Ford Engesa F-600 VTE


Historia e Desenvolvimento.
A Ford Motor Company, uma das mais icônicas e prestigiadas montadoras norte-americanas, foi fundada em 16 de junho de 1903, em modestas instalações situadas no subúrbio de Detroit, no estado de Michigan. Liderada pelo engenheiro e visionário Henry Ford, a empresa teve início com um investimento inicial de US$ 28.000, aportados por doze investidores, entre os quais se destacavam os irmãos John e Horace Dodge, que posteriormente deixariam a companhia para fundar a Dodge Motors Company. Este documento apresenta uma análise formal e estruturada da trajetória inicial da Ford, seu impacto na indústria automotiva e o legado de suas inovações. Nos primeiros anos de operação, a Ford Motor Company produzia veículos de forma quase artesanal em sua fábrica localizada na Avenida Mack, em Detroit. Pequenos grupos de dois ou três trabalhadores montavam cada automóvel, utilizando componentes majoritariamente fornecidos por terceiros. Apesar da escala limitada, os produtos da Ford rapidamente conquistaram a confiança dos consumidores norte-americanos, posicionando a empresa como líder no segmento de carros de passeio. Esse sucesso inicial gerou recursos que viabilizaram a expansão da companhia e o aprimoramento de seus processos industriais. Com o crescimento da demanda, a Ford optou por internalizar a fabricação de componentes críticos, adotando o conceito de integração vertical. Essa estratégia, inovadora para a época, permitiu maior controle sobre a qualidade e os custos de produção, consolidando a eficiência operacional da empresa. A integração vertical tornou-se um modelo funcional e amplamente adotado, contribuindo para a escalabilidade da Ford e sua capacidade de atender a um mercado em rápida expansão. Em 1908, Henry Ford lançou o Ford Modelo T, equipado com o primeiro motor de cabeça de cilindro removível, um marco técnico que elevou os padrões da indústria. Contudo, foi em 1914 que a Ford revolucionou a manufatura com a introdução da linha de montagem contínua, um sistema que implementou a produção em série de forma prática e eficiente. Esse método, conhecido como “Fordismo”, baseava-se na padronização de processos, na verticalização da produção e no aperfeiçoamento contínuo, encapsulado no célebre lema de Henry Ford: “Você pode comprar um Ford de qualquer cor, contanto que seja preto.” Desde seus primeiros anos, a Ford Motor Company demonstrou uma visão estratégica voltada para o mercado internacional. Em 1904, a empresa estabeleceu sua primeira linha de montagem no exterior, no Canadá, para a produção do Modelo C. Essa iniciativa marcou o início de uma política de parcerias globais, que facilitavam a fabricação local e a adaptação dos veículos às necessidades de diferentes mercados. O impacto do Fordismo transcendeu a indústria automotiva, influenciando métodos de produção em diversos setores. A combinação de eficiência, padronização e acessibilidade introduzida por Henry Ford redefiniu os paradigmas da manufatura moderna, estabelecendo um modelo que seria adotado mundialmente. Além disso, a Ford Motor Company consolidou-se como uma das pioneiras na democratização do automóvel, transformando-o de um artigo de luxo em um bem acessível a milhões de pessoas.

A expansão da Ford na América Latina teve início na Argentina, onde, em 1913, foi estabelecida uma filial. Contudo, a montagem de veículos nesse país só foi iniciada em 1921. No Brasil, a produção de automóveis Ford começou de forma pioneira em 1918, por meio de uma iniciativa do industrial baiano Antônio Navarro Lucas. Licenciado pela Ford, Lucas passou a montar, em Salvador, Bahia, dez unidades mensais do Modelo T, marcando o Brasil como o primeiro país latino-americano a fabricar veículos da montadora. Reconhecendo o potencial do mercado brasileiro, a diretoria da Ford Motor Company decidiu, em 24 de abril de 1919, criar uma filial no país. Já no início de maio do mesmo ano, foi instalada, na Rua Florêncio de Abreu, no centro de São Paulo, uma unidade que combinava um escritório administrativo e uma linha de montagem para a produção do Modelo T. Essa instalação tornou-se a primeira indústria automobilística do Brasil, um marco histórico para o setor. O Ford Modelo T destacou-se no Brasil por sua robustez, facilidade de condução e manutenção, características que o tornaram o automóvel mais popular do país na época. Com apenas 20 cavalos de potência, seu projeto simples e funcional permitia sua desmontagem para transporte em caixotes, sendo remontado em galpões próximos a portos ou estações ferroviárias, especialmente em regiões com infraestrutura rodoviária limitada. Essa versatilidade contribuiu para sua ampla aceitação no mercado brasileiro. A crescente demanda por veículos Ford no Brasil impulsionou a expansão das operações em São Paulo. Até 1921, a Ford mudou suas instalações duas vezes, ainda no centro da cidade, até se estabelecer na Rua Sólon, no bairro do Bom Retiro. Nesse endereço, a produção alcançou a capacidade de 40 unidades diárias. Em 1923, a mesma unidade montou o primeiro caminhão fabricado no Brasil, ampliando o portfólio da empresa. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Ford priorizou a produção de veículos e componentes para uso militar. Com o fim do conflito, a montadora acelerou sua produção, atingindo, em 1948, uma cadência de 50 a 60 veículos leves por dia. Nesse período, a fábrica passou a montar uma gama diversificada de produtos, incluindo automóveis Ford, Mercury e Lincoln (de origem norte-americana), Anglia e Prefect (de origem britânica), além de veículos comerciais leves, ônibus e caminhões médios e pesados das marcas Ford e Thames. Aproximadamente 1.200 componentes já eram produzidos localmente, por meio da Ford e de cerca de cem fornecedores nacionais, enquanto cabines e carrocerias continuavam a ser importadas e montadas no Brasil. Ao completar 30 anos de operações no Brasil, em abril de 1949, a Ford já havia montado mais de 200 mil veículos. Em 1953, a empresa inaugurou uma moderna fábrica no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com capacidade para produzir 125 veículos por dia. Essa unidade representou um salto em termos de infraestrutura e eficiência produtiva. Nesse contexto, o governo federal começou a considerar políticas de incentivo à nacionalização da indústria automotiva, embora planos concretos só fossem formalizados em 1956, com a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA).
Com a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) em maio de 1956, o Brasil estabeleceu diretrizes para a nacionalização da indústria automotiva, exigindo que as montadoras desenvolvessem planos para a fabricação de veículos com crescente conteúdo local. A Ford do Brasil S/A, alinhada a essas metas, submeteu seu plano ao GEIA próximo ao prazo limite, consolidando um marco na história da indústria automotiva nacional. Eram três tipos: um caminhão médio, um leve e uma picape, prevendo capacidade máxima de trinta mil unidades, em 1960, com a produção de mails de oito mil caminhões já em 1957. Em coerência com as regras vigentes, o índice de nacionalização deveria aumentar progressivamente, saltando de cerca de 40%, em 1957, para 90% (em peso) em 1960. Quando o projeto da Ford foi aprovado, no final de 1956, a quase totalidade dos componentes das cabines já era estampada no Brasil; a produção de algumas partes era terceirizada, caso das caçambas de picapes, fornecidas pelas Máquinas Piratininga, e algumas centenas de itens diversos eram adquiridos junto a outros fabricantes nacionais. Em 26 de agosto de 1957 deixou a linha de montagem do Ipiranga o primeiro caminhão Ford nacional – o F-600, ainda apenas com cerca 40% de conteúdo nacional, em peso. Tratava-se de um modelo convencional, de porte médio (para 6,5 t, entre eixos de 4,37 m) e arquitetura tipicamente norte-americana, com motor V8 a gasolina (4,5 l e 161 cv) e cabine recuada; tinha caixa de quatro marchas e diferencial de duas velocidades, com reduzida de comando elétrico. Dois meses depois foi lançada a picape F-100, para 930 kg, dotada da mesma motorização e igual cabine, porém com três marchas (primeira não sincronizada). Ambos eram modelos descontinuados nos Estados Unidos – um mix de capô, para-lamas e cabine de 1953 com grade de 1956. Exatos 3.454 veículos foram concluídos no primeiro ano, 576 dos quais do modelo picape. Para atender às metas do plano, foram criados os Departamentos de Engenharia do Produto e de Ensaios e Pesquisa (alocados nas antigas instalações do Bom Retiro), construída uma fundição de motores em Osasco (SP), instaladas linhas de usinagem e montagem de motores e ampliada a estamparia do Ipiranga, as três últimas inauguradas em novembro de 1958. Em 1959, a cabine do caminhão e picape foi reestilizada, recebendo novo painel, volante “em cálice” e os para-brisas panorâmicos introduzidos em 1956, nos Estados Unidos. A picape, por sua vez, ganhou caçamba muito mais moderna, com para-lamas integrados, seguindo projeto apenas recentemente adotado na matriz. Para registrar o salto no índice de nacionalização, obtido após a inauguração da fábrica de motores, os emblemas de todos os modelos passaram a vir nas cores verde e amarela.   Em junho daquele mesmo ano seria lançado o caminhão leve F-350 (para 2,7 ton entre eixos de 3,30 m), com a mesma mecânica dos demais (este seria, por muitos anos, o único modelo brasileiro na categoria). No ano seguinte o caminhão médio ganhou a versão F-600-148″, com menor entre eixos (3,77 m), próprio para receber carroceria basculante ou quinta roda, com capacidade de tração de 12 toneladas.

Em 1961 foi também o ano em que a Ford brasileira se dobrou à realidade local, que aceleradamente se afastava dos motores a gasolina no transporte de cargas, e lançou seu primeiro veículo diesel. Equipado com motor Perkins de seis cilindros e 125 cv, o F-600 Diesel recebeu poucas modificações com relação ao modelo a gasolina: apenas reforço da suspensão dianteira e substituição do logotipo “V8”, na grade, por outro, nomeando o novo combustível.  Em abril de 1962 o estilo da linha Ford foi mais uma vez alterado, desta vez assumindo o desenho do modelo norte-americano de 1960. A nova série, chamada Super Ford, não mereceu alterações mecânicas significativas. A linha de comerciais foi renovada em maio de 1968: além das novas carrocerias com faróis retangulares para todos os modelos e do novo motor Perkins de 142 cv para o F-600 Diesel (seis cilindros, sete mancais, camisas removíveis e bomba injetora rotativa). Em julho de 1970 já apareciam os primeiros lançamentos para 1971 na linha de caminhões, trazendo faróis redondos para todos os modelos; na picape, freios, suspensão Twin-I-Bean e relação de transmissão foram modificados; a F-350 recebeu freios assistidos e o F-600 opcionalmente, tanque de combustível de maior capacidade e caixa de cinco marchas sincronizadas. Em 1976, a Ford lançou mais um caminhão diesel, o F-7000. Dispondo da mesma capacidade e iguais elementos mecânicos do F-600 Diesel, o F-7000 vinha, porém, equipado com um motor diesel diferente, o novo dois tempos Detroit (quatro cilindros em linha, injeção direta e 145 cv), cuja produção havia sido iniciada pouco antes no Brasil. Novos modelos foram lançados em 1977: em fevereiro, FT-7000, com 3º eixo de fábrica (fabricado pela Hendrickson, porém montado pela Ford); e em julho, mais dois semipesados (F-8000 e FT-8000) e o primeiro pesado da marca, o cavalo mecânico F-8500, para 30,5 t, os três últimos com motor Detroit de seis cilindros em V e 202 cv, filtro de ar montado externamente sobre o para-lama direito, freios pneumáticos, freio de estacionamento com trava de mola, embreagem dupla  e direção hidráulica opcional. Todos eles dividiam a mesma cabine, oriunda dos caminhões médios.  Na década de 1980, a Ford do Brasil S/A implementou mudanças significativas em sua linha de caminhões, promovendo a substituição dos modelos tradicionais da Série F por novos veículos mais modernos e adaptados às demandas do mercado. Este documento apresenta, de forma estruturada, a evolução da linha de caminhões Ford Série F, destacando as inovações tecnológicas, as atualizações de design e as estratégias comerciais adotadas pela empresa até o início do século XXI. No início dos anos 1980, a Ford do Brasil reformulou a nomenclatura e a oferta de sua linha de caminhões, introduzindo modelos que atendiam aos segmentos médio e semipesado. As principais novidades incluíram: Modelos Médios: F-11000, F-12000 e F-13000: Caminhões com capacidade de carga líquida entre 6,5 e 9 toneladas. Projetados para transporte de cargas intermediárias, ofereciam robustez e eficiência operacional. Modelos Semipesados: F-19000 e F-21000: Equipados com terceiro eixo (tandem ou balancim), com capacidades de carga de 13 e 15 toneladas, respectivamente.

Os novos modelos da Série F incorporaram avanços tecnológicos significativos, alinhados às necessidades do mercado brasileiro. Motores Introdução do motor MWM de seis cilindros, com maior eficiência e durabilidade Opção de motores Perkins para os modelos médios, oferecendo maior flexibilidade aos clientes Transmissão Nova caixa de cinco marchas, com a primeira marcha não sincronizada. Sistema de redução no diferencial, acionado eletricamente ou pneumaticamente, para melhor desempenho em terrenos variados..Sistemas de Freios : Freios pneumáticos nos modelos F-12000, F-13000, F-19000 e F-21000, garantindo maior segurança Modelo F-11000 equipado com freios hidráulicos a vácuo, adequados à sua capacidade. Outras Melhorias Suspensão revisada para maior conforto e estabilidade. Sistema elétrico atualizado para 12 volts, alinhado aos padrões da época Tanque de combustível cilíndrico de maior capacidade, aumentando a autonomia. Opcionais como direção hidráulica e rodas raiadas, disponíveis em alguns modelos, para atender a diferentes necessidades operacionais. Diante do aumento da concorrência no mercado brasileiro, a Ford do Brasil planejou a nacionalização da linha europeia Ford Cargo, conhecida por seu design moderno e tecnologia avançada. Em abril de 1985, os primeiros caminhões da família Cargo chegaram ao mercado, marcando uma nova fase para a empresa. A linha Cargo foi posicionada como uma alternativa mais sofisticada, voltada para os segmentos médio e pesado, e rapidamente ganhou aceitação no mercado. Para manter a competitividade da Série F, a Ford do Brasil realizou atualizações significativas ao longo dos anos: 1992 – Modernização da Cabine ("Sapão") A Série F passou por uma reformulação radical nas cabines, com design renovado e melhorias ergonômicas A nova estética, popularmente apelidada de "Sapão", reforçou a identidade visual da linha e prolongou sua relevância no mercado. 1998 – Última Atualização e Introdução do F-16000: A Ford implementou a última modernização das cabines da Série F, aprimorando conforto e funcionalidade. Lançamento do modelo F-16000, ampliando as opções disponíveis no segmento médio. No início dos anos 2000, a Ford do Brasil reavaliou sua estratégia no segmento de caminhões. A Série F, embora histórica, enfrentava dificuldades para competir com modelos mais modernos, como a linha Cargo e os produtos de concorrentes. Como resultado - A produção da Série F foi parcialmente descontinuada, com foco mantido apenas nos modelos leves.- A linha Ford Cargo assumiu a liderança no segmento de caminhões  médios e pesados, sustentando as vendas da empresa nesse mercado. A evolução da linha de caminhões Ford Série F no Brasil reflete o compromisso da Ford do Brasil em atender às demandas do mercado por meio de inovações tecnológicas e estratégias comerciais. Desde a introdução dos modelos F-11000, F-12000, F-13000, F-19000 e F-21000 na década de 1980 até a modernização das cabines nos anos 1990, a Série F desempenhou um papel central no transporte de cargas no país. Apesar de sua substituição gradual pela linha Cargo e do abandono parcial da produção, a Série F deixou um legado significativo na história da indústria automotiva brasileira, marcada por sua robustez, versatilidade e adaptação às necessidades do mercado.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro experimentou um avanço significativo em sua capacidade de mobilização, impulsionado pelo recebimento de caminhões militares fornecidos pelos Estados Unidos sob a Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act). No entanto, na década de 1950, a frota enfrentou desafios operacionais devido ao desgaste e à dificuldade de obtenção de peças de reposição. Este relatório analisa o impacto dessas questões, as soluções propostas pelo comando do Exército Brasileiro e os desafios associados à sua implementação. Com a adesão do Brasil ao esforço de guerra aliado em 1942, as Forças Armadas Brasileiras receberam, até o final de 1945, mais de 5.000 caminhões militares das séries GMC CCKW, Corbitt, Diamond e Studebaker US6G, fornecidos por meio do programa Lend-Lease Act. Esses veículos foram fundamentais para a mobilização de tropas e cargas durante o conflito. Contudo, no final da década de 1950, a operacionalidade da frota foi gravemente comprometida por dois fatores principais: Desgaste Natural: Resultante do uso intensivo durante e após a guerra; Dificuldade na Obtenção de Peças: A descontinuação da produção desses modelos nos Estados Unidos, há mais de uma década, dificultava a importação de componentes essenciais. Esse cenário gerou preocupação no comando do Exército Brasileiro, pois comprometia a capacidade operacional da Força Terrestre, exigindo soluções urgentes para restaurar sua prontidão logística. A solução ideal para manter a capacidade operacional envolvia a substituição da frota por um número equivalente de caminhões modernos com tração 4x4 e 6x6, sendo os modelos REO M-34 e M-35 os mais indicados devido à sua robustez e tecnologia avançada. No entanto, o elevado custo de aquisição de uma frota desse porte excedia as limitações orçamentárias do Exército Brasileiro na época, tornando essa opção inviável. Diante das restrições financeiras, o comando do Exército elaborou três soluções complementares para enfrentar o problema: Aquisição Limitada de Caminhões Modernos: Compra de um pequeno número de caminhões REO M-34 e M-35 para atender às necessidades mais críticas, priorizando missões estratégicas. Repotencialização da Frota Existente: Estudos para a modernização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G, visando prolongar sua vida útil por meio de atualizações técnicas. Adoção de Caminhões Comerciais Militarizados: Incorporação de caminhões produzidos nacionalmente, adaptados para missões secundárias, como transporte de cargas leves e outras funções de apoio. A combinação dessas estratégias tinha o potencial de restaurar a operacionalidade da Força Terrestre de maneira sustentável e economicamente viável. Os estudos para a repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G foram minuciosamente analisados, mas não receberam recomendação para implementação. As principais razões incluíam: Alto Custo: O investimento necessário para modernizar a frota era elevado, especialmente considerando a necessidade de importar componentes ou desenvolver substitutos localmente. Falta de Capacidade Técnica: Naquela época, o Brasil carecia de um corpo técnico com a expertise necessária para executar um programa de repotencialização em escala, envolvendo reengenharia e adaptação de sistemas complexos. Esses fatores inviabilizaram a modernização da frota existente, direcionando o foco para as demais soluções propostas.

O cancelamento da repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G evidenciou a necessidade de soluções alternativas para restaurar a operacionalidade da frota do Exército Brasileiro. A adoção de caminhões comerciais militarizados foi identificada como uma abordagem viável, permitindo: Substituição em Missões Básicas: Utilização de veículos comerciais em tarefas de transporte básico, liberando os caminhões militares com tração 6x6 para operações táticas e estratégicas em ambientes fora de estrada. Otimização da Frota Existente: Concentração dos veículos militares remanescentes em melhor estado para missões críticas. Essa estratégia, já implementada desde a década de 1930 com caminhões comerciais de pequeno porte, beneficiava-se do baixo custo de aquisição e operação dos veículos produzidos localmente, alinhando-se às prioridades orçamentárias da Força Terrestre. Para atender à demanda por caminhões médios, o Ministério do Exército optou por veículos fabricados pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), uma empresa estratégica no fortalecimento da indústria automotiva brasileira. Dois modelos foram selecionados: FNM D-9500: Caminhão médio com características adequadas para adaptação militar. FNM D-11000: Modelo destacado por sua robustez estrutural, capaz de atender, em teoria, aos parâmetros exigidos para o processo de militarização. A escolha dos caminhões FNM refletiu o compromisso do governo em fomentar a indústria nacional, aproveitando a capacidade produtiva local para suprir as necessidades do Exército. Apesar do avanço na substituição dos caminhões médios, a frota de caminhões leves permanecia obsoleta, composta majoritariamente por modelos como: Opel Blitz II Comercial; Chevrolet 157 Gigante 1937; General Motors G7106, G7107 e G-617M, recebidos entre 1935 e 1942. Esses veículos desempenhavam um papel central na estrutura de transporte do Exército Brasileiro, mas seu desgaste e a dificuldade de manutenção exigiam um programa urgente de renovação. A substituição dessa frota representava uma oportunidade significativa para as montadoras nacionais, incentivadas pelo Governo Federal por meio do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), instituído em 1956. O GEIA foi criado para promover o desenvolvimento da indústria automotiva brasileira, oferecendo incentivos fiscais e financeiros às montadoras que investissem na produção local. Esse programa alinhava-se aos objetivos do Exército Brasileiro, pois: Estimulava a fabricação de veículos robustos e acessíveis, adequados à militarização; Reduzia a dependência de importações, mitigando os problemas de fornecimento de peças observados com a frota legada da Segunda Guerra Mundial; Fortalecia a economia nacional, gerando empregos e capacidade industrial. A aquisição de caminhões FNM e a perspectiva de renovação da frota de caminhões leves foram, portanto, estratégias alinhadas aos objetivos do GEIA, promovendo a integração entre as necessidades militares e o desenvolvimento industrial.
A Ford do Brasil iniciou sua trajetória como fornecedora de veículos militares na década de 1920, com a incorporação dos caminhões Ford Modelo T pelo Exército Brasileiro. Esses veículos foram fundamentais no processo de expansão das fronteiras nacionais, demonstrando a confiabilidade e a versatilidade dos produtos da empresa. A sólida reputação construída ao longo dos anos posicionou a Ford como uma candidata natural para atender às demandas não apenas do Exército, mas também da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil. No mesmo período, a Ford lançou no mercado comercial brasileiro o Ford F-600, seu primeiro caminhão de fabricação nacional. Projetado para o transporte de cargas, o F-600 apresentava características que permitiam sua militarização, tornando-o uma opção viável para atender às necessidades das Forças Armadas. Prototipagem e Avaliação : Em meados da década de 1950, a Ford do Brasil apresentou ao Exército Brasileiro os primeiros protótipos do Ford F-600 adaptados para uso militar, nas configurações de tração 4x2 e 6x2. Esses veículos foram submetidos a avaliações rigorosas, mas a preferência inicial recaiu sobre a versão militarizada do Chevrolet Brasil 6500, que foi selecionada para atender às necessidades imediatas do Exército. Primeiro Contrato com a Aeronáutica: Em 1958, o Ministério da Aeronáutica (MAer) marcou um marco significativo ao celebrar o primeiro contrato para aquisição de 20 caminhões Ford F-600 militarizados. Esses veículos foram configurados com a carroceria do tipo “Espinha de Peixe”, projetada especificamente para o transporte de tropas de choque, e destinados às unidades da Polícia da Aeronáutica (PA). A carroceria, caracterizada por sua estrutura de aço com bancos longitudinais e cobertura de lona militar, permitia o transporte eficiente e seguro de soldados em operações táticas. Adoção pelo Exército Brasileiro : A experiência positiva da Aeronáutica com o Ford F-600 abriu caminho para sua adoção pelo Exército Brasileiro. Em outubro de 1959, o Exército adquiriu um número significativo de caminhões F-600, majoritariamente na configuração de tração 4x2, para uso em tarefas de transporte de tropas de choque e cargas. Esses veículos passaram por um processo de militarização que incluiu: Reforços Estruturais: Para-choques reforçados para maior resistência em operações de campo. Guinchos mecânicos dianteiro e traseiro, com capacidade para tração de cargas leves. Grades de proteção para faróis e lanternas, garantindo durabilidade em ambientes adversos. Gancho de reboque traseiro para operações logísticas. Carroceria: Estrutura de aço com cobertura de lona no padrão militar, inspirada no design dos caminhões GMC CCKW 352/353, amplamente utilizados na Segunda Guerra Mundial. Configuração que facilitava o embarque e desembarque rápido de tropas, essencial para operações de choque. A entrega dos caminhões Ford F-600 às unidades operativas do Exército Brasileiro teve início em 1960. Ao longo das décadas seguintes, esses veículos prestaram serviços de excelência, sendo empregados em diversas missões, incluindo: Transporte de tropas de choque em operações de garantia da lei e da ordem (GLO). Movimentação de cargas em apoio logístico às unidades militares.

Operações táticas em ambientes urbanos e rurais, onde sua robustez e simplicidade mecânica foram amplamente valorizadas. Novos Contratos com o Exército Brasileiro : O desempenho positivo dos caminhões Ford F-600 adquiridos em 1959 incentivou o Comando do Exército Brasileiro a formalizar novos contratos de aquisição. Esses contratos incluíram a versão com tração 6x2, configurada com a carroceria do tipo “Espinha de Peixe”, projetada para o transporte de tropas de choque. Essa configuração foi destinada principalmente aos batalhões da Polícia do Exército (P.E.), reforçando a capacidade operacional em operações de garantia da lei e da ordem (GLO) e controle de distúrbios. Características da Configuração 6x2: Carroceria de aço com bancos longitudinais, coberta por lona militar, otimizada para embarque e desembarque rápido. Capacidade para transportar até 20-30 soldados, dependendo da configuração. Estrutura reforçada para suportar operações táticas em ambientes urbanos e rurais. Em 1966, a Engesa lançou no mercado um sistema de tração 4x4, projetado para conferir capacidade off-road a veículos comerciais leves e médios. Denominado “Tração Total”, o sistema era oferecido como um kit, composto por: Caixa de transferência com duas tomadas de força. Eixo dianteiro direcional. Guincho (opcional), para operações de resgate e tração. Essa solução permitiu que veículos comerciais, como o Ford F-600, adquirissem características operacionais de veículos fora-de-estrada, ampliando sua versatilidade em terrenos acidentados. Em 1969, a Engesa introduziu o sistema de tração dupla traseira, conhecido como “Boomerang”. Esse sistema foi um marco no desenvolvimento de veículos militares, oferecendo maior tração e estabilidade em condições adversas. O sucesso comercial do Boomerang no mercado internacional atraiu a atenção do Exército Brasileiro, que identificou no sistema uma solução estratégica para a modernização de sua frota de caminhões militares. Relevância Estratégica: Em 1967, o programa de renovação da frota militar com tração integral foi classificado como “De Interesse para a Segurança Nacional”, destacando sua importância para a defesa do país. O sistema Boomerang tornou-se a base para o desenvolvimento de veículos militares com tração 6x6, fundamentais para operações em terrenos variados. A partir do final de 1971, as unidades de infantaria motorizada do Exército Brasileiro começaram a receber os primeiros caminhões Ford F-600 equipados com tração 4x4 e 6x6, desenvolvidos em parceria com a Engesa. Esses veículos representaram um avanço significativo na modernização da frota militar, permitindo a substituição gradual de modelos obsoletos, como: GMC Série CCKW 352/353 6x6. Studebaker USG-6 6x6. GMC G-7107 4x4. Características Operacionais. Os Ford F-600 com tração integral apresentaram as seguintes vantagens: Capacidade Off-Road: Os sistemas 4x4 e 6x6, combinados com o sistema Boomerang, garantiam desempenho superior em terrenos acidentados, como os encontrados nas regiões amazônica e pantaneira. Versatilidade: Utilizados tanto para transporte de tropas quanto de cargas, os veículos atenderam às necessidades logísticas e táticas do Exército. Manutenção Simplificada: Mais de 80% dos componentes dos caminhões eram compartilhados com o mercado comercial, reduzindo significativamente os custos de manutenção preventiva e corretiva. Durabilidade: A construção robusta e os reforços militares, como para-choques e guinchos, asseguravam longa vida útil mesmo em condições operacionais intensas.
Durante as décadas de 1970 e 1980, as três Forças Armadas Brasileiras adquiriram centenas de caminhões Ford F-600, com diferentes níveis de militarização. Esses veículos foram configurados para atender a uma ampla gama de funções operacionais, disponíveis nas trações 4x2, 4x4 e 6x2, e equipados com carrocerias especializadas, incluindo: Carga Seca: Disponível em versões comercial e militar, para transporte de suprimentos e equipamentos. Cisterna: Modelos para transporte de combustível ou água, essenciais para operações logísticas. Bombeiro: Adaptados para combate a incêndios em instalações militares. Basculante: Utilizados em tarefas de construção e engenharia. Oficina: Equipados para manutenção em campo. Baú de Carga: Para transporte de materiais sensíveis ou protegidos. Frigorífico: Destinados ao transporte de alimentos perecíveis. Posto de Comando: Configurados como centros de coordenação tática. Socorro Mecânico (Guincho): Produzidos pela Bisseli Viaturas e Equipamentos Ltda., para recuperação de veículos em operações. A versatilidade e a robustez do Ford F-600 fizeram dele o principal componente da frota de transporte militar para todos os terrenos do Exército Brasileiro. Sua capacidade de operar em ambientes variados, aliada à simplicidade mecânica e à disponibilidade de peças no mercado comercial, garantiu alta confiabilidade e baixos custos de manutenção. Essas características consolidaram o F-600 como um ativo essencial para missões logísticas, táticas e de apoio, incluindo transporte de tropas de choque, suprimentos e equipamentos. A partir de meados da década de 1980, a frota de caminhões Ford F-600 começou a apresentar sinais de desgaste operacional, decorrentes do uso intensivo e da idade dos veículos. A necessidade de modernização da frota tornou-se evidente, exigindo a substituição dos F-600 por modelos mais avançados, capazes de atender às demandas operacionais contemporâneas. Naquele momento, a Ford do Brasil S/A não dispunha em seu portfólio comercial de um modelo que pudesse substituir o F-600 de maneira competitiva. A ausência de uma alternativa moderna limitou a capacidade da empresa de manter sua posição como principal fornecedora de caminhões militares. O vácuo deixado pela Ford abriu espaço para a Mercedes-Benz do Brasil S/A, que, com uma estratégia eficaz, assumiu a liderança no fornecimento de caminhões militares para as Forças Armadas Brasileiras. A Mercedes-Benz ofereceu veículos mais modernos, com maior capacidade tecnológica e operacional, atendendo às necessidades de renovação da frota. Apesar do declínio no fornecimento de caminhões militares, a Ford do Brasil conseguiu manter uma participação limitada no mercado por meio de pequenos contratos para os modelos F-6000, F-12000, F-14000 e Ford Cargo nas décadas seguintes. Esses contratos, embora de menor escala, permitiram à empresa permanecer ativa no segmento militar, ainda que em um papel secundário. A partir da década de 1990, o Exército Brasileiro iniciou um processo gradual de desativação dos caminhões Ford F-600, à medida que novos veículos, principalmente da Mercedes-Benz. O processo de desativação foi concluído em 2004, quando as últimas unidades do Ford F-600 foram retiradas de serviço.

Em Escala.
Para retratar o Ford Engesa F-600 VTE “EB21-4131”, foi selecionado um modelo de resina impresso de alta qualidade, produzido pela 3D Scale Models. O modelo foi adquirido na escala 1/48, que oferece um equilíbrio entre detalhes minuciosos e praticidade de construção. A 3D Scale Models também disponibiliza o mesmo modelo nas escalas 1/72 e 1/35, permitindo que os modelistas escolham a opção mais adequada às suas necessidades. Os decais utilizados no modelo a foram confeccionados  pela Decals e Books, extraídos do conjunto temático “Forças Armadas do Brasil 1983 a 2002"
Inicialmente todos os caminhões Ford Engesa F-600 VTE, foram recebidos ostentando o padrão de pintura tático em verde oliva adotado pelo Exército Brasileiro desde a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1982, o Exército Brasileiro introduziu um novo esquema de pintura para o Ford F-600 VTE, adotando um padrão de camuflagem em dois tons. Esse esquema permaneceu em uso até a desativação final das viaturas em 2004.  Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors. 


Bibliografia :
- História da Ford no Brasil - www.ford.com.br
Primórdios da Motorização no Exército Brasileiro 1919-1940 - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Motorização no Exército Brasileiro 1906 a 1941 - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Ford do Brasil Lexicar - www.lexicar.com.br/ford