Schneider C-17S (M1919) 155 mm

História e Desenvolvimento.
Em 1836, os irmãos Adolphe Schneider (1802-1845) e Joseph-Eugène Schneider (1805-1875), originários de uma família lorraine, fundaram a Schneider, Frères & Cie., uma sociedade em comandita por ações, na cidade de Le Creusot, na Borgonha, França. A empresa nasceu com a aquisição das forjas e fundições locais, que estavam em falência, em parceria com o banqueiro François-Alexandre Seillière e Louis Boigues, proprietário das Forges de Fourchambault. A escolha de Le Creusot foi estratégica, uma vez que a região dispunha de minas de carvão e minério de ferro em um perímetro próximo, além de acesso ao Canal du Centre, que facilitava o transporte de matérias-primas e produtos acabados. Este contexto, aliado ao início da Revolução Industrial na França e ao surgimento das ferrovias, ofereceu um cenário promissor para o desenvolvimento industrial. Os irmãos Schneider, apesar de não possuírem formação técnica formal, demonstraram visão empreendedora e conhecimento financeiro, adquiridos em parte por meio de cursos no Conservatoire des Arts et Métiers em Paris. Adolphe assumiu a gestão administrativa e comercial, enquanto Eugène focava nos aspectos técnicos e operacionais, estabelecendo uma divisão de papéis que impulsionou o crescimento inicial da empresa. A Schneider, Frères & Cie. foi criada com a ambição de modernizar a indústria metalúrgica francesa, aproveitando as inovações britânicas, como a produção de aço e a construção de locomotivas. A partir de 1837, a empresa iniciou um processo de modernização dos equipamentos industriais, com a introdução de altos-fornos alimentados a coque, fornos de pudlagem mecanizados e o uso do marteau-pilon (martelo-pilão), inventado pelo engenheiro François Bourdon. Em 1838, a Schneider, Frères & Cie. produziu a primeira locomotiva a vapor fabricada na França, batizada de La Gironde, destinada à Compagnie du Chemin de Fer Paris–Versailles. Este feito colocou a empresa em competição direta com as indústrias britânicas, consolidando sua reputação no setor ferroviário. Além de locomotivas, a empresa fabricava trilhos, pontes metálicas e estruturas para estações de trem, atendendo à crescente demanda por infraestrutura ferroviária na França e no exterior, incluindo Itália, Espanha e o Império Russo. A empresa também investiu na integração vertical, controlando desde a extração de minério e carvão até a produção de produtos acabados. Foram adquiridas minas de carvão no bassin de Blanzy e de minério de ferro na Nièvre e na vallée de la Dheune, garantindo a segurança no fornecimento de matérias-primas. A criação de ateliers de mecânica e montagem em Le Creusot, apoiados por escritórios de projetos internos, permitiu à empresa desenvolver suas próprias máquinas-ferramentas, uma inovação que a destacou como pioneira na França.

Em 1845, a trajetória da empresa sofreu um revés com a morte acidental de Adolphe Schneider, vítima de um acidente a cavalo. Eugène assumiu sozinho a liderança, renomeando a empresa para Schneider & Cie.. Apesar da perda, Eugène demonstrou habilidade em manter o crescimento da companhia, expandindo suas operações e consolidando sua influência econômica e política. Sob a liderança de Eugène Schneider, a Schneider & Cie. tornou-se um dos principais grupos industriais da França no século XIX. A empresa diversificou sua produção, entrando nos setores de armamentos, construção naval e engenharia pesada. Após a derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), o governo francês solicitou a retomada da produção de armamentos, já que os canhões de aço prussianos haviam se mostrado superiores. A Schneider & Cie. respondeu com a fabricação de canhões, blindagens e novos tipos de aço, como o aço ao níquel, utilizado em armamentos e navios. A empresa também se destacou na construção naval, produzindo navios de guerra e componentes para estaleiros, como os Forges et Chantiers de la Gironde, controlados pelo grupo entre 1882 e 1927. No setor ferroviário, a Schneider & Cie. exportava locomotivas para mercados internacionais, incluindo a Rússia, onde participou da construção da Ferrovia Transiberiana. Em 1876, a aquisição de um marteau-pilon de 100 toneladas reforçou a capacidade da empresa de produzir peças de grande porte, como eixos para navios e canhões.Eugène Schneider implementou uma política paternalista em Le Creusot, construindo moradias, escolas, hospitais e igrejas para os trabalhadores, que chegaram a 10.000 no auge do século XIX.  Após a morte de Eugène Schneider em 1875, seu filho Henri Schneider (1840-1898) assumiu a liderança da empresa. Henri continuou a modernização tecnológica, adotando processos como os convertidores Bessemer e os fornos Martin para a produção de aço. Sob sua gestão, a Schneider & Cie. intensificou a exportação de armamentos, aproveitando a Lei de 1884, que autorizava a venda de equipamentos militares para o exterior. Canhões como o Longtom (brevet Canet Schneider) foram fornecidos a exércitos estrangeiros, incluindo o do Transvaal, e demonstraram superioridade em conflitos contra os britânicos. O representativo viés de produção militar da corporação Schneider - Creusot Fréres & Cie, surgiria após o término da Guerra Franco-Alemã (1870-1871), quando o herdeiro do conglomerado Henri Schneider decidiria se estabelecer neste segmento, criando linha de produção dedicadas ao desenvolvimento e fabricação uma ampla gama de canhões e morteiros. Em 1897, a empresa procederia a aquisição das “Oficinas de Artilharia do Mediterrâneo Forges”, localizadas na cidade Le Havre no interior da França.
 Ao incorporar aos seus quadros toda a equipe de engenheiros e projetistas o grupo absorveria um amplo know how neste segmento de construção, se destacando principalmente a tecnologia de produção de canhões sem recuo. Neste momento o principal trunfo da corporação era proporcionado pela atuação do inovador engenheiro Gustave Canet (colaborador original da Forges Mediterrâneo), que ao longo dos anos alçaria postos de destaque na corporação, como diretor de artilharia no Creusot e diretor honorário da Artilharia de Schneider. Ele seria o principal responsável pelo desenvolvimento da emblemática família de canhões Canet Schneider, produzida em uma variada gama de calibres, para as mais diversas aplicações em âmbito terrestre e naval. No início do ano de 1909 a Schneider Fréres & Cie seria procurada pelo governo imperial russo, visando o desenvolvimento de um obuseiro pesado de campanha, com a empresa apresentando uma proposta de uma peça convencional com calibre de 152 mm, que seria prontamente aceito, recebendo a designação de Modelo 1910 Schneider. Nos anos seguintes, este projeto passaria a despertar o interesse por parte do Exército Frances (Armée de Terre), levando a criação de uma versão customizada, contando agora com o calibre padrão de 155 mm, passando a ser denominado como "Canon de 155 C modèle 1915 Schneider". Este obuseiro apresentava uma concepção convencional envolvendo um sistema de recuo hidropneumático montado sob o cano de disparo e um escudo de arma para proteger a tripulação. Todo o conjunto estava disposto em uma carruagem com rodas de madeira. Empregava ainda uma culatra de parafuso interrompido com munição de carga separada; o projétil sendo carregado primeiro seguido pela quantidade adequada de propelente em uma caixa de cartucho de latão. Uma bandeja de carregamento seria articulada ao lado esquerdo do berço, e seria colocado na posição após a culatra se abrir para segurar o projétil antes de ser empurrado para dentro da câmara, mantendo o projetil na posição até que pudesse ser acionado.  A peça de artilharia seria tracionada por um conjunto de oito cavalos mediante o acoplamento de um suporte com duas rodas. Diferentemente do canhão Modelo 1910 russo, este novo modelo contava com um cano mais longo e maior velocidade de saída, projetando um alcance de 2.500 metros, porém apresentava um peso extra na ordem de 1.100 kilos. Rapidamente este modelo se tornaria a principal arma de artilharia pesada de campanha das forças francesas, em seguida contratos de exportação seriam firmados, com o governo espanhol com os primeiros canhões sendo entregues em 1917, e posteriormente em novembro de 2022 a arma seria declarada padrão para uso do Exército Espanhol (Ejército de Tierra), embora seu primeiro uso militar tenha sido na África em 1921, durante o assalto a Turiet Hamed.  Curiosamente este armamento seria largamente operado pelos dois lados durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).  

Operacionalmente o Exército Frances (Armée de Terre) preferia o emprego cargas ensacadas para suas munições em detrimento aos cartuchos de latão usados pelo Canon de 155 C modèle 1915, principalmente em função do custo de produção e alta necessidade de latão (um material estratégico) utilizado neste processo. Esta exigência se mostraria um problemas real durante o início da Primeira Guerra Mundial, dado o grande número de projéteis gastos. Neste contexto seria solicitado a Schneider Fréres & Cie um redesenho de seu projeto original , permitindo assim o uso de pólvora ensacada. A empresa atenderia a esta demanda passando a fazer uso de um novo obturador, adaptando um a nova culatra para o cano original. Muitas armas armas tiveram suas bandejas de carregamento removidas porque isso diminuiu a taxa de tiro, uma bandeja portátil foi usada pelos carregadores. No entanto este processo enfrentaria problemas de ordem técnica, com a arma que receberia a designação de Canon de 155 C modèle 1917 Schneider, sendo colocada em serviço somente no final do ano de 1916. Ao todo até o termino do conflito três mil canhões deste modelo seriam entregues, com muitas centenas do Canon de 155 C modèle 1915 sendo atualizados para o modelo 1917.  No decorrer da Primeira Guerra Mundial, este modelo seria adotado como obuseiro padrão pela Força Expedicionária Americana - AEF (American Expeditionary Force), sendo adquiridos maios de mil e quinhentas peças, que seriam entregues ao Exército dos Estados Unidos (US Army) na França. O último tiro americano disparado durante a Grande Guerra seria realizado pelo obuseiro  chamado "Calamity Jane", do 11º Regimento de Artilharia de Campanha. Seriam adquiridos os diretos de não exclusivos sobre o design e projetos, resultando na produção local de seiscentas e vinte e seis peças. Estes diferiam um pouco dos modelos franceses, apresentando um escudo reto em vez de curvo, pneus de borracha em vez de aço em rodas raiadas de madeira, uma pá giratória e um mecanismo de disparo ligeiramente diferente. Contratos de exportação seriam firmados, com centenas de peças sendo incorporadas as forças terrestres da Grécia, Romênia, Polônia, Portugal, Espanha, Finlândia, Argentina, Iugoslávia, Brasil, Sérvia e Rússia, com muitas destas peças se mantendo em atividade até pelo menos meados da década de 1960. Ao longo da década de 1920 os investimentos mundiais destinados a defesa permaneceriam estagnados, não havendo neste período nenhum desenvolvimento significativo de novas armas de artilharia desta categoria, com os canhões Schneider Modelos 1917 e 1918 se mantendo como arma padrão em diversos exércitos europeus. Nos Estados Unidos, entre os anos de 1934 e 1936, uma grande parte destas peças seriam modernizadas, recebendo vagões de transporte equipados com freios a ar, novas rodas metálicas e pneus pneumáticos de borracha para tração de motores de alta velocidade, adaptando os assim a tração mecanizada de alta velocidade.  Este programa permitiria que os canhões Schneider permanecessem como arma padrão de artilharia do Exército dos Estados Unidos (US Army), até começarem a ser substituídos pelos novos obuseiros M-1 de 155 mm a partir do final de 1942. 
Com a queda da França em junho de 1940, após a invasão alemã, um número significativo de canhões Schneider M-1917 e M-1918 foi capturado pelo Exército Alemão (Wehrmacht). Essas peças foram rapidamente incorporadas ao serviço ativo, recebendo a designação alemã SFH 414 15,5 cm. A Wehrmacht utilizou os obuses em diversas frentes, aproveitando sua confiabilidade e capacidade de fogo. Na Muralha do Atlântico, uma extensa linha de fortificações costeiras construída para deter uma invasão aliada, os canhões Schneider reforçaram posições defensivas ao longo do litoral francês. Além disso, foram alocados a divisões de infantaria de segunda linha estacionadas na França ocupada e empregados na Campanha do Norte da África, onde apoiaram as forças do Afrika Korps lideradas pelo General Erwin Rommel. Durante a Guerra de Continuação (1941-1944), um conflito paralelo à Segunda Guerra Mundial entre a Finlândia e a União Soviética, cerca de 160 obuses Schneider foram fornecidos ao Exército Finlandês pelas forças alemãs. Essas peças foram intensivamente utilizadas contra as tropas soviéticas, especialmente em operações defensivas na Frente da Carélia. A capacidade dos M-1917 e M-1918 de operar em terrenos acidentados e condições climáticas adversas, como os rigorosos invernos finlandeses, tornou-os valiosos para os finlandeses, que enfrentavam um inimigo numericamente superior. O uso dessas armas contribuiu para a resistência finlandesa, embora o país tenha enfrentado desafios logísticos para manter o suprimento de munições. O Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) também se beneficiou da captura de canhões Schneider durante o conflito. Durante a Batalha da França em 1940, os italianos tomaram oito peças, e, posteriormente, na Campanha dos Balcãs, em outubro de 1940, capturaram 96 obuses na Grécia. Essas armas foram redesignadas como Obice da 155/14 PB e integradas ao arsenal italiano, sendo empregadas em operações nos Balcãs e no Norte da África. A incorporação dessas peças pelo exército italiano, que enfrentava limitações em sua própria indústria de armamentos, demonstra a versatilidade e o valor tático dos Schneider M-1917 e M-1918 em diferentes teatros de guerra. O Exército dos Estados Unidos (US Army) fez uso limitado dos obuses Schneider M-1917 e M-1918 nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial. Essas peças, originalmente fornecidas à França e posteriormente exportadas ou produzidas sob licença nos EUA, foram empregadas em combates iniciais, com destaque para a invasão japonesa das Filipinas em 1941-1942. Durante a defesa de Bataan, o 301º Regimento de Artilharia do Exército Colonial Filipino, equipado com obuses Schneider fornecidos pelos americanos, utilizou essas peças contra as forças japonesas, marcando seu batismo de fogo no conflito. Cerca de cem obuseiros M-1918 modernizados seriam fornecidos ao Reino Unido sob o programa Lend-Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), passando a ser empregados no final de 1941 no teatro de operações do norte da África, servindo aos efetivos do Oitavo Exército. Após o término do conflito, muitos destes canhões permaneceriam em serviço até a década e 1960. Já o Exército Boliviano, receberia em 1976 uma doação de dezesseis obuses do Exército Argentino pertencentes aos modelos Schneider L.15.05 e L.30.05, com estes se mantendo em serviço até o início do século XXI. 

Emprego no Exército Brasileiro.
A artilharia brasileira, enraizada nas lutas coloniais e consolidada após a Independência de 1822, é um pilar da história militar do país, marcada por momentos de bravura, inovação e resiliência. As origens da artilharia brasileira remontam ao período colonial, quando brasileiros se mobilizaram em conflitos como as Batalhas de Guararapes, enfrentando forças holandesas em Pernambuco com táticas rudimentares, mas corajosas. Após a Independência, em 1822, a artilharia de campanha começou a se estruturar como uma arma organizada, ganhando prestígio no Império do Brasil. Diferentemente da infantaria e da cavalaria, que exigiam menos anos de formação, a artilharia demandava treinamento completo na Academia Militar do Império, refletindo sua complexidade técnica. Os artilheiros, muitas vezes jovens oficiais, dedicavam-se a dominar cálculos balísticos e manobras táticas, forjando uma tradição de excelência que marcaria gerações. O auge desse período foi a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), onde a artilharia brasileira, sob o comando do Marechal Emílio Luís Mallet, se destacou na Batalha de Tuiuti (1866), a maior batalha campal da América do Sul. Apelidada de “Artilharia Revólver” por sua precisão e rapidez, a força brasileira, protegida por um fosso tático inovador, resistiu a ataques paraguaios com uma determinação eternizada na frase de Mallet: “Eles que venham! Por aqui não passam!”. Nascido na França em 1801 e naturalizado brasileiro, Mallet comandou com destreza, sendo promovido a brigadeiro por mérito e agraciado com o título de Barão de Itapevi em 1878, ascendendo a marechal em 1885. Sua liderança transformou a artilharia em um símbolo de orgulho nacional, inspirando gerações de artilheiros. A influência da Friedrich Krupp AG no Brasil começou em 1872, com a aquisição dos primeiros canhões de campanha de 75 mm, destinados aos Regimentos de Artilharia a Cavalo. Essas peças, fabricadas em Essen, Alemanha, representavam o auge da tecnologia bélica, superando os canhões franceses La Hitte, que até então equipavam o arsenal brasileiro. Na década de 1880, o Exército Imperial recebeu mais três dezenas de canhões Krupp 75 mm Modelo 1895, recomendados pelo Conde d’Eu, Comandante Geral da Artilharia e presidente da Comissão de Melhoramento de Material do Exército. Como genro do Imperador Dom Pedro II, o Conde d’Eu desempenhava um papel central como conselheiro militar, defendendo a superioridade dos canhões alemães, que alcançavam até 12.000 metros, uma melhoria significativa em relação aos modelos anteriores. A adoção em larga escala dos canhões Krupp marcou uma virada na modernização do Exército Brasileiro, recuperando o potencial militar após anos de estagnação. Para os artilheiros, operar essas armas era um desafio que exigia precisão e treinamento. Em exercícios nos campos de treinamento do Rio de Janeiro, equipes de cinco a sete homens carregavam projéteis de 6,5 kg, ajustavam sistemas de mira e disparavam sob o calor carioca, fortalecendo a camaradagem. Ironicamente, os canhões recomendados pelo Conde d’Eu foram usados contra uma rebelião monarquista na Guerra de Canudos (1896-1897), onde provaram sua eficácia em combates reais, apesar das condições adversas do sertão baiano.

No início do século XX, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos decorrentes da obsolescência de seus armamentos e doutrinas militares. As limitações técnicas haviam sido expostas durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), o maior conflito da América do Sul, e confirmadas na Campanha de Canudos (1896-1897), que revelou a inadequação do arsenal brasileiro frente às demandas de combates modernos. Os canhões Krupp de 75 mm, adquiridos em 1872 e 1895, embora inovadores em sua época, já não acompanhavam os avanços tecnológicos da artilharia global, como os sistemas de recuo hidropneumático e a maior mobilidade exigida pelas táticas contemporâneas. Este cenário refletia não apenas a ausência de uma indústria bélica nacional, mas também a dependência de importações e a necessidade urgente de modernização para alinhar o Brasil às potências militares da época. A transformação do Exército Brasileiro ganhou impulso com a liderança de figuras visionárias, como os Marechais João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Francisco de Paula Argolo e, sobretudo, Hermes da Fonseca, que, com o apoio do Barão do Rio Branco, então Ministro das Relações Exteriores, impulsionaram a chamada Reforma Hermes (1900-1908). Este processo de reestruturação, conduzido durante o governo de Rodrigues Alves e intensificado sob a presidência de Afonso Pena, buscava reposicionar o Exército como uma força moderna, capaz de responder aos desafios estratégicos do novo século. Inspirado pelo modelo do Exército Prussiano, particularmente pelo sistema de Estado-Maior desenvolvido por Helmuth von Moltke, Hermes da Fonseca defendia a necessidade de equipar o Brasil com armamentos de ponta e adotar uma organização militar baseada na disciplina, na eficiência e na inovação tecnológica. A Reforma Hermes incluiu a reorganização territorial do país, com a divisão em 21 regiões para alistamento militar e 13 para inspeção, além da criação e regulamentação do Estado-Maior do Exército, um órgão central para planejamento estratégico e coordenação operacional. Essas medidas visavam não apenas modernizar a estrutura militar, mas também fortalecer a soberania nacional em um contexto de crescente influência geopolítica do Brasil na América do Sul. Reconhecendo a inexistência de uma indústria bélica nacional capaz de suprir as necessidades do Exército, Hermes da Fonseca organizou, em agosto de 1908, uma missão militar à Europa, com destino à Alemanha e à França, dois dos principais centros de tecnologia militar da época. A missão, composta por oficiais de alto escalão, tinha como objetivo identificar fornecedores de armamentos modernos e estabelecer parcerias para a transferência de conhecimentos técnicos e profissionais, essenciais para a capacitação do Exército Brasileiro. Os resultados dessa missão foram expressivos, culminando na aquisição de um vasto arsenal de equipamentos destinados a renovar as capacidades da infantaria, cavalaria e artilharia. Para a infantaria, foram adquiridos 400.000 fuzis Mauser de calibre 7 mm, fabricados na Alemanha, reconhecidos por sua precisão e confiabilidade. A cavalaria foi equipada com 10.000 lanças Ehrhardt, 20.000 espadas e 10.000 mosquetões, adaptados às táticas de combate montado. 
O início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) marcou uma transformação profunda na arte da guerra, com avanços significativos em tecnologia de armamentos e doutrinas militares. A introdução de tanques, aviação militar, artilharia pesada e táticas de guerra de trincheiras elevou os padrões da guerra moderna, expondo a obsolescência de muitas forças armadas ao redor do mundo. No Brasil, o Exército, apesar dos avanços promovidos pela Reforma Hermes (1900-1908), viu-se rapidamente superado a partir de 1918, tanto em termos de equipamentos quanto de organização doutrinária. Os canhões Schneider-Canet de 75 mm e Krupp de mesmo calibre, adquiridos no início do século XX, embora robustos, não acompanhavam as inovações tecnológicas, como os sistemas de recuo mais avançados e a mobilidade exigida pelas novas táticas de combate. Essa obsolescência era agravada pelo contexto geopolítico da América do Sul, onde a Argentina experimentava um rápido desenvolvimento econômico e militar, emergindo como a principal ameaça hipotética ao Brasil. A rivalidade histórico-estratégica entre os dois países, intensificada desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), motivou o governo brasileiro a buscar soluções urgentes para reequilibrar a balança militar na região. A partir do segundo semestre de 1918, sob a presidência de Delfim Moreira e com o apoio do Ministro da Guerra, General Alberto Cardoso de Aguiar, o Brasil iniciou esforços para implementar um novo ciclo de modernização militar, visando recuperar sua capacidade defensiva e projeção regional. Reconhecendo a necessidade de expertise externa para conduzir esse processo, o governo brasileiro abriu negociações com a França, uma potência militar reconhecida por sua avançada indústria bélica e doutrina de combate, especialmente após seu desempenho na Primeira Guerra Mundial. Em 1918, diálogos avançados foram conduzidos em Paris entre o adido militar brasileiro na França, Coronel Malan d’Angrogne, e o Ministro da Guerra francês, Georges Clemenceau, uma figura central na vitória aliada. Paralelamente, o General Maurice Gamelin, que mais tarde se tornaria comandante-chefe do Exército Francês, foi enviado ao Brasil em uma missão de avaliação. Sua tarefa era analisar o estado das Forças Armadas Brasileiras, identificando deficiências em equipamentos, treinamento e organização, para embasar uma proposta francesa de cooperação. As negociações culminaram na assinatura de um contrato em Paris, ratificado meses depois no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1919, durante o governo de Epitácio Pessoa. Este acordo criou oficialmente a Missão Militar Francesa, um marco na história militar brasileira. Pelo contrato, oficiais franceses assumiriam, por quatro anos, o comando de instituições-chave, como a Escola de Estado-Maior (EEM), a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), a Escola de Intendência e a Escola de Veterinária. 

Em contrapartida, o Brasil comprometeu-se a priorizar a indústria militar francesa em suas aquisições de armas e equipamentos, desde que as propostas francesas fossem competitivas em preço e prazo de entrega em relação a outros fornecedores internacionais. A chegada da Missão Militar Francesa, liderada por oficiais experientes como o General Louis Gillet, marcou o início de uma transformação profunda no Exército Brasileiro. A partir de 1921, novos regulamentos foram adotados, alinhados às doutrinas francesas, incluindo normas para a Direção e Emprego das Grandes Unidades, o Exercício e Emprego da Artilharia e o Serviço de Estado-Maior em Campanha. Essas mudanças modernizaram a organização tática e logística, introduzindo conceitos de mobilidade, coordenação interarmas e planejamento estratégico, inspirados nas lições da Primeira Guerra Mundial.  As avaliações iniciais dos oficiais franceses identificaram a urgência de atualizar o arsenal brasileiro, com ênfase na substituição de equipamentos obsoletos. Uma concorrência internacional foi aberta, e, conforme estipulado no contrato, as propostas da indústria francesa, lideradas pela Schneider & Cie., foram priorizadas devido a custos competitivos e qualidade técnica. Entre os armamentos adquiridos, destacaram-se: Canhões Schneider C-50 1902 de 150 mm: Utilizados em aplicações terrestres e ferroviárias, reforçando a artilharia de costa e de campanha. Canhões Schneider 75/28 Modelo 1906 de 75 mm: Peças de tiro rápido, ideais para apoio tático em operações móveis. Canhões Schneider C-18-6 Modelo 1919 de 75 mm: Modelos de montanha, leves e adaptados para terrenos acidentados. Obuses Schneider C-17S de 155 mm: Peças pesadas, destinadas a equipar unidades de artilharia de fronteira, com entregas realizadas em 1923. Os obuses Schneider C-17S de 155 mm, projetados para atender às necessidades de artilharia pesada, foram adaptados ao contexto do Exército Brasileiro, que na década de 1920 era predominantemente hipomóvel, ou seja, dependente de tração animal. Essas peças foram entregues com rodas de madeira, adequadas ao transporte por cavalos e muares, mas que limitavam sua mobilidade em terrenos irregulares. Destinados às unidades de artilharia de fronteira, os C-17S ofereciam maior poder de fogo em comparação com os canhões de montanha Schneider-Canet de 75 mm, que eram leves e facilmente transportáveis, mas apresentavam restrições devido ao seu peso e dimensões. Seguindo o padrão francês, as baterias de artilharia equipadas com os Schneider C-17S eram organizadas com: Quatro canhões de 155 mm por bateria. Quatro carros de munição, cada um transportando 38 munições por canhão, complementados por 60 unidades adicionais em carros de apoio. Um carro de apoio com ferramental para manutenção. Um carro-forja, responsável por reparos em campanha, incluindo consertos nas rodas de madeira e nos carros de tração. Cada bateria era operada por um efetivo de três oficiais, dez sargentos e 121 praças, mobilizando 39 cavalos e 96 muares para a tração das peças, munições e pessoal. 
Em comparação com os canhões de montanha Schneider-Canet de 75 mm, que se destacavam pela leveza e facilidade de transporte em terrenos acidentados, os obuses Schneider C-17S de 155 mm apresentavam desafios operacionais. Seu peso elevado, aliado às rodas de madeira, restringia sua mobilidade, tornando-os mais adequados para posições defensivas fixas ou operações em terrenos regulares, como nas regiões de fronteira. Essas limitações, embora significativas, eram compensadas pelo maior alcance e poder destrutivo dos obuses, que ofereciam suporte crucial em combates de maior escala.. Ao todo oitenta canhões Schneider  C-17S 155 mm seriam recebidos, e por se tratar de modernas peças de artilharia, apresentariam excelentes resultados operacionais, e a exemplo dos Schneider-Canet 75 mm, se fariam presentes ação real, em quase todos os grandes conflitos regionais ocorridos no país no início do século XX, incluindo a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932, e neste último cenário de conflagração sendo empregados pelos lados em conflagração. Estes canhoes de 155 mm se manteriam em posição de destaque no Exército Brasileiro até o ano de 1940, quando seriam recebidos os primeiros canhoes ingleses Vickers Armstrong 152,4 mm, trazendo como principal evolução, seu alcance de 18.400 metros com uma excelente cadência de três tiros por minuto, superando em muito as peças em uso até então que atingiam no máximo 9.000 metros de alcance. A estes no ano seguinte se somariam os novos e mais modernos canhoes alemães Krupp Flak 88 mm C/56 Modelo 18, com estes sendo tracionados por veículos motorizados, passando a dotar as principais unidades de artilharia de costa e antiaérea. A partir de 1942 com a adesão do país ao programa de ajuda militar  Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seriam recebidas as primeiras unidades dos obuseiros norte-americanos M-1 155 mm. Durante a Segunda Guerra Mundial os canhoes Schneider  C-17S 155 mm seriam empregados em diversas manobras e exercícios de defesa equipando os regimentos de artilharia a cavalo. Com a ampliação da motorização do Exército Brasileiro, a partir de fins da década de 1930, estes canhões seriam modernizados nos arsenais de guerra no Rio de Janeiro (AGRJ) e General Câmara (AGRS) no Rio Grande do Sul,  recebendo novas rodas com pneus no lugar das rodas de madeira passando a serem tracionados por caminhões alemães Hennshel & Sohn. Permaneceriam em  operação até a segunda metade da década de 1960, quando foram retirados de serviço, com algumas peças sendo preservadas. 

Em Escala.
Para recriar o canhão Schneider C-17S de 155 mm em escala, foi selecionado o novo e altamente detalhado kit produzido pela Das Werk na escala 1/35. Este modelo destaca-se pela excepcional qualidade de seus componentes, incluindo um conjunto de peças em photo-etched (fotogravadas) que reproduzem com precisão os detalhes técnicos do obuseiro, como o sistema hidropneumático de recuo, o berço de aço cromo-níquel e os cilindros do freio e recuperador. A fidelidade do kit à versão original elimina a necessidade de modificações para representar a configuração utilizada pelo Exército Brasileiro, tornando-o uma escolha ideal para modelistas que buscam autenticidade histórica. O kit da Das Werk captura elementos distintivos do C-17S, como o peso visual das rodas de madeira, a estrutura robusta do trenó e o design do tubo estriado, permitindo uma representação fiel do equipamento que equipou as baterias de artilharia de fronteira brasileiras. O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura com que estes canhoes foram recebidos no pais em 1923, e seguem o esquema de camuflagem tática aplicada aos canhões Schneider  C-17S 155 mm empregados pela Força Expedicionária Americana - AEF (American Expeditionary Force) durante a Primeira Guerra Mundial. No Brasil estas peças receberiam posteriormente uma pintura total em verde oliva, a exemplo dos canhões norte-americanos recebidos durante a Segunda Guerra Mundial.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura com que estes canhões foram recebidos no pais em 1923, e seguem o esquema de camuflagem tática aplicada aos canhões Schneider  C-17S 155 mm empregados pela Força Expedicionária Americana - AEF (American Expeditionary Force) durante a Primeira Guerra Mundial. No Brasil estas peças receberiam posteriormente uma pintura total em verde oliva, a exemplo dos canhões norte-americanos recebidos durante a Segunda Guerra Mundial. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados em 1942, o Exército Brasileiro passou por um processo de reequipamento e padronização, influenciado pela crescente parceria com os Estados Unidos. Como parte desse processo, os canhões Schneider C-17S foram repintados em um tom uniforme de verde-oliva (aproximadamente FS 34088), Posteriormente, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as peças Schneider C-17S no Brasil foram repintadas em um tom uniforme de verde-oliva, seguindo o padrão adotado pelos canhões norte-americanos fornecidos ao país.

Bibliografia: 
- Schneider Frères et Compagnie - https://www.lesechos.fr
- Schneider-Canet - https://pt.wikipedia.org/wiki/Schneider-Canet
- Missão Militar Francesa por Rodrigo N. Araujo -  https://cpdoc.fgv.br/
- Arquivos do Museu Militar de Conde de Linhares – Rio de Janeiro

História e Desenvolvimento.
A Gio. Societa Giovanni Ansaldo & Compagnia, uma das mais proeminentes empresas industriais da Itália, foi fundada no século XIX por destacados empreendedores genoveses, incluindo Raffaele Rubattino, Giacomo Filippo Penco, Carlo Bombrini e Giovanni Ansaldo. Este último, uma figura histórica de grande relevância, destacou-se por sua visão estratégica e espírito inovador. Com interesses que abrangiam desde as artes até a engenharia, Ansaldo tornou-se um pioneiro na inovação de produtos e processos industriais, marcando a trajetória inicial da companhia. Até o final do século XIX, a Gio. Ansaldo & C. concentrou suas atividades na fabricação e reparo de componentes ferroviários, guindastes, locomotivas e caldeirões para fundições. Durante esse período, a empresa experimentou um crescimento significativo, alcançando uma força de trabalho de dez mil funcionários distribuídos em sete plantas industriais. Posteriormente, expandiu suas operações para novos setores, incluindo a construção naval e obras mecânicas em geral. Em 1904, a companhia foi adquirida por Ferdinando Maria Perrone, que, juntamente com seus filhos, Mário e Pio, integrou o nome da família Perrone à história da empresa. Sob a nova administração, a Gio. Ansaldo & C. buscou a autossuficiência em seus processos industriais, promovendo uma forte integração vertical que abrangia desde a ferraria até a produção de armamentos. Essa estratégia consolidou a posição da empresa como uma das principais indústrias italianas. O início da Primeira Guerra Mundial representou uma oportunidade significativa para a Gio. Ansaldo & C., embora a Itália tenha permanecido inicialmente neutra. Os dirigentes da empresa apoiaram ativamente a entrada do país no conflito, tanto por meio de lobby direto quanto pelo financiamento de grupos políticos beligerantes, incluindo o movimento protofascista liderado por Benito Mussolini. Esses esforços culminaram na participação italiana na guerra, o que impulsionou o desempenho financeiro da companhia. Em 1914, seu valor de mercado era de trinta milhões de liras, alcançando mais de quinhentos milhões de liras ao final do conflito. No auge de sua expansão, no verão de 1918, a empresa empregava oitenta mil trabalhadores em dezenas de fábricas e controlava diversas subsidiárias, como A. Cerpelli & C., Banca Industriale Italiana, Cantieri Officine Savoia, Dynamit Nobel, Gio. Fossati & C., Lloyd Italico, Nazionale di Navigazione, Pomilio, Società Idroelettrica Negri e Transatlantica Italiana. Apesar de seu crescimento exponencial, a partir de 1910, a Gio. Ansaldo & C. enfrentou dificuldades financeiras, principalmente em relação ao seu principal credor, o Banco Italiana di Sconto. Essa crise gerou riscos significativos de insolvência a médio e longo prazo, desafiando a sustentabilidade financeira da companhia.

Em 1921, a família Perrone deixou a direção da Gio. Ansaldo & Compagnia, em meio a uma grave crise financeira que ameaçava a solvência da empresa. Para evitar a falência, foi formado um consórcio liderado pelo Banco Italiana di Sconto, com o objetivo de reestruturar suas operações. Durante a década de 1920, a companhia adotou estratégias mais conservadoras, com redução significativa de suas atividades. Apesar de um leve crescimento na divisão eletromecânica, a Ansaldo enfrentou dificuldades persistentes para alcançar estabilidade financeira.  A deterioração do cenário financeiro levou a empresa a ser assumida, na década de 1930, pelo Istituto per la Ricostruzione Industriale (IRI). Sob a gestão do IRI, a Gio. Ansaldo & Compagnia experimentou um renascimento, impulsionado, em grande parte, pelas demandas do esforço de guerra promovido pelo regime fascista. Esse período marcou uma fase de expansão e consolidação, com a diversificação de suas atividades industriais. Atendendo a uma solicitação do Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano), a fábrica Ansaldo em Gênova iniciou, durante o período fascista, estudos para o desenvolvimento de um carro de combate leve sobre lagartas. O projeto foi inspirado no blindado britânico Carden-Loyd Mk VI, concebido pela Vickers-Armstrongs no início da década de 1920 para o Exército Real Britânico (Royal Army). Esse veículo, projetado para tracionar peças de artilharia e realizar missões de reconhecimento com mobilidade e segurança, serviu como base para o desenvolvimento do modelo italiano. O projeto conceitual foi aprimorado ao longo da década de 1920, culminando em um modelo de produção que alcançou notável sucesso no mercado internacional. Mais de 450 unidades foram exportadas para mais de vinte países, destacando a capacidade técnica da Ansaldo. Além disso, o projeto influenciou o desenvolvimento de outros carros de combate leves, como o japonês Type 92 Jyū-Sokosha, o polonês TKS e o italiano CV3-33. Em janeiro de 1929, o governo italiano celebrou um contrato com a Vickers-Armstrongs para a aquisição e produção local, sob licença, de um lote de blindados Carden-Loyd Mk VI. A fabricação foi conduzida pela Fiat Automobiles S.p.A., e os veículos foram equipados com metralhadoras aeronáuticas de calibre 8 mm ou sistemas de lança-chamas Fiat OCI. No Exército Real Italiano, esses blindados receberam a designação CV-29, onde "CV" significa Carro Veloce (tanque rápido) e "29" refere-se ao ano de introdução em serviço (1929). Nos primeiros anos de operação, o CV-29 foi amplamente elogiado por seus tripulantes, sendo reconhecido por sua agilidade e eficácia em missões de reconhecimento e apoio tático.
Com o objetivo de otimizar custos de desenvolvimento, o novo modelo de carro blindado leve foi concebido com base no projeto do Fiat CV-29, resultando em uma colaboração estratégica entre a equipe de engenharia da Fiat Automobiles S.p.A. e a Gio. Ansaldo & Compagnia. Essa parceria permitiu a integração de recursos técnicos e industriais, maximizando a eficiência no processo de projeto e produção.  Em maio de 1933, o primeiro protótipo funcional do novo blindado foi concluído e submetido a um rigoroso programa de testes e avaliações de campo. Os resultados foram considerados satisfatórios, culminando na celebração de um contrato inicial com o governo fascista italiano para a aquisição de 300 unidades. A produção foi realizada conjuntamente pela Fiat Automobiles S.p.A., em sua planta em Turim, e pela Gio. Ansaldo & Compagnia, em Gênova. O veículo foi imediatamente designado pelo Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) como Fiat-Ansaldo CV-33. A pedido de oficiais do Exército Real Italiano, uma versão aprimorada do CV-33 começou a ser desenvolvida em 1934, com conclusão em 1935. Esse novo modelo, denominado Tankette CV-35, era um veículo leve de dois tripulantes (artilheiro e motorista), projetado para operar em terrenos desafiadores. Suas dimensões compactas — 3,15 metros de comprimento, 1,28 metro de altura e 1,40 metro de largura — e peso de aproximadamente 3.100 kg contribuíam para sua agilidade. O CV-35 alcançava velocidades de até 42 km/h em estradas e 12 km/h em terrenos acidentados, com autonomia média de 140 km. O veículo era equipado com um motor a gasolina Fiat-Spa CV3, refrigerado a água, com 43 hp de potência e 2.746 cilindradas. Entre suas principais inovações, destacavam-se a blindagem aparafusada, em substituição às técnicas de rebitagem ou soldagem, e a adoção de metralhadoras gêmeas Fiat Mod. 14/35 de calibre 8 mm, que substituíram as antigas Fiat-Revelli Mod. 1914 de calibre 6,5 mm. Em 1935, foi autorizada a fabricação de cinco unidades pré-série do CV-35, destinadas a um novo programa de testes e avaliações de campo com duração aproximada de quatro meses. Os resultados obtidos foram considerados altamente promissores, consolidando o potencial do veículo para aplicações militares e reforçando a posição da Fiat e da Ansaldo no setor de defesa junto ao governo fascista de Benito Mussolini.

Em 1935, o comando do Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) formalizou uma encomenda de 1.300 blindados Fiat-Ansaldo CV-35, com entregas iniciadas no início de 1936. Paralelamente, a Gio. Ansaldo & Compagnia foi contratada para atualizar diversas unidades dos blindados Fiat CV-33, entregues anteriormente. Após a implementação dessas modernizações, os CV-33 foram redesignados como L3/33, onde "L" significa Leggero (ligeiro). Esses veículos foram utilizados principalmente para tração de artilharia leve e como blindados lança-chamas. Os Fiat-Ansaldo CV-35 entraram em serviço ativo em 1935 e tiveram seu batismo de fogo durante a Segunda Guerra Ítalo-Abissínia (1935–1936). Nesse conflito, cerca de 200 mil soldados italianos, sob o comando do marechal Emilio De Bono, partiram da Eritreia — então uma colônia italiana — sem declaração prévia de guerra. Os Fiat Ansaldo  CV-35 desempenharam um papel significativo no avanço das tropas italianas, demonstrando eficácia em operações ofensivas. Na década de 1930, o CV-35 alcançou destaque internacional, com dezenas de unidades exportadas. Durante a Guerra Civil Espanhola (1936–1939), os CV-35 foram amplamente utilizados pelo Corpo de Tropas Voluntárias (Corpo Truppe Volontarie, CTV). Contudo, muitos desses blindados foram destruídos em contra-ataques de infantaria, sendo superados pelos tanques leves soviéticos T-26 e BT-5, fornecidos às forças republicanas pela União Soviética. Além disso, os CV-35 participaram de outros conflitos, incluindo a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937–1945), a Guerra Eslovaco-Húngara (1939) e a Guerra Anglo-Iraquiana (1941). Em 10 de junho de 1940, quando a Itália ingressou na Segunda Guerra Mundial, o Exército Real Italiano contava com cerca de 100 blindados L3/33, organizados em dois batalhões de tanques. Já os tanquetes Fiat-Ansaldo CV-35 equipavam as três divisões blindadas italianas, operando ao lado de carros de combate médios. Esses veículos também estavam presentes nos batalhões de tanques das divisões motorizadas, nos grupos de esquadras de tanques leves das divisões "Rápidas" (Celere), e em diversos batalhões de tanques independentes. Apesar de sua ampla disponibilidade nos teatros de operações, os Fiat-Ansaldo CV-35 revelaram-se obsoletos logo no início da Segunda Guerra Mundial. Sua blindagem mostrou-se inadequada frente aos canhões antitanque de 37 mm utilizados pelas forças britânicas, evidenciando a necessidade de modernização para enfrentar as exigências dos combates modernos.
Após a Campanha dos Bálcãs (1940–1941), a maioria dos carros de combate leves Fiat-Ansaldo CV3-35 foi realocada para tarefas secundárias, com poucas unidades permanecendo em serviço na linha de frente. Durante a Guerra Greco-Italiana (1940–1941), aproximadamente 40 blindados CV3-35 foram capturados e utilizados pelo Exército Grego (Ελληνικός Στρατός) na 19ª Divisão Mecanizada, desempenhando um papel significativo nos combates. Após a invasão da Iugoslávia e da Grécia em abril de 1941, mais unidades dos modelos CV3-35 e L3/33 foram capturadas e empregadas pelas forças de resistência iugoslavas e gregas. Com a assinatura do armistício italiano com os Aliados em 1943, grande parte da frota remanescente dos blindados CV3-33 e CV3-35 foi incorporada pelas tropas de ocupação do Exército Alemão (Wehrmacht) e pelo Exército Republicano Nacional da República Social Italiana (Esercito Nazionale Repubblicano). Essas unidades permaneceram em operação até a rendição final em 8 de maio de 1945. Entre os anos de 1933 e 1943, aproximadamente 2.500 unidades dos modelos Fiat CV3-33 e Fiat-Ansaldo CV3-35 foram produzidas. Esses blindados foram fabricados em diversas variantes, incluindo:  L3 CC: Versão antitanque equipada com um canhão Solothurn de 20 mm, instalado no lugar da metralhadora. L3 LF: Versão lança-chamas, que tracionava um tanque de combustível blindado com capacidade de 500 litros. L3 Lança-Pontes: Configuração projetada para o transporte e lançamento de pontes.  L3 Radio Comando: Equipado com um rádio Marelli RF1 CA de alta potência para funções de comando e comunicação. Uma parcela significativa dos blindados CV3-33 e CV3-35 foi exportada para países como China Nacionalista, Afeganistão, Albânia, Áustria, Bolívia, Brasil, Bulgária, Croácia, Hungria, Iraque e Espanha Nacionalista. Devido às suas limitações operacionais, em muitos casos, esses veículos foram relegados a funções secundárias, como operações policiais para contenção de distúrbios, manutenção da ordem pública e patrulha de perímetros em campos de prisioneiros de guerra. Os últimos operadores dos modelos CV3-33 e CV3-35 mantiveram esses blindados em serviço até meados da década de 1950, principalmente em funções de apoio e segurança. Apesar de sua obsolescência em combates modernos, os veículos deixaram um legado significativo na história militar, refletindo a capacidade industrial da Fiat e da Gio. Ansaldo & Compagnia durante o período.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Ministério da Guerra brasileiro enviou o 1º Tenente de Cavalaria José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque à França, como parte de um programa de intercâmbio militar e educacional. Na Escola de Carros de Combate de Versalhes, o tenente dedicou-se ao estudo das especialidades de motorização e mecanização. Em abril de 1919, foi designado como observador no 503º Regimento de Artilharia de Carros-de-Assalto, onde teve contato direto com a operação dos carros de combate Renault FT-17, adquirindo valiosa experiência prática. José Pessoa destacou-se como autor do tratado Os "Tanks" na Guerra Europeia, publicado em 1921 no Rio de Janeiro. A obra analisava o desenvolvimento e o emprego de veículos blindados no teatro de operações europeu durante a Primeira Guerra Mundial, consolidando seu papel como um dos principais pensadores militares brasileiros sobre o tema. Além disso, foi um dos idealizadores da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, Rio de Janeiro, e fundador do Centro de Instrução de Artilharia de Costa, que em 1942 foi transformado em escola. Ao retornar ao Brasil, a experiência do Tenente José Pessoa exerceu significativa influência no comando do Exército Brasileiro, incentivando a aquisição de carros de combate. A escolha recaiu sobre o Renault FT-17, impulsionada por uma aproximação político-militar entre os governos brasileiro e francês. Contudo, o próprio José Pessoa expressava ressalvas quanto à adequação do modelo para as necessidades da futura força blindada brasileira, considerando-o menos que ideal. Por meio do Decreto nº 15.235, de 31 de dezembro de 1921, foi criada a Companhia de Carros de Assalto, sediada na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Com isso, o Exército Brasileiro tornou-se pioneiro no uso de armas blindadas na América do Sul, embora a operacionalidade dessas forças já existisse antes de sua formalização. A introdução dos Renault FT-17 representou uma inovação significativa, mas enfrentou resistência entre oficiais mais antigos, devido à ausência de uma visão estratégica clara e à falta de uma cultura de inovação. A resistência à adoção dos carros de combate gerou deficiências doutrinárias no Exército Brasileiro, que comprometeram o desenvolvimento e a eficácia da Companhia de Carros de Assalto. Essas limitações persistiram, dificultando o emprego efetivo dos blindados durante as crises políticas e militares das décadas de 1920 e 1930. O uso operacional dos Renault FT-17 ocorreu durante a Revolução Constitucionalista de 1932, em que os blindados foram empregados em missões de defesa de pontes e neutralização de ninhos de metralhadoras. Apesar de seu papel limitado, essas operações marcaram a primeira utilização prática de carros de combate pelo Exército Brasileiro em um conflito interno.

Em 22 de abril de 1935, por meio do Aviso nº 248, foi criada a Seção de Carros-de-Combate no Batalhão de Guardas, utilizando os carros de combate já existentes no Batalhão Escola de Infantaria. No mesmo período, sob a influência direta do chefe da Missão Militar Francesa, General Paul Noel, foi instituída a Seção de Motomecanização no Estado-Maior do Exército. Essas iniciativas representaram um avanço significativo na modernização das forças terrestres brasileiras, sinalizando um esforço para integrar a motomecanização na doutrina militar. A criação da Companhia de Carros de Assalto em 1921, sob a liderança do Capitão José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, foi uma tentativa pioneira de introduzir a arma blindada no Exército Brasileiro. Contudo, a falta de visão estratégica por parte de setores conservadores da oficialidade resultou no abandono progressivo dessa iniciativa. A resistência à motomecanização revelou deficiências doutrinárias que comprometeram a continuidade do projeto, evidenciando a necessidade de uma mudança cultural para evitar o atraso operacional da Força Terrestre. Em 1938, o General Waldomiro Castilho de Lima, inspirado pelas operações militares italianas na Segunda Guerra Ítalo-Abissínia (1935–1936), trouxe novo ímpeto à discussão sobre a motomecanização no Ministério da Guerra. Reconhecendo a obsolescência dos carros de combate Renault FT-17, utilizados pelo Exército Brasileiro desde os anos 1920, foi decidida a substituição desses veículos por modelos modernos. A escolha recaiu sobre os carros de combate Fiat-Ansaldo CV3-35 II, que haviam demonstrado desempenho satisfatório em terrenos montanhosos durante a Guerra Civil Espanhola (1936–1939) e nas regiões áridas da Etiópia. Os Fiat-Ansaldo CV3-35 II representavam o auge do sucesso comercial da indústria bélica italiana, sendo adquiridos por diversos exércitos ao redor do mundo. Seguindo essa tendência, o governo brasileiro celebrou um contrato com o fabricante italiano para a compra de um lote desses veículos blindados. Apesar da relevância dessa decisão, a eficácia operacional dos novos carros de combate ainda enfrentava desafios devido a preconceitos persistentes entre a oficialidade mais tradicional do Exército Brasileiro em relação à adoção de armas blindadas. As ideias visionárias do Capitão José Pessoa, que defendia a importância da motomecanização desde os anos 1920, foram retomadas com entusiasmo pelo Capitão Carlos Flores de Paiva Chaves. Sua dedicação foi fundamental para a consolidação da arma blindada no Brasil, superando resistências internas e promovendo a modernização da doutrina militar. A iniciativa de Flores marcou um ponto de inflexão, pavimentando o caminho para o fortalecimento das capacidades operacionais do Exército Brasileiro no campo da motomecanização.
Em 1938, foi determinado que a Seção de Carros-de-Combate do Batalhão de Guardas, sediada no Rio de Janeiro, RJ, seria responsável por operar os novos carros de combate leves Fiat-Ansaldo CV3-35 II. Além disso, a seção deveria consolidar todo o pessoal e equipamento previamente pertencente à mesma unidade, incluindo os remanescentes carros Renault FT-17. Essa reorganização visava centralizar os recursos de motomecanização, promovendo maior eficiência operacional e administrativa. No final de abril de 1938, o Brasil recebeu um lote de 23 blindados Fiat-Ansaldo CV3-35 II. Esses veículos foram transportados por via terrestre até o Depósito de Material Bélico, localizado no bairro de Deodoro, Rio de Janeiro. Dos 23 blindados, cinco eram equipados com uma metralhadora italiana Breda de calibre 13,2 mm, enquanto os demais contavam com duas metralhadoras dinamarquesas Madsen de calibre 7 mm. Em 25 de maio de 1938, por meio do Aviso nº 400, foi criado o Esquadrão de Auto-Metralhadoras, integrado ao Centro de Instrução de Motorização e Mecanização, como parte da recém-formada Subunidade-Escola de Motomecanização. A nova subunidade foi aquartelada em Deodoro, ocupando parte de um edifício inacabado originalmente destinado à Escola de Engenharia (atual Escola de Material Bélico – EsMB). Essa iniciativa marcou um passo significativo na modernização da Cavalaria brasileira, conciliando a tradição da cavalaria hipomóvel — profundamente enraizada no Exército Brasileiro — com as inovações da motomecanização. O Capitão Carlos Flores de Paiva Chaves desempenhou um papel central na implementação do Esquadrão de Auto-Metralhadoras. Com o auxílio de um sargento mecânico da Escola de Aviação Militar, ele liderou o processo de transferência dos 23 blindados Fiat-Ansaldo CV3-35 II do Depósito de Material Bélico para as novas instalações da subunidade em Deodoro. Esse esforço demonstrou seu elevado comprometimento com a consolidação da arma blindada no Brasil. Os novos carros de combate foram oficialmente apresentados às autoridades brasileiras durante a parada militar de 7 de setembro de 1938, no Rio de Janeiro. O evento marcou a formação da primeira subunidade mecanizada da Cavalaria brasileira, o Esquadrão de Auto-Metralhadoras, que representou um marco na integração de tecnologias modernas ao Exército Brasileiro. A coexistência harmoniosa entre a cavalaria mecanizada e a tradicional cavalaria hipomóvel destacou a capacidade do Exército de equilibrar inovação e tradição.

O Esquadrão de Auto-Metralhadoras, sediado em Deodoro, Rio de Janeiro, organizou os 23 carros blindados leves Fiat-Ansaldo CV3-35 II em quatro pelotões, cada um composto por cinco veículos. Cada pelotão era identificado por emblemas representando os naipes de cartas de baralho, pintados em círculos brancos nas laterais dos blindados. Em cada pelotão, quatro veículos eram equipados com duas metralhadoras dinamarquesas Madsen de calibre 7 mm, enquanto o quinto, destinado ao comandante do esquadrão ou pelotão, possuía uma metralhadora italiana Breda de calibre 13,2 mm. A dotação do esquadrão incluía três Fiat-Ansaldo CV3-35 II de reserva e um pelotão de apoio equipado com duas viaturas de turismo, nove caminhões leves, sete motocicletas e oito conjuntos de motocicletas com sidecar. O efetivo total era de 102 homens, sendo sete oficiais e 95 praças, com dois tripulantes designados para cada Fiat-Ansaldo CV3-35 II. Além disso, foram incorporados ao esquadrão os cinco últimos carros de combate Renault FT-17, remanescentes da tentativa inicial de formar uma unidade blindada na década de 1920. A partir de 1939, o Esquadrão de Auto-Metralhadoras entrou em plena operação, desempenhando um papel crucial na evolução da doutrina militar brasileira. O uso dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II, aliado a novas técnicas de treinamento, contribuiu para transformar a mentalidade da oficialidade do Exército Brasileiro. Essa mudança foi essencial para estabelecer bases sólidas para a força blindada nacional, promovendo a integração de veículos blindados com as forças de infantaria. Apesar desses avanços, a quantidade de blindados disponíveis — apenas 23 unidades — era insuficiente para atender às necessidades mínimas do Exército Brasileiro. Assim, os Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram empregados exclusivamente em atividades de instrução e formação de pessoal. Sua obsolescência também limitava seu uso, uma vez que a ausência de armamentos de maior calibre os tornava inadequados para os cenários de guerra moderna que emergiam na Europa. No início de 1941, o governo brasileiro intensificou sua aproximação com os Estados Unidos, obtendo acesso a programas de cooperação e assistência militar. Em agosto do mesmo ano, foram recebidos os primeiros dez carros de combate leves M3 Stuart, equipados com canhões de 37 mm. Esse processo foi ampliado em 1942, com a chegada de quantidades significativas de material bélico norte-americano, incluindo centenas de carros de combate M-3A3 - M-3A5 Lee e M-3 - M-3A1 Stuart. Com a introdução desses novos veículos, os Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram gradualmente retirados de suas funções de treinamento e instrução. A transição marcou o início de uma nova fase na modernização da força blindada brasileira, alinhada com tecnologias mais avançadas e adequadas às exigências dos conflitos contemporâneos.
Em meados de 1942, os carros blindados Fiat-Ansaldo CV3-35 II, embora substituídos por modelos mais modernos, não foram imediatamente retirados de serviço. Eles foram transferidos para Recife, Pernambuco, onde passaram a integrar o Esquadrão de Reconhecimento da Ala Motomecanizada do 7º Regimento de Cavalaria Divisionário. Essa unidade ficou sob o comando do 1º Tenente Plínio Pitaluga, que posteriormente lideraria o 1º Esquadrão de Reconhecimento da Força Expedicionária Brasileira (FEB), a única unidade de Cavalaria do Exército Brasileiro a atuar no teatro de operações europeu durante a Segunda Guerra Mundial. Em agosto de 1944, os Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram transferidos de volta ao Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Até o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, esses blindados foram empregados em missões de patrulha em bases militares. Após o conflito, foram formalmente desativados e armazenados no Depósito Central de Material de Motomecanização, localizado no Rio de Janeiro. Em 1948, pelo menos cinco unidades dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram transferidas para a Polícia Militar do Distrito Federal, onde permaneceram em operação até meados da década de 1950. Após esse período, foram recolhidas ao depósito. No mesmo ano, parte da frota foi doada ao governo da República Dominicana. Nos anos subsequentes, alguns desses veículos foram utilizados como alvos em exercícios de artilharia e lança-chamas, refletindo sua obsolescência operacional. Em reconhecimento à importância histórica dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II, alguns exemplares foram preservados para fins museológicos e cerimoniais. Dois veículos estão em exposição no Museu Militar Conde de Linhares e no 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada, ambos localizados no bairro de Campinho, Rio de Janeiro. Além disso, dois outros blindados, equipados com metralhadoras Madsen de calibre 7 mm e mantidos em condições operacionais, são utilizados em eventos e cerimônias na Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio de Janeiro, e na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, RJ. Essas iniciativas asseguram a preservação da memória militar brasileira e o legado dos primeiros esforços de motomecanização no Exército Brasileiro.

Em Escala.
Para a representação do carro blindado Fiat-Ansaldo CV3-35 Modelo II, foi selecionado o kit da Bronco Models na escala 1/35. Este modelo destaca-se pelo elevado nível de detalhamento, incluindo componentes em photo-etched, que conferem maior realismo à maquete. Não foram necessárias modificações adicionais para reproduzir fielmente a versão utilizada pelo Exército Brasileiro, dado que o kit já atende às especificações históricas do veículo. Os emblemas e marcações do Fiat-Ansaldo CV3-35 Modelo II foram representados por meio de decais personalizados, desenvolvidos com base em diversos conjuntos produzidos pela FCM Decais. Essa customização garantiu a precisão histórica das insígnias e símbolos empregados pelo Exército Brasileiro, assegurando uma reprodução autêntica do veículo em sua configuração operacional.

O esquema de cores descrito, conforme o padrão Federal Standard (FS), foi adotado pelo Exército Brasileiro para todos os seus veículos militares nas décadas de 1920 e 1930. Inicialmente, os carros blindados Fiat-Ansaldo CV3-35 foram recebidos com o padrão de camuflagem utilizado pelo Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano). Contudo, esse esquema foi prontamente substituído para adequar os veículos ao padrão estipulado pelo Exército Brasileiro, garantindo uniformidade e conformidade com as normas nacionais.




Bibliografia :
- Carro Veloce L3/35 (CV-35) - http://www.tanks-encyclopedia.com
- CV33 Ansaldo Wikipédia - https://it.wikipedia.org/wiki/CV33
- CV35 Ansaldo Wikipédia - https://it.wikipedia.org/wiki/CV35
- Consolidação dos Blindados no Brasil - Expedito Carlos Stephani Bastos - www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/DC3.PDF

Fairchild M-62 PT-19A/B e PT-3FG

História e Desenvolvimento.
A Fairchild Aviation Corporation, uma das mais representativas fabricantes aeronáuticas da História, seria fundada em 1924 pelo empreendedor Sherman Fairchild, (que ao longo de sua vida seria responsável pela abertura de setenta empresas), se estabelecendo inicialmente nas cidades de Farmingdale, e East Farmingdale em Nova York. Esta organização seria designada como a empresa-mãe dos muitos interesses da companhia no segmento aeronáutico ao longo dos anos vindouros. A companhia desenvolveria e construiria a primeira aeronave norte-americana a incluir uma cabine de pilotagem (cockpit) totalmente fechada e sistema de trem de pouso hidráulico, o modelo Fairchild FC-1. Dando sequência a este processo de crescimento, outras empresas seriam adquiridas ou incorporadas a este grupo econômico, como a  Caminez Engine Company em 1925,  e em 1929 a Kreider-Reisner Aircraft Company de Hagerstown, baseada em Maryland. Atendendo a seu planejamento de expansão, em 1920 seria fundada sua primeira planta fora dos Estados Unidos, nascendo sua subsidiária canadense, a Fairchild Aircraft Ltd. instalada na  cidade de  Longueuil em Quebec, estas instalações seriam responsáveis pela produção de um grande número de aeronaves civis e militares até o início da década de 1950.  Além do modelo Fairchild FC-1 a empresa seria notabilizada após o lançamento do modelo Fairchild 71, que fora projetado especificadamente para o emprego em missões de fotografia aérea, superando assim as limitações dos modelos em uso, que eram incapazes de voar de maneira constante a uma altitude suficiente para o efetivo emprego nesta tarefa. Esta aeronave apresentava excelentes características de desempenho e capacidade de transporte, o que levaria a  se tornar um dos aviões mais populares da época, se notabilizando ainda por integrar a estrutura de aeronaves do contingente do famoso explorador Richard E. Byrd, em sua expedição  ao Polo Sul entre os anos de 1928 e 1929. Seu primeiro contrato governamental seria firmado em 1935, quando a empresa seria selecionada pelo ministério da agricultura dos Estado Unidos para o desenvolvimento de pesquisas baseadas em fotografias aéreas para rastrear e mapear a erosão do solo e seus efeitos. Neste mesmo período a empresa passaria a ser conhecida também como Fairchild Aircraft Manufacturing Company. 

Apesar de deter boa participação no mercado civil norte-americano principalmente no segmento de aeronaves de treinamento básico, sua participação no meio militar ainda era inexpressiva, se limitando apenas ao fornecimento de componentes básicos para outro fabricantes que produziam aeronaves militares para a marinha e o exército. Neste contexto a oportunidade perfeita se materializaria em fins da década de 1930,  com a efervescência do crescimento da importância arma aérea junto as forças armadas norte-americanas. Neste período o treinamento básico dos futuros pilotos do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), era praticamente realizado fazendo uso somente dos biplanos Boeing PT-17 Stearman.  Aeronave esta que apesar de apresentar uma configuração antiquada, oferecia comandos dóceis e facilidade de pilotagem, não forçando assim os cadetes a desenvolver suas melhores habilidades em voo, o que futuramente lhes seriam exigidas quando da operação de modernas aeronaves de combate de grande desempenho.  Com a finalidade de sanar esta preocupante deficiência, em 1939 o comando da aviação Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), decidiria pela substituição dos seus já obsoletos biplanos de treinamento básico. Uma concorrência seria aberta em fins deste mesmo ano, prevendo o desenvolvimento de um monomotor monoplano de asa baixa, que deveria apresentar aos futuros pilotos, diversos níveis de aprendizagem, que permitissem assim forjar suas melhores habilidades de pilotagem. Obrigatoriamente a nova aeronave deveria ainda possuir obrigatoriamente baixos custos de manutenção e operação. Oito empresas de construção aeronáuticas norte-americanas responderiam a este chamando, apresentando dezoito propostas de modelos de aeronaves de treinamento, entre estes concorrentes, estava a Fairchild Aircraft Manufacturing Company, com seu modelo M-62. Esta aeronave fora desenvolvida com recursos próprios da companhia, com seus estudos preliminares sendo iniciados no ano de 1933, capitaneados pelo engenheiro chefe Armand Thiebolt, entre uma das primícias básicas estava o emprego de componentes mecânicos intercambiáveis já existentes no mercado e materiais não estratégicos. Seu primeiro protótipo já havia alçado voo em  15 de maio de 1939, propulsado por um motor Motor Fairchild Ranger L-440 com 175 cv de potência, a partir das instalações da empresa em Hagerstown, Maryland. 
Todos estes concorrentes seriam submetidos a um extensivo programa de avaliação comparativos e ensaios em voo, com a decisão final pendendo para a escolha do modelo M-62 da Fairchild Aircraft Manufacturing Company. Esta nova aeronave de dois lugares apresentava disposição dos assentos em tandem, com cockpit aberto, apresentando a moderna configuração monoplano de asa baixa cantiléver, com trem de pouso fixo e design do volante de cauda. Seu projeto de construção simples, porém robusta, incluía uma fuselagem composta por tubos de aço soldado coberto de tecido, com as demais aéreas da aeronave fazendo uso de compensados em madeira, com uma seção central revestida de compensado, painéis de asa externos e montagem da cauda. O emprego do motor em linha invertido Ranger L-440-3 de 175 HP, permitiria uma área frontal estreita, proporcionando ao aluno e instrutor uma excelente visibilidade, enquanto seu trem de pouso fixo e amplamente separado permitia um manuseio em solo sólido e estável facilitando o processo de treinamento em solo. Em 22 de setembro de 1939, seria celebrado o primeiro contrato entre a Fairchild Aircraft Manufacturing Company e o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) prevendo a compra de duzentas e setenta aeronaves. Devido ao alto emprego de madeira na estrutura da aeronave, este acordo envolvia a subcontratação de vinte e sete empresas ligadas a este tipo de manufatura como fábricas e lojas de móveis e uma fundição para os componentes metálicos. As primeiras células começariam a ser entregues a escola de aviação militar do Exército dos Estados Unidos (US Army) a partir de meados de 1940, onde receberia a designação milita de PT-19. Rapidamente o modelo conquistaria a simpatia de instrutores e alunos das organizações responsáveis pela formação dos novos pilotos, levando assim a intenção pela formalização de encomendas de mais aeronaves. No entanto o intensificar do conflito na Europa, e as ameaças do expansionismo japonês no sudeste asiático, urgenciando acelerar os processos de fortalecimento das forças armadas norte-americanas. Neste cenário o poder aéreo seria fundamental, o que aumentaria a necessidade de formação de mais pilotos militares, o que levaria em janeiro de 1941, a celebração de um contrato emergencial prevendo a produção de mais de três mil aeronaves na versão PT-19A, agora equipadas com o novo motor Ranger L-440-3 de 200 hp de potência. 

A capacidade industrial instalada da Fairchild Aircraft Manufacturing Company não estava apta para o atendimento do cronograma de entregas previsto, sendo decidido então licenciar a produção da aeronave para as empresas Howard Aircraft Corporation, St. Louis Aircraft Corporation, Aeronca Aircraft e pôr fim a empresa canadense Fleet Aircraft. A necessidade de se treinar os pilotos para voo por instrumentos, levaria a conversão de seis aeronaves na linha de produção incorporando uma cobertura do tipo capota, de lona, que podia ser puxada sobre a cabine da frente permitindo que o cadete realizasse o voo completamente às cegas e somente por instrumentos. Essa nova versão passaria a ser denominada PT-19B e seu desempenho satisfatório levaria a sua produção em série, junto Fairchild Aircraft Manufacturing Company e a Aeronca Aircraft, totalizando novecentas células. Geralmente confunde-se o PT-19B para treinamento de voo por instrumentos, com o modelo PT-26, uma versão exclusiva para as Forças Armadas Canadenses, que possuía cabine de pilotagem (cockpit) totalmente fechada, que tinha por finalidade   proporcionar mais conforto para os tripulantes, muito em função das condições climáticas daquele país. Quando a curva de produção das células superou a produção dos motores, a equipe de projeto da empresa desenvolveria a versão PT-23, que passava a ser equipada com um motor radial Continental R-670 de 220 hp. Ao todo seriam produzidos oitocentos e sessenta e nove PT-23 e  duzentos e cinquenta do PT-23A (versão para treinamento por instrumentos), pelas linhas de montagem de todas as companhias originalmente envolvidas no programa de construção da família de aeronaves PT-19.Durante  o ano de 1943, o Comando de Treinamento da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) receberia uma série de reclamações sobre problemas de durabilidade com as asas de compensado do PT-19 e do PT-23 quando expostos ao alto calor ou umidade das bases de treinamento localizadas no Texas e na Flórida. Como solução paliativa seriam substituídas as seções da asa de madeira após apenas dois a três meses de serviço ativo por causa da podridão da madeira e problemas de separação de camadas.   
Comparado aos antigos treinadores biplanos anteriores, o Fairchild PT-19 pode ser considerado um divisor de águas, pois pela primeira vez no estágio de treinamento básico os cadetes tinham acesso a uma aeronave de bom desempenho em altas velocidades e o carregamento das asas aproximava-se mais do das aeronaves de combate, com as características de voo exigindo mais precisão e cuidado, resultando assim na formação das habilidades e melhor rendimento dos alunos.  Desta maneira ao longo do conflito, o PT-19 realmente faria jus ao seu apelido, o "Berço dos Heróis". Suas principais virtudes estavam baseadas em sua simplicidade, baixo custo de aquisição e operação além de confiabilidade e segurança em voo. Vale citar que os Fairchild PT-19 foram a principal aeronave de treinamento das Mulheres Pilotos de Serviço da Força Aérea - WASP (Women's Airforce Service Pilots), organizações civis destinadas especificamente a formação de aviadoras, principalmente entre os anos de 1942 a 1944, liberando assim os homens para atuar nas missões de combate. Suas características positivas como treinador básico seriam notadas por outros países, sendo inclusive produzido sob licença no Canada e Brasil, com o objetivo de se desafogar as linhas de produção norte-americanas durante o conflito. Ao todo seriam entregues 7.742 unidades dispostas em dez versões, que seriam empregadas pelas forças aéreas dos. Estados Unidos, Canada, Brasil, Chile, China, Colômbia, Equador, Haiti, Índia, México, Nicarágua, Noruega, Paraguai, Peru, Filipinas, África do Sul, Rodésia, Reino Unido, Venezuela e Uruguai. Mesmo após sua aposentadoria no final da década de 1940, um número substancial encontraria seu caminho no meio civil, atualmente existem ainda centenas de aeronaves em condições de voo sendo mantidas por museus ou colecionadores. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, com o envio de um contingente militar para atuação no front europeu. 

No que tange a arma aérea, a recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização, pois dispunha em sua frota aeronaves já obsoletas, carecendo inclusive de aeronaves de treinamento básico e avançado, o que não lhe permitir formar quantitativamente e qualitativamente pilotos militares, necessidade fundamental para a preparação de uma arma aérea forte e eficiente. Em termos de aeronaves de treinamento, estavam disponíveis limitadas quantidade de aeronaves dos modelos Stearman Boeing A75 - A76 e B76, De Havilland DH-60T Moth Trainer, De Havilland DH-82 Tiger Moth, Focke-Wulf FW-44J Stieglitz e pouquíssimas aeronaves modernas como os North American BT-9 e NA 72.  Este cenário começaria a ser revertido a partir de meados do ano de 1942, pois o programa de apoio militar norte-americano previa a entrega de grandes quantidades de aeronaves de treinamento básico e avançado, que seriam fornecidos em lotes. Neste pacote inicial estavam dispostas cem células novas de fábrica do modelo Fairchild PT-19 Cornell, que deveriam ser empregados em tarefas de instrução básica. Já o o desafio de trazer estas aeronaves ao Brasil seria de grande complexibilidade, pois o intensificar da batalha do Atlântico com a crescente ameaça dos submarinos alemães e italianos, neste período inviabilizava o transporte das aeronaves desmontadas por via marítima. Seria então decidido que todas as aeronaves seriam trazidas em voo, dos Estados Unidos desde a sede do fabricante até o Brasil, por oficiais da Força Aérea Brasileira. Sem dúvida, isso significava que tais oficiais iriam cumprir uma missão do mais alto risco. Na década de 1940, existiam poucos campos de pouso na América Central e na região norte da América do Sul. Auxílios-rádio à navegação e infraestrutura de apoio logístico e de manutenção, então, eram praticamente inexistentes. Além disto a aeronave por ser destinada ao treinamento primário não era apropriada para uma viagem tão longa e perigosa, pois além de serem construídos em madeira, os Fairchild PT-19 Cornell apresentavam cockpits abertos e desconfortáveis, com este fato agravado por sua pequena autonomia. Estas restrições seriam agravadas ainda pequena autonomia, e como fator complicador, seu motor ranger L-440, de seis cilindros invertidos consumia grande quantidade de óleo lubrificante, e este item poderia ser realmente escasso em termos de reabastecimento durante a jornada devido à falta de infraestrutura aeroportuária citada anteriormente. 
Assim os aviões, recebidos na fábrica na cidade de em Hagerstown, Maryland, eram geralmente reunidos em grupos de cinco aeronaves, cada uma das quais pilotada por um único oficial aviador. Na nacele dianteira, seria instalado um tanque suplementar de combustível, para aumentar o alcance do pequeno avião. Para cada uma das primeiras esquadrilhas, era incorporado um avião Fairchild UC-61, monomotor de asa alta e com capacidade de quatro tripulantes. Nesse avião, viajavam o comandante da esquadrilha, o sargento mecânico e um piloto reserva. A quantidade de bagagem que cada avião trazia era mínima, devido à necessidade de se trazer várias latas de óleo lubrificante para os Ranger L-440. Entre julho e agosto de 1942, trinta Fairchild PT-19 foram trazidos em voo, desde Hagerstown até o Campo dos Afonsos, através da América Central continental e do litoral da América do Sul, pois era praticamente impossível, naquela época, sobrevoar a região Amazônica pelo interior. Essas primeiras esquadrilhas fizeram um voo realmente épico. Como o Brasil já estava praticamente às portas da guerra, não havia como esperar que a época das chuvas passasse. As condições meteorológicas, eram horríveis. Enquanto as aeronaves voavam acima do território dos Estados Unidos, o ar era quente e seco, e a névoa seca dominava amplas regiões. A partir da América Central, o ar era sempre muito úmido, com formação frequente de Cbs (cumulus nimbus) e muitas pancadas de chuva, até o Rio de Janeiro. Os pilotos voavam com capacetes de couro e óculos, nos cockpits abertos. Nos Estados Unidos, era possível obter-se previsões meteorológicas da etapa seguinte, mas do México e  da América Central em diante, os pilotos decolavam sem ter a menor ideia das condições que iriam enfrentar. Os campos de pouso eram distantes entre si, e havia poucos campos intermediários de apoio. Na maioria dos casos, depois de percorrida metade da distância em cada etapa, era impossível voltar, e o avião tinha que seguir em frente obrigatoriamente, pois não havia combustível suficiente para o regresso. Já os oficiais do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), ao tomarem conhecimento da intenção dos pilotos brasileiros de levarem os Fairchild PT-19 em voo para o Brasil, fizeram sombrias previsões de que pelo menos 40% dos aviões ficariam pelo caminho, pois as condições eram imprevisíveis e as  aeronaves não eram dimensionadas para este tipo de deslocamento de longa distância. 

Embora o risco da viagem fosse óbvio, houve problemas de diversa ordem, com várias aeronaves realizando pousos emergências em praias, à espera de condições meteorológicas mais favoráveis. Apesar de todos os prognósticos negativos, só houve uma perda de vida em todas as viagens durante esta megaoperação de translado aéreo: o Primeiro-Tenente Aviador QO Auxiliar Kenneth Lindsay Molineaux, acidentou-se com o seu Fairchild PT-19 quando sobrevoava o Território do Amapá, sob forte chuva. O seu avião chocou-se com as árvores, sendo totalmente destruído. Além dessa aeronave, houve somente mais duas perdas de aviões Fairchild PT-19, mas ambos os pilotos sobreviveram. Isso dá um índice de perda de menos de 3 % do total de cento e seis aeronaves, que foram transladadas em voo dos Estados Unidos ao Brasil, durante toda a Segunda Guerra Mundial. Os motores Ranger L-440 por sua vez, revelaram-se extremamente confiáveis, ocorrendo relativamente, pouca incidência de panes de motor. As perdas de outros tipos de aeronaves em outros traslados seriam ainda menores, furando as terríveis previsões iniciais dos oficiais norte-americanos. Esses primeiros voos eram feitos em 46 etapas, da fábrica até os Afonsos: Hagerstown, Washington, Greensboro, Atlanta, Mobile, New Orleans, Beaumont, San Antonio, Brownsville, Tampico (México), Vera Cruz, Minatitlan, Tapacula, El Salvador, Manágua (Nicarágua), San Jose da Costa Rica, Golfito, David, Rio Hato, Turbo (Colômbia), Barranquilha, Maracaibo (Venezuela), Coro, La Guaíra, Barcelona, Ciudad Bolivar, Tumereno, Georgetown (Guiana Inglesa), Panamaribo (Guiana Holandesa), Caiena (Guiana Francesa), Oiapoque (Brasil), Amapá, Macapá, Belém, Bragança, São Luiz, Parnaíba, Fortaleza, Mossoró, Natal, Recife, Maceió, Salvador, Ilhéus, Caravelas, Vitória, e, finalmente, Rio de Janeiro (Campo dos Afonsos). Essas etapas eram cumpridas, normalmente, com 110 horas de voo, quinze mil quilometros, percorridos e em 25 dias de missão. A partir de 1943, a viagem ficou mais curta, pois todos os aviões destinados ao Brasil passaram a ser entregues em Kelly Field, em San Antonio, Texas. Logo da chegada das primeiras esquadrilhas, os Fairchild PT-19 Cornell foram direcionados a Escola de Aeronáutica (EAer) baseada no Campo dos Afonsos na cidade do Rio de Janeiro, onde passariam a ser empregados no estágio básico de treinamento dos futuros pilotos da Força Aérea Brasileira, substituindo de imediato as antigas aeronaves herdadas a Aviação Militar e da Aviação Naval. 
A exemplo do ocorrido junto as instituições de ensino do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), os treinadores Fairchild PT-19 longo conquistou a confiança de alunos e instrutores brasileiros, despertando assim o interesse do Ministério da Aeronáutica (MAer) na aquisição de mais células da aeronave. Negociações sobre este tema junto ao governo norte-americano, resultariam na obtenção de uma licença para a produção desta aeronave no país, com este programa sendo direcionado as instalações da Fábrica do Galeão no Rio de Janeiro. Este programa incluía vinte aeronaves pré-série a serem montadas no país com componentes totalmente importados, já os lotes subsequentes passariam a adotar gradativamente um maior conteúdo nacional, objetivando a exceção do motor Ranger L-440, perfazer o maior percentual de itens produzidos no país. Após ajustes de ferramental e processos, sua produção teria início em 1944, com este programa se estendendo até meados do ano de 1947 sendo entregues duzentas e trinta e quatro aeronaves que foram designadas localmente como 3-FG (modelo 3 Fábrica do Galeão). Uma solução local seria implementada nos anos seguintes, com a adoção de uma cabine fechada, com estas células sendo designadas como T-19. Ao longo de toda sua carreira, os Fairchild PT-19 e PT-3FG seriam responsáveis pela formação de mais de dois mil e quinhentos pilotos brasileiros, mas em meados da década de 1950 ficava clara a necessidade de substituição da aeronave por modelos mais modernos. Esta demanda levaria a criação de um programa de produção sob licença de um novo treinador primário,  que resultaria no contrato para a produção do modelos holandeses  Fokker S.11 e S.12. O avançar deste projeto determinaria  a partir de 1956, o início de um processo de retirada gradual dos Fairchild PT-19, que seria encerrado em 1963, neste momento as células me melhor estado de conservação seriam transferidas para o Departamento de Aviação Civil (DAC) a fim de serem doadas a aeroclubes espalhados pelo país. Cabe ao Fairchild PT-19 e PT-3FG  a marca de ser a aeronave militar empregada em maior número na Força Aérea Brasileira, atingindo a cifra de quatrocentas e quatro células incorporadas. 

Em Escala.
Para representarmos o Fairchild PT-19B "FAB 0310" pertencente a Escola de Aeronáutica (EAer), fizemos uso do kit em resina na escala 1/48 do fabricante GIIC Models. Modelo este que apresenta facilidade de montagem e opções de detalhamentos interessantes, procedemos como alteração apenas a inclusão dos tripulantes. Empregamos decais confeccionados pela GIIC Models, com numerais que permitem montar três aeronaves. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o  segundo padrão de aeronaves de instrução empregadas pela Escola de Aeronáutica (EAer), salientando que as primeiras células recebidas ostentavam  um padrão de pintura em metal natural. Ja todas as aeronaves produzidas no Brasil receberam este esquema de pintura. Registros fotográficos apresentam pequenas alterações neste padrão, como a inclusão de identificação numérica de esquadrilhas de adestramento e  marcações tipo "Shark Mouth" (bocas de tubarão).




Bibliografia :

- Fairchild PT-19 - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Fairchild_PT-19
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha- http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras  1916 – 2015 Jackson Flores Jr
- Fairchild  M-62 Cornell | Fábrica do Galeão – Brasil - https://www2.fab.mil.br/musal/
- A grande epopéia dos PT-19 - https://culturaaeronautica.blogspot.com/2010/12/grande-epopeia-dos-pt-19-da-fab-25-dias.html