheed, na cidade de San Diego, localizada no estado da Califórnia. Em seus primeiros anos, a empresa direcionou seus esforços para o desenvolvimento e a produção de aeronaves de pequeno porte, destinadas ao turismo e ao treinamento civil. Ao longo das décadas subsequentes, a organização experimentou um crescimento significativo em suas vendas, consolidando sua posição no mercado. No entanto, o encerramento da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, trouxe desafios consideráveis ao setor aeronáutico. A desmobilização de milhares de aeronaves militares, que passaram a ser subutilizadas e disponibilizadas no mercado global de aviação civil, saturou a demanda por novos equipamentos. Esse cenário desencadeou uma crise sem precedentes na comercialização de aeronaves, resultando no fechamento de diversas fabricantes, incluindo a Lockheed Aircraft Manufacturing Company. Diante desse contexto, os irmãos Lockheed decidiram suspender as operações da empresa e reorientar suas atividades empreendedoras para outros segmentos do mercado, buscando garantir sua sustentabilidade empresarial. Em 1926, Allan Lockheed uniu-se aos engenheiros John Northrop, Kenneth Kay e Fred Keeler para estabelecer um novo empreendimento. Com o apoio de investidores, o grupo conseguiu captar os recursos financeiros necessários para fundar a Lockheed Aircraft Company, com sede em Hollywood, Califórnia. A nova companhia aproveitou a tecnologia previamente desenvolvida para o Modelo S-1 como base para o projeto do Lockheed Vega, que se tornou seu primeiro modelo de destaque. O sucesso comercial foi alcançado em pouco tempo: em 1928, a empresa transferiu suas instalações para Burbank e, até o final daquele ano, alcançou um faturamento superior a um milhão de dólares. Nesse período, a produção atingiu a marca de centenas de aeronaves, com uma força de trabalho composta por mais de trezentos funcionários e uma linha de montagem capaz de concluir até cinco unidades por semana. Em julho de 1929, Fred Keeler, então acionista majoritário, negociou 87% das ações da empresa com a Detroit Aircraft Corporation, viabilizando a execução de um plano ambicioso de expansão. Contudo, a crise econômica conhecida como Grande Depressão, iniciada naquele mesmo ano, impactou severamente o setor aeronáutico, levando a Lockheed a uma situação de insolvência financeira. Em 1932, durante o processo de liquidação judicial, a companhia foi adquirida por um grupo de investidores liderado pelos irmãos Robert e Courtland Gross, em parceria com Walter Varney. Essa transação marcou o início de uma nova fase para a empresa, que conseguiu se recuperar ao longo daquela década, especialmente por meio do desenvolvimento de novas aeronaves, consolidando sua trajetória de resiliência e inovação no mercado aeronáutico.

Apesar dos desafios enfrentados, a Lockheed Aircraft Manufacturing Company conseguiu estabelecer rapidamente a confiança do mercado civil e comercial dos Estados Unidos, especialmente a partir de 1934, com o lançamento bem-sucedido do Modelo 10 Electra. Essa aeronave, caracterizada por uma estrutura totalmente metálica e capacidade para transportar até dez passageiros, foi desenvolvida inicialmente como uma resposta competitiva ao Boeing 247. Um marco notável nesse projeto foi a participação de Clarence Leonard "Kelly" Johnson, que sugeriu a incorporação de uma cauda dupla – uma inovação que se tornaria uma característica distintiva da Lockheed. O Modelo 10 Electra destacou-se como um dos primeiros aviões comerciais de passageiros equipados com trem de pouso retrátil e guarda-lamas como itens padrão, embora esse acessório já fosse comum em aeronaves de trem de pouso fixo em períodos anteriores. A partir de outubro de 1943, uma regulamentação do governo norte-americano proibiu o uso de aeronaves monomotores para o transporte de passageiros em voos noturnos, o que posicionou estrategicamente a Lockheed no mercado com o Modelo 10 Electra, uma aeronave bimotora. Esse modelo alcançou expressivo sucesso comercial, sendo adotado por diversas companhias aéreas nacionais. Além disso, operadores europeus incorporaram o Electra às suas frotas, enquanto, na América Latina, a Cubana de Aviación tornou-se a primeira empresa da região a utilizá-lo em rotas domésticas. Em 1935, reconhecendo a necessidade de uma aeronave de menor porte voltada tanto para pilotos privados quanto para atuar como alimentadora das principais linhas de transporte aéreo (“feeder liner”), a Lockheed Aircraft Company iniciou o desenvolvimento de uma variante do Modelo 10 Electra, projetada para acomodar seis passageiros. Essa iniciativa foi motivada por uma solicitação do Escritório de Negócios do Ar (Bureau of Air Commerce), que convocou os fabricantes de aeronaves dos Estados Unidos a apresentarem projetos até 30 de junho de 1936. O resultado foi o Electra Junior 12A, uma aeronave de dimensões reduzidas em comparação ao seu antecessor, mas que preservava a configuração estrutural com asas baixas e derivas duplas – estas últimas ampliadas em tamanho. O Electra Junior 12A apresentava especificações técnicas notáveis: envergadura de 15,09 metros, comprimento de 11,07 metros, altura de 2,97 metros, superfície alar de 32,70 m² e pesos de 2.615 kg (vazio) e 3.924 kg (máximo). Equipada com dois motores radiais Pratt & Whitney Wasp Junior de nove cilindros e 450 HP cada, a aeronave alcançava uma velocidade máxima de 362 km/h a 1.525 metros de altitude, com uma razão de ascensão de 427 metros por minuto, teto de serviço de 6.980 metros e alcance de 1.290 km. Esses parâmetros de desempenho evidenciavam a capacidade da Lockheed em atender às demandas específicas do mercado, consolidando ainda mais sua reputação e influência no setor aeronáutico.
Assim como observado nos modelos Electra 10 e Boeing 247, a longarina da asa principal do Lockheed 12A Electra Junior atravessava a cabine de passageiros. Para facilitar a circulação interna, pequenos degraus foram instalados em ambos os lados da longarina. A cabine contava com um banheiro posicionado na parte traseira e apresentava inovações notáveis, como a inclusão de piloto automático. Dentre os diferenciais, destacavam-se as opções de acabamento interno, que incluíam divisórias, assentos estofados em pelúcia, sofá, banheiro, mesa e até mesmo uma máquina de escrever. A empresa oferecia diferentes níveis de acabamento, variando de configurações mais básicas a versões de alto luxo, com o objetivo de atender às diversas exigências de proprietários corporativos e privados. O protótipo inicial do Lockheed 12A Electra Junior, registrado sob a matrícula NX16052, realizou seu primeiro voo em 27 de junho de 1936, apenas três dias antes do prazo estipulado pelo governo norte-americano. Seus principais concorrentes, o Beechcraft Model 18 e o Barkley-Grow T8P-1, não conseguiram cumprir o cronograma estabelecido, o que levou o Escritório de Negócios do Ar (Bureau of Air Commerce) a declarar o modelo da Lockheed como vencedor da concorrência. A certificação oficial da aeronave foi emitida em 14 de outubro de 1936, e a primeira unidade foi entregue em 5 de setembro de 1937. Apesar do sucesso na competição governamental, o Lockheed 12A Electra Junior enfrentou resistência no mercado doméstico, sendo rejeitado pela maioria das companhias aéreas regionais, o que resultou em um número limitado de unidades comercializadas internamente. Seu principal operador nos Estados Unidos foi a Continental Air Lines, que utilizou uma frota de três aeronaves para operar a rota comercial entre Denver, no Colorado, e El Paso, no Texas, no final da década de 1930. Internacionalmente, a empresa inglesa British West Indian Airways Ltd. também adotou o modelo, operando-o em rotas nas Antilhas Menores, na região do Caribe, durante meados da década de 1940. Embora tenha enfrentado dificuldades para se estabelecer no setor de transporte comercial de passageiros, o Lockheed 12A Electra Junior encontrou seu nicho como aeronave executiva. Tornou-se particularmente popular entre empresas dos setores siderúrgico e petrolífero, bem como para o transporte de altos funcionários do governo norte-americano. Um dos exemplares mais célebres da história da aviação mundial foi adquirido pela Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana, para uso da aviadora Amelia Earhart. Esse avião, utilizado por Earhart em sua tentativa de circunavegação global, desapareceu sem deixar vestígios sobre o Oceano Pacífico em 3 de julho de 1937, marcando um capítulo enigmático na trajetória do modelo.

Conforme mencionado, o Lockheed 12A Electra Junior foi comercializado predominantemente para o governo norte-americano e empresários do setor privado. Contudo, a aeronave também encontrou aplicação no âmbito militar, atendendo a diversas forças armadas ao redor do mundo. O primeiro contrato militar foi firmado com o governo argentino, que adquiriu duas unidades do modelo para integrar sua aviação militar. Em seguida, a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) encomendou dez aeronaves em 1937. Já o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) incorporou quatro unidades, designadas como UC-40A, com contratos subsequentes para a aquisição de versões adicionais, identificadas como UC-40B e UC-40D. Uma variante específica, o Lockheed Model 212, foi desenvolvida para atender às necessidades do governo colonial das Índias Orientais Holandesas (atual Indonésia). Projetada como uma aeronave de bombardeio e treinamento, essa versão contava com oito suportes sob a fuselagem para bombas de até 100 libras, além de armamento defensivo composto por uma metralhadora Browning calibre .30 instalada no nariz e outra de mesmo calibre em uma torreta dorsal. O contrato previa a entrega de 16 unidades, com a primeira aeronave sendo fornecida à Divisão Aérea do Exército das Índias Orientais Holandesas (Militaire Luchtvaart - MLu) em 4 de fevereiro de 1939 e a última em 13 de maio de 1942. Essas aeronaves desempenharam um papel ativo em combates durante a invasão japonesa na região, sendo infelizmente todas abatidas ou destruidas em solo nesta campanha. Na Europa, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o Lockheed 12A Electra Junior protagonizou um episódio singular. Três células norte-americana, registradas com as matrículas 1203 (G-AFTL), 1267 (G-AFKR) e 1270 (G-AFPF), foram adquiridas pelo governo britânico e oficialmente vinculadas à companhia de transporte aéreo British Airways Ltd. No entanto, essas aeronaves foram secretamente modificadas na Grã-Bretanha para realizar missões de reconhecimento aerofotogramétrico sobre a Alemanha Nazista, abrangendo alvos como bases aéreas, instalações navais e militares, além de complexos industriais. As adaptações incluíram a instalação de uma câmera vertical modelo F-24 na cabine, dois tanques suplementares de combustível no interior e uma cobertura em forma de bolha na janela lateral do piloto, otimizando a aeronave para operações de inteligência estratégica.
Para viabilizar esse processo de reconhecimento aéreo estratégico, o serviço de inteligência britânico MI6 recrutou Frederick Sidney Cotton, um inventor, fotógrafo e pioneiro da aviação e da fotografia aérea de origem australiana. Cotton foi encarregado de liderar uma equipe especializada responsável pela operação das aeronaves Lockheed Model 12A, configuradas especificamente para missões de espionagem. Aproveitando sua reputação como um aviador privado rico e influente, ele utilizou como fachada a promoção de seus negócios no setor cinematográfico, recorrendo a diversos subterfúgios – como se apresentar como arqueólogo ou produtor de cinema em busca de locações – para ocultar o verdadeiro propósito das operações. Entre 1939 e o início da Segunda Guerra Mundial, foram realizados diversos voos sobre o território alemão, resultando na produção de um extenso acervo fotográfico. Esses registros forneceram informações cruciais sobre a infraestrutura industrial e militar das forças armadas nazistas, desempenhando um papel fundamental no planejamento de ataques aéreos contra a Alemanha nos primeiros estágios do conflito, a partir do final de 1939. Apesar do sucesso dessas missões, o principal legado de Frederick Sidney Cotton foi a demonstração inequívoca da relevância do reconhecimento aéreo como ferramenta estratégica em tempos de guerra. Com a escalada das hostilidades no início da Segunda Guerra Mundial, diversas unidades civis do Lockheed 12A Electra Junior foram requisitadas por forças militares aliadas, incluindo o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), a Força Aérea Real Britânica (RAF) e a Força Aérea Real Canadense (RCAF). Embora a aeronave tenha apresentado desempenho satisfatório em aplicações militares, sua produção foi interrompida no início de 1941. Essa decisão foi motivada pela estratégia da Lockheed de redirecionar seus recursos industriais para o desenvolvimento e fabricação de aeronaves militares mais avançadas, como o bombardeiro Lockheed A-28 Hudson e o caça bimotor P-38 Lightning. Como resultado, o nicho operacional previamente ocupado pelo Electra Junior passou a ser dominado pelo Beechcraft Model 18, cuja produção alcançaria milhares de unidades. Além dos Estados Unidos, outras nações, como Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, França Livre e Reino Unido, também empregaram variantes do Lockheed 12 em operações militares. Muitas dessas aeronaves permaneceram em serviço ativo até o início da década de 1960, evidenciando sua durabilidade e versatilidade em diferentes contextos operacionais.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A partir de 1935, a Aviação Militar do Exército Brasileiro iniciou uma série de programas de aquisição de aeronaves, com o objetivo de substituir grande parte de seu material aeronáutico, que se encontrava em estado de obsolescência. Esse processo visava, simultaneamente, atender às deficiências identificadas pelas autoridades militares da época. Entre as prioridades estabelecidas, destacava-se a necessidade de modernização da aviação de transporte, que, naquele momento, dependia majoritariamente de aeronaves monomotoras de pequeno porte, como os modelos Waco CJC, CPF-5 e CSO, recebidos no pais a partir de 1932. Embora esses aviões estivessem prestando serviços valiosos ao Correio Aéreo Militar (CAM), apresentavam preocupantes limitações em termos de capacidade de transporte de carga e pessoal. Mais notadamente no deslocamento de autoridades militares e governamentais em viagens pelo interior do pais. Desta maneira, com frequência, recorria-se a aeronaves pertencentes a empresas brasileiras de transporte aéreo comercial para suprir as demandas de transporte de autoridades para diversos destinos no território nacional. Embora essa solução fosse prática e de baixo custo, ela acarretava inconvenientes operacionais que comprometiam a eficiência e a autonomia das operações militares. Diante desse contexto, em 1937, as autoridades militares decidiram priorizar a aquisição de uma aeronave especificamente destinada ao transporte de autoridades, tanto do Exército Brasileiro quanto do Governo Federal, com características que atendessem de forma mais adequada às necessidades estratégicas desta tarefa. Os detalhes do processo de avaliação e seleção seriam conduzido pela Diretoria de Aviação Militar (DIRMA) porém  não são plenamente conhecidos. Contudo, é razoável supor que, entre as opções consideradas, estavam aeronaves já em operação pelas companhias aéreas brasileiras. Nesse cenário, o Lockheed Electra L-10, que havia entrado em serviço na Panair do Brasil no início de 1937, provavelmente figurava entre os modelos analisados demonstrando grande preferencia. Apesar disso talvez por critérios financeiros, a escolha final recaiu sobre o Lockheed 12A Electra Junior, uma variante de menor porte derivada do Electra L-10. Assim, no segundo semestre de 1937, foi formalizado um contrato entre o governo brasileiro e a Lockheed Aircraft Company para a encomenda de duas unidades novas de fábrica dessa aeronave, marcando um passo significativo na modernização da aviação de transporte militar brasileira.

Após passarem por testes e serem oficialmente recebidas por representantes da Aviação Militar do Exército Brasileiro nas instalações da Lockheed Aircraft Company, nos Estados Unidos, as duas aeronaves Lockheed 12A Electra Junior foram desmontadas e transportadas ao Brasil por via marítima. Ao chegarem ao porto do Rio de Janeiro na primeira semana de outubro de 1937, os caixotes contendo as aeronaves foram encaminhados à Ponta do Galeão, também no Rio de Janeiro, onde foram remontadas nas instalações da Escola de Aviação Naval (EAvN). Concluída a montagem, as duas unidades foram transferidas para o Campo dos Afonsos, igualmente localizado no Rio de Janeiro, que se estabeleceu como a principal base de operações desse modelo nos anos subsequentes. A partir desse ponto, as aeronaves passaram a ser intensivamente empregadas em missões de transporte de autoridades. Posteriormente, as aeronaves foram alocadas à Diretoria de Aviação Militar (DIRMA), que mais tarde seria redesignada como Diretoria de Aeronáutica do Exército (DAeEx). Inicialmente, a responsabilidade por sua guarda e manutenção foi atribuída à Escola de Aviação Militar (EAvM). Contudo, em 1938, essa atribuição foi transferida para o 1º Regimento de Aviação (1º RAv). Uma vez alcançada a plena operacionalidade, os Lockheed 12A Electra Junior começaram a cumprir missões em benefício de autoridades militares e de diversos setores do governo federal, incluindo o então Presidente da República, Getúlio Vargas. Entre os pilotos designados para operar essas aeronaves destacava-se o Capitão Nero Moura, que anos depois comandaria o 1º Grupo de Aviação de Caça durante a campanha da Itália (1944-1945). Essas aeronaves marcaram um precedente no Brasil como as primeiras a serem especificamente destinadas ao transporte de autoridades. Nesse papel, realizaram voos regulares entre o Rio de Janeiro e as principais capitais das regiões Sul e Sudeste, bem como a localidades menores em outras partes do país. Após dois anos de operação bem-sucedida, constatou-se a necessidade de expandir a frota desse modelo para atender à crescente demanda por serviços de transporte de autoridades. Assim, no final de 1939, foi formalizada a encomenda de mais duas unidades do Lockheed 12A Electra Junior junto ao fabricante, com recebimento nos Estados Unidos em fevereiro de 1940. Às vésperas da criação do Ministério da Aeronáutica (MAer), em janeiro de 1941, foi assinado um terceiro contrato para a aquisição de mais quatro aeronaves. Essas unidades foram trasladadas em voo até o Brasil, chegando ao país em abril de 1941. Esse processo de ampliação da frota reflete o reconhecimento da importância estratégica dessas aeronaves para as operações de transporte oficial, consolidando seu papel no contexto militar e governamental brasileiro da época
Com a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em janeiro de 1941, as quatro unidades do Lockheed 12A Electra Junior até então em operação foram incorporadas ao acervo da recém-estabelecida Força Aérea Brasileira (FAB), formada a partir da fusão dos recursos materiais e humanos da Aviação Militar do Exército e da Aviação Naval. Posteriormente, com a chegada de mais quatro aeronaves em abril de 1941, o total de oito unidades continuou a desempenhar missões de transporte de autoridades, incluindo o Presidente da República. Esse cenário permaneceu inalterado até 1942, quando a FAB recebeu o Lockheed Lodestar L.18-08 VC-66, uma aeronave especialmente configurada para o transporte presidencial. A partir desse momento, os Lockheed 12A Electra Junior, apelidados de “Lockheedinhos”, deixaram de ser utilizados para o deslocamento do chefe de Estado, mantendo, no entanto, suas funções regulares sob a subordinação direta da Seção de Aviões de Comando. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1942, trouxe mudanças significativas à operação dessas aeronaves. Desde o final de 1939, as unidades aéreas localizadas nas regiões Norte e Nordeste do país haviam recebido um reforço gradual em suas dotações de aeronaves. Essa medida tinha como objetivo não apenas expandir as operações do Correio Aéreo Militar (CAM) nessas áreas, mas também garantir uma presença mínima capaz de dissuadir atividades das marinhas de guerra dos países em conflito ao longo do litoral brasileiro. Contudo, no início de 1942, tornou-se evidente que a costa brasileira estava se transformando em um cenário de operações bélicas, especialmente devido aos ataques de submarinos do Eixo. Diante disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) intensificou sua presença nas regiões costeiras, fortalecendo a vigilância como nunca antes. Nesse contexto, surgiu a necessidade de estabelecer uma ligação rápida e eficiente entre a capital federal, então no Rio de Janeiro, e os quartéis-generais das principais zonas aéreas do país. Com a incorporação de novas aeronaves Lockheed VC-60 Lodestar ao longo de 1942, a FAB decidiu realocar alguns dos Lockheed 12A Electra Junior para bases estratégicas de forma semipermanente. Assim, cidades como Florianópolis, Natal e Recife passaram a contar com a presença dessas aeronaves, que desempenharam um papel essencial no suporte logístico e na coordenação das operações militares durante o conflito. Essa redistribuição refletiu a adaptação da FAB às exigências impostas pelo cenário de guerra, otimizando o uso de seus recursos aéreos para atender às prioridades estratégicas da época.

As aeronaves Lockheed 12A Electra Junior foram cedidas às Zonas Aéreas por meio de um regime de empréstimo, ficando à disposição dos respectivos Quartéis-Generais beneficiados. De maneira notável, essas aeronaves passaram a desempenhar funções que iam além do transporte de pessoal e autoridades, adquirindo papéis adicionais conforme as necessidades regionais. Um exemplo significativo ocorreu com as unidades alocadas à 2ª Zona Aérea, sediada em Recife, onde os Lockheed 12A Electra Junior foram frequentemente empregados em missões de patrulha visual ao longo do litoral. Esse uso foi particularmente intensificado entre a segunda metade de 1942 e o início de 1943, período em que os meios aéreos especificamente destinados a tais operações ainda eram escassos, destacando a versatilidade dessas aeronaves em um contexto de guerra. Com o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, as unidades do Lockheed 12A Electra Junior que haviam sido destacadas para bases fora do Rio de Janeiro retornaram à capital federal. Nesse momento, foram reintegradas à Seção de Aviões de Comando, então sediada no atual Aeroporto Santos Dumont. Contudo, a introdução de diversas aeronaves Lockheed Lodestar C-60, recebidas durante o conflito, e do único Lockheed Lodestar 18-10-01 VC-66, reduziu a relevância dos “Lockheedinhos” – como eram carinhosamente chamados – nas missões de transporte executivo (VIP – Very Important Person). A frota, que originalmente contava com oito unidades, foi reduzida a sete em decorrência de um acidente envolvendo um dos Electra 12A Junior em 1944. Em 1946, essas aeronaves passaram por uma reclassificação: suas matrículas originais foram substituídas por um novo sistema estabelecido pela Diretoria de Material (DIRMA), recebendo a designação oficial UC-40. Permaneceram subordinadas à Seção de Aviões de Comando, sendo algumas delas disponibilizadas para atender às necessidades de grandes comandos militares. Essa configuração operacional manteve-se praticamente inalterada ao longo dos anos seguintes. Mesmo com a transformação da Seção de Aviões de Comando no Esquadrão de Transporte Especial (ETE), em maio de 1954, os Lockheed 12A Electra Junior continuaram a desempenhar suas funções dentro desse novo arranjo organizacional, evidenciando sua durabilidade e adaptabilidade ao longo de quase duas décadas de serviço na Força Aérea Brasileira (FAB).
A incorporação de um significativo número de aeronaves de transporte Douglas C-47 ao longo da década de 1950 marcou o declínio definitivo do Lockheed 12A Electra Junior como aeronave destinada ao transporte de autoridades na Força Aérea Brasileira (FAB). Com a chegada desses novos modelos, os “Lockheedinhos” foram redirecionados para funções de caráter mais utilitário, atendendo às necessidades operacionais de diversas unidades da Aeronáutica. Nesse período, a frota já havia sido reduzida a apenas quatro unidades, número que, em 1960, caiu para três células devido ao desgaste natural e à obsolescência do modelo. Diante da quantidade limitada de aeronaves ainda operacionais e das crescentes dificuldades em obter peças de reposição – considerando que a produção do Lockheed 12A Electra Junior havia sido encerrada há quase duas décadas –, a Diretoria de Material (DIRMA) decidiu pela desativação e alienação das unidades remanescentes, designadas como UC-40. Esse processo foi formalizado no primeiro trimestre de 1963, quando as três células ainda em serviço foram retiradas das operações ativas. Posteriormente, elas foram disponibilizadas para alienação por meio de concorrência pública. Dentre essas, duas aeronaves foram adquiridas por operadores civis, permanecendo em uso até o final da década de 1960, encerrando assim a trajetória desse modelo no contexto brasileiro.

Em Escala.
Para representarmos o Lockheed 12A Electra Junior “D.A.E01” da Aviação Militar do Exército Brasileiro, empregamos como base o antigo kit produzido pela Williams Bross na escala 1/53, salientando ser necessário um amplo processo de conversão, pois o modelo representa a versão Lockheed Electra 10. Apesar não termos atingindo um resultado satisfatório a conversão serviu a contento para podemos agregar uma tão rara aeronave ao nosso acervo nas cores nacionais. Empregamos uma combinação entre o set especial de decais produzidos pelo modelista Rafael Pinheiro Machado, em conjunto com itens confeccionados pela FCM decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Lockheed 12A Electra Junior, quando em uso pela Aviação Militar do Exército Brasileiro. Após sua transferência ao Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1941 estas aeronaves tiveram como alteração básica apenas a retirada das marcações “Exército”, posteriormente seriam aplicados mais dois tipos de esquemas de pintura, seguindo ao longo das décadas de 1950 e 1960 o mesmo padrão aplicado nas aeronaves de transporte da Força Aérea Brasileira.



Bibliografia :
- Lockheed 12A Electra Junior - Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_Model_12_Electra_Junior
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  por Jackson Flores Junior
- História da Força Aérea Brasileira, Prof. Rudnei Dias Cunha  -http://rudnei.cunha.nom.br

Grumman TBM-3E Avenger

História e Desenvolvimento.
Nascido em Nova York no ano de 1895,  e graduado em engenharia mecânica pela universidade Cornell University em 1926, o jovem entusiasta da aviação Leroy R. Grumman, se alistaria a seguir na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para servir junto a Reserva Naval, onde seria identificado por seus superiores como um potencial talento, o enviando assim para a Universidade Columbia a fim de se especializar no segmento motores aeronáuticos. Após a conclusão deste estágio, ele seria encaminhado para a Estação Naval de Miami (Naval Air Station Miami), no estado da Florida, a fim de ser preparado e receber todo treinamento para instrução em voo. Após sua graduação Leroy R. Grumman, permaneceria nesta unidade, agora exercendo a função e instrutor de voo para os jovens cadetes que ali ingressavam. Porém posteriormente abandonaria esta atividade para se dedicar a missão de piloto de bombardeio na Aviação Naval. Sua excelente performance, em todas as atividades a ele destinadas, lhe renderiam uma indicação honrosa para uma vaga no Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT (Massachusetts Institut of Technology), para o curso de engenharia aeronáutica.  Após formado com louvor, passaria a exercer as atividades de piloto de ensaios em voo, sendo responsável pelo recebimento de novas aeronaves na Aviaçao Naval. Após pedir baixa do serviço militar em março de 1927, Leroy foi trabalhar na indústria aeronáutica Loening Aeronautical Engineering Corporation, onde voltaria a exercer a atividade de piloto de testes e ensaios, mais notadamente dedicado a linha de aeronaves anfíbias produzidas por aquela empresa, participando também na elaboração destes projetos. Este período, lhe traria grande experiencia na manutenção de aeronaves produzidas pela Loening Aeronautical Engineering Corporation, levando Leroy a empreender, fundando a Grumman Aircraft Company, uma pequena empresa dedicada a execução de reparos e revisões gerais de aeronaves fabricadas por seu antigo empregado, que se encontravam em serviço ativo junto a aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). As receitas produzidas por esta atividade permitiram a Leroy R. Grumman a se aventurar no projeto e desenvolvimento de aeronaves navais de caça, com seu primeiro investimento neste segmento se materializando em 1931 quando o primeiro protótipo do Grumman FF-1 alçou voo. Suas características inovadoras como o trem de pouso retrátil, chamariam a atenção das autoridades navais norte-americanas, levando assim a assinatura do primeiro contrato de produção de grande vulto da empresa. A estes seguiram outros mais, tornando assim a  Grumman Aircraft Engineering Corporation a principal empresa fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha Estados Unidos (US Navy) pelas seguintes cinco décadas. 

O início das hostilidades entre os Estados Unidos e o Império do  Japão em 7 de dezembro de 1941 com o ataque surpresa as instalações norte-americanas em Pearl Harbour no Havaí, e as demais investidas japonesas no Pacífico Sul, traria ao comando de defesa norte-americano uma visão emergencial sobre a necessidade de se desenvolver novos vetores de combate. Esta decisão se daria pela análise de que as aeronaves em uso até então, se mostraram obsoletas ou inadequadas face as possíveis ameaças das forças do Império do Japão, apresentadas em cenários hipotéticos estudados antes de 1940, que seriam dolorosamente confirmados nos eventos que seguiram ao início das hostilidades. Como exemplo deste cenário, podemos citar os torpedeiros Douglas TBD Devastador da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que apresentariam uma performance extremamente ruim nos primeiros embates no teatro de operações do pacífico, se tornando assim claro a necessidade de substituição imediata por aeronaves de melhor performance. Neste contexto projetos em andamento, ganhariam prioridade de desenvolvimento, e entre estes se encontrava um programa contratado em meados do ano de 1940 , junto a Grumman Aircraft Engineering Corporation, para o desenvolvimento de um novo  aviao torpedeiro embarcado de grande porte, a ser operado por três tripulantes. Os parâmetros básicos deste projeto envolviam principalmente requisitos básicos, como baixo custo de aquisição e operação, facilidade de produção em alta escala e robustez. O acordo firmado entre as partes previa um estreito prazo de apresentação de dois primeiros protótipos a serem contratados.  Assim desta maneira os engenheiros aeronáuticos da Grumman Aircraft Engineering Corporation empregariam como ponto de partida, o conceito aerodinâmico do recém-criado caça embarcado Grumman F-4F3  Wildcat. Esta decisão além de ajudar na redução do prazo de desenvolvimento do modelo iria potencializar em muito na comunalidade de alguns componentes entre as aeronaves, facilitando as operações de manutenção e simplificação dos processos logísticos de peças de reposição. 
O primeiro voo do protótipo designado pelo fabricante como XTBF-3 seria realizado no dia 7 de agosto de 1941, e estava equipado com um motor radial Wrigth R-2600-8 Cyclone com 1.700 hp de potência. Apresentava uma tripulação composta por três tripulantes acomodados em tandem, sob um longo canopy envidraçado. Como armamento defensivo a nova aeronave possuía uma metralhadora Browming  calibre .50 montada sob o lado direito do capo, uma Browming calibre .30 instalada em um corte ventral na parte inferior e outra metralhadora calibre .50 alojada em uma torre dorsal elétrica giratória garantindo uma satisfatória capacidade de autodefesa. Os dois protótipos seriam submetidos a um extensivo programa de testes e avaliação, com os resultados se mostrando extremamente promissores, representando uma grande evolução quando comparados as aeronaves sem serviço até então. Este processo culminaria na aceitação e homologação do Grumman XTBF-3 pela comissão técnica da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Desta maneira seria celebrado o primeiro contrato de produção no segundo semestre de 1941, prevendo a compra de duzentas e sessenta e oito aeronaves. As primeiras células seriam entregues no início do ano seguinte, e o seu consequente batismo de fogo se daria durante os eventos decorrentes da Batalha de Midway em junho de 1942. E apesar do resultado desastroso do modelo neste combate (cinco dos seis Avengers TBF-3 empregados na batalha foram abatidos por caças japoneses), o comando da Marinha dos Estados Unidos  (US Navy) não desanimaria quanto ao potencial de emprego da aeronave. Logo em seguida esta decisão se mostraria acertada, com  o Grumman TB-3 Avenger se mostrando posteriormente extremamente apreciado por suas tripulações principalmente por sua alta velocidade, capacidade ofensiva e defensiva e alcance. Em vista dessas e de outras qualidades, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) passaria a contratar a aquisição de mais exemplares da aeronave, e em consequência desta demanda, a divisão Eastern Aircraft Company da fabricante de automóveis General Motors Corporation, passaria a produzir as aeronaves desta família em novembro de 1942. Para distinguir os Avenger TBF produzidos pela Grumman Aircraft Engineering Corporation dos produzidos pela General Motors, estes últimos receberam a designação TBM. 

A primeira versão denominada como Grumman TBF-1 Avenger atingiria a cifra de mais de mil e quinhentas células produzidas, sendo sucedido pelo novo Grumman TBF-1C que apresentava melhor capacidade de combustível e inclusão de duas metralhadoras Browning calibre.50 nas asas para autodefesa. Esta variante receberia contratos de aquisição totalizando setecentos e sessenta cinco unidades, entre elas algumas centenas destinadas a Marinha Real Britânica (Royal Navy) designadas como TBF-1B , sendo cedidas nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Já as variantes produzidas pela Eastern Aircraft (divisão aeronáutica da General Motors Corporation) alcançariam o total de quinhentos e cinquenta células do TBM-1 e  duas mil trezentos e trinta seis da versão TBF-1C Avenger. A estas variantes se seguiriam novas versões contemplando uma série de melhorias, culminando na variante final,  o Grumman TBM-3 Avenger,  que em 1944 que passava a contar com um motor mais potente, cabides subalares para foguetes não guiados ou tanques suplementares, com este representando o modelo mais produzido da família, totalizando quatro mil e seiscentas células entregues. Ao todo seriam produzidas nove mil oitecentas e trinta e nove unidades até fins de 1945, dispostas em vinte e duas variantes, entre elas, torpedeiro, bombardeio, ataque noturno, transporte, antissubmarino, alerta aéreo antecipado e reboque de alvos. Durante a Segunda Guerra Mundial, as aeronaves da família Grumman Avenger teriam destacada participação no esforço de guerra aliado, registrando como primeiro troféu, a participação no afundamento do encouraçado japonês Hiei em novembro de 1942. Seu piloto mais famoso, seria o futuro presidente norte-americano George H. W. Bush, que operava embarcado junto ao porta aviões de escolta USS San Jacinto (CVL-30). A participação final dos Grumman Avenger da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) se daria em 1945 durante os ataques aeronaves que culminaram no afundamento dos super encouraçados da Marinha Imperial Japonesa (IJN) Yamato e Musashi. No teatro de operações europeu, estas aeronaves teriam grande participação na campanha contra as flotilhas alemães de submarinos no oceano Atlântico, principalmente a serviço da Marinha Real (Royal Navy), operando as versões Avenger Mk I, Avenger Mk II e Avenger Mk III. 
Durante o período pós-guerra, inúmeras versões do Grumman Avenger seriam desenvolvidas com base na conversao de aeronaves já produzidas, das quais se destacam com maior relevância,  a TBM-3E e TBM-3E2 (equipadas com radar AN/APS-4 em “pod” subalar), TBM-3S e TBM-3S2 (versões modificadas dos TBM-3E  e TBM-3E2 para guerra antissubmarino - ASW) e TBM-3W e TBM-3W2 (equipadas com radar de busca sob a fuselagem); os TBM-3W e TBM-3S.  Estas últimas eram utilizadas normalmente em pares “hunter-killer”, sendo o “W” empregado na busca de submarinos e o “S” na destruição dos mesmos, sendo empregadas pela Marinha dos Estados Unidos  (US Navy) e Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) até meados da década seguinte, quando começaram a ser substituídas por aeronaves mais modernas. Ainda dentro dos programas de “Mutual Defense Assistance Program” (Programas de Assistência de Defesa Mútua), centenas destas células seriam transferidas a nações amigas alinhadas aos interesses geopolíticos dos Estado Unidos. Desta maneira aeronaves de diversas versoes da família  Grumman TBM-TBF Avenger seriam cedidas as forças armadas da  Holanda, Cuba, Brasil, Canada, Nicarágua, França, Japão, Nova Zelândia e Uruguai.  Muitas aeronaves remanescentes também seriam largamente convertidas para o uso civil principalmente como aeronaves destinadas da pulverização de lavouras e combate a incêndios, com algumas células em operação até os dias atuais. 

Emprego na Marinha do Brasil.
No dia  12 de dezembro de 1956, o Governo Federal Brasileiro em conjunto com Ministério da Marinha, após uma série de negociações, procederia formalmente a aquisição de um porta-aviões leve britânico classe Colossus, o HMS R-71 Vengeance. Este navio aeródromo apresentava um deslocamento padrão de 19.900 toneladas era um veterano da Segunda Guerra Mundial, tendo atuado nos teatros de operações do Mediterrâneo e do Pacífico. Após o término do conflito, este navio seria arrendado à Marinha Real Australiana (Royal Australian Navy), pelo período compreendido entre o dia 13 de novembro de 1952 a 13 de agosto de 1955, sendo assim devolvido ao governo britânico e colocado à disposição para venda. Após sua aquisição pelo governo brasileiro, este porta aviões seria encaminhado em meados do ano de 1957, aos estaleiros da empresa holandesa Verolme United Shipyard, na cidade de Rotterdam, a fim de ser submetido a um extenso programa de modernização e atualização. Este navio, emergiria deste processo em dezembro de 1960, ostentando a adição de convés de voo em ângulo a 8,5°, catapulta e sistema de parada modernizados, novos elevadores, nova ilha, sistemas de operação e eletrônica e atualização de sistema defensivo. Após a conclusão dos trabalhos, o navio passaria a ser submetido a provas no mar, neste processo estava incluso a avaliação dos sistemas de catapultagem e recolha de aeronaves, sendo empregados para isto aeronaves turboélices Fairey Gannet e caças Hawker Sea Hawk da Marinha Real (Royal Navy). Recomissionado em 6 de dezembro de 1960 como Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11), o navio passaria a ser a nau capitania da Marinha do Brasil. Neste contexto ainda não havia estudos reais sobre as opções de aeronaves de asas fixas e rotativas a serem adquiridas pela Aviação Naval, ou mesmo pela Força Aérea Brasileira (em função da prerrogativa da exclusividade de operação de aeronaves de asa fixas), para compor o grupo aéreo do novo porta aviões brasileiro. Apesar do navio ser de origem britânica, todo o treinamento e sua consequente doutrina operacional seria baseada nos moldes da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), mediante um acordo firmado anteriormente entre os governos brasileiro e norte-americano. 

É neste momento que tem início a efêmera história dos Grummam TBM-3E/E2 Avenger na Marinha do Brasil, pois como citado o processo de treinamento da tripulação do Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11) seria completo, envolvendo o processo de movimentação e hangaragem de aeronaves. Nesta época várias aeronaves Grumman TBM-3 do Serviço Aéreo da Real Marinha Holandesa (RNethN) estavam sendo desativadas e de acordo com os termos da aquisição das mesmas constantes no programa norte-americano “Mutual Defense Assistance Program” (Programas de Assistência de Defesa Mútua), estas deveriam ser assim devolvidas aos Estados Unidos ou destruídas no localmente com comprovação fotográfica. Um terceiro destino para estas células seria criado, quando a diretoria do estaleiro Verolme United Shipyard passou a intermediar uma negociação entre as partes envolvendo uma doação de um lote destas aeronaves monomotoras, para fins de treinamento de manobra em convés de voo. Desta maneira seria acordada a cessao de cinco células do modelo Grumman TBM-3 Avenger que deveriam ser escolhidas da  frota da aviação naval holandesa, empregando como critério seu estado de conservação.  No entanto curiosamente, apenas três destas aeronaves receberiam matrículas brasileiras; e destes dois restantes, uma célula apesar de ser oficialmente transferida a Marinha Brasileira, não seria fisicamente entregue, sendo descartado e sucateado em uma base aeronaval daquele país, quanto a quinta célula não existem registros sobre seu destino final, mas nunca seria realmente incorporada. Existem ainda relatos de que uma das aeronaves recebidas pela Marinha do Brasil, pertenceria ao modelo TBM-3S Avenger, sendo oriundo da Aviação Naval Francesa (Aéronavale), mas não existem registros franceses (conforme contatos com a Association pour la Recherche de Documentation sur l’Histoire de l’Aéronautique Navale) que atestem sua transferência a Marinha do Brasil. Informações extra oficias informam que outras tres células (como os números de série BuAer 85930, 86174 e 85543) teriam sido recebidos no Brasil desmontadas em caixas, porém esta afirmação para ser  inverossímeis, já que pelo menos o BuAer 85930 foi aquela aeronave destruída como sucata, mencionada anteriormente. 
As aeronaves com confirmação real de recebimento, seriam então o TBM-3E2 BuAer 53142 com   data de aceitação Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 3/05/45; transferido para a Marinha Real (Royal Navy) 29/9/53, matrícula XB378; convertido AS.5 por SAL Prestwick Junho/54; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em 19/02/58 para emprego como rebocador de alvo recebendo a matricula 22-32 e depois 073; descarregado em 08/2/61; transferido Marinha do Brasil: 25/7/60, matriculado 1 e depois N-501. Ja a segunda célula o TBM-3E BuAer 53604 com data de aceitação na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 8/06/45; transferido para Marinha Real (Royal Navy) em 29/9/53, matrícula XB385; convertido AS.5 por SAL Prestwick Junho/54; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Holandesa (RNethN) em 19/2/58, matriculado 22-28 e depois 069; transferido Marinha do Brasil em 25/07/60, matriculado 3 e depois N-503; descarregado Marinha Holandesa 30/7/60. A última aeronave o  TBM-3E BuAer 85549 com data de aceitação na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em  24/02/45; transferido  para Marinha Real (Royal Navy) a bordo do HMS Perseus em 4/05/53, matrícula XB445; convertido AS.5 por SAL Prestwick Novembro/53; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em 17/3/58, matriculado 22-25 e depois 067; descarregado em 25/07/60; sendo transferido para a Marinha do Brasil:  25/7/60, matriculado 2 e depois N-502. Já sobre as células não recebidas temos apenas as informações , como o TBM-3E BuAer 85930 com data de aceitação na  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em  28/03/45; transferido  para Marinha Real (Royal Navy) em 4/05/53, matrícula XB447; convertido AS.5 por SAL Prestwick Janeiro/54; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em  17/03/58, matriculado 22-26 e depois 068; transferido Marinha do Brasil:  25/07/60; porém descarregado em  30/07/60, sendo destruído como sucata em The Kooij, Holanda. Por fim o  TBM-3E2 BuAer 86174 com data de aceitação na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 20/04/45; transferido a Marinha Real (Royal Navy) a bordo do HMS Perseus em 4/05/53, matrícula XB331; convertido para AS.4 por SAL Prestwick 04/08/54; descarregado em 28/03/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em  19/02/58 como rebocador de alvo, matriculado 22-34 e depois 075; descarregado Marinha Real Holandesa 30/7/60; transferido a Marinha do Brasil em  25/07/60. 

Durante a entrega oficial da primeira célula, o Grumman TBM-3E2 Avenger BuAer 53142 em 25 de julho de 1960 ainda na Holanda, um oficial do Serviço Aéreo da Real Marinha Holandesa (RNethN)., ministrou aos brasileiros todas as técnicas para o emprego da aeronave, tais como sistemas mecânicos, elétricos e hidráulicos, bem como taxiamento, recolhimento das asas e alinhamento na catapulta e hangaragem. Havia no entanto uma solicitação por parte do governo norte-americano que estas aeronaves não fossem empregadas em voo, embora tivessem condições de fazê-lo. Durante os treinamentos na Holanda, os Grumman Avengers eles eram “rolados” pelo convés de vôo até a velocidade de decolagem, porém abortando o processo logo em seguida. Reza a lenda ainda, que ao final deste treinamento, este mesmo oficial holandês fazendo uso de ferramentas apropriadas retirou os parafusos do sistema das asas dobráveis, dizendo em seguida “de acordo com ordenado, três aeronaves sem condições de voo entregues perfeitamente”. E assim que ele se retirou do navio, os tripulantes brasileiros trataram logo de recolocar os parafusos em seu devido lugar. As três aeronaves foram transportadas ao Brasil, a bordo do Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11), chegando no porto do Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 1961. Na semana seguinte seria possível dar atenção ao início do processo de formação do pessoal destinado a compor as equipes de manobra, conquanto esse trabalho já houvesse sido iniciado por aqueles que acompanharam o recebimento das aeronaves na Holanda, restando realizar a instrução das novas equipes, com esta atribuição destinada ao Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). A intenção original era que ao menos um Grumman TBM-3E2 Avenger fosse entregue aquele centro, mantendo os outros dois exemplares a bordo do porta aviões. Para atender a esse planejamento seria decidido que uma aeronave faria uma decolagem livre do porta aviões e voaria para a Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA). Assim em 1 de setembro de 1961, logo após livrar o convés de voo, o Grumman TBM-3E N-502, infelizmente perdeu sustentação e caiu no mar ao longo do litoral do Rio de Janeiro, felizmente o piloto o Capitão-Tenente Mario Costa sofreu apenas ferimentos leves, resultando somente na perda material. Desta maneira a segunda célula seria transportada pelo navio até o porto do Rio de Janeiro sendo transladado por via terrestre até a sede do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). 
Por sua vez o terceiro Grumman TBM-3 Avenger, seria mantido a bordo do Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11), e estas duas unidades foram continuadamente empregados como instrumentos de instrução em terra ou embarcado, porém mesmo envidando esforços para manter todos as duas aeronaves em condições de voo, a constante falta de peças de reposição impedia este objetivo. Assim desta maneira visando manter o mínimo de operacionalidade, o Grumman TBM-3 Avenger “N-502" passou então a fornecer peças para que a outra aeronave, o  TBM-3 Avenger “N-501", pudesse voar. Essa aeronave recebeu então um esquema pintura de alta visibilidade na cor branca com detalhes em vermelho alaranjado. Devido às divergências entre a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira os aviões nunca chegaram a operar embarcados no porta aviões brasileiro, embora decolassem normalmente a partir da Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA). Paralelamente a estes evento, a  crise institucional criada pela disputa entre os Ministérios da Aeronáutica e Marinha, pelo direito a operação de aeronaves de asas fixas se agravava dia a dia, com a solução sendo auferida em 26 janeiro de 1965,  mediante promulgação do decreto presidencial Nº 55.627, que que efetivamente extinguia a aviação naval de asas fixas da Marinha do Brasil. Em consequência dos artigos apresentados naquele instrumento,  seria definido que toda estrutura material e de pessoal deveriam ser incorporadas a Força Aérea Brasileira, neste contexto estas aeronaves seriam rejeitadas  e se manteriam sobre os auspícios da Força Aeronaval. Desta maneira seriam definitivamente desativados, o N-501 foi desmontado e vendido como sucata, e o N-502 seria preservado como monumento junto a entrada do Quartel dos Marinheiros localizado na Av. Brasil (Rio de Janeiro), permanecendo até o até o início dos anos setenta, sendo sucateado posteriormente.   

Em Escala.
Para representarmos o Grumman TBM-3E Avenger "N- 502" da Aviação Naval da Marinha do Brasil, fizemos uso do excelente kit da Hobby Boss na escala 1/48, que além de ser extremamente detalhado, possibilita a montagem da aeronave com as asas dobradas para a hangaragem. Para se adequar a versão operada pela Marinha do Brasil é necessário suprimir o posto do metralhador ventral da aeronave. Empregamos decais confeccionados pelo fabricante FCM Decals presentes no antigo set 48/07. 

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura original da Marinha Real Holandesa (RNethN), ou seja, midnight blue em toda superfície, incluindo cubos e caixas de rodas e spinner da hélice, substituindo-se somente os cocares holandeses pelos da nossa aviação naval nas quatro posições das asas. Posteriormente receberam o mesmo esquema aplicado nas aeronaves de treinamento da Aviação Naval (Pilatus, Taylorcraft e CAP-4), todo branco brilhante, leme de direção azul,amarelo e verde, cowling do motor, pontas das asas e cubo de rodas em vermelho alaranjado.


Bibliografia :
-  Grumman Avenger  - Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_TBF_Avenger
-  Grumman/General Motors Avenger TBM-3 - http://www.naval.com.br
-  Avenger , o Classico Naval Anonimo no Brasil – Rogério Terlizzi Revista Asas Nº 7
 Aeronaves Militares Brasileiras 1916 á 2015 - Jackson Flores Jr Action Editora.

Grumman P-16H Turbo Tracker

História e Desenvolvimento.
Nascido em Nova York em 1895 e graduado em engenharia mecânica pela universidade Cornell University, o jovem entusiasta da aviação Leroy R. Grumman, se alistou na Marinha Americana (US Navy) para servir junto a Reserva Naval, onde seria identificado por seus superiores como um potencial talento, o enviando assim para a Universidade Columbia a fim de se especializar no segmento motores aeronáuticos. Após a conclusão deste estágio, ele seria encaminhado para a Estação Naval de Miami (Naval Air Station Miami), no estado da Florida, a fim de ser preparado e receber todo treinamento para instrução em voo. Após sua graduação Leroy, permaneceria nesta unidade, agora exercendo a função e instrutor de voo para os jovens cadetes que ali ingressavam, porém posteriormente abandonaria esta atividade para se dedicar a missão de piloto de bombardeio na Aviação Naval Americana. Sua excelente performance, em todas as atividades a ele destinadas, lhe renderam uma indicação honrosa para uma vaga no Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT (Massachusetts Institut of Technology), para o curso de engenharia aeronáutica.  Após formado com louvor, passaria a exercer as atividades de piloto de ensaios em voo, sendo responsável pelo recebimento de novas aeronaves. Após pedir baixa do serviço militar em março de 1927, Leroy foi trabalhar na indústria aeronáutica Loening Aeronautical Engineering Corporation, onde voltaria a exercer a atividade de piloto de testes e ensaios, mais notadamente dedicado a linha de aeronaves anfíbias produzidas por aquela empresa, participando também na elaboração destes projetos. Este período, lhe traria grande experiencia na manutenção de aeronaves produzidas pela Loening Aeronautical Engineering Corporation, levando Leroy a empreender, fundando a Grumman Aircraft, uma pequena empresa dedicada a execução de reparos e revisões gerais de aeronaves fabricadas por esta última empresa, que se encontravam em serviço ativo junto a aviação naval da Marinha Americana (US Navy). As receitas produzidas por esta atividade permitiram a Leroy R. Grumman a se aventurar no projeto e desenvolvimento de aeronaves navais de caça, com seu primeiro investimento neste segmento se materializando em 1931 quando o protótipo do Grumman FF-1 alçou voo. Suas características inovadoras como o trem de pouso retrátil, chamariam a atenção das autoridades navais americanas, levando assim a assinatura do primeiro contrato de produção de grande vulto da empresa. A estes seguiram outros mais, tornando assim a  Grumman Aircraft Engineering Corporation a principal empresa fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha Americana (US Navy) pelas seguintes cinco décadas.

Os ataques dos submarinos alemães,italianos e japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, foram extremamente eficientes e praticamente estrangularam as nações aliadas no inicio da guerra, principalmente a Grã-Bretanha. Essa situação persistiria até 1943, quando a introdução de sistemas de radares aerotransportados embarcados em aeronaves com maior raio de ação começaram a caçar e destruir estes submarinos. Ao final da guerra, os avanços tecnológicos permitiram reduzir o tamanho dos radares de tal forma que aeronaves baseadas em porta-aviões seriam capazes de transportá-los; no entanto, tais aeronaves seriam incapazes de transportar armamento para atacar um submarino uma vez que ele tivesse sido detectado. Assim, seria criando conceito “Hunter-Killer” (caçador-matador), aonde pares de aeronaves – um equipado com radar e o outro com armamento, seriam utilizadas em missões guerra antissubmarino ASW (Anti-Submarine Warfare). Na Marinha Americana (US Navy) esta área de atuação consistia na  detecção, rastreamento e destruição de submarinos, atuando em proteção sob quaisquer condições atmosféricas a comboios e forças-tarefas; localização de alvos navais de superfície; reconhecimento aéreo; e reconhecimento tático-fotográfico após missões de ataque, para avaliação dos resultados. Ao final da década de 1940, eram utilizados nessas missões, os Grumman TBM-3W (caçador) e TBM-3S (matador), ambos derivados do famoso avião torpedeiro Grumman Avenger. Na década de 1950, entraram em serviço os Grumman AF-2 Guardian, nas versões AF-2W (caçador) e AF-2S (matador). O conceito “hunter-killer” tinha, no entanto, uma grave deficiência: caso uma das duas aeronaves sofresse uma pane, a missão teria de ser abortada. No tocante às aeronaves então em uso, tanto os GrummanTBM-3 quanto os AF-2 eram monomotores, o que aumentava os riscos de operação. Além disso, dentro da própria marinha, o conceito era mal visto por alguns – principalmente os pilotos de caça e ataque – que viam nele apenas um desperdício da preciosa capacidade de um porta-aviões, pois eram necessários o dobro de aeronaves para desempenhar um único tipo de missão.
Com esse pano de fundo, a empresa passou a projetar uma aeronave bimotora, grande o suficiente para armazenar tanto os sensores quanto o armamento necessário à destruição do submarino, combinando em uma única célula as funções de caçador e matador. O G-89 era uma aeronave com asa alta e trem de pouso triciclo (o que facilitava a aterrissagem em porta-aviões), equipada com radar (em um radome ventral, retrátil) e uma antena retrátil MAD (“Magnetic Anomaly Detection”), localizada na cauda, abaixo do leme. Uma baia de armamentos, à frente do radome, permitia carregar dois torpedos antissubmarino ou cargas de profundidade; foguetes ou bombas podiam ser transportados em três cabides subalares. A tripulação consistia de piloto e copiloto, e dois operadores de sistema. Os primeiros protótipos, designados XS2F-1, tiveram sua produção autorizada em junho de 1950 e o primeiro, levantou voo pela primeira vez em 4 de dezembro de 1952. Em outubro de 1953, o segundo protótipo  já estava envolvido no programa de testes no Naval Air Test Center, onde foi utilizado para as provas de adequação ao uso em porta-aviões. Em vista do sucesso dos testes, a Marinha Americana (US Navy) contratou o primeiro lote de quinze aeronaves, designadas S2F-1; seriam estes os primeiros de 1.281 aeronaves, que seriam utilizadas por quatorze países. Conhecido inicialmente como “Sentinel”, logo seria oficialmente designado como “Tracker”; já as suas tripulações o conheciam como “STOOF” (“S-TWO-F”). Em termos de suíte eletrônica, os Grumman S2F-1 dispunham do radar de busca AN/APS-38, instalado em um radome retrátil no ventre, da antena retrátil MAD na cauda e de uma antena localizadora de emissões eletrônicas AN/APA-69, montada em um radome sobre a cabine de pilotagem (os primeiros exemplares tinham uma antena dipolo APA-69). Já a antena MAD estendia-se a aproximadamente 23 cm pra trás; com ela, os operadores de sistema da aeronave eram capazes de observar a mudança no campo magnético da Terra, causado pela presença do casco metálico do submarino sob a água. Os primeiros S2F-1 dispunham de um holofote de 70 milhões de candelas para identificação de alvos à noite, instalado sob a asa direita. Posteriormente, esse holofote seria substituído por um mais potente, de 85 milhões de candelas.

Em 1962, a Marinha Americana (US Navy) redesignou os S2F1 como S-2A. A partir dessa versão, foram produzidos ciquenta e um Grumman US-2A, aeronaves utilitárias que substituíram os Beechcraft C-45 e outras até então utilizadas nesse tipo de operação. Todo o equipamento ASW foi retirado, incluindo o radome retrátil do radar, o radome da antena AN/APA-69 e a sonda MAD. Além das missões utilitárias de transporte, os US-2A também desempenharam missões de reboque de alvos para a artilharia embarcada. Outra versão foi a S2F1T, da qual duzentos exemplares foram construídos. Redesignados como TS2A em 1962, foram utilizados para o treinamento de tripulações de voo em aeronaves multimotor e de operadores de sistemas ASW. No primeiro caso, todo o equipamento de guerra antissubmarino ASW seria retirado das aeronaves. Alguns poucos S2F-1 tiveram sua designação alterada para S2F1S (ou S2B a partir de 1962) ao receberem o sistema JULIE - JEZEBEL de detecção eletrônica,  JULIE era um sistema de determinação de distância por eco acústico, e JEZEBEL era um sistema de busca de eco. Mantendo os mesmos motores do S-2A, os S-2B foram pouco utilizados e substituídos por versões mais modernas do Tracker. Apesar do Grumman  Tracker representar uma grande evolução, ao combinar as funções caçador-matador em uma única aeronave, as primeiras versões de uso operacional – S-2F1, S-2F1S e S-2F1S1 – sofriam de uma deficiência: a baia de armamentos era insuficiente para acomodar as cargas de profundidade nucleares disponíveis na década de 1950. A fim de eliminar este problema, a Grumman projetou o S-2F-2 (ou S-2C), o qual tinha uma baia alargada, à esquerda da fuselagem. Outras modificações incluíam o reforço dos cabides subalares e o aumento da envergadura dos estabilizadores, de 6,81 m para 8,28 m. Em outubro de 1960, entrou em serviço o S-2F-3, o que permitiu a desativação da maioria dos S2F-1 então em uso. O S-2F-3 incorporava os últimos avanços em componentes eletrônicos de guerra antissubmarino - ASW embarcados, incluindo os sistemas JULIE - JEZEBEL, e podia carregar uma maior carga de armamentos. Externamente, a versão S-2F-3 diferia das anteriores em uma série de pontos: a antena AN/APA-69 foi removida; a redução no tamanho das cargas de profundidade nucleares permitiu que se utilizasse a mesma baia de armamentos do S-2F-1; a parte traseira das nacelas dos motores foi alargada, perdendo o perfil “hawkbill” e duplicando o número de sonoboias transportadas, agora 16 em cada nacela; o compartimento da tripulação foi aumentado em 45,72cm no comprimento e em 8,5 cm na largura, o que permitiu também um aumento na capacidade interna de combustível e estendeu a autonomia do S2F-3 para 7h30min, uma hora a mais do que as versões anteriores; a instalação dos motores Wright R-1820-82A necessitou o aumento da tomada de ar situada acima das nacelas dos motores; as asas foram aumentadas em 91,44cm, e as pontas das asas receberam um perfil arredondado, incorporando antenas CME (contramedidas eletrônicas). Cem exemplares foram construídos, os quais foram redesignados S-2D em 1962.
No fim da década de 1970 as versões finais do Grumman Tracker e Trader já haviam sido completamente substituídas na Marinha Americana (US Navy), e o destino das células remanescentes seria dividido entre as nações alinhadas ao Estados Unidos, para a reposição dos lotes iniciais fornecidos nos programa de ajuda militar na década de 1960, e ao mercado civil, onde o modelo lograria êxito no segmento de operações de combate a incêndios. Este novo descortinar de possibilidades de emprego levaria o fabricante e outras empresas internacionais a estudar um processo de modernização visando assim prolongar a vida útil do modelo. Esta oportunidade criaria um nicho de mercado voltado a programas de modernização englobando principalmente a troca dos problemáticos motores a pistão Curtiss-Wright R-1820 por novo motores turboélice. Paralelamente alguns operadores militares buscavam uma solução para a substituição de suas aeronaves de patrulha e guerra antissubmarino Grumman Tracker , e seu sucessor natural o Lockheed S-3 Viking era demasiado caro para a aquisição e operação, e tão pouco estava disponível para a venda. Como citado anteriormente, o calcanhar de Aquiles do modelo estava baseado grupo propulsor a pistão original, e assim estes operadores se voltaram para empresas como a própria Grumman Aerosapce, IMP Gruop Halifix e a Israel Aircrat Industries, que passaram a oferecer  em meados da década de 1980 no mercado internacional, pacotes de modernização da aeronave, destinados aos mercados civil e militar. As primeiras aeronaves modernizadas pertenciam a Marinha Argentina (Armada) e Força Aérea de Taiwan , incluindo neste processo a troca dos motores originais a pistão por turbo hélices Garrett TPE331 ou Pratt & Whitney PT6-A, retrofit estrutural e modernização de avionica. As primeiras células modernizadas seriam entregues no início da década de 1990 e ainda se mantém em uso tanto no mercado civil como militar.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A Força Aérea Brasileira, foi a única força aérea, até hoje, a operar embarcada em porta-aviões, em consequência da aquisição do Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) A11 “Minas Gerais”. Essa característica ímpar tem suas origens na própria formação da Força Aérea Brasileira; até 1941, tanto o Exército Brasileiro quando a Marinha do Brasil tinha suas aviações distintas, a Aviação Militar e a Aviação Naval. Em janeiro daquele ano, com a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer), tanto o Exército como a Marinha perderam suas aviações, cujos materiais e pessoal (em sua quase totalidade) foram transferidos para recém-criada Força Aérea Brasileira. Após o final da Segunda Guerra Mundial, a Marinha do Brasil tentou reinstituir sua aviação, porém encontraria resistências junto ao Ministério da Aeronáutica (MAer) que detinha a exclusividade na operação de aeronaves de asas fixas. No entanto em fins da década de 1950 o governo brasileiro avançava a passos largos em uma negociação junto ao governo britânico para a obtenção de um porta aviões. Este programa resultaria em um contrato de aquisição e modernização de um navio aeródromo veterano da Segunda Guerra Mundial pertencente a classe Colosss, o HMS Vengeance - R 71, que após adquirido seria submetido a partir de 1956, a um longo processo de modernização no estaleiro Verolme United Shipyard, em Rotterdam (Holanda). Curiosamente o Ministério da Aeronáutica (MAer), logo tomaria a frente a fim iniciar as primeiras providências para a ativar e dotar uma unidade aérea especificamente destinada a compor o grupo aéreo daquela embarcação, levando em conta que era a única das três forças armadas brasileiras a operar aeronaves de asa fixa. A fim de atender a esta demanda, através de portaria ministerial, seria criado em 6 de fevereiro de 1957, o 1º Grupo de Aviação Embarcada – 1º GAE, unidade está a prover os meios aéreos à Marinha do Brasil, para operação a partir de seu porta-aviões.

Originalmente o 1º Grupo de Aviação Embarcada – 1º GAE, deveria ser constituído por dois esquadrões, um deles de patrulha e o outro de caça. Quando a Marinha do Brasil decidiu por operar seu navio capitania como porta-aviões antissubmarino, o esquadrão de caça seria prontamente substituído por um esquadrão de helicópteros de guerra antissubmarino (ASW). O primeiro esquadrão (1º/1º GAE) passaria a ser equipado com aeronaves de guerra antissubmarino Grumman S-2F1 Tracker e o segundo (2º/1º GAE) operando seis helicópteros de guerra antissubmarino Sikorsky HSS-1 SH-34J. Desde sua ativação, em novembro de 1958, este esquadrão operaria um conjunto de aeronaves North-American B-25, North-American T-6D e Bell H-13J, em caráter temporário a fins do estabelecimento da proficiência operacional. Em julho de 1961, o esquadrão recebeu seus primeiros S2F-1 Tracker, designados como P-16 na Força Aérea Brasileira, treze dos quais foram adquiridos novos de fábrica, diretamente da Grumman Aircraft Co. Continuavam, no entanto, as dificuldades de entendimento entre a Aeronáutica e a Marinha, pois apesar do porta aviões Nael A-11 “Minas Gerais” encontrar-se em operação desde 12 de dezembro de 1960, a Marinha do Brasil proibia a operação de aeronaves da Força Aérea Brasileira a partir do navio aeródromo. Esse impasse só seria resolvido quando o presidente Marechal Castelo Branco assinou o decreto-lei nº 55627, em 26 de janeiro de 1965, pelo qual permitia o restabelecimento da Aviação Naval, limitada ao uso de helicópteros. Com esse arranjo, os Grumman P-16 Tracker puderam iniciar suas operações embarcadas. Desta maneira o 1º Grupo de Aviação Embarcada – 1º GAE, perderia seu segundo esquadrão, pois os Sikorsky SH-34J foram transferidos para a Aviação Naval. Assim em 22 de junho de 1965, o então Cap.-Av. Antonio Claret Jordão realizaria o primeiro pouso de uma aeronave militar brasileira, o Grumman P-16 "FAB 7021 a bordo de um porta aviões. 
Em 1974, seria adquirido um lote de oito aeronaves Grumman S-2E, oriundas de estoques de reserva da Marinha Americana (U.S. Navy), a um custo de US$93.000,00 cada. A compra dessas aeronaves, agora  designadas como P-16E, trouxeram modificações à frota já existente, com as aeronaves do primeiro lote sendo redesignados como P-16A, e oito deles foram, ao longo dos anos, sendo convertidos para o padrão de transporte UP-16, semelhante aos Grumman US-2B, com todo o equipamento de guerra antissubmarino (ASW) removido, e seu interior configurado para tarefas de transporte de carga e até cinco passageiros. A chegada das novas aeronaves levaria à reativação do 2º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação Embarcada (2º/1º GAE), passando a operar os  Grumman P-16A e UP-16, em missões de treinamento e transporte, enquanto os P-16E passariam a ser empregados  pelo 1º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação Embarcada (2º/1º GAE). Durante os anos que se seguiram estas aeronaves continuaria apoiando as operações navais e anfíbias da Marinha do Brasil, em exercícios nacionais e internacionais de grande monta como as operações Unitas, Dragão, Redex, Tropicalex, e  Temperex, atuando com grande êxito. Além destas participações os Grumman. P-16 Tracker da Força Aérea Brasileira, operariam também a partir dos porta-aviões norte-americanos USS Randolph (CVS-15) e USS America (CV-66); participando também operações conjuntas “ARAEX”, com a Armada Argentina. Este grande nível de emprego, cobraria seu preço em termos de atrito operacional, com cinco aeronaves sendo perdidas em acidentes entre os anos de 1961 e 1980, dois dos quais a bordo do porta-aviões A-11 Minas Gerais. Entre 1976 e 1988, a Força Aérea Brasileira, adquiriria outros seis Grumman S-2E; denominados  como P-16 logísticos, e foram utilizados para fornecerem peças para as demais aeronaves em uso. 

Em fins da década de 1980, apesar do alto estado de proficiência das equipagens do 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE), suas aeronaves já começavam a mostrar sinais de cansaço e obsolescência. Este cenário era agravado por graves problemas na obtenção de peças de reposiçao, principalmente as relacionadas aos motores radiais Curtiss Wright R-1820-82AW, os quais não se encontravam mais em produção há mais de 20 anos. A somatória destes fatores gerava o grande desafio de manter a frota em níveis mínimos de operacionalidade. Na inexistência de um vetor similar que pudesse operar em porta aviões de grande porte, viria a tona a ideia de modernização das células remanescentes, dotando as com motores turboélices, que trariam como benefícios não só o aumento da potência, mas também a redução do peso bruto, ambas as caraterísticas cruciais para o desempenho em operações embarcadas. Desta maneira foram conduzidos em 1987, estudos coordenados pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), definindo os parâmetros de viabilidade técnica e operacional do projeto. Um dos pontos focais deste programa era a atender ao objetivo de atingir a maior padronização de componentes nos vetores da Força Aérea Brasileira, optando assim pela adoção de motores Pratt-Whitney PT-6A67CF de 1650 HP de potência com hélices compostas de cinco pás Hartzell, sendo este conjunto compatível com os motores empregados pela frota de aeronaves Embraer C-95 e P-95 Bandeirante. A aplicação prática deste projeto demandou a abertura de uma licitação em 1988, tendo como empresa vencedora a canadense IMP Group de Halifax, com um custo total de USD 40.000.000,00, prevendo a conversão de doze células. O projeto final seria desenvolvido por este fornecedor, envolvendo a reconstrução completa das naceles e berços dos motores, mantendo-se o plano e o eixo das hélices, modernização do sistema elétrico, hidráulico e pneumático, instalação de sistema de ar-condicionado. Estas mudanças influenciaram no centro de gravidade da aeronave sendo necessário a inclusão de um lastro de 500 kg de chumbo no nariz.
Como protótipo do projeto, foi escolhido o Grumman P-16E "FAB 7036", sendo esta célula enviada para o Canadá em translado aéreo no dia 6 de fevereiro de 1989, tendo efetuado o primeiro voo de teste em 14 de junho de 1990 nas instalações do fabricante em Halifax, passando posteriormente nos Estados Unidos por um período de avaliação e testes operacionais junto a Naval Air Engineering Station Lakehurst na Marinha Americana (US Navy) em New Jersey. Após este processo, a aeronave seguiria para a Base Aérea de Santa Cruz em 24 de dezembro de 1990. Nos dias 21 e 22 de março de 1991, o Grumman P-16H "FAB 7036", faria seus primeiros testes a partir do Nael A-11 Minas Gerais”, o que incluiu três arremetidas, três toques-e-arremetidas, seis pousos, duas catapultagens e três decolagens livres. Inicialmente apesar de alguns percalços e dificuldades inerentes ao processo, o Ministério da Aeronáutica (MAer), daria início a segunda fase do processo envolvendo estudos para a atualização de toda a aviônica e sistemas de guerra antissubmarino, tendo como vencedora a proposta apresentada pela empresa francesa Thomson CSF. Infelizmente, vários problemas em nível técnico e de gerenciamento de projeto assolariam o projeto P-16H, tanto pela inexperiência da IMP Group na conversão (ao contrário da Marsh Aviation e da IAI - Israel Aerospace Industries), como pela crônica falta de recursos destinados à Força Aérea Brasileira. Com isso, o projeto, que previa a conversão de doze exemplares do P-16E, a um custo total de CND$40 milhões (dólares canadenses), seria infelizmente cancelado em 1996. Os motores foram retirados da aeronave e devolvidos ao fabricante, desperdiçando-se assim um grande oportunidade em manter atualizada e operacional a capacidade de guerra antissubmarino (ASW) da Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Grumman P-16H "FAB 7036" Turbo Tracker , fizemos uso do modelo nacional do fabricante GIIC Models em resina na escala 1/48, sendo esta única opção disponível no mercado nacional para esta versão da aeronave. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais presentes no set 48/42 e os numerais originários do set do próprio modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves Grumman P-16  Tracker  em operação na Força Aérea Brasileira, sendo que a célula aqui apresentada empregou durante sua curta operação, dois padrões de marcações nacionais no leme durante sua carreira, o que pode ser observado nas fotos de época.


Bibliografia :
- Os Cardeais 1º Grupo de Avião Embarcada e 4º/7º Grupo de Aviação - Mauro Lins de Barros - Editora Adler
- História da Força Aérea Brasileira , Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Grumman S-2 Tracker – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_S-2_Tracker
- Poder Naval Notícias - http://www.naval.com.br/blog/2010/08/12/marinha-adquire-08-aeronaves-c-1a-trader/