L-118 Light Gun AR 105 mm

História e Desenvolvimento.
Durante as fases iniciais da Segunda Guerra Mundial, os regimentos de artilharia de campanha do Exército Real Britânico (Royal Army) dependiam amplamente de peças de médio calibre produzidas pelas Fábricas de Artilharia Real (Royal Ordnance Factories – ROF). Entre os equipamentos utilizados, destacavam-se os canhões QF 6 Pounder de 57 mm, QF 4 Pounder de 84 mm e QF 25 Pounder de 87,6 mm, que desempenharam papéis cruciais nos campos de batalha. A partir de março de 1941, a implementação do programa norte-americano de assistência militar, conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), trouxe um reforço significativo às forças britânicas. Por meio desse programa, o Reino Unido recebeu milhares de obuseiros norte-americanos M-2 AR de 105 mm e M-1 Howitzer de 155 mm, provenientes dos Estados Unidos, que aumentaram a eficácia da artilharia de campanha britânica, permitindo maior poder de fogo e mobilidade no enfrentamento das forças do Eixo. No final da década de 1950, com o avanço da tecnologia militar e a necessidade de modernização, o Exército Real (Royal Army), em conjunto com o Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines), lançou um programa para substituir os antigos canhões nacionais de 75 mm, 87,6 mm e morteiros de 110 mm por um novo obuseiro leve. O objetivo era dotar os regimentos de artilharia de um sistema mais moderno, versátil e adequado às demandas operacionais contemporâneas. Para alcançar esse objetivo, foram conduzidos estudos detalhados, avaliando tanto o desenvolvimento de novas armas de artilharia quanto a aquisição de sistemas já em uso por outras nações. A decisão final favoreceu a segunda opção, priorizando a implementação rápida para atender às necessidades urgentes das forças britânicas. Após uma análise minuciosa de diversas alternativas, a escolha recaiu sobre o obuseiro de campanha Oto Melara Mod 56, projetado e desenvolvido pela empresa italiana Oto Melara para atender às exigências do Exército Italiano (Esercito Italiano), com foco em unidades de artilharia de montanha. O Mod 56 destacou-se por seu design leve, com peso reduzido que facilitava o transporte aéreo por helicópteros, como o Westland Wessex HC.2, e o reboque por veículos leves com tração integral, como o Land Rover Defender. Essas características tornavam o obuseiro ideal para operações em terrenos desafiadores, alinhando-se perfeitamente às demandas britânicas por mobilidade e versatilidade. As negociações com a Oto Melara foram iniciadas rapidamente, culminando na assinatura de um contrato para a aquisição de menos de quinhentas unidades do Mod 56, customizadas para utilizar a munição norte-americana M-1, designada no Reino Unido como "105 mm How". Essa adaptação garantiu compatibilidade com os estoques de munição já disponíveis, facilitando a logística e a integração do novo obuseiro às operações britânicas.

A introdução do obuseiro Oto Melara Mod 56, designado localmente pelo Exército Real Britânico (Royal Army) e pelo Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines) como L-5 105 mm, marcou um passo significativo na modernização da artilharia britânica. As primeiras unidades foram declaradas operacionais em meados de 1961, com um cronograma de entrega que se estenderia por 48 meses. Esse sistema, projetado originalmente para unidades de artilharia de montanha do Exército Italiano, destacou-se por sua leveza e mobilidade, permitindo o transporte por helicópteros Westland Wessex HC.2 e o reboque por veículos leves, como o Land Rover Defender. Contudo, após dois anos de emprego operacional, foram identificadas limitações críticas que comprometeram sua eficácia em cenários de combate reais. As principais deficiências do L-5 incluíam seu alcance limitado, que o tornava vulnerável ao fogo de contra-bateria, e uma taxa de disparo insuficiente, com tempo de resposta inadequado. Esses fatores reduziam a letalidade do obuseiro, impactando diretamente a capacidade das forças britânicas de responder a ameaças dinâmicas no campo de batalha. Reconhecendo a necessidade de superar essas limitações, o Estado-Maior do Reino Unido emitiu, em 1965, um requerimento para o desenvolvimento de um novo sistema de artilharia de calibre 105 mm, designado L-118 Light Gun. Esse documento estabelecia requisitos rigorosos, incluindo um peso máximo de 1.600 kg, capacidade de operação em 360º, resistência à submersão em água por até 30 minutos com disparo imediato após a exposição, e compatibilidade com transporte aéreo pelos novos helicópteros Boeing CH-47 Chinook e aeronaves Hawker Siddeley HS 780 Andover. Em termos de munição, o L-118 deveria ser capaz de utilizar projéteis britânicos Fd Mk 1 e Fd Mk 2 de 105 mm, além da munição norte-americana M-1 (designada “105 mm How”) para treinamento. Contudo, em 1964, uma decisão estratégica permitiu a criação de uma variante, a L-119, projetada para operar exclusivamente com a munição padrão norte-americana US 1935 (M-1), garantindo maior interoperabilidade com aliados e estoques existentes. Com os requisitos definidos, diversas propostas foram apresentadas em 1965, e o melhor estudo conceitual foi selecionado como base para o desenvolvimento do L-118. A responsabilidade pelo projeto final foi atribuída ao Centro Real de Pesquisa e Desenvolvimento de Armamentos (RARDE), localizado em Fort Halstead, na região de Kent, no sul da Inglaterra. Os primeiros protótipos do L-118 Light Gun foram concluídos em meados de 1968 e submetidos a testes práticos de campo. Os resultados iniciais, embora promissores, indicaram a necessidade de revisões no projeto, pois a estrutura original não atendia plenamente aos índices de robustez exigidos para operações militares intensas.O desenvolvimento do obuseiro L-118 Light Gun, conduzido pelo Centro Real de Pesquisa e Desenvolvimento de Armamentos (Royal Armament Research and Development Establishment – RARDE), em Fort Halstead, Inglaterra, representou um marco na modernização da artilharia britânica. Para superar as limitações identificadas nos protótipos iniciais, o RARDE implementou reforços estruturais na base do L-118, resultando em um peso final de 1.858 kg (4.096 lb). Apesar desse aumento, o compromisso com a mobilidade e a eficácia foi rigorosamente mantido, garantindo que o obuseiro atendesse às exigências operacionais do Exército Real (Royal Army) e do Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines) em cenários militares diversos. O projeto culminou na conclusão dos primeiros protótipos em janeiro de 1974, que foram submetidos a um rigoroso programa de testes práticos de campo e disparo operacional. O L-118 destacou-se por características inovadoras, incluindo uma culatra de bloco deslizante vertical com mecanismo de disparo elétrico, integrada a uma plataforma transversal com trilha de caixa, em vez da tradicional trilha dividida. O sistema de recuo hidropneumático assegurava estabilidade durante o disparo, enquanto o uso de aço de alta qualidade no carro e no cano contribuía para manter o peso relativamente leve, considerando o porte da arma. A estreita distância entre eixos facilitava a mobilidade, embora limitasse o giro da peça a 180º para desdobramento completo. Para contornar essa restrição, o L-118 foi equipado com um cubo de desmontagem em um dos lados, permitindo que a roda fosse removida para girar a arma com agilidade. Esse procedimento, executado por uma equipe de artilharia bem treinada, podia ser concluído em apenas 30 segundos, demonstrando a praticidade do projeto. Em operações de transporte, o obuseiro podia ser tracionado desdobrado a velocidades de até 64 km/h. Para deslocamentos de longa distância ou em terrenos acidentados, o cano era invertido e fixado à extremidade da trilha, garantindo maior segurança e eficiência. Após extensos testes, o L-118 Light Gun recebeu sua aprovação técnica, com a homologação para produção em série emitida em maio de 1975. A fabricação foi iniciada em junho do mesmo ano pelas Fábricas de Artilharia Real (Royal Ordnance Factories – ROF), com as primeiras entregas aos regimentos de artilharia de campanha do Exército Real em abril de 1976, seguidas por entregas ao Corpo de Fuzileiros Reais em setembro. Esses primeiros lotes foram equipados com visores L7 ou L7A1, que incorporavam uma escala de elevação integral e iluminação interna alimentada por fontes de luz Trilux, permitindo operações precisas de fogo indireto, mesmo em condições de baixa visibilidade. Além disso, o L-118 oferecia a opção de um telescópio de fogo direto com intensificação de imagem para uso noturno, ampliando sua versatilidade em cenários operacionais.

Embora o obuseiro L-118 Light Gun 105 mm apresentasse um peso final de 1.858 kg, superior ao de seus antecessores, o que o impedia de ser transportado pelos helicópteros Westland Wessex HC.2, sua introdução coincidiu com a modernização das forças armadas britânicas. A chegada de helicópteros de maior capacidade, como o Westland Puma HC Mk 1 e o Westland WS-61 Sea King, permitiu o transporte aéreo eficiente do L-118, garantindo sua mobilidade em operações táticas. No modal terrestre, o obuseiro foi tracionado pelo Land Rover 101 Forward Control, um veículo projetado originalmente para transportar lançadores de mísseis terra-ar Rapier, mas perfeitamente adaptado às necessidades do L-118 devido à sua robustez e capacidade em terrenos variados. Ao longo das décadas seguintes, o L-118 Light Gun consolidou-se como o pilar da artilharia de campanha britânica na faixa de calibre 105 mm, destacando-se pela combinação de leveza, precisão e versatilidade. Seu batismo de fogo ocorreu durante a Guerra das Malvinas (1982), um marco em sua história operacional. Durante a campanha para retomar as ilhas, cinco baterias, totalizando 30 obuseiros, foram intensivamente empregadas após o desembarque das forças britânicas. Nas fases finais do conflito, durante o cerco à capital, Port Stanley, cada L-118 disparou até 400 projéteis por dia, utilizando a “carga super”, um sistema propulsor mais potente que ampliava o alcance e a eficácia da arma. Essa performance excepcional foi decisiva para o sucesso da campanha terrestre, contribuindo significativamente para a vitória britânica. O desempenho notável do L-118 nas Malvinas elevou sua reputação internacional, atraindo a atenção de forças armadas ao redor do mundo. O obuseiro foi adotado por nações como Bahrein, Benim, Bósnia-Herzegovina, Botsuana, Brasil, Irlanda, Quênia, Maláui, Marrocos, Nepal, Nova Zelândia, Omã, Portugal, Espanha, Tailândia, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Austrália, Holanda e Suíça. Um marco significativo foi a assinatura de um contrato para sua produção em série nos Estados Unidos, onde a variante M-119 passou a equipar o Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps). Posteriormente, um acordo semelhante foi firmado com a Austrália para a produção da variante L-119, reforçando a presença global do obuseiro. A produção do L-118 Light Gun foi conduzida pelas Fábricas de Artilharia Real (Royal Ordnance Factories – ROF) até sua descontinuação em 1987, com mais de 1.500 unidades entregues. Sua longevidade e ampla adoção refletem o sucesso de seu projeto, que equilibrou inovação tecnológica com praticidade operacional. O L-118 não apenas modernizou a artilharia britânica, mas também deixou um legado duradouro, sendo reconhecido como um dos obuseiros mais eficazes e confiáveis de sua categoria.
O desempenho excepcional da família de obuseiros L-118 e L-119 Light Gun, demonstrado em conflitos como a Guerra das Malvinas, consolidou sua posição como um dos sistemas de artilharia mais confiáveis e versáteis do mundo. Para assegurar sua relevância em cenários militares modernos, esses obuseiros foram submetidos a sucessivos programas de modernização e extensão de vida, combinando avanços tecnológicos com a robustez que marcou sua trajetória. Esses esforços refletem o compromisso das forças armadas britânicas e aliadas em manter a eficácia operacional de suas unidades de artilharia, adaptando-as às demandas de um ambiente de combate em constante evolução. No início da década de 1990, o Exército Real (Royal Army) e o Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines) implementaram uma importante atualização nos obuseiros L-118, incorporando o Dispositivo de Medição de Velocidade de Focinho (MVMD), um radar e sua respectiva fonte de alimentação. Essa modernização aprimorou a precisão dos disparos, permitindo ajustes mais rápidos e eficazes em condições de campo. Em 1999, um novo programa substituiu as miras ópticas tradicionais pelo Sistema de Apontamento de Artilharia LINAPS (Artillery Pointing System), montado acima do cano. Equipado com giroscópios a laser de três anéis, o LINAPS determinava com precisão o azimute, o ângulo de elevação e a inclinação do canhão. Além disso, integrava recursos de navegação e auto-levantamento por meio de um sistema de posicionamento global (GPS) e medição inercial de direção e distância, elevando a eficiência operacional a níveis sem precedentes. Em 2007, outro programa de modernização foi implementado, focado na redução do peso total do L-118 e no aprimoramento de componentes críticos. A substituição de partes de aço por ligas de titânio resultou em maior durabilidade e mobilidade, mantendo a robustez necessária para operações em terrenos desafiadores. Em 2010, com o objetivo de atender às exigências das operações no Afeganistão, foram introduzidas novas miras de tiro direto com capacidade de visão noturna e alcance estendido. Essas miras foram complementadas por uma Unidade de Controle de Disparo (LCDU) com tela sensível ao toque ampliada, integrada ao sistema de transferência de dados eletrônicos FC-BISA, padrão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Essa integração facilitou a coordenação de fogo direto em cenários complexos, reforçando a interoperabilidade com forças aliadas. Paralelamente, os obuseiros em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army), designados M-119, passaram por um processo de modernização a partir de 2013, resultando na variante M-119A3. Essa versão incorporou um sistema de controle de fogo digital e uma unidade de navegação inercial auxiliada por GPS, utilizando software derivado do obuseiro M-777A2. Essas melhorias aumentaram a precisão e a rapidez de resposta, garantindo que o M-119A3 permanecesse relevante em operações modernas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A modernização da artilharia de campanha do Exército Brasileiro teve início durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil se alinhou ao esforço de guerra aliado, marcando um ponto de inflexão em sua história militar. Como signatário do programa norte-americano Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), o país obteve um crédito de US$ 100 milhões, que viabilizou a aquisição de equipamentos modernos, incluindo veículos, embarcações, aeronaves e uma ampla gama de sistemas de armas. Esse apoio permitiu a substituição de canhões de campanha franceses, alemães e britânicos, que até então equipavam as unidades de primeira linha do Exército Brasileiro, por peças de artilharia mais avançadas, com calibres variando de 37 mm a 305 mm. Entre os equipamentos recebidos, destacaram-se os obuseiros M-1 Howitzer 105 mm e M-2 Howitzer 155 mm, que representaram um salto tecnológico e operacional para a artilharia brasileira. Esses sistemas substituíram armamentos obsoletos, cuja eficácia era questionável em cenários modernos de combate terrestre. A introdução dessas peças marcou uma nova era para a força terrestre, proporcionando maior poder de fogo e precisão às operações. A consolidação desse avanço também envolveu um robusto processo de formação doutrinária. O treinamento inicial foi conduzido por especialistas do Exército dos Estados Unidos (US Army), que compartilharam conhecimentos técnicos e táticos. Esse aprendizado foi solidificado no calor da batalha, durante a campanha da Itália (1944-1945), onde a Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB) desempenhou um papel crucial. Composta por quatro batalhões de obuseiros (Grupos de Obuses), sendo três equipados com 12 obuseiros M-2 105 mm cada e um quarto batalhão com 12 obuseiros M-1 155 mm, a artilharia da FEB demonstrou sua eficácia em apoio às operações aliadas, contribuindo significativamente para o sucesso no front italiano. A partir da segunda metade da década de 1960, o fortalecimento da artilharia brasileira foi ampliado por meio do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos. Esse programa possibilitou a entrega de novos lotes de obuseiros, incluindo os modelos M-2 e M-2A1 AR 105 mm, M-102 AR 105 mm e M-1 AR 155 mm, destinados não apenas ao Exército Brasileiro, mas também ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Apesar desses avanços, a renovação com peças mais modernas foi limitada. Entre 1967 e 1968, o Exército Brasileiro recebeu apenas 19 obuseiros atualizados do modelo M-102 AR 105 mm Howitzer, um número modesto diante das necessidades de modernização. Com o objetivo de otimizar o uso desses novos equipamentos, decidiu-se concentrar as 19 unidades do M-102 no 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º GAC), sediado em Bagé, no Rio Grande do Sul. Essa decisão estratégica reforçou a capacidade de artilharia na região, consolidando o papel do 25º GAC como uma unidade de referência no Exército Brasileiro.

No início da década de 1980, tornou-se evidente a necessidade de renovação do arsenal de artilharia do Exército Brasileiro, especialmente no que diz respeito aos obuseiros de 105 mm. Os veteranos M-101AR (M-2 e M-2A1), em operação há mais de quatro décadas, continuavam a desempenhar suas funções graças a um meticuloso trabalho de manutenção e modernização conduzido pelos Arsenais de Guerra. A produção local de peças de reposição e a implementação de atualizações técnicas garantiam sua disponibilidade operacional. Contudo, apesar da robustez, esses obuseiros não atendiam mais às exigências do combate moderno, particularmente em termos de alcance e amplitude de campo de tiro, essenciais para enfrentar os desafios de um cenário militar em rápida evolução. Para atender a essa demanda crítica, o comando do Exército Brasileiro iniciou estudos detalhados com o objetivo de adquirir um novo obuseiro de campanha de 105 mm. O processo previa a incorporação de até 50 peças, destinadas a substituir os M-101AR mais desgastados e reforçar o inventário dos Grupos de Artilharia de Campanha Leve, Grupos de Artilharia de Campanha Paraquedista e Brigadas de Infantaria. Diversas opções foram avaliadas, incluindo sistemas de origem francesa, italiana, britânica e norte-americana. Após uma análise rigorosa, a escolha recaiu sobre o L-118 Light Gun 105 mm, fabricado pela Royal Ordnance Factories (ROF) do Reino Unido, que se destacou pela melhor relação custo-benefício, aliada a uma linha de financiamento vantajosa. Em abril de 1982, foi assinado um contrato entre o Ministério do Exército e a ROF, prevendo a aquisição de 40 obuseiros L-118 Light Gun novos de fábrica. O pacote incluía o reparo L17 A1, a boca de fogo L-19 A1, componentes de reposição, munição específica e bocas de fogo intercambiáveis L-20 A1, que permitiam converter o L-118 na variante L-119 Light Gun, compatível com a munição padrão norte-americana M-1. Essa flexibilidade assegurava interoperabilidade com estoques existentes e aliados, reforçando a versatilidade do sistema. Os obuseiros foram entregues equipados com um Sistema de Pontaria Direta, composto por uma luneta para tiro direto, graduada para o uso de granadas anticarro (HESH) e munições explosivas HE L31A3, eficazes contra diversos tipos de alvos. O sistema também incluía uma luneta de pontaria noturna, específica para granadas anticarro, além de alças e massa de mira para uso em caso de falha da luneta cotovelo. Para alvos estáticos a longa distância, uma luneta panorâmica foi incorporada, garantindo precisão em cenários operacionais complexos. Esse conjunto de pontaria reforçava a capacidade do L-118 de operar em condições variadas, desde combates diurnos até operações noturnas ou em alvos distantes.
A introdução do obuseiro L-118 Light Gun 105 mm no Exército Brasileiro marcou um avanço significativo na modernização de sua artilharia de campanha, trazendo maior precisão, alcance e versatilidade às operações terrestres. Equipado para operar com uma ampla gama de munições, o L-118 utilizava granadas dos tipos Explosiva (HE L31A3), Fumígena de Cobertura (SMK BE L45A2), Fumígena de Sinalização (MARKER RED L37A2 e MARKER ORANGE L38A2), Iluminativa (ILUM BE L43A2), de Exercício (PRAC FLASH RO38-05A1) e Anticarro (HESH L42). Essas munições, inicialmente importadas, passaram a ser produzidas localmente, garantindo maior autonomia logística e sustentabilidade para as forças brasileiras. Embora compatível com munições de mesmo calibre dos obuseiros M-101AR 105 mm (M-2 e M-2A1), o L-118 se destacava por seu cano mais longo, que otimizava a queima do propelente, resultando em um alcance balístico superior de 17,2 km. Esse incremento representava um salto em relação aos antecessores, ampliando significativamente a capacidade de atingir alvos distantes. O sistema de recuo hidropneumático, combinado com uma culatra deslizante vertical, facilitava a operação, conferindo maior eficiência e rapidez no campo de batalha. Projetado como um obuseiro autotracionado, o L-118 era operado por uma guarnição composta por oito militares: o Chefe de Peça (CP), Cabo Apontador e Atirador (C1), Soldado Carregador (C2), Soldado Municiador (C3), Soldado Municiador-Chefe (C4), Soldado Municiador (C5), Soldado Municiador-Chefe (C6) e o Motorista (Mot). Contudo, em situações de necessidade, uma equipe reduzida de quatro militares bem treinados era capaz de operar a peça, alcançando uma cadência de até oito disparos por minuto, demonstrando a versatilidade e a eficiência do sistema. As primeiras unidades do L-118 Light Gun chegaram ao porto do Rio de Janeiro no início de 1985, sendo inicialmente destinadas à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Esse período foi dedicado ao desenvolvimento da doutrina operacional e à elaboração do Manual de Campanha “Serviço da Peça do Obuseiro L118”, um documento essencial para padronizar o uso do obuseiro nas unidades de artilharia. Após essa fase, as 40 peças adquiridas foram distribuídas entre diversas unidades estratégicas do Exército Brasileiro, incluindo o 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (2º GAC L), o 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista (8º GAC Pqdt), o 10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva (10º GAC Sl), o 20º Grupo de Artilharia de Campanha Leve – Aeromóvel (20º GAC L – Amv), o 26º Grupo de Artilharia de Campanha (26º GAC) e o 32º Grupo de Artilharia de Campanha (32º GAC). Cada bateria era composta por quatro obuseiros, geralmente tracionados por caminhões Mercedes-Benz LAK 1418 – VTNE (Viatura de Transporte Não Especializada), que garantiam mobilidade em diferentes terrenos.

Ao longo das décadas, o obuseiro L-118 Light Gun 105 mm consolidou-se como um pilar essencial da artilharia de campanha do Exército Brasileiro, destacando-se por sua versatilidade, mobilidade e eficácia operacional. Essas qualidades levaram a Marinha do Brasil a reconhecer o potencial do sistema, resultando, em 1995, na aquisição de 18 unidades do L-118 junto à Royal Ordnance Factories (ROF). Essas peças foram destinadas ao Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais (BtlArtFuzNav), subordinado à Divisão Anfíbia, com a missão de prestar apoio de fogo cerrado e contínuo aos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais. O L-118 demonstrou capacidade de concentrar fogo em áreas específicas, transferir disparos rapidamente entre alvos sem reposicionamento, lançar cortinas de fumaça, iluminar áreas estratégicas e atingir posições desenfiadas, neutralizando forças ou instalações inimigas com precisão. Tanto no Exército Brasileiro quanto no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), o L-118 destacou-se por sua excepcional mobilidade, sendo frequentemente transportado por helicópteros ou aeronaves, o que permitiu sua operação em diversos terrenos e regiões do território nacional, da Amazônia às áreas urbanas. Essa capacidade de projeção rápida reforçou o papel do obuseiro como um ativo estratégico, capaz de responder às demandas de cenários operacionais complexos. A partir do final da década de 2010, o comando do Exército Brasileiro identificou a necessidade de modernizar os obuseiros L-118 para garantir sua plena operacionalidade. Estudos iniciais, conduzidos pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), focaram na recuperação do sistema de freio recuperador, que apresentava problemas de estanqueidade, mistura de fluidos e desgaste acentuado, impactando o desempenho e a disponibilidade da frota. Para enfrentar esses desafios, o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) desenvolveu uma solução inovadora, utilizando materiais de última geração, como ligas de teflon, poliuretano e aço inoxidável. Essa configuração moderna, testada e validada, assegurou alto desempenho com desgaste mínimo, prolongando significativamente os períodos de disponibilidade sem a necessidade de substituição frequente de componentes. Paralelamente, foi concluída a avaliação dos discos de embreagem do mecanismo de elevação do L-118 Light Gun 105 mm , que foram nacionalizados, bem como a validação da primeira versão do conjunto de vedação para o sistema de freio recuperador, produzido no Brasil pela Vedabrás Indústria e Comércio Ltda. Essas iniciativas representaram um marco na autonomia tecnológica do Exército Brasileiro, reduzindo a dependência de fornecedores estrangeiros e fortalecendo a capacidade de manutenção local.
Em dezembro de 2020, o Exército Brasileiro começou a receber as primeiras unidades do obuseiro L-118 Light Gun 105 mm recuperadas, um marco significativo na extensão da vida útil dessas peças de artilharia. Esse processo, conduzido pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), foi o primeiro passo para atualizar a capacidade operativa do L-118, garantindo sua relevância até sua provável substituição no final da década de 2020. A recuperação incluiu melhorias críticas, como a modernização do sistema de freio recuperador, utilizando materiais avançados como ligas de teflon, poliuretano e aço inoxidável, que asseguraram maior durabilidade e desempenho, minimizando falhas e prolongando os períodos de disponibilidade. O próximo passo no processo de modernização envolveu a atualização dos Sistemas de Pontaria Direta, com uma solução inovadora desenvolvida pela estatal brasileira Imbel S/A. Essa solução baseou-se no Módulo Gênesis, um sistema computadorizado de direção e coordenação de tiro no nível de brigada, projetado para substituir métodos tradicionais e atender às necessidades de apoio de fogo das armas de Infantaria, Cavalaria e Artilharia. Equipado com tecnologia apropriada para operações em campanha, o Gênesis proporcionava maior precisão e rapidez no processamento das missões de tiro, permitindo ao comandante intervir no combate com munições e volumes de fogo adequados no momento oportuno. Sua arquitetura flexível e modular possibilitava a redistribuição de módulos conforme as exigências táticas, centralizando o controle de todas as unidades de tiro sob sua responsabilidade. Essa inovação fortaleceu a capacidade de apoio de fogo contínuo e preciso, consolidando a artilharia brasileira como um ativo estratégico em cenários de combate modernos. Paralelamente, o Exército Brasileiro iniciou estudos para a substituição gradual de seus obuseiros, incluindo os L-118 Light Gun, os M-101AR (M-2 e M-2A1) e os M-56 Oto Melara. Um dos planos em consideração envolve a aquisição de até 86 unidades do obuseiro norte-americano M-119A2 105 mm, provenientes dos estoques do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD), por meio do programa Foreign Military Sales (FMS). Esse projeto está inserido no Subprograma Sistema de Artilharia de Campanha (SPrg SAC), parte integrante do Programa Estratégico do Exército Obtenção da Capacidade Operacional Plena (Prg EE OCOP). O objetivo principal é atender às demandas do combate moderno, priorizando mobilidade tática e maior eficiência operacional, especialmente para substituir os M-101AR, que já contam com 75 anos de uso, e, futuramente, os L-118 e M-56.

Em Escala.
Para recriar o obuseiro L-118 Light Gun 105 mm, peça icônica da artilharia de campanha do Exército Brasileiro, foi utilizado o excepcional kit impresso em 3D produzido pela fabricante nacional 3D Scale Models, na escala 1/35. Este modelo destaca-se pela facilidade de montagem e pelo elevado nível de detalhamento, refletindo com precisão as características do L-118 em operação nas unidades brasileiras, como os Grupos de Artilharia de Campanha Leve, Paraquedista e de Selva. A representação da versão empregada pelo Exército Brasileiro não exige modificações adicionais, permitindo que o kit seja montado diretamente da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura tático em dois tons, aplicado aos obuseiros quando de seu recebimento durante a década de 1980. Este esquema seria alterados após a implementação do programa de recuperação e atualização realizado pelo  Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). Este sendo muito semelhante ao empregado nas peças pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil.


Bibliografia: 

- L118 Light Gun 105 mm - https://www.no-regime.com/ru-pt/wiki/L118_light_gun
- 25º Grupo de Artilharia de Campanha - http://www.25gac.eb.mil.br/
- Sistema Gênesis GEN-3004 - https://www.imbel.gov.br/index.php/comunicacoes-eletronica-e-sistemas 
- Obuseiro M119A2 para o Brasil? - https://tecnodefesa.com.br/obuseiro-m119a2-para-o-brasil/
- Recuperação de obuseiros de 105mm - Paulo Roberto Bastos Jr. www.tecnodefesa.com.br