M-3A1 Scout Car no Exército Brasileiro

História e Desenvolvimento.
A White Motor Company foi fundada no ano de 1900 na cidade de Cleveland Ohio, tendo iniciado suas atividades com produção de carros de passeio, sendo seguido pelo lançamento de veículos comerciais leves, como picapes e caminhões. A montadora seria notabilizada também por derivar seu mix de produtos para outros segmentos produzindo bicicletas, patins, tornos automáticos e máquinas de costura. Após o término da Primeira Guerra Mundial, a empresa decidiu encerrar a produção de automóveis, concentrando-se exclusivamente no segmento de caminhões leves e médio, decisão esta que mostraria acertada pois nos anos seguintes a empresa conquistaria 10% de participação em vendas de todos os caminhões fabricados nos Estados Unidos. Este sucesso lhe renderia recursos para ousar se arriscar no promissor mercado militar, que no início da década de 1930 começava a mostrar tendências de crescimento a curto e médio prazo. Esta iniciativa se concretizaria em 1934 na produção do modelo M-1 Scout Cart, que se apresentava como um veículo com tração 4X4 blindado montado sobre a estrutura de uma picape civil.  Este conceito interessaria ao Exército Americano (US Army), gerando uma encomenda de setenta e seus carros. Visando aprimorar o conceito do veículo, a empresa lançaria em 1935 o modelo M-2 Scout Car, que em termos de design era quase idêntico ao M-1, porém apresentava dimensões maiores e pesava apropriadamente 3,95 toneladas, sendo alimentado por um motor a gasolina de 94 hp (70 kW) e desempenhava uma velocidade máxima de 80 km / h. Um total de vinte carros deste modelo seriam entregues ao Exército Americano (US Army).

A partir do ano de 1937 ficava cada vez mais evidente que o aumento das tensões tanto na Europa quando no oceano pacífico, poderia levar as nações a um novo conflito em larga escala. Baseado neste possível cenário o governo norte americano decidiu promover um amplo programa de modernização e reequipamento de suas forças armadas. Dentre as necessidades emergenciais despontava a necessidade de ampliar a capacidade de moto mecanização e mobilidade do exército, vislumbrando uma grande oportunidade mercadológica, a White Motor Company, iniciou com recursos próprios o desenvolvimento de um novo veículo de transporte médio blindado. Visando a agilidade no desenvolvimento a empresa utilizou como base a plataforma e chassi da camionete civil Indiana adicionando a mesma uma estrutura blindada capaz de resistir a armas de baixo calibre. O novo veículo foi concebido com o emprego do maior número possível de componentes comerciais para manter os custos baixos. O primeiro protótipo foi apresentado ao comando do Exército Norte Americano (US Army), ostentando a designação de M-2A1 Scout Car, conceitualmente o veículo agradou a equipe de oficiais avaliadores, levando a celebração de um contrato para a construção de um pequeno lote de carros para serem avaliados em um estruturado programa de testes. A versão final que seria liberada para produção em série, receberia a nova designação de M-3 Scout Car, e estava equipada com o motor a gasolina Hercules JXD com 94 hp de potência, deste modelo inicial seriam encomendadas 64 unidades iniciais prevendo a entrega dos primeiros carros no ano seguinte.
Atendendo ao cronograma previsto em contrato, os primeiros M-3 Scout Car começaram a ser entregues em meados de 1938 a 7ª Brigada de Cavalaria baseada em Santa Marta no Texas. Unidade militar esta, onde seriam concentrados todos os carros deste modelo, visando assim estabelecer a doutrina operacional e o consequente processo de aceitação final, a fim de se liberar a distribuição dos veículos a mais unidades militares mecanizadas. Os resultados obtidos neste processo apresentariam a necessidade de implementação de modificações e melhorias, que quando apresentados a equipe de projeto da White Motor gerariam uma nova versão que passaria a ser designada como M3A1 Scout Car. As diferenças externas com a versão inicial se baseavam no o alargamento do corpo sobre os para-lamas, a remoção da porta traseira, adição de um trilho permitindo o deslocamento por toda carroceria da metralhadora e a inclusão do sistema “unditching roller”  (rolo dianteiro) montado na frente do para-choque para auxiliar na transposição de terrenos íngremes. Com a validação desta nova versão, um contrato de produção de 800 carros foi celebrado prevendo a entrega das primeiras unidades a partir do início do ano de 1940, paralelamente seriam firmados também os primeiros contratos de exportação, sendo o primeiro realizado com o governo das Filipinas.

Seu batismo de fogo ocorreu contra o Exército Imperial Japonês, quando algumas unidades do M-3A1 Scout Car foram empregadas em missões de defesa pelo Exército Filipino (Philippine Constabulary), durante a invasão daqueles país a partir de dezembro de 1941. Em serviço junto as forças militares norte-americanas os M-3A1 Scout Car seriam utilizados por unidades de cavalaria em seu papel pretendido durante a Campanha do Norte da África e a invasão da Sicília, sendo empregado para reconhecimento, triagem e como veículo de comando blindado. O Scout Car seria rápido e confiável, tornando-o popular entre suas equipes. Na campanha do Pacífico os M-3A1s seriam empregados com restrições junto ao Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps), realizando missões administrativas e de transporte longe do front de combate. Em meados de 1943, relatórios preliminares de experiência em combate real, evidenciavam as falhas do projeto, entre elas a mais grave, que estava baseada no fato de que o veículo possuía sua parte superior aberta o que o tornava muito vulnerável os soldados a ataques aéreos ou emprego de granada de mãos e coquetéis molotov. Com base nesta deficiência a partir desta das os M3A1 Scout Car começaram a ser gradativamente substituídos nas linhas de frente pelos novos carros blindados Ford M-8 Greyhound e M20 Command Car, com o excedente de carros sendo mantidos como carros de transporte e ligação distante do front de combate.
Os M-3A1 Scout Car foram largamente fornecidos as nações aliadas durante a Segunda Guerra Mundial nos termos da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Leand & Lease Act Bill), entre estes China Nacionalista, Inglaterra, Brasil, Canadá e União Soviética (incluindo versões a diesel com motores Buda-Lanova). Durante o conflito seriam fornecidos também a forças militares não regulares de resistência, como as francesas, belgas, checoslovacas e polonesas. Após o término do conflito, uma grande quantidade deste modelo, retirados do serviço ativo das forças armadas norte-americanas, seriam exportados para a Austrália, Chile, Colômbia, República Dominicana (que operou o modelo até o início da década de 1990), Líbano, Laos, Israel, México, Katanga, Noruega, Filipinas, Polônia, Vietnã do Sul, Iugoslávia e Venezuela. Os M-3A1 Scout Car seriam empregados ainda em batalhas reais durante a Guerra da Coréia e conflitos regionais como Guerra Árabe Israelense em 1948 (com versões modernizadas localmente), Primeira Guerra da Indochina e na guerra da Argélia.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o pais ainda era signatárias da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. Este processo de reequipamento teria início em meados de 1941 após a adesão do governo brasileiro do presidente Getúlio Vargas ao programa norte americano denominado Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Os termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamento seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.

Entre as maiores demandas das forças armadas brasileiras estava a necessidade da implementação da capacidade mobilidade motomecanizada do Exército Brasileiro, principalmente no que tange a veículos de porte médio com tração 4X4. Neste período nossa capacidade neste segmento restringia-se a poucas unidades do carro alemão Vidal & Sohn Tempo G-1200, que estavam também obsoletos em termos de desempenho. Apesar da previsão de recebimento de grandes volumes de veículos com tração 4X4 como os Dodge WC-51, WC-52, WC-56 e WC-57, faltava ainda a Força Terrestre, a introdução de um veículo utilitário blindado.  Esta necessidade seria atendida em um dos contratos de fornecimento de material militar norte-americano, com a previsão fornecimento de noventa veículos M-3A1 Scout Car, tratava-se então veículo de categoria até então inédita no país. O modelo apresentava um chassi de camionete, com quatro rodas motrizes de tração permanente, sendo impulsionado por um motor a gasolina Hercules JXD, desenvolvendo de 87 hp de potência. Sua carroceria era composta por uma estrutura blindada em aço que se estendia por toda a carroceria, e podia acomodar até oito soldados totalmente equipados. Dispunha de uma capota removível em lona, para a proteção contra as intempéries, sendo montada sobre três arcos na carroceria, seu para-brisa frontal era blindado, fixado em um anteparo móvel de aço, visando assim o aumento da proteção aos infantes, criando, porém, limitações de visibilidade para o motorista e chefe do carro. Toda esta blindagem provia proteção adequada contra armas de pequeno calibre, sendo indicados para operação na linha de frente. Para autodefesa estava equipado ainda com duas metralhadoras calibre. 50, que podiam ser disparadas de qualquer lado do veículo fazendo uso de um sistema de trilho existente ao redor do veículo.
As primeiras unidades foram recebidas no Rio de Janeiro entre agosto e novembro de 1942, totalizando cinquenta e um veículos iniciais, novos de fábrica. Após recebimento, adaptação e treinamento de motoristas e mecânicos os White Motors M-3A1 Scout Car foram distribuídos inicialmente as unidades de artilharia leve do campo, para compor as baterias de canhões anti-carro auto rebocados, sendo responsáveis por tracionar os recém recebidos canhões norte-americanos M-3 e M-3A1 de 37 mm, atuando também nestas mesmas unidades em atividades de movimentação e transporte das guarnições e munição. Durante a Segunda Guerra Mundial, foram extensivamente empregados em exercícios operacionais, se mantendo em prontidão para possível emprego real em combate. Curiosamente os M-3A1 Scout Car não seriam disponibilizados aos efetivos brasileiros participantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no front de batalha italiano. Logo após o término do conflito, mais trinta e nove carros seriam recebidos compondo o contrato total firmando anteriormente. Neste período, dentro de um amplo programa de reorganização do Exército Brasileiro, os veículos blindados M-3A1 Scout Car foram enquadrados como Viatura Blindada de Transporte Pessoal - VBTP, pois sua excelente capacidade de transporte em terrenos adversos, poderia auxiliar em muito nas missões de apoio logístico, sendo assim distribuídas as unidades militares de cavalaria mecanizada, espalhadas por todo território nacional.

Já nesta nova missão, os White Motors M-3A1 Scout Car, por estarem em disponíveis em grande quantidade, foram extensivamente empregados em grandes exercícios operacionais nas duas décadas seguintes, tendo destaque para a grande manobra da "Divisão Blindada", realizada durante o ano de 1968 no interior do estado do Rio de Janeiro. Apesar de não terem sido enviados a Itália para participação das forças brasileiras durante a guerra, os M-3A1 Scout Car brasileiros seriam empregados em um cenário real de conflito, quando alguns veículos foram mobilizados para participação dos efetivos do Exército Brasileiro, que seriam enviados ao Oriente Médio como parte das Forças de Paz da ONU (UNEF - United Nations Emergency Force) no conflito existente entre o Estado de Israel, o Egito, e seus vizinhos árabes a partir do ano de 1956. Estes veículos foram disponibilizados ao Exército Brasileiro nesta região a partir de 4 de fevereiro de 1957, quando os primeiros contingentes nacionais desembarcaram nesta região. Já em serviço, estes veículos blindados foram empregados um amplo espectro missões envolvendo transporte, patrulha de fronteira, suporte a tarefas de limpeza de campos minados no deserto subjacente e de demarcação entre as forças árabes e israelenses. Neste contexto o White Motors M-3A1 Scout Car se tornaria um dos principais meios de transporte blindado leve dos efetivos multinacionais ali dispostos. Com o término da força tarefa em 1967, alguns destes carros seriam repatriados sendo despachados ao Brasil junto com último contingente do Exército Brasileiro.
Em fins da década de 1960 os altos custos de manutenção e a crônica falta de peças de reposição (principalmente componentes do grupo motriz a gasolina cuja produção havia sido descontinuada a mais de 20 anos), praticamente reduziram a frota dos veículos blindados meia lagarta dos modelos M-2, M-2A1, M-3, M-3A1, M-5 Half Track Car e M-3A1 Scout Car, a pouquíssimas unidades operacionais, debilitando gravemente a capacidade de mobilidade do Exército Brasileiro. Então a fim de se buscar uma solução de curto prazo que visasse restaurar a capacidade de mobilidade da Força Terrestre de forma adequada, levando ao estudo de alternativas, com os especialistas do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2), passando a conduzir estudos visando a repotencialização da frota dos meia lagarta brasileiros, tendo como principal objetivo atingir o maior nível de nacionalização possível. Apesar de existirem tabus dentro do Exército Brasileiro sobre a real capacidade técnica em se proceder um repotenciamento neste nível, foi decidido dar prosseguimento a esta pauta. Fazendo uso de um carro meia lagarta M-2 do primeiro lote, como protótipo, os trabalhos seriam rapidamente iniciados, com o objetivo crucial de proceder a troca do motor original a gasolina, por um nacional a diesel, com a escolha recaindo sobre o modelo Perkins 6357  de 6 cilindros com 142 hp de potência.Desta maneira em agosto de 1972, o primeiro protótipo repotenciado pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em conjunto com técnicos da Perkins S/A, foi oficialmente entregue a Diretoria de Moto Mecanização (DMM), a fim de ser submetido a exaustivos testes de campo. Após a finalização destes, o protótipo recebeu sua homologação, recebendo então a autorização para a implementação deste programa em todos os veículos desta família ainda em carga no Exército Brasileiro. Esta modernização permitiu a extensão de sua vida útil até o início da segunda metade da década de 1980, quando foram finalmente retirados da ativa e substituídos novo modelos.

Em Escala.
Para representarmos o White Motors M-3A1 Scout Car a serviço do Exército Brasileiro, durante sua participação na Crise do Canal de Suez, fizemos uso do excelente kit da Zvezda na escala 1/35, que apresenta bom nível de detalhamento e facilidade de montagem. Empregamos ainda, decais confeccionados pela Eletric Products presentes no Set UNEF- SUEZ.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado em todos os veículos participantes das Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), principalmente durante a operacionalização da missão internacional UNEF - SUEZ (United Nation Emergencial Forces). Em uso normal no país, estes veículos empregariam durante toda a sua carreira no Exército Brasileiro o padrão tático de pintura em verde oliva. 



Bibliografia :

- M-3A1 Scout Car  O primeiro 4X4 no EB - Expedito Carlos S. Bastos http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/arq/Art%2096.htm 
- Blindados No Brasil - Volume I - Expedito Carlos S. Bastos 
- M3 Scout Car - Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M3_Scout_Car
- Batalhão Suez - http://www.batalhaosuez.com.br/