YT-25A e YT-25 B Universal II


Historia e Desenvolvimento.
A Indústria Aeronáutica Neiva Ltda é uma empresa brasileira com uma história significativa no desenvolvimento e fabricação de aeronaves. Fundada em 12 de outubro de 1945, no Rio de Janeiro, por José Carlos de Barros Neiva, a empresa surgiu com o intuito de atender à demanda pela modernização da frota de planadores do Brasil, que na época era composta majoritariamente por aeronaves de origem alemã, incorporadas aos aeroclubes brasileiros durante a década de 1930.MEste processo foi uma resposta ao programa governamental denominado "Campanha Nacional de Aviação", cujo objetivo era fomentar a indústria aeronáutica nacional. A estratégia de José Carlos de Barros Neiva baseava-se no desenvolvimento de uma aeronave que apresentasse características de voo similares ao planador alemão Grunau Baby, amplamente utilizado no Brasil em sua configuração biplace. O protótipo designado Neiva B. Monitor, portando a matrícula PP-PCB, realizou seu primeiro voo em dezembro de 1945, recebendo sua certificação oficial no início do ano seguinte e sendo incluído naquele importante programa de fomento. Assim, foi celebrado um primeiro contrato com a empresa para a compra do protótipo e mais vinte aeronaves deste modelo, que, após serem recebidas pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), seriam distribuídas a diversos aeroclubes em todo o país.  O Neiva B. Monitor foi fundamental para a formação de novos pilotos e contribuiu significativamente para o treinamento de aviação civil no Brasil. No final da década de 1950, uma variante denominada Neiva B "Monitor Modificado" foi construída, utilizando materiais alternativos em substituição à madeira. Nos anos seguintes, novos planadores foram desenvolvidos e lançados no mercado, mas a empresa destacou-se a partir de 1956, quando adquiriu os direitos de fabricação do treinador Paulistinha CAP-4, período no qual transferiu sua linha de produção para a cidade de Botucatu, no interior do estado de São Paulo. Nestas novas instalações, a produção superou a cifra de duzentas e sessenta aeronaves, disponíveis em várias versões aprimoradas, como o Neiva Paulistinha 56. Na década de 1960, atendendo às diretrizes do “Programa de Fortalecimento da Indústria de Defesa Nacional”, a empresa foi contratada pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) para desenvolver uma aeronave leve destinada a missões de ligação e observação, com o objetivo de substituir antigos modelos como a Piper L-4 Cub e a Cessna 305 Bird Dog, então em serviço na Força Aérea Brasileira. Esse processo resultou na criação dos modelos U-42 e L-42 Neiva Regente, que representaram os primeiros aviões totalmente metálicos desenvolvidos e produzidos no Brasil.

No início da década de 1960, o treinamento e a formação de novos pilotos militares, conduzidos pela Escola de Aeronáutica (EAER), localizada no Rio de Janeiro, RJ, fundamentavam-se no uso das aeronaves Fokker T-21 e North American T-6 Texan. Embora reconhecidas por sua robustez e confiabilidade, essas aeronaves apresentavam limitações significativas, estando tecnologicamente defasadas para atender às demandas do treinamento de cadetes que, posteriormente, assumiriam o comando de aeronaves de primeira linha, muito mais avançadas e sofisticadas. Adicionalmente, a frota enfrentava desafios relacionados à baixa disponibilidade operacional, decorrente da escassez de peças de reposição, o que impactava diretamente os índices de manutenção e prontidão.  Diante desse cenário, em janeiro de 1962, o Ministério da Aeronáutica (MAer) estabeleceu as especificações técnicas para o desenvolvimento e a aquisição de novas aeronaves destinadas ao treinamento primário e avançado. O programa, classificado como prioritário, foi estruturado com um cronograma de curto e médio prazo, visando a substituição dos vetores obsoletos e a superação das limitações operacionais identificadas. Para o treinamento primário, optou-se por uma solução nacional, que culminou no desenvolvimento do Aerotec T-23 Uirapuru, projetado para atender aos requisitos de desempenho básico e cuja entrada em serviço ocorreu a partir de 1969. Já para o treinamento avançado, a preferência inicial dos oficiais brasileiros recaía sobre o Beechcraft T-34 Mentor, uma aeronave moderna e de alto desempenho. Contudo, os custos associados à aquisição de um grande lote desse modelo excediam a dotação orçamentária disponível pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) inviabilizando sua adoção naquele momento. Como alternativa, o Ministério da Aeronáutica direcionou esforços para o desenvolvimento de uma solução nacional voltada ao treinamento avançado. A nova aeronave deveria ser mais simples, com custos de aquisição e operação reduzidos, adequando-se às restrições financeiras do programa. Nesse contexto, a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. foi convidada a participar do projeto, apresentando estudos alinhados aos objetivos estabelecidos. Antecipando-se às demandas do mercado e buscando expandir seu portfólio, a empresa já desenvolvia um programa semelhante, liderado por uma equipe de técnicos sob a coordenação do talentoso engenheiro húngaro radicado no Brasil, Joseph Kovacks. Esse esforço conjunto representou um marco significativo na busca por autonomia tecnológica e na modernização do treinamento de pilotos militares brasileiros.
Com base nas especificações técnicas emitidas pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. desenvolveu o projeto da aeronave designada como Neiva N-621. Inspirada nos cânones de design aeronáutico estabelecidos pelo renomado projetista italiano Stelio Frati, o N-621 apresentava linhas elegantes e funcionais, consolidando-se como o primeiro monomotor de alto desempenho concebido e produzido em série no Brasil. O protótipo do Neiva N-621, registrado com o prefixo experimental PP-ZTW, realizou seu voo inaugural em 9 de abril de 1966, decolando de São José dos Campos, SP, sob o comando do experiente piloto de provas Brasílico Freire Neto. A aeronave, configurada como um monoplano de asa baixa, monomotor e biplace com assentos lado a lado, incorporava as seguintes especificações técnicas -  Configuração: Monomotor, biplace (com capacidade para um terceiro tripulante na parte traseira da cabine); Trem de pouso: Triciclo retrátil; Dimensões: Envergadura: 11,00 m, Comprimento: 8,60 metros Altura: 3,00 metros e Superfície alar: 17,20 metros²; Pesos: vazio: 1.150 kg - máximo: 1.700 kg;  Propulsão: Motor a pistão Lycoming IO-540-G1A5, de 290 HP, com seis cilindros opostos horizontalmente, movido a gasolina, acoplado a uma hélice tripá de velocidade variável, Desempenho: Velocidade máxima: 250 km/h, Razão de ascensão: 300 m/min, Teto operacional: 5.000 m e Autonomia: 1.150 km; Cabine: Ampla, com assentos lado a lado para piloto e instrutor, coberta por um canopy de plexiglass de peça única, deslizante para trás, proporcionando excelente visibilidade externa. A configuração do N-621 foi projetada para atender às exigências de treinamento avançado, destacando-se pela ampla cabine que facilitava a interação entre piloto e instrutor. O canopy de plexiglass, além de otimizar a visibilidade, contribuía para a experiência de instrução. A aeronave exibia comandos dóceis, alta manobrabilidade e desempenho satisfatório, características que a tornavam ideal para a formação de pilotos militares. As primeiras impressões em voo foram positivas, com o protótipo demonstrando um equilíbrio entre desempenho, manobrabilidade e facilidade de operação. Após os voos iniciais de aceitação e aprovação, o Neiva N-621 PP-ZTW foi encaminhado ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA), onde foi submetido a um rigoroso programa de ensaios em voo. Esses testes visavam validar a aeronave em diversas condições operacionais, garantindo sua adequação às especificações do Ministério da Aeronáutica (MAer) e sua prontidão para integração ao programa de treinamento da Força Aérea Brasileira (FAB).

O programa de desenvolvimento do Neiva N-621 seguiria para a fase de testes, e esta fase revelou que o desempenho inicial da aeronave não atendia integralmente às especificações estabelecidas pela Força Aérea Brasileira (FAB) para uma aeronave de treinamento avançado. A principal deficiência identificada foi a baixa potência do motor Lycoming IO-540-G1A5, originalmente instalado. Para superar essa limitação, a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. implementou uma solução técnica que envolveu a substituição do grupo propulsor por um motor radial Lycoming IO-540-K1D5, com 300 HP de potência, acoplado a uma hélice bipá de velocidade constante. O protótipo modificado foi submetido a um novo ciclo de ensaios em voo, conduzido pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Os resultados demonstraram melhorias significativas, com a aeronave atingindo: Velocidade máxima: 275 km/h, Razão de ascensão: 320 metros/minito, Teto operacional: 5.000 metros e Autonomia: 1.150 km. Esses novos parâmetros atenderam às exigências da Força Aérea Brasileira, culminando na homologação da aeronave pela diretoria de voo do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Em dezembro de 1967, o Ministério da Aeronáutica (MAer) formalizou um contrato com a Indústria Aeronáutica Neiva Ltda para a aquisição de 150 células do N-621, destinadas ao treinamento avançado de pilotos. A execução do contrato enfrentou desafios significativos devido à capacidade limitada da planta industrial da Neiva em Botucatu, que já estava comprometida com outros projetos, incluindo a produção do Neiva L-42 Regente. Para atender à demanda e ao cronograma estipulado, a empresa decidiu construir uma segunda fábrica em São José dos Campos, estrategicamente localizada próxima ao CTA. Contudo, atrasos burocráticos e problemas nos processos fabris impactaram o planejamento inicial, adiando a entrega do primeiro exemplar de produção em série para 7 de abril de 1971. Nesse ano, apenas quatro aeronaves foram entregues à Força Aérea Brasileira (FAB). A Neiva implementou melhorias na engenharia de processos da nova planta, o que resultou em um aumento gradual da capacidade produtiva. Em 1972, a produção alcançou 29 aeronaves, um número ainda insuficiente para atender à urgência da Força Aérea Brasileira (FAB) na substituição dos obsoletos North American T-6 Texan. No ano seguinte, 1973, a entrega de 45 aeronaves marcou um avanço significativo. Em 1974, foram produzidas 50 unidades, seguidas por 14 em 1975, completando assim o total de 150 células previstas no contrato
O contrato inicial firmado em 1967 entre o Ministério da Aeronáutica (MAer) e a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. previa a entrega de 150 aeronaves Neiva N-621 (posteriormente designadas T-25 Universal) à Força Aérea Brasileira (FAB). Contudo, devido a cortes orçamentários implementados pelo MAer durante o processo de produção, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu apenas 140 células. Como a Neiva já havia fabricado as 150 aeronaves contratadas, as 10 unidades excedentes foram armazenadas, criando a necessidade de encontrar um destino para esse lote. Para resolver a questão do excedente, a Neiva lançou uma iniciativa comercial voltada ao mercado de defesa da América Latina. Esses esforços foram bem-sucedidos em meados de 1976, quando as 10 aeronaves foram adquiridas pelo governo chileno para uso pela aviação militar do Exército do Chile. As células foram empregadas intensivamente em missões de treinamento e ligação até o final da década de 1990, demonstrando sua robustez e adequação às operações militares. A Força Aérea Paraguaia (FAP) tornou-se o terceiro operador militar do T-25 Universal ao adquirir, logo após a exportação para o Chile, um lote de aeronaves excedentes da FAB. Em 1997, esse inventário foi complementado com a doação de seis células pelo governo chileno, que haviam sido retiradas de serviço ativo no início da década de 1990 e mantidas em armazenamento. Em 2005, como parte de uma iniciativa de fortalecimento das relações regionais, o governo brasileiro doou 12 aeronaves T-25 Universal, revisadas pelo Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS). Seis unidades foram destinadas à Força Aérea Boliviana (FAB) e outras seis à Força Aérea Paraguaia (FAP). Essas aeronaves passaram por manutenção completa para garantir sua operacionalidade antes da entrega. Até o presente momento, as aeronaves T-25 Universal doadas à Bolívia e ao Paraguai permanecem em serviço ativo, desempenhando papéis em treinamento e outras missões operacionais. A longevidade dessas células reflete a qualidade do projeto original e a eficácia das revisões realizadas, consolidando o impacto do T-25 Universal na aviação militar de países da América Latina. O T-25 Universal também ocupa um lugar importante na memória da aviação brasileira. Como o primeiro monomotor de alto desempenho produzido em série no Brasil, ele simboliza o pioneirismo e a inovação da indústria nacional em um período de consolidação tecnológica. Sua história, desde o desenvolvimento até sua operação em múltiplos países, é frequentemente celebrada em museus, eventos aeronáuticos e publicações especializadas, reforçando seu status como ícone da engenharia brasileira.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Conforme o cronograma contratual ajustado entre a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. e o Ministério da Aeronáutica (MAer), as primeiras unidades do Neiva T-25 Universal começaram a ser entregues em maio de 1971 ao Centro de Formação de Pilotos Militares (CFPM), localizado em Natal, Rio Grande do Norte. Nesse período, o T-25 passou a atuar como aeronave intermediária no processo de instrução, operando em conjunto com as aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, destinadas ao treinamento primário, e os jatos Cessna T-37C Tweety Bird, utilizados no treinamento avançado. Durante sua operação no CFPM, o T-25 demonstrou desempenho excepcional, acumulando 7.000 horas de voo dedicadas à instrução de pilotos militares. Em 1973, como parte de um processo de reorganização determinado pelo MAer, o CFPM foi oficialmente desativado. As aeronaves Neiva T-25 Universal foram então transferidas para a Academia da Força Aérea (AFA), sediada em Pirassununga, São Paulo. Na academia, o T-25 Universal assumiu o papel de treinador básico padrão, sendo utilizado até 1978. Durante esse período, o treinamento avançado continuou a ser realizado pelos jatos Cessna T-37C, complementando o programa de formação de pilotos. A partir de 1979, a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou uma reavaliação do uso de aeronaves a jato no estágio avançado do treinamento de pilotos, motivada por desafios operacionais significativos associados ao Cessna T-37C. Esses desafios incluíam: Baixa disponibilidade da frota: Influenciada por múltiplos acidentes graves, fadiga estrutural e dificuldades no suprimento de peças de reposição. Altos custos operacionais: Decorrentes do elevado consumo de combustível e da manutenção dos dois motores a jato. Diante desse cenário, o Ministério da Aeronáutica (MAer) decidiu retirar o Cessna T-37C do treinamento avançado, substituindo-o temporariamente pelo Neiva T-25 Universal. Apesar de projetado inicialmente como treinador básico, o T-25 adaptou-se satisfatoriamente à função de treinamento avançado, desempenhando-a com eficácia e confiabilidade. A utilização do T-25 Universal no treinamento avançado foi mantida como solução provisória até a incorporação dos novos treinadores turboélices Embraer EMB-312 T-27 Tucano, cuja entrega à FAB começou no final de 1983. A chegada do T-27 marcou o início de uma nova fase na formação de pilotos militares, com maior eficiência e desempenho, encerrando o ciclo do T-25 como treinador avançado. O excelente desempenho da aeronave, levaria a Força Aérea Brasileira a expandir o leque de atribuições dos Neiva T-25 Universal, quando em fins de 1973, algumas células passaram a dotar a 2º Esquadrilha de Ligação e Observação (2º ELO) que eram responsáveis pelas missões em proveito aos meios navais da Marinha do Brasil, passando a substituir aeronaves antigas como os North American T-28R-1 e T-28A(S) e os Pilatus P-3.04. 

A partir de 1984, o Neiva T-25 Universal foi completamente retirado das funções de treinamento avançado, sendo redesignado para o treinamento básico na Força Aérea Brasileira (FAB). Nesse novo papel, o T-25 substituiu gradualmente as aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, com o processo de substituição concluído em 1º de outubro de 1984. A transição consolidou o T-25 como a principal plataforma de instrução básica, aproveitando suas características de manobrabilidade, confiabilidade e configuração otimizada, com uma cabine ampla e canopy de alta visibilidade, ideais para a formação inicial de pilotos. A partir de 1974, o T-25 Universal também foi integrado à formação de oficiais da reserva de 2ª categoria, uma missão conduzida pelo Centro de Aplicações Táticas e Recomplementação de Equipagens (CATRE), localizado em Natal, Rio Grande do Norte. Nesse contexto, as aeronaves foram alocadas ao 2º Esquadrão de Instrução Aérea (2º EIA), onde desempenharam funções multifuncionais, incluindo: Instrução primária, básica e avançada e Treinamento operacional de pilotos em seu último ano de formação. Essa versatilidade permitiu ao T-25 atender a uma ampla gama de necessidades de instrução, reforçando sua relevância no sistema de formação de pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB). Durante sua operação no CATRE, o T-25 Universal foi utilizado para ensaiar a doutrina básica de emprego armado, antecipando sua aplicação em missões operacionais. Essa iniciativa respondia à necessidade urgente de substituir os obsoletos North American AT-6, que até então desempenhavam missões de contra-insurgência nos Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA). O T-25 demonstrou potencial para operar em cenários táticos, pavimentando o caminho para sua adaptação a funções de ataque leve. Para atender a essa demanda operacional, o contrato original firmado entre o Ministério da Aeronáutica (MAer) e a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. incluiu a entrega de 20 células do Neiva T-25 Universal modificadas para missões de ataque ao solo, designadas como AT-25. Essas aeronaves foram projetadas para integrar um novo conceito operacional centrado nos Esquadrões Mistos de Operações Aéreas Especiais, que promoviam a coordenação entre diferentes plataformas, incluindo: Aeronaves de ataque ao solo; Aeronaves de ligação e observação e Helicópteros de apoio tático. Essa abordagem representou uma evolução significativa das antigas Esquadrilhas de Reconhecimento e Ataque (ERA), oferecendo maior flexibilidade e eficácia em operações combinadas.
A decisão de retirar os jatos Cessna T-37C do programa de treinamento avançado da Força Aérea Brasileira (FAB), devido a desafios como altos custos operacionais, indisponibilidade da frota e problemas de manutenção, levou a uma reestruturação nos estágios de formação de pilotos na Academia da Força Aérea (AFA). Nesse contexto, o Neiva T-25 Universal foi temporariamente redesignado para assumir a função de treinador avançado, preenchendo a lacuna deixada pelo T-37C. Essa transição abriu uma oportunidade estratégica para o desenvolvimento de um novo treinador avançado de fabricação nacional, capaz de atender às demandas de desempenho superior exigidas pela  Força Aérea Brasileira (FAB). Reconhecendo a oportunidade, a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. iniciou o desenvolvimento de uma aeronave que superasse as limitações do T-25 Universal em missões de treinamento avançado. A diretoria técnica da empresa revisitou o projeto do YT-25A, utilizando-o como base para a criação do protótipo do “Universal II”. Esse desenvolvimento foi conduzido com recursos próprios da Neiva, demonstrando o compromisso da empresa com a inovação e a autonomia tecnológica na indústria aeronáutica brasileira. O protótipo do Universal II foi desenvolvido a partir de uma célula original do T-25 Universal, especificamente a aeronave com matrícula FAB 1830, que foi a primeira unidade produzida em série. A prática de utilizar aeronaves de início de produção como base para novos protótipos é comum na indústria aeronáutica, e a FAB 1830 foi selecionada para essa finalidade. As principais modificações realizadas incluíram: Motorização aprimorada: Instalação do motor Lycoming IO-720-A1A, de 400 hp, com 8 cilindros opostos, semelhante ao utilizado no Piper PA-24-400 Comanche. Esse motor representava um aumento significativo de potência em relação ao Lycoming IO-540-G1A5 de 290 hp do T-25 original ; Hélice: Acoplamento de uma hélice Hartzell de três pás, otimizada para o novo motor; Alterações estruturais: Ajustes no peso e comprimento da aeronave para acomodar o motor mais potente e garantir o equilíbrio aerodinâmico. O protótipo do Neiva YT-25A Universal II realizou seu voo inaugural em 7 de abril de 1971, demonstrando desempenho superior e gerando expectativas positivas para sua adoção como treinador avançado. As melhorias na potência e na aerodinâmica posicionaram o Universal II como um candidato viável para suceder o Cessna T-37C, oferecendo uma solução nacional com custos operacionais reduzidos.

Apesar do revés com o YT-25A, a equipe de projetos da Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda retomou os esforços para desenvolver uma versão aprimorada do Universal II, agora designada Neiva N-622 Universal II. Esse projeto incorporou avanços técnicos significativos, incluindo: Motorização aprimorada: Adoção do motor a pistão Lycoming IO-740, de 8 cilindros opostos e 400 hp, amplamente utilizado em aeronaves da Piper Aircraft Company, conhecido por sua confiabilidade e desempenho. Hélice: Substituição da hélice bipá original por uma hélice Hartzell de três pás, otimizada para o novo motor. Modificações estruturais: Aumento do comprimento do capô para acomodar o motor de maiores dimensões, contribuindo para a melhoria do perfil aerodinâmico, uma solução semelhante à aplicada nos caças alemães Focke-Wulf FW-190 durante a década de 1940. Ajuste na superfície vertical da cauda, que foi elevada para manter o equilíbrio e a estabilidade da aeronave. O desenvolvimento do N-622 Universal II previa, a longo prazo, a criação de uma variante com assentos em configuração tandem (um à frente do outro), visando melhorar a visibilidade e a interação entre piloto e instrutor (o que se revelava uma tendencia na aviao de combate moderna). Esse conceito foi formalizado no projeto N-721, apresentado oficialmente ao comando do  Ministério da Aeronáutica (MAer) no final do ano de 1977. O primeiro protótipo do N-622 Universal II, designado oficialmente como YT-25B e registrado com a matrícula FAB 1831, foi concluído em abril de 1978. Os voos de avaliação tiveram início em 22 de outubro de 1978, em São José dos Campos, São Paulo contando com o apoio da equipe do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Embora o protótipo tenha demonstrado desempenho satisfatório, sua superioridade em relação ao T-25 Universal original se mostrou bem limitada, exceto destacando-se principalmente pela capacidade de transportar até 500 kg de carga bélica em quatro pontos fixos sob as asas.  A equipe do fabricante planejava equipar o N-622 Universal II com um motor turboélice Pratt & Whitney PT-6A com maior potencia em uma fase futura, o que poderia proporcionar um desempenho significativamente superior e maior capacidade de transporte de armamento. Contudo, os requisitos da  Força Aérea Brasileira (FAB) para um treinador avançado turboélice  evoluíram, superando as especificações propostas pelo projeto do YT-25B N-622 Universal II. 
Diante da evolução dos requisitos para um treinador avançado, o Comando da Força Aérea Brasileira (FAB) optou pela proposta apresentada pela Embraer S/A, que culminou no desenvolvimento do Embraer EMB-312 T-27 Tucano. Este programa foi liderado pelo engenheiro Joseph Kovacks, ex-integrante da Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda., cuja experiência com o projeto do Neiva T-25 Universal influenciou o design do T-27. A produção do T-27 Tucano teve início em 1983, marcando o encerramento das perspectivas de desenvolvimento do Neiva N-622 Universal II, que não conseguiu atender às novas exigências da FAB. A decisão de priorizar o T-27 Tucano representou um revés significativo para a Neiva, marcando o fim de suas aspirações como fornecedora de uma nova aeronave de treinamento avançado. Em 1982, a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. foi adquirida pela Embraer S/A, passando a focar na produção de aeronaves agrícolas, como o EMB-202 Ipanema, e na fabricação sob licença de aviões leves da Piper Aircraft. Essa aquisição consolidou a transição da Neiva de uma empresa independente para uma subsidiária integrada ao portfólio da Embraer. Após o abandono do projeto N-622 Universal II, o protótipo YT-25B, registrado com a matrícula FAB 1831, foi incorporado à frota do Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS), em Minas Gerais. O PAMA-LS, dedicado à manutenção de nível parque das aeronaves Neiva T-25 Universal e Embraer T-27 Tucano, utilizou o YT-25B como aeronave orgânica para missões de ligação. Essa redesignação garantiu a continuidade operacional da célula, ainda que em um papel secundário. Na década de 1990, o YT-25B foi submetido ao mesmo programa de modernização aplicado à frota de aeronaves T-25 Universal. O retrofit estrutural incluiu melhorias significativas, tais como: Atualização dos sistemas de comunicação por rádio; Integração de GPS para navegação e  Instalação de equipamentos aprimorados de VOR/NDB. Essas modificações prolongaram a vida útil do protótipo, permitindo sua operação contínua em missões de apoio logístico e ligação. Atualmente, o Neiva YT-25B Universal permanece em operação na FAB, desempenhando funções de ligação no âmbito do PAMA-LS. Sua longevidade operacional reflete a robustez do projeto original e a eficácia das modernizações realizadas, consolidando o papel da aeronave como um ativo funcional mesmo após o término de seu desenvolvimento como treinador avançado. O desenvolvimento dos projetos Neiva YT-25A e N-622 Universal II demonstra o compromisso da Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. em atender às demandas da FAB por um treinador avançado de fabricação nacional. Apesar das inovações introduzidas, como o motor Lycoming IO-740 de 400 hp, a configuração tandem proposta no projeto N-721 e a capacidade de transporte de carga bélica, os projetos enfrentaram desafios relacionados à priorização de recursos e à competição com o T-27 Tucano.

Em Escala.
Para a representação do Neiva YT-25B Universal II, registrado como "FAB 1831", foi utilizado como base o kit em resina produzido pela GIIC Models na escala 1/48. Com o objetivo de reproduzir com precisão as alterações introduzidas no projeto do YT-25B Universal II, foram realizadas as seguintes modificações no kit: Extensão do nariz: Ajuste no capô da aeronave para refletir o aumento de comprimento necessário à acomodação do motor Lycoming IO-740, conforme o design original. Estabilizador traseiro: Modificação da superfície vertical da cauda, que foi elevada para corresponder às especificações do protótipo, garantindo equilíbrio aerodinâmico. Hélice: Substituição da hélice original por uma hélice tripá Hartzell, representando a configuração utilizada no YT-25B. Fizemos uso de decais conjuntos confeccionados pela FCM Decais e Duarte Decais, pertencentes a vários sets.
O esquema de cores descrito, baseado no sistema Federal Standard (FS), corresponde ao padrão de pintura tático atualmente aplicado ao Neiva YT-25B Universal II, implementado pela Força Aérea Brasileira (FAB) a partir de 1997. Este padrão reflete as diretrizes estéticas e funcionais adotadas para aeronaves táticas da FAB, otimizando a camuflagem e a identificação em operações. Anteriormente seriam empregados outros dois padrões de camuflagem, primeiramente semelhante ao usado nos Neiva AT-25 Universal em serviço junto aos Esquadrões Misto de Reconhecimento e Ataque – EMRA, e posteriormente igual ao padrão aplicado nos Embraer AT-27 Tucano pertencentes ao 3º Grupo de Aviação. Empregamos tintas, vernizes e whases produzidos pela Tom Colors .


Bibliografia:

- Neiva T-25  Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Neiva_T-25
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 por Jackson Flores Junior
- Um Peixe Fora D Agua – Neiva T-25 Universal - Prof. Rudnei Dias Cunha – Revista Forca Aérea N 79

Viatura Blindada Esp Antiminas M-4


História e Desenvolvimento.
Na Europa, na segunda metade da década de 1930, o plano de rearmamento implementado pelo governo nacional-socialista Alemão adotava uma nova abordagem ao concentrar-se no desenvolvimento de conceitos e doutrinas militares. Esses conceitos seriam posteriormente integrados no campo de batalha, combinando novas tecnologias em equipamentos e armamentos destinados ao combate terrestre com o devido apoio aéreo. Tal iniciativa culminou na elaboração do conceito de "Guerra Relâmpago" ou Blitzkrieg. Essa tática tinha como um de seus principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, os quais se destacavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Nesse contexto, os novos carros de combate alemães eram projetados para serem superiores em todos os aspectos em relação a seus concorrentes disponíveis na época. Embora o Tratado de Versalhes, firmado após o término da Primeira Guerra Mundial, impusesse limitações significativas à Alemanha, os programas de reaparelhamento das forças armadas nazistas avançavam rapidamente. Do outro lado do Oceano Atlântico, o serviço de inteligência dos Estados Unidos informava continuamente o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) sobre esses avanços e as iminentes ameaças que poderiam surgir. As análises preliminares desses relatórios indicavam que os novos carros blindados alemães superariam facilmente os modelos utilizados até então. Para enfrentar essa situação desafiadora, em abril de 1939, foi iniciado um abrangente programa de estudos com o objetivo de desenvolver novos carros de combate, cujo propósito principal era substituir os obsoletos modelos M-1 e M-2, que constituíam a espinha dorsal das forças blindadas da nação. O objetivo primordial deste plano era conceber veículos de combate capazes de rivalizar, em potenciais cenários de conflito, com os novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em fase inicial de operação. Em julho de 1939, foi deflagrado um programa de desenvolvimento que ficaria sob a responsabilidade das equipes de projeto de veículos blindados do Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia. Imediatamente, os trabalhos conceituais foram iniciados, estabelecendo diversos parâmetros de projeto com base no carro de combate M-2. Dentre os principais aspectos destacava-se a adoção do novo canhão M-22 de calibre 37 mm e um sistema de blindagem dimensionado para resistir a impactos de munições antitanque do mesmo calibre que a arma principal. Apesar dessa iniciativa, persistia a dúvida sobre a real capacidade de proteção que o nível de blindagem proporcionaria ao "M-3 Light Tank", assim como a efetividade de seu poder de fogo frente aos novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em desenvolvimento naquele momento.

Os temores expressos por uma significativa parcela dos oficiais de comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) foram confirmados em junho de 1940, com o início da campanha na França. Durante este conflito, os novos carros blindados alemães Panzer III e Panzer IV, operando segundo os princípios da guerra relâmpago (Blitzkrieg), obtiveram vitórias esmagadoras contra os melhores carros de combate franceses e britânicos disponíveis na época. Tornou-se evidente que o canhão M-22 de 37 mm se mostrava completamente ineficaz, tornando necessário equipar os novos carros de combate norte-americanos com um canhão de calibre 75 mm. Entretanto, nem os antigos M-2, nem os novos M-3 poderiam ser adaptados para acomodar essa arma, uma vez que seu peso maior exigiria o desenvolvimento de uma nova torre giratória. Embora essa abordagem estivesse sendo considerada, buscou-se simultaneamente uma solução provisória, que envolveu uma modificação experimental de um M-2, resultando na criação de um obuseiro autopropulsado de 75 mm, com o canhão sendo projetado pelo Watervliet Arsenal. Os testes de campo desse protótipo levaram à conclusão de que o chassi do M-2 existente poderia ser utilizado em combinação com uma superestrutura redesenhada, mantendo ainda a arma de 37 mm instalada em uma torre giratória. O novo carro de combate M-3 apresentava, assim, um design incomum, já que a arma principal, o canhão M-2 de 75 mm, não estava instalado em uma torre giratória, mas sim fixada ao chassi. Essa configuração resultou da falta de experiência da indústria norte-americana na concepção de uma torre que pudesse abrigar uma arma desse calibre. Ressalta-se que a solução de empregar dois canhões foi inspirada em modelos europeus, como o Char B1 francês e o Churchill Mark I britânico. No caso do Char B1, o veículo foi projetado como um canhão autopropulsado, destinado a atacar fortificações, com uma capacidade antitanque adicional proporcionada por um segundo canhão em uma pequena torre. Já o modelo inglês incorporava uma arma montada no casco dianteiro, utilizada principalmente para disparar projéteis de fumaça. O novo M-3 diferia ligeiramente dos padrões europeus, apresentando um canhão principal de dupla finalidade, capaz de disparar um projétil perfurante a uma velocidade suficiente para penetrar efetivamente a armadura, além de lançar um projétil altamente explosivo que era considerável o suficiente para ser eficaz em combate. Contudo, a disposição do canhão de 75 mm comprometeu significativamente o deslocamento lateral da peça, obrigando o veículo a manobrar para otimizar o ângulo de tiro. Por sua vez, o canhão de 37 mm, montado na torre principal, revelou-se de pouca utilidade diante das blindagens mais sofisticadas. Apesar dessas preocupações, o M-3 poderia ser produzido em larga escala e com maior rapidez em comparação aos carros de combate convencionais, atendendo, assim, às demandas emergenciais não apenas dos Estados Unidos, mas também da Grã-Bretanha.
No final de janeiro de 1942, os primeiros tanques M-3 Grant, fornecidos pelos Estados Unidos, chegaram ao Norte da África para reforçar as forças britânicas. As tripulações foram submetidas a um rigoroso programa de treinamento, com o objetivo de prepará-las para confrontos contra as forças do Eixo. O canhão principal M-2 de 75 mm, baseado em um modelo de artilharia de campanha francês, permitiu ao Exército Real Britânico utilizar amplos estoques de munição remanescentes da Primeira Guerra Mundial. Dentre os projéteis disponíveis, destacava-se o perfurante de tiro sólido, capaz de penetrar aproximadamente 50 mm de blindagem a uma distância de 1.000 metros. Embora superior aos canhões de 2 libras equipados nos tanques britânicos da época, o desempenho do M-3 ainda não atendia plenamente aos padrões exigidos para operações de combate. O batismo de fogo do M-3 Grant ocorreu em 27 de maio de 1942, durante a Batalha de Gazala, no Norte da África. Sua introdução representou uma surpresa tática para as forças alemãs, que não estavam preparadas para enfrentar o canhão de 75 mm. O M-3 demonstrou superioridade em relação ao canhão antitanque Pak 38 de 50 mm e ao KwK 39 de 50 mm montado no Panzer III, principal tanque médio alemão. Adicionalmente, o M-3 superou os tanques leves italianos Fiat M13/40 e M14/41, cujo canhão de 47 mm apresentava eficácia limitada a curtas distâncias. Apenas os canhões autopropulsados italianos Semoventi 75/18, utilizando projéteis HEAT, eram capazes de neutralizar o M-3 de forma eficaz. Apesar dessas vantagens iniciais, os M-3 Grant não conseguiram assegurar a vitória na Batalha de Gazala. Foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso-potência e armadura rebitada. Esta última apresentava a desvantagem de gerar ricochetes internos dos rebites sob impacto, causando ferimentos às tripulações. Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico, enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição. Para otimizar os recursos industriais disponíveis, decidiu-se desenvolver um novo modelo que preservasse elementos do design do M-3, mas incorporasse melhorias significativas, como uma torre giratória de 360 graus para o canhão de 75 mm.

Em outubro de 1941, o protótipo do Medium Tank M-4, posteriormente conhecido como Sherman, foi concluído na fábrica da Baldwin Locomotive Co., na Filadélfia. Com um peso bruto de 30 toneladas, o M-4 utilizava o eficiente sistema de Suspensão Vertical por Mola Voluta (VVSS) e era equipado com o motor aeronáutico a gasolina Curtiss-Wright Continental R-975E, que entregava 330 hp de potência. Este novo tanque representou um avanço significativo em relação ao M-3, oferecendo maior flexibilidade tática e capacidade de adaptação às demandas do campo de batalha. O projeto do tanque M-4 Sherman foi orientado pela simplicidade estrutural, com o objetivo de facilitar a produção em larga escala para atender à crescente demanda das forças aliadas. A meta inicial previa a entrega de aproximadamente 2.000 veículos por mês. Após extensos testes de campo, foram implementadas correções e melhorias no projeto original, culminando na primeira versão de produção, o M-4A1, cuja fabricação foi iniciada em fevereiro de 1942. Para atender às especificações do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), foi desenvolvido o modelo M-4A2, que substituiu o motor original a gasolina pelo motor diesel General Motors Twin 6-71. Essa alteração visava unificar o tipo de combustível utilizado pelas forças blindadas com o empregado pela frota naval, otimizando a logística. Posteriormente, a pedido do Exército dos Estados Unidos (US Army), foi criada a variante M-4A3, equipada com o motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 hp, proporcionando maior potência. A versão final de produção, o M-4A4, tornou-se disponível em julho de 1942. Embora visualmente semelhante ao M-4A1, o M-4A4 distinguia-se por seu chassi construído com chapas retas soldadas, em vez de uma peça única fundida. As primeiras unidades apresentavam uma blindagem frontal tripartida, unida por parafusos, característica herdada diretamente do tanque M-3 Lee. O M-4 Sherman teve seu batismo de fogo em 23 de outubro de 1942, durante a Segunda Batalha de El Alamein, no Norte da África, conduzida pelo 8º Exército Britânico. Operado por tripulações britânicas experientes, o M-4 demonstrou superioridade significativa em relação ao M-3 Lee/Grant, enfrentando com êxito os tanques alemães Panzer. Contudo, quando empregado pelo Exército dos Estados Unidos na Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, o desempenho foi comprometido pela inexperiência das tripulações da 1ª Divisão Blindada, resultando em pesadas perdas. No teatro de operações europeu, o M-4 Sherman foi introduzido durante a Operação Husky, a invasão da Sicília, em julho de 1943. Operando ao lado dos tanques leves M-3 Stuart, os M-4A1 enfrentaram forte resistência dos canhões antitanque alemães e italianos. Em 11 de julho de 1943, os M-4 prestaram apoio crucial à infantaria aliada em Piano Luco. Durante os combates na Itália, as forças aliadas sofreram a perda de centenas de veículos, mas a 3ª Brigada da 1ª Divisão Blindada alcançou êxito ao entrar em Roma.
O M-4 Sherman desempenhou um papel decisivo na Operação Overlord, o desembarque na Normandia, em junho de 1944. Apesar de sofrerem pesadas perdas contra os avançados tanques alemães Tiger e Panther, os M-4 foram fundamentais no confronto com os Panzer ao longo da campanha europeia. No teatro de operações do Pacífico, o M-4 Sherman tornou-se a principal arma blindada do Corpo de Fuzileiros Navais (USMC). Centenas de unidades foram empregadas, incluindo versões especializadas equipadas com lança-chamas, marcando a primeira adaptação em larga escala da plataforma M-4 para funções específicas. A simplicidade de projeto e a robustez mecânica do tanque M-4 Sherman consolidaram-no como o principal carro de combate médio das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, substituindo integralmente os modelos M-3 Stuart e M-3 Lee nas linhas de frente. Com o objetivo de padronizar a logística de suprimentos, incluindo peças de reposição e processos de manutenção, foi decidido o desenvolvimento de uma família de veículos especializados e utilitários baseados na plataforma do M-4 Sherman. O primeiro modelo derivado a entrar em serviço foi o M-32 Recovery Vehicle, projetado para realizar operações de recuperação de veículos pesados no campo de batalha. As primeiras unidades do M-32 foram introduzidas no início de 1943. Subsequentemente, outras variantes foram desenvolvidas, incluindo o obuseiro autopropulsado M-7 Priest e o M-4 equipado com lança-chamas, ampliando a versatilidade da plataforma para atender às diversas demandas operacionais.Após o término da Segunda Guerra Mundial, milhares de tanques M-4 Sherman foram desativados pelas forças aliadas. Muitos desses veículos foram doados a nações europeias, que, em diversos casos, os revenderam como sucata para outros países, como Argentina e Israel. Nos Estados Unidos, os M-4 remanescentes continuaram em serviço ativo até meados de 1957, quando foram gradualmente retirados das unidades operacionais e transferidos para a reserva tática. A partir desse período, os tanques passaram a ser fornecidos a nações alinhadas com a política externa norte-americana por meio do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP). Em diversos países beneficiados pelo MAP, novas versões especializadas do M-4 Sherman foram desenvolvidas localmente, adaptadas às necessidades regionais. Essas variantes prolongaram a vida útil do tanque, com muitos permanecendo em serviço ativo até meados da década de 1980, demonstrando a durabilidade e a flexibilidade da plataforma. O M-4 Sherman destacou-se não apenas por sua eficácia no campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, mas também por sua capacidade de adaptação a diferentes funções por meio de variantes especializadas. Sua ampla distribuição pós-guerra e o desenvolvimento de versões regionais consolidaram seu legado como um dos tanques mais influentes do século XX, com impactos significativos nas forças armadas de diversas nações até décadas após o conflito.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A capitulação da França em junho de 1940 intensificou essas preocupações, uma vez que a ocupação de colônias francesas, como as Ilhas Canárias e Dacar, poderia proporcionar bases operacionais para as forças nazistas, ampliando a ameaça à América. Nesse cenário, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável a uma potencial invasão, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também estava sob os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul consolidaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, indispensável à indústria bélica. Geograficamente, o litoral nordeste brasileiro revelou-se estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e portos, sendo o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano para o translado aéreo. Assim, a costa brasileira tornou-se fundamental para o transporte de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Diante desse cenário, foi iniciada uma política de maior aproximação entre Brasil e Estados Unidos, resultando em acordos de cooperação econômica e militar. Um dos marcos dessa colaboração foi a adesão do Brasil ao programa de assistência militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), cujo objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras. Naquela conjuntura, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, com equipamentos, armamentos e doutrinas operacionais em estado de obsolescência. Os termos do acordo proporcionaram ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico. Esse investimento possibilitou o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate, fortalecendo a capacidade militar do país. Apesar dos esforços de modernização, os primeiros tanques M-4 Sherman foram fornecidos ao Exército Brasileiro somente em julho de 1945, com a entrega inicial de 17 unidades. A incorporação desses veículos aos Batalhões de Carros de Combate (BCC) representou um avanço significativo no poder tático da força blindada brasileira. Comparados aos modelos M-3A1 Stuart e M-3 Lee, em uso desde 1942, os M-4 Sherman apresentavam superioridade em termos de desempenho, blindagem e poder de fogo, elevando o padrão operacional das unidades blindadas. 

Entre o início e meados da década de 1950, o Exército Brasileiro recebeu um lote suplementar de 30 tanques M-4 Sherman, fornecidos no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), promovido pelos Estados Unidos. Apesar de sua quantidade inferior em comparação com os tanques M-3 Stuart e M-3 Lee, os M-4 Sherman assumiram a posição de vanguarda na força blindada brasileira, desempenhando um papel central nas operações táticas. Contudo, ao final da década, ficou evidente que o M-4 Sherman estava tecnologicamente obsoleto, exigindo sua substituição urgente para atender às necessidades operacionais modernas. A resposta a essa demanda concretizou-se em 14 de agosto de 1960, com a chegada dos primeiros 50 tanques M-41 Walker Bulldog ao porto do Rio de Janeiro, marcando o início de um processo gradual de substituição dos M-4 Sherman. Nos anos subsequentes, foram incorporadas 275 unidades da versão modernizada M-41A1 e 55 unidades da versão mais avançada, M-41A3. Com a introdução desses novos veículos, a maior parte da frota de M-4 Sherman foi transferida para a reserva estratégica, reduzindo sua utilização em operações ativas. A partir de meados da década de 1960, o governo brasileiro passou a priorizar a redução da dependência de fornecedores estrangeiros para a aquisição de equipamentos militares. Nesse contexto, foram iniciados estudos conceituais voltados ao projeto e desenvolvimento de veículos blindados de fabricação nacional. Em 1967, foi criado um grupo de trabalho no Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, com a missão de coordenar essas iniciativas. Esse grupo evoluiu posteriormente para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), consolidando-se como um marco no avanço tecnológico militar do país. Os trabalhos iniciais do CPDB concentraram-se na substituição de motores a gasolina por modelos a diesel em diversos veículos, incluindo os M-3 Stuart, M-3 Lee e M-5 White (meia-lagarta). O sucesso dessas modificações incentivou a equipe a progredir na nacionalização de sistemas mais complexos, com o objetivo de estabelecer as bases para a produção seriada de veículos blindados sobre rodas e lagartas. O primeiro estágio desse processo envolveu estudos para a modernização da frota de tanques obsoletos, como os M-3, M-3A1 Stuart e M-4 Sherman, visando adaptá-los às ameaças e exigências táticas da década de 1960. Em meados de 1969, os primeiros passos práticos para a modernização de veículos blindados brasileiros foram iniciados. Nesse contexto, dois tanques M-3A1 Stuart e um M-4 Sherman Composite Hull foram transferidos para o Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), localizado em São Paulo. Essas unidades foram destinadas ao início das atividades do programa de remotorização, marcando o começo de um esforço estratégico para atualizar a frota de carros de combate do Exército Brasileiro e prolongar sua vida útil operacional.
O carro de combate M-4 Sherman, registrado sob a matrícula EB11-721, um dos exemplares mais modernos deste modelo na frota do Exército Brasileiro, foi inicialmente selecionado para testes com a instalação de um motor Cummins Diesel de 460 hp, produzido nacionalmente. Embora aprovado tecnicamente, esse grupo propulsor não alcançou o índice desejado de nacionalização de componentes exigido nos parâmetros do projeto, sendo subsequentemente substituído pelo motor MWM Diesel de quatro tempos. Apesar da viabilidade técnica e financeira do programa ter sido comprovada, a escassez de recursos e a reduzida quantidade de M-4 Sherman em serviço, em comparação com os M-3 Stuart, levou à suspensão temporária do projeto de modernização, com a decisão de concentrar esforços no carro de combate leve. O programa de modernização do M-4 Sherman foi retomado em 1974, motivado pelos notáveis resultados obtidos em combate pelos M-4  modernizados das Forças de Defesa de Israel (IDF) contra forças árabes. Liderado pelo Tenente-Coronel Walter Catharino Finato, no âmbito do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), o veículo EB11-721 foi novamente utilizado como protótipo, sendo remotorizado com o motor MWM Diesel TD232 V12 de quatro tempos. Esse motor, em sua configuração padrão, desenvolvia 406 hp, mas, a pedido do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), foi modificado pelo fabricante para atingir 500 hp. Após adaptações internas para acomodar o motor, que possuía 1,69 metros de comprimento, além do turbocompressor e do sistema de refrigeração, o veículo foi submetido a testes em maio de 1975. A avaliação final constatou desempenho satisfatório, cumprindo o objetivo de nacionalização do motor. Uma das principais limitações do M-4 Sherman residia na largura estreita de suas lagartas, que resultava em frequentes atolamentos em terrenos irregulares. Para solucionar essa questão, optou-se pela substituição das lagartas por modelos mais largos, associados a um sistema de suspensão HVSS (Horizontal Volute Spring Suspension), mais moderno e eficiente, conforme utilizado na linha de produção dos M-4 Sherman nos Estados Unidos. O Exército Brasileiro decidiu empregar um conjunto de suspensão proveniente de um veículo blindado de engenharia e socorro VBE Soc M-74, recentemente desativado. Esses trabalhos foram executados nas instalações do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2) com o suporte técnico da empresa Bisseli Viaturas e Equipamentos Industriais Ltda. Durante o processo, todos os componentes de borracha da suspensão foram nacionalizados pela empresa Novatração Artefatos de Borracha S/A.

Entretanto, com o objetivo de priorizar a alocação de recursos no projeto de modernização dos blindados M-3 Stuart, o desenvolvimento do M-4 Sherman foi suspenso antes mesmo da construção de uma torre equipada com um canhão de 90 mm, semelhante à desenvolvida para o M-3 Stuart. Nesse período, iniciaram-se os primeiros estudos para a modernização da frota de carros de combate médios M-41 Walker Bulldog, que constituíam a espinha dorsal da força blindada brasileira. Essa iniciativa passou a ser considerada mais vantajosa para investimentos. Adicionalmente, os M-41 dispunham de um sistema de controle de tração por pivô, que permitia a inversão de uma das esteiras, possibilitando ao veículo girar sobre seu próprio eixo. Em contrapartida, os M-4 Sherman utilizavam o sistema de tração Cletrac, um mecanismo primitivo, originalmente empregado em tratores, que apresentava limitações significativas de mobilidade e demandava um raio de manobra consideravelmente maior para realizar a mesma operação. Diante da evidente obsolescência do projeto do M-4 Sherman como carro de combate, o Comando do Exército Brasileiro deliberou que, caso houvesse modernização dos Sherman, esses veículos seriam convertidos em viaturas de apoio. Em 1977, a Diretoria de Pesquisa e Ensino Técnico (DPET), em colaboração com a empresa Bernardini S/A, sediada em São Paulo, lançou uma nova iniciativa. Esse programa visava aproveitar a plataforma do M-4 Sherman para desenvolver uma viatura blindada especializada lança-pontes, designada como XLP-20. Contudo, o projeto revelou-se tecnicamente inviável, resultando em seu cancelamento precoce. Em 1983, o Centro de Tecnologia do Exército (CTEx), em parceria com a Bernardini S/A, iniciou um novo programa, baseado nos trabalhos previamente realizados pelo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2). Esse projeto utilizou o carro de combate M-4 Sherman EB11-721 e um veículo do modelo M-4A1, com o objetivo de desenvolver uma versão especializada para operações antiminas. A iniciativa atendia a uma demanda antiga do Exército Brasileiro, que carecia de um veículo com essa finalidade em sua frota. Para tanto, a torre com o canhão de 75 mm foi removida, e o veículo foi equipado com um novo motor nacional a diesel Scania DS14 V-8, de 400 hp, além de lagartas modernizadas. O veículo foi redesignado como M-4 "EB13-721", com o numeral 13 indicando sua classificação como carro blindado especializado. A partir de 1984, conforme a nova sistemática de registro da força blindada, o veículo foi rematriculado como "EB 34660003933". Esse novo modelo recebeu a instalação de um rolete antiminas, fabricado em aço de liga manganês, posicionado na parte frontal do veículo. O sistema foi desenvolvido pela Bernardini S/A, tendo como referência um dispositivo semelhante de origem russa, utilizado nos carros de combate T-55, e um sistema israelense conhecido como "Urdan".
O sistema em questão consistia em dois conjuntos de três rodas dentadas, montados sobre braços articulados, conferindo elevada flexibilidade. Com um peso de três toneladas, o mecanismo era capaz de detonar minas sem sofrer danos significativos, viabilizando a limpeza de campos minados. O projeto incluía, ainda, a possibilidade de equipar o veículo com uma lâmina frontal intercambiável tipo bulldozer, o que elevaria o peso total do veículo para 28 toneladas. Em termos conceituais, o M-4 Sherman antiminas atendia às especificações exigidas pelo Exército Brasileiro para esse tipo de viatura. Dois protótipos do M-4 Sherman antiminas foram finalizados no início de 1984 e encaminhados para testes no Campo de Provas de Marambaia, no Rio de Janeiro. Durante os ensaios, um dos protótipos demonstrou resistência à detonação de duas minas de 7 kg sobrepostas. Em um dos testes, realizado com o veículo M-4 EB 34660003933, foram enterradas minas em diferentes profundidades para avaliar a eficiência do sistema e a resistência do casco às vibrações decorrentes das explosões. Por medida de segurança, o blindado foi operado sem tripulantes, sendo tracionado por cabos de aço por um trator. No decorrer do teste, a primeira mina foi detonada pelo sistema de roldanas. Contudo, uma segunda mina, enterrada a maior profundidade, não detonou ao entrar em contato com o equipamento, ficando alojada entre as roldanas e o primeiro rolete da esteira esquerda. O teste foi suspenso, mas, devido à limitação de tempo para a remoção da mina — uma vez que o campo de provas estava reservado para uso pela Engesa S/A em menos de uma hora —, decidiu-se acionar o veículo e engatar a marcha à ré. O movimento brusco da mudança de marcha causou a detonação da mina, resultando na destruição da esteira esquerda e no deslocamento de uma das carretas do M-4. O condutor, felizmente, permaneceu ileso. Esse incidente revelou que as roldanas do sistema não possuíam peso suficiente para detonar minas enterradas em maiores profundidades, o que levou ao abandono definitivo do programa do M-4 Sherman antiminas. Conforme previsto no projeto original, o veículo deveria incorporar uma lâmina niveladora tipo bulldozer, mas esse componente não foi instalado em nenhum dos protótipos. Após a desativação do sistema antiminas, os M-4 Sherman foram deixados nas instalações do Centro de Tecnologia do Exército (CTEx). Posteriormente, o veículo M-4 EB 34660003933 foi requisitado para preservação pelo Museu Conde de Linhares, sendo transferido para o Parque Regional de Motomecanização da 1ª Região Militar (PqRMM/1), onde aguarda recursos para restauração.

Em Escala.
Para a representação do M-4 Sherman  em sua versão antiminas "EB 34660003933", utilizou-se o kit do M4-A1 da Italeri na escala 1/35, combinado com componentes do sistema de suspensão do tipo HVSS provenientes do kit da Tamiya. O sistema de rolete antiminas foi desenvolvido em scratch, utilizando peças do modelo T-72 da Trumpeter KT-5 Mine Roller, que se presume ser semelhante ao dispositivo empregado como base para a versão nacional. Foram aplicados decais diversos, produzidos pela Decals & Books, pertencentes ao set   "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão tático de camuflagem em dois tons adotado a partir de 1983, com o qual o EB 34660003933 foi pintado para sua fase de apresentação e testes de campo. Anteriormente os dois protótipos envolvidos neste projeto ostentavam o padrão de pintura em verde oliva total empregado entre 1942 e 1983.




Bibliografia :

- M-4 Sherman - Wikipédia  http://pt.wikipedia.org/wiki/M4_Sherman
- M-4 Sherman no Brasil , por Helio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Junior 
- Blindados no Brasil Volume II – Expedito Carlos Stephani Bastos

Embraer EMB-312 T-27 Tucano

História e Desenvolvimento.
No início da década de 1960, a Força Aérea Brasileira estava comprometida com um ambicioso programa de integração nacional. Nesse contexto, quase toda a sua frota de aeronaves Douglas C-47 e Beechcraft C-45 foi empregada, com o objetivo de expandir não apenas as linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), mas também de realizar missões de assistência logística e médica nas regiões mais remotas do país. Entretanto, com o passar dos anos e o uso intensivo, essas aeronaves começaram a apresentar desgastes estruturais significativos, o que impactou diretamente nos índices de indisponibilidade da frota. Esse problema foi agravado pelas dificuldades na obtenção de peças de reposição, sinalizando a necessidade urgente de substituir integralmente essa frota. Nesse cenário, o Coronel Ozires Silva apresentou ao comando da Aeronáutica a proposta de desenvolver uma aeronave bimotora nacional de médio porte. Seus esforços começaram a tomar forma em junho de 1965, em colaboração com o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, quando foi lançado o projeto IPD-6504. Este projeto envolvia uma aeronave bimotora de asa baixa, com estrutura metálica, medindo 12,74 m de comprimento, janelas em formato de bolha e capacidade para oito passageiros. A construção do primeiro protótipo foi iniciado em 1967, utilizando motores turboélice Pratt & Whitney PT6A-20, cada um com potência de 550 shp. A aeronave recebeu a designação oficial de YC-95 e foi batizada de "Bandeirante". O protótipo realizou seu primeiro voo em 22 de outubro de 1968 e, após leves ajustes no projeto da aeronave, foi oficialmente apresentado na semana seguinte em uma cerimonia no aeroporto de São José dos Campos (SP), sob a observação de autoridades, imprensa e de um público de 15 mil pessoas. Nesse mesmo ano, o Coronel Ozires Silva e sua equipe iniciaram esforços para buscar parcerias no setor privado nacional para a produção em série da nova aeronave. Apesar das muitas negativas enfrentadas, o Coronel não se deixou desanimar; uma grande oportunidade surgiu durante um encontro inesperado com o presidente Artur da Costa Silva, no qual ele conseguiu convencê-lo a investir no projeto de produção em série. Esse esforço resultou na criação de uma empresa estatal de capital misto, estabelecida na cidade de São José dos Campos, São Paulo, com sua fundação ocorrendo em 19 de agosto de 1969. A nova empresa recebeu o nome de Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), tendo o Coronel Ozires Silva como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1986. Em 29 de junho de 1970, seu terceiro protótipo  alçou voo, e após modificações surgiria sua versão inicial de produção, o EMB-110, que, em sua versão civil, para até 12 passageiros, e uma maior capacidade de carga presente  no modelo militar C-95.

O Embraer EMB-110 Bandeirante, graças ao seu design conceitual cuidadosamente alinhado às necessidades do mercado-alvo, alcançou rapidamente sucesso comercial, conquistando os primeiros contratos de exportação. A companhia francesa de transporte regional Air Littoral foi seu cliente inaugural. Em 1975, a Embraer celebrou seu primeiro contrato militar com o governo do Uruguai e, no mesmo ano, o EMB-110 consolidou-se no mercado civil norte-americano, tornando-se uma referência no segmento de aviação regional. O êxito comercial do Bandeirante gerou recursos financeiros e avanços tecnológicos que permitiram à estatal brasileira a investir no desenvolvimento de novas aeronaves com maior capacidade e desempenho. Nesse contexto, foi concebido o Embraer EMB-121 Xingu, a primeira aeronave executiva pressurizada da empresa. Embora o Xingu não tenha replicado o sucesso comercial do Bandeirante, sua produção elevou significativamente o conhecimento técnico e a expertise da Embraer. Paralelamente, o Ministério da Aeronáutica (MAer) buscava soluções para otimizar o processo de formação de pilotos militares, que, à época, era estruturado em três fases: treinamento básico com aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, treinamento intermediário com Neiva T-25 Universal e treinamento avançado com jatos Cessna T-37C. Contudo, a operação do Cessna T-37C enfrentava desafios significativos, incluindo altos custos operacionais e problemas crônicos de disponibilidade devido à escassez de peças de reposição, o que comprometia sua eficiência. Diante dessas dificuldades, a Academia da Força Aérea (AFA) iniciou a substituição gradual dos jatos Cessna T-37C pelo Neiva T-25 Universal no treinamento avançado. Embora economicamente viável, essa solução revelou-se inadequada, pois o Neiva T-25 Universal (e suas propostas de atualização) apresentava desempenho significativamente inferior ao necessário para atender aos padrões de formação avançada. Esse cenário foi agravado na mesma década com a introdução no Brasil de aeronaves de alta performance, como os caças franceses Marcel Dassault Mirage IIIEBR F-103E e os norte-americanos Northrop F-5E Tiger II, que demandavam  desde as fases iniciais um treinamento mais sofisticado e qualificado para seus pilotos. A conjugação desses fatores levou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a buscar alternativas para atender a essa demanda crescente. Tal necessidade não passou despercebida pela Embraer, que identificou uma oportunidade estratégica para desenvolver soluções que atendessem aos requisitos da Força Aérea Brasileira.
Diante da identificação de uma oportunidade de mercado, a Embraer S/A iniciou estudos para desenvolver uma aeronave voltada ao treinamento militar, atendendo às demandas do Ministério da Aeronáutica (MAer). Na época, as opções disponíveis incluíam aeronaves a jato ou aviões de propulsão convencional equipados com motores turboélice. A análise técnica e econômica apontou que a motorização turboélice oferecia uma melhor relação custo-benefício, especialmente em um contexto de crise internacional do petróleo, que elevava significativamente os custos de combustível e, consequentemente, o custo por hora de voo de treinamento. Em 1977, a Embraer apresentou ao Ministério da Aeronáutica a proposta inicial do EMB-312, uma aeronave projetada especificamente para treinamento militar. A proposta gerou grande interesse, culminando na formalização de um acordo de desenvolvimento em dezembro de 1978. O programa foi oficialmente iniciado em janeiro de 1979, com uma grande equipe de técnicos sendo coordenados pelo talentoso engenheiro húngaro radicado no Brasil, Joseph Kovacks,  marcando assim o início de uma nova fase no portfólio da empresa. Durante 1979, o projeto ganhou forma com a realização de testes aerodinâmicos utilizando modelos em escala radiocontrolados. Ainda no mesmo ano, foi construído um modelo em escala real, equipado com um cockpit funcional para avaliação dos instrumentos de voo. Esses ensaios permitiram a definição dos parâmetros fundamentais do projeto, estabelecendo as bases para a construção do primeiro protótipo. Em março de 1980, a Embraer concluiu a construção do primeiro protótipo, designado YT-27 e registrado com a matrícula FAB 1300. A aeronave foi oficialmente apresentada em uma cerimônia de rollout no dia 19 de agosto de 1980, coincidindo com as comemorações dos 11 anos da Embraer. Na mesma data, o YT-27 realizou seu primeiro voo oficial, marcando um marco significativo no programa. O segundo protótipo, que incorporava melhorias em relação ao primeiro, incluindo a capacidade de portar armamentos, realizou seu primeiro voo em 10 de dezembro de 1980. Infelizmente, essa aeronave foi perdida em agosto de 1982 durante um voo de teste, embora os pilotos tenham conseguido ejetar-se em segurança. Um terceiro protótipo, registrado com a matrícula civil PP-ZDK, voou pela primeira vez em 16 de agosto de 1982. Este protótipo destacou-se por sua estreia internacional no Farnborough Airshow, na Inglaterra, em setembro de 1982, poucos dias após seu primeiro voo. Para realizar a travessia do Atlântico, a aeronave utilizou tanques suplementares de combustível e realizou escalas técnicas.

O Embraer EMB-312 Tucano, designado T-27, destacou-se como uma aeronave de treinamento avançada, incorporando inovações que estabeleceram novos padrões globais para o segmento. Desenvolvido desde sua concepção como um treinador turboélice, o Tucano combinava características operacionais típicas de jatos, oferecendo desempenho superior e eficiência econômica. O EMB-312 introduziu uma configuração de assentos em tandem escalonados, com o instrutor posicionado em um assento mais elevado que o do aluno. Essa disposição eliminava obstruções no eixo longitudinal da aeronave, proporcionando ao instrutor visão frontal desimpedida. Além de reduzir a área frontal da aeronave, essa configuração facilitava a adaptação do cadete ao ambiente operacional de aeronaves de caça. O Tucano foi pioneiro ao incorporar assentos ejetáveis em uma aeronave de treinamento turboélice, um avanço significativo em segurança para a época. Os tripulantes eram protegidos por uma capota transparente de plexiglass, moldada em peça única para evitar distorções óticas, garantindo visibilidade excepcional. Projetado para ser estável em baixas velocidades e altamente manobrável, o EMB-312 atendia às exigências de uma aeronave de treinamento avançado. Sua capacidade de operar com eficiência em diversas condições de voo reforçava sua adequação à formação de pilotos. Além de sua função primária como treinador, o Tucano possuía quatro pontos duros nas asas para cargas externas, permitindo seu uso em missões de treinamento armado, apoio aéreo e ataque ao solo. Essa versatilidade ampliava seu valor operacional. O primeiro protótipo, registrado como YT-27 com a matrícula FAB 1300, foi oficialmente apresentado em 19 de agosto de 1980, durante a cerimônia de rollout em São José dos Campos - SP, que marcou os 11 anos da Embraer. Na mesma data, a aeronave realizou seu primeiro voo, demonstrando desempenho promissor e atraindo atenção internacional. A combinação de desempenho excepcional e baixo custo operacional do EMB-312 logo despertou interesse global, Honduras e Egito foram os primeiros países a encomendar a aeronave. No Egito, o EMB-312 Tucano foi produzido sob licença  pela Arab Organization for Industrialization (AOI), especificamente por meio de sua divisão de aviação, a Helwan Aircraft Factory, uma entidade estatal egípcia responsável por projetos industriais e de defesa, e a produção do Tucano foi parte de um acordo para atender às necessidades da Força Aérea Egípcia e para exportação ao Iraque.
A produção sob licença do EMB-312 Tucano no Egito, realizada pela Arab Organization for Industrialization (AOI) por meio da Helwan Aircraft Factory, representou a primeira iniciativa da Embraer na montagem de aeronaves fora do Brasil. Esse projeto, voltado para atender às demandas da Força Aérea Egípcia e do Iraque, fortaleceu a presença da empresa no mercado internacional de aviação militar, demonstrando sua capacidade de transferência tecnológica e adaptação às exigências de clientes estrangeiros. Em resposta a uma concorrência internacional lançada pela Real Força Aérea Britânica (Royal Air Force) para a aquisição de uma nova aeronave de treinamento básico, a Embraer firmou uma parceria estratégica com a empresa irlandesa Short Brothers PLC. A partir do projeto original do EMB-312, foram implementadas modificações e melhorias, resultando no protótipo do Shorts Tucano TMk1. Este modelo venceu a concorrência, consolidando a reputação internacional da Embraer e levando à abertura de uma terceira linha de produção na Irlanda do Norte. Essa conquista marcou um momento pivotal na projeção global da empresa. Em 1991, a Embraer celebrou outro marco significativo com a assinatura de um contrato para o fornecimento de 80 aeronaves da versão EMB-312F à Força Aérea Francesa (Armée de l’Air). As entregas tiveram início em 1994, reforçando a presença da empresa em mercados europeus exigentes e destacando a versatilidade e confiabilidade do Tucano. A produção em série do EMB-312 Tucano foi encerrada em 1996, com um total de 624 aeronaves entregues para 17 países: Angola, Argentina, Brasil, Colômbia, Egito, França, Honduras, Irã, Iraque, Quênia, Kuwait, Mauritânia, Moçambique, Paraguai, Peru, Reino Unido e Venezuela. Muitas dessas aeronaves permanecem em operação, beneficiando-se de processos contínuos de modernização que garantem sua relevância e funcionalidade por décadas. O Embraer EMB-312 Tucano destacou-se por combinar inovação técnica, versatilidade operacional e competitividade econômica. Suas características pioneiras, como a configuração em tandem escalonada, assentos ejetáveis e capacidade multifuncional, estabeleceram novos padrões para aeronaves de treinamento avançado. A rápida aceitação do Tucano no mercado global e sua longevidade operacional reforçaram a reputação da Embraer como uma referência na indústria aeroespacial, consolidando sua posição como líder em soluções de aviação militar e de treinamento.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
O Embraer EMB-312 T-27 Tucano foi desenvolvido com o objetivo de substituir o Cessna T-37C na missão de treinamento avançado da Academia da Força Aérea (AFA), além de promover a incorporação de novas tecnologias de materiais e processos produtivos na indústria aeroespacial brasileira. Este documento detalha o contrato de aquisição, a entrega inicial das aeronaves e o processo de integração do Tucano na AFA. Em outubro de 1980, o Ministério da Aeronáutica (MAer) formalizou um contrato com a Embraer S/A para a aquisição de 118 aeronaves EMB-312 T-27 Tucano, com a opção de compra de adicional 50 aeronaves no futuro. Este acordo, de significativa envergadura, proporcionou à Embraer o financiamento estatal necessário para estabelecer uma linha de produção dedicada ao modelo em São José dos Campos, no interior do estado de São Paulo. A iniciativa fortaleceu a infraestrutura industrial da empresa e consolidou sua capacidade de atender às demandas da Força Aérea Brasileira (FAB). As primeiras oito aeronaves EMB-312 T-27 Tucano destinadas ao Ministério da Aeronáutica (MAer) foram oficialmente entregues em 29 de setembro de 1983, em cerimônia realizada nas instalações da Embraer em São José dos Campos. As aeronaves, matriculadas de FAB 1303 a FAB 1310, receberam uma pintura branca com faixas laranja e matrículas visíveis na fuselagem, inaugurando um novo esquema para aeronaves de instrução.  Após a entrega, foram transferidas em voo para a Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga, também no interior de São Paulo. Na AFA, as aeronaves iniciaram um processo de aceitação técnica e operacional, acompanhado do treinamento de instrutores e multiplicadores. As oito unidades foram alocadas ao 1º Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA), marcando o início da transição para o uso do T-27 Tucano no estágio de treinamento avançado. Com a chegada do T-27, as aeronaves Neiva T-25 Universal, até então utilizadas pelo 1º EIA, foram redistribuídas para o 2º Esquadrão de Instrução Aérea (2º EIA). Esse movimento possibilitou o início da desativação gradual dos treinadores básicos Aerotec T-23 Uirapuru, alinhando a frota da AFA às novas exigências de formação. Nos meses seguintes, a AFA recebeu unidades adicionais do EMB-312, o que permitiu a formação de uma frota suficiente para suportar o treinamento avançado dos cadetes do quarto ano. Essa expansão consolidou o Tucano como a principal plataforma de instrução avançada, aprimorando a qualidade e a eficiência do processo de formação de pilotos.

A partir de 1º de julho de 1984, a  Academia da Força Aérea (AFA) iniciou a operação com o turboélice EMB-312 T-27 Tucano, resultando em impactos imediatos na qualidade do treinamento avançado. A aeronave oferecia desempenho superior em comparação ao Neiva T-25 Universal, combinando alta performance de voo com a capacidade de permitir a correção de erros comuns cometidos por cadetes em formação. Uma das principais inovações do T-27 foi a adoção da configuração de assentos em tandem, em substituição aos assentos lado a lado do Neiva T-25 Universal Com o aluno posicionado no assento frontal e o instrutor atrás, a visibilidade do cadete simulava a experiência de voar sozinho, promovendo maior proatividade, confiança, iniciativa e capacidade de julgamento. Essa configuração expunha os alunos a situações que exigiam independência na tomada de decisões críticas, qualidades essenciais para pilotos de aviação de caça. O T-27 destacou-se por suas características técnicas avançadas, incluindo: Autonomia de voo: Até quatro horas e meia com tanque interno. Manobrabilidade: Excelente desempenho em baixas altitudes. Robustez e confiabilidade: Comandos precisos e ampla margem de manobra. Versatilidade: Capacidade de operar em diversas condições climáticas. Visibilidade: Cockpit com ampla visibilidade, favorecendo o treinamento. Esses atributos tornaram o T-27 Tucano uma plataforma ideal para o treinamento avançado, aprimorando a didática e a eficácia do processo de formação de pilotos.  Pois além de apresentar uma melhor performance que a apresentada pelo Neiva T-25 Universal, melhoria a didática, uma vez que os pilotos, que antes voavam em assentos lado a lado com os instrutores, passaram a voar em tandem. “Apesar de estar com instrutor atrás, a visão do aluno, no assento da frente, é de quem está sozinho, o que exige dele uma postura de maior proatividade, maior confiança, iniciativa e capacidade de julgamento, expondo assim o aluno em curso, a situações de independência para a tomada de decisões críticas, qualidade muito requerida em pilotos da aviação de caça. Este cenário contribuiria em muito para a futura adaptação do aviadores ao jato de treinamento Embraer AT-26 Xavante, quando em curso de formação de pilotos líderes da Aviação de Caça, junto ao 1º/4º Grupo de Aviação – Esquadrão “Pacau”. A aeronave seria ainda empregada para missões de ataque leve (utilizando o prefixo AT-27), que recebeu cargas externas como bombas, casulos para metralhadoras e até foguetes, sendo empregado em missões de treinamento armado, apoio aéreo, ataque ao solo e defesa do espaço aéreo.
O Embraer EMB-312 T-27 Tucano destacou-se por sua versatilidade, desempenhando papéis em treinamento, ataque ao solo e demonstrações aéreas. Este documento detalha sua integração ao Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA), conhecido como Esquadrilha da Fumaça, a aquisição pela Força Aérea Brasileira (FAB), os desafios estruturais enfrentados e o processo de recuperação da frota. Além de suas funções primárias de treinamento e ataque ao solo, o T-27 Tucano revelou-se ideal para demonstrações aéreas devido à sua manobrabilidade, robustez e desempenho. Essas qualidades permitiram a execução de manobras acrobáticas complexas, elevando o padrão das apresentações do EDA. Em 1983, o Ministério da Aeronáutica (MAer) decidiu reativar o grupo de demonstração aérea, oficialmente designado Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) a partir de 21 de outubro de 1982, mas amplamente conhecido como Esquadrilha da Fumaça. Até então, o EDA operava com aeronaves Neiva T-25 Universal. A introdução do T-27 marcou uma nova fase, aprimorando a qualidade das demonstrações e consolidando a reputação do esquadrão como símbolo de excelência da Força Aérea Brasileira (FAB). Em 1980, o MAer firmou um contrato com a Embraer S/A para a aquisição de 151 aeronaves T-27 Tucano. Contudo, apenas 136 unidades foram incorporadas à FAB, pois, por meio de um acordo com o governo argentino, 15 células foram retiradas da linha de produção e exportadas para a Força Aérea Argentina (FAA). Em 16 de novembro de 1996, um acidente envolvendo a aeronave T-27 Tucano, matrícula FAB 1320, pertencente ao EDA, ocorrido em Santos, São Paulo, levantou preocupações sobre a integridade estrutural da frota. Esse incidente, aliado a outros episódios, levou a Embraer a investigar potenciais problemas nas aeronaves. Em 1999, o corpo de engenharia da Embraer constatou fadiga estrutural nas asas da frota de T-27 Tucano, exigindo reforços estruturais em todas as unidades. Como medida de segurança, apenas aeronaves sem indícios de fadiga foram autorizadas a voar, impactando significativamente a operacionalidade das unidades da Força Aérea Brasileira (FAB) que utilizavam o modelo. Para o Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA), o problema resultou na suspensão de sua agenda de demonstrações por 21 meses, interrompendo suas atividades de representação institucional. A partir de 2001, a Embraer S/A em conjunto com o Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS) iniciou um processo de revisão e correção estrutural nas instalações de São José dos Campos, São Paulo. O retrofit abrangeu a maioria das aeronaves T-27, restaurando sua capacidade operacional plena. Esse esforço permitiu a retomada das operações regulares tanto na Academia da Força Aérea (AFA) quanto no EDA, garantindo a continuidade das missões de treinamento e demonstração.

Na década de 1990, o desenvolvimento da aeronave de ataque leve ALX, posteriormente designada Embraer A-29 Super Tucano, iniciou uma transformação no papel do Embraer EMB-312 T-27 Tucano na Força Aérea Brasileira (FAB). O projeto Embraer EMB-314 foi concebido para substituir as aeronaves Embraer AT-26 Xavante no papel de formação de pilotos de caça, e também  integrar o “braço armado” do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM).  A fim de anteder a esta segunda demanda,  em novembro de 2005 o 1º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão "Escorpião" receberia os seus dois primeiros A-29 Super Tucano, iniciando o processo de substituição dos AT-27 que desempenhavam as missões de ataque leve e vigilância, com este processo se repetindo no 2º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão "Grifo" e no 3º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão "Flecha". A substituição pelos A-29 permitiu que as células T-27 em melhores condições fossem revisadas e realocadas para a Academia da Força Aérea (AFA). Essa transferência visava repor perdas operacionais acumuladas ao longo de quase três décadas, durante as quais 30 aeronaves foram perdidas em acidentes e pelo menos 10 foram retiradas de serviço devido a comprometimentos estruturais. Após serem revisadas estas células seriam realocadas junto a frota da Academia da Força Aérea (AFA) , reforçando a capacidade de  formação de cadetes. Em 2016, o 1º Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA) da AFA operava com apenas 35 células T-27 em condições de voo, complementadas por 30 aeronaves armazenadas em reserva técnica. Apesar da quantidade relativa, a frota apresentava limitações significativas, com aviônicos e sistemas obsoletos em comparação com aeronaves modernas. Neste momento a frota de primeira linha da Força Aérea Brasileira estava composta pelos modelos A-29 Super Tucano e os caças Northrop F-5EM e Embraer AMX A-1M, aeronaves que apresentavam uma sofisticada suíte eletrônica em termos e aviônicos, comunicação e autodefesa, em muito se assemelhando aos sistemas existentes em aeronaves de quarta geração. Em comparação a tecnologia presente nos T-27 Tucano pertencia ainda a década de 1980, e esta defasagem  criava um descompasso no treinamento de pilotos, comprometendo e encarecendo  a transição para plataformas de caça mais avançadas. Em termos de adequação as demandas o A-29B se mostraria a solução ideal, porem a aquisição de um novo lote dessas aeronaves se mostraria inviável em termos recursos, tendo em vista que naquele período o Comando da Aeronáutica, estava priorizando a maior parte de seu orçamento nos programas do  caça Saab F-39 Gripen e do transporte reabastecedor  Embraer KC-390 Mileniun. 
Desta maneira se fazia necessário promover uma atualização dos Embraer T-27 Tucano, objetivando assim  equalizar o ambiente de treinamento as aeronaves de primeira linha. Está problemática começaria a ser resolvida a partir de março de 2018, quando o o Ministério da Defesa publicou um edital para a modernização de 50 células do Embraer T-27 Tucano. O programa visava atualizar os sistemas aviônicos e de navegação, elevando as cabines ao padrão “glass cockpit” e integrando tecnologias modernas. As principais especificações incluíam: Substituição dos instrumentos analógicos por duas telas coloridas sensíveis ao toque, com dimensões entre 6 e 10 polegadas e a atualização dos sistemas de rádio e navegação por satélite, aprimorando conectividade e precisão. Neste contexto uma concorrência seria deflagrada, com a empresa Albatroz S/A sendo declarada vencedora deste processo, culminando na  assinatura de um contrato no valor de R$ 42,5 milhões. O processo de modernização foi conduzido nas instalações do Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA LS), com a produção inicial de dois protótipos para validação do projeto. O programa previa a conclusão da modernização de todas as 50 células até dezembro de 2022, assegurando a continuidade do uso do T-27 na AFA com sistemas atualizados. O primeiro protótipo (FAB 1446), realizou seu voo inaugural em 23 de outubro de 2020, com duração de aproximadamente duas horas, marcando o início dos ensaios do programa. O segundo protótipo (FAB 1426), voou pela primeira vez em 23 de abril de 2021, incorporando melhorias significativas em relação ao primeiro protótipo. Essa versão validou os parâmetros finais do programa, estabelecendo o padrão para as demais aeronaves. Em setembro de 2021, foi apresentado o novo esquema de pintura para os T-27 modernizados (T-27M), exibido pela aeronave matrícula FAB 1383. O design, com cores contemporâneas, reflete a modernização tecnológica, reforçando a identidade visual da frota e alinhando-a às atualizações realizadas. Desde sua introdução em 1983, o Embraer T-27 Tucano desempenhou um papel central na formação de pilotos na AFA, em Pirassununga, São Paulo. Seus principais marcos incluem: Formação de Aviadores: Mais de 2.700 aviadores treinados em aproximadamente 500.000 horas de voo. Pioneirismo na Inclusão: Formação da primeira aviadora militar brasileira em 2007 e da primeira instrutora da AFA em 2020. Esses feitos destacam a relevância do T-27 Tucano como uma plataforma de treinamento confiável e versátil, contribuindo para a excelência da aviação militar brasileira. O legado do Embraer T-27, marcado por sua contribuição à formação de aviadores e à inclusão na FAB, permanece como um testemunho de sua importância na história da aviação militar brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer EMB-312 T-27 Tucano “FAB 1427 " empregamos o kit em resina produzido pela De Lima Kits & Dumont Replicas Artesanais na escala 1/48, modelo este de excelente qualidade e bom nível de detalhamento. Fizemos usos de decais originais presentes no kit, com os quais se permitem configurar até quatro padrões de identificação empregados por estas aeronaves na  Força Aérea Brasileira.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão aplicado as aeronaves Embraer EMB-312 T-27 Tucano empregadas nas esquadrilhas Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA), pertencentes a Academia da Força Aérea (AFA), com este esquema tendo sido adotado no ano de 2001, substituindo o original quando do recebimento das aeronaves em 1983. Já as aeronaves do Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) empregaram dois esquemas de pintura ao longo de sua carreira, inicialmente um predominante vermelho com detalhes em branco, e posteriormente em 2012 receberam as cores da bandeira nacional.


Bibliografia :

- Centro Histórico Embraer – T-27 Tucano - http://www.centrohistoricoembraer.com.br
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- FAB vai modernizar 50 aeronaves T-27 Tucano - https://www.cavok.com.br
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html