Embraer AMX A-1A Falcão

História e Desenvolvimento.
A Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), constituída como uma estatal de capital misto em 19 de agosto de 1969, foi exigida com a missão de realizar a produção em série das primeiras aeronaves de transporte transportadas no Brasil: o Embraer EMB-110, em sua versão civil comercial, e o modelo militar C-95 Bandeirante. A primeira unidade de produção em série, registrada sob a matrícula FAB 2133, foi entregue à Força Aérea Brasileira (FAB) em 9 de fevereiro de 1973. Além de atender a uma significativa demanda militar, as versões civis do EMB-110, destinadas ao transporte regional, alcançaram expressiva notoriedade internacional ao conquistar numerosos contratos de exportação, suprindo as necessidades de dezenas de empresas de transporte aéreo. Esse sucesso comercial, aliado à sólida confiança corporativa da Embraer, levou sua diretoria a considerar a possibilidade de estabelecer negociações com empresas estrangeiras, evoluir para a viabilização de pesquisas conjuntas e para uma eventual transferência de tecnologia. O primeiro acordo prático nesse sentido foi concretizado no início da década de 1970, por meio de um contrato com a empresa italiana Aeronautica Macchi SpA. Esse acordo prévio a fabricação sob licença, no Brasil, de mais de cem unidades do avançado treinador Aermacchi MB-326GB. Embora não envolva transferência de tecnologia, a produção local desse modelo, redesenhado como Embraer AT-26 Xavante, proporcionou à Embraer o domínio de processos e conceitos relacionados à produção de aeronaves em jato de alto desempenho, estabelecendo as bases para avanços subsequentes em sua capacidade produtiva. Com o progresso bem sucedido da implementação do AT-26 Xavante na Força Aérea Brasileira (FAB), a diretoria da Embraer S/A passou a explorar novos nichos de mercado. Entre as propostas, destacou-se o desenvolvimento de uma versão monoplace do treinador, especializada em missões de ataque ao solo. Esse conceito, designado internamente como Programa "AX", foi compartilhado com o projetista-chefe Ermanno Bazzocchi, da Aeronáutica Macchi, que o considera operacionalmente viável. Assim, surgiu o projeto da primeira aeronave "ítalo-brasileira", provisoriamente chamada de Embraer EMB-330. Apesar de sua potencial promessa, a proposta não conseguiu conquistar o apoio do Ministério da Aeronáutica (MAer), que emitiu um parecer crítico sobre as capacidades da aeronave. Diante dessa infecção, a equipe de projetos prosseguiu com estudos para aprimorar o EMB-330, desenvolvendo novas variantes. Contudo, essas iniciativas não avançaram além da fase de concepção da aeronave, resultando na suspensão definitiva do programa.

O espírito de cooperação tecnológica e industrial entre Brasil e Itália foi retomado em 1978, a partir de uma oportunidade surgida durante uma visita de uma comitiva de oficiais e comandantes da Força Aérea Brasileira à Itália. Na ocasião, a diretoria da Aeronáutica Macchi SpA apresentou ao grupo um requisito da Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) para o desenvolvimento de uma aeronave subsônica de ataque a jato. Esse novo modelo visava substituir o Fiat G.91Y/R e o caça Lockheed F-104G/S Starfighter, usado em missões de ataque ao solo, apoio aéreo aproximado e ataque naval. Ao analisar as especificações propostas, constatou-se que elas eram bastante semelhantes às critérios previamente estabelecidos pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) para o projeto "AX". Essa convergência de parâmetros operacionais abriu caminho para o desenvolvimento conjunto de uma nova aeronave de ataque. A proposta foi aprovada pelo Ministério da Defesa Italiano, e, para sua execução, foi formalizada uma parceria entre as empresas Aeritalia Aeronautica e Aeronautica Macchi SpA. Essa colaboração distribuída as condições tecnológicas e industriais permite a criação da aeronave subsônica de ataque italiana, designada como "AMX" (onde "A" representa Aeritalia, "M" refere-se a Macchi e "X" indica seu caráter experimental). As negociações entre os governos brasileiro e italiano foram iniciadas, resultando na inclusão da Embraer S/A no consórcio, com a responsabilidade por um quarto do programa de desenvolvimento e dos investimentos correspondentes. A empresa brasileira coube o projeto e a fabricação dos frascos das asas e da empenagem, bem como a realização dos testes de fadiga desses componentes estruturais. As empresas italianas, por sua vez, ficaram sobrecarregadas dos dois terços restantes, abrangendo a produção da fuselagem, os sistemas de bordo e a condução de testes estáticos e com armamentos. Apesar desses entendimentos iniciais, o processo foi temporariamente suspenso para ajustes contratuais, burocráticos e processuais, que exigiram cerca de seis meses adicionais, adiando o cronograma originalmente previsto. Em maio de 1980, durante a Feira Aeronáutica Internacional de Farnborough, na Inglaterra, o Ministério da Aeronáutica (MAer) reafirmou publicamente seu compromisso com o programa. O contrato oficial foi finalmente assinado entre os dois países em 27 de março de 1981, consolidando a participação da Embraer no desenvolvimento do AMX.
Após ajustes contratuais, a participação da Embraer S/A no programa AMX foi elevada para 30%, enquanto as empresas italianas passaram a responder por 70%. Nesse novo arranjo, coube à empresa brasileira o desenvolvimento e a fabricação das asas, tomadas de ar do motor, estabilizadores horizontais, pilones subalares (suportes para armamentos) e tanques de combustível. Além disso, o Brasil se integra ao projeto de trem de pouso, dos sistemas de navegação e ataque, dos comandos de voo e do controle de armamentos. A Embraer S/A também ficou responsável pela construção de dois protótipos para ensaios em voo e um para testes de fadiga, os quais foram utilizados em um amplo programa de testes prolongados em território nacional. O caça bombardeiro tático Internacional AMX foi projetado como uma aeronave monomotor e monoposto, especializada em missões de ataque, com ênfase em robustez e confiabilidade para operar em condições de alta exposição em ambientes hostis. Equipado com uma gama avançada de sistemas de computação, navegação e ataque, além de contramedidas eletrônicas, o AMX incorpora inovações tecnológicas significativas para a época, como o sistema de comandos de voo "Augmentation System" e a configuração HOTAS (Hands On Throttle And Stick) para navegação e ataque. Sua capacidade de longo alcance operacional, ampliável por reabastecimento em voo, era compatível com as dimensões continentais do Brasil. A primeira maquete do projeto foi concluída em 1982, e a construção de quatro protótipos – dois em cada país participante – teve início quatro anos depois. O primeiro protótipo italiano realizou seu voo inaugural em 15 de maio de 1984, pilotado pelo comandante Mario Quarantelli, chefe de testes da Aeronáutica Aeritalia. Tragicamente, um acidente ocorreu no quinto voo, resultando na morte do piloto, que, embora tenha conseguido ejetar-se, não resistiu aos ferimentos. O programa foi retomado em novembro do mesmo ano com o segundo protótipo italiano. No Brasil, o primeiro protótipo, projetado YA-1 FAB 4200, decolou em 16 de outubro de 1985 nas instalações da Embraer em São José dos Campos, sob o comando do piloto de ensaios Luiz Fernando Cabral. O segundo protótipo brasileiro realizou seu voo inicial em 16 de dezembro de 1986. Posteriormente, foi desenvolvida uma variante biposto, projetada à conversão operacional de pilotos para essa aeronave.

Em 1986, a primeira célula de produção em série do AMX foi entregue à Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI), passando o modelo a equipar, ao longo dos anos subsequentes, seis grupos de ataque (Gruppo/Stormo). De maneira geral, as versões italiana e brasileira do AMX compartilharam um projeto básico convencional, caracterizado por uma asa alta com enflechamento de 27,5º no bordo de ataque. O sistema de comando de voo era híbrido: leme, spoilers, flaps e estabilizadores eram acionados por um sistema digital assistido por computador Fly-By-Wire (FBW) de dois canais, enquanto os ailerons e profundores operavam por um sistema hidráulico mecânico tradicional. Essa combinação tinha como objetivo principal aumentar a capacidade de sobrevivência da aeronave em combate, permitindo que o piloto retornasse à base com segurança, utilizando as superfícies de comando hidráulico-mecânico, caso o sistema FBW estivesse danificado. A estrutura das células era predominantemente composta por alumínio, com uso de aço em peças específicas e materiais compostos de fibra plástica reforçados em painéis de acesso, na estrutura da cauda, ​​nos ailerons e no duto de ar da turbina. O AMX contava ainda com um conjunto avançado de HUD (Head-Up Display) integrado ao sistema HOTAS (Hands On Throttle And Stick), otimizando a interface entre piloto e aeronave. Ao todo, a produção do monoposto alcançou 150 unidades, sendo 110 destinadas à Força Aérea Italiana e 45 à Força Aérea Brasileira (FAB), entregues entre 1989 e 1999. As diferenças fundamentais foram incorporadas às versões de cada país, refletindo suas respectivas demandas operacionais. A variante italiana foi projetada para missões de ataque no perfil “Lo-Lo-Lo” (voo baixo contínuo sobre o campo de batalha), enfrentando as sofisticadas defesas antiaéreas soviéticas, com um raio de ação limitado a 335 km. Já a versão brasileira foi configurada para operar em um cenário de defesa aérea menos avançado, adotando o perfil “Hi-Lo-Hi” (voo alto até a proximidade do alvo, com voo baixo apenas na fase de ataque). Para atender a uma autonomia mínima de 965 km, a variante brasileira exigiria dois tanques de combustível subalares adicionais de 1.100 litros, o que, por sua vez, reduziria sua capacidade de carga bélica útil.
Houve curiosidades significativas no que diz respeito à eletrônica embarcada entre as versões italiana e brasileira do AMX, com sistemas dos aviões italianos sendo fornecidos em um nível superior para atender às exigências e padrões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Nesse contexto, o armamento orgânico também variava: a variante italiana foi equipada com o canhão rotativo norte-americano Gatling Vulcan M-61A1 de 20 mm, enquanto a versão brasileira incorporava dois canhões DEFA 554 de 30 mm. Esse projeto internacional culminou no desenvolvimento de uma comissão de ataque de excelência, fato comprovado em 1999, quando esquadrões italianos realizaram 252 missões de combate sobre o Kosovo, durante a Operação Forças Aliadas, sem perdas de registro. Em 2011, três aeronaves baseadas em Trapani, na Sicília, acumularam 500 horas de voo em missões na Líbia, entre abril e outubro, o serviço das forças da OTAN. Além de representar um avanço tecnológico expressivo para a Força Aérea Brasileira (FAB), o projeto AMX A-1 proporcionou à Embraer S/A uma oportunidade singular de aquisição de tecnologias avançadas em produção aeronáutica para aeronaves de grande desempenho. Esse aprendizado viabilizou, anos mais tarde, a capacitação da empresa para o desenvolvimento de aeronaves modernas de alto desempenho e elevada complexidade estrutural. Entre as competências adquiridas, destaca-se o domínio de tecnologias críticas, como o sistema de comando digital assistido por computador (Fly-By-Wire – FBW), entre outras. Pode-se afirmar, portanto, que os exitosos jatos comerciais regionais da família Embraer – incluindo os modelos ERJ-145, ERJ-135, ERJ-170 e ERJ-190, reconhecidos por seu sucesso no mercado – têm sua origem tecnológica diretamente vinculada ao legado do programa AMX International.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A doutrina operacional da aviação de caça e ataque ao solo da Força Aérea Brasileira (FAB) foi inicialmente concebida e consolidada durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial. Nesse conflito, pilotos brasileiros, operando os robustos caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, realizaram mais de 2.546 surtidas de combate e ataque, estabelecendo as fundações de uma força de ataque moderna e eficaz. Nas décadas seguintes, essa tradição, forjada em combate, foi aprimorada com o uso de aeronaves adaptadas para missões de ataque, como as caças Gloster F-8 Meteor e os Lockheed AT-33. Contudo, a utilização de vetores não específicos para tais operações resultou em limitações que comprometeram os resultados operacionais. Os esforços do Ministério da Aeronáutica (MAer) para superar essas restrições culminaram no programa AMX, que se concretizou na introdução de aeronaves especializadas. Assim, no final da década de 1980, a incorporação de uma aeronave moderna projetada especificamente para missões de ataque ao solo gerou grandes expectativas junto os comandantes da  Força Aérea Brasileira (FAB). Para maximizar essa oportunidade, o Comando da Aeronáutica (COMAER) determinou a criação de uma nova unidade aérea de combate de primeira linha dedicada à operação do AMX. Esse processo resultou, em 22 de abril de 1988, na ativação do 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, sediado na Base Aérea de Santa Cruz (BASC), no Rio de Janeiro. O nome de código “Adelphi” foi escolhido em homenagem aos veteranos do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvC) - Esquadrao Jambock, que perderam suas vidas em combate na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. O Embraer Internacional AMX recebeu a designação oficial de A-1A na Força Aérea Brasileira (FAB) , e a célula operacional brasileira, registrada sob a matrícula FAB 5500, foi formalmente incorporada em 13 de outubro de 1989, durante uma cerimonia realizada no Rio de Janeiro. Na semana seguinte, teve início o programa de certificação operacional básica da nova aeronave, com este processo sendo concluído em julho de 1990, quando as operações aéreas foram finalmente iniciadas. A etapa subsequente envolveu um amplo programa de desenvolvimento de doutrina operacional e treinamento de pessoal envolvido, que se estendeu até agosto de 1990. Nesse momento, a unidade alcançou o status de plena operacionalidade, contando com pelo menos cinco aeronaves em atividade no 1º/16º GAv – Esquadrão Adelphi.

O 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, recém-criado como esquadrão aerotático, tinha como missões prioritárias o ataque a alvos de superfície, a interdição do campo de batalha e o apoio aéreo aproximado, atuando em suporte às unidades de combate do Exército Brasileiro. Em caráter secundário, uma unidade também foi preparada para realizar bombardeios estratégicos. Com isso, a Força Aérea Brasileira (FAB) recuperou sua capacidade de ataque ao solo, perdida em meados da década de 1970 com a desativação dos últimos bimotores a projetar Douglas A-26B e A-26C Invader. Até então, essas tarefas eram desempenhadas de forma limitada por treinadores a jatos avançados adaptados para missões de ataque, como os norte-americanos Lockheed AT-33A, TF-33A e T-33A, seguidos posteriormente pelos Embraer AT-26 Xavante. O Embraer A-1A AMX destacou-se como a primeira aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) equipada com uma suíte completa de sistemas de autodefesa, tanto passivos quanto ativos, considerados de ponta para a época. Entre os recursos, incluía-se um sistema de alerta RWR (Radar Warning Receiver), que notificava os pilotos quando uma aeronave era rastreada por um radar hostil. Esse sistema operava em conjunto com lançadores de contramedidas chaff e flare, eficazes contra mísseis guiados por infravermelho ou radar, complementados por um pacote de contramedidas eletrônicas ativas (ECM – Active Electronic Counter Measures). Outra inovação do A-1A foi a presença de computadores de missão especializados para o lançamento de armamentos de ataque ao solo, utilizando os modos CCIP (Continuously Computed Impact Point – Ponto de Impacto Continuamente Computado) e CCRP (Continuously Computed Release Point – Ponto de Lançamento Continuamente Computado), otimizados para bombas não guiadas. Esse sistema conferia ao A-1A uma precisão significativamente superior em comparação aos caças-bombardeiros Northrop F-5E Tiger II e Embraer AT-26 Xavante. Adicionalmente, o Embraer A-1A apresentava uma baixa assinatura infravermelha e uma seção reduzida transversal ao radar, características que, aliadas aos sistemas eletrônicos de defesa passiva e ativa, asseguravam uma elevada capacidade de sobrevivência em ambientes hostis. Esses diferenciais consolidaram o modelo como um marco na modernização da capacidade de ataque ao solo da Força Aérea Brasileira (FAB).
A segunda unidade da Força Aérea Brasileira (FAB)  a incorporar o Embraer A-1A AMX foi o 3º/10º Grupo de Aviação (3º/10º GAv) – Esquadrão Centauro. Em 15 de janeiro de 1998, essa unidade recebeu suas duas primeiras células da versão monoposto. Assim como ocorreu com o 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv), foi implementado um programa intensivo de introdução da aeronave, treinamento de tripulações e formação de equipes, culminando na declaração de operacionalidade da unidade no primeiro bimestre de 2000. Coube aos A-1A AMX do Esquadrão Centauro a realização da missão de maior duração já registrada por aeronaves de ataque da Força Aérea Brasileira (FAB) . Em maio de 2003, duas aeronaves decolaram da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e, com apenas três reabastecimentos em voo realizados pelo Boeing KC-137, sobrevoaram a região oeste do país, a fronteira norte, e pousaram na Base Aérea de Natal, percorrendo mais de 6.500 km. Essa operação apresentou a capacidade de ataque estratégico da Força Aérea Brasileira (FAB) , evidenciando sua possibilidade de atingir alvos em toda a América Latina. A terceira unidade recebeu o A-1A AMX foi o 1º/10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv) – Esquadrão Poker, sediado em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A primeira aeronave foi entregue em março de 1999, e a dotação da unidade foi concluída no início de 2004, quando foi declarada operacional. Diferentemente das duas unidades anteriores, a missão prioritária do Esquadrão Poker era o reconhecimento tático do campo de batalha. Inicialmente, suas aeronaves foram equipadas com pods fotográficos nacionais Gespi e Vicon, dotados de capacidades de reconhecimento impasse e infravermelho. Posteriormente, foram adquiridos pods israelenses Recce Lite, mais avançados, projetados para reconhecimento exclusivo com múltiplos sensores. Além disso, o Esquadrão Poker também tinha como missão a supressão de defesas aéreas inimigas (Suppression of Enemy Air Defense – SEAD), com planos para o futuro emprego do míssil nacional antirradiação MAR-1, então em desenvolvimento. Contudo, esse projeto não avançou além da fase de protótipo, privando a Força Aérea Brasileira (FAB)  de um importante recurso dissuasório. De maneira peculiar, quando empregadas em missões de reconhecimento, as aeronaves do 1º/10º GAv – Esquadrão Poker utilizavam a designação e chamada de rádio RA-1.

O Embraer A-1A AMX tornou-se a primeira aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) a participar do exercício multinacional Red Flag, um dos maiores treinamentos anuais prolongados pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). A participação foi atribuída ao 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, que deslocou seis aeronaves, vinte e dois pilotos e sessenta e oito militares para o evento, programado para ocorrer entre 24 de setembro e 4 de outubro de 1998. Para atender às descrições operacionais desse exercício, a Força Aérea Brasileira (FAB) precisou adaptar o nível técnico de seus pilotos ao uso de novas ferramentas e fluxos de planejamento de missões. Até então, as técnicas e procedimentos da Força Aérea Brasileira (FAB) nesse âmbito foram moldados pela experiência adquirida durante a Segunda Guerra Mundial, contrastando com a doutrina norte-americana do "ataque por pacotes". Esse conceito, desenvolvido durante a Guerra do Vietnã na década de 1960, foi consolidado como padrão operacional nas décadas seguintes, sendo aplicado em diversas operações reais com forças aéreas de outros países, devido à diversidade de aeronaves pelas forças armadas dos Estados Unidos. O exercício multinacional Red Flag caracteriza-se por sua alta complexidade, exigindo interação fluida e transparente entre pilotos e aeronaves de diferentes esquadrões e forças aéreas. Nesse cenário, os Embraer A-1A AMX enfrentaram uma oposição robusta simulada, composta por caças norte-americanas de última geração, como o McDonnell Douglas F-15 Eagle, o General Dynamics F-16 Fighting Falcon e o Boeing F/A-18E Hornet, além de caças bombardeiros modernizados, como os Northrop F-5E Tiger III da Força Aérea Chilena. A defesa adversária foi complementada por sistemas eletrônicos que simulavam baterias antiaéreas de mísseis russos, incluindo os modelos SA-6, SA-3 e e franceses SAM Roland. Mesmo nesse ambiente altamente hostil, as aeronaves brasileiras realizaram com sucesso operações de infiltração em território inimigo, alcançando padrões operacionais elevados. Essa participação, combinada às capacidades do A-1A AMX, elevou a Força Aérea Brasileira (FAB) a um novo patamar em termos de doutrina de ataque tático, consolidando sua capacidade de operar em cenários complexos e integrados com forças aéreas internacionais.
Além de seu emprego em três grupos de aviação de ataque e rconhecimento tático, uma das células do Embraer A-1A AMX foi alocada junto ao Grupo de Ensaios em Voo (GEEV), sediado no Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) em São José dos Campos. Essa unidade utilizou uma aeronave para tarefas de ensaio e homologação de sistemas de armas. As aeronaves entregues à Força Aérea Brasileira (FAB) foram produzidas em três lotes diferentes, ou que foram entregues em uma frota com baixo nível de padronização em termos de sistemas e componentes. Esse cenário foi agravado por diversas modificações e aprimoramentos incorporados ao projeto ao longo dos anos, gerando desafios logísticos significativos. A gestão de estoques e a aquisição de peças de reposição foram substituídas, pois componentes teoricamente equivalentes são oferecidos em variações entre os lotes. Além disso, mais de duas décadas após a concepção do projeto, muitos desses componentes já apresentam certo grau de obsolescência. A combinação desses fatores – heterogeneidade e obsolescência – evidenciou a necessidade de um programa de atualização, padronização e revitalização das aeronaves remanescentes, mantendo um nível aceitável de operacionalidade. Esse conceito evoluiu para o Programa de Modernização do AMX, cujo objetivo era mitigar os problemas decorrentes da obsolescência de equipamentos fora de produção e uniformizar os sistemas aviônicos com aqueles utilizados na modernização dos Northrop F-5EM Tiger II e nos recém-introduzidos Embraer A-29 ALX. Este programa foi formalmente iniciado em 2003, com a Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica SA sendo contratada como principal executora das atividades de modernização. No entanto, as negociações burocráticas no âmbito do governo federal atrasaram a implementação, exigindo uma renegociação com a empresa no final de 2006. Em 30 de maio de 2007, a primeira aeronave A-1A AMX, pertencente ao segundo lote de produção, pousou nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto, São Paulo. Essa célula foi designada como base para o programa de modernização, marcando o encerramento do primeiro ciclo de vida operacional dessas aeronaves no Brasil e o início de uma nova fase de revitalização da aviação ataque brasileira.

Em escala.
Para representarmos o Embraer AMX A-1A “FAB 5518” empregamos o excelente kit em resina da escala 1/48 produzido Duarte Models, modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento e qualidade  compatível com  kits injetados. Utilizamos cabides subalares duplos em resina da confeccionados pela GIIC Models e bombas burras do tipo MK-83 e MK-82 pertencentes ao set "Aircraft Weapons A" da Hasegawa. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals presente no antigo Set 48/08.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado pelos Embraer A-1A AMX no ano de 1997 pelo 1º/16º Grupo de Aviação - Esquadrão Adelphi, seguindo esta sistemática ao longo dos anos algumas alterações foram incluídas como marcações de alta visibilidade em preto nos bordos de ataque, permanecendo assim até 2003 quando todas as células passaram a ostentar a nova camuflagem tática padrão da Força Aérea Brasileira.


Bibliografia :
Revista ASAS nº 20  AMX na FAB – Claudio Luchesi e Carlos Felipe Operti
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

FNM & Alfa Romeo - Cavalo Mecânico

História e Desenvolvimento.
A empresa italiana Alfa Romeo Automobiles S.p.A, foi fundada na cidade Milão, no dia 24 de junho de 1910, com o nome "Alfa" sendo acrônimo de seu nome fundador, "Anonima Lombarda Fabbrica Automobili" com a palavra "Anonima" significando "anônimo", sendo esta classificação legal naquela época, por se tratar de uma organização industrial que fora fundada por investidores anônimos. Em sua fase inicial a empresa passou a produzir seus carros nas antigas instalações da montadora francesa, Automóveis Darracq France que havia encerrado suas atividades meses antes da fundação da Alfa Romeo. O primeiro carro a ser produzido em série pela empresa seria o modelo 1910 de 24 vc de potência, projetado por Giuseppe Merosi. Em 1911 a empresa se aventuraria no automobilismo, com dois talentosos pilotos de corridas participando do campeonato Targa Florio de 1911 com dois modelos de 24 cv. Rapidamente a empresa ganharia notoriedade de marca devido a fabricação de carros esportivos de competição de sucesso. Em agosto de 1915, a empresa passaria a ser dirigida pelo empresário napolitano Nicola Romeo, que converteu a fábrica para produção de veículos e equipamentos destinados ao esforço de guerra italiano. Durante a década seguinte a empresa passaria por profundas crises e restruturações, e por fim em 1932 seria encampada pelo grupo estatal Instituto per la Ricostruzione Industriale, e nesta fase ampliaria seu portfólio de produtos, com a produção de caminhões, ônibus e componentes militares. No período pós-guerra a empresa focaria inicialmente na produção de carros populares, buscando assim recuperar suas margens de lucro. O eminente sucesso neste segmento lhe traria os recursos para investir no desenvolvimento e produção de uma ampla linha de linha de veículos comerciais de pequena e média tonelagem, conseguindo se destacar durante o início da década de 1950, no concorrido mercado de caminhões da Europa ocidental. Esta importante empresa italiana encontraria a médio prazo, sinergia com uma empresa estatal brasileira, a Fábrica Nacional de Motores que fora fundada em 13 de junho de 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, na cidade de Duque de Caxias no estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de fabricar motores de aviões, razão que se perderia em 1945, com o final do conflito. 

O final da Segunda Guerra Mundial coincidiria com término do governo ditatorial do presidente Getúlio Vargas, e para a Fábrica Nacional de Motores - FNM, seria um longo período de crise e indefinições, causado por uma conjunção de fatores. Com a desmobilização das forças aliadas, uma grande quantidade de material bélico e principalmente aeronaves seria disponibilizada a preço simbólico pelos Estados Unidos, eliminando assim qualquer chance de exportação de seus motores aeronáuticos. Este cenário levaria a estatal a derivar suas linhas para a produção de outros, passando pela proposta de montagem de jipes Willys-MB, caminhões pesados Mack e o fornecimento de dez mil tratores para o Ministério da Agricultura; destes que receberam o código MSTM. Porém desentendimentos entre a diretoria a empresa e membros do governo, atrasariam significadamente  o cronograma previsto para este projeto, levando ao seu cancelamento. Os rumos da empresa finalmente começariam a se definir em janeiro de 1949, com a assinatura de um contrato com a montadora italiana Isotta Fraschini para a fabricação, no Brasil de sua linha de caminhões. Por pouco este acordo representaria uma “pá de cal” na conturbada história da Fábrica Nacional de Motores - FNM, pois esta empresa italiana que durante muitos anos seria notaria na produção de carros de luxo, sairia enfraquecida do conflito, produzindo somente dois modelos de caminhões. Em concordata desde fevereiro de 1948, a empresa não havia logrado êxito em se recuperar, levando a decretação de sua falência em setembro do ano seguinte. Porém o projeto avançaria neste meio tempo, levando a produção do caminhão Isotta D.80, rebatizado FNM D-7300, passando este a ser o primeiro caminhão fabricado no país, chegando a uma entrega de duzentos veículos em menos de dois anos, com mais de 30% de conteúdo nacional. Este modelo apresentava uma arquitetura convencional, porém bastante diversa da quase totalidade da frota circulante no Brasil, maciçamente constituída de caminhões médios a gasolina, importados dos Estados Unidos.  Com uma capacidade de carga de 7 toneladas, o FNM D-7300 contava com um motor diesel com injeção direta (seis cilindros, 7,3 litros e 100 cv de potência), caixa de cinco marchas e freios pneumáticos. 
Com a falência da empresa Isotta Fraschini em 1949, negociações entre os governos brasileiro e italiano encaminhariam a Fábrica Nacional de Motores - FNM para uma nova parceria, desta vez com a montadora estatal Alfa Romeo Automobiles S.p.A.  Apesar de percalços iniciais de ordem administrativa e burocrática, este acordo traria as solidas bases da construção do mito do onipresente caminhão "Fenemê", instrumento de desbravamento de novas fronteiras, símbolo da conquista do território brasileiro e retrato da luta pela industrialização e desenvolvimento do país. Este contrato previa o fornecimento de chassis de caminhão e ônibus italianos em lotes de mil unidades cada. Em 1952 seria iniciada a montagem dos veículos, com cabines importadas (a Alfa Romeo chegou a preparar um protótipo para a FNM, com linhas menos curvas do que seus modelos italianos, que acabou não sendo utilizada). O primeiro modelo fabricado no país o D-9500, apresentava capacidade para 8,1 toneladas (ou 14,0 toneladas, com reboque), motor diesel com injeção direta e 130 cv, eixo traseiro de dupla redução, oito marchas à frente e duas a ré e freios pneumáticos. No primeiro ano, todas os caminhões produzidos contavam com conteúdo 100% importado, e em 1953 seria dado início ao programa de nacionalização. Este processo seria iniciado através da estampagem de nova cabine e o uso de pneus e baterias nacionais, continuando no ano seguinte com a aplicação de molas, radiador, rodas, tambor de freios, tanque de combustível e sistema de exaustão. Neste momento almejava-se atingir pelo menos 45% de conteúdo nacional, deveria evoluir para 55% a partir de 1954 quando seriam produzidos localmente eixos, sistema de direção. O chassi brasileiro começou a ser produzido no início do ano seguinte, com a produção da montadora já superando mais de dois mil e quatrocentos veículos. Em meados de 1956, a frota de caminhões FNM, já era maior que a soma das frotas da Mercedes-Benz e Volvo, então importados.  Neste momento seria lançada a cabine leito com espaço para adoção de dois pequenos beliches, o que seria muito útil e viagens de grande distância pelo interior do país.  

O novo modelo FNM D-11000 seria lançado em 1957, com o mesmo desenho de cabine e carroceria, porém agora seria equipado com um novo motor mais potente, de seis cilindros a diesel de 11 litros e 150 cv de potência com bloco e três cabeçotes de alumínio. Com o mote “Montanha comigo é festa!”, sua publicidade destacava seu desempenho incomum, oferecendo uma maior capacidade de carga chegando até 9,1 toneladas (ou 18 toneladas com reboque), e três opções de distância entre eixos. Neste momento o conteúdo local já superava 82%. Em 1958 quase quatro mil destes caminhões saíram das linhas de produção da planta fabril de Duque de Caxias, se tornando um grande sucesso comercial. Porém uma falha no processo de fundição do bloco dos motores levaria ao vazamento de líquido de arrefecimento para o cárter, causando contaminação do óleo que poderia assim fundir o motor. Esta grave falha seria popularmente conhecida como “barriga d’água”, mas rapidamente a montadora iniciaria uma campanha para a substituição dos motores, restaurando assim perante o mercado a confiança em sua robustez de seu modelo. Estes caminhões seriam muito empregados na construção da nova capital Brasília, inaugurada em 1960, e na abertura de estradas como a Belém Brasília e a Transamazônica. Neste mesmo ano a Fábrica Nacional de Motores - FNM começaria a fabricar o automóvel 2000 JK sob licença da Alfa Romeo, e seus caminhões receberiam um reestilização de design envolvendo principalmente mudanças no grupo óptico. Em 1962 a montadora iniciaria a usinagem dos motores, conquistando mais uma importante etapa em seu desenvolvimento tecnológico, preparando as bases para novos lançamentos de motores. Em 1964 seria lançada a série de caminhões "V", com os modelos V-6 para chassi curto, V-5 para médio, V-4 para longo e V-2 para super longo, todas dotadas de opção para inclusão de dotada de opção de direção assistida hidráulica, novos bancos e acabamento interior melhorado. Apesar do aumento da nacionalização para 97%, os caminhões da montadora já se apresentavam tecnologicamente defasados quando comparados com seus Mercedes-Benz e Scania-Vabis, impactando diretamente em suas vendas, com seu número despencando em 1967 para apenas mil caminhões comercializados. Em resposta a seria anunciado o lançamento de cabine modernizada desenvolvida localmente que receberia a designação comercial de "Futurama" , com sua produção prevista para o segundo semestre de 1968, porém este projeto não avançaria além da fase de protótipo sendo logo cancelado. E as mudanças introduzidas na linha introduziam apenas um novo painel de instrumentos e adoção opcional de um terceiro eixo de fábrica. 
A Fábrica Nacional de Motores - FNM atravessaria um período conturbado de sua História durante o governo militar, com parte das lideranças do regime defendendo sua recuperação e outra parte optando por vender a estatal, com esta última vertente vencendo a disputa, e a empresa sendo colocada à venda em 1967.  Montadoras francesas como a Citroën e Renault apresentariam propostas de cooperação e sociedade, visando a produção de carros de passeio e utilitários, porém curiosamente a Alfa Romeo Automobiles S.p.A proporia um melhor negócio ao governo federal, passando a assumir integralmente a operação em 1968. Este fato representaria uma surpresa geral, pois os italianos não mais fabricavam caminhões em sua terra natal desde o ano 1964. O último grande lançamento da linha de caminhões FNM ocorreria em 1972, o modelo fazendo uso de uma cabine herdada do modelo Alfa Romeo Mille  (1958 - 1964), fixada ao chassi com componentes elásticos e dotada de ventilação forçada e aquecimento. Este ferramental específico de estampagem fora transferido da matriz, reduzindo assim o custo de produção. Este caminhão era oferecido ao mercado na versão FNM 180 com motor de 11 litros com 180 cv de potência e três opções de entre eixo (com terceiro eixo opcional) e FNM 210 com motor de 11 litros com 215 cv e transmissão com reduzida, disponível apenas como cavalo mecânico. No ano de 1973 a Fiat Automóveis, adquire 43% das ações da Alfa Romeo na Itália, assumindo três anos depois seu total controle acionário.  Em 1977 a razão social da operação brasileira seria alterada para Fiat Diesel S/A, com a empresa mantendo sua fabricação de caminhões até o ano de 1985, quando após trinta e seis anos e setenta e oito mil caminhões fabricados, o último caminhão da linhagem "FNM - ALFA - FIAT" deixou a linha de montagem para entrar para a História. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro vivenciaria uma experiência única em termos de capacidade de mobilização de suas tropas e cargas. Este processo foi proporcionado pela adesão do país ao esforço de guerra aliado em 1942, passando as forças armadas brasileiras a receber até fins de 1945, mais de cinco mil caminhões militares das séries GMC CCKW , Corbitt, Diamond e Studebaker US6G, fornecidos nos termos programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). No entanto em fins da década seguinte, a operacionalidade da frota estaria comprometida não só pelo desgaste natural, mas principalmente pela problemática apresentada no processo de importação e aquisição de peças de reposição fundamentais (muito em função destes modelos terem sua produção descontinuada em seu país de origem há mais de dez anos). Este cenário causava extrema preocupação ao comando do Exército Brasileiro, pois afetava perigosamente sua capacidade operacional, gerando assim a necessidade em curto prazo da elaboração de soluções que pudessem atender a esta demanda. Em termos básicos, a solução mais eficaz passava pela aquisição de um número similar de veículos de transporte com tração 4X4 e 6X6, sendo mais indicados os novos caminhões da família REO M-34 e M-35. Porém o investimento necessário para uma aquisição deste porte, se pautava completamente fora da realidade orçamentaria do Exército Brasileiro naquele período. Estudos mais realistas apontavam então para três soluções complementares, sendo a primeira pautada na aquisição de um pequeno número de caminhões militares modernos REO M-34 e M-35, a segunda envolvia estudos referentes a possível repotencialização dos caminhões GMC Série CCKW e Studebaker US6G, e por fim a terceira focando a adoção de caminhões comerciais militarizados produzido no pais para o cumprimento de missões secundárias. A combinação destas três alternativas poderia devolver a Força Terrestre sua operacionalidade. Criava-se neste caso também uma demanda para a aquisição de caminhões do tipo “cavalo mecânico” para complementação de frota e também substituição de poucas unidades deste em modelo em serviço como os Corbitt G-512 model 50SD6 e Diamond T968 & T969 classificados como Trator sob rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 8 ton 6x4” (VTTNE), destinados principalmente ao transporte rodoviário de carros de combate como os M-3 e M-3A1 Stuart.

Infelizmente os estudos referentes a repontencialização dos caminhões GMC CCKW 353-353 e Studebaker US-6G não seriam recomendados, devidos não só, ao alto custo de implantação, bem como a inexistência naquele momento de um corpo técnico de nível adequado para a implementação no país de um programa desta magnitude. Este fato, levaria a necessidade de ampliação das intenções na aquisição de caminhões comerciais militarizados, pois em teoria estes veículos poderiam complementar a maior parte da frota de caminhões militares do Exército Brasileiro que era composta por veículos com tração 6X6 para uso em ambientes fora de estrada. Este processo se daria pela introdução em larga escala destes novos caminhões militarizados os destinando ao emprego em missões secundárias, permitindo assim liberar uma parcela considerável da frota original para o emprego no ambiente fora de estrada. Este conceito já era empregado desde a década de 1930 quando caminhões de pequeno porte como os Chevrolet 112 Tigre e Chevrolet 137 Comercial e posteriormente o Chevrolet Gigante 937 e Opel Blitz II foram operados pelo Exército Brasileiro, neste perfil de trabalho. Buscando fomentar a jovem indústria automotiva nacional o Ministério do Exército optou pela adoção inicial de veículos produzidos pela Fabrica Nacional de Motores - FNM , que neste período mantinha em produção dois modelos de caminhões médios, o FNM D-9500 e o FNM D-11000, com este último apresentando  uma robustez estrutural que poderia atender  em teoria aos parâmetros exigidos para o processo de militarização. O FNM D-11000 foi concebido para operar com pesadas cargas, principalmente em estradas com grande precariedade de pavimentação e terrenos irregulares, recebendo para isso um chassi reforçado com a aplicação de sete grandes travessas de reforço forjadas em aço de alta resistência.
O caminhão  FNM D-11000 foi concebido para operar com pesadas cargas, principalmente em estradas com grande precariedade de pavimentação e terrenos irregulares, recebendo para isso um chassi reforçado com a aplicação de sete grandes travessas de reforço forjadas em aço de alta resistência. Podiam ser ainda configurados em várias versões e configurações , como cavalo mecânico,  carga seca, baú ou basculante, possuía ainda uma  versão de chassi alongado que poderia receber um terceiro eixo. Seu peso comum era da ordem de 5.900 kg, podendo transportar uma carga de 8.100 kg ou rebocar uma carga de até 18.000 kg o que o tornava ideal para emprego junto aos Batalhões Rodoviários (BRv)  e aos Batalhões de Engenharia de Construção (BEc). Contavam ainda com um novo diferencial na área de segurança veicular, pois possuíam circuitos de freios dianteiros e traseiros totalmente independentes, freios pneumáticos Whestinghouse de ação instantânea, que em uma possível eventualidade de estourar um circuito, o motorista poderia mesmos assim prosseguir viagem até a próxima oficina. As primeiras unidades do modelo FNM D-11000 4X2 de carga começaram a ser entregues as unidades do Exército Brasileiro a partir de 1957, e eram muitos semelhantes as versões comerciais, apresentando apenas algumas modificações.  Para se  atender as necessidades de militarização da viatura seriam instalados novos para-choques reforçados, grades de proteção e carroceria de aço no padrão militar  e  sistema de coberta de lona com desenho similar ao encontrado nos caminhões  GMC CCKW 325 - 353 e Studebaker USG6.  No ano seguinte começariam a ser incorporados também os cavalos mecânicos nas versões FNM D-9500 e FNM D-11000, estes não apresentando nenhuma militarização, sendo idênticos as versões comerciais, operando em conjunto com as pranchas de transporte rodoviário produzidas nacionalmente , sendo alocados junto aos Regimentos de Carro de Combate (RCC), recebendo a designação de Trator sob rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral (VTTNE), assumindo assim grande parte do transporte dos carros blindados destas unidades em deslocamento pelo interior do pais. 

Ao longo do tempo, novos contratos seriam celebrados envolvendo agora também aquisições de caminhões com a marca Alfa Romeu por parte não só do Exército Brasileiro mas também pela Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil. Distribuído a diversas unidades do Exército Brasileiro espalhadas por todo o território nacional os novos caminhões FNM D-11000 em conjunto com modelos da LP-321 e LP-331 da Mercedes Benz, iniciaram o processo de substituição gradual dos caminhões norte-americanos GMC CCKW, G-506 Corbitt e US6G Studebaker em tarefas secundarias, melhorando em muito a capacidade de mobilidade da força em termos de disponibilidade e custo benefício de operação e manutenção. Neste contexto ao longo dos anos seguintes, mais caminhões na configuração de cavalo mecânico FNM D-9500 e FNM D-11000 seriam adquiridos pelos Exército Brasileiro, não só para o emprego no transporte rodoviário de veículos blindados, mas também para transporte de carga, sendo operados em conjunto com carretas em madeira, baú de alumínio e carreta frigorifica. Estes novos caminhões seriam extensivamente empregados junto aos Depósitos de Suprimentos e Batalhões de Engenharia do Exército Brasileiro. Já o tradicional operador de caminhões produzidos pela Fabrica Nacional de Motores – FNM, o Ministério da Aeronáutica (MAer), realizaria a partir de 1962 a aquisição de pelo menos vinte cavalos mecânicos do modelo FNM D-9500 para uso junto aos Parques de Material Aeronáutica (PAMA) espalhados pelo país, para o transporte de aeronaves parcialmente desmontadas de pequeno e médio porte, em processo de manutenção ou em descarga operacional. Novamente a exemplo do ocorrido anteriormente com os veículos deste tipo adquiridos anteriormente pelo Exército Brasileiro, seriam modelos civis, sem nenhum tipo de militarização aparente. 
Nos anos seguintes, a Fabrica Nacional de Motores – FNM, seria absorvida integralmente pela subsidiária brasileira da Alfa Romeo, com sua linha de produtos passando a ostentar a nova marca, neste interim os contratos de aquisição firmados anteriormente com as Forças Armadas Brasileiras, seriam mantidos, com o recebimento agora de caminhões já sob esta nova marca. Após um curto período de gestão a empresa novamente trocaria de comando, quando em 1973, Fiat Diesel assumiria a operação, e a exemplo do que ocorrido anteriormente, os caminhões desta linhagem continuariam a ser adquiridos principalmente pelo Exército Brasileiro, em diversas configurações de carroceria, tanto com configuração 4X4 e 6X4. Porém o advento da introdução no mercado dos modelos de cavalos mecânicos produzidos pela Mercedes Benz do Brasil e Scania Vabis do Brasil S/A, mais modernos e capazes de maior carga, encerrariam as aquisições de mais unidades dos modelos cavalo mecânico, agora designados como Fiat Modelo 130.  No entanto, os veículos em melhores condições de uso permaneceriam ainda em serviço, atuando em unidades de apoio e suprimentos, com algumas unidades se mantendo ativas por décadas junto as organizações de Intendência e Logística do Exército Brasileiro. 

Em Escala.
Para representarmos o FNM D-11000 Trator sob rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral (VTTNE) empregado pelo Exército Brasileiro, empregamos por base, o modelo em die cast produzido pela Axio para a Editora Altaya na escala 1/43. Fizemos toda a customização do modelo original para a versão pretendida de cavalo mecânico, já a carreta foi toda construída em scratch build em madeira, metal e plasticard , fazendo uso de rodas em resina. Empregamos decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942 - 1982".

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982. Não existem registros que comprovem  a aplicação neste modelo do esquema de camuflagem tático de duas cores adotado a partir de 1983 para os veículos de transporte da Força Terrestre. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.


Bibliografia : 
- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos – FMN , editora Altaya
- Alfa Romeu - https://en.wikipedia.org/wiki/Alfa_Romeo
- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes 
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976
- FNM - www.lexicar.com.br
- Caminhões FNM no Exército - Expedito Carlos S Bastos

Ford F-600 (Mod 1958-1969)

História e Desenvolvimento.
Uma das maiores e mais renomadas montadoras norte-americanas da História, a Ford Motor Company, seria fundada no dia 16 de junho de 1903, em compactas instalações localizadas no subúrbio da cidade de Detroit no Estado de Michigan. Capitaneado pelo engenheiro e visionário Henry Ford, este ousado empreendimento envolveria um aporte inicial de US$ 28.000, angariados por doze investidores, dente estes curiosamente os irmãos John Dodge e Horace Dodge (que futuramente sairiam da companhia e fundariam a Dodge Motors Company). Durante os primeiros anos, a companhia produziria quase que artesanalmente apenas alguns carros por dia em sua fábrica localizada na avenida Mack. Nestas instalações, grupos de dois ou três homens trabalhavam em cada carro, fazendo a montagem em partes e componentes que em sua maioria eram produzidas por fornecedores terceirizados contratados pela montadora. Seus produtos conquistaram a confiança dos consumidores norte-americanos, e logo assim a companhia passaria a liderar as vendas no segmento de carros de passeio, criando assim os recursos para sua expansão e refinamento dos processos industriais em sua linha de montagem. Neste momento então, a empresa optaria pela internalização da produção de grande parte dos componentes críticos, em um novo conceito de integração vertical, que se mostraria uma metodologia muito funcional naquela época. Em 1908, Henry Ford introduziria o primeiro motor com cabeça de cilindro removível no Modelo Ford T. Após o primeiro carro moderno ter sido criado em 1886 pelo alemão Karl Benz (Benz Patent-Motorwagen), métodos de produção mais eficientes seriam necessários para se baratear seus custos de aquisição, torando assim o automóvel mais acessível para a classe média. Esta busca de otimização, levaria em 1914 por Henry Ford a concepção de um revolucionário sistema contínuo de produção, que receberia a denominação de “linha de montagem”, criando assim o conceito e real implementação do processo de produção em série. Todos os conceitos existentes neste processo, seriam internacionalmente conhecidos e difundidos como “Fordismo”, e rapidamente conquistaria a indústria automotiva internacional. Apoiado no permanente aperfeiçoamento de processos, na verticalização e na padronização (sob o famoso lema de Henry Ford “Você pode comprar um Ford de qualquer cor, contanto que seja preto “), a cada ano o Modelo Ford T, apresentava consequentes reduções no custo de produção. Estes ganhos eram prontamente repassados no preço de custo ao mercado, levando assim o modelo, cada vez mais a conquistar maior participação em vendas no mercado norte-americano. Desde cedo, Ford Motor Company, investiria tempo e recursos no mercado internacional, buscando parceiras que possibilitassem a montagem local dos seus carros. A primeira linha de fabricação no exterior seria instalada em 1904, ainda para o Modelo C, no Canadá.     

A expansão na América Latina teve início pela Argentina, onde em 1913 foi fundada uma filial da Ford norte-americana; a montagem de veículos, no entanto, só seria efetivada em 1921. No entanto, o Brasil seria o primeiro país latino-americano a produzir automóveis da Ford Motors Company, com este fato resultante de uma iniciativa do industrial baiano Antônio Navarro Lucas, que em 1918 obteve licença da empresa para montar, em Salvador (BA), dez unidades mensais do Modelo T. Atenta ao mercado brasileiro, no entanto, já no ano seguinte, em 24 de abril, a diretoria da montadora norte-americana decidiria criar uma filial no Brasil. Assim já no início de maio do mesmo ano, instalando, na rua Florêncio de Abreu, centro da cidade de São Paulo (SP), um escritório e uma linha de montagem para a fabricação do Modelo T. Esta seria a primeira indústria automobilística a se instalar no país. A legendária solidez e facilidade de condução e manutenção deste modelo de apenas 20 cv de potência, o converteria no automóvel mais popular do Brasil. Seu projeto era tão simples e racional que, para onde faltavam estradas, o carro era transportado desmontado, em caixotes, e simplesmente “armado” em algum galpão à beira do porto ou no armazém da estação ferroviária. A quantidade de veículos aqui montados cresceria rapidamente, obrigando à empresa, até 1921, a mudar mais duas vezes de instalações, sempre no centro de São Paulo. Em seu último endereço, na rua Sólon, no bairro do Bom Retiro, a operação já atingia a capacidade de produção de quarente unidades diárias. Neste mesmo local em 1923, seria montado o primeiro caminhão no país. Durante a Segunda Guerra Mundial seriam priorizados veículos e componentes para emprego militar, porém logo após o término do conflito a produção seria acelerada, alcançando no ano e 1948 uma cadência entre cinquenta e sessenta veículos leves. No final da década ali eram montados automóveis norte-americanos Ford, Mercury e Lincoln e ingleses Anglia e Prefect, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões médios e pesados Ford e Thames. Cerca de 1.200 componentes já tinham origem local, produzidos pela Ford e por uma centena de fornecedores instalados no país. Importadas em partes, cabines e carrocerias eram montadas no local. Ao completar 30 anos, em abril de 1949, já haviam sido montados mais de duzentos mil veículos. Em 1953 seria inaugurada uma moderna fábrica no bairro do Ipiranga, esta apresentaria uma capacidade de produção diária de cento e vinte e cinco veículos. Neste momento o governo federal já cogitava, incentivar a nacionalização de veículos, porém ainda não haviam sido traçados planos e metas – o que só viria a ocorrer com a constituição do GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), em maio de 1956. 
Seria somente após a criação do GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), portanto, e quase no prazo limite, que a Ford do Brasil S/A, submeteria ao órgão, seu plano de fabricação de veículos completos. Eram três tipos: um caminhão médio, um leve e uma picape, prevendo capacidade máxima de trinta mil unidades, em 1960, com a produção de mails de oito mil caminhões já em 1957. Em coerência com as regras vigentes, o índice de nacionalização deveria aumentar progressivamente, saltando de cerca de 40%, em 1957, para 90% (em peso) em 1960. Quando o projeto da Ford foi aprovado, no final de 1956, a quase totalidade dos componentes das cabines já era estampada no Brasil; a produção de algumas partes era terceirizada, caso das caçambas de picapes, fornecidas pelas Máquinas Piratininga, e algumas centenas de itens diversos eram adquiridos junto a outros fabricantes nacionais. Em 26 de agosto de 1957 deixou a linha de montagem do Ipiranga o primeiro caminhão Ford nacional – o F-600, ainda apenas com cerca 40% de conteúdo nacional, em peso. Tratava-se de um modelo convencional, de porte médio (para 6,5 t, entre eixos de 4,37 m) e arquitetura tipicamente norte-americana, com motor V8 a gasolina (4,5 l e 161 cv) e cabine recuada; tinha caixa de quatro marchas e diferencial de duas velocidades, com reduzida de comando elétrico. Dois meses depois foi lançada a picape F-100, para 930 kg, dotada da mesma motorização e igual cabine, porém com três marchas (primeira não sincronizada). Ambos eram modelos descontinuados nos Estados Unidos – um mix de capô, para-lamas e cabine de 1953 com grade de 1956. Exatos 3.454 veículos foram concluídos no primeiro ano, 576 dos quais do modelo picape. Para atender às metas do plano, foram criados os Departamentos de Engenharia do Produto e de Ensaios e Pesquisa (alocados nas antigas instalações do Bom Retiro), construída uma fundição de motores em Osasco (SP), instaladas linhas de usinagem e montagem de motores e ampliada a estamparia do Ipiranga, as três últimas inauguradas em novembro de 1958. Em 1959, a cabine do caminhão e picape foi reestilizada, recebendo novo painel, volante “em cálice” e os para-brisas panorâmicos introduzidos em 1956, nos Estados Unidos. A picape, por sua vez, ganhou caçamba muito mais moderna, com para-lamas integrados, seguindo projeto apenas recentemente adotado na matriz. Para registrar o salto no índice de nacionalização, obtido após a inauguração da fábrica de motores, os emblemas de todos os modelos passaram a vir nas cores verde e amarela. 

Em junho daquele mesmo ano seria lançado o caminhão leve F-350 (para 2,7 ton entre eixos de 3,30 m), com a mesma mecânica dos demais (este seria, por muitos anos, o único modelo brasileiro na categoria). No ano seguinte o caminhão médio ganhou a versão F-600-148″, com menor entre eixos (3,77 m), próprio para receber carroceria basculante ou quinta roda, com capacidade de tração de 12 t. Em 1961 foi também o ano em que a Ford brasileira se dobrou à realidade local, que aceleradamente se afastava dos motores a gasolina no transporte de cargas, e lançou seu primeiro veículo diesel. Equipado com motor Perkins de seis cilindros e 125 cv, o F-600 Diesel recebeu poucas modificações com relação ao modelo a gasolina: apenas reforço da suspensão dianteira e substituição do logotipo “V8”, na grade, por outro, nomeando o novo combustível. Em abril de 1962 o estilo da linha Ford foi mais uma vez alterado, desta vez assumindo o desenho do modelo norte-americano de 1960. A nova série, chamada Super Ford, não mereceu alterações mecânicas significativas. A linha de comerciais foi renovada em maio de 1968: além das novas carrocerias com faróis retangulares para todos os modelos e do novo motor Perkins de 142 cv para o F-600 Diesel (seis cilindros, sete mancais, camisas removíveis e bomba injetora rotativa). Em julho de 1970 já apareciam os primeiros lançamentos para 1971 na linha de caminhões, trazendo faróis redondos para todos os modelos; na picape, freios, suspensão Twin-I-Bean e relação de transmissão foram modificados; F-350 recebeu freios assistidos e F-600, opcionalmente, tanque de combustível de maior capacidade e caixa de cinco marchas sincronizadas. Em 1976, a Ford lançou mais um caminhão diesel, o F-7000. Dispondo da mesma capacidade e iguais elementos mecânicos do F-600 Diesel, o F-7000 vinha, porém, equipado com um motor diesel diferente, o novo dois tempos Detroit (quatro cilindros em linha, injeção direta e 145 cv), cuja produção havia sido iniciada pouco antes no Brasil. Novos modelos foram lançados em 1977: em fevereiro, FT-7000, com 3º eixo de fábrica (fabricado pela Hendrickson, porém montado pela Ford); e em julho, mais dois semipesados (F-8000 e FT-8000) e o primeiro pesado da marca, o cavalo mecânico F-8500, para 30,5 t, os três últimos com motor Detroit de seis cilindros em V e 202 cv, filtro de ar montado externamente sobre o para-lama direito, freios pneumáticos, freio de estacionamento com trava de mola, embreagem dupla  e direção hidráulica opcional. Todos eles dividiam a mesma cabine, oriunda dos caminhões médios.
No início da década de 1980, a montadora alteraria a nomenclatura dos caminhões, apresentando seus substitutos, os modelos médios F-11000, F-12000 e F-13000 (com 6,5 a 9 toneladas de capacidade líquida) e os semipesados F-19000 e F-21000, com o terceiro eixo (tipos tandem ou balancim) e 13 e 15 toneladas de capacidade de carga. Equipados com o novo motor MWM de seis cilindros (com opção do modelo Perkins, para os modelos médios), traziam uma nova caixa de cinco marchas (1ª não sincronizada) com redução de acionamento elétrico ou pneumático no diferencial e freios pneumáticos (hidráulico a vácuo, no modelo F-11000). Todos tiveram a suspensão revista e ganharam sistema elétrico de doze volts e tanque de combustível cilíndrico de maior capacidade; direção hidráulica e rodas raiadas podiam ser instaladas, como opcional, em alguns modelos. Nos próximos anos o acirramento da concorrência levaria a empresa a planejar a produção da nacional da moderna linha europeia Ford Cargo, com os primeiros caminhões desta nova família chegando ao mercado em abril de 1985. Em 1992, buscando dar sobrevida à sua mais tradicional família de caminhões, a Ford do Brasil S/A procederia uma radical modernização das cabines da linha F, com estes veículos recebendo o popular apelido de "Sapão". Em 1998 a Ford do Brasil S/A procederia à última atualização da cabine da Série F, ocasião em que foi disponibilizada mais uma versão – o F-16000. Porém alguns anos mais tarde a linha F seria parcialmente abandonada, permanecendo em produção apenas os modelos leves, com as vendas da empresa em termos de caminhões médios, passando a ser sustentada somente pela linha Ford Cargo. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro vivenciaria uma experiência única em termos de capacidade de mobilização de suas tropas e cargas. Este processo foi proporcionado pela adesão do país ao esforço de guerra aliado em 1942, passando as forças armadas brasileiras a receber até fins de 1945, mais de cinco mil caminhões militares das séries GMC CCKW , Corbitt, Diamond e Studebaker US6G, fornecidos nos termos programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). No entanto em fins da década seguinte, a operacionalidade da frota estaria comprometida não só pelo desgaste natural, mas principalmente pela problemática apresentada no processo de importação e aquisição de peças de reposição fundamentais (muito em função destes modelos terem sua produção descontinuada em seu país de origem há mais de dez anos). Este cenário causava extrema preocupação ao comando do Exército Brasileiro, pois afetava perigosamente sua capacidade operacional, gerando assim a necessidade em curto prazo da elaboração de soluções que pudessem atender a esta demanda. Em termos básicos, a solução mais eficaz passava pela aquisição de um número similar de veículos de transporte com tração 4X4 e 6X6, sendo mais indicados os novos caminhões da família REO M-34 e M-35. Porém o investimento necessário para uma aquisição deste porte, se apresentava completamente fora da realidade orçamentaria do Exército Brasileiro naquele período. Estudos mais realistas apontavam então para três soluções complementares, sendo a primeira pautada na aquisição de um pequeno número de caminhões militares modernos REO M-34 e M-35, a segunda envolvia estudos referentes a possível repotencialização dos caminhões GMC Série CCKW e Studebaker US6G, e por fim a terceira focando a adoção de caminhões comerciais militarizados produzido no pais para o cumprimento de missões secundárias. A combinação destas três alternativas poderia devolver a Força Terrestre sua operacionalidade.  Infelizmente os estudos referentes a repontencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G não seriam recomendados, devidos não só, ao alto custo de implantação, bem como a inexistência naquele momento de um corpo técnico de nível adequado para a implementação no país de um programa desta magnitude.

O cancelamento do processo de repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker USG¨6, levaria a necessidade de ampliação das intenções na aquisição de caminhões comerciais militarizados, pois em teoria estes veículos poderiam substituir os caminhões genuinamente militares em missões básicas de transportes, liberando assim os veículos com tração 6X6 para o emprego em ambientes fora de estrada, concentrando assim a frota remanescente em melhor estado para as tarefas de cunho tático e estratégico. Para a materialização deste conceito, seria necessário a aquisição de um grande número de caminhões militarizados produzidos localmente, alternativa esta que sobre esta ótica era extremamente viável devido ao baixo custo de aquisição e operação destes veículos. Esta solução já era empregada desde a década de 1930, quando caminhões comerciais de pequeno porte foram operados pelo Exército Brasileiro neste perfil de trabalho. Buscando fomentar a jovem indústria automotiva nacional o Ministério do Exército optou pela adoção inicial de veículos produzidos pela Fábrica Nacional de Motores - FNM, que mantinha em produção dois modelos de caminhões médios, o FNM D-9500 e o FNM D-11000, com este último apresentando uma robustez estrutural que poderia atender em teoria aos parâmetros exigidos para o processo de militarização. Resolvida em parte a necessidade de caminhões médios, restava, porém, uma demanda para a substituição da frota de caminhões leves, que estava baseada em um grande número de caminhões Opel Blitz II Comercial e algumas dezenas de veículos mais antigos como os Chevrolet 157 Gigante 937 e GM G7106, G7107 e G-617M que foram recebidos entre os anos de 1935 e 1942. Estes, modelos de veículos detinham grande responsabilidade na estrutura de transporte do Exército Brasileiro e um programa de renovação da frota representaria uma grande oportunidade mercadológica para as montadoras nacionais, que neste momento passavam a ser incentivadas pelo Governo Federal dentro dos termos do Grupo Executivo da Indústria Automobilística – GEIA que fora iniciado ano de 1956.
A Ford Motors do Brasil S/A, detinha décadas de bom relacionamento com o Exército Brasileiro, tendo tido a primazia de ser o primeiro fornecedor de veículos para emprego militar no país. Com os primeiros caminhões  do modelo Ford T, sendo incorporados na década de 1920, e estes se tornariam um dos principais do processo de expansão das nossas fronteiras (realização amplamente explorada pela empresa, na figura do Marechal Cândido Rondon, contumaz usuário do Ford T em seus deslocamentos pelo sertão). Ao longo dos anos modelos como os Ford Models 1938/1940/1941, Ford G-540 2G8T/G8T, Ford G-622, Ford G-917, Ford FK G-700 e Ford YBH2 seriam incorporados a frota do Exército Brasileiro. Assim naturalmente esta montadora, apresentaria grandes chances de amealhar uma significativa parte desta demanda, não só do Exército Brasileiro, mas também da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil. Neste mesmo período a empresa lançava no mercado comercial, o primeiro caminhão Ford nacional – o F-600, que poderia a exemplo do seu principal concorrente o Chevrolet 6500 Brasil, ser militarizado com razoável sucesso a fim de atender as demandas da Forças Armadas Brasileiras. Desta maneira a empresa não tardaria a apresentar ao Exército Brasileiro os primeiros protótipos do modelo F-600 equipados com carroceria  e acessórios militares nas versões com tração 4X2 e 6X2.  Estes veículos seriam avaliados, porém sem uma definição aparente para a aquisição de imediato, com escolha da Força Terrestre recaindo sobre seu principal concorrente com a versão militarizada do Chevrolet Brasil 6500. Porém em meados de 1958, o Ministério da Aeronáutica (MAer) celebraria o primeiro contrato da versão militar do Ford F-600, compreendendo a aquisição de duas dezenas destes caminhões, configurados com a carroceria do tipo “Espinha de Peixe”, para o transporte de tropas de choque, para o emprego junto as unidades da Polícia da Aeronáutica (PA).

Esta mesma versão especifica com carroceria “Espinha de Peixe”, seria logo em seguida, adquirida por vários governos estaduais para o emprego de batalhões de choque das Polícias Militares. Somente em fins do ano de 1959, a Ford Motor do Brasil S/A lograria êxito na venda de um grande lote de caminhões F-600 ligeiramente militarizado com tração 4X2 para o Exército Brasileiro. Este veículos receberiam um nível de “militarização” superior ao apresentado nos primeiros protótipos testados um ano antes , passando a ostentar para-choques reforçados, grade de proteção frontal para os faróis e lanternas, instalação de guincho mecânico na parte frontal (com capacidade de tração média), gancho para reboque e por fim carroceria de aço (produzida pela empresa paulista Bisseli Ltda) com sistema de coberta de lona no padrão militar com desenho similar aos caminhões Studebaker USG6 e GMC CCKW 352/353 6X6. Como grande parte dos componentes presentes neste caminhões  eram também empregados na linha comercial básica, a produção poderia ser urgenciada, atendendo  rapidamente as demandas do Exército Brasileiro. Assim os primeiros veículos desta família passariam a ser entregues as unidades operativas a partir de fevereiro do ano seguinte.  Estes caminhões ao entrar em atividade regular, passariam a apresentar excelente desempenho, motivando o Ministério do Exército a efetuar novos contratos de aquisição, envolvendo agora uma versão com  tração 6X2 e uma  configurada com carroceria para transporte de tropas de choque, denominada de “Espinha de Peixe”, para emprego junto aos  batalhões da Polícia do Exército (P.E). Novamente este caminhões apresentariam um bom desempenho operacional, levando o Exército Brasileiro a apostar na família Ford F-600 como uma das principais plataformas para a instalação do sistema de  “Tração Total” da empresa Engesa S/A. A aplicação deste sistema tornaria os caminhões da família Ford F-600 o esteio da frota de transporte militar para todo terreno do Exército Brasileiro nos próximos anos.
Uma grande parcela desta frota de caminhões adquiridos anteriormente seria transformado de seu modelo de tração original 4X2 para, 4X4 ou 6X6 pela Engesa S/A, representando assim , criando a primeira experiencia do emprego do patenteado sistema de "Tração Total" neste modelo de caminhão. E nesta mesma oportunidade o motor original  Ford Y-Block V8 a gasolina de 292pol³ (4.8L), seria trocado por modelo a diesel, o  MWM D-229-6 de 6 cilindros em linha e 5.9  L. Paralelamente, as Forças Armadas Brasileiras, efetivariam nos anos seguintes opções de compras para a incorporação de uma grande quantidade de  caminhões com nível de militarização reduzido, apresentando com carrocerias nas versões de carga seca (comercial e militar), cisterna de combustível, cisterna de água, bombeiro, basculante, oficina, baú de carga, frigorifico, posto de comando e também socorro mecânico guincho, com esta última carroceria produzida pela empresa paulista Bisseli Viaturas e Equipamentos Ltda. Logo os caminhões da série Ford F-600 em todas as suas versões,  se tornariam parte do cotidiano das unidades militares brasileiras. Porém a estagnação do projeto original da família F-600 e a insistência de sua diretoria administrativa e comercial em focar esforços na nova linha de caminhões Ford Cargo, suprimiria o papel desta montadora, como um dos principais fornecedores de caminhões militares no país. Assim esta lacuna seria em curto prazo habilidosamente ocupada pela Mercedes Benz do Brasil, restando esta primeira a amealhar pequenos contratos de caminhões dos modelos F-6000, F-12000, F-14000 e Cargo nas décadas seguintes.

Em Escala.
Para representarmos o Ford Comercial F-600  Serie I “EB20- 20128” na configuração de carroceria do tipo "Espinha de Peixe", empregado pelo Polícia do Exército Brasileiro, fizemos uso de um excelente modelo artesanal em resina, metal e madeira, produzido pela Fusaro Trucks na escala 1/43. Complementamos o conjunto com itens de carga confeccionados em resina e detalhamentos em scratch build. Fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942 - 1982".

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial, até o final do ano de 1982, pequenas alterações seriam relacionadas apenas as marcações de identificação. Após este ano os caminhões remanescentes adotaram o esquema de camuflagem técnico de dois tons, mantendo este padrão até a desativação dos últimos veículos em serviço no início da segunda metade da primeira década do século XX. Os veículos empregados pela Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil faziam uso.  Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.


Bibliografia :
- Ford do Brasil Lexicar - www.lexicar.com.br/ford
- História da Ford no Brasil - www.ford.com.br
- General Motors do Brasil – www.generalmotors.com.br 
- Motorização no Exército Brasileiro 1906 a 1941 - Expedito Carlos Stephani Bastos

Ford V8 1,5T Comercial 1932

História e Desenvolvimento.
Uma das maiores e mais renomadas montadoras norte-americanas da História, a Ford Motor Company, seria fundada no dia 16 de junho de 1903, em compactas instalações localizadas no subúrbio da cidade de Detroit no Estado de Michigan. Capitaneado pelo engenheiro e visionário Henry Ford, este ousado empreendimento envolveria um aporte inicial de US$ 28.000, angariados por doze investidores, dente estes curiosamente os irmãos John Dodge e Horace Dodge (que futuramente sairiam da companhia e fundariam a Dodge Motors Company). Durante os primeiros anos, a companhia produziria quase que artesanalmente apenas alguns carros por dia em sua fábrica localizada na avenida Mack. Nestas instalações, grupos de dois ou três homens trabalhavam em cada carro, fazendo a montagem em partes e componentes que em sua maioria eram produzidas por fornecedores terceirizados contratados pela montadora. Seus produtos conquistaram a confiança dos consumidores norte-americanos, e logo assim a companhia passaria a liderar as vendas no segmento de carros de passeio, criando assim os recursos para sua expansão e refinamento dos processos industriais em sua linha de montagem. Neste momento então, a empresa optaria pela internalização da produção de grande parte dos componentes críticos, em um novo conceito de integração vertical, que se mostraria uma metodologia muito funcional naquela época. Em 1908, Henry Ford introduziria o primeiro motor com cabeça de cilindro removível no Modelo Ford T. Após o primeiro carro moderno ter sido criado em 1886 pelo alemão Karl Benz (Benz Patent-Motorwagen), métodos de produção mais eficientes seriam necessários para se baratear seu custos de aquisição, torando assim o automóvel mais acessível para a classe média. Esta busca de otimização, levaria em 1914 por Henry Ford a concepção de um revolucionário sistema contínuo de produção, que receberia a denominação de “linha de montagem”, criando assim o conceito e real implementação do processo de produção em série. Todos os conceitos existentes neste processo, seriam internacionalmente conhecidos e difundidos como “Fordismo”, e rapidamente conquistaria a indústria automotiva internacional. Apoiado no permanente aperfeiçoamento de processos, na verticalização e na padronização (sob o famoso lema de Henry Ford  “Você pode comprar um Ford de qualquer cor, contanto que seja preto“), a cada ano o Modelo Ford T, apresentava consequentes reduções no custo de produção. Estes ganhos eram prontamente repassados no preço de custo ao mercado, levando assim o modelo, cada vez mais a conquistar maior participação em vendas no mercado norte-americano. Desde cedo, Ford Motor Company, investiria tempo e recursos no mercado internacional, buscando parceriais que possibilitassem a montagem local dos seus carros. A primeira linha de fabricação no exterior foi instalada em 1904, ainda para o Modelo C, no Canadá.  

Em 1911, o Modelo T começaria a ser produzido na Grã-Bretanha, já a expansão para o promissor mercado na América Latina teria início pela Argentina, onde em 1913 seriai fundada uma filial comercial da montadora, com a montagem de veículos localmente só ocorrendo a partir de meados do ano de 1921. Durante a década de 1910, o famoso Ford T (costumeiramente chamado de Lizzie Tin), era o automóvel mais difundido e utilizado nos Estados Unidos, passando a ganhar também versões utilitárias e de serviço. Assim não seria surpresa que esta família seria empregada durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), com uma grande quantidade destes sendo destacada para o conflito na Europa. Somente o Exército Real Britânico (Royal Army), por exemplo, chegaria a empregar cerca de dezenove mil destes caminhões leves, isso sem contar outros milhares que seriam adicionados a este teatro de operações após a entrada dos Estados Unidos na guerra. Teriam amplo destaque atuando em tarefas de socorro médico, transporte de pessoal e cargas, gerando inúmeros contratos de produção. Os recursos provenientes destas demandas garantiram folego de investimento a Ford Motor Company, para o desenvolvimento de novos modelos de veículos utilitários e caminhões leves, gerando novas famílias de modelos destas categorias. Na década seguinte a família de utilitários Ford Model AAA ,se destacaria novamente (apesar da grande crise econômica), conquistando um grande sucesso comercial, nacional e internacional, com estes veículos apresentando cada vez maior capacidade de transporte de carga. No início da década de 1930, a empresa desenvolveria a nova família Ford Model BB, que apresentava como principais diferenças em relação a versão anterior, uma suspensão aprimorada e um grupo propulsor mais potente a gasolina com 3,3 litros de 4 cilindros refrigerados a água em linha com potência final de 52 HP. Este novo motor apresentaria um consumo médio de 24 litros de gasolina por 100 km, atinge uma velocidade máxima de 75 km/h. Este padrão de desempenho aliado ao seu baixo preço de aquisição logo garantiu grandes resultados em vendas. Também o modelo logo se tornaria um sucesso internacional, passando a ser produzido a partir de 1932, na fábrica de Colônia-Niehl pela subsidiária alemã da Ford Motor Company AG, sendo montados até o início da Segunda Guerra Mundial. 
Uma nova geração seria lançada no início do ano de 1935, ganhando a denominação de Ford Model V8-51, sendo desenvolvido com base no carro de passeio Ford V8. Este novo caminhão estava equipado com motor refrigerado a água de oito cilindros dispostos em “V” com capacidade de 3,6 litros e potência máxima de 90hp, apresentando um consumo médio de 26 litros de gasolina por 100 km, atingindo ainda uma velocidade máxima de 83 km/h. Este perfil de desempenho representaria um grande avanço sobre os modelos antecessores desta montadora. Além de ter conquistado um rápido sucesso comercial nos Estados Unidos, esta nova família de utilitários que passaria a popularmente conhecida como  “Ford-Barrel-Nose”, também passaria a ser produzida pela subsidiaria alemã da montadora. Neste contexto seria desenvolvida a primeira versão militar, que posteriormente teria amplo emprego junto ao Exército Alemão (Wehrmacht). O modelo também seria produzido em larga escala na Inglaterra pela Ford of Britain, onde receberia a designação comercial de  Fordson 61 e 62 (Ford Six e Eight). Tanto em seu país de origem quanto na Europa, seriam produzidas duas versões básicas de chassis, uma versão curta com distância entre-eixos de 3.340 mm e uma versão longa com distância entre-eixos de 3,990 mm, ambas com carga útil de três toneladas. Se consolidando neste segmento, a Ford Motor Company, continuaria investindo recursos próprios para ganhar espaço também no segmento de utilitários leves com capacidade de até 1,5 toneladas. Esta família fora lançada inicialmente em 1931 com uma linha derivada das primeiras picapes, fazendo uso também dos consagrados motores Ford V8. Os primeiros caminhões leves da família Ford Stake Bed 3/4 toneladas, seriam lançados no mercado norte-americano em 1937 e faziam uso de uma nova cabine e novo chassi, sendo apropriadamente chamados de "One-Tonner". 

Em 1939 novos aprimoramentos seriam incluídos, como o sistema de freios hidráulicos, trazendo assim a equiparação dos modelos da Ford Motor Company, sobre os demais concorrentes que já empregavam, este processo em veículos utilitários similares. Esta nova família, passaria a ostentar a grande frontal com desing oval, o que se mostraria como a nova marca registrada das linhas picapes e utilitários leves da montadora. Neste momento seria observada uma ascendente curva de vendas nos Estados Unidos, com este resultado se repetindo nas exportações, mais notadamente para os mercados emergentes da Asia e da América Latina. Com este último se mostrando de grande potencial comercial a curto e médio prazo, não só para a Ford Motors Company, mas também para as demais montadoras norte-americanas. Neste contexto, a robustez e o baixo custo de aquisição e operação destes caminhões e utilitários, passaram a seduzir as forças militares dos países sul-americanos, que em sua grande maioria estavam iniciando o processo de conversão, deixando de ser forças hipomoveis , para gradualmente se transformarem em forças motorizadas. Desnudava-se a montada, mais um potencial nicho de mercado, com modelos sendo customizados para o transporte de pessoal e carga. Os veículos desta montadora sempre se caracterizariam pela robustez e pela padronização, sendo que mesmos os veículos produzidos em diversos países, normalmente permutavam entre si peças e tecnologia. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, estes modelos seriam amplamente empregados pelas forças armadas nazistas, muitas vezes fazendo uso de centenas de caminhões capturados durante sua exitosa campanha de expansão entre os anos de 1939 e 1942.  Os grupamentos mecânicos do Exército Alemão (Wehrmacht) estavam familiarizadas com as particularidades mecânicas destes veículos, e desta maneira sempre mantinham um alto nível de operacionalidade da frota que era composto por caminhões fabricados na Alemanha, França e Romênia. 
Com o intensificar das hostilidades na Europa a partir do início do ano de 1940 e do aumento das tensões com o Império do Japão no Leste Asiático, seria decidido promover um emergencial esforço de reequipamento e modernização das forças armadas norte-americanas. Assim toda a estrutura de manufatura industrial da Ford Motor Company e de mais empresas estratégicas, passariam a ser consideradas como ferramenta vital para o esforço aliado. Rapidamente os produtos constantes no portifólio da montadora seriam militarizados, com os  modelos Ford V8 sendo montados com carrocerias adaptadas para transporte, com cabines de aço do modelo civil ou cabine militar com cobertura de lona, se destinando as mais diversas missões.  Assim o Ford V8,  juntamente com o modelo Ford G8T  (que seria foi de longe o mais numeroso caminhão comercial de 1,5 tonelada com tração com  4x2 produzido) se tornariam grandes protagonistas da frota de transporte, não só das forças armadas norte-americanas, mas também de diversos outros países, sendo inclusos no portifólio de materiais do programa de ajuda militar  Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Estes seriam os veículos comerciais militarizados entregues em maior número a União Soviética até o ano de 1943, totalizando mais de sessenta mil caminhões entregues, sendo superados somente por veículos da família GMC CCKW.  

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Após o final da Primeira Guerra Mundial (1914  - 1918), a consolidação do emprego de veículos leves e médios para emprego militar nas principais forças armadas do mundo, se solidificaria como visão de futuro, buscando a mobilidade de cargas e tropas nas linhas de retaguarda do front de batalha. E neste contexto, o comando do Exército Brasileiro perseguiria a mesma tendencia, pois os relatos sobre esta nova doutrina operacional, passaria a exercer um certo fascínio junto à jovem oficialidade, o mesmo ocorrendo nas cadeias de comando das Forças Públicas (atuais Polícias Militares Estaduais). Assim desta maneira nos primeiros anos da década de 1920, começariam a ser incorporados nas forças armadas brasileiras, os primeiros utilitários e caminhões leves derivados no modelo Ford T.  Esta marca se tornaria o primeiro fornecedor oficial de veículos ao Exército Brasileiro, nao só pelo fato de ser a primeira montadora norte-americana a estabelecer uma representação comercial no país no ano de 1919, mas, mas também pelo fato de serem produzidos em grande quantidade localmente. Esses veículos eram montados no país através do sistema chamado CKD (completely knocked down); onde todos os componentes praticamente vinham da matriz no exterior, sendo então montados nas instalações da empresa na cidade de São Paulo - SP, tratando-se principalmente de carros de passeio. Porém mais montadoras estabeleceriam representações comerciais ou instalações de montagem no país neste período, e desta maneira uma variada gama de veículos seriam adquiridos pelo Exército Brasileiro. No ano de 1923, seria criado na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o Serviço Central de Transportes do Exército Brasileiro (SCT), com esta organização sendo equipada com diversos modelos de caminhões e veículos para uso militar. A estrutura montada para esta atividade era impressionante para os padrões da época, pois, os veículos, eram adquiridos dos fabricantes apresentando somente o chassi, o motor e a parte dianteira, sendo então posteriormente adaptados as necessidades de uso militar e montados na própria unidade que possuía respeitável  parque para montagem e manutenção. 

A primeira grande utilização de veículos automotores pelo Exército Brasileiro, para fins de operações militares em âmbito real, ocorreria durante os eventos registrados na Revolução de 1924, principalmente na frente do Paraná. Neste teatro de operações, o General Cândido Mariano da Silva Rondon, comandante daquela área, empregaria diversos veículos civis e militares em variadas funções, desde ambulâncias para transporte de feridos a pequenos caminhões para transporte de tropas e cargas durante este conflito regional. Porém apesar da novidade do emprego de veículos automotores, ainda a maior parcela das tarefas de suporte logístico, de víveres, combustível e outros itens seriam executadas por enormes carroças puxadas por seis cavalos, denominadas extraoficialmente de “carroção tipo colonial”, tipo este de transporte muito empregado naquela região, mantendo ainda a predominância da operação hipomóvel. Durante a década de 1930, o Exército Brasileiro passaria a empregar uma grande variedade de veículos militares e militarizados sobre rodas e sobre lagartas, de diversas marcas, como Ford, Chevrolet, Dodge, International, de origem norte-americana; Tornycroft e Commer, de origem inglesa; Somua de origem francesa, e Henschell e Krupp, de origem alemã. Apesar de dispor de diversos fornecedores, o Exército Brasileiro, apresentava uma tendência natural a operar com modelos de caminhões leves e médios produzidos ou montados (completely knocked down) no país. O fato mais importante para essa consolidação viria a ocorrer com a necessidade de se tentar padronizar, no Exército Brasileiro, quais as marcas dos caminhões militares, poderiam serem incorporados, otimizando assim os processos de manutenção e aquisição de peças de reposição.   
Assim de acordo com a normativa prevista no “Aviso 658” de 27 de setembro de 1937, ficariam estipuladas em termos de aquisição de veículos para os transportes normais de carga ou pessoal modelos produzidos pelas empresas Ford, Chevrolet, Dodge, Commer, sendo proibida a compra veículos de outros fabricantes. Esta decisão apesar de representar uma melhor relação de custo-benefício, restringia o Exército Brasileiro a operar somente com veículos comerciais leves, abrindo mão do uso de verdadeiros "caminhões militares". Neste momento surgia no mercado internacional, uma nova geração de caminhões genuinamente militares, mais capazes em termos de transporte de carga e operação em ambientes fora de estrada, e que gradativamente começariam a dotar em grande número, as forças militares de outros países.  Neste contexto a Ford do Brasil, obteria uma grande vantagem, pois detinha anos de bom relacionamento com o Exército Brasileiro, tendo a primazia de ser o primeiro fornecedor de veículos para emprego militar no país. Seus modelos seriam eternizados no imaginário popular, com estes veículos tornando símbolo do processo de expansão das nossas fronteiras (realização amplamente explorada pela empresa, na figura do Marechal Cândido Rondon, contumaz usuário do Ford T em seus deslocamentos pelo sertão). Desta maneira, no final desta década, um grande número de caminhões leves montados no país por este fabricante, passariam a ser incorporados a frota do Exército Brasileiro e também a Marinha do Brasil, para o emprego em tarefas e transporte de tropas, carga, combustível e remoção médica. 

Anterior a promulgação desta normativa, tanto o Exército Brasileiro, quanto a Marinha do Brasil já dispunham em suas frotas de uma grande quantidade de caminhões e utilitários produzidos por esta montadora norte-americana. Se destacavam em termos de veículos atividade, os modelos Ford TT, Ford V8, Ford 131 ½ , Ford Barrel-Nose, Ford 157 ½  e Gigante 937 ½ . Nos anos seguintes estes seriam complementados pelos modelos Ford 1/5T Stake Bed, Ford Models 1938/1940/194, Ford G-540 2G8T/G8T, Ford G-622, Ford G-917, Ford FK G-700 e Ford YBH2 . Ao total as frotas combinadas das Forças Armadas Brasileiras superavam tranquilamente a casa dos mil e quinhentos caminhões, proporcionando dentro do possível, uma razoável capacidade de mobilidade, principalmente para força terrestre. Porém a necessidade em se dispor de veículos pesados, levaria o Exército Brasileiro a não adotar totalmente a normativa de padronização. Neste contexto seriam adquiridos caminhões ingleses Thornycroft Tartar 6X4 e alemães Henschel & Sohn 33 D1 6X4, sendo estes últimos incorporados para poder realizar as tarefas de tracionar os pesados obuseiros Schneider de 155 mm. Em 22 de junho de 1939 seria oficializado o “Aviso 553”, que estabelecia a padronização para as carroceiras de caminhões em uso no Exército Brasileiro, proposta implementada pelo chefe do Serviço Central de Transportes (SCT). De acordo com esta documentação o novo padrão se assemelhava em muito as carrocerias militares norte americanas, com placas únicas de madeira para as faces externas e banco fixados lateralmente para o transporte de tropas, proporcionando maior espaço para o eventual transporte de carga e volumes. Curiosamente abolia-se o uso das portas da cabine, e passava-se a adotar um esquema de pintura puramente militar, pois neste período ainda muitos destes caminhões ostentavam a pintura em duas ou mais cores, comum ao empregado nos modelos civis comerciais. 
Fazendo uso destas novas “carrocerias militarizadas” pintadas não só no padrão militar em verde oliva, estes veículos passariam também a ostentar um vistoso esquema de camuflagem tático em três tons. Os caminhões da família Ford, passaram a ser empregados no transporte de canhões de montanha Schneider 75 mm e Saint Chamont 75 mm e suas respectivas guarnições. Seriam eventualmente empregados pelo 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) e pelo 2 º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé), com plataforma móvel para os canhões antiaéreos duplos Oerlikon de 20 mm. Mas em sua grande maioria continuariam sendo mais utilizados junto aos “Esquadrões de Trem” denominação aplicada as unidades de transporte militar do Exército Brasileiro naquele período. Em 1941 o Brasil, assumiria uma posição política ao lado dos aliados durante a Segunda Guerra, aderindo ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), o qual lhe proporcionaria ao longo dos quatro anos seguintes, o recebimento de mais de dois mil modernos caminhões genuinamente militares fabricados pela GMC e Studebaker, passando este modelos a serem sustentáculo da capacidade de transporte das forças armadas brasileiras, liberando assim caminhões da família Ford, para atuação em missões de apoio e segunda linha, tarefa na qual se mantiveram até o início da década de 1950 quando passaram a ser desativados. Algumas unidades também estiveram em serviço como veículos utilitários de transporte leve, junto a Força Aérea Brasileira e Marinha  do Brasil. 

Em Escala.
Para representarmos o Ford 1.5 T Stake Bed, empregado pelo Exército Brasileiro, fizemos uso do excelente modelo artesanal confeccionado em resina na escala 1/35, produzido pelo fabricante Dnepro Model. Optamos por manter a carroceria comercial do veículo, não alterando para o padrão militar adotado a partir de 1939. Fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942 - 1982".

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em quase todos seus veículos militares durante a Segunda Guerra Mundial, salientando que em muitos casos este caminhões ainda mantiveram a pintura original comercial e civil, quando de sua incorporação na segunda metade da década de 1930. Além deste último esquema, alguns veículos receberam uma camuflagem tática em três tons. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.



Bibliografia :

- Primórdios da Motorização no Exército Brasileiro 1919-1940 - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Ford do Brasil – www.ford.com.br
- Ford Motors Co. - www.ford.com
- Motorização no Exército Brasileiro 1906 a 1941 - Expedito Carlos Stephani Bastos