Mercedes-Benz Série Sprinter

História e Desenvolvimento.
Há mais de um século, os engenheiros alemães Gottlieb Daimler e Carl Benz construiriam ao mesmo tempo e período, os primeiros automóveis motorizados funcionais do mundo. O pioneirismo desses homens faria com que colecionassem outras conquistas, como a construção do primeiro ônibus, do primeiro caminhão com motor a gasolina e do primeiro caminhão a diesel do mundo. Em abril de 1900 nasceria um novo motor, que seria denominado como "Daimler-Mercedes", grupo propulsor este que impulsionaria a produção em série dos primeiros carros comerciais por ser simples, eficaz e de baixo custo.O período após a Primeira Guerra Mundial foi fortemente afetado pela inflação e pelo número de vendas reduzido, especialmente em relação aos bens de luxo, como automóveis de passageiros, acabaram por pesar fortemente sobre a indústria automóvel alemã. Apenas marcas fortes produzidas por empresas com solidez financeira foram capazes de sobreviver, e muitas delas viram-se forçadas a fusões e a cooperativas. Ao longo dos anos seguintes a produção cresceria gradativamente, e em junho de 1926 a união das empresas DMG e a Benz & Cie, resultaria na criação da Daimler Benz AG, uma nova marca nascia, na qual estava incorporada a estrela de três pontas, com esta iniciativa baseada em um compromisso mútuo para que esta união entre as duas empresas perpetuasse até o ano 2000. A origem do nome Mercedes-Benz tem dois pontos. O primeiro termo é uma homenagem à filha de Emil Jellinek de apenas 11 anos que tinha o nome de Mercedes. O termo Benz é o sobrenome do segundo fundador, Carl. Grande partícipe do esforço de guerra alemão, entre 1934 e 1945 a empresa ampliaria seu portifólio, passando a produzir motores aeronáuticos, barcos e aeronaves. Com o término do conflito as plantas industriais da empresa, seriam reconstruídas em cooperação com os aliados, visando assim ajudar a prover a recuperação econômica do país. Neste contexto surgiriam os primeiros utilitários leves e caminhões, com o modelo Mercedes-Benz MB L-319, conquistando grande sucesso no mercado Europeu. Este novo modelo de pequeno porte apresentava um desenho de cabine avançada, conceito este que possuía vantagens, pois esta configuração permitia um espaço maior para a carga, sem a necessidade de se modificar o comprimento total do chassi, nem a distância entre eixos. 

O êxito alcançado no mercado com este modelo denominado LP ou “Pulman” originaria uma família de caminhões de grande sucesso internacional com as versões Mercedes-Benz LP-315, LP-321, LP-326, LP-329 e LP-331. Paralelamente neste mesmo período a empresa alemã vislumbrava a oportunidade de uma expansão internacional, começando assim a estudar novos potenciais mercados, e entre estes o mercado sul-americano seria considerado como fundamental nesta estratégia. O Brasil seria definido como o ponto inicial deste processo, planejando-se o estabelecimento de uma linha de produção de caminhões e futuramente chassis para ônibus. Em 1951, ainda na gestão de Getúlio Vargas, incentivada por Alfred Jurzykowski, cidadão polonês distribuidor da marca no país, que anteriormente comercializava veículos importados sob a forma de CKD (Completely Knock-Down), a matriz alemã celebraria um convenio com o governo brasileiro para a fabricação local de caminhões e ônibus com motorização diesel. Dois anos depois, em outubro de 1953, com apenas 25% de capital alemão, foi fundada a Mercedes-Benz do Brasil S.A. e imediatamente iniciada a construção da sua fábrica, em São Bernardo do Campo (SP), à beira da via Anchieta. A planta de São Bernardo do Campo seria inaugurada em 28 de setembro de 1956, sendo produzido o caminhão médio MB L-312, vulgo “Torpedo”, considerado o primeiro veículo comercial a diesel brasileiro. Ao longo dos anos seguintes a montadora alemã, crescia e consolidava cada vez mais a sua marca em todos os mercados nos quais atuava, a receita gerada por este cenário lhe permitia buscar novos nichos de mercado no segmento de utilitário leves. Durante meados da década de 1980 a empresa começaria a vislumbrar uma grande oportunidade no mercado de Vans, almejando conquistar uma fatia deste crescente nicho de utilitários leves urbanos na Europa, que até então apresentava uma predominância de veículos de origem francesa.
Esta iniciativa, culminaria no projeto do primeiro utilitário leve urbano da Mercedes-Benz alemã, nascia assim no final da década de 1980 a primeira família deste tipo de veículo, porém neste momento a concorrência já estabelecida (Renault nas versões de transporte de carga e Volkswagen no transporte de passageiros) representava uma grande resistência a entrada deste novo modelo neste nicho de mercado. Visando reverter esta cenario, a equipe de engenharia da empresa voltaria a prancheta de projetos, nascendo a assim em 1990 a linha Mercedes Sprinter MB 180 D e 310 D, uma “Van Full-size”, monovolume para transporte de carga e passageiros, apresentando um motor a diesel de quatro cilindros em linha Mercedes-Benz OM 601 de 2.148 cc com potência de 74 cv á 4.400 rpm, câmbio manual MB 313 02/11 de cinco marchas sincronizadas a frente e uma a ré, equipada  ainda com freios com acionamento hidráulico, a disco na dianteira e tambor ajustável na traseira. Apresentava peso líquido de 1954 kg e bruto de 3.500 kg, e ainda dimensões de 4,97 metros de comprimento na versão SWB a 6,68 metros na versão LWB, com uma largura de 1,88 metros, já em termos de altura, as dimensões variavam por versão, sendo de 2,36 metros na versão 2500 High Ceiling SWB á 2,59 metros na versão 2500 Super High Ceiling SWB. Já em termos de distância entre eixos, a família apresentava na versão SWB 2,99 metros, na MWB 3,55 mm e por fim 4,01 metro no modelo LWB. Posteriormente a montadora lançaria na mesma plataforma, uma versão de camionete, com o cliente podendo optar por qualquer tipo de carroceira para instalação posterior, seja aberta, fechada ou frigorificada.

Sendo inicialmente produzidos na linha de montagem da fábrica da Mercedes-Benz em Dusseldorf, na Alemanha, a família de utilitários leves urbanos passaria a conquistar expressivo sucesso comercial, não só em seu país de origem, mas também em outros países do continente europeu. Este movimento, levaria a matriz alemã a expandir a produção desta família de utilitários urbanos leves para as linhas de montagem da subsidiaria espanhola, em sua planta fabril na cidade de Barcelona. Neste mesmo momento o mercado brasileiro de utilitário leves, até então dominado pelas já obsoletas Volkswagen Kombi, passava ser invadido por novos competidores de origem asiática, representado pelos modelos Kia Besta e Asia Topic, com seu desempenho e capacidade de transporte se mostrando muito superiores ao líder de mercado. Rapidamente estes novos veículos passariam a compor a paisagem das grandes cidades brasileiras, sendo empregas em tarefas de transporte de passageiros (lotação), carga e ambulância. Atentos a esta tendencia de mercado, a diretoria comercial da Mercedes-Benz do Brasil S/A, decidiria oferecer ao mercado uma nova alternativa. A escolha em 1993 recairia sobre o modelo Sprinter MB-180D com peso bruto total de 3.500 kg, sendo este veículo importado da Espanha. Assim como as concorrentes asiáticas, esta van tinha a vantagem, perante a Kombi, de ser a diesel e, perante as demais, de ser de uma montadora gabaritada no cenário internacional. Trazendo o motor OM-616 originário do automóvel 240D muito utilizado como táxi na Europa, Oriente Médio e África, este era movido a diesel e trabalhava com pré-câmara de combustão e com seus 2.4 litros possuía apenas 75cv de potência a 4.400rpm. Apesar de possuir um preço de aquisição superior, o modelo ganharia prestígio no mercado nacional, permanecendo em linha até o ano de 1997, quando passou a ser substituída no mercado nacional pela moderna Sprinter, que permanece sendo comercializada até os dias de hoje, acumulando até a atualidade em mais de 130.000 vendidas no Brasil.
Entre as aplicações militares da família, destaca-se o emprego com ambulância, transporte de passageiros (ou pilotos em bases áreas), com emprego inicial junto as forças armadas alemães espanholas, portuguesas e suecas. Além dos modelos básico, novas aplicações militares seriam aplicadas a família Mercedes-Benz Sprinter como, Oficina, Viatura Comando e Controle, Guerra Eletrônica, Comunicações e Medidas de Apoio de Guerra Eletrônica, passando a empregar inclusive tração integral 4X4, sendo empregada por mais trinta forças militares ao redor do mundo até os dias atuais. Estando em produção há mais de 20 anos a família de utilitários leves urbanos Mercedes-Benz Sprinter acumulam mais de com 2,8 milhões de unidades vendidas em mais de 130 países, se solidificando com um dos principais competidores deste segmento, devendo se manter ainda em produção pelas próximas décadas, inclusive no Brasil, onde apesar alta presença de concorrentes com custo inferior como Iveco, Peugeot e Renault, esta família de veículos se mantém altamente competitiva. Em 2012, quando a empresa completou 55 anos no país, renovou todo o seu portfólio de produtos, incluindo a nova linha de comerciais leves Sprinter.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Os primórdios da motomecanização no Brasil, tem seus primórdios no final da década de 1910, quando o Exército Brasileiro enviou à França, uma Comissão Militar Brasileira, para visitar á fabrica da Renault na cidade de Paris, com o intuito de adquirir algumas ambulâncias, com este processo se concretizando no ano de 1921. Pode se afirmar que este tipo de veículo de socorro e remoção médica seriam os precursores da transição de uma força terrestre hipomóvel para uma motomecanizada. Durante os eventos decorrentes da Revolução de 1924, ocorreria a primeira grande utilização de veículos automotores para fins militares, principalmente na frente de combate do Paraná, onde o General Rondon, comandante daquele setor empregou diversos veículos civis e militares nesta campanha, em diversas funções, desde ambulâncias para transporte de feridos e pequenos caminhões para o transporte de tropas, muito embora o suporte logístico de viveres, combustível e outros itens fosse ainda todo feito por enormes carroças puxadas por cavalos. No entanto a boa experiencia do emprego de veículos automotores em ambiente real de combate motivaria ao governo brasileiro a ampliar nos anos seguintes sua frota, principalmente de ambulâncias, passando a adquirir uma grande quantidade de veículos do modelo Ford TT.  Ao longo dos anos seguintes novos e mais modernos modelos de ambulâncias e pequenos veículos utilitários seriam incorporados não só ao Exército Brasileiro, mas também a Marina do Brasil, com um novo grande salto tecnológico ocorrendo somente a partir de 1942, quando a adesão do governo brasileiro ao programa de Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), passou receber uma grande quantidade de veículos e equipamentos militares modernos de origem norte-americana, entre estes novas 149 ambulâncias do modelo Dodge WC-54.

Após o término do conflito, as Forças Armadas Brasileiras estavam predominantemente equipadas com ambulâncias e utilitários leves de origem norte-americanas, produzidas principalmente pela Dodge Motors Co. dispostas nas versões WC-51, WC-52, WC-53 e WC-54. Este status quo passaria a ser alterado somente no início da década de 1960, quando do estabelecimento das primeiras filiais brasileiras de montadoras internacionais. Neste contexto a Volkswagen Kombi 1300, seria o primeiro utilitário nacional na versão ambulância a ser incorporado ao Exército Brasileiro, com as primeiras unidades sendo entregues a partir de meados do ano de 1961. Sua simplicidade e baixo custo de aquisição e operação lhe renderia grande êxito comercial junto as Forças Armadas Brasileiras, com estas ambulâncias passando a dotar muitos hospitais e unidades médicas administrativas militares espalhadas pelo país.  Porém o perfil operacional deste veículo não era adequado a operações em ambiente fora de estrada, levando a aquisição em seguida de ambulâncias derivadas dos veículos Ford Willys-Overland Rural F-75 e F-85, Chevrolet Veraneio C-1416 e C-1410 e Toyota Bandeirante, com contratos sendo celebrados junto Força Aérea Brasileira, Marinha do Brasil e Exército Brasileiro ao longo das décadas de 1970 e 1980. Além do emprego em tarefas de remoção e socorro médicos, versões utilitárias de transporte seriam usadas pelas polícias militares estaduais e corpo de bombeiros.
No início da década de 1990, a abertura do país as importações de veículos automotores iriam descortinar uma infinidade de novas opções ao mercado civil brasileiro, impulsionando as montadoras internacionais e incorporar ao seu portifólio veículos de sucesso. Entre estas iniciativas a Mercedes-Benz do Brasil S/A, decidiria pela introdução da linha de utilitários leves Urbanos MB-180 Sprinter, passando a importar veículos produzidos em sua subsidiária espanhola. A versão disponibilizada no mercado brasileiro, estava equipado com um motor MB OM-600 á diesel com 4 cilindros em linha de 2.3999 cm3 com potência de 75 cv a 4.400 rpm, chegando a uma capacidade de carga de 1.560 kg. Dentre as versões oferecidas estava a versão ambulância que podia abranger o modelo mais básico de “simples remoção” até os mais completos equipados com desfibriladores, tanques de oxigênio e sistemas de UTI, passando a conquistar grandes vendas junto aos órgãos governamentais civis, se destacando nos serviços de socorro médico por suas dimensões externas compactas, facilidade de manobra e agilidade no trânsito. Isso resulta numa operação com eficiência e confiabilidade, fatores essenciais para quem atua com transporte no setor da saúde. Este fato tornaria ao longo dos anos o principal veículo deste tipo a integrar a frota do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) do Ministério da Saúde. O governo do Estado de São Paulo, passaria em 1993 a adquirir pelo menos 20 unidades de uma versão policial especifica para emprego como bases comunitárias móveis 30 unidades configuradas para tarefas de resgate para o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar. Na aplicação do setor de socorro médico, o amplo espaço interno dos furgões Sprinter propicia conforto e segurança para os pacientes e também praticidade e comodidade aos profissionais de saúde.

Se aproveitando da excelente relação existente com o Exército Brasileiro, principalmente no fornecimento de caminhões militarizados, a Mercedes-Benz do Brasil S/A passaria em 1994 a oferecer em parceria com a empresa Marimar Veículos Ltda, uma versão ambulância para “simples remoção” e “atendimento básico”. Neste momento o veículo utilizado nesta mesma atividade, era o Chevrolet Veraneio, e comparativamente o Mercedes Sprinter por sua configuração monovolume apresentava um espaço interior muito maior, este fator levaria a aquisição de um primeiro lote, que passaria a ser entregue no final do mesmo ano. Em serviço o Mercedes-Benz MB-180D Sprinter, recebeu a designação de Viatura de Transporte Especializado Ambulância (VTE Amb 4X2), passando a operar junto aos Hospitais do Exército. Logo em seguida esta escolha seria acompanhada pela Marinha do Brasil, mediante a uma encomenda para uso junto aos Ambulatórios e Hospitais Navais, e por fim o mesmo modelo seria incorporado também a frota da Força Aérea Brasileira (FAB). Nestas organizações os Mercedes-Benz MB-180D Sprinter, passaram a substituir os menores e mais antigos veículos dedicados a estas tarefas. Na esteira destas aquisições alguns veículos configurados para transporte de passageiros seriam adquiridos, com os primeiros do modelo Mercedes-Benz 312D Sprinter 2000 sendo usados pelo Batalhão de Infantaria de Aeronáutica Especial de Brasília para Pelotão de Cães de Guerra, com esta decisão sendo seguida pelo Exército Brasileiro, para uso dos Batalhões de Polícia do Exército na Seção de Cães de Guerra – Canil. 
A exemplo da Força Aérea Brasileira (FAB), o Exército Brasileiro passaria a partir do ano de 2012, a incorporar um pequeno número de veículos do modelo Mercedes-Benz 415 CDi Sprinter 2012/2013, transformados em veículos canil pela empresa Tako Capotaria Ltda, para uso pela Seção de Cães de Guerra – Canil, alocados junto as unidades da Polícia do Exército (PE). Os primeiros modelos adquiridos na década de 1990 foram retirados do serviço ativo até a primeira metade do início do século XX, sendo substituídos por veículos novos, principalmente na versão ambulância, e neste contexto passaram a dividir espaço com ambulâncias baseadas nas plataformas de utilitários como Renault e Iveco, quebrando assim a hemogenia da montadora alemã. Novamente estes carros foram distribuídos aos Hospitais das três Forças Armadas, ao Batalhão da Guarda Presidencial do Exército Brasileiro na capital federal, Brasília – DF. Em termos veículos da família Mercedes-Benz Sprinter, configurados na versão de transporte de passageiros (16 lugares), as últimas incorporações foram realizadas pela Marinha do Brasil, sendo alocados aos comandos dos Distritos Navais espalhados pelo país. 

Em Escala.
Para representarmos o Mercedes-Benz MB-180D Sprinter VTE Amb 4X2, do Exército Brasileiro, fizemos uso do modelo em die cast produzido pela Axio na escala 1/43 para a "Coleção Veículos de Serviço do Brasil" da Editora Altayia.  Como não há diferenças entre a versão civil e militar não há a necessidade proceder nenhuma customização. Empregamos decais confeccionados pela Decals e Books pertencentes ao set "Forças Armadas do Brasil 1983 á  2002 1/35”.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura, empregado em todas as ambulâncias do Exército Brasileiro (mesmo padrão civil) utilizadas junto as unidades de saúde administrativas da organização. Já os veículos a serviço em outras tarefas fazem uso dos esquemas de pintura pertinentes a cada ramo das Forças Armadas Brasileiras.

Bibliografia :

- Primórdios da Motorização no Exército Brasileiro 1919-1940 - Expedito Carlos Stephani Bastos;
- Veículos de Serviço do Brasil – Mercedes-Benz MB-180D Sprinter  – Editora Altaya;
- Mercedes- Wikipedia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Mercedes-Benz;
- Mercedes-Benz do Brasil - https://www2.mercedes-benz.com.br/
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/
- Exército Brasileiro - https://eb.mil.br/

Gurgel X-10 Xavante e X-12 Tocantins

História e Desenvolvimento.
A história da Gurgel se confunde com a do seu fundador, o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, paulista nascido em Franca, em 1926, e formado pela USP aos 23 anos de idade. O interesse de João Augusto pela mecânica se manifestou desde criança e seu caráter questionador, contrapondo soluções inovadoras – por vezes revolucionárias – aos obstáculos e desafios técnicos surgidos no dia a dia, o acompanhou por toda a vida. Ainda estudante seu interesse se voltou para os automóveis, sonhando desenvolvê-los e fabricá-los no país. Obstinado pela idéia, desde cedo se preparou para a tarefa e, mesmo antes de se graduar, construiu (em 1947) um protótipo operacional de veículo anfíbio a hélice, com três rodas e motor de avião. Em 1958 criou em São Paulo (SP) sua primeira empresa – a Moplast Moldagem de Plástico Ltda., onde produziu os primeiros painéis luminosos de acrílico do país, em substituição ao neon. Mas o micróbio do automóvel não demorou a se manifestar e, já a partir de 1960, em associação com Silvano Pozzi (que três anos depois criaria a Silpo), começou a fabricar o Mo-Kart – primeiro kart de competição produzido em série no país. No II Salão, em 1961, apresentou o Gurgel II, que seria o primeiro de uma longa série de carros brilhantemente concebidos, porém sem continuidade de produção. O Gurgel II tinha carroceria de dois lugares, de plástico reforçado com fibra de vidro (como toda a produção posterior da Moplast e de suas sucessoras), montada sobre um chassi tubular com engenhosa suspensão independente nas quatro rodas. O motor de 130 cm3 (10 cv, refrigerado a ar), localizado na traseira, era acoplado a uma caixa de mudanças de variação constante, composta de polias tronco-cônicas e correias em V.Além destes veículos de lazer, a Moplast lançou no III Salão do Automóvel um transportador industrial para movimentação de cargas em fábricas e aeroportos, anunciando-o como “de criação e fabricação nacionais “. Denominado Mocar, pesando somente 180 kg, tinha capacidade para 400 kg de carga. Era acionado por motor a gasolina de dois tempos, 125 cm3 e 7,5 cv, associado a transmissão com uma marcha à frente e uma a ré, reduzida. Contava com freios somente nas rodas traseiras. Em 1964 João Augusto se desligou da Moplast e abriu, ainda em São Paulo, a Macan Indústria e Comércio Ltda., revenda Volkswagen que continuaria a fabricar karts, mini-carros infantis e o Mocar. A cada Salão do Automóvel alguma novidade era mostrada ou lançada: em novembro, na sua IV edição, foi a vez do Gurgel Jr II (3 cv, uma marcha à frente e ré, freios nas rodas traseiras), carrinho motorizado para crianças, com 2,10 m de comprimento e estilo inspirado no Ford Mustang. O ano de1966 seria o marcdo virada na história de João Augusto. Mediante acordo com a Volkswagen, preparou para o V Salão do Automóvel o Gurgel 1200, veículo de fibra de vidro sobre plataforma VW, apresentado em quatro versões, três “esportivas”, batizadas de Ipanema, Enseada e Augusta (a mais “luxuosa”), e uma “de trabalho”, denominada Xavante. Esta, dedicada a tarefas mais pesadas e ao transporte de pequenas cargas, seria a inspiração e origem da maioria dos veículos Gurgel das duas décadas seguintes. O Gurgel 1200 utilizava mecânica do Karmann-Ghia, com o tradicional e comprovado motor de quatro cilindros opostos refrigerado a ar de 1.200 cm3 e 36 cv (logo passariam a estar disponíveis motores maiores, com 1.300 e 1.500 cm3). Foi tão grande o interesse despertado pelo carro que João Augusto começou a fabricá-lo na Macan. Desentendimentos entre os sócios com relação ao envolvimento da concessionária na montagem de veículos, entretanto, levaram à sua saída da sociedade. Pouco depois, em 1º de setembro de 1969, fundou a Gurgel Indústria e Comércio de Veículos Ltda., ainda em São Paulo.

O início de fabricação do Ipanema – o modelo escolhido como primeiro produto da Gurgel – se deu em ritmo lento, em torno de quatro carros por mês. Sob a nova marca, o carro – agora simplesmente denominado Gurgel – sofreu algumas alterações externas e internas, dentre elas a inclusão de um santo antônio para maior proteção dos passageiros, a mudança do desenho das entradas de ar para o motor, na traseira, a abertura de entradas adicionais nas extremidades dos para-lamas e a troca das lanternas redondas pelas retangulares da Kombi (as redondas, contudo, não tardariam a retornar).Em 1970 a Gurgel assumiu claramente a vocação utilitária de seu produto, lançando as versões picape e QT (Qualquer Terreno), ambas equipadas com seletraction, um freio traseiro seletivo (com o papel de diferencial autoblocante manual) que, em momentos de dificuldade de tração, imobilizava a roda sem aderência, aplicando toda a potência do motor na outra roda. Extremamente simples, o artifício compensava em muitas situações a ausência de tração total nos carros da marca. A década de 70 se encerraria com o lançamento, no VII Salão, do buggy Bugato, fornecido em kits. Apesar da sua personalidade e estilo original, realçando-o frente à concorrência (vide a frente quadrada com falsa grade, a tampa de acrílico transparente encerrando o motor e os filetes decorativos nas laterais), dele só seriam fabricadas cerca de 20 unidades. A primeira conquista tecnológica da nova marca foi a adoção, em 1972, da estrutura plasteel, em substituição às plataformas com motor traseiro fornecidas pela Volkswagen. Mais uma das muitas “invenções” de João Augusto, o plasteel consistia numa estrutura tubular em treliça revestida de resina e fibra de vidro, capaz de conferir ao veículo, simultaneamente, flexibilidade à torção, redução de peso e resistência à corrosão. Com esta inovação a Gurgel conseguiria se instalar com solidez num nicho de mercado pouco explorado no país – a dos utilitários para uso sob más condições de terreno, atendido na época por apenas dois modelos de projeto ultrapassado, o Jeep Willys e o Toyota Bandeirante. O Xavante XT-72, primeiro utilitário Gurgel equipado com o novo chassi, mantinha a carroceria do Gurgel QT, que sofreu pequenas alterações para tornar o carro mais apto ao uso fora-de-estrada: para-choques reforçados, guincho, grade protetora nos faróis, engate para reboque e pás encaixadas nas laterais; o estepe foi deslocado para cima do capô dianteiro. O carro tinha concepção diametralmente oposta à de seus dois concorrentes: carroceria monobloco em fibra com estrutura tubular integrada, motor traseiro, suspensão traseira independente por molas helicoidais, bancos anatômicos e peso reduzido, em lugar de carroceria de aço, chassi em escada, suspensão por feixe de molas e peso e centro de gravidade elevados do Jeep e Toyota. O consumo de combustível do Gurgel era, naturalmente, muito mais reduzido, da mesma forma que o custo de manutenção, já que utilizava a mecânica mais do que conhecida da Volkswagen. Até mesmo o grande diferencial técnico que favoreceria os jipes tradicionais – a tração nas quatro rodas, inexistente no Gurgel –, ficava neutralizada (em condições de uso menos pesadas, por suposto) por sua leveza, pela agilidade da suspensão e pelo uso do selectration. Seu preço era competitivo, cerca de 15% superior ao Jeep, seu concorrente mais direto.
Em 1973 foi lançado o XT-73, com suspensão reforçada, maior distância do solo e motor 1600 opcional, nas versões XTR (com portas maiores, porém sem as pás instaladas nas laterais) e picape, com teto rígido e caçamba removíveis de fibra. Os modelos 1974 (XT-74), ano em que a Gurgel completou seu 500º veículo, sofreram apenas retoques nos bancos e no acabamento. Em fevereiro daquele ano foi lançada a nova geração do Xavante, iniciada com o modelo XTC. Apresentava carroceria maior (efetivamente permitindo transportar quatro pessoas), de desenho totalmente novo, com porta-malas mais espaçoso, quatro faróis, entradas de ar nas laterais traseiras e canos de escape mais altos (dando-lhe maior desenvoltura no trânsito por estradas de pó e regiões alagadas). O chassi, em plasteel, era também de novo desenho, com pneus maiores, tipo “cidade e campo”; o ângulo da suspensão dianteira foi alterado, aumentando ainda mais o vão livre (a suspensão traseira era semelhante à do XT). O motor era o VW 1600 com ventoinha vertical e um carburador. O crescimento contínuo das vendas e das exportações exigiu a transferência da produção para instalações maiores. Assim, em 1974 foi inaugurada nova fábrica em Rio Claro (SP), a primeira na história da empresa especialmente construída para abrigar as linhas de moldagem de carrocerias e montagem mecânica. O Xavante conheceu grande número de versões ao longo de sua carreira. Em maio de 1975 foi lançado o X-10, que agregava “cerca de 120 modificações estéticas e mecânicas” ao XTC. Na carroceria, cerca de 15 cm mais curta, as alterações principais foram: colocação do estepe sob a tampa do capô; reposicionamento do guincho, embutido na dianteira; redimensionamento do para-choque, agora em fibra, permitindo maior ângulo de entrada; transferência das entradas de ar mais para a frente; criação de túnel central estrutural; e novo painel. Quanto à mecânica, as modificações mais relevantes se referiam à nova suspensão traseira, que produzia menor cambagem das rodas. O X-10 podia ser equipado com capota rígida, janelas corrediças e porta com chave. Em novembro foi lançada a variante X-12, versão para uso civil do X-12 M, fabricado para as Forças Armadas; 20 cm ainda mais curto do que o X-10, apresentava balanços dianteiro e traseiro mais reduzidos e maior altura do solo, além de ser fornecido com pá, galão sobressalente de combustível com 20 litros, montado externamente, e apenas dois faróis. Com ele chegou a versão X-11, dotada de teto rígido, que duraria menos de um ano.

Em agosto de 1976 foi lançado o X-12 TR, também com teto rígido, janelas de vidro deslizantes e porta de fibra de série, além de nova frente, mais alta, com faróis embutidos e maior capacidade no porta-malas. No X Salão do Automóvel, no final daquele ano, mais duas novidades sobre o X-12: sua primeira versão a álcool, para a qual foi elevada a taxa de compressão do motor VW 1300 de 6,8:1 para 10:1 e alterados carburador e coletor de admissão; e a versão “jovem” – o Gurgel Blue Jeans, com capota, bancos e portas em tecido jeans e tala larga nas rodas traseiras. Com este modelo, a Gurgel introduziu novo prazo de garantia para seu monobloco fibra-plasteel: 100.000 km. O Salão ainda mostrou o X-20, primeiro utilitário com cabine avançada da marca, com capacidade para 1/2 t de carga, podendo ser adaptado para o transporte de passageiros ou uso misto. Tomando por base versão anterior desenvolvida para as Forças Armadas, acompanhando a concepção básica do X-12, porém com motor 1600, o veículo apresentava grande vão livre (360 mm) e excelentes ângulos de ataque e saída (respectivamente 65 e 450), obtidos graças ao reduzidíssimo balanço dianteiro e à elevada distância para o solo. Em 1978 surgiu mais uma variante do X-12, o X-12 E, totalmente equipado e se propondo mais econômico pela nova regulagem do motor VW 1600. Também a carroceria passou por pequenas alterações: novas lanternas traseiras (do Chevette); novo mecanismo de abertura da capota, que também passava a usar tecido diferente; tampa do motor modificada; e, pela primeira vez, utilização de cintos de segurança de três pontos. Em 1979 a carroceria do X-12 mudou mais uma vez, mantendo a mesma concepção técnica, porém dedicando maior atenção ao conforto, espaço disponível e acabamento interno. O carro ficou levemente mais largo e mais baixo e ganhou portas maiores e, opcionalmente, rodas de cores claras e desenho moderno. Suas linhas e proporções ficaram mais equilibrados, com destaque para a frente bem definida com faróis encaixados numa base quadrada, já agora sem grade de proteção; também o painel foi redesenhado e o galão sobressalente deslocado da esquerda para a direita. Em 1980 (ano em que fabricou seu 8.000º carro e atingiu a produção anual recorde de 1.872 veículos) lançou o X-12 “modelo 81”, com nova suspensão dianteira, freios a disco na frente, tela de proteção nas entradas de ar, novo formato e diferente fixação dos bancos dianteiros e melhor iluminação e acabamento internos.
Em 1988 o Gurgel X-12 seria rebatizado como Tocantins, tendo como destaque a adoção da ignição eletrônica, novos faróis retangulares e grade com três elementos horizontais. A capota foi alongada em 200 mm para aumentar o espaço traseiro e pôr fim a suspensão ganhou barra estabilizadora dianteira e nova molas traseiras. Rápido moderno e arrojado, o Gurgel X-12 foi o principal produto da Gurgel durante a maior parte de sua existência, tendo atingido a cifra de mais de 16.000 unidades entregues. No entanto no início da década de 1990 com a abertura do mercado o modelo encontrou obstáculos com a crescente pressão dos jipes importados, aliado a este cenario, os planos excessivamente ambiciosos para a limitada capacidade administrativa e financeira da Gurgel acelerariam o processo de degradação da empresa. Para a conclusão da fábrica do Nordeste e instalação das máquinas importadas da França, João Augusto contava com participação financeira de US$ 185 milhões, oriunda dos governos dos Estados de São Paulo e Ceará, da Sudene e de um empréstimo do BNDES. Porém a participação dos dois governos, de fato, não aconteceu, o que também levou ao cancelamento da operação de apoio financeiro do BNDES. A partir daí foi rápido o processo de aniquilamento: impossibilitada de iniciar a produção do Delta por falta de recursos para a conclusão das linhas de fabricação e sem condições de cumprir seus compromissos frente aos fornecedores, no ano seguinte a Gurgel requereu concordata. Não tendo obtido resposta favorável às solicitações de apoio subsequentes, enviadas à Presidência da República, e após a manifestação final do MICT, em fevereiro de 1994, expressamente contrária ao aporte de recursos públicos na empresa, “quer sob a forma de empréstimo, quer sob a forma de participação societária”, sua falência foi finalmente solicitada. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A utilização de veículos militares leves com tração 4X4 para emprego em ambientes fora de estrada foi difundida e consolidada durante a Segunda Guerra Mundial, quando as forças terrestres de todas as nações, passaram a contar com uma grande mobilidade no campo de batalha. O uso deste tipo de veículo em larga escala no Brasil, também se originou neste período, quando o país, ao se alinhar ao lado dos Aliados no conflito, passou a receber grandes quantidades de equipamentos militares, mediante sua adesão ao Programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Assim as Forças Armadas Brasileiras receberiam até o ano de 1945 mais de dois mil jipes com tração 4X4 dos modelos produzidos pela Ford Motors Company, American Bantam Co e Willys-Overland Co. Ao longo das duas décadas seguintes, estes jipes de origem norte americana prestaram grande serviço as Forças Armadas Brasileiras, passando a ser gradativamente substituídos ao longo dos primeiros anos da década de 1960, por versões civis militarizadas do modelo CJ-5 produzidas nacionalmente pela Willys Overland do Brasil (WOB). O simples fato destes jipes militarizados, empregarem a mesma mecânica dos veículos civis (com alto índice de nacionalização de componentes críticos), promoveria uma drástica redução nos custos de operação das Forças Armadas Brasileiras, algo que se materializaria a seguir, nos excelentes índices de disponibilidade de frota, patamares estes se quer imaginados quando da operação de carros do mesmo tipo importados durante a Segunda Guerra Mundial. Este fato, motivaria cada vez mais o comando das três Forças Armadas Brasileiras a optar pela aquisição de material militar automotivo de produção nacional, potencializando assim, a fase inicial de montadoras estabelecidas no país como a Ford do Brasil S/A, Willys Overland S/A , Dodge Chrysler do Brasil, entre outras multinacionais.

No início da década de 1970 a empresa paulista Gurgel S/A Industria e Comércio de Veículos, dava seus primeiros passos no mercado automotivo nacional, lançando o modelo utilitário fora de estrada Gurgel X-10 Xavante. Curiosamente suas características de operação, resistência e manutenção, levariam o pequeno carro nacional a conquistar significativa participação junto ao nicho de mercado de clientes rurais, se tornando um excelente substituto aos mais caros e complexos jipes com tração 4X4 importados ou produzidos localmente. Este cenário levaria a diretoria da Gurgel S/A a almejar novas possibilidades de mercado, entre estes o nicho de defesa, com a montadora nacional passando a oferecer seu portfólio de produtos as Forças Armadas Brasileiras. Dentre os veículos presentes no portifólio da empresa, o modelo X-10 Xavante, era o mais se encaixava neste tipo de operação, pois sua concepção mista de buggy e jipe, lhe proporcionava uma relativa capacidade para operação em ambientes fora de estrada (off road), a este fator aliava-se seu baixo custo de aquisição e operação. Desta maneira o próprio Joao Amaral Gurgel habilmente customizaria duas unidades para teste, originalmente a concepção destes carros em muito se assemelhava aos jipes, apresentando para-brisa que poderia ser rebatido, capota de lona e a boa relação dos chassis em relação ao solo, necessitando proceder pequenas alterações cosméticas, como adição de itens militares (guincho mecânico, pás e galão de combustível suplementar).  Apesar de não dispor de tração 4X4 como seus concorrente nacionais, o Toyota Bandeirante (versão brasileira do Land Cruiser com motor diesel Mercedes) e o Jeep Willys (posteriormente Ford),  que por serem mais complexos apresentavam, um desempenho superior, o pequeno utilitário da montadora brasileira  dotado de tração traseira, dispunha como diferencial o patenteado sistema Selectraction o que lhe concedia aceitável desempenho fora de estrada, que aliadas a excelente relação de custo benefício e apelo nacionalista da marca poderiam ajudar a influenciar a decisão dos militares brasileiros. 
Assim sendo no início do ano de 1974, estes dois protótipos do Gurgel X-10 “militarizados” foram disponibilizados ao Exército Brasileiro para serem submetidos a testes de campo em Marambaia, no Rio de Janeiro. Apesar de receber elogios quanto ao desempenho no campo de batalha simulada, sua aquisição não seria recomendada, com esta negativa sendo baseada na composição em fibra de vidro da carroceira. Os militares envolvidos neste programa afirmavam que, caso uma explosão estilhaçasse a carroceria do veículo, os fragmentos alojados no corpo dos ocupantes não seriam identificados por equipamentos de raio x, dificultando assim o tratamento de feridos em combate. Porém como sempre João Amaral Gurgel resolveria o problema brilhantemente, sua ideia surgiria em uma conversa com um médico especialista, com a solução sendo baseada na introdução de sulfato de bário na composição da carroceria, substância esta, originalmente empregada como contraste nas radiografias do estômago. Desta maneira, uma nova reunião seria solicitada junto ao comando do Exército Brasileiro, nesta oportunidade João Amaral Gurgel, apresentaria como prova da solução do problema, uma radiografia de uma almofada permeada com estilhaços de fibra de fibra, com estes pequenos pedaços aparecendo em destaque. Convencidos da desta solução, seriam iniciadas as primeiras tratativas visando a aquisição de um primeiro lote destes veículos.  Um contrato seria celebrado em meados do mesmo, com os primeiros Gurgel X-10 Xavante “militarizados” passando a ser entregues as unidades operativas do Exército Brasileiro a partir de abril do ano de 1975. Já em uso, o modelo da montadora nacional, conquistaria rapidamente a confiança de seus usuários, com este status sendo motivado pelo seu excelente ângulo de saída e ataque, com a carro dificilmente raspando em alguma superfície, graças ao grande ângulo de entrada de 63º e de saída com 41º. E apesar de possuir tração 4X2 , o emprego do sistema Selectration, se mostrava muito eficiente em atoleiros, com este conjunto deixando o Gurgel X-10 Xavante mais leve e econômico, permitindo relativa agilidade, proporcionada pelo motor Volkswagen Boxter 1600, que lhe rendia 60 cv de potência a 4.600rpm e torque de 12kgfm, que levava o carro de  de 0 à 100km/h em longos 38 segundos.

Em 1975 a Gurgel S/A Industria e Comércio de Veículos, lançaria no mercado civil seu novo modelo o Gurgel X-12 que manteve o desing básico do X-10 Xavante, porém com partes da estrutura em plástico reforçado com fibra de vidro, curiosamente a evolução deste modelo fora originada de um estudo solicitado pelo próprio Exército Brasileiro para uma versão melhorada do modelo anterior. O modelo militar original receberia a designação de X-12M, sendo adquirido inicialmente em larga escala pela Força Terrestre e posteriormente pela Marinha do Brasil, para o emprego junto as unidades de infantaria anfíbia do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (CFN).  Esta nova versão militar, apresentava as dimensões de 3,28 m de comprimento, 1,60 m de largura com peso de 770 kg, possuindo novo modelo de para-brisas rebatível, gancho traseiro para reboque e guincho mecânico dianteiro. Estavam ainda equipados com rodas especiais e pneus lameiros para operação em terrenos moles ou fofos para poder operar com facilidade em qualquer tipo de terreno. Seu pequeno porte possibilitava transporte em aeronaves de carga da Força Aérea Brasileira, podendo ainda ser lançado em voo por aeronaves Lockheed C-130E/H Hercules.  A próxima versão a ser desenvolvida, o Gurgel X-12TR , passaria a contar com teto rígido em fibra de vidro, com sua derivação militar o Gurgel X-12TRM, sendo inicialmente adotado pela Força Aérea Brasileira, com emprego destinado a tarefas de transporte administrativo e tracionamento de pequenas carretas lançadoras de foguete para calibração de estação de radar e medições meteorológicas. Curiosamente algumas unidades pertencentes aos Batalhões de Infantaria da Aeronáutica Especial (BINFAE, seriam armadas com metralhadoras fixas de calibre de 12,7 mm, sendo estes carros destinados a missões de patrulha orgânicas em suas bases áreas espalhadas por todo o território nacional.
Durante mais de 20 anos os jipes Gurgel X-10 Xavante  e X-12  Tocantins, serviram não só as Forças Armadas Brasileiras e policias militares, mas também a exércitos de outros oito países inclusive no Oriente Médio, África e América do Sul. Neste contexto, o Exército Brasileiro se tornaria o maior operador militar dos carros produzidos pela  Gurgel S/A Industria e Comércio de Veículos, chegando também a empregas os utilitários Gurgel X-15 e X-20. O encerramento das atividades da montadora no ano de 1994, não afetariam a disponibilidade da frota de veículos X-12 Tocantins em uso militar no Brasil  (tendo em vista que o X-10 havia sido retirado de serviço no início da década de 1990),  com este fato se dando muito em função do emprego da mecânica Volkswagen, que proporcionava normalidade no fluxo de obtenção de peças de reposição. Sua gradual substituição no Exército Brasileiro e Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) teve início em fins da década de 1980, com o recebimento nos novos jipes e utilitários produzidos pela Toyota & Bernardini e Engesa S/A. Os últimos Gurgel X-12 militares em serviço na Força Terrestre e na Força Aérea Brasileira, foram retirados no início dos anos 2000, com muitos exemplares adquiridos em leiloes por entusiastas e colecionadores. 

Em Escala.
Para representarmos o Gurgel Tocantins X-12TRM  "EB 34-13168“, do Exército Brasileiro, fizemos uso do modelo em die cast produzido pela Axio na escala 1/43 para a "Coleção Veículos de Serviço do Brasil" da Editora Altayia. Procedemos a customização para a versão militar. Empregamos decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set  "Exército Brasileiro "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982, quando este esquema foi substituído por uma camuflagem em dois tons. No entanto não registros fotográficos dos veículos da Gurgel neste novo padrão. Salientamos que os carros em uso pelo Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) e pela Força Aérea Brasileira, fizeram uso de outros padrões de pintura.


Bibliografia:

- Gurgel, o engenheiro que ousou sonhar - http://revistaautoesporte.globo.com
- Gurgel: o engenheiro que virou carro - https://quatrorodas.abril.com.br
- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes
- Exército Brasileiro - http://www.exercito.gov.br

Agrale Marruá Série AM 4X4 Militar

História e Desenvolvimento.
A montadora Agrale S/A iniciaria cronologicamente suas atividades em outubro de 1965, quando Francisco Stedile, fundador e proprietário da indústria de lonas de freios Fras-le S/A, adquiriu o controle acionário da Agrisa Ltda, tradicional fabricante de motocultivadores mecânicos baseada na cidade de Sapucaia do Sul (RS), que se encontrava insolvente. Em novembro do mesmo ano a linha de fabricação desta empresa seria transferida para Caxias do Sul (RS), onde ficava sediado o Grupo Stedile, gerando os primeiros passos ds História de sucesso do único fabricante de caminhões, tratores e motores com capital 100% nacional.  Os motocultivadores e seus motores (a partir de 1967 fabricados pela Agrale S/A, sob licença da alemã Motorenfabrik Hatz ) permaneceriam em linha por longos anos, com atualizações constantes. Desde cedo, porém, Francisco Stedile buscaria a diversificação, lançando mão da disponibilidade potencial de sua linha de fabricação de motores. Assim, lançaria no VI Salão do Automóvel, em 1968, o microtrator T-415, com 950 kg, sendo este o primeiro produto inteiramente desenvolvido pela nova empresa e categoria de veículo na qual é até hoje líder de mercado. A segunda investida da montadora no setor automotivo se daria no ano de 1976, quando a produção de tratores já alcançara quatrocentas unidades mensais. Apesar deste êxito, pairava sobre o mercado de máquinas e implementos agrícolas uma instabilidade crônica, levando a empresa a derivar seu portifólio. Nasceria neste momento o primeiro protótipo de um modelo de caminhão leve desenvolvido pela empresa, apresentando rodado traseiro simples, motor  Agrale – Hatz bicilíndrico diesel com 36 cv de potência, cambio mecânico de quatro marchas (da Volkswagen Kombi), sistema de freios a disco na dianteira e tambor na traseira e cabine de dois lugares (espartana, porém bem elaborada) fabricada em chapa de aço plana e soldada.  Este inovador modelo apresentava a capacidade de carga de uma tonelada – porte de picape, porém resistência de caminhão. No início de 1981, enquanto a produção de tratores no Brasil despencava verticalmente, seria apresentado mais um protótipo de caminhão (o terceiro e último), com nova cabine, ainda metálica, e capacidade aumentada para 1.100 kg.  Este novo modelo receberia a designação comercial de Agrale TX, estaria equipada eixo traseiro Albarus, e caixa de mudanças mecânica produzida pela Clark Equipamentos S/A, substituindo o conjunto anterior produzido pela Volkswagen do Brasil S/A. Sua versão final de produção, o Agrale TX 1100 pode ser considerado o primeiro veículo de carga leve a com cabine avançada, a ser disponibilizado no mercado brasileiro, seu lançamento finalmente ocorreria em janeiro do ano de 1982, com seu plano comercial projetando expectativas de vendas de pelo menos quinhentos caminhões no primeiro ano.   

O modelo trazia uma cabine em plástico reforçado com fibra de vidro de linhas agradáveis, fornecida pela Hidroplás S/A, apresentando um estilo totalmente distante das superfícies planas e cantos vivos mostrados nos protótipos anteriores. Apesar das otimistas previsões de vendas, o pequeno caminhão teria um nível de aceitação limitado, devido principalmente a pequena potência do motor, seu baixo torque e baixas velocidades obtidas. Em resposta a esta demanda, a montadora passaria a oferecer dois novos modelos o TX 1200 e TX 1600 com capacidade de transporte de respectivamente para 1,2 e 1,6 toneladas. O primeiro estaria equipado com um motor General Motors a álcool de quatro cilindros, 2,5 litros e 90 cv de potência, equipado com uma caixa mecânica com quatro marchas. Já o segundo passaria a ser equipado com um motor a diesel MWM de três cilindros com 63 cv de potência. Em conjunto com estes novos modelos também seria lançado também uma versão furgão integral, que receberia o nome comercial de Furgovan,  representando uma excelente solução para entregas urbanas, inédita no Brasil. Todos estes novos modelos chegariam as concessionarias com uma nova grade dianteira, na cor preta, diferenciando-os do “irmão” menor TX 1100. Seu desempenho em vendas apresentaria nos primeiros meses tendencias superiores ao TX 1100, que sua vez em junho de 1984, teria sua produção suspensa após a montagem de trezentos e cinquenta caminhões, com esta decisão sendo influenciada razões fiscais, pois as políticas vigentes oneravam desproporcionalmente veículos diesel com menor capacidade de carga. A linha 1986 seria lançada com uma cabine totalmente nova em termos de desing, sendo também moldada em plástico e fibra pela Hidroplas S/A, com 15 cm a mais na largura, capacidade para três lugares, área envidraçada 32% maior, ventilação e isolamento termoacústico melhorados. Esta nova cabine vinha resolver algumas das deficiências apontadas pelos usuários no modelo anterior, tais como espaço reduzido e ruído e aquecimento interno excessivos. Como diferencial podia ser customizado passando a fazer uso de um sistema de rodado duplo traseiro, melhorando sua capacidade de transporte. Receberia a designação comercial de Agrale 1600A (ou D, conforme o combustível fosse álcool ou diesel), abandonando assim a sigla TX de seu nome. Neste modelo seriam pela primeira vez oferecidas opções de cabine dupla e tração 4×4 (Engesa, com roda livre e freios dianteiros a disco), além de uma versão para passageiros – antecipando em anos a conquista do país, na década seguinte, por essa classe de veículos. Neste mesmo período a Agrale S/A realizaria sua abertura de capital na bolsa de valores, potencializando assim seu crescimento a médio e longo prazo. Seus excelentes resultados seriam proporcionados pela exploração deste nicho de mercado quase que com exclusividade até a chegada das vans coreanas (e de seus sucedâneos) importadas a partir do início da década de 1990. 
Já os primeiros passos  do envolvimento da Agrale S/A com mercado militar se daria em uma oportunidade criada a partir do ano de 1983, quando a Ford do Brasil S/A optaria pelo encerramento da produção de sua linha de utilitários da marca Jeep. Neste momento tanto o mercado civil quanto militar no Brasil, passavam a ficar carentes no atendimento de suas demandas por veículo de porte leve de custo acessível, com tração 4X4 e características para operação em qualquer terreno. Apesar do Toyota Bandeirante militarizado se encontrar em fase de desenvolvimento, ainda não havia previsão para sua homologação e consequente produção em série, gerando uma lacuna temporal que poderia representar uma oportunidade comercial, com este cenário sendo observado e entendido pela diretoria da empresa paulista Engesa S/A. Esta movimentação levaria a empresa a desenvolver um modelo para este nicho operacional, resultando na criação do Engesa EE-12, que fazia uso principalmente de componentes da indústria automotiva comercial nacional, agregando ainda soluções desenvolvidas pela empresa para seus sistemas de tração total.  Apresentando inicialmente em 1984, este jipe seria oferecido ao mercado civil  e militar a partir do ano seguinte, com a denominação de Engesa 4, e tinha como principal diferencial o emprego de um exclusivo sistema de suspensão por molas helicoidais, barras oscilantes longitudinais e transversais, que brindavam um excepcional curso de 225 mm, perfeito para transpor terrenos irregulares. De sobra este conjunto proporcionava ao veículo em ambientes fora de estrada, de uma maciez de condução próximas a um carro de passeio tradicional. A fim de reduzir custos, sua carroceria seria desenhada fazendo uso do novo sistema digital de computador  Cad Cam, implementados novos conceitos e minimizando assim seu tempo de desenvolvimento. Entre suas inovações seria concebida para ser produzida apenas com dobras e soldas, dispensando as caras ferramentas de estamparia. Seu chassi contava com longarinas tubulares em aço de alta resistência. A propulsão era garantida por um motor Chevrolet 151 de quatro cilindros e 2.470 cm3, igual ao da linha Opala oferecido em versões a álcool de 88 cv e gasolina de 85 cv. Estava equipada com a transmissão Clark 240v, de cinco velocidades e redução total de 6,33:1, que, de certo modo compensava a falta da reduzida na caixa de transferência. Este conjunto lhe proporcionava uma capacidade de subida de rampa de até 60º, atingindo velocidade máxima de  116 km/h na versão a álcool,  com consumo médio em estrada de até  5,2 km/litro de álcool.  O utilitário que pesava cerca de 1.500 kg, podia acomodar 500 kg de carga útil sobre os pneus 7-50x16, com comprimento de 3.590 mm de comprimento, tornando assim o jipe  Engesa 4 mais curto que o Fiat Uno. 

Um pacote de aprimoramentos seria implementado em 1988, de modo a tornar seu modo de condução  4X4 mais confortável e econômico, com principal destaque para o aumento entre eixos do balanço traseiro em 100 mm, permitindo portas maiores e espaço adicional para a bagagem. Também neste processo seu para-brisa seria ampliado e a tampa traseira e o painel foram redesenhados, sua caixa de transferência seria redesenhada, se tornando mais silenciosa. Para melhor desempenho global a transmissão foi encurtada e o diferencial foi alongado.  Porém no início da década de 1990, a Engesa S/A passaria a sofrer com sérios problemas de ordem financeira, sendo este cenário provocado em face de altos investimentos com recursos próprios para o desenvolvimento do blindado EE-T1 Osório, que infelizmente não logrou êxito em vendas. Este cenário seria  profundamente agravado por um processo de  inadimplência, na ordem de US$ 200 milhões de dólares, junto ao governo iraquiano. A somatória destes fatores  culminariam na falência da empresa no início da década de 1990 levando ao encerramento de suas atividades. Parecia o fim do jipe militar brasileiro, mas felizmente este promissor projeto denominado como " Modelo 4" seria retomado em fins da década d 1990 por um grupo de ex-funcionários da Engesa S/A que detinham os direitos intelectuais, sobre veiculo. Inicialmente objetivava-se produzir este modelo junto a Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda, uma empresa fundada especificadamente para prover a manutenção de blindados e caminhões da marca Engesa que ainda se encontravam em uso nas Forças Armadas Brasileiras.  No entanto neste momento esta nova empresa ainda se encontrava em fase de estruturação, e não dispunha das mínimas condições básicas para um projeto desta amplitude técnica. Apesar deste entrave inicial,  esta ideia seria apresentada ao Exército Brasileiro, que demonstraria grande interesse no projeto, com conversações resultando em uma parceria entre  este grupo de engenheiros, o Exército Brasileiro  e a empresa Ceppe Equipamentos Ltda.  Os primeiros três protótipos seriam construídos quase que artesanalmente nas instalações do  Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), em Barueri – São Paulo, sendo apresentados oficialmente em fevereiro de 2001. Durante quatro meses, estes três protótipos seriam exaustivamente avaliados em um programa de testes de campo, visando a sua homologação pelo Exército Brasileiro, recebendo ao fim desta, sua aprovação para produção em série e futura implementação. 
Os excelentes resultados aferidos, motivariam o Ministério da Defesa a programar a aquisição de uma grande quantidade destes utilitários para o reequipamento da frota das três Forças Armadas. Porém o atendimento a esta possível demanda esbarrava na capacidade econômica e financeira tanto da Ceppe Equipamentos Ltda, quanto da Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda, que não tinham as capacidades exigidas para uma demanda desta monta, levando assim a busca por um novo parceiro industrial. Neste cenário se destacava a Agrale S/A, esta montadora lograria êxito em absorver o know how para a produção em larga escala de veículos robustos, com esta transferência de tecnologia sendo proporcionada a partir de 1988 através de um acordo da empresa com  a montadora norte-americana Navistar Corporation para a montagem de caminhões médios e pesados da marca International nas suas instalações. Negociações seriam estabelecidas, com a  Agrale S/A, passando a assumir posição de investidor no projeto, realizando um aporte de R$ 11.000.000,00, adquirindo então desta maneira, os direitos do projeto, ficando assim responsável por sua produção em série. Este projeto receberia o nome de batismo de Marruá, que significa em tupi guarani “novilho selvagem” , sendo apresentada oficialmente em 2003 durante a edição da Feira Internacional de Defesa e Segurança (LAAD) no Rio de Janeiro. Neste evento o utilitário despertaria a interesse de outras nações, resultando nos primeiros entendimentos para sua comercialização. No ano seguinte seria lançada a primeira versão civil, que se diferenciava da versão militar por contar com sistema elétrico de 12 volts e apresentar para-brisas dianteiro fixo, ademais todas as demais características da versão militar foram mantidas. Neste primeiro momento mais de cem veículos seriam imediatamente comercializados, superando as expectativas iniciais. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Por um longo período, o esteio da frota de utilitários com tração integral 4X4 seria composto por uma grande variedade de versões dos jipes Ford GPA ou Willys MB importados durante a década de 1940 dos Estados Unidos ou produzidos no país pela Willys Overlando do Brasil S/A ou Ford do Brasil S/A entre os anos de 1954 e 1983. Estes veículos eram empregados em uma grande gama de tarefas, desde ligação, transporte leve, remoção de feridos do campo de batalha, reconhecimento, radio e anticarro. O natural desgaste e envelhecimento da frota levaria o Exército Brasileiro ao longo dos anos buscar soluções paliativas para a renovação de seus meios, culminando na aquisição de modelos como Engesa EE-34, Toyota Bandeirante, JPX A3 Montez e Land Rover Defender. Estas aquisições atenderiam a necessidade emergencial de renovação da frota, porém demandava linhas especificas de peças de reposição, elevando assim consequentemente os custos operacionais, sendo assim então estudar alternativas futuras para um possível processo de padronização. Esta demanda levaria o  Ministério da Defesa Brasileiro a investir no projeto do antigo Engesa EE-4, renovado pela parceria entre o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) e a  Ceppe Equipamentos Ltda. Como citado a entrada montadora nacional Agrale S/A como investidor principal garantiria estrutura necessária a sua produção em série, tornando assim o futuro Agrale Marruá o veículo padrão do segmento de VTL (Viatura Tática Leve) e VTNE (Viatura de Transporte Não Especializada).  O modelo final homologado pelo Exército Brasileiro, atendia plenamente ao Requisito Técnico Básico (RTB) 063/94 destinado a concepção de veículo classificado como VTNE ½ 4X4, destinado para o transporte de pessoal ou carga, podendo carregar 500 kg em qualquer terreno, podendo ainda dispor de um reboque militar com mais 250 kg. Basicamente destinava-se ao transporte de quatro homens com equipamento individual, sendo previsto ainda o emprego desta plataforma para o emprego de míssil anticarro, canhão sem recuo de 106 mm, metralhadora leve 7,62 mm tipo MAG ou calibre .50 do  tipo Browning. Sua carroceria era construída toda em aço, com teto e portas em vinilona,  janelas de enrolar, barra de proteção anticapotagem, para brisa rebatível com vidro basculante, reguláveis, e banco traseiro para passageiros. Dispunha de tampa traseira de abertura lateral que permite amplo acesso ao compartimento de carga. Estava equipado com um motor dianteiro MWM modelo 4,07 TCA a diesel, quatro cilindros em linha, 2,8 litros e 135 cavalos, dotado ainda com o câmbio Eaton modelo FS 2305, manual de cinco marchas a frente e uma ré, caixa de transferência de fabricação própria e caixa de direção TRW, modelo TAS-2 com acionamento hidráulico. A suspensão dianteira e traseira era composta por barras oscilantes longitudinais e transversais, molas helicoidais e amortecedores de dupla ação. 

O primeiro contrato de produção seria celebrado no ano de 2005 entre o Ministério da Defesa e a montadora, previa a entrega de oito unidades do modelo Agrale Marruá AM2, destinados ao Exército Brasileiro. Estes primeiros veículos designados como VTNE ½ ton t 4×4 seriam entregues no dia 10 de abril de 2006, sendo alocados ao 3º Batalhão de Suprimentos (3º Bsup), na cidade de Nova Santa Rita no Rio Grande do Sul. Após serem aceitos para operação, seriam distribuídas as unidades de Grupo de Exploradores dos Pelotões de Cavalaria e Pelotões de Explorador. Seus excelentes resultados em campo, renderiam a montadora um novo contrato, agora envolvendo cinquenta e sete carros, que passariam a ser entregues ao longo do ano de 2007 . O emprego operacional do jipe Agrale Marruá AM2 (VTNE ½ ton 4×4), despertaria o interesse da Marinha do Brasil, que tinha por intermédio do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) a necessidade na substituição das versões mais antigas dos utilitários Toyota Bandeirante militarizados. Assim no início do ano seguinte, seria homologada a versão AM2-MB 4X4, especificadamente customizada para o emprego junto ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), apresentando características únicas, em destaque a aplicação de uma pintura especial que garante maior resistência à corrosão causada pelo mar e pneus especiais para uso em terreno arenoso.  O primeiro lote contratado de vinte e nove carros, seria entregue em agosto de 2008, sendo seguidos pois mais contratos de produção, o que permitiria um maior nível de renovação da frota, possibilitando assim a desativação de muitos utilitários dos modelos Toyota Bandeirante e Land Rover Defender.  A partir do ano de 2010, o Exército Brasileiro começaria a incorporar cada vez mais viaturas Agrale Marruá na configuração VTNE ½ ton 4X4 e VTL ½ ton 4X4, com os contratos superando a casa de duzentos veículos. Em seguida seria adotada uma nova versão, o Marruá AM11 desenvolvida sobre chassi longo e capaz de receber um reparo para metralhadora calibre MAG 7,62 mm. Esta versão receberia a nomenclatura militar “Viatura Tática Leve de Reconhecimento” (VTL Rec), representando na atualidade o principal veículo leve empregado pelo Exército Brasileiro nos seus Pelotões de Cavalaria Mecanizado.  Em 2011 a Força Aérea Brasileira passaria a adotar não só versão básica Agrale Marrua AM2, mas também variantes especializadas de cabine dupla para emprego como carro socorro e bombeiro junto a suas bases aéreas. Neste mesmo ano a Agrale S/A apresentaria na edição da LAAD (Latin America Aerospace & Defence), a nova versão picape, Marruá AM 31 – VTNE 1,5 ton 4X4, concebida para atender às especificações militares na faixa de 1.500 kg podendo ainda rebocar 1.500 kg de carga ou veículos.   
Muitos dos componentes empregados são os mesmos empregados em sua versão básica, com suspensão de mola semi-eliptica com rate variável pertencentes a classe da picape comercial Ford F-250, mantendo as mesmas características no desempenho fora de estrada da versão do jipe. Em 18 de novembro de 2013, a Portaria Nº 224-EME do Ministério da Defesa, estabeleceria a adoção da Viatura de Transporte Não Especializada, 1½ toneladas, 4×4, Categoria 2 e Agrale Marruá Modelo AM31 (VTNE 1½t, 4×4). Em consequência de apresentar uma plataforma básica, versátil, robusta, de fácil manutenção e baixo custo operacional, esta família de utilitários ganharia novas versões especializadas, como viatura porta Shelter para Comando e Controle (VTNE ¾ ton 4x4 – VCC),  ambulância UTI (VTNE ½ ton Amb UTI de 14 m3) e AM21 versão GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que incorporava características especiais para missões de pacificação e manutenção da ordem. O principal foco do projeto em si, envolveria a concepção de um kit básico de blindagem, fazendo uso de aço balístico, para aplicação na VTNE 3/4 t Agrale Marruá Cargo, uma vez que, em virtude das características topográficas e urbanísticas do terreno das operações, com sua principal aplicação na cidade do Rio de Janeiro. Entre outras versões a serem implementadas em seguida, estavam o Marruá VTL REC RHD, o Marruá VTNE 2 ½ ton. AM41, a Viatura Tática Leve de Reconhecimento - VTL Rec, implementada com sistema de visão termal (em parceria com a AEL Sistemas S/A), e uma versão blindada do Marruá AM200 Cabine Dupla Nova Geração, uma opção para uso tanto das Forças de Segurança e Policiais como para uso civil. O modelo de maior porte, o  Agrale Marruá AM-41 VTNE 2 ½ , apresentava capacidade total para transporte de 2.500 kg e reboque de 2.500kg, sendo desenvolvido de acordo com as necessidades das Forças Armadas Brasileiras para o transporte de equipamento, carga e pessoal em qualquer terreno. Já a versão armada a Viatura Tática Leve de Reconhecimento - VTL Rec passaria a adotar a possibilidade de portar uma segunda metralhadora MAG de calibre 7,62 mm, ou ainda uma gama variada de armamentos, inclusive misseis anticarro, possuindo ainda quatro lançadores de granadas fumiginas instaladas no para-choque dianteiro e um guincho elétrico.

A plataforma seria ainda empregada ainda com base no modelo AM20 Marruá, para a tarefa de transporte do avançado sistema de controle para a artilharia antiaérea, desenvolvido para o Exército Brasileiro pela empresa OrbiSat S/A (atual Bradar) e controlada pela Embraer Defesa e Segurança S/A. Este projeto desenvolvido em parceria com o Centro Tecnológico do Exército (CTEx), tinha por objetivo integrar o Sistema de Defesa Antiaérea do Exército Brasileiro, abastecendo-o com informações capazes de contribuir para a tomada de decisões em inúmeras situações que envolvam questões de defesa e segurança, levando ao acionamento do sistema de defesa antiaérea. Este sistema funciona como uma base para o comando e controle das informações enviadas, em tempo real, pelo radar Saber M60, também produzido pela mesma empresa, e usado para vigilância aérea e terrestre de aeronaves a baixa altura, rastreando alvos em um raio de até sessenta quilômetros e a altitude de até cinco mil metros. Deste conceito nasceriam três versões especializadas com diferentes configurações, como Agrale AM20 GE (Guerra Eletrônica), Agrale AM20 MAGE (Medidas de Apoio de Guerra Eletrônica) e Agrale AM20 VCC (Viatura Comando e Controle), passando a ser operados pelos Centros de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército e Companhias de Comando e Controle. Todas estas nova versões fazem uso de um shelter MTO TKV-1 produzido pela empresa Truckvan Ltda, com seu interior sendo configurado de acordo com a especialização da viatura. O primeiro emprego destes utilitários em um cenário de conflagração real, se daria durante o ano de 2008,  quando dezenove veículos do modelo AM20 VTNE ½ 4X4 (Viatura de Transporte Não Especializada), pertencentes ao Exército Brasileiro foram destacados para participar do contingente brasileiro das forças de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) empregados em favor dos esforços da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) operando com excelentes resultados. No ano de 2010, dez viaturas da versão ambulância VTNE ½ Amb UTI, seriam incorporadas ao contingente brasileiro para o emprego principalmente na capital Porto Príncipe.
Ao longo de quase vinte anos, as viaturas utilitárias de transporte da família Agrale AM Marruá, se consolidariam como a viatura padrão nas Forças Armadas Brasileiras com tração integral nas modalidades de 1½ ton 4×4 e ¾ ton 4x4 operando com excelente resultados. Em 2011 uma versão dedicada a tarefa de Carro de Resgate e Salvamento (CRS) para emprego junto as bases aéreas, foi desenvolvida sob encomenda para a Força Aérea Brasileira, sendo baseada na plataforma do modelo Agrale AM20, com equipamentos especializados produzidos pela empresa Triel HT S/A, dispondo de um guincho elétrico com capacidade de até 4.100 kg e torre de iluminação. Na primeira metade da década de 2010, durante um processo de revisão padrão,  verificou-se junto aos veículos mais antigos, um alto nível de corrosão de carroceria e desgaste de componentes críticos, levando a elaboração de estudos para revitalização desta viatura, com este processo sendo conduzido pela  equipe técnica do Parque Regional de Manutenção da 7ª Região Militar (PqRMnt/7), que culminariam no Projeto Marruá. O escopo deste programa consistia na implementação da manutenção preventiva e corretiva de 2º e 3º escalão dos sistemas críticos (suspensão, direção e freio), na recuperação da capotaria e nos trabalhos de funilaria e pintura, além da substituição das caçambas danificadas por conjuntos novos. O Projeto Marruá seria iniciado em fins do ano de 2018, chegando até a presente data em duzentos e vinte e cinco carros já recuperados e entregues as Organizações Militares jurisdicionadas à 7ª Região Militar. Logo em seguidas projetos semelhantes passariam a ser conduzidos pelos Arsenais de Guerra do Exército espalhados por todo país, garantindo assim maior tempo de efetiva operação junto à tropa, assim como o seu valor estratégico para os Comandos Militares e para a Força Terrestre.

Em Escala.
Para representarmos o veículo Agrale Marruá AM20 VTE MAGE (Medidas de Apoio de Guerra Eletrônica), fizemos como base, o uso do modelo em die cast na escala 1/43 da coleção “Veículos de Serviço do Brasil” da editora Planeta de Agostini. A versão original representa o modelo cabine dupla Marruá AM 150 CD CC ano 2006, para se representar a versão utilizada pelo Exército Brasileiro, tivemos de construir em scratch o “shelter”, fazendo uso de fotos e referências do veículo real. Empregamos decais confeccionados pela Decals e Books pertencentes ao set "Forças Armadas do Brasil 1983 a 2002 1/35”.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Brasileiro aplicado em todos os seus veículos militares a partir de 1983. Os únicos veículos do Exército Brasileiro que receberam um esquema diferente deste, foram os destinados ao contingente brasileiro a serviço durante a operação da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), onde passaram a ostentar o padrão de pintura padrão das forças de paz das Nações Unidas (ONU). Já os veículos a serviço do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) e Força Aérea Brasileira (FAB) adotaram esquemas de pintura diferentes, pertinentes a suas funções ou padrão de cada força.
 



Bibliografia :

- Agrale Marruá, um legítimo 4X4 militar Made In Brasil - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Agrale Marruá AM2 no Exército Brasileiro - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Agrale S/A – www.agrale.com.br
- Viatura Tática de Reconhecimento Agrale  - Expedito Carlos Stephani Bastos