Sikorsky SH-34G Seahorse no Brasil

História e Desenvolvimento.
Em 23 de maio de 1923, a companhia Sikorsky Aero Engineering Corporation foi fundada nas proximidades do aeródromo de Roosevelt Field, na cidade de Nova York, por Igor Sikorsky, um imigrante dos Estados Unidos que nasceu em Kiev, na Rússia. Desde o inicio a empresa de dedicaria ao projeto e produção de aeronaves civis de treinamento e transporte leve, em 1925, o nome da empresa foi alterado para Sikorsky Manufacturing Company. E tres anos depois em 1929 seguinte transferiria suas instalações industriais para a cidade de Stratford no estado de Connecticut, passando a se tornar parte do grupo industrial e comercial da United Aircraft and Transport Corporation (atualmente United Technologies Corporation). Neste novo contexto, Igor Sikorsky e sua equipe de projetistas se concentrariam no desenvolvimento de aviões convencionais com múltiplos motores e aeronaves anfíbias. Porém no final da década de 1930, as vendas deste segmento de aeronaves sofreriam drásticas reduções de demanda, levando a diretoria do conglomerado industrial a fundir a divisão de projetos e fabricação da Sikorsky Manufacturing Company, com empresa Vought Aircraft Company. Neste novo cenário, Igor focaria seus esforços no desenvolvimento de uma aeronave de asas rotativas funcional, que culminaria no projeto Vought-Sikorsky VS-300, que realizaria seu primeiro voo em 13 de maio de 1940. Após ensaios em voo e consequentes modificações, este modelo evoluiria para a aeronave experimental VS-316 ou XR-4, com seu primeiro protótipo alçando voo no dia  14 de janeiro de 1942. E após ser aceito pelo comando da Força Aérea do Exército Americano (USAAF) em maio do mesmo ano, se tornaria o primeiro helicóptero estável, de rotor único e totalmente controlável a entrar em produção em grande escala. Suas primeiras missões reais durante a Segunda Guerra Mundial, seriam dedicadas a tarefas de busca e salvamento no teatro de operações da China-Birmânia-Índia, tendo emprego também em missões de transporte de componentes para aviação no Pacifico Sul. O sucesso operacional demandaria grande contratos de produção, sendo que ao final do ano 1944 eram entregues aos militares norte-americanos um total de cinco células a cada seis dias. O projeto conceitual do Sikorsky R-4, passaria a nortear o desenvolvimento da maioria dos novos modelos de aeronaves de asas rotativas desenvolvidas a seguir. 

No final da década de 1940 a diretoria da Sikorsky Manufacturing Company, vislumbraria o grande leque oportunidades, que o segmento de aeronaves de asas rotativas poderia trazer nos próximos anos, com o helicóptero passando a assumir papéis importantes não só no meio militar, mas também no mercado civil. Este vislumbre de futuro levaria a empresa a investir recursos próprios visando o desenvolvimento de um novo helicóptero de médio porte para emprego em missões de transporte, busca e salvamento e evacuação aéreo médica. O conceito desta nova aeronave chamaria a atenção do comando da Força Aérea Americana (USAF), que celebraria um contrato para a produção de cinco protótipos do modelo agora designado como YH-19, para fins de avaliação, que alçaria voo em 10 de novembro de 1949. Em menos de um ano depois a aeronave já estaria em uso não só na força aérea, mas também na Marinha Americana (US Navy) como HO4S-1. Em uso durante a Guerra da Coréia, os novos helicópteros provariam seu valor, porém vislumbrava-se a necessidade de uma aeronave de maior porte e maior potência, não só para a operação nas missões convencionais, mas também para missões mais especificas entre estas a guerra antissubmarino (ASW). Neste mesmo período o aumento das tensões provocadas não só pela Guerra na Coréia, mas também pela Guerra Fria, trazia a tona uma nova ameaça, que era representada pelo vertiginoso crescimento da frota de submarinos soviéticos. E neste contexto, a introdução de uma aeronave de asas rotativas que tivesse a capacidade de dispor de uma variada suíte eletrônica e sistemas de sonar e radar e sistemas de armas   antissubmarino, seria de grande valia. Assim após a definição dos requisitos técnicos, o comando da aviação naval da Marinha Americana (US Navy), lançaria uma concorrência para o desenvolvimento deste novo helicóptero. Entre diversas propostas apresentadas, sagrar-se-ia vencedor, o projeto apresentado pela Sikorsky Aircraft, o modelo S-58. Esta nova aeronave, mantinha as melhores características de seu antecessor o H-19, eliminando ainda as deficiências anteriores, fazendo uso de soluções como a instalação de um motor de maior potência, rotor principal de maior diâmetro e quadripá e sistema de transmissão de confiabilidade e eficiência muito superiores aos empregados nos Sikorsky H-19 (S-55).
Após a assinatura do primeiro contrato de encomenda de grande vulto, em junho de 1953, o período de desenvolvimento do novo helicóptero seria relativamente rápido, com o primeiro de três protótipos realizando seu primeiro voo em 8 de março de 1954. A primeira célula de produção em série destinada a Marinha Americana (US Navy) seria concluída e entregue em setembro do mesmo ano, na sua configuração para guerra antissubmarino (ASW) sendo designada como HSS-1 Seabat, e a versão de transporte geral como HUS-1 Seahorse. Os primeiros HSS-1 Seabat começaram a ser recebidos nos esquadrões de helicópteros de guerra antissubmarino (ASW )entre agosto de 1955 e abril de 1956, quando seria feita a entrega da última aeronave de uma encomenda de 385 unidades nas versões HSS-1 e HSS-1N. Entre os anos seguintes o Exército dos Estados Unidos (US Army) celebraria um contrato para  compra de 437 células, já o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC) encomendaria 515 aeronaves, seguidos de contratos de aquisição para a Força Aérea Americana (USAF) de 23 aeronaves e para  Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) de 30 aeronaves. Apesar de adotado por todas as forças armadas norte-americanas, os Sikorsky S-58 (H-34) receberiam seu batismo de fogo em mãos francesas, quando aeronaves a serviço do Aviação Leve do Exército Francês (ALATP) participariam ativamente de missões de transporte, resgate e evacuação aero médica durante a Guerra da Independência da Argélia. As experiencias em combate com a aeronave neste cenário de conflagração real levariam o comando do Exército Americano (US Army) a declinar do emprego do Sikorsky CH-34 na Guerra do Vietna, optando pelo Piasecki CH-21 Shawnee como aeronave tampão até a chegada dos primeiros Bell UH-1B, porém algumas dezenas de células seriam fornecidas a Força Aérea da República do Vietnã (RVNAF). Coube então as aeronaves pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais (USMC), o batismo de fogo norte-americano do modelo, empregando-os extensivamente nos anos iniciais na Guerra do Vietnã. 

Ao final da década de 1950, a aeronave seria implantada na missão de transporte executivo -  VIP (Very Import Person) para atendimento as demandas de deslocamento do presidente dos Estados Unidos, com oito células do Sikorsky HUS-1Z pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais (USMC), sendo especialmente configuradas para esta importante tarefa. O presidente Dwight D. Eisenhower se tornaria o primeiro chefe de estado a empregar regularmente o helicóptero como meio de transporte. Durante anos, as versões de guerra antissubmarino Sikorsky HSS-1 Seabat (posteriormente a partir de 1962 redesignadas como SH-34 Seahorse), representariam o sustentáculo aéreo embarcado da aviação naval da Marinha Americana (US Navy), no combate a crescente ameaça dos submarinos soviéticos, que atingiriam a  impressionante marca de duzentos navios operacionais na década de 1960. Este cenario começaria ser modificado a partir dor recebimento dos novos helicópteros com motores turbo eixo Sikorsky SH-3 Sea King, que começariam a ser introduzidos na aviação naval a partir de 1961, com os últimos Sikorsky SH-34G e SH-34J Seahorse sendo retirados das unidades de linha de frente entre os anos de 1969 e 1972. Além de ser operado por outras nações em missões de transporte e evacuação aero médica, os helicópteros da família Sikorsky S-58 (H-34), seriam ainda empregados em mais uma variante específica de guerra antissubmarino (ASW), que seria desenvolvido e produzido sob licença pela Westland Aircraft Co. Este modelo nasceria com base em uma célula de um Sikorsky S-58 enviada para Inglaterra em 1956 para estudos de customização as necessidades da Marinha Real (Royal Navy). Apesar de um primeiro contrato ser celebrado para a produção da aeronave com os motores convencionais a, ficava claro a necessidade de melhoria de performance, algo que não poderia ser atingido com os motores radias a pistão Ciclone Wright, levando assim a Westland Aircraft Co. a optar pelo uso de dois motores turbo eixo Gnomo Rolls-Royce. Esta versão final equiparia durante os anos seguintes, as principais unidades aéreas da Marinha Real (Royal Navy) e da Força Aérea Real (Royal Air Force), com as últimas aeronaves sendo retiradas do serviço ativo somente em meados da década de 1990.
Após o termino da Guerra do Vietnã, as aeronaves militares da família  Sikorsky S-58 começariam a ser gradativamente retirados do serviço nas forças armadas norte-americanas. No início da década de 1970 somente o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC) operava ainda o modelo, com o último registro de voo datando de 3 de setembro de 1973, com o Sikorsky UH-34 “147191” empreendendo um translado até a cidade de Quântico na Virginia, para preservação, com o este museu recebendo a último helicóptero com motor de pistão a ser operado pelas forças armadas norte-americanas. Este processo de desativação geraria um grande excedente de células em bom estado de uso, que passariam a ser fornecidas em condições vantajosas de aquisição para nações alinhadas aos interesses econômicos e geopolíticos dos Estados Unidos da América. No mercado civil o sucesso operacional da aeronave se repetiria, em função não só das excelentes características do Sikorsky S-58, mas também pela implementação de kits de modernização que visavam equipar a aeronave com o novo motor turbo eixo Pratt & Whitney PT6T-3 Turbo-Pac. A produção final da família de helicópteros em 1970, atingiria a cifra de 1.821 unidades em solo americano, somando a este número, mais 382 aeronaves produzidas sobre licença pela Westland Aircraft Co. na Inglaterra. Além dos Estados Unidos e Reino Unido, as aeronaves desta família seriam ainda operadas pelas forças armadas da França, Austrália, Brasil, Brunei, Gana, Iraque, Omã, Uruguai, Canada, Bélgica, Argentina, Chile, Costa Rica, República Dominicana, Alemanha Ocidental, Haiti, Indonésia, Itália, Israel, Japão, Laos, Holanda, Nicarágua, China, Filipinas e Tailândia.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O emprego de aeronaves de asas rotativas na Força Aérea Brasileira tem início em março de 1952, quando seria celebrado um contrato junto a Bell Helicopter Co. para a aquisição de quatro células do Bell Model 47D1 H-13D, novas de fábrica, esta aeronave adquirida na época, representava a versão mais avançada da em produção. A este modelo, se seguiria a incorporação de helicópteros de maior porte, agora os Sikorsky H-19D, que ampliaram o leque de missões a serem desempenhadas por aeronaves de asas rotativas no âmbito da Força Aérea Brasileira principalmente com foco nas tarefas de Busca e Salvamento – SAR. Apesar de olhar em detalhe os conceitos da guerra antissubmarino (ASW) com o emprego de helicópteros, os recursos necessários para a aquisição de aeronaves deste tipo ainda se encontravam muito distantes da realidade orçamentária do Ministério da Aeronáutica (MAer), que neste momento focava seus recursos para a renovação de sua aviação de transporte com objetivo posterior de atender a demanda da necessidade de modernização de sua frota de aeronaves de caça e ataque a solo. No entanto em fins da década de 1950 o governo brasileiro avançava a passos largos em uma negociação junto ao governo inglês para a aquisição de um porta aviões. Este programa resultaria em um contrato de compra e modernização de um navio aeródromo da classe Colosss, o HMS Vengeance - R 71, que seria submetido a partir de 1956, a um longo processo de modernização no estaleiro Verolme United Shipyard, em Rotterdam (Holanda). Curiosamente o Ministério da Aeronáutica (MAer), logo tomaria a frente a fim iniciar as primeiras providências para a ativar e dotar uma unidade aérea especificamente destinada a compor o grupo aéreo daquela embarcação, levando em conta que era a única das três forças armadas a operar aeronaves de asa fixa. A fim de atender a esta demanda, através de portaria ministerial, seria criado em 6 de fevereiro de 1957, o 1º Grupo de Aviação Embarcada – 1º GAE, unidade destinada a prover os meios aéreos à Marinha do Brasil, para operação a partir de seu porta-aviões.

O 1º Grupo de Aviação Embarcada (GAE) deveria ser constituído por dois esquadrões, um deles de patrulha e o outro de caça. Quando a Marinha do Brasil decidiu por operar o  A-11 Minas Gerais como porta-aviões antissubmarino, o esquadrão de caça passaria a ser substituído por um esquadrão de helicópteros de guerra antissubmarino (ASW). O primeiro esquadrão (1º/1º GAE) deveria ser equipado com aeronaves de guerra antissubmarino Grumman S-2F1 Tracker e o segundo (2º/1º GAE) passaria a operar seis helicópteros de guerra antissubmarino Sikorsky HSS-1 . Essas aeronaves seriam vendidas ao Brasil no âmbito do Programa de Assistência e Defesa Mútua (MDMAP) e, para tal, foram transferidas da Marinha Americana (US Navy) à Força Aérea Americana (USAF) como SH-34G Seahorse, onde receberam os números de série USAF 60-5424 a 60-5429 (seus números de construção da Sikorsky eram, respectivamente, 58.1283, 58.1294, 58.1295, 58.1307, 58.1308 e 58.1309). Algumas fontes registram essas aeronaves como pertencendo ao tipo HSS-1N / SH-34J, porém os números de série – citados em todas as fontes – correspondem a aeronaves do modelo SH-34G, apesar de elas estarem equipadas com sistema de sonar NA/ASQ-5, radar altímetro NA/APN-117, suíte eletrônica típica da versão HSS-1N - SH-34J. As primeiras duas aeronaves seriam entregues em fevereiro de 1961 e as últimas entre março e abril do mesmo ano, foram transportadas por aeronaves de carga Douglas C-124 Globemaster II da Força Aérea Americana (USAF) semi desmontadas, sendo preparadas para voo na Base Aérea de Santa Cruz no Rio de Janeiro - RJ, por mecânicos da Força Aérea Brasileira e do fabricante norte-americano.
Os seis Sikorsky SH-34G seriam incorporados ao 2º/1º Grupo de Aviação Embarcada (2º/1º GAE), que já dispunha de um núcleo de pessoal treinado pela Marinha Americana (US Navy)  para a operação da aeronave, sendo possível dar início ao ano de instrução para  mais militares e em paralelo, formando assim a doutrina  operacional guerra antissubmarino (ASW) com base em plataformas de asas rotativas, na Força Aérea Brasileira. No entanto este processo seria prejudicado pelo embate entre os Ministério da Marinha e Aeronáutica, quanto a jurisdição sobre as aeronaves a serem operadas a partir do convés do navio aeródromo A-11 Minas Gerais. A Marinha do Brasil não aceitava que o componente aéreo da esquadra viesse a ser controlado pela Força Aérea Brasileira, e assim desta maneira os Sikorsky SH-34G da força área jamais operariam embarcadas neste momento, com o processo de treinamento e formação de doutrina sendo realizado com base em terra, abrindo caminho também para missões de transporte de pessoal e carga, tendo em visto sua capacidade e desempenho desta nova aeronave. Este impasse só seria resolvido em 26 de janeiro de 1965, com a promulgação  do Decreto de Lei Federal nº 55.627, que determinava a Marinha do Brasil a operação de aeronaves de asas rotativas embarcadas e a Força Aérea Brasileira o emprego de aeronaves de asas fixas também embarcadas. Desta maneira os Sikorsky SH-34G seriam transferidos a Marinha do Brasil em 29 de junho do mesmo ano, onde receberiam as matrículas N-3001 a N-3006. No dia 20 de abril iniciou-se a instrução terrestre ao pessoal da Aviação Naval que passariam a operar os Sikorsky SH-34G; no mês seguinte, iniciaria-se o programa de instrução aérea. No dia 28 de maio, seria ativada a unidade que operaria os novos helicópteros, o 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (EsqdHS-1). No dia 7 de julho, os primeiros dois Sikorsky SH-34G seriam transladados em vôo para Base Aeronaval de São Pedro d’Aldeia no Rio de Janeiro, sede da nova unidade aérea da aviação naval.

De posse de seus novos vetores guerra antissubmarino (ASW), o comando da Marinha do Brasil, passaria a concentrar todos seus esforços para o treinamento das equipagens com o auxílio da Unidade de Treinamento Militar da  Marinha Americana (MTU-US Navy), visando assim capacitar o 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (EsqdHS-1) a participar da Operação Unitas VI, um exercício de guerra antissubmarino multinacional que seria realizado em cooperação com a Marinha Americana (US Navy)  e marinhas amigas. Em 08 de fevereiro de 1966 o 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (EsqdHS-1) registraria sua primeira perda, quando uma aeronave, durante uma missão de treinamento apresentou problemas no motor, vindo a chocar se contra o solo, causando infelizmente a morte de três tripulantes. Os Sikorsky SH-34G desempenhariam suas missões de guerra antissubmarino, embarcados a bordo do NAeL “Minas Gerais” A11, por um período de dez anos. Quando de sua incorporação em 1961, os sensores da aeronave representavam o estado da arte em termos de detecção e guerra antissubmarino, entretanto o rápido desenvolvimento tecnológico observado nos anos seguintes, levariam as empresas especializadas nestes tipos de sistemas eletrônicos, a descontinuar a produção de muitas peças de reposição, principalmente dos sonares NA/ASQ-5, radar altímetro NA/APN-117 e outros sistemas eletrônicos pertinentes a esta missão. Este efeito de ruptura na cadeia logistica levaria incialmente a frota de aeronaves da Aviação Naval da Marinha do Brasil, a apresentar baixos índices de disponibilidade dos sistemas de detecção e acompanhamento de submarinos, e posteriormente um inoperância completa para a realização de missões de guerra antissubmarino (ASW), relegando então estas aeronaves para missões de transporte (com a remoção da suíte eletrônica) e guarda aviões (Pedro) a bordo do porta aviões ligeiro  A-11 Minas Gerais.
Caberia ainda aos Sikorsky SH-34G Seahorse da Aviação Naval da Marinha do Brasil, a distinção de ser o primeiro vetor de asas rotativas no país a lançar com sucesso antissubmarino do modelo MK-44, e em 1 de maio de 1969 a realizar o primeiro ciclo de voo noturno embarcado a partir do navio aeródromo. Os graves problemas de operação de sistemas de guerra eletrônica, levariam o Ministério da Marinha a buscar no mercado internacional um vetor substituto para os já veteranos Sikorsky SH-34G, com a escolha recaindo sobre seu sucessor natural, o  Sikorsky SH-3D Sea King, com quatro aeronaves sendo recebidas em abril de 1970. Estas novas aeronaves seriam incorporadas ao 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (EsqdHS-1), operando em conjunto com os antigos vetores, agora totalmente empenhados em missões de transporte de tropas, cargas, busca e salvamento e evacuação aero médica. Em fins do ano de 1972, uma análise estrutural das três células remanescentes determinou por fatores econômicos, a suspensão de todos trabalhos de revisão de quarto escalão em curso nas células. Com estas aeronaves ainda operando em voos esporádicos até o final de 1974, sendo posteriormente alienados para a venda a partir do início do ano seguinte.

Em Escala.
Para representarmos o Sikorsky SH-34G Seahorse "MB 3005", fizemos uso do antigo e raro modelo da Revell na escala 1/48, a simplicidade do kit remete a época de sua produção. Como inconveniente temos a citar que algumas arvores estavam sujeitas a quebras devido o manuseio, necessitando assim de uma acurácia maior para montagem. Empregamos decais produzidos pela FCM Decais, presentes no antigo e descontinuado Set 48/7A.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Sikorsky SH-34G Seahorse, pois quando foram recebidos da Força Aérea Brasileira em 1961, ostentavam um esquema de pintura cor natural de metal e branco, recebendo apenas as marcações da Aviação Naval da Marinha do Brasil, até o ano de 1967 quando após as revisões de grande monta em âmbito de parque receberam o esquema padrão das aeronaves navais de asas rotativas.


Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- Sikorsky S-58 H-34 Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Sikorsky_H-34
- Revista ASAS nº 41 " Sikorsky H-34  " História Pictorial da Aeronaves - Aparecido Camazano Alamino
- Aviação Naval Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha  http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html

North American CB-25B/J Cargo

História e Desenvolvimento. 
A North American Aviation Company foi fundada em 6 de dezembro de 1928 por Clement Melville Keys, inicialmente estruturada como uma holding empresarial com o objetivo de negociar a compra e venda de participações em diversas companhias aéreas e empresas associadas ao setor de aviação. Contudo, essa estratégia tornou-se insustentável com a promulgação da "Lei Federal do Correio Aéreo" em 1934, que resultou na inviabilidade econômica e no colapso de holdings especializadas nesse modelo de negócio. Já consolidada como uma referência significativa no setor aeronáutico, a North American Aviation Corporation reorientou suas atividades para a produção de componentes e aeronaves. Nesse período, a empresa passou a ser liderada pelo engenheiro James H. "Dutch" Kindelberger, um profissional de vasta experiência adquirida durante sua atuação na Douglas Aircraft Company.  A operação neste momento contava com recursos financeiros provenientes de fundos da Eastern Air Lines. Em 1935, a General Motors Corporation adquiriu o controle da North American Aviation Company, promovendo uma fusão com sua divisão aeronáutica, a General Aviation Manufacturing Corporation. No mesmo ano, a companhia decidiu transferir sua planta industrial de Dundalk, Maryland, para Los Angeles, na Califórnia, visando aproveitar as condições climáticas mais favoráveis da região, que permitiam a realização de ensaios de voo durante todo o ano. Nessa nova fase, a estratégia comercial da empresa voltou-se para o mercado de aeronaves de treinamento, um segmento teoricamente menos competitivo em comparação aos nichos de aeronaves maiores ou mais complexas como caças e bombardeiros. Os primeiros resultados dessa reorientação estratégica se materializariam n os modelos North American GA-16, projetado para missões de treinamento básico, e GA-15, destinado a tarefas de reconhecimento e observação. Essas aeronaves, cujos projetos haviam sido originalmente desenvolvidos pela General Aviation Manufacturing Corporation, realizaram seus voos inaugurais e obtiveram homologação no início de 1936. O North American GA-16  após ser oficialmente apresentado, receberia a designação militar de “NA-18”, com seus dois protótipos sendo submetidos a um completo processo de avaliação para ensaios em voo. Em outubro do ano de 1935, seria  celebrado o primeiro contrato de produção para Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo quarenta e duas células, com as primeiras entregas sendo realizadas no início do ano seguinte. Esses desenvolvimentos marcaram os  passos iniciais da North American Aviation em sua trajetória para se estabelecer como um dos principais fornecedores de aeronaves militares para as forças armadas dos Estados Unidos. 

Em 11 de março de 1938, o Comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) emitiu especificações técnicas para o desenvolvimento de uma aeronave monoplano bimotora destinada a operar como bombardeiro médio de ataque. Diversas empresas aeronáuticas, incluindo Bell Aircraft Company., Boeing Stearman Company., Douglas Aircraft Company, Martin Aircraft Company e North American Aviation Company, submeteram seus projetos para avaliação. Contudo, este processo foi marcado por uma série de contratempos, com o registro de múltiplos acidentes e incidentes envolvendo os protótipos apresentados por estes fabricante. Esses eventos adversos culminaram no cancelamento do programa, identificado como CPN 38-385, encerrando assim provisoriamente o desenvolvimento desse novo bombardeiro. Entretanto, o agravamento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico proporcionou um novo ímpeto à modernização das forças armadas norte-americanas. Assim, em março de 1939, foi lançado um novo programa, denominado Projeto ACP 39-640, com o objetivo de desenvolver  um bombardeiro médio de ataque. Diferentemente da concorrência anterior, a urgência em avançar o projeto levou os militares a adotarem uma abordagem arriscada: selecionar o vencedor com base nas propostas apresentadas, sem a exigência de um protótipo funcional, visando disponibilizar a aeronave para operação antes do início de 1940. Dentre as propostas submetidas, duas foram escolhidas como finalistas: o Martin Model 179 e o North American NA-62, este último projetado pelos engenheiros R.H. Rice e John Leland Atwood. A aeronave bimotora da North American Company destacava-se por sua configuração de asa alta, dupla deriva e amplo armamento defensivo, com capacidade de transportar até 3.600 libras de bombas em altas velocidades – características que, em teoria, superavam as do Martin Model 179. Após uma análise detalhada das duas propostas, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) embasado na necessidade de reequipar seus esquadrões, optou por adotar ambos os modelos, formalizando contratos para a produção de 184 unidades do North American B-25 e 200 unidades do Martin B-26. É pertinente observar que o projeto final aprovado para a produção em série do North American B-25, embora derivado da proposta NA-40 apresentada na concorrência de 1938, resultou em uma aeronave significativamente maior e mais pesada, com um incremento de quase quatro toneladas em relação ao peso inicialmente projetado.
O primeiro protótipo do North American B-25 foi concluído em 2 de agosto de 1940, realizando seu voo inaugural em 19 de agosto do mesmo ano, sendo submetida a um completo programa de ensaios de voo, que logo culminariam na autorização para sua produção em série.  As primeiras 9 aeronaves concluídas apresentavam um diedro constante, o que significa que a asa tinha um ângulo consistente para cima da fuselagem até a ponta da asa. Após serem entregues ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), verificou-se que este desing ocasionava problemas de estabilidade "achatando" os painéis externos das asas. De imediato alterações seriam feitas, com a aeronave recebendo sua sua configuração de asa de gaivota, além disso seriam implementadas também menos perceptíveis, incluindo  um aumento no tamanho das barbatanas da cauda e uma diminuição em sua inclinação para dentro em seus topos. Em setembro de 1940, outros três protótipos foram entregues para submissão a um rigoroso programa de ensaios em voo, cujo sucesso resultou na homologação do modelo para produção em série. Nesse contexto, foi firmado um contrato entre a North American Aviation e as autoridades militares para a aquisição de 24 unidades, com as primeiras entregas ocorrendo em meados de fevereiro de 1941. Neste mesmo momento aeronave foi oficialmente designada B-25 e batizada como "Mitchell", em homenagem ao brigadeiro-general William Lendrum "Billy" Mitchell, renomado defensor das estratégias de emprego do poder aéreo norte-americano nas décadas de 1920 e 1930.  Paralelamente, aprimoramentos foram incorporados ao projeto original, dando origem ao North American B-25A. Essa versão atualizada assegurou um novo contrato para a fabricação de 40 unidades.  Durante esse período, relatórios da inteligência militar dos Estados Unidos, elaborados com base em dados provenientes do front aéreo europeu, destacaram a necessidade de avaliar a capacidade de sobrevivência dos bombardeiros frente à ameaça representada pelos caças alemães. Essas análises indicaram a pertinência de implementar melhorias no B-25A, incluindo a introdução de blindagem para proteção da tripulação e a adoção de tanques de combustível autos selantes. Embora tais modificações tenham elevado significativamente a resistência da aeronave a ataques inimigos, elas impactaram sua autonomia. A capacidade interna de combustível foi reduzida de 912 galões para 694 galões. Contudo, essa alteração não comprometeu a capacidade ofensiva do B-25, que manteve seu perfil operacional como bombardeiro diurno de curto e médio alcance. Por outro lado, a redução afetou a capacidade de translado para longas distâncias, problema parcialmente mitigado com a instalação de um tanque de combustível suplementar e removível no compartimento de bombas ("bomb bay") da aeronave.

O sistema defensivo do North American B-25B foi significativamente aprimorado, incorporando uma torreta elétrica Bendix tipo “L” equipada com duas metralhadoras Browning calibre .50, posicionada na parte traseira superior da aeronave, e uma torreta retrátil similar, com idêntico armamento, instalada na parte inferior, próxima ao compartimento de bombas ("bomb bay"). Essa nova configuração resultou na assinatura de um contrato para a produção de 120 unidades, cuja entrega teve início imediato às diversas unidades aéreas do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), distribuídas tanto no continente quanto no teatro de operações do Oceano Pacífico. A entrega das últimas aeronaves previstas nesse contrato foi concluída em janeiro de 1942. Apesar de fabricado em quantidade bem inferior às versões posteriores, o B-25B Mitchell alcançaria notoriedade histórica ao participar da ousada missão de bombardeio ao Japão em 18 de abril de 1942. Nessa operação, dezesseis aeronaves decolaram do porta-aviões USS Hornet (CV-2) para atacar alvos nas cidades de Tóquio, Kobe, Yokohama e Nagoya. Embora os danos materiais tenham sido limitados, o impacto psicológico foi expressivo, elevando significativamente o moral das forças militares norte-americanas. As versões subsequentes do B-25 incluíram o B-25C, com 1.625 unidades produzidas em Inglewood, e o B-25D, com 2.290 exemplares fabricados em Kansas City. Ambas as versões apresentavam características bastante semelhantes. A Força Aérea Real (RAF) se tornaria um dos primeiros clientes de exportação, recebendo a designação local de Mitchell I (B-25B), com as primeiras aeronaves sendo entregues em  agosto de 1941, à Unidade de Treinamento Operacional Nº 111 com sede nas Bahamas. Esses bombardeiros foram usados exclusivamente para treinamento e familiarização e nunca se tornaram operacionais. Ja os modelos B-25C e B-25D  foram designados Mitchell II, vindo a servir com os  esquadrões do Grupo N.º 2, e com  a força tática de bombardeiros médios da RAF. Seu batismo de fogo sob o comando dos britânicos ocorreria  22 de janeiro de 1943, quando seis aeronaves do Esquadrão N.º 180 da RAF atacaram instalações petrolíferas em Ghent. No início de 1943, aeronaves B-25C baseadas na Austrália foram adaptadas para realizar ataques rasantes contra navios japoneses no Mar de Bismarck. Para essa finalidade, o compartimento de bombardeio tornou-se desnecessário, uma vez que as bombas eram lançadas diretamente pelo piloto. Assim, o nariz do B-25C foi modificado, recebendo quatro metralhadoras fixas calibre .50, cada uma com 500 disparos, complementadas por outras quatro metralhadoras do mesmo calibre instaladas em pares nos lados da fuselagem, próximas à cabine de pilotagem. Essa configuração conferiu à aeronave uma capacidade de fogo excepcional, dificultando sobremaneira a resposta do inimigo.
As adaptações bem-sucedidas realizadas no B-25C serviram de base para o desenvolvimento do B-25G, do qual foram produzidas 750 unidades. Em sequência, foi introduzido o B-25H, caracterizado por um armamento mais potente em relação ao seu antecessor, destacando-se a inclusão de um canhão leve de 75 mm, modelo T13-E1. A última variante da série, o B-25J, alcançou a maior produção, com 4.318 exemplares fabricados. O B-25J preservou o nariz envidraçado típico dos modelos B-25C e B-25D, manteve as torretas dorsal e de cauda herdadas do B-25H e integrou as metralhadoras laterais frontais presentes nas versões C e D. A partir dessas configurações, uma série de modificações deu origem a variantes especializadas para missões diversas, como reconhecimento fotográfico, treinamento multimotor, reconhecimento meteorológico, patrulha marítima, transporte e capacitação em sistemas de radar embarcados. Até o final do conflito seriam produzidas  9.816 células dispostos em 31 versões, além dos Estados Unidos e Grã-Bretanha, uma grande parte destas aeronaves seriam cedidas a nações aliadas como Brasil, Uniao Soviética, Canáda, Australia e França Livre.  No pós-guerra o modelo foi empregado pela Argentina, Biafra, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba República Dominicana, Indonésia, México, Peru, Polônia, Espanha, Uruguai e Venezuela, sendo operados até meados da década de 1970. As primeiras versões destinadas ao transporte de carga emergiram da conversão de células dos North American B-25B iniciais, disponíveis em grande quantidade devido à substituição por modelos mais avançados. O sucesso dessa iniciativa levou o Comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a requisitar a conversão adicional de aeronaves, resultando nas designações CB-25B, CB-25C, CB-25D e CB-25J. Essas variantes de transporte foram amplamente empregadas em todos os teatros de operações durante a Segunda Guerra Mundial. Destaca-se ainda o desenvolvimento de uma variante especial para transporte de personalidades (VIP – Very Important Person), designada VB-25J, que teve como usuários notáveis os generais norte-americanos Henry H. Arnold e Dwight D. Eisenhower. Essa versão foi amplamente valorizada por tripulantes e passageiros, permanecendo em serviço ativo até 1960, quando o último exemplar foi retirado da Base da Força Aérea de Eglin, na Flórida. Após o término do conflito, diversas aeronaves na configuração original de bombardeiro foram transferidas a nações aliadas. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Este programa seria de vital importância para adequar em termos de aeronaves e doutrina operacional a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), que até então herdara da Aviação Militar do Exército Brasileiro e da Aviação Naval da Marinha do Brasil, aeronaves obsoletas e não adequadas para principalmente para se fazer frente a ameaça dos submarinos italianos e alemães. 

Na fase inicial de suas operações, a Força Aérea Brasileira (FAB) restringiu suas atividades a voos de presença ao longo do litoral brasileiro, empregando predominantemente monomotores como o North American AT-6B e o Vought V-65B Corsair. Essa dinâmica começou a se alterar no início de 1942, quando, sob incentivos econômicos e pressões diplomáticas, o governo brasileiro autorizou o uso de bases aéreas nacionais por unidades de patrulha da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Esse marco possibilitou os primeiros confrontos contra submarinos alemães e italianos, missões que contaram com a observação atenta de oficiais brasileiros. Esse acompanhamento permitiu à Força Aérea Brasileira (FAB) assimilar gradualmente os conhecimentos relacionados à guerra aeronaval, adquirindo, ao longo do tempo, a capacitação necessária para desenvolver e disseminar essa doutrina. Esse processo de aprendizado foi acompanhado pela cessão de aeronaves modernas, com primeira a entrega envolvendo seis North American B-25B Mitchell em janeiro de 1942. Essas aeronaves foram adaptadas para missões de patrulhamento marítimo e combate antissubmarino (ASW) e destinadas ao Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), unidade criada em 4 de fevereiro de 1942 e sediada em Fortaleza, no Ceará. As primeiras missões operacionais tiveram início em abril do mesmo ano, conduzidas por tripulações mistas formadas por oficiais e graduados da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) e da  Força Aérea Brasileira (FAB). O North American B-25B Mitchell destacou-se ao tornar-se a primeira aeronave militar brasileira a entrar em combate na Segunda Guerra Mundial. Em 22 de maio de 1942, às 14h, uma aeronave comandada pelo Capitão Aviador Parreiras Horta, com tripulação composta pelo Capitão Aviador Pamplona e pelos militares norte-americanos 1st Lt. Schwane, Sgt. Yates, S/Sgt. Tyler e S/Sgt. Robinson, localizou o submarino italiano Barbarigo (Classe Marcelo) navegando em superfície. O inimigo respondeu imediatamente com intenso fogo antiaéreo. Conforme as diretrizes vigentes à época, que refletiam a neutralidade brasileira, as tripulações só poderiam engajar alvos inimigos em caso de ataque prévio. Diante da agressão, a tripulação do B-25B lançou cargas de profundidade, que explodiram próximas ao submarino, embora este tenha logrado evadir-se. No final deste mesmo ano seria determinado que a Força Aérea Brasileira deveria começar a assumir uma significativa parcela das atividades de patrulhamento e guerra antissubmarino em seu mar territorial. Como reforço seriam recebidos dez Lockheed A-28A-LO Hudson, o primeiro modelo especializado em missões deste tipo, porém até o termino do conflito a Força Aérea Brasileira (FAB) incorporaria mais 21 aeronaves agora dispostas  nas versões North American B-25J-15 e B-25J-20, igualmente empregadas em missões de patrulhamento marítimo e combate antissubmarino.
No período pós-guerra, entre julho de 1946 e outubro de 1947, o Brasil recebeu 64 unidades adicionais do North American B-25J por meio de programas de assistência militar, como o "American Republic Projects". Esse incremento permitiu à Força Aérea Brasileira (FAB) consolidar uma frota significativa desse modelo, especializando-se nos processos de operação e manutenção em nível de parque. Essas atividades foram conduzidas nas instalações do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP) e do Parque de Aeronáutica de Recife (PqAerRF). Em 1949, as duas células remanescentes do North American B-25B Mitchel passaram por uma revisão geral que incluiu a remoção de armamentos e a substituição dos motores originais Wright Cyclone R-2600-9 pelo modelo Wright Cyclone R-2600-13. Esse processo tinha como objetivo adaptar as aeronaves para funções orgânicas, redesignando-as como CB-25B Cargueiro e atribuindo-lhes as matrículas FAB 5028 e FAB 5031. Uma vez em serviço, essas aeronaves foram intensivamente empregadas em missões de transporte e apoio logístico, desempenhando suas funções com êxito até o final de 1957, quando seriam desativadas devido ao alto grau de desgaste das células. Nesse mesmo período, diversas células do  modelo B-25J Mitchell ainda permaneciam em operação nas unidades de primeira linha da Força Aérea Brasileira (FAB). Contudo, o rápido avanço tecnológico ocorrido após a Segunda Guerra Mundial relegou essas aeronaves táticas movidas a motores a pistão a papéis operacionais secundários globalmente, sendo superadas por novos bombardeiros equipados com motores turbo jatos. Esse cenário foi acompanhado pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), que buscava alternativas para modernizar sua frota de bombardeio adequando-se a nova realidade. Inicialmente, as atenções recaíram sobre o bombardeiro a jato britânico English Electric Canberra, nas variantes B.8 e T.4. No entanto, restrições orçamentárias levaram à aquisição de bimotores usados Douglas A-26B e A-26C Invader. Com a incorporação dessas novas aeronaves de ataque, teve início um processo gradual de retirada dos North American B-25J remanescentes das funções de treinamento, bombardeio e ataque nas unidades operacionais localizadas em Fortaleza e Natal. Algumas dessas aeronaves foram convertidas para missões de reconhecimento tático, destinadas a substituir os já cansados Douglas R-20K Havoc junto ao  1º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv) , conhecido como Esquadrão Poker.

No final de 1958, a frota de aeronaves North American B-25J Mitchell da Força Aérea Brasileira ainda apresentava significativa relevância operacional, especialmente aquelas em boas condições de voo. Tal cenário motivou a realização de estudos voltados à conversão de parte dessas aeronaves para a função de transporte, a exemplo do que havia sido feito, em 1949, com dois exemplares do modelo B-25B. Com base nesses estudos, o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP) iniciou a análise técnica necessária para viabilizar tais modificações. Após a aprovação oficial do projeto pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), estabeleceu-se um cronograma de execução, cuja fase inicial previa a seleção de quatro células em melhor estado de conservação para servirem como protótipos. As aeronaves escolhidas foram os B-25J Mitchell de matrícula FAB 5097, 5064, 5065 e 5127, os quais foram transferidos para as instalações do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP).Nas oficinas do parque, foram realizadas as intervenções necessárias para a conversão das aeronaves, destacando-se as seguintes modificações - Remoção das blindagens, com o objetivo de reduzir o peso e melhorar o desempenho; - Retirada dos sistemas de armamento e equipamentos táticos; - Alterações nos tanques de combustível; - Instalação de assentos para passageiros, adaptando-as para o transporte de pessoal; - Modificação do compartimento de bombas (bomb bay) para utilização como compartimento de carga. Além dessas adaptações, todas as aeronaves passaram por uma completa revisão estrutural, com o intuito de prolongar sua vida útil na nova configuração. Concluído o processo de conversão, as aeronaves — agora redesignadas como North American CB-25J — foram submetidas a ensaios em voo, cujos resultados demonstraram desempenho satisfatório para as operações de transporte pretendidas. Diante da avaliação positiva, decidiu-se pela continuidade do programa, com a inclusão de mais onze aeronaves na linha de conversão. As aeronaves selecionadas para esta nova fase foram os B-25J de matrícula FAB 5079, 5086, 5131, 5117, 5068, 5137, 5106, 5135, 5071, 5103 e 5113. Nesta etapa, os trabalhos de conversão também passaram a ser realizados nas instalações do Parque de Aeronáutica de Recife (PqAerRF). Todas as atividades foram concluídas até o final do ano de 1958.
As aeronaves convertidas passaram a ser oficialmente designadas como North American CB-25J, embora a maioria ainda mantivesse em suas fuselagens os indicativos originais de cauda "B-25J". Após sua adaptação e treinamento de tripulantes , essas aeronaves foram distribuídas a fim de atuarem como aeronaves orgânicas, sendo alocadas junto aos Parques de Aeronáutica de São Paulo, Recife e Afonsos, bem como nas Bases Aéreas de Campo Grande, Fortaleza, Santa Cruz e Natal. Empregadas principalmente em missões de transporte de carga, passageiros e ligação, essas aeronaves desempenharam um papel fundamental no apoio logístico da Força Aérea Brasileira (FAB). Algumas células se destacaram por receberem apelidos informais, atribuídos por suas tripulações, refletindo características marcantes de desempenho ou estética. Entre os exemplos notórios estão o CB-25J FAB 5131 “Amigo da Onça” e o CB-25J FAB 5097 “Super Maconha” — este último apelidado em virtude de seu desempenho excepcional, obtido após a retirada das blindagens e sistemas de armamento, o que lhe conferiu velocidades superiores às de outras aeronaves operacionais de transporte da época. Embora esse tipo de apelido não conste em registros oficiais, é parte importante do folclore aeronáutico, preservando a memória viva da cultura das tripulações e dos bastidores da Aviação Militar Brasileira. A notável robustez estrutural do modelo, aliada à disponibilidade de um grande número de células e estoque de componentes no país, assegurou um continuo fluxo de peças de reposição, garantindo excelentes índices de disponibilidades das aeronaves. A soma destes fatores contribuiu significativamente para a impressionante longevidade operacional dos CB-25J cargueiros, cuja última unidade foi desativada somente em 1974, com a introdução dos novos bimotores turbo hélices Embraer EMB-110  C-95 Bandeirante, que passaram a cumprir as funções anteriormente atribuídas aos veteranos North American CB-25J.

Em Escala.
Para a representação em escala do North American CB-25B "FAB 5031", foi utilizado o kit clássico do fabricante Revell, na escala 1/48. As modificações necessárias para a conversão à configuração cargueira incluíram a completa remoção de todo o armamento original da aeronave, bem como o fechamento das escotilhas correspondentes às torretas superior e ventral. Esta adaptação foi realizada com o uso de plasticard, garantindo um acabamento fiel ao padrão visual da versão utilizada pela Força Aérea Brasileira. No que se refere à identificação visual, foram empregados decais genéricos da FCM Decais, provenientes de diferentes conjuntos da marca. Já as marcações específicas do exemplar "FAB 5031" foram confeccionadas de forma artesanal, graças à colaboração do modelista Cesar Hares, a quem registramos nosso agradecimento.


O esquema de cores descrito a seguir, conforme os códigos do sistema Federal Standard (FS), corresponde ao segundo padrão de pintura adotado nas aeronaves North American B-25B/J após suas primeiras revisões realizadas em nível de parque. Durante o período em que atuaram como cargueiros, essas aeronaves apresentaram variações sutis desse padrão básico, refletindo ajustes operacionais ou regionais. A única exceção relevante a esse padrão ocorreu com o exemplar CB-25J FAB 5097, informalmente conhecido como “Super Maconha”, pertencente ao Parque de Aeronáutica de Recife (PqAerRF). Essa aeronave recebeu, temporariamente, um esquema de pintura totalmente colorido, de caráter provisório, o qual destoava significativamente dos demais exemplares em serviço.


Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 -2015  - Jackson Flores Jr
- Revista Asas Mº 40 B-25 Mitchell na FAB, por Aparecido Camazano Alamino
- História da Força Aérea Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Bombardeiros Bimotores na FAB, por Aparecido Camazano lino  Editora C&R 

Submarinos Classe Foca - F no Brasil

História e Desenvolvimento.
O engenheiro naval italiano Cesare Laurenti (Terracina, 1865 - Roma, 1921) foi responsável por uma série de projetos de submersíveis entre o fim do século XIX e o inicio do século XX, dedicando toda a sua vida ao estudo da navegação subaquática com finalidade para o emprego militar naval. Em 1892, tornou-se o diretor de experiências técnicas no desenvolvimento do primeiro submarino da Itália, o Delfino, impulsionado por um motor elétrico a bateria de projeto do engenheiro Giacinto Pullino. Laurenti, com base neste projeto Cesari Laurenti acresceu como melhoria um pequeno motor a gasolina, permitindo assim um grande alcance em velocidade de cruzeiro à superfície enquanto recarregava as baterias. O grande sucesso conceitual deste navio de propulsão hibrida o permitiria angariar recursos para a fundação de uma pequena mais ousada empresa de construção naval na Itália, a Cantieri Navale Fiat San Giorgio. Entre seus trabalhos credita-se o projeto e desenvolvimento a parti de 1905 das classes de submarino Provana, Glauco, Medusa, Argonauta, Foca e classe S, da Marinha Real Italiana (Reggia Marina). Seus projetos ganhariam renome internacional, quando a Marinha Americana (US Navy) no ano de 1909, adquiriu seus projetos para construção do submarino USS G-4 Thrasher, este seria o primeiro navio a servir nos Estados Unidos apresentando o perfil do casco do tipo “quilha uniforme”, que apresentava como maior vantagem uma melhor estabilidade devido a concentração de pressão e sua melhor dissipação em casco exterior aerodinâmico. Apesar de ter uma carreira conturbada em termos de falhas mecânicas, o desing característico dos submarinos projetados por Cesare Laurenti, influenciaria pesadamente o desenvolvimento de novas classes de submarinos norte-americanos.

Logo em seguida, a Marinha Real Britânica (Royal Navy), faria uso de navios desenvolvidos e projetados por Cesare Laurenti, agora com os submarinos da Classe S, construídos nos estaleiros ingleses da Scotts Greenock. Três destes navios (S1, S2 e S3) seriam comissionados entre os anos de 1912 e 1914, estando equipados com dois motores a diesel Scott-FIAT de 650 hp cada e dois motores elétricos FIAT de 400 hp. Estes submarinos destinados a patrulha costeira receberiam as identificações de de HMS 1, HMS 2 e HMS 3, e seriam direcionados a missões de patrulha junto as áreas próximas aos portos existentes no Canal da Mancha. Curiosamente estes mesmos navios seriam transferidos a Marinha Real Italiana (Reggia Marina) em fins do ano de 1915 para assim participar na defesa do mediterrâneo durante a Primeira Guerra Mundial, novamente sendo empregados em missões de patrulha costeira em regiões estratégicas próximos aos portos italianos. A Marinha Portuguesa também faria uso de submarinos desenvolvidos por Cesare Laurenti, entre a Classe Espadarte e a mais representativa a Classe Foca, navios construídos nos estaleiros navais Cantieri Navale Fiat San Giorgio, na cidade italiana de La Spezia, com três navios batizados como NRP Foca, NRP Golfinho e NRP Hidra, operando com grande sucesso entre os anos de 1917 e 1934. 
Seu projeto inovador para a época, com design de casco que apresentava melhor estabilidade devido a concentração de pressão e sua melhor dissipação em casco exterior aerodinâmico, tornavam o modelo promissor em termos do mercado de exportação, a estes fatores operacionais aliava-se o custo de construção, operação e manutenção , que poderia permitir a acessibilidade a nações que ansiavam se modernizar em termos de poder naval, mas não dispunham de grandes orçamentos militares, como as grandes potências navais naquele período histórico. Com base nesta visão Cesare Laurenti, iniciou  em 1905, junto ao departamento comercial da Cantieri Navale Fiat San Giorgio, esforços para a divulgação de seus produtos navais. Para apresentação seria desenvolvido um modelo básico de submarino de patrulha costeira que poderia receber um pequeno leque de customizações para atendimento a particularidades de seus possíveis clientes internacionais. O navio padrão então em termos dimensões 45,15 metros de comprimento; 4,20 metros de boca; 3 metros de calado; 250 toneladas de deslocamento na superfície e 370 toneladas em imersão. Quando em processo de imersão apresentavam uma profundidade operacional de mergulho de 40 metros, com uma velocidade neste modal de operação de 8 nós (14,8 km / h) e uma autonomia de 100 milhas náuticas (160,94 quilômetros). Podia ainda aumentar seu raio de açao submerso quando operando com a velocidade mínima de 1,5 nós (2,77 km / h), podendo chegar a 139 milhas náuticas (257 km). Já em operação na superfície o navio podia desenvolver uma velocidade máxima de 12,3 nós (22,8 km / h), com um raio de ação máximo de 1.200 milhas náuticas (2.222 km).

O arranjo de propulsão destes navios era do tipo alternativo diesel-elétrico, para a navegação de superfície, os submarinos eram movidos por dois motores a diesel FIAT (dois tempos, seis cilindros cada), de 325 cavalos de potência (HP) (239 kW), cada um acionando dois eixos das hélices principais. Já em operação quando submersos os navios da Classe F contavam com motor elétrico Savigliano de 250 cavalos (184 kW), que movia os mesmos dois eixos das hélices, e bateria de acumuladores com 240 elementos divididos em quatro seções, sendo a capacidade total das baterias de 2.000 ampères, numa rate de descarga de 10 horas. O sistema de navegação era composto de um leme vertical duplo, manobrado manualmente, de três estações, e dois pares de lemes horizontais, disparados, operados e recolhidos também manualmente. Era equipado com quilha de lastros de chumbo e bolina, quatro tanques de lastro de 46 toneladas cada, tanque de compensação de 4,8 toneladas, dois tanques de triagem de 0,8 tonelada cada, dois tanques de óleo combustível, internos ao de óleo combustível líquido de 11 toneladas, dois tanques de óleo lubrificante de 0,98 toneladas cada, tanque de compensação de torpedos de 1,8 toneladas e dois tanques de compensação de torpedos de reserva de 0,65 tonelada cada. Sua tripulação era composta por 2 oficiais e 24 suboficiais e marinheiros. Apesar de aparentemente modesto, seu perfil de desempenho era satisfatório para esta classe de submarinos de patrulha costeira nesta época, oque poderia assim atrair o interesse e possíveis clientes estrangeiros, interessados em modernizar suas forças navais.
Em termos de sistemas de armas, estes submarinos estavam equipados com 2 tubos de torpedos na frente ( proa ) de 45 centímetros, para os quais carregavam um total de 4 torpedos leves anti superfície produzidos pela empresa austro-húngara  Torpedofabrik Whitehead & Co., disparados a ar comprimido. Podiam ainda ser armados para autodefesa contra aeronaves ou pequenas embarcações com canhao antiaéreo inglês Armstrong 76/30 mm, ou ainda um reparo de metralhadoras norte americanas Colt de calibre, 6,5 mm. Para comunicação podia ser dotada de uma estação radiotelegráfica, do tipo Marconi, possuía 0,2 kw de potência de transmissão e um alcance de 30 milhas. A estação de sinais submarinos era composta de sino pneumático transmissor e quatro fones receptores, possuía ainda dois periscópios do tipo Galileu, construídos em Florença, ambos recolhíveis, de um metro e com escalas telemétricas e graduações azimutais. Seriam conquistados diversos contratos de exportação destes submarinos e projetos derivados, com muito deles se mantendo ativos até meados da década de 1930.

Emprego na Marinha do Brasil.
No início do século XX, quando Campos Sales assumiu a Presidência (1898-1902), tomou uma série de medidas para o saneamento financeiro do Brasil. O processo de recuperação econômica trouxe esperanças de prosperidade. No contexto de transição, havia apenas uma ameaça: o estado de tensão que se constituía entre a Argentina e o Chile em relação às regiões da Patagônia, do Estreito de Magalhães e da Terra do Fogo. Enquanto os países vizinhos investiam no poder naval, a Marinha do Brasil ainda se recuperava dos desafios dos conflitos internos e externos que havia enfrentado desde a Independência. Em 1904, o deputado Laurindo Pita apresentou, no Congresso Nacional, a proposta de um poderoso Programa Naval, que refletia concepções estratégicas relacionadas ao poder combatente da Esquadra. Concebido pelo Almirante Júlio de Noronha, então Ministro da Marinha, o programa previa a construção de três encouraçados, três cruzadores-encouraçados, seis contratorpedeiros, seis torpedeiros de alto mar, seis torpedeiros de porto, três submersíveis, um navio carvoeiro e um arsenal terrestre. Dois anos mais tarde, em 1906, o novo Ministro, Almirante Alexandrino de Alencar, em parceria com o Ministro do Exterior, Barão do Rio Branco, fez alterações significativas nas demandas explicitadas no programa. As novas mudanças empreendidas no programa de 1906 visavam mais do que dotar a Marinha de poder regional na América do Sul; tinham o objetivo de colocar o País ao lado das nações mais avançadas do mundo. Embora o Programa Naval do Almirante Alexandrino não tenha sido aplicado por completo, possibilitou à Marinha destaque no cenário internacional. Por causa dele, em 1910, tornou-se a terceira maior Marinha do mundo em tonelagem. Quando eclodiram as guerras mundiais que envolveriam as principais nações do mundo, o País estava preparado para defender seu território e pôde prestar apoio aos envolvidos. E neste contexto a ativação da Flotilha de Submersíveis em 17 de julho de 1914, incluiria o Brasil no seleto grupo dos países capazes de operar esta nova tecnologia.

A aquisição de submarinos previstas no Programa de Construção Naval de 1904 – 1906, deu seus primeiros passos reais, quando em meados do ano de 1910, foram conduzidos junto a Cantieri Navale Fiat San Giorgio, as primeiras conversações para a aquisição e construção de três submersíveis de patrulha costeira. Entendimentos seriam firmados entre o Governo Brasileiro e o estaleiro italiano para a compra de três navios da Classe F (Foca), com um cronograma de entrega previsto entre os anos de 1912 e 1914. Em 30 de dezembro de 1911 , pelos Avisos n.º 6439 e 6441, o então Ministro do Negócios da Marinha, Vice-Almirante Joaquim Marques Baptista de Leão, designou o Capitão-de-Corveta Felinto Perry, Chefe da Sub-Comissão Naval na Europa, com sede em La Spezia, encarregado de fiscalizar a construção dos submarinos F 1, F 3 e F 5. O primeiro destes a ser concluído o submarino F-1, teve sua quilha batida em 23 de março de 1912, foi lançado ao mar em 11 de junho de 1913, tendo como madrinha a Sra. Alberto Fialho.  O F 1 realizou provas de mar na superfície e em imersão no Golfo de La Spezia, que se prolongaram até 12 de novembro, sendo entregue à Comissão de Recebimento em 11 de dezembro, quando foi incorporado. Em 4 de junho de 1914 partiu de La Spezia, a bordo do navio doca "Kanguroo", chegando ao Rio de Janeiro em 4 de julho, sendo logo visitado pelo Presidente da República e grande comitiva. Em 26 de setembro de 1917, com a declaração do estado de guerra contra o Império Alemão, proclamada pelo Presidente Wenceslau Braz, os submarinos classe F tomaram parte em comissões de vigilância e patrulhamento nas proximidades do porto do Rio de Janeiro. Durante os anos seguintes se manteve altamente ativo junto a Flotilha de Submersíveis, até o dia 30 de dezembro de 1933, deu baixa do serviço ativo, segundo o Aviso n.º 4232, de 18/11/1933. O navio operou basicamente no adestramento da tripulação e manutenção dos equipamentos durante os 19 anos em que esteve a serviço da Armada, realizando ainda mais de 100 imersões, com 400 lançamentos de torpedos. 
O segundo submarino designado como F3, teve sua quilha batida em 1º de junho de 1912, foi lançado ao mar em 9 de novembro de 1913, e foi incorporado em 16 de março de 1914. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Alberto Lemos Bastos. O F 3 realizou provas de mar na superfície e em imersão no Golfo de La Spezia, sendo entregue à Comissão de Recebimento em 16 de março de 1914, quando foi incorporado. Em 15 de maio, partiu de La Spezia, a reboque do Rebocador de Alto-Mar "Donau" de bandeira holandesa, chegando ao Rio de Janeiro em 23 de junho, atracando no caís do Quartel da Defesa Móvel, na Ilha de Mocanguê Grande, sendo o primeiro a chegar ao Brasil. Em 29 de junho, suspendeu levando a bordo o Ministro da Marinha, Almirante Marques de Leão e o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Gustavo Antônio Garnier, não mergulhando, tendo apenas realizado transito até a Ilha de Cotunduba. Em 6 de julho, suspendeu, levando a bordo o Presidente da República, o MM e o CEMA, mais uma vez não realizando mergulho. A partir de setembro de 1917 se juntaria ao esforço de guerra contra o Império Alemão durante as fases finais da Primeira Guerra Mundial, em missões de patrulhamento costeiro. Em 3 de setembro de 1923, socorreu o hidroavião PLS no 02, no Canal de São Sebastião, tendo ainda, nos dias 4 e 11 de novembro de 1924, realizado incursões contra o Encouraçado São Paulo, que se havia se rebelado, colaborando neste processo com a rendição dos amotinados. O submarino Classe Foca F3 operaria na Flotilha de Submarinos até o dia 30 de dezembro de 1933, deu baixa do serviço ativo, segundo o Aviso n.º 4232, de 18/11/1933, em toda sua carreira na Marinha do Brasil, perfez 762 horas de mergulho, lançando 83 torpedos.

O terceiro navio desta classe foi lançado ao mar em 4 de janeiro de 1914, tendo como madrinha a Sra. Maria Nogueira da Gama, e foi incorporado em 6 de junho de 1914. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Álvaro Nogueira da Gama. Realizou provas de aceitação até 6 de junho, quando foi entregue ao Governo brasileiro. Deixou o Porto de La Spezia em 12 de junho, a reboque do Rebocador de Alto-Mar Lawerzie (holandês), tendo chegado ao Porto do Rio de Janeiro em 28 de julho. Recebeu o distintivo numérico 95. A incorporação do Submarino F5 à Marinha do Brasil deu-se por ocasião da sua entrega à Flotilha de Submarinos por meio do Aviso do Ministério da Marinha no 3.447 de 17 de julho de 1914. Em 10 de agosto, tendo a bordo a Comissão Fiscal nomeada pelo Governo, realizou prova final de aceitação, sendo entregue a Esquadra em 20 de agosto. Ainda em 1914, foi instituído o "Prêmio Independência" (precursor dos nossos atuais TORPEDEX e ECHO) pelo CT Alberto Lemos Basto. Era agraciado o navio que maior número de acertos obtivesse em lançamentos de torpedos, de acordo com o regulamento da época. O troféu alusivo, um brasão em prata de lei, hoje decora a galeria de peças históricas do Edifício Almirante Felinto Perry, sede do comando da Força de Submarinos na Ilha de Mocanguê. Nele, acham-se inscritos os nomes dos submarinos e os respectivos anos do concurso. O F-5 tornou-se o tradicional vencedor, ganhando-o por cinco vezes. A partir de setembro de 1917 se juntaria ao esforço de guerra contra o Império Alemão durante as fases finais da Primeira Guerra Mundial, em missões de patrulhamento costeiro. Em 04 de novembro de 1924, integrando a Esquadra de Exercícios, fez-se ao mar para atacar o Encouraçado São Paulo, que se rebelou, tendo feito três imersões e navegado a noite toda pronto para combate. Em 30 de dezembro de 1933, foi realizada a Mostra de Desarmamento do SubmarinoF3, juntamente com o F1 e o F5, em cumprimento ao Aviso Ministerial no 4.232, de 18 de novembro de 1933, que deu baixa ao mencionado navio. Durante sua carreira na Marinha do Brasil, perfez 681 horas de mergulho, lançando 38 torpedos.
Os submarinos classe F (Foca) dedicavam-se basicamente ao adestramento da tripulação no manuseio e manutenção dos equipamentos, operando na maioria das vezes dentro da Baia da Guanabara. Foram realizadas também algumas comissões na Baia da Ilha Grande, e nas áreas de Cabo Frio-RJ e São Sebastião-SP, sempre com o apoio de navios de superfície. Ao que se sabe, único porto visitado fora dessa área, foi o de Santos-SP. A desativação desta classe de submarinos na Marinha do Brasil levaria a extinção temporária da Flotilha de Submarinos, No entanto, o Tender “Ceará” e o Submarino “Humaytá” permaneceram em atividade sob a administração do Comando da Defesa Móvel do Porto do Rio de Janeiro, subordinado ao Chefe do Estado-Maior da Armada. Em 1937, a incorporação dos submarinos da classe “Perla”, também de origem italiana, motivou a recriação da Flotilha de Submarinos.  Aos cascos inermes e sem vida daqueles submersíveis, reservou-lhes o destino a função de alicerçar os pilares da ponte de escaleres da Escola Naval, esta, transferida, em 1938, da ilha das Enxadas para a Ilha de Villegagnon.A classe Foca permitiu o Brasil desenvolver a noção de guerra submarina, que ficou evidenciado pelas constantes aquisições desses meios navais ao longo da história naval do país.

Em Escala.
Para representarmos o submarino da classe F (Foca) D32 F1, pertencente a Flotilha de Submersíveis, fizemos uso do novo kit em resina na escala 1/400 do fabricante brasileiro Argus Model. Empregamos alguns detalhamentos em scratch e photo etched (estes oriundos de outros modelos). Decais impressos pelo fabricante, presentes no modelo completam o conjunto. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão aplicado em todos submarinos da Classe F (Foca) entre os seguintes ao seu recebimento até o ano de 1920, quando voltaram a ostentar o padrão cinza claro, com o qual foram recebidos inicialmente.

Bibliografia : 
- Submarinos Classe Foca - https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_Foca_(1913)
- Cesare Laurenti – https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesare_Laurenti 
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br 
- Cem anos da Força de Submarinos – Marinha do Brasil
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/