A gênese da empresa Cessna Aircraft Company, tem início em junho de 1911, quando o Clyde Cessna, um fazendeiro residente na cidade de Rago no estado do Kansas, construiu sua própria aeronave, sendo a primeira pessoa a voar entre o rio Mississippi e as montanhas rochosas. Seus aeroplanos seguintes empregavam estrutura básica de madeira e tecido, sendo produzidos na cidade de Enid no Oklahoma, sendo submetidos a testes nas salinas. Visando ampliar seu empreendimento, Clyde Cessna faria uma solicitação de empréstimo a banqueiros locais, pleito este que seria veemente negado. Visando dar continuidade a seu projeto se mudaria para a cidade Wichita no mesmo estado, onde obteria estes recursos, neste momento se associaria ao empresário Victor Roos fundando a Cessna Aircraf Co. Buscando se estabelecer neste competitivo mercado, a empresa iniciaria desenvolvimento de um ousado projeto, o Cessna DC-6, com esta aeronave recebendo certificação oficial no mesmo dia da "Quebra da Bolsa de Valores" em 29 de outubro de 1929, o que impactaria diretamente no mercado de aeronaves civis e comerciais. Apesar dos esforços realizados, a Cessna Aircraft Company não resistiria a crise, levando ao encerramento das operações em janeiro de 1932. Os rumos da empresa seriam alterados em 1933, quando um piloto profissional fazendo uso de um Cessna CR-3, venceu a American Air Race em Chicago, estabelecendo um novo recorde mundial de velocidade para aeronaves daquela categoria. Antevendo ao possível sucesso comercial da marca, os sobrinhos de Clyde Cessna , Dwane Wallace e Dwight Wallace, negociariam a massa falida da empresa no ano seguinte, e logo em seguida iniciariam um processo de transformação desta organização. Neste momento, a economia norte-americana, passaria a apresentar sinais de melhoria a curto e médio prazo, levando a empresa a investir no desenvolvimento de aeronaves de transporte de passageiros e treinamento básico multi motor. Logo esta decisão se mostraria acertada, com a marca conquistando grande parcela nos mercados civis e militar nos anos seguintes.
Durante a Segunda Guerra Mundial a empresa seria notabilizada pela produção da aeronave de treinamento militar Cessna AT-17 U-50 Bobcat, modelo responsável pela formação de milhares de pilotos de aeronaves de transporte, patrulha a e bombardeiro. Nos anos que se sucederam ao término do conflito a empresa seguiria em pleno crescimento, mas notadamente no mercado civil, com suas aeronaves voando em todos os continentes. Em agosto de 1949, o comando da Exército Americano (US Army) em consonância com a Força Aérea Americana (USAF), identificaram a necessidade de se adquirir uma aeronave monomotora de construção metálica, para dois tripulantes e capaz de operar em pistas de chão, que fosse focada em missões de observação, ligação e controle aéreo avançado para ajuste de fogo de artilharia. Esta nova aeronave teria por missão substituir os já obsoletos Piper L-4H Grasshoper e Stinsons L-15 Sentinel, em operação desde a Segunda Guerra Mundial. O desafio proposto aos participantes desta concorrência, era o de apresentar um protótipo acabado para ensaio operacional em março do ano seguinte. Em resposta a esta demanda, a Cessna Aircraft Company ofereceria como proposta o Cessna Model 305, uma derivação militar da versão civil Model 170, e tinha como principais alterações, a adoção de maiores janelas laterais inclinadas(para melhorar a observação do terreno), traseira resenhada para proporcionar uma visa direta da retaguarda, painéis transparentes sobre a cabine (similares aos encontrados no Cessna 140) e inclusão de uma porta lateral compatível com emprego de uma maca para emprego em missões de evacuação aéreo medica. Atendendo ao cronograma previsto na concorrência, a empresa apresentaria seu protótipo em novembro do ano 1949, com esta aeronave de matrícula N-41694 realizando seu primeiro voo em janeiro do ano seguinte.
Logo após esta aeronave seria transladada para o centro de ensaios em voo do Exército Americano (US Army) na base de Wright Field no estado de Ohio, onde durante aproximadamente seis semanas seria avaliado e testado comparativamente contra os protótipos apresentados pela Piper Aircraft , Taylorcraft Co. e Temco Aircraft Co. Ao final deste programa em maio de 1950, a Cessna Aircraft Company, seria declarada vencedora deste processo, recebendo um contrato para a produção de quatrocentas e dezoito aeronaves, que receberiam a designação militar de L-19A. Praticamente o início da produção em série, coincidiria com o eclodir da Guerra da Coréia (1950 - 1953), gerando assim um sentimento de urgência nos comandos da Força Aérea Americana (USAF) e do Exército Americano (US Army), incrementando significativamente os volumes de aeronaves inicialmente contratadas, com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DOD) aumentando o número para 3.200 células a serem entregues com previsão de entrega entre 1950 e 1959. Neste contexto estas aeronaves passariam a ser entregues também ao Corpo de Fuzileiros Navais do Estados Unidos (US Marine Corps), onde receberam a designação de OE-1. Naturalmente seu batismo de fogo se daria durante aquele conflito, onde seriam empregados em missões de controle aéreo avançado, comunicações na linha de frente, remoção aero médica (Medvac) e treinamento. Apesar de possuir uma aparência frágil típica de aviões de pequeno porte, a aeronave obteria excelentes resultados. Neste cenário de conflagração real, os Cessnas L-19A "Bird Dog" operariam frequentemente em pistas que eram pouco mais do que áreas descampadas de terra batida, e não seriam raras as ocasiões em que estas aeronaves voltavam a suas bases com danos de grande monta provocados por armas de pequeno calibre.
As experiências colhidas no conflito, levariam a Cessna Aircraft Company a partir de 1953, a desenvolver novas versões como a TL-19D (Model 305B) e L-19E (Model 305C), que passariam a incluir importantes melhorias, como hélices de velocidade constante, sistemas de navegação e comunicações aprimorados, maior peso bruto e reforços estruturais. A partir de 1962 as aeronaves do Exército Americano (US Army) e do Corpo de Fuzileiros Navais do Estados Unidos (US Marine Corps) seriam redesignados como OE-1 (Observação), com a aeronave se especializando em missões de observação e controle aéreo. Já a Força Aérea Americana (USAF), contrataria a conversão de aeronaves L-19A para as versões O-1D (Model 305B), O-1F (Cessna 305E) e O-1G (Cessna 305D), especializadas para as tarefas de Controlador Aéreo Avançado - FAC (Forward Air Controller). Ao eclodir a participação norte-americana na Guerra do Vietnã (1965 - 1975), centenas de aeronaves desta família seriam deslocadas para aquele teatro de operações, sendo também operados pela Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Segundo registros, estas aeronaves seriam empregadas em operações especiais clandestinas de infiltração nos territórios do Laos e Camboja. Sua capacidade de pouso e decolagem em curtas distancias, tornariam Bird Dog apto a ser empregado pela Força Aérea Americana (USAF), para operar em tarefas de vetorização de aeronaves de ataque, operando e apoio a missões de busca e salvamento em combate de pilotos abatidos atrás das linhas inimigas. Neste conflito estas aeronaves seriam destinadas a tarefas de reconhecimento, aquisição de alvos, ajuste de artilharia, revezamento por rádio, escolta de comboio e controle aéreo avançado de aeronaves táticas, para incluir bombardeiros que operavam em um papel tático.
Apesar de suas inegáveis qualidades, estas aeronaves se tornariam rapidamente obsoletas, passando a ser substituídas no Corpo de Fuzileiros Navais do Estados Unidos (US Marine Corps) e na Força Aérea Americana (USAF), pelo binômio dos vetores Cessna O-2 Skymaster e North American Rockwell OV-10 Bronco. Porém a aviação do Exército Americano (US Army) manteria o Cessna L-19A/E em serviço durante todo o conflito, equipando onze esquadrões de reconhecimento, distribuídos no intuito de cobrir todo o Vietnã do Sul, Zona Desmilitarizada do Vietnã (DMZ) e a extremidade sul do Vietnã do Norte. Um total de 469 aeronaves desta família foram perdidas neste conflito, sendo vítimas de acidentes ou artilharia antiaérea inimiga. Em meados da década de 1970 os Cessna L-19A/E e OE-1 seriam totalmente retirados do serviço ativos das forças armadas norte-americanas. Dispondo em reserva técnica de um grande número de células em bom estado de conservação, estas aeronaves seriam incluídas nos programas de ajuda militar patrocinados pelo Departamento de Estado Norte Americano, e seriam cedidos em condições extremamente favoráveis a Áustria, Chile, Brasil, Canada, França, Indonésia, Itália, Malta, Noruega, Paquistão, Coreia do Sul, Espanha, Taiwan e Tailândia. Esta família de aeronaves seria ainda produzida sob licença no Japão, ao todo até o fim de 1959, seriam entregues 3.413 células, dispostas em quinze versões.
Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da década de 1950, o Ministério da Aeronáutica (MAer) estava profundamente empenhada em um processo de restruturação organizacional e operacional, com a finalidade de potencializar suas atividades de suporte junto ao Exército Brasileiro e a Marinha do Brasil aperfeiçoando as capacidades de dissuasão e defesa do país. Neste período a Força Terrestre, carecia dos meios para a realização de missões de regulagem de tiro de artilharia de campanha e observação visual do campo de batalha, replicando o grande êxito obtido durante a participação da Força Expedicionária Brasileira - FEB, na Segunda Guerra Mundial. Em 1954 o comando do Exército Brasileiro colocaria em operação algumas células do Piper L-4H Grasshoper para atender a esta demanda, mas esta iniciativa teria uma vida efêmera, muito em função das dificuldades de doutrina operacional encontradas, e assim logo estes aviões seriam logo devolvidos a Força Aérea Brasileira. Assim a fim de se atender a esta demanda, em 12 de dezembro de 1955 o decreto lei nº 38.295 recriaria a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO), inicialmente as operações seriam iniciadas com as aeronaves veteranas da campanha da Itália, porém estas células se encontravam no limiar de sua vida útil. Assim seria necessário proceder a aquisição de novos vetores para a execução destas tarefas, e neste contexto o Cessna L-19 Bird Dog representava a melhor escolha. Desta maneira o Ministério da Aeronáutica (MAer), fazendo uso dos termos do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP) passaria a negociar a aquisição de células usadas do modelo L-19 Bird Dog, oriundas dos estoques da aviação do Exército Americano (US Army).
Esta demanda seria atendida pela cessão de oito células da versão Cessna 305A L-19A Bird Dog, que após selecionadas in loco por uma comitiva de oficiais da Força Aérea Brasileira, seriam transportadas por via naval, sendo recebidas em dezembro de 1955. Estas aeronaves seriam montadas e ensaiadas logo em seguida pela equipe da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO) com apoio da estrutura operacional da Escola de Aeronáutica (EAer), organização a qual esta unidade estava subordinada. Estas aeronaves receberam as matrículas FAB 3062 a 3069 e logo seriam postas em operação. Durante os dois primeiros anos de atividade, os Cessna L-19A foram dedicados a formação e adestramento do pessoal aeronavegante, com foco na instrução de diversas tarefas como, o sistema “apanha-mensagem”, reconhecimento, instrução de regulagem de tiro de artilharia e treinamento dos observadores aéreos do Exército Brasileiro. Estas aeronaves dispunham ainda, de quatro cabides subalares, possibilitando o treinamento de lançamento de fardos com viveres e emprego de foguetes fumígenos de fosforo branco SCAR de 2.25 polegadas para a marcação de alvos. Este período seria caracterizado por intensa atividade aérea, e nele registraram-se duas perdas, uma em outubro de 1957 e outra em julho de 1959, de fato, ante as exigências que cercavam as operações, taxa de atrito nestas células seriam bastante altas. Neste período, os Cessna L-19A passaram a participar cada vez mais dos exercícios organizados pela Força Terrestre, em geral aquela unidade despachava duas aeronaves para cumprirem um variado leque de trabalho. Esta intensidade e frequência seria fundamental para o adestramento da artilharia de campanha, pois o Exército Brasileiro havia readquirido o conhecimento acerca do valor de uma aeronave de observação no campo de batalha moderno.
Em novembro de 1961, chegaria ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF), uma célula desmontada, que seria doada pelo Exército Brasileira, este "novo" L-19A seria montado, reparado (com a confecção artesanal de algumas peças) e revisado, com estes trabalhos se arrastando por meses. As dificuldades em se preparar esta aeronave se justificavam, pelo fato que, naquele momento, somente cinco aeronaves do modelo estavam em condições de voo. No entanto curiosamente no início do ano de 1963, o Depósito Central de Armamentos do Exército Brasileiro remeteria diretamente a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO) uma célula desmontada do modelo Cessna 305E - L-19E, que seria prontamente colocada em condições de voo. Visando recompor as perdas em meados de 1963, o Ministério da Aeronáutica (MAer) negociaria a aquisição de dez células usadas deste mesmo modelo, oriundas dos estoques da Força Aérea Americana (USAF). Estas aeronaves seriam recebidas entre os meses de outubro e novembro de 1963, sendo montadas e revisadas no Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF), destas seis aeronaves seriam destinadas a 3ª Esquadrilha de Ligação e Observação, (ELO) sediada em Canoas – RS, enquanto os demais foram entregues à 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO). Externamente, os L-19E eram praticamente idênticos aos L-19A, sendo necessário possuir um olho clínico para distinguir as diferenças entre estas duas versões. Este novo modelo dispunha de uma suíte de comunicações mais moderna com sistema de rádio FM AN/AR, sendo distinguido visivelmente do modelo anterior pela presença das antenas no bordo de ataque de cada estabilizador horizontal.
A partir de 1966, os Cessnas L-19A e L-19E passariam a realizar surtidas de reconhecimento visual em proveito dos trabalhos realizados por unidades do Exército Brasileiro que estavam engajadas em missões antiguerrilha. O evoluir dos movimentos comunistas no Brasil, levariam a um crescente aumento destas missões, com estas aeronaves sendo destacadas para operar em distintas regiões do território nacional. De fato, em abril de 1967, na Serra do Caparó (MG), um Cessna L-19E sofreria um grave acidente com perda total, quando se encontrava em execução de um processo de “pente fino”, como eram denominadas as operações do Exército Brasileiro que buscavam focos e acampamentos da guerrilha comunista. Até o final desta década as duas esquadrilhas de ligação e observação permaneceram neste escopo de missões, participando periodicamente também de exercícios e manobras de grande envergadura realizadas pelo Exército Brasileiro. Esta experiência operacional seria aproveitada quando da implementação do processo de reorganização da Força Aérea Brasileira no início da década de 1970, com o principal objetivo de garantir maior funcionalidade e flexibilidade aos meios empenhados em missões de contra insurgência. Neste contexto seriam criados a partir de 1972 os Esquadrões de Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), os quais tomariam os lugares das Esquadrões de Reconhecimento e Ataque (ERA) e das Esquadrilhas de Ligação e Observação. Assim as aeronaves remanescentes seriam transferidas para o 1º EMRA – Esquadrão “Falcão” e ao 5º EMRA– Esquadrão “Pantera”.
A operação no hostil ambiente de florestal tropical amazônico, logo iria cobrar um alto preço da reduzida frota dos Cessna L-19A e L-19E, havendo o registro de acidentes de pequena monta durante o ano de 1974. Estes fatos seriam o prenuncio para a perda de três aeronaves entre março de setembro de 1975, infelizmente outros graves acidentes ocorreriam entre os anos de 1977 e 1978. No início do ano seguinte, somente quatro aeronaves se encontravam em condições de voo, se mantendo em operação até a extinção do 1º EMRA – Esquadrão “Falcão” em setembro de 1980. Uma célula seria transferida para o recém-criado 1º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão “Falcão”, permanecendo em operação até o final do mesmo ano, sendo posteriormente restaurada e inclusa no acervo do Museu Aerospacial (MUSAL) no Rio de Janeiro. Já as três aeronaves remanescentes foram entregues ao Departamento de Aviação Civil (DAC) a fim de serem distribuídas para clubes de planadores, onde permaneceriam em operação até pelo menos o início da década de 1990.
Em Escala.
Para representarmos o Cessna L-19E Bird Dog "FAB 3154" pertencente ao 1º EMRA – Esquadrão “Falcão”, empregamos o kit da Model USA na escala 1/48 (única opção existente nesta escala). Trata-se de um modelo de fácil montagem, porém requer paciência no acabamento das peças devido ao alto índice de rebarbas de injeção. Para melhoria no detalhamento confeccionamos em scratch os cabides subalares e foguetes fumígenos de fosforo branco. Fizemos uso de decais impressos pela FCM Decais presentes no set 48/09.
Bibliografia :
- Cessna 01 Bird Dog Wikipédia
- http://en.wikipedia.org/wiki/Cessna_O-1_Bird_Dog
- História da Força Aérea Brasileira - Prof. Rudnei Dias Cunha
- http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Nas Garras do Puma – Oswaldo Claro Junior
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015 por Jackson Flores Junior