Avro 504K Roe e 504N Lince

História e Desenvolvimento.
Um dos primeiros construtores de aeronaves em série do mundo, a companhia A.V. Roe and Company seria fundada em 1 de janeiro de 1910 em Brownsfield Mill, Great Ancoats Street, Manchester, pelo engenheiro Alliott Verdon Roe e seu irmão Humphrey Verdon Roe. A contribuição de Humphrey seria principalmente de ordem financeira e organizacional; financiando-o a partir dos ganhos do negócio de teares da família e atuando como diretor administrativo até que ele se juntou à RFC em 1917. Antes de sua fundaçao como empresa, em 1908 seu primeiro aeroplano projetado e fabricado artesanalmente por  Alliot Vernon Roe, decolou dos campos de Manchester para a realização de seu primeiro voo. Podendo este modelo o Roe I Triplane, chamado The Bullseye, ser seguramente considerado como primeira aeronave de projeto 100% inglês da História aeronáutica. No momento do estabelecimento da empresa, um galpão seria alugado no Brooklands Flying Grounds para o qual Edwin Alliott movia as aeronaves acabadas, funcionando assim com uma loja, onde estes aeroplanos eram oferecidos a este novo mercado consumidor por apenas £450 libras esterlinas. As vendas começariam a evoluir e conjuntamente o projeto das aeronaves também, sendo que no final do ano de 1912, o negócio além de se provar viável em termos de retorno financeiro, se mostraria extremamente promissor a curto e médio prazo. No início do ano seguinte a empresa se se tornaria um negócio completamente autônomo e de grande lucratividade. Apesar do otimismo com a efervescência natural deste mercado, cada vez mais concorrentes chegavam a este segmento, oferecendo assim riscos ao potencial de crescimento da A.V Roe and Company.   A empresa também construiria a primeira aeronave do mundo com acomodação de tripulação fechada em 1912, o monoplano Tipo F e o biplano Avro Tipo G, no entanto sem progredir além do estágio de protótipo. O grande fator do impulso fundamental para desenvolvimento futuro da companhia, se daria com o o lançamento do modelo Avro E (ou Avro 500), que por apresentar excelente desempenho, lograria a A.V. Roe and Company a conquistar seu primeiro contrato militar em fins do ano  de 1913. Este processo envolveria a encomenda de dezoito células para Corpo Aéreo Real RFC (Royal Flying Corps), que seriam destinados a operação junto aos Esquadrões de Treinamento de número 3º, 4º e 5º. Estas novas aeronaves dedicadas a tarefa de instrução primariam começariam a ser entregues no início do ano de 1914, sendo declaradas plenamente operacionais em março do mesmo ano. 

Já em operação os Avro E 500 conquistariam grande aceitação junto aos pilotos e instrutores do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), com seu projeto recebendo grandes elogios por parte do comando desta organização. Este cenário motivaria a direção da empresa e investir recursos próprios no desenvolvimento de uma versão aprimorada desta aeronave, com estes esforços culminando no modelo Avro 504. Apesar de baseado em seu antecessor, o projeto se mostrava muito promissor, levando a A.V Roe and Company a optar pela fabricação de dois protótipos em julho do mesmo ano. A primeira aeronave alçaria voo em 5 de setembro de 1913, bem a tempo de poder participar logo em seguida da Feira Aérea Internacional de Aviação de  Farnborough. Logo de imediato, o avançado desing da nova aeronave e sua performance em voo chamariam a atenção do comando das forças armadas britânicas, que imediatamente iniciariam junto a diretoria da empresa, tratativas para a aquisição desta promissora aeronave. Deste movimento seriam firmados os primeiros contratos de produção, envolvendo substanciais números de aeronaves, não só para o Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), mas também Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service). Porém as demandas excediam em muito a capacidade produtiva da linha de fabricação existente naquele momento, levando a empresa a se mudar para novas e maiores instalações em Clifton Street, Miles Platting na cidade de Manchester. Esta seria, no entanto, uma medida paliativa tendo em vista o breve estrangulamento da capacidade de produção desta nova unidade fabril, levando a empresa a migrar para as instalações da Mather & Platt Works em Newton Heath. As primeiras aeronaves seriam declaradas operacionais a partir de março de 1914, passando a atuar em missões de treinamento e observação junto a suas forças armadas. O eclodir da Primeira Guerra Mundial em 28 de julho de 1914, iria alterar profundamente o destino da A.V. Roe & Company e do Avro Modelo 504, elevando o patamar operacional da aeronave a um nível jamais imaginado por seus desenvolvedores. Neste contexto de conflito, os Avro Modelo 504 assumiriam novas missões, passando a ser empregados em combate real na linha frente na Europa continental. 
Caberia ainda ao modelo, ser a primeira aeronave britânica abatida pelo fogo antiaéreo alemão em 14 de agosto de 1914, com um Avro 504 pertencente ao 5 Sqn RFC, sendo comandado na ocasião pelo 2º Tenente Vincent Waterfall e seu navegador Tenente Charles George Gordon Bayly.  Como destaque operacional podemos citar a missão de bombardeio as instalações alemães de produção e manutenção dos dirigíveis  Zeppelin em Friedrichshafen, nas margens do Lago de Constança, com três aeronaves do Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service) partindo de Belfort  no nordeste da França, em 21 de novembro de 1914. Estes três Avro 504 carregavam quatro bombas de 20 libras (9 kg) cada, com uma sendo abatida próxima ao alvo, porém as demais conseguiram lançar suas cargas com êxito, resultando em  vários impactos diretos nos galpões do dirigível e a destruição da usina geradora de hidrogênio. Conforme o conflito ia ganhando intensidade e amplitude, a tecnologia aeronáutica avançava freneticamente, gerando uma nova geração de aeronaves de caça, bombardeio e observação mais avançadas, o que sobrepujaria o desempenho operacional dos Avro 504, tornando o ambiente de combate extremante desfavorável para o modelo.  Assim rapidamente esta aeronave logo seria relegada a missões de segunda linha, sendo retirada para servir principalmente junto aos esquadrões de treinamento na Inglaterra. Neste momento o estágio de produção da aeronave já atingia milhares de células entregues, dispostas nas versões Avro 503A á Avro 504J, com os motores evoluindo de 60 hp para 80 hp de potência. No inverno de 1917 e 1918, a alta demanda por aeronaves de caça no continente europeu, e a urgente necessidade de se substituir os já obsoletos interceptadores Vickers B-E2cs nos esquadrões de defesa doméstica, levaria o comando do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps) a decidir pelo emprego de dezenas de células dos modelos Avro 504J e Avro 504K, que seriam então convertidos para execução missões de caça. Estas versões modificadas para um único assento de tripulante, estavam armadas com uma metralhadora leve Lewis .303 de calibre 7,62mm × 54 mm, montada acima da asa, além disto, nestas células seria padronizado a utilização de motores Gnome Monosoupape de 100hp de potência. Um total de duzentas e setenta células seriam modificadas para esta versão, passando a ser distribuídos a oito esquadrões de defesa doméstica, totalizando duzentas e setenta e quatro células convertidas.

Já em sua principal atribuição como aeronave de instrução primaria, o Avro Modelo 504, muito em face das suas dóceis características de voo e desempenho, acabaria por ser tornar o  “treinador padrão” britânico, permanecendo nesta atividade mesmo após o final da Primeira Guerra Mundial, operando agora a serviço da recém-criada Força Aérea Real (Royal Air Force). Devido ao grande número de aeronaves disponíveis consideradas como "excedentes de guerra", cerca de trezentos Avro 504 seriam transferidos para escolas civis de pilotos, recebendo o registro civil na Grã-Bretanha. Neste novo papel passariam a ser empregados em missões de treinamento de pilotos e tarefas de reboques de faixas publicitarias permanecendo em uso até pelo menos o início do ano de 1940. O serviço aéreo embrionário da União Soviética, formado logo após a Primeira Guerra Mundial, faria uso tanto das aeronaves originais quanto sua própria cópia, o  Avrushka " Little Avro", sendo empregados no treinamento primário, sendo geralmente alimentados por cópias russas do motor rotativo Gnome Monosoupape, com estas aeronaves se mantendo em serviço até o final da década de 1920. Durante este mesmo período um grande número de aeronaves seria vendido a China Nacionalista, embora representassem versões básicas de treinamento, eles participariam de batalhas regionais, atuando como bombardeiros com o piloto lançando granadas de mão e morteiros modificados. A partir de 1925 a A.V. Roe and Company apresentaria a proposta de um novo modelo, o Avro 504N, dois protótipos seriam produzidos para avaliação, um equipado com o motor Bristol Lucifer e outro pelo Armstrong-Siddeley Lynx.  Este último sendo selecionado pela Força Aérea Real (Royal Air Force) para substituir os Avro 504K, sendo encomendadas quinhentas e noventa e duas células, que seriam entregues entre os anos de 1925 e 1932, chegando a equipar cinco esquadrões de treinamento, sendo empregadas também como aeronaves de comunicação. Esta versão também seria exportada para uso militar na Bélgica, Brasil, Chile, Dinamarca, Grécia, Sião e África do Sul, com sua produção licenciada ocorrendo na Dinamarca, Bélgica, Canadá, e Japão. 
Os Avro 504N da Força Aérea Real (Royal Air Force) passariam a ser substituídos a partir de 1933 pelo novo treinador primário Avro Tutor, ao fim de 1935 restariam apenas sete células que seriam convertidas em aeronaves rebocadoras de alvos e planadores. Grande parte das aeronaves em bom estado de conservação seriam doados para escolas civis de pilotos, recebendo o registro civil, se mantendo em operação até o início da década de 1940. Ao todo foram produzidas entre os anos de 1914 e 1928 um total de onze mil quatrocentas e oitenta e quatro células, dispostas em vinte e nove versões. Além de serem montados em treze fábricas na Grã-bretanha, a aeronave seria ainda montada sob licença na Argentina, Bélgica, União Soviética, Japão, Canadá, Dinamarca, França, com versões customizadas desenvolvidas localmente como as japonesas Yokosuka K2Y1 e Yokosuka K2Y2, russas como U-1 (Uchebnyi – 1) e MU-1 (Morskoy Uchebnyi – 1), dinamarquesa Orlogsværftet Flyvemaskineværksted LB.I e australianas como598 Warregull e  599 Warregull II.  Sua versão a ser mais produzida, no entanto, seria o Avro 504K, modelo originalmente configurado como aeronave de treinamento de dois lugares, que apresentava como curiosidade a possibilidade de poder a ser equipado como uma vasta gama de motores em virtude da escassez de componentes durante a Primeira Guerra Mundial. Em termos de operadores militares o modelo esteve a serviço das forças armadas do Brasil, Argentina, Canada, Estônia, Finlândia, Grécia, Guatemala, Índia Britânica, Irã, Irlanda, Japão, Letônia, Malaia, México, Mongólia, Noruega, Peru, África do Sul, Sião, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Tailândia Uruguai e Estados Unidos. O modelo registraria sua marca na História aeronáutica internacional, por ser a primeira aeronave britânica a dispersar tropas em terra, bem como o primeiro avião britânico a fazer um bombardeio sobre a Alemanha, sendo também a primeira a ser derrubada por fogo antiaéreo inimigo. Seria eternizada por formar futuros ases do conflito, como Billy Bishop entre outros que apelidariam a aeronave como "palito de dente" na Força Aérea Real (Royal Air Force).   

Emprego na Marinha do Brasil.
O processo de formação de pilotos militares brasileiros tem sua origem em fevereiro de 1914, quando seria fundada no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro a Escola de Escola Brasileira de Aviação, mediante uma parceria entre o Ministério da Guerra e a empresa italiana Gino, Buccelli & Cia, com esta sendo responsável por fornecer equipamentos e instrutores para formar aviadores militares. Não havia dez anos desde o primeiro voo do mais pesado que o ar, pelas mãos do ilustre inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, quando a Marinha do Brasil criou a sua própria organização de treinamento e formação, a  Escola de Aviação Naval - EAvN, em 23 de agosto de 1916. Esse pioneirismo, fruto da visão de grandes chefes navais, como o então Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino de Alencar, que, pautado no desempenho dessas plataformas nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, adquiriria nossos primeiros aviões. Já em posse destas aeronaves, caberia ao Almirante Protógenes Pereira Guimarães (Patrono da Aviação Naval), a missão de preparar o pessoal e a doutrina de emprego aéreo na Marinha do Brasil. Quando do inicio das atividades desta organização militar, o primeiro dos três aerobotes Model F adquiridos do fabricante norte-americano Curtiss Aircraft Company,  já havia realizado seu primeiro voo operacional,  e os dois restantes estavam em final de montagem, ficando prontos em outubro do mesmo ano. Todos seriam montados na Carreira Tamandaré do antigo Arsenal de Marinha, na base do Morro de São Bento, próximo à antiga ponte para a Ilha das Cobras, local atualmente ocupado pelo rancho do 1° Distrito Naval.  Pouco tempo depois, a Escola de Aviação Naval - EAvN seria transferida para a Ilha das Enxadas, onde seriam construídos dois hangares para quatro aeronaves cada. Ao longo dos anos seguintes esta instituição com o apoio de instrutores norte-americanos, seguiria na missão de formar os primeiros aviadores navais da Marinha do Brasil. Neste contexto ficava cada vez mais claro a necessidade de não só ampliar o número de aeronaves, bem como adquirir modelos mais modernos para o emprego em diversos perfis de operação militar como observação, caça e bombardeio. Estes novos desafios exigiam modernização de meios e práticas,  assim, tendo em vista que muitos dos hidroaviões de treinamento da variada coleção da Escola de Aviação Naval - EAvN chegavam ao fim de sua vida útil, decidiria-se reduzir o número de tipos e sistematizar as práticas de instrução de voo. 

Seria adotado o chamado “Sistema Gosport”, introduzido pelo Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service) em 1916, que, dentre outras inovações, preconizava o emprego de aviões terrestres para treinamento inicial. Assim, uma delegação de oficiais Marinha do Brasil seria enviada a Inglaterra, para conhecer de perto este processo e os vetores empregados. Desta maneira se daria o primeiro contato de nossos oficiais com a aeronave Avro Modelo 504, modelo que então figurava como o treinador primário padrão deste racional e lógico sistema de treinamento.  No entanto a incorporação do primeiro exemplar na Aviação Naval da Marinha do Brasil, ocorreria de forma casual, pois com a enorme disponibilidade de material aeronáutico após o término da Primeira Guerra Mundial, diversos grupos empresariais deram início a organização de empresas de transporte aéreo para operação regional e internacional. Entre muitas, a corporação inglesa Handley Page Ltda decidiu por estabelecer uma empresa aérea para operação de transporte civil no Brasil. Depois de receber autorização do governo brasileiro para operar rotas entre as principais cidades brasileiras, a empresa transferiria quatro aeronaves para o país, entre as quais um Avro Modelo 504K. No entanto vida desta empresa seria efêmera, e após o encerramento de suas atividades, suas  aeronaves seriam doadas ao governo brasileiro, com este  modelo de treinamento sendo entregue em maio de 1920 a Marinha do Brasil. Esta aeronave receberia a matrícula de número “46”, e seria repassada então a Escola de Aviação Naval – EavN, não está claro se aquele Avro 504K foi recolhido a esta organização (que ainda se encontrava sediada na ilha das Enxadas e não dispunha de pista para operar aeronaves terrestres) para ser desmontado e armazenado ou se permaneceu em outro local. Neste mesmo período dentro dos esforços de ampliação da frota da Aviação Naval, seriam  disponibilizados recursos para adquirir mais quatro células usadas do modelo, estando estas equipadas com o  famoso motor rotativo Gnome Monosoupape, Ao chegaram no Brasil no final do primeiro semestre de 1921, os dois primeiros seriam montados no mês de agosto e encaminhados ao Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, onde iriam operar até a conclusão das obras da nova pista da Escola de Aviação Naval - EAvN na Ponta do Galeão. A perda de uma aeronave em um acidente levaria a Aviação Naval da Marinha do Brasil a proceder a montagem das duas células restantes entre novembro e dezembro de 1921. Esta dotação seria reforçada com a aquisição de mais doze células previstas em um contrato celebrado com a Curtiss Aeroplane Export Corporation em 23 de maio de 1922, tratava-se novamente de aeronaves usadas, que seriam entregues configuradas como novos motores radiais Le Rhone de 110 hp.   
Em fins de 1923, estas aeronaves já se encontravam operacionais junto a 3º Esquadrilha da Flotilha de Treinamento, totalizando assim dezesseis aeronaves, porém o índice de disponibilidade se mantinha muito baixo em função de pequenos acidentes de operação. Durante os conturbados episódios políticos que se seguiram durante ano de 1924, as atividades da Escola de Aviação Naval - EAvN seriam em muito reduzidas, com o ano e 1925 assistindo a queda de 50% no número de alunos diplomados. Neste período algumas vezes durante os momentos mais tensos do período revolucionário, algumas células deste modelo seriam armados com metralhadoras Lewis .303 de calibre 7,62 mm × 54 mm. Este quadro de instabilidade política levaria a severas restrições orçamentarias, que interromperiam o fluxo de peças de reposição e material de apoio, levando indisponibilidade de voo a índices alarmantes, sendo que em 1925 somente quatro células estavam aptas a operar com as demais armazenadas ou em manutenção. No ano seguinte mais uma aeronave seria recuperada pelo Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvNRJ) e apesar do quadro de penúria, três Avro 504K realizaram um reide entre a capital carioca e a cidade de Belo Horizonte, representando um feito para aquela época, infelizmente duas aeronaves foram perdidas nesta missão. Em fins do ano de 1927, a frota de aviões Avro 504K encontrava-se reduzida a apenas três exemplares disponíveis para voo, com os demais perdidos em acidente ou em processo de manutenção de grande monta. Assim com base na necessidade de se modernizar a frota de aeronaves de treinamento, a Diretoria Geral de Aeronáutica da Marinha examinou diversas propostas de fornecimento de mais células usadas do modelo Avro 504K junto ao governo britânico. No entanto figuravam entre estas propostas, um lote da variante mais moderna o Avro 504N/O, sendo negociado em janeiro de 1927 a compra de seis células novas de fábrica e um amplo pacote de peças de reposição. Estas novas aeronaves seriam recebidas e colocadas em condições de voo durante o primeiro semestre do ano de 1928, passando a dividir com os veteranos Avro 504K o processo de treinamento e formação de aviadores, com estes últimos passando a registrar uma quantidade de horas de voo inferior à média anterior. Esta acentuada utilização não seria livre de percalços, em julho somente três dias após da realização do primeiro voo do  Avro 504N/O, umas das células sofreria uma pane em seu motor e caiu nos limites  do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ. No mês seguinte outra aeronave faria um pouso forçado no mar. Ambas as células seriam resgatadas e levadas para reparo, com uma permanecendo naquele local por um prolongado período. 

Em consequência, o ano letivo de instrução em 1929 na Escola de Aviação Naval - EAvN seria iniciado somente com cinco aeronaves Avro 504N/O, dois dos quais equipados com flutuadores. Apesar de serem formados aviadores em 1929 e 1930, estas aeronaves seriam peças-chave no adestramento e na instrução do pessoal do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ e da Escola de Aviação Naval - EAvN. Neste mesmo período no objetivo de aumentar a vida útil das três últimas aeronaves Avro 504K que se encontravam em condições de voo, seria decido em maio de 1929, a implementação de um programa de modernização, tendo como foco principal a substituição do problemático motor rotativo por um novo radial fixo Armstrong Siddeley Lynx IVC. Este processo seria concluído até o mês de janeiro de 1930, curiosamente estas células foram adaptadas para o uso de flutuadores. Porém observou-se que este programa não atingiria os objetivos almejados, decidindo-se pela desativação das aeronaves, o que ocorreria após um voo de formatura da Escola de Aviação Naval - EAvN em junho de 1930, encerrando assim sua carreira na Aviação Naval da Marinha do Brasil. Apesar do reduzido número de aviões como resultados de pequenos acidentes que exigiriam reparos, esse foram instrumentais na formação da maior turma diplomada, representada por sete oficiais que receberiam em 1931, o breve de aviador naval. O ano seguinte prometia ser igual ou mais intenso para os Avro 504K e Avro 504N/O Lince, e em julho seria iniciada a formação do que seria a maior turma de aviadores navais já diplomados desde o ano de 1916, acrescido ainda pela primeira turma dos aviadores da Reserva Naval Aérea da Marinha. No entanto, naquele mês, estouraria a Revolução Constitucionalista, e em sua esteira seriam suspensas praticamente todas as atividades aéreas de instrução. Neste momento estas aeronaves já não eram mais empregados na formação de aviadores navais, mas realizavam a igualmente importante tarefa de adestrar o pessoal do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ.  
O início das hostilidades faria com que a Aviação Naval reunisse todos os seus recursos de material e pessoal para o esforço de guerra, e entre as aeronaves convocadas estavam os Avro 504N/O Lince. Entre outras necessidades das forças legalistas encontrava-se o patrulhamento fluvial na região do pantanal, na tentativa de inibir qualquer atividade das forças Constitucionalistas.  Para dar apoio direto às unidades de superfície da Marinha do Brasil, em agosto dois Avro 504N/O receberiam metralhadoras Vickers .303 de calibre 7,62 mm × 54 mm e foram enviados à Base Naval de Ladário. Equipados com flutuadores, esses aviões regularmente realizavam missões de vigilância nos longos cursos fluviais da região, executando ainda o patrulhamento de fronteira. Ao término da Revolução Constitucionalista, estes dois aviões que se encontravam no Pantanal regressariam ao Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ e foram aparentemente recolhidas as Oficinas Gerais de Aviação Naval (OGAN) a fim de sofrerem uma revisão geral. Por sua vez, em setembro de 1932, um Avro 504N/O seria dado como pronto entregue após uma revisão completa. Porém essa aeronave teria uma vida efêmera, acidentando-se com perda total de material e infelizmente de pessoal em dezembro daquele mesmo ano. A partir de então, a historia dos Avro 504N/O torna-se nebulosa. Existem indicações de que os aviões que estiveram no Pantanal, junto com mais outra célula, permaneceriam nas  Oficinas Gerais de Aviação Naval (OGAN) e de lá não sairiam mais. O certo é que, em 1934, seria dada baixa aos Avro 504N/O Lince, encerrando, assim definitivamente, a carreira destas aeronaves no Brasil.

Em Escala.
Para representarmos o Avro 504K “A7” pertencente a  Aviação Naval, quando a serviço da Escola de Aviação Naval - EAvN,  empregamos o antigo kit da Airfix na escala 1/72, modelo de fácil montagem porém de baixo detalhamento, exigindo ainda confecção em scratch dos para-brisas. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals presentes no antigo set 72/09.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Avro 504K da Aviação Naval, inicialmente as aeronaves foram recebidas em uma tonalidade de amarelo denominada "clear dope linen" com o FS 33695. Já os Avro 504N/O receberam padrões de pintura em metal natural com as marcações nacionais. 


Bibliografia :
- Avro 504 – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Avro_504
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- 100  anos da Aviação Naval - Marinha do Brasil & Fundação Getulio Vargas
- Asas sob os Mares , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html

AS-355 F2 Esquilo-Bi UH-13

História e Desenvolvimento.
Após a queda da França em 10 de maio de 1940 e a subsequente ocupação alemã, a outrora pujante indústria de defesa nacional francesa foi reduzida a meras fábricas fornecedoras de componentes básicos destinados à produção de equipamentos e armamentos para o regime nazista. Seu renascimento teve início logo após o término do conflito, inserido no contexto do processo de continuidade da indústria manufatureira nacional. Esse movimento não apenas restabeleceu as empresas tradicionais do setor, mas também propiciou o surgimento de novos conglomerados industriais e produtos que, nas décadas seguintes, alcançaram significativa reputação internacional, com especial destaque no segmento aeronáutico, particularmente na produção de aeronaves de asas rotativas. Nesse segmento específico, o progresso foi impulsionado por incentivos substanciais e investimentos do governo francês, aliados à transferência de tecnologia (know-how) oriunda da produção de aeronaves sob licenças de origem norte-americana e britânica. Essas iniciativas foram lideradas por empresas como a Société Nationale de Constructions Aéronautiques du Sud-Est (SNCASE) e a Société Nationale de Constructions Aéronautiques du Sud-Ouest (SNCASO). Com base nesses acordos de produção licenciada, a indústria aeronáutica francesa alcançou, em pouco tempo, um estado de plena independência, concretizado no desenvolvimento de diversos projetos nacionais. Dentre eles, o de maior sucesso foi o helicóptero Alouette II, projetado pela SNCASE e equipado com um motor turboeixo. Sua estreia operacional ocorreu em março de 1955, e a tripulação, juntamente com suas versões subsequentes, ocorreu em produção até 1975, permitindo à França conquistar uma fatia expressiva do mercado internacional de helicópteros de pequeno porte. Em 1º de março de 1957, as duas empresas pioneiras, SNCASE e SNCASO, iniciaram um processo de fusão, dando origem ao grupo Sud Aviation (Société Nationale de Constructions Aéronautiques du Sud-Est). Um novo marco nesse processo de consolidação ocorreu em meados de 1970, quando a Nord Aviation foi incorporada à Sud Aviation, resultando na criação da Société Nationale Industrielle Aérospatiale, conhecida como Aérospatiale. Embora esse grupo tenha atuado em áreas diversas, como satélites, mísseis e jatos executivos, o desenvolvimento e a produção de presidentes ajudam como o principal pilar financeiro da empresa. Nesse sentido, a Aérospatiale destinou recursos consideráveis ​​ao desenvolvimento de uma ampla família de aeronaves de asas rotativas, com foco especial na criação de um sucessor para os consagrados modelos Alouette II e III, voltados tanto para uso militar quanto civil.

No início do ano de 1965, uma parceria anglo-francesa seria estabelecida para o desenvolvimento de um substituto ao modelo militar do Aérospatiale Alouette III, com este resultando da criação do exitoso Aérospatiale Gazelle, que passaria a equipar as forças armadas francesas e britânicas. Apesar deste sucesso no mercado militar, seu alto custo de aquisição e operação seria um fator inibidor para sua penetração no meio civil internacional. Assim desta forma, munidos de toda a experiencia obtida no desenvolvimento do Aérospatiale Gazelle, a equipe de projetos da empresa se debruçaria sobre a prancheta de projetos, com o objetivo de conceber uma nova uma nova aeronave de asas rotativas. Seus principais parâmetros seriam desenvolvidos com base em pesquisas de mercado realizadas junto a seus potenciais usuários, que elencariam exigentes especificações. Entre estes se destacavam reduzidos índices de ruido e vibrações, capacidade de transporte e baixo custo operacional. O atendimento a estes anseios dos operadores seria fundamental, pois almejava-se que a nova aeronave fosse extremamente competitiva quando comparado ao seu principal concorrente internacional, o norte-americano Bell 206 Jet Ranger. Desta maneira o projeto concebido apresentava um helicóptero mono turbo eixo com capacidade para transportar até cinco passageiros e tripulantes, empregando alta tecnologia em termos de avionica e ainda assim apresentar custos de aquisição e operação significativamente mais baixos que o Aérospatiale Gazelle. Ao adaptar os processos de produção empregados na indústria automotiva, incluindo até o uso de componentes comuns em carros da linha Citroen e Renault,o fabricante lançaria mão do novíssimo sistema Starflex para seu rotor principal, resultando assim em um eficiente e econômico helicóptero de porte leve capaz de atender as múltiplas tarefas e missões típicas dos setores civil e militar. O primeiro protótipo da aeronave designado como Aérospatiale AS350-001, realizaria seu voo inaugural em 27 junho de 1974, sendo conduzido pelo piloto de testes Daniel Bernard Certain Bauchart, estando equipado com um moderno motor turbo eixo Lycoming Avco LTS -101 com 592 shp de potência. Após sua apresentação oficial, o modelo seria submetido a um intensivo programa de ensaio e testes em voo, com seus resultados iniciais apontando para a baixa potência dos motores norte-americanos. Como solução decidiria-se substituir este conjunto original pelo modelo francês  Turbomeca Arriel 1B que entregava 641 shp , que fora desenvolvido anteriormente para o emprego em aeronaves rotativas de pequeno porte. 
O segundo protótipo já equipado com este novo motor alçaria voo em 14 de fevereiro de 1975, com este sendo extensamente ensaiado em voo, com a escolha do novo motor se mostrando uma decisão acertada, neste programa seriam implementadas ainda uma série de melhorias de ordem técnica. Deste estágio resultaria a versão final de produção, com três células sendo produzidas com o intuito de serem submetidas aos processos de certificação internacional. Em 1977 após a obtenção das devidas certificações, o agora denominado Aérospatiale AS350B Écureuil (Esquilo), seria lançado nos mercados europeu e norte-americano, passando rapidamente a receber uma curva crescente de pedidos de operadores particulares. Em seguida a partir de 1978 começariam a ser celebrados nos dois continentes grande contratos governamentais para emprego no segmento policial e de socorro aero médico. O sucesso observado do mercado civil e paramilitar, motivaria a empresa francesa a desenvolver uma versão para o mercado militar, tendo como foco primordial, o treinamento e conversão de pilotos, apresentando como missões secundarias transporte VIP (Very Important Person), ligação e observação. Visando a atender parâmetros mínimos de desempenho para uma aeronave militar, esta nova versão inicialmente passaria a contar com o motor Turbomeca Arriel 1D que entregava uma potência nominal de 684 shp, resultando em um perfil de desempenho ligeiramente superior a versão civil. Os primeiros contratos da versão agora designada como AS350 BB, seriam celebrados 3m 1979 com a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) e com Aviação Leve do Exército Francês (ALATP), sendo empregados no treinamento e formação de pilotos de asas rotativas passando a substituir as primeiras versões do Aérospatiale Gazelle. No entanto seu contrato mais representativo seria firmado com o governo britânico, com a compra de sessenta aeronaves para emprego junto a Defence Helicopter Flying School (Escola de Voo de Helicópteros de Defesa), organização militar destinada a formação conjunta dos pilotos de asas rotativas da Força Aérea Real (Royal Air Force), Exército Real (Royal Army) e Marinha Real (Royal Navy). Logo em seguida a Marinha do Brasil se tornaria o quarto cliente militar da aeronave, mediante o estabelecimento de uma parceria entre a empresa francesa e o governo para a fundação de uma empresa para produção destas aeronaves no país.   Posteriormente um grande número de helicópteros desta família seriam exportados para emprego em tarefas de treinamento e transporte na Argentina, Arabia Saudita, Botswana, Benin, Burkina Faso, Burundi, Austrália, Canadá, Chile, Camarões, Gabão, Camboja, Paquistão e República Centro-Africana. 

Tao logo os protótipos do Aérospatiale AS 350 Ecuriel (Esquilo) fossem submetidos aos programas internacionais de certificação, o fabricante iniciaria estudos visando o desenvolvimento de uma nova versão, agora equipada com dois motores turbo eixo. O principal intuito deste programa era o de oferecer uma aeronave de asas rotativas a um segmento de mercado de maior valor agregado, que priorizava em sua demanda parâmetros de segurança operacional que somente um helicóptero bimotor poderia proporcionar. Visando o máximo de padronização de processos e cadeia logistica, esta nova versão seria totalmente baseada no modelo monomotor, com sendo desenvolvimento sendo assim agilizado, resultando no primeiro voo do protótipo no dia 28 de setembro de 1979. Logo em seguida esta aeronave seria imersa em um amplo programa de ensaios em voo para validação do projeto, resultando assim em pequenas melhorias que seriam logo implementadas. A primeira versão de produção em série, seria denominada como AS-355E Ecureuil 2 ou Twin Squirrel (nome comercial para o mercado norte-americano), estava equipada com dois motores turbo eixo Allison 250-C20F desenvolvendo 420 shp cada, e fazia uso de um sistema hidráulico de controle simples. Já a segunda versão de produção em série designada como AS-355F Ecureuil 2 passava a apresentar um duplo sistema hidráulico de controle, no intuito de melhorar o desempenho e segurança em voo. Ao final década de 1980, a família de helicópteros AS350B e AS355B já era um grande sucesso comercial, operando em vários países tanto no mercado civil como no militar, e o grande número de aeronaves disponíveis cada vez mais impactava positivamente na cadeia de custos de peças de reposição e processos de manutenção, o que valorizava cada vez mais o emprego do modelo. Neste momento a diretoria da empresa vislumbraria um grande mercado potencial para o uso militar da aeronave bimotora, levando assim a estudos para emprego em missões especializadas, entre elas ataque a solo, apoio aproximado, patrulha marítima, guerra antissubmarino (ASW), ataque anti-superficie (ASM) e busca e salvamento de combate (Combat-SAR).  Duas células das versões civis de produção seriam empregadas neste programa de desenvolvimento, passando a receber reforços estruturais, blindagem para o grupo motriz e para os tripulantes (piso e assentos blindados), nova avionica embarcada mais adequada a missões de combate, preparação para instalação de sistemas de imageamento diurno e noturno, óculos de visão noturna (OVN/NVG) e dispositivos de defesa passiva. Porém uma das melhorias mais importantes envolveria troca da motorização original por um novo Turbomeca Arriel 2-B turboshaft com 847 hp. Em termo de pacotes de armas, poderiam ser equipadas com um canhão automático de 20 mm Giat M-621, casulos com metralhadoras FN Herstal de calibre 7,62 mm ou 12,7 mm, lançadores de foguetes não guiados com sete de 70 mm ou doze de 68 mm e misseis antitanque norte-americanos TOW BGM-71. 
Em termos de performance a versão bimotora, tornaria a aeronave ideal  para o emprego em missões de busca e salvamento, patrulha e esclarecimento marítimo, entre outras que necessitassem exigir um maior nível confiabilidade em termos de operacionalidade. Curiosamente este modelo nunca alcançaria a mesma performance de vendas a versão armada monomotora Aérospatiale AS 350 Ecuriuel. Em 1 de janeiro de 1990, o fabricante francês  alteraria seu sistema de designação de produção, com aeronaves militares passando a ser identificadas por um novo padrão de identificação. Assim o modelo monomotor AS-350, receberia a designação de AS-550, e o bimotor AS-355 se tornaria o AS-555, com estas aeronaves passando a ser oferecidas no mercado internacional de defesa.  Em 1992 um processo de fusão englobaria as divisões de produção de aeronaves de asas rotativas da empresa francesa Aérospatiale e da alemã Messerschmitt-Bölkow-Blohm, nascendo assim a European Aeronautic Defence and Space Company (EADS). Novamente seria adotada um sistemática de identificação diferente, renomeando as versoes militares como "Fennec" (Raposa), distinguindo assim da versão civil "Écureuil" (Esquilo). As versões de maior destaque seriam a AS550 C2 Fennec, AS550 U2 Fennec e AS550 C3 Fennec. Os primeiros contratos de exportação seriam celebrados ainda no ano de 1990, envolvendo entregas para as forças armadas da França, Argentina, Brasil, Colômbia, Argélia, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Malásia, México, Singapura, Paquistao, Uberquistao e China (versão produzida localmente do Z-11). Esta família de aeronaves designada comercialmente em 2005 como Airbus H-125, permanece em produção contínua  até os dias atuais, acumulando mais de três mil e setecentas células entregues ao mercado civil, forças de segurança e também a mais de quarenta forças armadas militares ao redor do mundo. Apesar da idade da maioria das células remanescentes, constantes programas de retrofit estrutural e modernizações garantem que esta família de aeronaves de asas rotativas ainda se manterá na ativa por mais pelo menos  vinte e cinco anos.

Emprego na Marinha do Brasil.
Desde a segunda metade da década de 1960, o comando da Aviação Naval da Marinha do Brasil, concluiria que a melhor solução para muitos problemas de ordem logistica para a manutenção de sua frota de helicópteros passava pela implantação no país de uma fábrica de aeronaves de asas rotativas. Essa possibilidade começaria a despontar no horizonte com a criação da Embraer S/A e, em 1973, com a gestão do Instituto de Fomento Industrial do Centro Técnico Aerospacial (IFI - CTA) para organizar a fundação de uma empresa dedicada a produção de helicópteros. No que tange as demandas da Marinha do Brasil, os primeiros esforços concentraram-se na Embraer S/A, que analisaria a possibilidade de se produzir sob licença no país o Aérospatiale - Westland Gazelle.  No entanto avaliações de ordem técnica indicavam que as linhas de montagem do fabricante estatal e seus processos não seriam adequadas a produção de helicópteros. Neste interim o Instituto de Fomento Industrial do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) em conjunto com a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) passariam a estabelecer contatos com diversos fabricantes de helicópteros, solicitando-os a apresentar propostas para produção no Brasil. Entres as empresas interessadas a francesa Aérospatiale demonstraria maior iniciativa, propondo inicialmente a produção de uma versão customizada do AS-315B Lama, que seria logo descartada em detrimento a escolha do modelo mais recente o AS-350 Écureuil. Negociações seriam conduzidas entre o governo federal, o governo do estado de Minas Gerais, a empresa Serviços Aerofogametricos Cruzeiro do Sul e o fabricante francês. Este processo em abril de 1978, resultaria em um acordo para a formação de uma estatal de capital misto para produção de helicópteros no país, seria assim então constituída a Helicópteros do Brasil S/A - Helibras , uma empresa formada com 45% de capital da Aérospatiale e 55% de capital brasileiro divididos entre a Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais,  Serviços Aerofogametricos Cruzeiro do Sul e Minas Gerais Participações. Estrategicamente sua planta fabril seria estabelecida na cidade de Itajubá no interior do estado de Minas Gerais. Como apoiara o desenvolvimento desta iniciativa, seria lógico que a  Marinha do Brasil figurasse entre os primeiros clientes da recém-criada empresa estatal de capital misto, a Helicópteros do Brasil S/A - Helibras. Assim em 30 de março de 1979 seria celebrado um contrato para a produção de seis células do modelo Aerospatiale AS350B Écuriel, que no Brasil receberia a designação comercial no país de Helibras HB-350B Esquilo. 

A primeira aeronave, agora designada militarmente com UH-12 e portando a matrícula N-7051, após testes de voo seria entregue nas instalações da empresa na França oficialmente a representantes da Marinha do Brasil no mês maio do ano 1979. Estas células seriam desmontadas e transportadas por via aérea ao Brasil em junho do mesmo ano, sendo recebida por oficiais do Grupo de Fiscalização e Recebimento de Helicópteros (GFRH) no aeroporto de Viracopos, em Campinas no interior do estado de São Paulo. Deste local, a aeronave seria transportada por via terrestre até o Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) em São José dos Campos (onde funcionavam as instalações provisórias da Helibras), sendo então montada por técnicos da Helibras S/A e da Aérospatiale. Esta e as demais aeronaves seriam incorporadas ao  1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (UH1), com seu emprego motivando a aquisição de um segundo lote que passava a incorporar uma série de melhorias.  Na primeira metade da década de 1980 apesar de já operar com uma frota razoável destas aeronaves, o comando da Aviação Naval identificaria a necessidade de aquisição de aeronaves de asas rotativas bimotoras, para o uso em tarefas de transporte e emprego geral.  Esta decisão visava sanar as deficiências de potenciais apresentadas pelos Westland UH-2 Wasp e Helibras UH-12 Esquilo, principalmente na execução das missões pertinentes ao Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), onde as inóspitas condições ambientais e meteorológicas exigiam em termos de segurança o emprego de uma aeronave bimotora. Com base nesta demanda e mediante a liberação orçamentária, a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), passaria a examinar as alternativas existentes no mercado internacional. Este estudo transcorria em paralelo com um processo de aquisição para um lote de helicópteros de transporte de médio porte, e neste processo seria concedida a preferência pela proposta comercial e técnica que pudesse oferecer um pacote completo de soluções para o atendimento destas demandas. Em setembro de 1984 seria apresentado pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), um relatório final que indicava como preferencial a proposta apresentada pela empresa francesa Aeropastiale, que oferecia o modelo AS-332 Super Puma na categoria de transporte médio e o AS-355 F2 Ecureuil 2 como a proposta para a aeronave bimotora leve. As negociações logo resultariam na assinatura de um contrato em março de 1985 entre o Ministério da Marinha e o fabricante francês sob a denominação de programa Charcot. 
Este contrato previa a aquisição de seis helicópteros AS-332 Super Puma e onze AS-355 F2 Ecureuil 2, com este último a um preço unitário de US$ 1.543,096,00. Estes deveriam ser entregues não somente em sua configuração padrão de avionica prevista para aquela aeronave, mas ainda com um moderno radar meteorológico Bendix 1400C e avançados sistemas de rádio VHF/UHF e AM/FM AN/ARC-182. Ademais, quatro destas células deveriam ser recebidas já ostentando o padrão de pintura antártico de alta visibilidade.  O primeiro AS-355 F2 já designado na aviação naval como UH-13 seria recebido nas instalações do fabricante em Marignane (França) em agosto de 1986, sendo entregue para inspeção pelo Grupo de Fiscalização e Recebimento de Helicópteros (GFRH).  Posteriormente as células seriam enviadas ao Brasil por via naval, onde seriam transportados até a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, sendo então montados por técnicos da Helibras e mecânicos do 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (UH1). Todas as onze aeronaves seriam declaradas operacionais em fins de junho de 1987.  Apesar das particularidades que o distinguiam do UH-12, o processo de qualificação do pessoal aeronavegante daquele esquadrão, se daria de forma rápida e fluida. Mesmo assim em 3 de junho do ano seguinte infelizmente uma célula seria perdida em um acidente na lagoa de Ararauma – RJ, ao se chocar com as águas quando se aproximava para pouso na Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA). Nao obstante este revés, o início da carreira dos UH-13 se daria como almejado, o embarque e operação na Antártica a bordo do navio H-42 Barão de Teffé . No mesmo ano de sua ativaçao operacional, o UH-13 se faria presente durante a Operação Antártica IV, sendo embarcado no dia 17 de novembro, e lá permanecendo até o mês de abril do ano seguinte. A partir desta operação, todas as demais contariam com a presença de ao menos, um UH-13 Esquilo biturbina, primeiro embarcados no H-42 Barão de Teffé e posteriormente no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rangel H-44. Ao longo de sua carreira operacional os UH-13 também seriam empregados em missões de apoio a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) nos mais variados pontos do território nacional. Dispondo de uma capacidade carga externa perceptivelmente maior do que a do UH-12 Esquilo, este modelo passaria a ser a plataforma ideal para o transporte de itens que iam além da capacidade do seu irmão menor monomotor UH-12 Esquilo. 

Por mais que tarefas como as de busca e salvamento, ligação e observação, remoção aeromédica, transporte logístico fizessem parte do leque de trabalhos atribuídos aos UH-13 Esquilo biturbina, na década de 1990, eles passariam a compor, com cada vez mais frequência, os destacamentos aéreos embarcados a bordo das fragatas e corvetas da Esquadra. Neste mesmo período, em função do programa de modernização dos helicópteros Westland SAH-11 Sea Lynx, os UH-13 passaria a ser temporariamente embarcados nas fragatas da classe Niterói atuando em missões de esclarecimento marítimo e a observação de tiro dos navios. Posteriormente atividades como estas a bordo dos navios da Esquadra limitaram-se, em geral, às corvetas da classe Inhaúma. Deste seu início operacional a frota destas aeronaves sofreu reduções, além da perda registrada do UH-13 N-7059 em 05 de junho de 1987, outra célula acidentou-se em dezembro de 1989.  Porém anos mais tarde esta célula seria reconstruída nas instalações da Helibras em Itajubá (MG) e entregue ao 1 º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral como um UH-12 (HB350 BA). Uma outra aeronave o UH-13  de matrícula N-7061 seria doada a Armada Nacional Uruguaia em 8 de dezembro de 2005, sendo rematriculado como Armada 071. Estes helicópteros também seriam empregados como plataforma de armas, sendo em missões de treinamento ou em apoio a operações de desembarque do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Os UH-13 Esquilo biturbina do 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1) seriam empregados na Campanha de Lançamento do MAA SIDEWINDER por aeronaves McDonnel Douglas AF-1/1A  Skyhawk do 1° Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (VF-1), atuando como lançadora de alvos. Ao longo dos anos que se seguiram os UH-13 Esquilo biturbina continuariam a prestas excelentes serviços a Aviação Naval da Marinha do Brasil, no entanto o desgaste operacional das células em função principalmente das intempéries marinhas, levariam o comando da Força Aeronaval a iniciar estudos visando uma provável substituição de todas as aeronaves de asas rotativas leves. Esta demanda seria incluída no escopo do programa Helicópteros de Emprego Geral de Pequeno Porte (UHP), desenvolvido pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) a partir do início do ano 2015. 
Este programa deveria envolver a longo prazo um vultuoso orçamento e detalhado planejamento o que demandaria um cronograma mais estendido, porém neste cenário despontava a urgência pela substituição dos UH-13 Esquilo biturbina. Estas aeronaves foram fundamentais no desenvolvimento do programa permanente brasileiro neste continente operando por mais de trinta anos, porém depois de todo este tempo a frota em condições de voo já se encontrava reduzida e equipada com um sistema de aviônica completamente ultrapassada, que poderia reduzir em muita sua operação com segurança, em um ambiente completamente inóspito como o daquele continente. Neste contexto optaria-se por anilisar compras de oportunidade no mercado internacional, que culminariam na aquisição de três células do modelo Airbus Helicopter H-135 T3. A concretização desta demanda anunciaria o crepúsculo da era operacional dos UH-13 Esquilo biturbina. Seu processo de desativação gradual teria início com o advento da 38ª Operação Antártica, com duas destas aeronaves em 25 de outubro de 2019, sendo embarcadas Navio de Apoio Oceanográfico “Ary Rongel” H44, que acompanharia o Navio Polar (NPo) “Almirante Maximiano” H41 em uma expedição ao continente antártico.  O término desta operação em abril do ano seguinte, marcaria o fim do emprego ininterrupto por trinta e dois anos dos UH-13 Esquilo biturbina junto ao programa OPERANTAR, abrindo espaço para o início das operações com os Airbus UH-17. Neste contexto as células remanescentes em operação junto ao 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (UH1), seguem em serviço, devendo ser empregadas no escopo de missões desta unidade até que venha a ser substituídas pelo novo vetor de asas rotativas a ser escolhido pelo  programa Helicópteros de Emprego Geral de Pequeno Porte (UHP). 

Em Escala.
Para representarmos o Aeropastiale AS-555 F2 Esquilo  UH-13 “MB 7065“ empregamos um modelo artesanal confeccionado em resina ( ver review completo ) que apresenta uma das versões desta aeronave francesa na escala 1/48 (ou 1/50 como aparenta ser) sendo o mesmo derivado do kit original da Heller.  Para adequação a versão empregada pela Aviação Naval da Marinha do Brasil,  procedemos a alteração dos exaustores laterais das turbinas incluindo também dois destes componentes na parte superior da aeronave, também substituímos os esquis de pouso,  pelos contidos no modelo original da Heller. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decals presentes no set 48/07B, efetuando a alteração dos numerais de matricula por decais originários de outros sets. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o  padrão de pintura de alta visibilidade empregado nas aeronaves Aeropastiale AS-555 F2 Esquilo UH-13 Esquilo quando em uso junto ao programa  OPERANTAR, com este sendo desenvolvido especialmente para utilização no continente antártico.  Já as demais células empregavam o padrão adotado a todas aeronaves Helibras UH-12 Esquilo em serviço junto ao 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (UH1).



Bibliografia :
- Eurocopter AS 355  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Eurocopter_AS355
- O Tudão Esquadrão HU-1 – Revista Força Aérea Nº 70
- O Esquadrão HU-1 na OPERANTAR - https://www.marinha.mil.br/secirm/pt-br/proantar/aeronaval
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr

Citroen 2 CV Charleston

Historia e Desenvolvimento
André Gustave Citroën engenheiro e empresário francês de origem judaica holandesa e polonesa, pode ser considerado um dos grandes pioneiros da indústria automotiva francesa e internacional, que conquistaria notoriedade pela invenção das engrenagens bi-helicoidais ou "espinha de peixe". Sua história industrial teria início no ano de 1912 com a fundação de uma pequena metalúrgica dedicada a produção de armamentos leves para infantaria. O eclodir da Primeira Guerra Mundial em 1914 potencializaria seus negócios, tornando sua empresa um fornecedor estratégico para o governo francês, chegando a produzir também uma variada gama de peças e componentes para a indústria de defesa nacional. Em 1918, após o término do conflito, sua empresa dispunha de uma excelente capacidade de produção, porém com o corte das encomendas militares, não havia mais o que produzir e comercializar. Visando se adequar ao novo cenário, a empresa passaria a desenvolver modelos de automóveis de passeio e utilitários, com seu primeiro modelo Type A, sendo lançado no segundo semestre do ano de 1919.  No início seus carros tornariam-se um sucesso, mas logo seus concorrentes, que ainda usavam madeira na estrutura de seus veículos, passariam a adotar novos estilos de desing, tornando assim rapidamente os carros da Citroen com uma aparência retrógada. Mesmo assim a empresa lograria êxito em vendas, com este cenário sendo impulsionado por seus baixos custos e robustez. Porém visando se concorrer de igual para igual, André Gustave Citroën logo se debruçaria sobre a prancheta de projetos, e em 1928 seria o pioneiro na Europa na produção de veículos totalmente construídos em metal. Logo em seguida desenvolveria o modelo Traction Avant, um carro tão inovador que não haveria concorrentes à altura em competições, apresentando três características revolucionárias: a estrutura monobloco, suspensão independente nos pneus dianteiros e a tração frontal. O Traction Avant viria a estabelecer o padrão a seguir, sendo utilizado trinta anos depois pelo Mini, Volkswagen Golf e hoje por quase todos os fabricantes. Porém seu desenvolvimento seria dispendioso impactando diretamente na deterioração da situação financeira dada empresa, que resultaria na falência da empresa no ano de 1934, com está sendo adquirida pelo seu maior credor, a companhia de pneus Michelin. Felizmente, o Traction Avant foi seria bem aceito pelo mercado levando a resultados surpreendentes em termos de venda e rentabilidade, alavancando assim mais a marca não só mercado francês, mas também toda a Europa.   

Neste mesmo período seriam iniciados estudos para o desenvolvimento de novos projetos e conceitos que resultariam carros de passeio, que no futuro ser tornariam clássicos europeus como os modelos 2CV e DS. Este primeiro tinha por objetivo conceber um carro espartano de baixo custo de aquisição e manutenção, nascia assim sob o comando do engenheiro Pierre Jules Boulanger, o projeto TPV (acrônimo em francês de Toute Petite Voiture, em português Veículo muito pequeno). O objetivo era conceber um veículo popular, de baixa cilindrada, uma espécie de ferramenta de trabalho que poderia servir tanto aos trabalhadores rurais como aos operários urbanos. Dizia-se na época que o carro seria uma espécie de “quatro rodas sob um guarda-chuva, um veículo seguro, capaz de transportar quatro pessoas e 50 kg de batatas com o máximo de conforto, a 60 km/h”. Seria o equivalente francês ao Modelo T, que a Ford fazia nos Estados Unidos desde o início do século, ou o sedã que a Volkswagen desenvolvia na Alemanha. Inicialmente, a intenção da montadora era de apresentá-lo no Salão do automóvel de 1939. Entre os anos de 1938 e 1939 seriam produzidas duzentas e cinquenta unidades com refrigeração a água, que passariam a ser extensivamente testados. O eclodir da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939 levaria a suspensão de toda a produção da veículos da empresa, com suas linhas passando a produzir carros de combate de projeto da Renault e Schneider. Com a queda da França em 10 de maio de 1940, e a consequente ocupação alemã, sua planta industrial passaria a ser empregada para a produção de componentes para a indústria de defesa nazista. Neste momento qualquer tentativa de continuar a produção de protótipos seria impossível, e mais, considerando o perigo de que os alemães utilizassem o projeto para seus próprios fins. Desta maneira alguns protótipos seriam escondidos, mas em sua maioria acabariam sendo destruídos, curiosamente entre os anos de 1994 e 2004 seriam encontrados cinco protótipos do Citroen TPV. Com o término do conflito em maio de 1945, a empresa retornaria a suas atividades normais, com o mercado Europeu neste momento de reconstrução demandando o desenvolvimento de veículos de baixo custo, renascendo assim o projeto do TPV.  Em fins de 1946, o novo modelo receberia o nome de Citroën 2CV, com a sigla em alusão a potência fiscal, uma unidade usada para taxar o veículo. Apesar de estar relacionada, entre outros fatores, à potência do motor, a sigla CV nesse caso, não expressava a potência real do motor, que era na verdade de 9 cv. 
O modelo só seria oficialmente apresentado no Salão de Paris de 1948, com um motor bi cilíndrico de 375 cm3 que desenvolvia 9 cv de potência, refrigerado a ar. Inicialmente, o estilo seria considerado polêmico, segundo relatos, um jornalista norte-americano ao ver pela primeira vez o Citroën 2CV, perguntou: "E onde está o abridor de latas? Porém sua economia, simpatia e praticidade acabaram prevalecendo e conquistando o público. Embora a potência fosse contida, o veículo era extremamente leve pesando apenas 560 kg, não comprometendo tanto seu desempenho. Conforme citado anteriormente, a nomenclatura oficial do modelo de “deux chevaux”, que significa dois cavalos, fazia referência a potência do veículo, buscando assim enquadramento em políticas governamentais de redução de impostos para carros populares. Apesar do desempenho dentro do mínimo aceitável, o mercado consumidor naquele período exigia cada vez maior potência, levando a empresa em 1954 a adotar um novo motor de 425 cm3 com 12 cavalos de potência, elevando assim a velocidade máxima a 80 km/h.  Neste momento seria lançada também a versão furgão, destinada ao transporte e entrega de pequenas cargas, principalmente em ambiente urbano. O sucesso desta nova versão, faria a montadora a expandir sua produção a partir do ano de 1957, passando a montar seus modelos em subsidiarias no Camboja e na Espanha. Ainda em 1958, a montadora apresentaria a versão Sahara, com dois motores de 425 cm3, 24 cv de potência e tração nas quatro rodas, chegando a alcançar 100 km/h, mas sua produção só seria iniciada dois anos mais tarde, em 1960 perdurando até o ano de 1966 com quase setecentas unidades completadas. No ano de 1964 a família Citroen 2CV passaria a ser produzido em Portugal, e sete anos depois desembarcaria na América do Sul através de acordos de montagem no regime CKD (completely knocked down) Paraguai, Uruguai e Equador. O preço de venda do Citroen 2CV era baixo em relação à concorrência, na Alemanha Ocidental durante a década de 1950 por exemplo, ele custava cerca de metade do preço de um Volkswagen Sedan “Fusca”. Porém a partir da primeira metade desta mesma década, o mercado de carros econômicos na Europa estava em ampla expansão, gerando um aumento da concorrência que seria representado principalmente pelo alemão Messerschmitt KR175 e o italiano Isetta, passando a ameaçar assim a liderança francesa neste mercado. 

Apesar destes últimos serem classificados pejorativamente como “microcarros”, com desempenho e capacidade de transporte inferior ao Citroen 2 CV, o consumidor europeu começaria gradativamente a migrar para estes concorrentes, muito em função de seu preço de aquisição.  Estas ameaças a partir de 1961 também seriam sentidas no mercado doméstico francês, com o advento do lançamento do pequeno Simca 100 (que fazia uso da tecnologia Fiat licenciada), e o francês hatchback Renault 4, que rapidamente conquistaria grande parte deste nicho, se tornado assim o maior algoz do Citroen 2CV. O pequeno modelo francês iniciaria uma grande carreira militar em 1961, quando a Marinha Real Britânica (Royal Navy) assinou contrato para a aquisição de sessenta e cinco carros divididos entre o modelo original e a versão picape. Seu emprego em tarefas de transporte de pessoal se daria junto aos Regimentos de Comandos dos Fuzileiros Reais  (Royal Marines), que necessitavam de veículos robustos e confiáveis para uso em ambiente de selva, e que fossem leves o suficiente para serem levados para terra por helicóptero após serem içados de porta aviões. Seu emprego real traria ao modelo grandes elogios, levando a adoção posterior pelo Exército Frances (Armée de Terre) nas versões de transporte, furgão utilitário e ambulância, muitos destes seriam customizados pelos franceses para emprego nas tarefas de reconhecimento armado com metralhadoras Browing M-2 calibre .50, carro comando, radio e porta canhão sem recuo de 106 mm. A versão básica também seria adotada pela Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) e pela Marinha Nacional (Marine Nationale) para emprego em tarefas administrativas. Em fins da década de 1970 o comando Exército Frances (Armée de Terre) solicitaria a montadora o desenvolvimento de uma versão militar com tração 4X4 que receberia a designação de Citroen Méhari 4x4. Este modelo em sua versão militar era podia ser classificado com um utilitário leve do tipo cross-country com carroceira metálica, sendo alimentado por um motor de duplo plano com 652 cilindradas, refrigerado a ar com ignição eletrônica integral, desenvolvendo uma potência DIN máxima de 34 cv a 5.750 rpm e um torque DIN máximo de 36 lb.ft a 3.500 rpm. Destes pelo menos quatrocentos veículos seriam adquiridos pelas forças armadas francesas, com muitos destes permanecendo em serviço ativo até pelo menos meados da década de 1990. 
Durante as décadas de 1960 e 1970, uma grande variedade destes modelos seriam adotados por diversas forças armadas principalmente no continente africano para variado emprego, com muito destes oriundos das forças de segurança das antigas colônias francesas. Sua produção iniciada no ano de 1948, seria somente descontinuada em meados de 1990, alcançando a incrível marca de mais de cinco milhões de carros desta família produzidos, podendo este ser considerado como o modelo mais popular da montadora francesa já produzido e comercializado em toda a sua História. Uma versão específica do Citroen Méhari, seria montado sob licença pela Nordex no Uruguai, apresentando somente com tração dianteira, usando componentes mecânicos provenientes da Citroën Argentina e uma carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro, mais fácil de ser produzida no Uruguai com moldes simples ao invés de ser moldada por injeção como era o caso do modelo francês. A última planta industrial a produzir o Citroen 2CV a de Portugal realizaria uma grande cerimonia no dia 27 de julho de 1990, quando o último veículo deixou a linha de montagem de sua subsidiaria.  O Citroen 2CV seria muito popular na Europa, principalmente entre as décadas de 1950 e 1960, recebendo um lugar de destaque nas famosas Aventuras de Tintim de Hergé no livro O Caso Girassol ao ser conduzido pelos detectives Dupond e Dupont.  O mais carismático a acarinhado modelo da Citroën de todos os tempos fez ainda parte de uma edição especial dos chocolates da Côte d'Or que juntava as personagens das Aventuras de Tintim a vários modelos da Citroën, eternizando assim seu papel História Automotiva Internacional.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O emprego temporário deste notável carro francês pelo Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira, curiosamente decorreria de fatos históricos gerados após a decisão do presidente egípcio Gamal Abdel em julho de 1956 de nacionalizar o Canal de Suez, após decisão de Estados Unidos e Grã-Bretanha de não financiar a construção da Barragem de Aswan, como haviam se compromissado, em razão de um perigoso movimento de aproximação do Egito aos países comunistas como União Soviética e Tchecoslováquia. O canal de 163 quilômetros ligando o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, sempre foi palco de tensões internacionais e foi construído entre 1859 e 1869, custando as vidas de mais de cento e vinte mil egípcios, principalmente por causa da cólera. De propriedade conjunta dos governos do Egito e França, o canal de Suez sempre teve importância estratégica porque permitia que embarcações fossem da Europa à Ásia sem ter de contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança.  A dívida externa do Egito forçou o país a vender sua parte do canal à Grã-Bretanha em 1879, assim em 1882 tropas britânicas se instalariam na região a fim de proporcionar proteção a sua nova propriedade. Já no século XX um dos principais catalisadores desta crise seria o nacionalismo árabe, ou 'arabismo’, que incorporava a ideia de que todos os árabes, do Marrocos até o Golfo, deveriam se unir em um só país. Apesar desta ideia ser apenas uma ilusão, ressoava com o  efeito de repercussão muito forte. Durante o auge do poder de Nasser, entre os anos de 1950 e 1960, a ideia de que os árabes deveriam se unir sob a liderança do Egito tornou-se muito popular. Usando o rádio portátil como meio de comunicação, Nasser espalhou a mensagem arabista pelos cantos mais remotos da região. Líderes manchados por sua ligação com os antigos poderes coloniais viram sua influência seriamente enfraquecida. Com a ascensão de Nasser, três ideais passaram a dominar a política árabe: o arabismo, a justiça social e a luta contra Israel. Alinhando-se com Grã-Bretanha e França na questão do Canal de Suez, Israel confirmou a visão árabe que via o país como uma criação do colonialismo. A luta contra Israel tornou-se a causa árabe predominante, mas acabaria contribuindo, no fim, para a ruína de Nasser.

Voltando ao contexto da nacionalização do canal, Nasser reagiria à decisão declarando lei marcial na região do canal e tomando controle da Companhia do Canal de Suez, acreditando que o pedágio recolhido com a passagem de navios pelo canal financiaria a construção da represa em cinco anos.  A Grã-Bretanha e França temiam que Nasser fechasse o canal e cortasse o fornecimento de petróleo do Golfo Pérsico para a Europa. Quando esforços diplomáticos para resolver a crise falharam, os dois países - aliados a Israel - planejaram uma ação militar surpresa para retomar o controle do canal e, se possível, depor Nasser. As forças israelenses entraram no Egito em outubro de 1956 enquanto tropas francesas e britânicas chegaram aos portos egípcios em novembro. Esta campanha militar enfrentaria forte oposição interna, tanto na Grã-Bretanha quanto na França, além de sofrer a ameaça constante de intervenção das Nações Unidas e da União Soviética, criando assim a "Crise do Canal de Suez. Neste momento seria criada a primeira "Força de Paz" formada pela Organização das Nações Unidas - ONU, que foi constituída em 1956 com o objetivo de buscar meios para a solução desta crise. Esta força militar multinacional passaria a ser denominada como a UNEF - SUEZ (United Nations Emergency Force), em português, FENU- SUEZ (Força de Emergência das Nações Unidas). Neste momento o Brasil, garantido pelos vínculos de país membro da Organização das Nações Unidas, seria convocado para ser componente da comissão internacional de estudos sobre este conflito. Em dezembro, forças da ONU evacuaram as tropas europeias e as forças israelenses saíram da região em março de 1957, numa retirada humilhante. Além dos esforços diplomáticos brasileiros, seria definida em consenso a participação de contingente militar nacional no Oriente Médio. O estabelecimento deste grupamento seria feito com militares oriundos de todo o país, e o estado do Rio Grande do Sul, sempre historicamente, um forte componente militar da Federação, teria destacada papel nesta organização, fornecendo de três dos vinte contingentes militares para a composição deste Batalhão de Infantaria que receberia a denominação de Batalhão Suez. 
Estes efetivos seriam formados, integralmente, nas unidades militares nacionais e enviados pelo Brasil como parte integrante da FENU- SUEZ (Força de Emergência das Nações Unidas), englobando o período de janeiro de 1957 até julho de 1967, um total de vinte contingentes para lá despachados. As primeiras tropas do Exército Brasileiro chegariam ao teatro de operações no Egito  em fevereiro de 1957,  e passariam a  ser equipados com veículos e armas oriundos de diversas nações, entre eles de origem norte-americana, oriundos da Segunda Guerra Mundial, como os blindados Ford M-8 Greyhound,  Ford M-20 Comand Car, utilitários Jeeps Willys MB, Ford GPW, Dodge WC-52 WC-53, WC-56, Ford M-151 Mutt, e  ingleses como os caminhões Bedford e carros de reconhecimento Coventry Armoured Car Mk.I, brasileiros envolvendo caminhões FNM D-11000 e picapes Volkswagen Kombi, e por fim franceses representados por carros, picapes e ambulâncias da família Citroen 2CV. Em termos de veículos para emprego em tarefas administrativas, a comissão de material da Nações Unidas (ONU) elegeria o Citroen 2CV Charleston, com noventa destes sendo cedidos pelo governo francês, com estes sendo oriundos dos estoques do Exército Frances (Armée de Terre).  Estes carros e picapes e também algumas ambulâncias (não existem registros oficiais) seriam igualmente distribuídos aos dez países que compunham a força multinacional de paz “UNEF 1”, representados pelo Brasil, Canada, Colômbia, Dinamarca, Finlândia, Índia, Indonésia, Iugoslávia, Noruega e Suécia. Ao comando militar de operações brasileiro, seriam destinados seis carros sedans, uma ambulância e duas picapes do modelo Citroen 2CV, com duas viaturas sendo destinadas a dotação da Polícia Militar do Exército (PE), cinco ao Exército Brasileiro e uma para a Força Aérea Brasileira, que manteria durante toda esta operação um destacamento administrativo permanente na região, muito em função para manter o suporte e a logística da ponte aérea  de correio operada regularmente entre o  Brasil e o Egito.    
O modelo logo  despertaria a curiosidade dos militares brasileiros, principalmente por apresentar um estilo de desing totalmente inusitado, com o qual não havia similaridade com os  carros comercializados em nosso país naquele período. De fácil condução, o pequeno notável veiculo conquistaria de cara  os oficiais, recebendo muitos elogios apesar da pouca potência nominal, seu teto removível de lona era um grande destaque. Sua robustez seria comprovada com poucos registros de quebra, sendo plenamente adequado a operar naquele ambiente desértico devido a seu confiável motor tipo boxter com refrigeração a ar.  Durante quase uma década os Citroen 2CV Charleston e seus derivados serviram as forças brasileiras participantes da FENU- SUEZ (Força de Emergência das Nações Unidas), e seu papel mesmo que pequeno atendendo as demandas de atividades administrativas de uma força multinacional de paz, em muito contribuiriam para que neste período para aquela instável região vivenciar lampejos de paz. A tensão pairava sobre cada um dos componentes destas forças de paz que se encontravam nas proximidades da Faixa de Gaza. Encarando um calor escaldante, tempestades de areia e minas terrestres, as “boinas azuis” patrulharam dia e noite as fronteiras entre Israel e Egito. Ao término da participação brasileira, os Citroen 2CV foram deixados no Egito junto com os demais equipamentos e veículos utilizados por todos os países membros naquele teatro de operações. Não existem registros oficiais sobre qual seu destino final, se foram incorporadas as forças armadas do Egito ou simplesmente abandonados. 

Em Escala.
Para representarmos o Citroen 2CV Charleston em serviço ao Exército Brasileiro durante sua participação na FENU- SUEZ (Força de Emergência das Nações Unidas), empregamos o excelente kit da Revell presente na escala 1/24. Não há necessidade de se proceder nenhuma alteração para se  compor a versão utilizada pelo Brasil. Empregamos decais na escala 1/35 confeccionados sob encomenda pela Eletric Products , presentes no Set “Suez - 1957 / 1967".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado em todos os veículos participantes das Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), durante a crise do Canal de Suez. Somente os carros pertencentes a Policia Militar do Exército Brasileiro (PE) apresentavam diferenças sutis neste esquema de pintura.



Bibliografia: 
- Citroën 2 CV vai completar 70 anos - https://jornaldocarro.estadao.com.br
- Citroen 2 CV Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Citro%C3%ABn_2CV
- Citroen 2 Cv  – http://www.citroenet.org.uk/
- Batalhão Suez -   http://www.batalhaosuez.com.br