Studebaker US6 G-630 (VTNE)


História e Desenvolvimento.
Fundada em 1852 na cidade de South Bend, Indiana, a Studebaker Brothers Manufacturing Company figura entre as mais antigas montadoras norte-americanas, marcando sua história com uma notável capacidade de adaptação e inovação. Inicialmente dedicada à produção de carroças, carruagens e, posteriormente, implementos ferroviários e vagões, a empresa encontrou terreno fértil para seu crescimento durante a expansão da malha ferroviária nos Estados Unidos no século XIX. Esse período de desenvolvimento consolidou sua reputação como uma referência em manufatura de qualidade. Em 1895, a pedido do genro de John M. Studebaker, a empresa deu um passo visionário ao iniciar estudos para o desenvolvimento de uma “carruagem sem cavalos”. Após análises, a Studebaker optou por focar em veículos elétricos, lançando a linha Studebaker Electric, produzida entre 1902 e 1911. Essa escolha refletia a ousadia da empresa em explorar tecnologias emergentes, embora os desafios técnicos da época limitassem o alcance dessa iniciativa. Paralelamente, a Studebaker firmou parcerias estratégicas com as empresas Garford, de Elyria, Ohio, e Everitt-Metzger-Flanders (E-M-F), de Detroit e Walkerville, Ontário, para a fabricação e distribuição de veículos movidos a gasolina. Em 1904, em colaboração com a Garford, a empresa passou a produzir automóveis a gasolina, marcando a transição para a Studebaker Automobile Company. Os anos seguintes foram desafiadores, com crises técnicas que demandaram esforços significativos para aprimorar os modelos e atender às expectativas do exigente mercado norte-americano. Contudo, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) representou um divisor de águas para a companhia. Durante o conflito, a Studebaker recebeu encomendas expressivas das forças armadas britânicas, incluindo 3.000 vagões de transporte, 20.000 conjuntos de arnês de artilharia, 60.000 selas de artilharia, ambulâncias e centenas de automóveis adquiridos por meio de seu escritório em Londres. Contratos com forças francesas e russas complementaram essas receitas, impulsionando a transformação da Studebaker em uma das líderes mundiais no setor automotivo. Em 1918, suas instalações industriais alcançaram a impressionante capacidade de produzir até 100.000 automóveis por ano, um feito notável para a época. Buscando diversificar sua gama de produtos, a empresa ingressou no segmento de caminhões em 1919, conquistando rapidamente uma posição sólida nesse mercado. A qualidade e a confiabilidade de seus veículos comerciais geraram maior lucratividade, consolidando a Studebaker como uma força inovadora e resiliente no cenário industrial. Sua trajetória reflete não apenas o empreendedorismo de seus fundadores, mas também a capacidade de se adaptar às demandas de um mundo em constante transformação.

A quebra da bolsa de valores de Wall Street, em outubro de 1929, marcou um período de adversidade sem precedentes para a indústria norte-americana. Poucos empresários estavam preparados para enfrentar as consequências devastadoras da crise econômica que se seguiu. A Studebaker Automobile Company, apesar de seu crescimento em produção e vendas até então, não escapou dos impactos do colapso do mercado. Em resposta, a empresa direcionou seus esforços para o desenvolvimento do Rockne, um automóvel compacto e acessível, projetado para atender a um público afetado pela crise. Contudo, as condições econômicas eram tão severas que mesmo veículos de baixo custo enfrentaram dificuldades de comercialização. Diante desse cenário, a Studebaker foi forçada a rever sua estratégia. Medidas como redução de salários e cortes de empregos foram implementadas, enquanto conflitos internos na diretoria culminaram na demissão do presidente Albert R. Erskine. A liderança foi assumida por executivos com uma abordagem mais conservadora, focada na contenção de custos. Essa reorientação estratégica começou a render frutos em meados de 1933, quando a empresa alcançou os primeiros sinais de recuperação econômica. Esse progresso permitiu a reativação de suas plantas industriais e o lançamento de novos modelos de automóveis, como o Champion, o Land Cruiser e o Starlight, que rapidamente conquistaram o mercado, consolidando a retomada da Studebaker como uma força competitiva no setor automotivo. No final de 1937, o agravamento das tensões geopolíticas, impulsionadas pelos interesses expansionistas da Alemanha Nazista e do Império do Japão, sinalizava a iminência de um novo conflito global. Antecipando-se a esse cenário, o governo dos Estados Unidos lançou um programa urgente de modernização e reequipamento de suas forças armadas, com foco no aumento da mobilidade das tropas terrestres. Um dos principais objetivos era substituir os antigos caminhões militarizados com tração 4x2 e 4x4, produzidos por empresas como a Ford Motor Company e a General Motors Corporation, que estavam em uso desde o início da década de 1920 e já não atendiam às demandas de um exército moderno. Para atender a essa necessidade, o Exército dos Estados Unidos abriu uma concorrência nacional com o objetivo de desenvolver e produzir em larga escala um caminhão tático com tração 6x6, capaz de transportar 2,5 toneladas (2.238 kg) em terrenos adversos. Esse veículo deveria operar com eficiência em ambientes fora de estrada, garantindo maior versatilidade e robustez às operações militares. A iniciativa marcou um momento crucial na preparação dos EUA para os desafios de um conflito iminente, e a Studebaker, com sua expertise em manufatura e experiência prévia com contratos militares durante a Primeira Guerra Mundial, posicionou-se como uma candidata promissora para contribuir com esse esforço de modernização.
Em junho de 1939, em meio ao crescente clima de tensão na Europa devido às anexações territoriais promovidas pelo regime nazista, montadoras norte-americanas como a International Harvester Company, a Studebaker Automobile Company e a Yellow Coach Corporation (subsidiária da General Motors) apresentaram ao Exército dos Estados Unidos seus projetos técnicos e propostas comerciais para o desenvolvimento de caminhões táticos. O iminente risco de um conflito global levou o governo norte-americano, em agosto do mesmo ano, a aprovar todas as propostas submetidas, com a ressalva de que os maiores contratos de aquisição fossem direcionados à Yellow Coach Corporation, para a produção da família GMC CCKW, e à Studebaker Automobile Company, para a fabricação da linha US6 6x6. Essa decisão refletiu a urgência de modernizar as forças armadas dos EUA, garantindo veículos robustos e versáteis para atender às demandas de um cenário de guerra iminente. O Studebaker US6 6x6 foi projetado com foco em robustez e confiabilidade, características essenciais para operações em terrenos adversos e ambientes de combate. Sua concepção priorizava a facilidade de manutenção em campo, permitindo reparos sem a necessidade de uma infraestrutura técnica complexa. O veículo era equipado com o motor a gasolina Hercules JXD de seis cilindros em linha, que desenvolvia 86 hp (64 kW) a 2.800 rpm e 271 Nm de torque a 1.150 rpm. Esse motor, de configuração conservadora e taxa de compressão de 5,82, destacava-se pela confiabilidade e pela padronização com outros veículos militares, como os blindados meia-lagarta White M-3, o veículo leve Ford M-8 Greyhound e o M-20 Command Car. Essa comunalidade facilitava a logística de peças de reposição, um fator crítico para a eficiência operacional das forças mecanizadas norte-americanas. O chassi do US6 6x6, estruturado em formato de escada com três eixos, contava com um sistema de suspensão robusto, composto por molas semi-elípticas na dianteira e um sistema elíptico em tandem na traseira. Disponível em duas distâncias entre eixos, o caminhão era oferecido em configurações versáteis, incluindo versões basculante, carga seca e semi-reboque. Além disso, o modelo era produzido em duas variantes principais: uma com tração integral 6x6, ideal para operações fora de estrada, e outra com tração 6x4, voltada para uso rodoviário. As carrocerias abrangiam uma ampla gama de funções, como transporte de cargas e tropas, cisterna de água, tanque de combustível, veículo de socorro e basculante, garantindo flexibilidade para atender às diversas necessidades do Exército dos EUA. A aprovação do Studebaker US6 6x6 e sua subsequente produção em larga escala representaram um marco na preparação militar dos Estados Unidos. A colaboração entre a Studebaker e outras montadoras demonstrou o compromisso da indústria norte-americana em fortalecer as forças armadas, fornecendo veículos que combinaram inovação, durabilidade e praticidade.

Em um esforço para otimizar a produção e reduzir custos, os engenheiros da Studebaker Automobile Company optaram por incorporar ao Studebaker US6 6x6 a cabine de seu modelo civil com tração 4x4, já comercializado pela montadora. Essa decisão estratégica agilizou a fabricação em larga escala, aproveitando componentes existentes e garantindo eficiência nas linhas de montagem. Seguindo o exemplo dos caminhões GMC CCKW, foi planejada uma variante com cabine aberta, equipada com um sistema rebatível de lona (soft top), ideal para operações em climas mais amenos. Contudo, essa configuração não foi amplamente produzida, uma vez que o governo norte-americano priorizou o atendimento aos contratos do programa Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), especialmente com a União Soviética. As rigorosas condições climáticas do inverno soviético tornavam a cabine aberta inadequada, levando à preferência pela cabine civil convencional, mais robusta e apropriada para proteger os operadores em ambientes extremos. Apesar disso, cerca de 10.000 unidades do US6 com cabine aberta foram produzidas para as forças armadas dos Estados Unidos, principalmente para o Exército, sendo destinadas a teatros de operações com climas moderados, como o Norte da África e partes do Pacífico. Essas viaturas demonstraram a versatilidade do projeto, adaptando-se às necessidades específicas de diferentes frentes de combate. Os primeiros caminhões Studebaker US6 destinados à União Soviética foram transportados por navio até o Irã, percorrendo a seguir uma árdua jornada terrestre pelo Corredor Persa, uma rota estratégica que conectava o Golfo Pérsico à fronteira soviética. As primeiras unidades chegaram no outono de 1941, marcando o início de uma contribuição significativa ao esforço de guerra aliado. O US6 tornou-se o principal veículo pesado do Exército Vermelho, que se consolidou como o maior operador mundial do modelo. Sua versatilidade foi comprovada em diversas funções, incluindo transporte de tropas e cargas, reboque de peças de artilharia e até como base para os lançadores de foguetes não guiados Katyusha, que desempenharam um papel icônico na resistência soviética. Conhecido afetuosamente como “Studer” pelas tropas soviéticas, o US6 conquistou respeito por sua robustez, confiabilidade e facilidade de manutenção em condições adversas. Sua importância foi tamanha que o líder soviético Joseph Stalin reconheceu publicamente o impacto do veículo, enviando uma carta de agradecimento ao governo dos Estados Unidos e à Studebaker Automobile Company. Nela, Stalin destacou a relevância do US6 Studebaker na Grande Guerra Patriótica, enfatizando como os caminhões contribuíram para a vitória contra a Alemanha Nazista.
Entre 1940 e 1945, a produção do caminhão Studebaker US6 6x6 alcançou a impressionante marca de 219.882 unidades, distribuídas em treze versões com chassis e carrocerias especializadas, projetadas para atender às diversas demandas do Exército dos Estados Unidos e seus aliados. Desse total, 197.678 caminhões foram fabricados nas linhas de produção da Studebaker Automobile Company, em South Bend, Indiana, enquanto 22.204 unidades foram produzidas sob licença pela R.E. Olds Motor Car Company, em sua planta industrial em Lansing, Michigan. As versões licenciadas eram praticamente idênticas às fabricadas pela Studebaker, com a principal diferença sendo a ausência do gancho hidráulico frontal de carga, uma característica distintiva dos modelos originais. Embora o US6 tenha sido menos utilizado pelo Exército dos Estados Unidos em comparação com o modelo GMC CCKW 352-353, sua contribuição deixou uma marca indelével em operações estratégicas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os caminhões US6 desempenharam um papel crucial na construção da Estrada da Birmânia (1939-1941), uma façanha logística que conectou a China à Índia e à Birmânia (atual Mianmar). Essa rodovia foi essencial para o transporte de suprimentos dos Aliados à resistência chinesa contra a ocupação japonesa, garantindo o fluxo de recursos vitais em um dos teatros de guerra mais desafiadores. Além disso, o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Corps of Engineers) empregou o US6 na construção da Estrada Alcan, na América do Norte, transportando equipamentos, suprimentos e pessoal para essa obra monumental, que conectou os Estados Unidos ao Alasca, fortalecendo a defesa do continente. Com o fim do conflito, os caminhões US6 começaram a ser desmobilizados do Exército dos Estados Unidos, sendo armazenados em grande quantidade para futura redistribuição. Por meio de programas de ajuda e cooperação militar, milhares dessas viaturas foram cedidas a nações aliadas, conhecidas como “nações amigas”. Em muitos desses países, os US6 permaneceram em serviço até o final da década de 1960, quando começaram a ser gradualmente substituídos por modelos mais modernos, como os REO M-34 e REO M-35, que incorporavam avanços tecnológicos e maior adequação às novas demandas militares. A longevidade do Studebaker US6 reflete não apenas a robustez de seu projeto, mas também o impacto duradouro de sua contribuição no esforço de guerra aliado. Sua presença em operações logísticas cruciais, como as Estradas da Birmânia e Alcan, e sua subsequente distribuição a nações aliadas ilustram o papel vital que a Studebaker desempenhou na construção de pontes – tanto literais quanto figurativas – entre nações em um período de desafios globais. O legado desses caminhões permanece como um símbolo de resiliência, colaboração e inovação industrial.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Esta possibilidade se clarificaria quando a França capitulou em junho de 1940, pois a partir deste momento a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, proporcionando um trampolim para uma provável invasão do continente. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável para o lançamento desta campanha, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão.  Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul, tornariam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral brasileiro se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, pois mais notadamente a cidade de Recife se postava como ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Desta maneira poderia ser estabelecido nesta localidade uma ponte para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário resultaria logo sem seguida um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, gerando uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil que estava sendo potencializada pelo comercio exterior com o Estados Unidos, transportando diariamente matérias primas para a indústria de guerra daquele país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmaria que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e possivelmente figurava entre seus planos uma participação mais destacada junto aos aliados envolvendo o emprego de tropas em algum importante teatro de operações  do conflito.   

Na década de 1940, durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro enfrentava um cenário de significativa obsolescência em seus armamentos e equipamentos. Entre suas maiores carências estava a escassez de caminhões militares com tração integral 4x4 e 6x6, essenciais para operações em terrenos variados e para atender às demandas logísticas de um conflito moderno. Os poucos veículos disponíveis eram, em sua maioria, caminhões civis leves adaptados para uso militar, como os modelos Chevrolet Gigante (Flatbed Truck), Chevrolet Tigre, Dodge T-203 e Ford V8. Esses eram complementados por um número limitado de veículos genuinamente militares, como os alemães Henschel & Son 6x6 e os americanos Thornycroft Tartar 6x4, insuficientes para suprir as necessidades operacionais. Nesse contexto, a adesão do Brasil ao programa Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo) representou um marco transformador. O programa previa a cessão de aproximadamente 4.000 caminhões militares, dos quais a maioria possuía tração 4x4, projetando assim uma respeitável frota a fim de atender às exigências de mobilidade e versatilidade das Forças Armadas Brasileiras. Dentre os veículos de maior porte, com tração 6x6, foram fornecidos 1.445 caminhões da família GMC CCKW dispostos em uma ampla gama de versões básicas e especializadas, como: Cisterna de Água: Para abastecimento em áreas remotas, Tanque de Combustível: Para suporte logístico de combustível;  Oficina Móvel: Para manutenção de equipamentos em campo;  Veículo de Socorro: Para recuperação de veículos avariados. Compressor de Ar, Telêmetro, Holofote, Guindaste e Cavalo Mecânico: Em virtude da priorização das linhas de produção da Studebaker Automobile Company para atender às urgentes demandas do Exército Vermelho da União Soviética no front oriental do conflito, a entrega dos caminhões Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4, destinados ao Brasil no âmbito do programa Lend-Lease Act, foi iniciada apenas no primeiro bimestre de 1943. Esses veículos, essenciais para a modernização do Exército Brasileiro, começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro em lotes sucessivos, com o processo de recebimento estendendo-se até meados de 1945. Registros históricos indicam que a Força Terrestres recebeu entre 808 e 830 unidades, embora haja divergências nos números oficiais da época, refletindo os desafios de documentação em um período de intensas operações globais. Já portando as marcações nacionais estes seriam inicialmente distribuídos as unidades militares dispostas no Rio de Janeiro e São Paulo, com a missão primordial formar motoristas e pessoal de manutenção para a frota. 
Após a conclusão do processo de entrega, iniciado em 1943 e finalizado em meados de 1945, os caminhões Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4 começaram a ser distribuídos às unidades do Exército Brasileiro, com ênfase nas formações de infantaria motorizada espalhadas pelo território nacional. Designados oficialmente como VTNE Carga Emprego Geral 2½ Ton 6x4 Cabine Fechada, esses veículos foram, de forma gradual, alocados preferencialmente a grupamentos operando em regiões distantes das principais capitais estaduais. Essa decisão estratégica foi motivada pela capacidade do US6 G-630 de operar em áreas com infraestrutura limitada, uma característica essencial para atender às necessidades logísticas do interior do Brasil na década de 1940. O desempenho excepcional desses caminhões era impulsionado pelo robusto motor Hercules a gasolina, de seis cilindros em linha, quatro tempos e 5.240 cc, que entregava 95 cv a 2.400 rpm. Esse motor se destacava por sua capacidade de operar com gasolina de baixa qualidade, comum nas regiões mais remotas do país à época, reduzindo significativamente a incidência de problemas mecânicos em comparação com outros modelos em uso pelo Exército Brasileiro. Assim como observado na União Soviética, onde o US6 Studebaker se tornou um pilar do Exército Vermelho Soviético, os caminhões brasileiros demonstraram notável adaptabilidade à precária malha viária do interior do país. Com desempenho confiável em terrenos irregulares, o US6 G-630 alcançava uma velocidade máxima de 70 km/h e uma autonomia de até 400 km sem reabastecimento, características que o tornavam ideal para operações em áreas desafiadoras. A chegada dos Studebaker US6 G-630, em conjunto com os caminhões da família GMC CCKW 352 e 353 com tração integral 6x6, marcou uma transformação significativa no Exército Brasileiro. Até então, as unidades de logística e infantaria motorizada dependiam de caminhões militarizados obsoletos de pequena capidade de transporte e principalmente  insuficientes em números, como os Chevrolet 6000, 6500, G-617, Diamond T-614 e Citroën 1930, todos com tração 4x4 e limitações operacionais. A introdução desses novos veículos trouxe uma capacidade de motomecanização sem precedentes, ampliando consideravelmente a mobilidade e a eficiência das operações militares. Essa modernização não apenas fortaleceu a prontidão do Exército Brasileiro para enfrentar possíveis ameaças, mas também consolidou sua capacidade de atuar em um vasto território com condições adversas. Esta incorporação de uma variada gama de caminhões de transporte possibilitaria a modernização das doutrinas operacionais nas unidades de apoio e logística, se adequando a nova realidade da guerra altamente móvel que se apresentava no conflito europeu. 

Seriam empregados em missões de transporte de cargas, transporte de tropas, reboque de peças de artilharia e tração de sistemas de busca e orientação antiaérea. Ao todo o Exército Brasileiro seria equipado com tres versões distintas desta família como o    Studebaker G-630 US-6U3  6×4 (VTNE Carga Emprego Geral 1 ½ Ton EB-21), Studebaker G-630 US-6U4  6×6 (VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ ton 6x6 cabine fechada/aberta EB-21) e VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ ton 4x4 EB-21. Com o término da Segunda Guerra Mundial, os caminhões Studebaker US6 G-630 continuaram a desempenhar suas funções no Exército Brasileiro com notável eficiência, contribuindo para as operações de logística e transporte em unidades de infantaria motorizada, especialmente em regiões remotas do país. No entanto, a partir de meados da década de 1960, essa frota começou a enfrentar desafios crescentes, marcados por elevados índices de indisponibilidade operacional. A principal causa era a dificuldade em obter peças de reposição para os motores a gasolina Hercules JXD de seis cilindros em linha, descontinuados há mais de duas décadas. Essa escassez também afetava os blindados leves Ford M-8 Greyhound, que utilizavam o mesmo grupo motriz, criando um problema compartilhado que impactava a prontidão da Força Terrestre. Este mesmo problema também era observado junto a frota de viaturas blindadas de transporte de pessoal meia lagarta M-2, M-3 e M-5 e neste sentido seriam conduzidos estudos visando a remotorização destas viaturas pelo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2). Este processo se mostraria exitoso levando a esta mesma organização a implementar este processo junto a frota de blindados sobre rodas  Ford M-8 Greyhound, substituindo o motor original a gasolina Hercules JXD. por um motor diesel nacional Mercedes-Benz OM 321, de seis cilindros em linha e 121 cv a 2.800 rpm. Essa iniciativa demonstrou a capacidade técnica do Exército Brasileiro de adaptar seus equipamentos às limitações impostas pelo tempo. Por empregar o mesmo motor utilizado nos Studebaker US6 G-630, chegou a cogitar a implementação deste programa junto a uma parcela desta frota. Contudo, o Comando do Exército optou por não replicar esse programa de modernização na frota remanescente dos Studebaker US6 G-630. A decisão foi fundamentada em dois fatores principais: a tração 6x4 desses caminhões (que compunham a maior parcela deste modelo), considerada menos versátil para operações em terrenos adversos em comparação com os modelos 6x6, e o número reduzido de unidades ainda em operação, especialmente quando comparado à frota significativamente maior de caminhões GMC CCKW 352 e 353, recebidos em quantidades muito superiores durante a década de 1940. 
Em vez de investir na modernização dos US6 G-630, o Exército Brasileiro direcionou seus recursos para um programa de retífica e revisão dos motores de pelo menos 600 caminhões GMC CCKW. Esse esforço de manutenção permitiu que essas viaturas permanecessem em serviço ativo até o início da década de 1980, assegurando a continuidade das operações logísticas com maior eficiência e economia. A escolha refletiu uma abordagem pragmática, priorizando a frota mais numerosa e versátil, capaz de atender às demandas estratégicas do Exército Brasileiro por um período mais prolongado. Diante da decisão de priorizar a manutenção da frota de caminhões GMC CCKW, o Comando do Exército Brasileiro estabeleceu, na década de 1960, um processo gradual de desativação da frota de Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4, que já apresentava sérias limitações devido à escassez de peças de reposição e à obsolescência de seus motores Hercules JXD. Esse processo marcou a transição para uma nova geração de veículos militares, com a substituição dos US6 G-630 pelos modernos REO M-34 e REO M-35, recebidos entre 1958 e 1965, e por caminhões militarizados de produção nacional, como os Mercedes-Benz L-1111, L-1113, L-1114, Chevrolet C-60, D-60 e Ford F-600. Esses novos modelos, mais adaptados às exigências contemporâneas, trouxeram maior confiabilidade e eficiência às operações logísticas do Exército. Os últimos Studebaker US6 G-630 permaneceram em serviço ativo até o final da década de 1960, sendo utilizados principalmente pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), no Rio de Janeiro. Sua presença na AMAN, uma instituição central na formação de oficiais do Exército Brasileiro, simbolizou a resiliência desses veículos, que, apesar dos desafios, continuaram a cumprir suas missões até o limite de sua vida útil. Com a desativação definitiva, centenas de caminhões foram leiloados, destinados ao sucateamento para aproveitamento de matéria-prima, encerrando assim uma trajetória de serviço que marcou a modernização militar brasileira. Felizmente, a história dos Studebaker US6 G-630 não se perdeu completamente. Graças à dedicação de entusiastas, colecionadores e preservacionistas, alguns exemplares sobreviveram até os dias atuais, mantidos como relíquias de um período de transformação e colaboração internacional.

Em Escala.
Para representarmos o Studebaker G-630 US-6 fizemos uso do antigo kit da ICM na escala 1/35, modelo este de detalhamento médio e fácil montagem.  Como opção alternativa sugerimos o uso do  novo kit da Italeri na mesma escala. Para se compor a versão utilizada pelo Exército Brasileiro não é necessário proceder nenhuma mudança. Fizemos  uso de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set  "Exército Brasileiro  1942/1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, com os quais estes caminhões foram recebidos a partir de 1943. Seriam posteriormente aplicados apenas o escudo nacional e registros de matricula de frota, com este esquema sendo  mantido durante toda sua carreira operacional no Brasil.

Bibliografia :
- Studebaker US6 – Wikipedia -  https://en.wikipedia.org/wiki/Studebaker_US6
- FEB na Segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa Monteiro - Decals e Books
- Blindados no Brasil - Volume I, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976

Embraer EMB-111 P-95 Bandeirulha

História e Desenvolvimento. 
A gênese da criação da Embraer S/A tem início em 1953, quando o Marechal-do-Ar, Casimiro Montenegro Filho, convidou o engenheiro aeroespacial e fundador da Focke-Wulf em Bremen, o alemão Henrich Focke e seus engenheiros, para compor a equipe do recém fundado Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), esta iniciativa criaria as primeiras expectativas para o estabelecimento de uma futura indústria aeronáutica nacional. Os anos seguintes começariam a criar um cenário propício para que estas expectativas se mostrassem possíveis de se realizar, pois no início da década de 1960, a Força Aérea Brasileira estava em pleno processo de integração nacional, empregando quase sua totalidade de sua frota de aeronaves Douglas C-47 e  Beechcraft C-45 nas linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), e também em missões assistência nas regiões mais longínquas do pais. Apesar destes modelos oriundos de projetos da década de 1940, ainda atenderem a estas demandas, carregavam o peso da idade, desgaste das células e consequente obsolescência e necessitariam ser substituídas a curto prazo. Paralelamente neste mesmo período vislumbravam se possibilidades, mesmos que remotas se desenvolver uma indústria aeronáutica nacional. Desta maneira em 1964, o Ministério da Aeronáutica encomendou ao Centro e Tecnologia da Aeronáutica (CTA), estudos sobre a viabilidade para a possível criação de uma linha de produção para aeronaves de passageiros de médio porte. Este esforço culminaria em junho de 1965 na assinatura do documento básico de aprovação do projeto do IPD-6504, que tinha por finalidade o desenvolvimento de uma aeronave regional de transporte, adequada as necessidades brasileiras. O primeiro protótipo foi construído em três anos e quatro meses, consumindo 110 mil horas de trabalho envolvendo cerca de trezentas pessoas sob a coordenação do engenheiro francês Max Holste e do Cel. Ozires Silva.  Este protótipo  apresentava uma aeronave de asa baixa, metálica, com 12,74 m de comprimento, janelas em forma de bolha, equipado com dois motores turbo hélice Pratt & Whitney PT6-A20 com 580 hp e capacidade para oito passageiros.

O primeiro voo de demonstração ocorreria em 22 de outubro de 1968, a partir do aeroporto de São José dos Campos, sob o comando do Major Mariotto Ferreira e do Engenheiro Michel Cury. Quatro dias depois o agora já designado YC-95 fez seu segundo voo, considerado seu voo oficial de demonstração para um público de quinze mil pessoas. O próximo passo seria prover os meios necessários para a produção em série desta nova aeronave, assim em 19 de agosto de 1969, o Ministério da Aeronáutica (MAer) recebeu do presidente da república a autorização para a criação de uma empresa aeronáutica de capital misto com controle estatal que receberia o nome de a Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. Esta nova empresa seria inicialmente destinada a fabricação seriada do avião C-95, agora batizado de Bandeirante. No dia 02 de janeiro de 1970 a Embraer S/A começou a operar assumindo a produção da aeronave que seria designada comercialmente  como EMB-100 Bandeirante, neste contexto os dois protótipos produzidos, passaram a ser alvo de um amplo programa de ensaios de voo a fim de se implementar melhorias e ajustes no projeto e processo de produção. Os resultados deste programa se materializariam no terceiro protótipo, que receberia a matrícula PP-ZCN, realizando seu primeiro voo no dia 29 de junho de 1970.  Apesar do bom desempenho, verificou-se que as condições e parâmetros de mercado original com as quais o projeto fora baseado, haviam evoluído, ou seja, sua capacidade de transporte de até oito passageiros, já não eram mais adequadas as novas demandas do mercado comercial de aviação regional. Assim desta maneira a equipe de projetistas da Embraer S/A, decidiu, então, reformular o projeto, criando o Embraer EMB-110 Bandeirante, maior com doze lugares, que ganharia também a versão militar e que contaria também com alguns avanços técnicos em relação aos primeiros protótipos construídos. Definida estas etapas, logo seriam estabelecidos os cronogramas para a produção em série.
Definidos todos os ajustes no projeto, finalmente em novembro 1971 seria iniciada a produção em série, com o primeiro voo da aeronave Embraer EMB-110 Bandeirante “pré-serie” com a matrícula militar C-95 “FAB 2133”, ocorrendo em 9 de agosto de 1972. Esta nova aeronave teve sua fuselagem alongada para 14,23 metros, ampliando assim como planejado a capacidade de transporte de oito para doze passageiros, e passava ao contrário das células dos  YC-95 iniciais a apresentar novas janelas retangulares, estabilizador vertical, naceles dos motores redesenhadas e novos motores turboélices Pratt & Whitney PT6A-27 com 680 hp. Finalizado o processo de ensaios e voo a empresa passaria a se dedicar a produção referente a encomenda de oitenta unidades destinadas a Força Aérea Brasileira, atendendo ao contrato celebrado em maio do ano anterior com o Ministério da Aeronáutica. As primeiras unidades de produção em série começaram a ser entregues a Força Aérea Brasileira a partir de fevereiro de 1973.  Apesar da origem militar o Embraer EMB-110 Bandeirante também demonstrava vocação civil, e sua primeira versão de transporte regional para doze passageiros, designada pelo fabricante como Embraer EMB-110C passou a conquistar seus primeiros clientes civis, entre eles a empresa regional Transbrasil que veio a receber em 11 de abril de 1973 sua primeira aeronave matriculada PT-TBA. O emprego operacional desta versão inicial, motivou a Embraer S/A a estudar novas modificações no projeto, visando assim melhorar o a performance do modelo tanto no requisito de desempenho, quanto em capacidade de carga.  O fruto deste estudo se concretizaria em 1975 no desenvolvimento da versão Embraer EMB 110K1 Bandeirante, que tinha como principal alvo mercado de transporte militar, esta aeronave teve sua fuselagem alongada em 0,87 cm, permitindo assim a inclusão de uma porta traseira de carga e uma porta extra para a tripulação e passageiros.

Esta nova variante passou a contar com o novo modelo mais potente do motor Pratt & Whitney PT6A-34 com 750 shp e aprimoramentos na avionica, trens de pouso e sistemas elétricos e de combustível, esta versão receberia a designação de Embraer C-95A. Duas versões civis derivaram do modelo militar, sendo o Embraer EMB-110P1 para até dezenove passageiros ou carga e o Embraer EMB-110P2 para transporte exclusivo de até vinte e um passageiros, que ao invés da porta de carga dispunha uma porta de serviço. Em fins da década de 1970, surgia a versão militar Embraer EMB 110P1(K) que passou a ser conhecida como Embraer C-95B, tratava-se de um modelo com aprimoramentos sobre seu antecessor, entre estes destaca-se a adoção de uma porta de serviço de 1,42 X 0,63m, embutida na porta de carga, que podia ser aberta em voo para o lançamento de cargas ou paraquedistas. Dispondo de uma capacidade de transporte de carga de até 1.700 kg, o Embraer C-95B se tornaria o esteio das unidades de transporte da Força Aérea Brasileira que operaram o Bandeirante. Neste mesmo período os Lockheed P-15 Neptune alocados junto ao 1º/7º Grupo de Aviação - Esquadrão “Orugan”, chegavam no limiar de suas vidas úteis, gerando assim a necessidade de uma substituição urgente, como sucessor natural despontava no mercado a opção do Lockheed P-3 Orion, porém infelizmente os altos custo de aquisição e operação tornavam esta opção proibitiva para a Força Aérea Brasileira. Como alternativa viável do ponto de vista econômico, o Ministério da Aeronáutica (MAer) solicitou a Embraer S/A o desenvolvimento de uma aeronave de patrulha baseada na consagrada plataforma do EMB-110 Bandeirante, que já contava com quase cento e sessenta células entregues a Força Aérea Brasileira e a diversos operadores civis.
A proposta da empresa foi apresentada ao Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1975, com a designação de Embraer EMB-111A(A) Bandeirante Patrulha, basicamente as modificações incluíam a instalação de um radar de busca Eaton AN/APS-128 Super Searcher, em um nariz alongado construído em fibra de vidro, contava com uma nova suíte de comunicações, sistemas de navegação inercial Litton LN-33, piloto automático Bendix M-4 e um sistema de contramedidas eletrônicas Thomson CF. As asas eram reforçadas para permitiram a instalação de tanques suplementares de 318 litros cada nas pontas (os mesmos empregados nos jatos Embraer AT-26 Xavante), este reforço estrutural podia conceder a opção de se operar com quatro cabides subalares para o lançamento de foguetes não guiados de 127 mm e casulos de foguetes de 70 mm de fabricação nacional. A aeronave ainda dispunha ainda de equipamentos na fuselagem para o lançamento de marcadores navais, granadas fumigenas e botes salva vidas infláveis. A exemplo dos demais aviões de patrulha naval, o modelo seria dotado ainda com um farol de busca de cinquenta milhões de candelas do tipo HIVA (High Intensyty Aircraft Searchlight) instalado no bordo de ataque da asa direita.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Com base no projeto apresentado, a Força Aérea Brasileira aprofundou estudos sobre a viabilidade da aeronave de transporte customizada para missões de esclarecimento marítimo e patrulha e apesar dos relatórios finais apresentarem ressalvas técnicas fundamentadas no conceito que o Embraer EMB-111 P-95 Bandeirante, seria um vetor bem menos capaz de realizar as missões  que seu antecessor norte-americano,  o Lockheed P-15 Netuno, principalmente no que tange a parâmetros de desempenho como alcance, autonomia, perfil de missão e capacidade de transporte de armamentos, o Ministério da Aeronáutica (MAer) concedeu sinal verde para a produção do protótipo, visando assim manter o estimulo da indústria aeroespacial  nacional de defesa. O roll out da primeira aeronave produzida ocorreu em 30 de junho de 1977, com seu primeiro voo ocorrendo em 01 de agosto do mesmo ano, nas instalações da Embraer S/A na cidade São José dos Campos. Imediatamente o modelo seria submetido a um amplo programa de ensaios e voo e aceitação, realizados em conjunto por oficiais da Força Área Brasileira e técnicos do fabricante.  Após a implementação de pequenas modificações o projeto do Embraer P-95 foi aprovado para a produção em série, culminado esta decisão com a assinatura de contrato de doze células iniciais. As primeiras três aeronaves foram entregues a 1º/7º Grupo de Aviação (1º/7º GAv) – Esquadrão “Orugan” em 11 de abril de 1978, iniciando assim o processo de recebimento e aceitação operacional da nova aeronave. Apesar de como citado anteriormente o Bandeirante Patrulha estava muito aquém do perfil operacional dos veteranos Lockheed P-15 Neptune, a adoção da nova aeronave viria a contribuir em muito para a modernização da aviação de patrulha no Brasil.

Grande parte desta evolução estava fundamentada na operação e nas funcionalidades do moderno radar de busca marítima compacto Eaton (ex-Cuttler-Hammer) AN/APS-128 Super Searcher que possuía um alcance de 160 quilômetros de alcance operando na faixa X e com sua taxa de varredura oscilando entre 15 e 60 rpm. Este sistema podia ser empregado em missões de vigilância costeira, busca, salvamento, navegação, e apoio na elaboração de carta meteorológica, sendo este sistema capaz de detectar um alvo de 150 m² a cerca de 100 quilômetros de distância, mesmo em mares agitados. Diferente da maioria dos radares este modelo usa um display de tipo televisão com 8x8 polegadas para exibir a sua imagem sendo plenamente integrado com o inercial, Omega e demais sistemas de navegação.  Contava ainda com um transceptor Collins 618T-3B em HF/AM/SSB/CW, dois transceptores VHF Collins 618M-3, duas bússolas giromagnéticas Sperry C-14, dois receptores de ADF Bendix DFA-74A, dois receptores VOR/ILS/Marker Beacon Collins VIR-31A, um transponder de IFF Collins AN/APX-92, um VHF/DF Collins DF-301E, um rádio-altímetro Bendix ALA-51, um sistema de navegação inercial Litton LN-33 e Piloto automático Bendix M4-C,representando assim um salto tecnológico em avionica quando comparado ao seu antecessor americano. As antenas do ADF estavam localizadas duas sobre a fuselagem e uma embutida dentro da extensão da empenagem vertical. O cabo que liga a cabine ao topo da empenagem é a antena de comunicações de HF.  A grande antena em forma de barbatana na parte superior da fuselagem é a de VHF. As antenas do VOR apontam para trás e estão presente dos dois lados no topo da cauda. Neste momento além de contar com a possibilidade de operar com foguetes não guiados como sistema de armas ofensivo, seus cabides subalares foram modificados para portar cargas de profundidade.
Neste período toda a frota de Embraer P-95 Bandeirulha estava concentrada na Base Aérea de Salvador, com a exceção de quatro células que foram emprestadas ao 2º/10º Grupo de Aviação Esquadrão Pelicano entre os anos de 1980 e 1981, para serem empregados em missões de busca e salvamento, no aguardo da chegada da versão especializada o SC-95 Bandeirante SAR. Em 1982 a disponibilidade das células permitiu criar um novo esquadrão de patrulha que seria designado como 2º/7º Grupo de Aviação – Esquadrão “Phoenix” que deveria ser baseado na cidade de Florianópolis, permitindo assim uma maior cobertura do litoral brasileiro. A implementação desta iniciativa motivaria em 1987 o estudo para a aquisição de mais células das aeronaves atendendo assim ao anseio da força em suas capacidades de patrulha e esclarecimento marítimo. A fim de atender a esta demanda a Embraer ofereceria uma versão melhorada que teria como base o Bandeirante C-95C que visualmente diferiria dos primeiros P-95 por possuir os estabilizadores horizontais com diedro de 10 graus, esta nova variante receberia a designação do fabricante de EMB-111A(C) e militar como P-95B. Em termos de sistemas esta nova versão representava uma nova classe de aeronave, o  radar AN/APS-128 Super Searcher foi substituído  por um moderno radar THORN EMI Super Searcher que fora lançado no mercado internacional em 1986. Este novo sistema apresentava a capacidade Track While Scan (TWS - acompanhando o alvo sem ter de interromper a buscar no restante do espaço aéreo), contava ainda com uma nova suíte avionica dispondo de sistemas Thomson-CSF DR 2000A Mk II /Dalia 1000A Mk II (MAGE - Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica), Collins EFIS-74, ADI-84, Piloto-automático APS-65 e o Sistema de navegação Omega Canadian Marconi CMA 771 Mk III. Esta proposta seria plenamente aceita pela Força Aérea Brasileira gerando assim a encomenda de 10 células desta versão que passaram a ser entregues partir de 06 de novembro de 1989, quando o Embraer P-95B FAB 7101 foi oficialmente incorporado ao 1º/7º Grupo de Aviação.

Até setembro de 1991, todos os novos Embraer P-95B haviam sido entregues, tendo cada unidade de patrulha recebido cinco exemplares. Em paralelo a compra destas novas células, a Força Área Brasileira procedeu um retrofit dos 10 P-95 originais a partir de 1989. Este processo foi implementado pela área técnica da TAM (que era um dos grandes operadores da versão civil), culminando assim na versão Embraer P-95A que representava o casamento das células dos P-95 originais com a eletrônica moderna do Bandeirulha “Bravo”. Tanto a fiação quanto as canbagens tiveram de ser refeitas e os novos módulos aviônicos foram inseridos nas estantes internas pré-existentes nos P-95. A adoção do sistema de Guerra Eletrônica ESM Thomson-CSF (hoje Thales) DR2000/Dalia no modelo P-95B modificou o emprego da aeronave e deu um novo fôlego ao Bandeirulha, agora como plataforma ELINT/SIGINT (Electronic - Signals Intelligence – Monitoramento de emissões eletromagnéticas). O aumento de aeronaves disponíveis levaria em 27 de setembro de 1990 a ativação do o 3°/7° Grupo de Aviação - Esquadrão “Netuno”, com base em Belém, e com  a chegada dos Embraer  P-95B muito mais capazes em Salvador e Florianópolis, os Embraer P-95A foram deslocados para sua nova casa em Belém , melhorando a cobertura de patrulha na região norte do pais.  A última unidade a receber o Bandeirante Patrulha foi o 2º/1º Grupo de Aviação Embarcada (GAE) que recebeu em 1992 quatro aeronaves Embraer  P-95A, inicialmente para complementar e, eventualmente posteriormente substituir os Grummam UP-16 e P-16 Tracker. Com a desativação dos Grumman P-16 Tracker em dezembro de 1996, o 1º GAE passou a operar apenas com os P-95A, até que a portaria R-452/GM3 em 31 de julho 1998 desativou esta unidade, ativando o  4º/7º Grupo de Aviação (4º/7ºGAv) – Esquadrão Cardeal, permanecendo em operação até novembro de 2011, quando a unidade foi desativada com suas aeronaves distribuídas as demais unidades operacionais.
Anteriormente entre o os anos de 2007 e 2008 o Comando da Aeronáutica (COMAER) iniciou estudos para modernização de uma parte de sua frota de aeronaves Embraer C-95 Bandeirante e P-95 Bandeirulha buscando assim estender a vida útil das aeronaves por até vinte anos. Este programa deveria envolver não só um amplo processo de revitalização estrutural, mas também troca de toda suíte avionica incluindo a instalação de painel glass cockpit. Este processo foi executado no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA AF) tendo início em janeiro de 2012, para implementação da modernização da eletrônica embarcada foi celebrado com a empresa israelense AEL Sistemas um contrato no valor de R$ 89,9 milhões abrangendo um total de 50 células a serem implementadas por sua subsidiaria brasileira. Inicialmente a previsão de modernização deveria abranger doze aeronaves do modelo Embraer P-95. Em 2013 foi decidido apenas modernizar nove células dos Embraer P-95B Bandeirulha , no ano seguinte um acidente com o FAB 7107 reduziria para somente oito aeronaves a serem modernizadas. O primeiro voo ocorreu em 18 de dezembro de 2013, com a certificação ocorrendo em outubro de 2014, com a primeira entrega sendo realizada para o 2º/7º GAv em 2015. A principal modificação inclui a instalação de um novo radar de Selex Seaspray 5000E de abertura sintética (AESA Active Electronically Scanned Array) e sistemas de navegação e comunicação.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer P-95B Bandeirulha "FAB 7106", empregamos o excelente kit em resina na escala 1/72  produzido pela Liberty Quality Kits, modelo que prima pela qualidade de acabamento em suas peças. Empregamos decais originais do modelo confeccionados pela FCM Decais .

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves Embraer  EMB -111 - P-95  em todas as  versões em operação na Força Aérea Brasileira, entre os anos de 1978 e 2015. As células modernizadas designadas como Embraer P-95BM passam a ostentar um novo padrão de cinza empregando marcações de baixa visibilidade.


Bibliografia :

- Aviação Militar Brasileira 1916 – 2016 por Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Bandeirulha o Patrulheiro da Embraer – Alide http://www.alide.com.br/artigos/emb111/index.htm
- Os Cardeais 1º Grupo de Avião Embarcada e 4º/7º Grupo de Aviação - Mauro Lins de Barros - Editora Adler

Canhões Krupp 75 mm no Brasil

História e Desenvolvimento.
A história da empresa alemã Friedrich Krupp AG começou no início do século XIX no segmento de fundição, iniciando a produção de aço fundido na cidade de Essen, localizada na então província da Reno Prussiana. Neste local o empreendedor Friedrich Krupp fundou em 20 de novembro de 1811, juntamente com os irmãos Georg Karl Gottfried e Wilhelm Georg Ludwig von Kechel, a empresa Friedrich Krupp para a produção de aço fundido inglês e todas as manufaturas resultantes das quais a fábrica de aço fundido Krupp se originou. Após a morte de Friedrich Krupp em 1826, seu filho Alfred Krupp começaria a expandir a empresa por volta do ano de 1830 para se tornar a maior empresa industrial da Europa naquele período. A empresa inventou o aro de roda inteiriço para os trens, o que representaria um considerável progresso para as ferrovias em todo o mundo. Aperfeiçoaria, também, um método para fundir canhões de aço, o que auxiliaria a Prússia a derrotar a Áustria em 1866 e a França em 1870. Neste momento a família Krupp assumiria a liderança e o controle da indústria de armas do Império Alemão. Os canhões da Krupp seriam fornecidos aos exércitos russo, austríaco e principalmente do Império Otomano durante a década de 1860. Na década seguinte, seus canhões seriam comercializados com a maioria dos países do mundo moderno, reafirmando a liderança da empresa neste segmento. O setor de armamento naval também seria explorado pela empresa, e partir do ano de 1863, seus canhões seriam fabricados sobre encomenda para várias marinhas, incluindo as da Áustria-Hungria, Império Otomano e Prússia, entre outras. Em 1897 surgiria o modelo Krupp 75 mm Field Gun (canhão de campo), projeto este que seria a base para o desenvolvimento de toda uma família de canhões que estariam nos campos de batalha do próximo século. 

Em 1903 a empresaEm 1903 a empresa lançaria no mercado europeu o canhão modelo Krupp 1903 mantendo o calibre de 75 mm, conquistando rapidamente um grande contrato governamental em seu pais. O emprego exitoso em campo pelo Exército Alemão (Reichswehr) levaria a um rápido sucesso comercial deste tipo de canhão de campo, conquistando inúmeros contratos de exportação, entre eles vendas de grande vulto.  Como a realizada pela Romênia, que adquiriria 636 dessas peças de artilharia, que passariam a fazer uso de um dispositivo de mira mais sofisticado (do que o oferecido pelos alemães), quer era fabricado localmente, conhecido como mira Ghenea-Korodi. Em número de armas, essa foi a maior importação de um único tipo de canhão já feito pela Romênia, formaria assim a base da artilharia de campo romena na Primeira Guerra Mundial, equipando todos os regimentos de artilharia das divisões de infantaria. O atrito e as perdas em combate reduziriam em 1926 este acervo para apenas 321 peças, porém apesar de já ser considerado obsoleto, seriam mantidos em serviço ativo até o ano de 1942. Durante a Primeira Guerra dos Balcãs, 126 canhões deste modelo pertencentes as forças armadas do Império Otomano, seriam   capturados pelo Exército Real Sérvio, sendo  posteriormente utilizados na Primeira Guerra Mundial. O modelo Krupp 1903 também foi incorporado as forças armadas da  Dinamarca e  Holanda, tendo sido empregado nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial. O exército holandês além de ter adquirido 120 peças compraria os direitos de produção do modelo, sendo submetidos a programas de modernização, inclusive para serem tracionados por veículos automotores. Seu projeto original seria vendido para o governo japonês, servindo de base para o desenvolvimento do canhão de campo Tipo 38 de  75 mm, usado extensamente pelo Exército Imperial do Japão durante a guerra contra a China Nacionalista. 
Na primeira década do século XX , quando a grande corrida armamentista europeia teve seu início, o governo belga fecharia um grande contrato de compra diretamente junto ao fabricante alemão, envolvendo mais especificamente o Modelo Krupp 1905, arma essa de artilharia que já era usada por vários exércitos europeus. Este canhão de campanha apresentava um design padrão, que poderia ser customizado de várias maneiras para se adequar as demandas de diferentes compradores. As primeiras unidades deste canhão foram fornecidas com seu conjunto, com estas peças de artilharia sendo montadas localmente por empresas belgas, com um pequeno percentual de componentes produzidos por empresa belgas, posteriormente o índice de nacionalização de quase 90% excetuando apenas o barril que ainda era produzido pela Friedrich Krupp AG. Tratava-se de um projeto convencional para a época , fazendo uso de  um sistema de recolhimento de mola hidráulica e uma culatra horizontal do tipo bloco deslizante. A pistola pesava 1.070 kg quando utilizada, uma elevação de –8 ° a + 16 ° e poderia disparar um projétil de estilhaço de 6,5 kg a um alcance máximo impressionante de 8.000 metros. Em 1914, o Exército Belga (Armée belge) possuía dezoito brigadas de artilharia de campanha , e cada uma delas composta por três baterias de 75 mm, equipadas com o Modelo  Krupp 1905. A maioria dessas armas acabaria sendo perdida durante o avanço inicial das forças armadas alemães. A parir deste momento o esteio da artilharia de campo da Bélgica passaria a ser composta por canhões de calibre de 75 mm produzidos na França. 

A equipe de projetos da Friedrich Krupp AG, sempre se dispunha livremente a customizar o desing de seus produtos destinados ao mercado de exportação, visando assim atender a necessidades especificada de cada novo cliente. A exemplo podemos citar o Modelo 1908, que teve seu projeto fundamentalmente alterado para atender aos requisitos apresentados pelo Exército Imperial do Japão. Esta versão japonesa M-1908 apresentava um cano mais longo do que o existente nos canhoes de campanha produzidos anteriormente por esta empresa, presumivelmente para proporcionar o máximo alcance, embora a arma fosse um pouco mais pesada que as armas anteriores. Sua carruagem de transporte seria completamente redesenhada em comparação com as armas artilharia  de montanha anteriores, a seção típica da caixa, ou caixa aberta na trilha  do modelo M-1904, seria substituída por elementos tubulares. A carruagem parecia um grande diapasão no plano. A parte traseira da trilha que carregava a pá, podia ser dobrada sobre os tubos dianteiros. O design da trilha era mais parecido com o das armas produzidas pela  Ehrhardt Rheinmetall AG,  do que o design empregado rotineiramente pela  Friedrich Krupp AG. Adquiridos as centenas pelo governo do Império do Japão , muitas destas peças capturadas em combate contra os japoneses, seriam empregadas pelo exército da China Nacionalista até o final da década de 1940 . Este modelo seria considerado para exportação há outros países mantendo o calibre 75mm L/30, se tornando um grande sucesso comercial na primeira década do século vinte. 
Após o término da Primeira Guerra Mundial, a celebração do Tratado de Versalhes em 28 de junho de 1919, imporia uma série de indenizações e restrições a Alemanha. Entre estas cotas máximas para a produção de aço para diversas indústrias, entre elas a Friedrich Krupp AG, que seria inclusive proibida de atuar no segmento de armas e munições. A fim de se adequar a este novo cenário de tempos de paz, Gustav Krupp reconstruiria a companhia, passando a produzir ferramentas e materiais para a indústria de base. Mas a partir de 1934, o processo de Ascenção do Chanceler Adolf Hitler seria concluído, levando o país a iniciar um grande processo de rearmamento, levando a companhia a voltar a produzir armas e munições. O destaque seria dado para o desenvolvimento e produção dos grandes canhões Schwerer Gustav, porém grande parte do volume de negócios neste programa seria concentrado em peças de artilharia de médio e leve calibre, entre eles os canhões de campo de 75 mm com destaque para os modelos Krupp 75 C-26 M e C-28 M. Destinados a produção em larga escala estas armas eram de construção simplificada e equipados com rodas de madeira para tração animal. Estes apresentariam grande eficiência no campo de batalha sendo seu sistema testado e aprovado em inúmeros conflitos deste o século.  Parte desta produção seria ainda destinada a exportação com a América Latina se tornando um dos grandes mercados da empresa neste período. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O emprego de canhões de campanha pelo Exército Brasileiro produzidos pela empresa alemã Friedrich Krupp AG, data do ano 1872, quando foram recebidos os primeiros modelos de peças de artilharia de calibre de 75 mm que passariam a ser empregados pelos Regimentos de Artilharia a Cavalo. No início da década seguinte seriam recebidas mais três dezenas destes canhões de 75 mm agora do modelo Krupp M-1895, que apresentavam como principal melhoria seu alcance operacional, podendo agora atingir alvos a 12.000 metros de distância. Esta aquisição sendo recomendada pelo Conde d’Eu que desempenhava as funções de Comandante Geral da Artilharia do Exército Imperial e Presidente da Comissão de Melhoramento de Material do Exército, e era o principal conselheiro militar de seu sogro, o Imperador Dom Pedro II. Entre movimento levaria a uma decisão de que a toda a artilharia Brasileira fosse atualizada com canhões alemães Krupp, que demonstravam ser superiores aos canhões de origem, francesa La Hitte, que até então faziam parte do arsenal Brasileiro. A incorporação em larga escala destas peças de artilharia alemães recuperaria o potencial militar do Exército Brasileiro, com estas armas sendo empregadas diversas vezes em cenários de conflagração real. Ironicamente os canhões Krupp recomendados pelo genro do Imperador seriam usados contra uma rebelião monarquista anos depois, em 1897 durante a Guerra de Canudos. No entanto o descortinar de um novo século, traria grandes avanços tecnológicos neste segmento, relegando grande parte dos equipamentos a natural obsolescência, levando assim a necessidade de substituição por armamentos mais modernos. Esta demanda que evolveria principalmente a adoção de modernos canhões no Exército Brasileiro teve início no princípio do século XX, quando o Marechal Hermes da Fonseca, passaria a empreender uma ampla reforma estrutural na força militar terrestre. Este movimento tinha o propósito de superar as deficiências técnicas e operacionais instaladas desde o fim da Guerra do Paraguai (1864 - 1870) e evidenciadas por ocasião da Campanha de Canudos (1896 - 1897). 

A estagnação no Exército Brasileiro somente seria rompida com as transformações iniciadas pelos Ministros da Guerra Marechais, João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Francisco de Paula Argolo e Hermes da Fonseca, entre os anos de 1900 e 1908. Com o apoio de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, que intercederia junto ao Presidente da República Afonso Pena, Hermes da Fonseca, conseguindo assim pavimentar o caminho para a implementação de um amplo processo de revitalização e modernização das Forças Armadas Brasileiras. Este programa que seria popularmente conhecido com a “Reforma Hermes” envolveria além de uma reestruturação organizacional da força terrestre, uma profunda revisão do sistema de ensino militar, criação e a regulamentação do Estado-Maior, aquisição de modernos armamentos e estabelecimento de novas unidades operacionais. Um capítulo deste programava esta dedicado principalmente ao fortalecimento da defesa de costa da cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal. A partir de 1908, seria fixada uma nova organização de comando para o Exército Brasileiro, ficando o território nacional dividido em vinte e uma regiões para alistamento militar e treze para inspeção. O Marechal Hermes da Fonseca, era um grande admirador do Exército Prussiano e dizia publicamente que a força terrestre brasileira precisava atingir o nível dos germânicos, onde se destacava o Estado-Maior, criado por Helmuth von Moltke e o emprego de tecnologia de ponta na produção de armamentos. Assim, motivado também pela inexistência de uma indústria bélica nacional, realizaria uma viagem a Alemanha em agosto do mesmo ano a fim buscar novos conhecimentos técnico profissionais e fornecedores de material bélico moderno. Como resultado da viagem, seriam celebrados diversos contratos com empresas alemães, com estes evolvendo a aquisição de uma variada gama de armamentos pessoais em grandes quantidades como 400.000 fuzis Mauser calibre 7 mm para a infantaria, 10.000 lanças Ehradt, 20.000 espadas e 10.000 mosquetões para a cavalaria. Já a artilharia de campanha seria servida com vinte e sete baterias de canhões Krupp 75 mm Modelo 1908, seis de canhões Krupp 75 mm de montanha e cinco de obuses Krupp 105 mm. Seriam encomendados também imensos canhões Krupp de 305 mm, destinados a equipar a torres que proveriam a proteção ao Forte de Copacabana que se encontrava em construção.    
Em fins do ano de 1909 seriam recebidos no porto do Rio de Janeiro, um total de cento e setenta canhões  Krupp 75 mm C-26 e C-28 dos modelos 1908 e 1909, sendo logo colocados em imediatamente em serviço. Estas armas de calibre 75mm/L28 apresentavam um alcance de 6.000 metros, disparando projeteis de 5,5 kg (estilhaços 245 balas de 11 gramas) a uma velocidade de 490m/s. Sua guarnição era de nove homens, com o conjunto sendo geralmente tracionados por nove cavalos ou mulas, sua munição composta de 36 granadas era transportada em um um "carro de munição" também fabricado pela Friedrich Krupp AG. O canhão apresentava um peso total de 1.436 kg, o o carro de transporte de munição pesava 1.415 kg totalmente carregado e 792 kg quando vazio. A robustez da construção da arma e sua facilidade de operação e manutenção, agradaria muito os comandantes das unidades de artilharia de campanha. O primeiro emprego real dos novos canhões Krupp 75 mm ocorreria durante a Guerra do Contestado (1912 - 1916), em uma localidade situada entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Esta região seria marcada por essas disputas em razão da presença de uma rica floresta e uma grande região dedicada à plantação de erva-mate. Este conflito teria como partes beligerantes posseiros e pequenos proprietários de terras contra os governos dos estados de Santa Catarina e Paraná, além do Governo Federal brasileiro. O palco foi uma região rica em erva-mate e madeira, disputada por ambos os estados e que ficou conhecida como Contestado. Preocupados com a formação de rebeliões, os governos estadual e federal passaram a partir de 1912 a enviar expedições militares contra a população do Quadrado Santo, com unidades de artilharia de campanha sendo muito empregadas em ataques decisivos, com este conflito se estendendo pelo menos o mês de agosto de 1916.   

Satisfeitos com os resultados do emprego desta família de canhões, o comando do Exército Brasileiro decidiria por adquirir mais armas de artilharia desta família, assim negociações bilaterais seriam conduzidas entre os governos brasileiro e a alemão. Em agosto de 1913, o seria celebrado um contrato junto a Friedrich Krupp AG, prevendo a aquisição imediata de duzentos canhões de campo de 75 mm, que deveriam ser entregues em até dez meses a partir da assinatura do acordo. A primeira remessa seria realizada dentro do cronograma previsto, pertencendo ao modelo Krupp C-28 1911, e apresentavam como diferença básica em relação à pistola Modelo 1909 ser representada pela maior espessura da culatra com o mecanismo semelhante ao modelo FK 96. Nesta mesma remessa seriam entregues também recebidos canhões de montanha Krupp de  Modelo 24 C14 de 75 mm. No entanto em julho de 1914 ao eclodir da Primeira Guerra Mundial, pelo menos cento e oito peças destinadas ao contrato brasileiro se encontravam prontas nas instalações do fabricante na cidade de Essen. Porém estas seriam confiscadas arbitrariamente pelo governo alemão, e possivelmente seriam destinadas a equipar as divisões de artilharia no front oriental. Os registros do fabricante classificavam estas peças como pertencentes a versão  Feldkanonen C-30 de 75 mm, um modelo aprimorado, podendo ser este o motivo que levaria a esta decisão de confisco. Durante a segunda metade da década de 1930, o Exército Brasileiro se encontrava em uma situação complicada, pois este era um período sacudido por inúmeros conflitos de ordem regional espalhados no mundo. Olhando o cenário sul-americano, muitos países vizinhos ao Brasil dispunham de equipamentos bélicos superiores, chegando a preocupante definição que nosso país estava completamente despreparado para enfrentar possíveis ameaças externas. Para resolver esta deficiência em 1936 o general Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra, determinou que uma comissão de compras, visitasse na Europa principalmente, vários fabricantes de armamentos, visando assim iniciar um processo de reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras. 
Em atendimento a estas demandas, em 25 de março de 1938, seriam assinados diversos contratos com a empresas alemães como a Daimler Benz, Kraus Maffei, Fried Krupp AG. AG Matra Werke, Bussing-NAG, Henschel & Sohn, Car Zeiss e Eletroacoustic GmBh, resultando na compra de uma quantidade substancial de material militar. O fornecedor principal nesta fase, novamente, seria a Fried Krupp AG, se destacando pelo volume de negócios celebrados com esta, assim por este motivo este acordo passaria a ser conhecido como “O Grande Contrato Krupp. Em setembro de 1939 o início da Segunda Guerra Mundial implicaria em bloqueios nas rotas comerciais entre a Alemanha e os demais países, atrasando a entrega dos materiais pertencentes ao contrato brasileiro. O intensificar do conflito na Europa iria interromper de vez o fornecimento de materiais militares previstos neste contrato, com o restante do material estocado sendo absorvido pelas forças armadas alemães. Somente 64 canhões Krupp dos modelos C-26 e C-28 seriam recebidos, incluindo equipamentos de apoio e reboque de munição. Durante o conflito estas armas em conjuntos com outros modelos fabricados pela Fried Krupp AG seriam empregados em diversas manobras e exercícios de defesa equipando os regimentos de artilharia a cavalo. Os canhões Krupp de 75 mm estiveram em ação em quase todos os grandes conflitos regionais ocorridos no país no início do século vinte incluindo as revoluções de 1930, a Constitucionalista de 1932, curiosamente os canhões de 75 mm Krupp (e também Schneider) foram empregados como arma orgânica dos seis trens blindados (TB) denominados TB-1 a TB-6, construídos na Oficinas Ferroviárias. Com a ampliação da motorização do exército, a partir de 1954 uma parte destes canhões mais novos, seriam modernizados nos arsenais de guerra no Rio de Janeiro (RJ) e General Câmara (RS) recebendo novas rodas com pneus no lugar das rodas de madeira passando a dotar vários Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) permanecendo em operação até a primeira metade da década de 1980.   

Em Escala:
Diversos modelos e versões dos canhões Krupp 75 mm seriam empregados no Exército Brasileiro  e na Força Publica de São Paulo ao longo dos anos, desta maneira optamos por representar o modelo Krupp 1895 calibre 75 mm do tipo retrocarga. O kit produzido pela empresa Artesania Latina é composto por peças produzidas em madeira, latão e metal, e apresenta nível de detalhamento e acabamento aceitável.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura que pode ter sido empregado nos canhões Krupp 75 mm e demais peças de artilharia de origem alemã, se baseando no esquema adotado no Exército Alemão (Reichswehr) durante a década de 1910. Presume-se desta maneira  que as peças de artilharia pertencentes ao Exército Brasileiro neste período foram repintados neste esquema. Esta tonalidade de pintura representa também as peças preservadas atualmente em museus militares.

Bibliografia: 
- História Militar - http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/
- Canhões antiaéreos Krupp 88 mm no EB – Helio Higuchi e Paulo R. Bastos Jr – Tecnologia & Defesa
- Arquivos do Museu Militar de Conde de Linhares – Rio de Janeiro
- Krupp Gun – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Krupp_gun
- Arquivos do Museu Militar do Comando Sul – Porto Alegre