História e Desenvolvimento.
A Ford Motor Company, umas das montadoras norte americanas de maior renome na história automotiva mundial, foi fundada em um subúrbio da cidade de Detroit no Estado de Michigan pelo gênio técnico e empresarial, Henry Ford, em 16 de junho de 1903. Este empreendimento envolveu um aporte de US$ 28 mil dólares provenientes de 12 investidores, dentre eles os irmãos John Dodge e Horace Dodge (que futuramente sairiam da companhia e fundariam a Dodge Motors Co.). Durante os primeiros anos, a companhia produzia apenas alguns carros por dia em sua fábrica na Mack Avenue. Nestas instalações, grupos de dois ou três homens trabalhavam em cada carro, fazendo a montagem em partes que em sua maioria eram produzidas por fornecedores contratados pela Ford. Na década seguinte a companhia passou a liderar o segmento automotivo, com a expansão e refinamento dos processos industriais em sua linha de montagem. A empresa então optaria pela internalização da produção de grande parte dos componentes críticos, em um conceito de integração vertical que se mostraria uma metodologia muito funcional naquela época. Em 1908, Henry Ford introduz o primeiro motor com cabeça de cilindro removível no Modelo T. Após o primeiro carro moderno ter sido criado em 1886 pelo alemão Karl Benz (Benz Patent-Motorwagen), métodos de produção mais eficientes seriam necessários para tornar o automóvel mais acessível para a classe média. Com o isso, em 1914 Henry Ford, concebeu revolucionário sistema contínuo de produção, a “linha de montagem”, possibilitando assim uma produção em série. Todos os conceitos existentes neste processo, seriam internacionalmente conhecidos e difundidos como “Fordismo”, e rápida conquistaria a indústria automotiva internacional. Apoiado no permanente aperfeiçoamento de processos, na verticalização e na padronização (sob o famoso lema de Henry Ford “Você pode comprar um Ford de qualquer cor, contanto que seja preto“), a cada ano o Modelo T, obtinha consequentes reduções no custo de produção, o que era prontamente repassado no preço ao mercado, levando assim o modelo cada vez mais a conquistar a maior fatia do mercado norte americano. Desde cedo Ford Motor Company buscou o mercado externo, sempre que possível associando à montagem local dos seus carros. A primeira linha de fabricação no exterior foi instalada em 1904, ainda para o Modelo C, no Canadá; em 1911 o Modelo T começou a ser produzido na Grã-Bretanha. A expansão na América Latina teve início pela Argentina, onde em 1913 foi fundada uma filial da Ford norte-americana; a montagem de veículos, no entanto, só seria efetivada em 1921.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), um dos veículos americanos mais utilizados foi o famoso Ford T, ou Lizzie Tin. Era o carro mais massivo e popular dos Estados Unidos, e não há nada de surpreendente que, quando a guerra começou, foi ele quem partiu em grande número na sua versão utilitária para lutar também. Somente o Exército Real Britânico (Royal Army), por exemplo, chegou a empregar cerca de 19.000 destes caminhões leves, isso sem contar outros milhares que seriam adicionados ao esforço de guerra, quando da entra das forças armadas norte americanas no conflito. Teriam amplo destaque como veículos de socorro médico, transporte de pessoal e cargas, este enorme emprego gerariam a Ford Motor Company, enormes recursos para o desenvolvimento de novos modelos de veículos utilitários e caminhões leves, gerando novas famílias de modelos destas categorias. Na década seguinte a família Ford Model AAA se destacaria novamente (apesar da grande crise econômica), conquistando um grande sucesso comercial, nacional e internacional, com veículos apresentando cada vez maior capacidade de transporte de carga. Na inicio da década de 1930, a empresa desenvolveria a nova família Ford Model BB, que apresentava como principais diferenças em relação a versão anterior, uma suspensão aprimorada e um grupo propulsor mais potente a gasolina com 3,3 litros de 4 cilindros refrigerados a água em linha com potência final de 52 HP. Este novo motor apresentava um consumo médio de 24 litros de gasolina por 100 km, atinge uma velocidade máxima de 75 km/h, este padrão de desempenho aliado a seu preço baixo de aquisição logo garantiram o uso generalizado. O modelo logo se tornaria um sucesso internacional, passando a ser produzido a partir de 1932, na fábrica de Colônia-Niehl pela subsidiária alemã da Ford Motor Company AG, sendo montados até o inicio da Segunda Guerra Mundial.
A nova geração seria lançada no inicio do ano de 1935, ganhando a denominação de Ford Modell V8-51, sendo desenvolvido com base no carro de passeio Ford V8. Este novo caminhão estava equipado com motor refrigerado a água de oito cilindros dispostos em “V” com capacidade de 3,6 litros e potência máxima de 90HP, com um consumo médio de 26 litros de gasolina por 100 km, atingindo ainda uma velocidade máxima de 83 km/h, oque representava um grande avanço sobre seus antecessores. Além de ter conquistado um rápido sucesso comercial nos Estados Unidos como , esta nova família que receberia a designação popular de “Ford-Barrel-Nose” seria produzida em larga escala também nas instalações da de Colônia-Niehl em 1937-1939 pela subsidiária Alemã Ford Motor Company AG (de 1939 Ford-Werke AG), ganhando neste contexto a primeira versão militar que teria amplo emprego junto ao Exército Alemão (Wermatch). Também haveria uma grande produção na Grã-Bretanha, onde a subsidiaria local montou o modelo sobre a designação comercial de Fordson 61 e 62 (Ford Six e Eight). Tanto em seu país de origem quanto na Europa seriam produzidas duas versões básicas de chassis, uma versão curta com distância entre-eixos de 3340 mm e uma versão longa com distância entre-eixos de 3990 mm e carga útil de 3 toneladas. Os veículos Ford sempre se caracterizaram pela robustez e pela padronização, sendo que os produtos oriundos destas diversas fábricas, normalmente, permutavam entre si peças e tecnologia. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, durante o expansionismo nazista, os alemães usaram e encontraram os veículos Ford em quase todos os teatros da guerra, o que muito facilitou sua manutenção e operacionalidade. Os Grupamentos Mecânicos e os soldados estavam acostumados aos modelos e particularidades mecânicas destes veículos. Um exemplo disto é o uso pelos alemães dos veículos fabricados e capturados na Bélgica, Holanda, França, além dos fabricados pela aliada Romênia.

Se consolidando no mercado no segmento de 3 toneladas, a Ford Motor Company, continuaria investindo recursos próprios para ganhar espaço também no segmento de caminhões utilitários leves com capacidade de até 1,5 toneladas. Esta família fora lançada inicialmente em 1931 com uma linha derivada das primeiras picapes, faz endo uso também dos consagrados motores Ford V8, com os primeiros Fords Stake Beds 3/4 toneladas sendo lançados em 1937 fazendo uso de uma nova cabine e novo chassi, sendo apropriadamente chamados de "One-Tonner". Em 1939 novos aprimoramentos seriam incluídos como o sistema de freios hidráulico, trazendo equiparação dos modelos da Ford sobre os demais concorrentes já empregava, este processo em veículos utilitários similares. Esta nova família, passava a ostentar a grande frontal oval, oque passaria ser a marca registrada desta linha picapes e utilitários leves da Ford Motor Company, neste contexto esta nova linha de utilitários médios começou a galgar grande espaço no mercado civil norte americano, com as exportações crescendo para os demais mercados entre ele o asiático e o sul americano. Com este último mercado passando a ser uma das grandes promessas para não só este, mas também para todas as montadoras norte americanas. Neste contexto, a robustez e o baixo custo de aquisição e operação passaram a seduzir as forças militares dos países sul americanos que estavam em sua maioria atravessando o processo final de suas forças hipomóveis para forças motorizadas. Neste contexto existia um amplo mercado potencial para a venda de caminhões de pequena e média capacidade de transporte de pessoal e carga.
Com o intensificar das hostilidades na Europa a partir de fins do ano de 1939 e do aumento das pressões no Leste Asiático, toda a estrutura de manufatura industrial da Ford Motor Company, passou a ser considerada como ferramenta vital para o esforço de guerra norte americano, com os modelos Ford V8 sendo montados com carrocerias adaptadas para transporte, com cabines de aço do modelo civil ou cabine militar com cobertura de lona, se destinado as mais diversas missões. Neste contexto juntamente com o modelo Ford G8T, que foi de longe o mais numeroso caminhão comercial de 1.5 tonelada com tração com 4x2, produzido e destinado a equipar não só as forças armadas norte americanas, mas também através dos termos do programa de Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), foi o veículo comercial militarizado entregue em maior numero para a União Soviética do ano de 1943 em diante, e juntamente com seu ancestral civil, o Ford 2G8T, do qual ele diferia na motorização e pequenas modificações, alcançado a impressionante soma de mais de 61.000 unidades, tornando o "Ford-6" o segundo caminhão mais entregue, sendo superado apenas pelos números dos caminhões General Motors da família CCKW.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Após o final da Primeira Guerra Mundial (1914 á1918) a consolidação do uso de veículos para fins militares nas principais forças armadas do mundo, se solidificou como visão de futuro buscando a mobilidade em campo de batalha. E neste contexto o comando do Exército Brasileiro não fugiu à regra nesta filosofia, pois essa novidade passou a exercer um certo fascínio junto à jovem oficialidade, o mesmo ocorrendo com as Forças Públicas (atuais Polícias Militares Estaduais). Os primeiros veículos incorporados ao Exército Brasileiro, foram pequenos caminhões leves do modelo Ford T, que começaram a ser recebidos início da década de 1920, não só devido ao fato da Ford Motors Company, ter sido a primeira montadora de veículos a se instalar no Brasil em 1919, mas também pelo fato de serem produzidos em grande quantidade localmente. Esses veículos eram montados no país através do sistema chamado CKD (completely knocked down); onde todos os componentes praticamente vinham da matriz no exterior, sendo então montados nas instalações da empresa, tratando-se principalmente de veículos civis. A montadora Ford Motors do Brasil não foi a única neste período inicial, pois ela sempre esteve presente ao lado de outras, tanto americanas quanto europeias. No ano de 1923, foi criado na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o Serviço Central de Transportes do Exército Brasileiro (SCT), com esta organização sendo equipada com diversos modelos de caminhões e veículos para uso militar. A estrutura montada para esta atividade era impressionante para os padrões da época, pois, os veículos, eram adquiridos dos fabricantes apresentando somente o chassi, o motor e a parte dianteira, sendo então posteriormente adaptados as necessidades de uso militar e montados na própria unidade que possuía um parque para montagem e manutenção.
A primeira grande utilização de veículos automotores pelo Exército Brasileiro, para fins militares ocorreu, durante os eventos registrados na Revolução de 1924, principalmente na frente do Paraná, onde o General Cândido Mariano da Silva Rondon, comandante daquele setor, empregou diversos veículos civis e militares em variadas funções, desde ambulâncias para transporte de feridos a pequenos caminhões para transporte de tropas e cargas durante este conflito doméstico. Porém apesar desta novidade, ainda o suporte logístico de víveres, combustível e outros itens foi completamente executado por enormes carroças puxadas por seis cavalos, denominadas extra oficialmente de “carroção tipo colonial”, tipo este de transporte muito empregado naquela região. Durante a década de 1930, o Exército Brasileiro e Marinha do Brasil, empregaram uma grande variedade de caminhões e veículos militares e militarizados sobre rodas e sobre lagartas, de diversas marcas, como Ford, Chevrolet, Dodge, International, de origem norte-americana; Tornycroft e Commer, de origem inglesa; Somua de origem francesa, e Henschell e Krupp, de origem alemã. Apesar de dispor de diversos fornecedores a Marinha do Brasil e principalmente o Exército Brasileiro, apresentavam uma tendência natural a operar em sua maioria com modelos de caminhões leves e médios produzidos ou montados no processo CKD (completely knocked down) no país, privilegiando não os custos de aquisição, bem como a facilidade de obtenção de peças de reposição.
Esta decisão apesar de representar uma melhor relação de custo benefício, restringia o Exército Brasileiro a operar somente com veículos comerciais leves, abrindo mão do uso de verdadeiros "caminhões militares", modelos e uma nova geração mais capazes em termos de transporte de carga e operação em ambientes fora de estrada que começavam a dotar em grande número as forças militares de outros países. O fato mais importante para essa consolidação viria a ocorrer com a necessidade de se tentar padronizar, no Exército Brasileiro, as marcas dos caminhões militares a serem incorporados. Assim de acordo com a normativa prevista no “Aviso 658” de 27 de setembro de 1937, ficariam estipuladas em termos de aquisição de veículos para os transportes normais de carga ou pessoal modelos produzidos pelas empresas Ford, Chevrolet, Dodge, Commer, sendo proibida a compra veículos de outros fabricantes. Neste contexto a Ford do Brasil, apresentava grande vantagem, pois detinha anos de bom relacionamento com o Exército Brasileiro, tendo a primazia de ser o primeiro fornecedor de veículos para emprego militar no país, com os primeiros caminhões modelo Ford T, sendo incorporados na década de 1920, sendo incorporados na década de 1920, com estes veículos ser tornando símbolo do processo de expansão das nossas fronteiras (realização amplamente explorada pela empresa, na figura do Marechal Cândido Rondon, contumaz usuário do Ford T em seus deslocamentos pelo sertão). Desta maneira, no final desta década, um grande número de caminhões leves deste fabricante, passariam a ser incorporados a frota do Exército Brasileiro e também a Marinha do Brasil, para o emprego em tarefas e transporte de tropas, carga, combustível e remoção médica.

Anterior a esta normativa, tanto o Exército Brasileiro, quanto a Marinha do Brasil já dispunham em suas frotas de uma grande quantidade de caminhões desta montadora norte americana, se destacando em termos de unidades na ativa os modelos Ford TT, Ford V8, Ford 131 ½ , Ford Barrel-Nose, Ford 157 ½ , Gigante 937 ½ , que posteriormente seriam complementados pelos modelos Ford 1/5T Stake Bed, Ford Models 1938/1940/194, Ford G-540 2G8T/G8T, Ford G-622, Ford G-917, Ford FK G-700 e Ford YBH2 . Ao total as frotas combinadas das Forças Armadas Brasileiras superavam tranquilamente a cada dos 1.500 veículos, proporcionando dentro da possível, certa capacidade de mobilidade, principalmente para força terrestre. No entanto ainda por dispor de veículos pesados, o próprio Exército Brasileiro não manteria esta padronização, chegando a adquirir caminhões ingleses Thornycroft Tartar 6X4 e alemães Henschel & Sohn 33 D1 6X4, sendo estes últimos incorporados para poder realizar as tarefas de tracionar os pesados obuseiros Schneider de 155 mm. Em 22 de junho de 1939 seria oficializado o “Aviso 553”, que estabelecia a padronização para as carroceiras de caminhões em uso no Exército Brasileiro, proposta implementada pelo chefe do Serviço Central de Transportes (SCT). De acordo com esta documentação o novo padrão se assemelha em muito as carrocerias militares norte americanas, com placas únicas de madeira para as faces externas e banco fixados lateralmente para o transporte de tropas, proporcionando maior espaço para o eventual transporte de carga e volumes. Curiosamente abolia-se o uso das portas da cabine, e passava-se a adotar um esquema de pintura puramente militar, pois neste período ainda muitos destes caminhões ostentavam a pintura em duas ou mais cores, comum ao empregado nos modelos civis comerciais.

Fazendo uso destas novas “carrocerias militarizadas” e chegando inclusive além da pintura verde oliva padrão, ostentar um vistoso esquema de camuflagem tático em três tons, os caminhões da família Ford, passaram a ser empregados no transporte de canhões de montanha Schneider 75 mm e Saint Chamont 75 mm e suas respectivas guarnições. Seriam eventualmente empregados pelo 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) e pelo 2 º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé), com plataforma móvel para os canhões antiaéreos duplos Oerlikon de 20 mm. Mas em sua grande maioria continuariam sendo mais utilizados junto aos “Esquadrões de Trem” denominação aplicada as unidades de transporte militar do Exército Brasileiro naquele período. Em 1941 o Brasil, assumiria uma posição politica ao lado dos aliados durante a Segunda Guerra, aderindo ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), o qual lhe proporcionaria ao longo dos quatro anos seguintes, o recebimento de mais de dois mil modernos caminhões genuinamente militares fabricados pela GMC e Studebaker, passando este modelos a serem sustentáculo da capacidade de transporte das forças armadas brasileiras, liberando assim caminhões da família Ford, para atuação em missões de apoio e segunda linha, tarefa na qual se mantiveram até o início da década de 1950 quando passaram a ser desativados. Algumas unidades também estiveram em serviço como veículos utilitários de transporte leve, junto a Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil.
Em Escala.
Para representarmos o Ford 1.5 T Stake Bed, empregado pelo Exército Brasileiro, fizemos uso do excelente modelo artesanal confeccionado em resina na escala 1/35, produzido pelo fabricante Dnepro Model. Optamos por manter a carroceria comercial do veículo, não alterando para o padrão militar adotado a partir de 1939. Fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em quase todos seus veículos militares durante a Segunda Guerra Mundial, salientando que em muitos casos este caminhões ainda mantiveram a pintura original comercial e civil, quando de sua incorporação na segunda metade da década de 1930. Além deste último esquema, alguns veículos receberam uma camuflagem tática em três tons. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.
Bibliografia :
- Primórdios da Motorização no Exército Brasileiro 1919-1940 - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Ford do Brasil – www.ford.com.br
- Ford Motors Co. - www.ford.com
- Motorização no Exército Brasileiro 1906 a 1941 - Expedito Carlos Stephani Bastos