Vultee BT-15 Valiant

História e Desenvolvimento.
Os empreendedores norte-americanos Gerard "Jerry" Freebairn Vultee (1900-1938) e Vance Breese (1904-1973) fundariam em abril de 1932 na cidade de Los Angeles, Califórnia, uma nova indústria aeronáutica, a Airplane Development Corporation. Neste contexto "Jerry", detinha larga experiencia no segmento, após participar por algum tempo como engenheiro aeronáutico estrutural na Douglas Aircraft, da equipe do renomado projetista John Knudsen "Jack" Northrop, na Douglas Aircraft Company.  Seu primeiro projeto comercialmente viável, o Vultee V-1, uma aeronave monoplano de asa baixa e produzido inteiramente de metal, com um trem de pouso com bequilha retrátil, seria concebido para o transporte executivo para até oito passageiros. Seu primeiro protótipo, alçaria voo em 19 de fevereiro de 1933 e despertaria um grande interesse por parte da direção executiva da empresa de transporte aérea American Airlines. Os resultados amostrados em seu programa de ensaios de voo se mostrariam extremamente promissor, inclusive registrando recordes de velocidade e autonomia. Logo em seguida, como esperado a American Airlines se tornaria seu primeiro usuário operacional, resultando em um contrato para a compra de quatorze aeronaves, que seriam empregadas em rotas domésticas. A empresa de transporte aéreo regional Bowen Airlines do Texas, se tornaria o segundo cliente do modelo. Apesar deste excelente início comercial, suas futuras projeções de vendas seriam, no entanto, impactadas por novas regulamentações impostas pela autoridade aeronáutica civil norte-americana que obrigaria o emprego de apenas aeronaves com dois motores em rotas regulares de transporte de passageiros. Isto limitaria as vendas deste modelo de aeronave, sendo produzidos pela Airplane Development Corporation, apenas vinte e sete aeronaves. Em 1934 uma nova legislação a "Lei do Correio Aéreo" demandaria uma série de reestruturação no meio aeronáutico norte-americano, levando em 30 de novembro do mesmo ano, ao estabelecimento da  Aviation Manufacturing Corporation (AMC), através da aquisição das participações da Cord, incluindo a Vultee's Airplane Development Corporation. Logo em seguida no dia 1 de janeiro de 1936 a Aviation Manufacturing Corporation seria liquidada, levando a formação da Vultee Aircraft Division, que passaria a ser uma subsidiária autônoma. Neste mesmo período, sete aeronaves que anteriormente pertenceram a American Airlines e outras oito células (adquiridas pelo governo espanhol para tarefas de transporte) seriam empregadas pelas forças republicanas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), com quatro aeronaves Vultee V-1 sendo capturados e operados também pelas forças nacionalistas.  

Este inusitado emprego militar em um ambiente de guerra moderna, despertaria a diretoria da empresa, o vislumbre de um novo e promissor nicho de mercado, levando assim a Vultee Aircraft Division,  a iniciar o desenvolvimento de uma versão militar do modelo V-1. Apesar das restrições operacionais existentes neste período, quanto ao emprego de aeronaves monomotoras para emprego em tarefas bombardeio, seria decidido levar adiante este ousado projeto. Esta nova aeronave estaria equipada com um motor radial Wrigth Cyclone SR 1830-F53 com 750 hp de potência, que conservava as excelentes características de desempenhos vistas no modelo comercial V-1. Este modelo receberia a designação de Vultee V-11, e além de empregar o mesmo motor, faria uso também do trem de pouso e estrutura alar de seu antecessor civil, com as demais partes e componentes, sendo desenvolvidas para esta nova aeronave. Seu principal emprego se destinaria a missões de bombardeio de mergulho (picado), podendo ser também utilizado como como treinador avançado. Apesar de um início promissor como aeronave de ataque conquistando contratos de exportação, suas vendas não superariam a casa das duzentas células, porém aproximaria a empresa ao comando do Corpo Aéreo dos Estados Unidos (USAAC), o que se mostraria extremamente interessante para as futuras oportunidades de negócios. Uma nova oportunidade se descortinaria no final da década de 1930, quando seria diagnosticado carências no processo de formação dos novos pilotos militares norte-americanos. Este programa era composto por três fases de instrução, com a primeira destinada ao treinamento primário, fazendo uso dos confiáveis biplanos Boeing PT-17 Stearman, após esta fase os cadetes evoluiriam para a instrução junto aos monoplanos Fairchild PT-19, com o treinamento avançado sendo realizado nos modernos North American T-6 Texan para formação monomotor e os Cessna T-50 Bobcat e Beerchcraft AT-17 para formação multimotor. Seu ponto falho estava na fase intermediaria, pois os Fairchild PT-19 não preenchiam plenamente os critérios estipulados para este processo. No intuito de se buscar uma solução a esta demanda, em setembro de 1938, o comando do Corpo Aéreo dos Estados Unidos (USAAC) lançaria uma concorrência para o desenvolvimento de um novo treinador intermediário. 
Ao receber o convite para este processo, a diretoria da Vultee Aircraft Company, decidiria por aproveitar e adaptar um projeto existente em seu portifólio que ainda se encontrava em fase final de desenvolvimento. Esta aeronave teve sua concepção iniciada anteriormente, estando sob a tutela de Richard Palmer (chefe de engenharia da empresa), e seria concebida inicialmente como uma moderna aeronave de caça e ataque a solo. Adaptações seriam implementas em seu escopo original, nascendo assim o modelo Vultee V-51, sendo apresentado na forma de uma interessante proposta técnica e comercial. A aeronave se classificaria entre os finalistas desta concorrência, recebendo um contrato para a produção de um protótipo, que receberia a designação militar de V-51. Seu primeiro voo seria realizado no dia 24 de março de 1939, e apesar de se mostrar tecnicamente superior aos seus concorrentes. Apresentava como diferenciais o motor radial Pratt & Whitney R-1340-S3H1-G Wasp de 600 hp (447 kW) de potência , uma hélice de metal de passo variável com duas pás e sistemas de trem de pouso retrátil e flaps operados hidraulicamente. Porém todos estes atributos o tornavam muito caro e complexo para operação, sendo considerado pelos militares como inadequado para o treinamento objetivado por este programa. Neste momento seria declarado como vencedor o modelo North American BC-2, que presentava uma melhor relação de custo-benefício, no entanto esta decisão não representaria uma derrota total para a empresa, pois o comando do Corpo Aéreo dos Estados Unidos (USAAC), optaria por adquirir o protótipo Vultee BC-51, para assim ser empregados em um novo programa de desenvolvimento de aeronaves.  Este movimento colaboraria com a visão da equipe de projetos da Vultee Aircraft Corporation, vislumbrava um grande potencial comercial na aeronave e solicitou a direção a empresa a permissão e recursos para continuar o desenvolvimento do projeto. O principal objetivo era o de buscar a simplificação do modelo, resultando em um custo final de aquisição próximo a seus principais concorrentes, descortinando assim também sua possibilidade de exportação. Assim então seria definido por suprimir todos os sistemas considerados superficiais ou inovadores em demasia.    

Assim seria desenvolvido o novo modelo Vultee VF-54 destinado principalmente ao mercado de exportação, que empregava o mesmo design da versão anterior BC-51, apresentando agora um trem de pouso fixo, sistemas de flaps acionados através de comandos mecânicos, e por fim um motor radial mais conservador, o  Pratt & Whitney R-985-25 de 450 hp de potência.  Mantinha, ainda como diferencial, sua estrutura e fuselagem metálica com a superfície dos comandos entelada, naceles cobertas dispostas em tandem com comandos duplicados, equipamento de rádio e possibilidade de instalação de sistemas para voo noturno e por instrumentos.  O grande trunfo da aeronave, no entanto estava baseada em seu excelente custo de aquisição, aliado a uma expectativa de robustez com baixo custo de operação e manutenção. Infelizmente o modelo não conquistaria nenhum contrato de exportação, levando a diretoria da empresa a nortear seus esforços para o mercado doméstico, desta medida nasceria o modelo  Vultee VF-54A. Este modelo com seu protótipo seria apresentado ao comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em agosto de 1939. Sua nova performance de voo e a promessa de uma excelente relação de custo-benefício operacional, agradariam ao comando militar norte-americano levando a sua rápida aceitação. Esta decisão seria profundamente influenciada pelo intensificar do conflito na Europa, e pelas ameaças do expansionismo japonês no sudeste asiático, levando assim a necessidade de se acelerar os processos de fortalecimento das forças armadas norte-americanas, e neste cenário o poder aéreo seria fundamental, o que aumentaria a necessidade de formação de mais pilotos militares. Assim desta maneira em janeiro de 1940, seria celebrado um primeiro contrato prevendo a aquisição de trezentas células do novo treinador, que receberia agora a designação militar BT-13.  As primeiras células passariam a ser entregues a partir de junho de 1940, com seu desempenho sendo extremamente elogiado por seus instrutores e cadetes, apesar disto melhorias seriam sugeridas, resultando na versão BT-13A, que receberia um novo contrato, agora englobando mais de seis mil células. 
Paralelamente a aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), faria a opção pela incorporação da aeronave, concretizando a seguir um contrato com a  Vultee Aircraft Corporation para a aquisição de mais de mil células do modelo BT-13, sob a designação SNV-1 e seiscentos e cinquenta unidades do BT-13A sob a designação de SNV-2. Em meados do ano de 1940 seria desenvolvida a versão BT-13B que apresentava uma modificação em seu sistema elétrico, fazendo uso da tensão agora de 24 volts ao invés dos 12 volts dos modelos anteriores, resultando em mais de mil aeronaves produzidas. No segundo semestre de 1941, o fabricante de motores Pratt & Whitney Company atingiria sua capacidade máxima de produção, com suas linhas não conseguindo atender a crescente demanda por parte do esforço de guerra aliado. Desta maneira a fim de atender aos contratos vigentes, a equipe de engenharia da companhia procederia alterações no projeto original, permitindo assim a aeronave a operar com motor radial  Wright R-975-11 com 450 hp de potência. Esta nova versão receberia a designação de Vultee BT-15, recebendo encomendas superior a mil e seiscentas células, sendo destinadas principalmente a países aliados dos Estados Unidos. Ao todo, até o novembro do  do ano de 1944 seriam entregues mais de onze mil e quinhentas aeronaves de todas as versões, com o modelo passando a ser item importante no programa de ajuda militar Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Logo após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, todas as células remanescentes em serviço nas forças armadas norte-americanas seriam retiradas do serviço ativo, com grande parte da frota sendo sucateada para o aproveitamento no motor e de matéria prima. Centenas de células seriam cedidas a nações alinhadas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, com muitas destas permanecendo em operação até o início da década de 1960. Além de seu país de origem os Vultee BT-13 e BT-15 seriam operados pela Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Equador, Egito, El Salvador, França, Guatemala, Haiti, Honduras, Israel, Indonésia, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Taiwan, União Soviética e Venezuela. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, com o envio de um contingente militar para atuação no front europeu. 

No que tange a  recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização, pois dispunha em sua frota aeronaves já obsoletas, carecendo inclusive de aeronaves de treinamento básico e avançado, o que não lhe permitir formar quantitativamente e qualitativamente pilotos militares, necessidade fundamental para a preparação de uma arma aérea forte e eficiente. Em termos de aeronaves de treinamento, estavam disponíveis limitadas quantidade de aeronaves dos modelos Stearman Boeing A75 - A76 e B76, De Havilland DH-60T Moth Trainer, De Havilland DH-82 Tiger Moth, Focke-Wulf FW-44J Stieglitz e pouquíssimas aeronaves modernas como os North American BT-9 e NA 72.  Este cenário começaria a ser revertido a partir de meados do ano de 1942, pois o programa de apoio militar norte-americano previa a entrega de grandes quantidades de aeronaves de treinamento básico e avançado, que seriam fornecidos em lotes. Neste pacote inicial estavam dispostas cem células novas de fábrica do modelo Fairchild PT-19 Cornell, que deveriam ser empregados em tarefas de instrução básica. Os primeiros dez treinadores avançados a serem recebidos, os North American AT-6B seriam, no entanto, concentrados ao Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), onde seriam destinados ao estágio final de formação dos pilotos brasileiros, porém em face ao cenário de necessidade de se prover uma cobertura eficiente em tarefas de patrulha costeira seriam desviados de das atividades de treinamento. Ficava ainda a lacuna para o treinamento no estágio avançado dos novos pilotos militares brasileiros, que passaria a ser amenizada em agosto de 1941, quando seria determinado a cessão de cento e vinte e duas células do modelo Vultee BT-15 Valiant. Devido as ameaças de ataques a comboios de navios de carga por parte dos submarinos do Eixo, seria determinado que todas as aeronaves fossem transladas em voo dos Estados Unidos, o que seria considerado um feito notável para a época, principalmente porque os pilotos brasileiros eram recém-formados nos Estados Unidos e tinham poucas horas de voo de experiência, principalmente em missões de grande deslocamento. Assim, a partir de dezembro de 1941, março e abril de 1942 seriam transladados até o Rio de Janeiro, cinquenta e uma aeronaves, constituindo de pequenas esquadrilhas, normalmente apoiadas por uma aeronave de maior porte. No ano de 1943 seriam recebidos mais sessenta e oito aviões, com os últimos dois chegando a Base Aérea de Santa Cruz,  em maio de 1945. 
As primeiras aeronaves recebidas no Brasil, ainda ostentavam as cores, cocares e números de registro do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com a fuselagem em azul marinho e as asas e profundores em amarelo. Já o lote recebido em 1943 já seria recebido com as cores da  Força Aérea Brasileira, com a aeronave toda em alumínio brilhante com as matrículas no estilo FAB 01 a FAB 122. A Escola de Aeronáutica (EAer), sediada no Campo dos Afonsos na cidade do Rio de Janeiro, organização responsável pela formação dos pilotos na Aeronáutica, seria a primeira unidade a receber os novos aviões, destinando-os para instrução básica dos cadetes e também treinamento por instrumentos. Com a incorporação destas nova aeronaves, os três grupamentos do CPOR (Curso de Preparação de Oficiais da Reserva) sediados no Rio de Janeiro; o II GT CPOR (Galeao), III GT CPOR, em São Paulo (Cumbica); e o IV GT CPOR, em Canoas (RS); também seriam dotados com os novos Vultee BT-15 para a formação de pilotos da reserva. Como nos Estados Unidos, estes aviões seriam empregados no estágio intermediário de treinamento, atuando entre o período de instrução realizado nos Fairchild PT-19 empregados naquele momento na formação básica e os North American BT-9, NA 72 e AT-6 usados para a instrução avançada.  Em julho de 1945, de acordo com uma nova sistemática seriam alocadas a estas aeronaves as matrículas no sistema de quatro dígitos de FAB 1048 a 1166 e de FAB 1373 a 1375. Durante a Segunda Guerra Mundial os Vultee BT-15 Valiant tiveram participação fundamental na formação de pilotos militares no país. Com o final do conflito, o processo de formação de pilotos militares voltaria as demandas normais de tempos de paz, e estas aeronaves seriam retiradas do serviço ativo junto a Escola de Aeronáutica (EAer). A partir de 1946, os  Vulteezinhos, ou Vultee Perna Dura, como eram conhecidos os Vultee BT-15 para diferenciá-los do seu “irmão mais velho”, o Vultee V-11 GB2, ou Vulteezão), passariam a ser distribuídos a diversas bases aéreas onde passaram a equipar as Esquadrilhas de Adestramento, Quartéis-Generais de Zonas Aéreas e Parques de Aeronáutica, dentre outras unidades e organizações do Ministério da Aeronáutica (MAer). Neste novo contexto operacional, seriam empregados também em missões administrativas em proveito destas unidades e organizações militares.

A Escola Técnica de Aviação (ETAv), também receberia duas células deste modelo, com estas recebendo as matrículas de FAB 1374 e 1375, destinados a tarefas de instrução em solo para seus alunos. Em 28 de junho de 1949 uma terceira aeronave seria recebida, portando a matrícula FAB 1373, estas aeronaves seriam posteriormente transferidas a Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAr), sediada na cidade de Guaratinguetá no interior do estado de São Paulo. Uma destas células receberia um esquema de pintura diferenciando, ostentando a carenagem do motor na cor amarela, que representava uma característica das aeronaves do antigo Grupo Motopropulsor. A carreira dos Vultee BT-15 Valiant na Força Aérea Brasileira, seria marcada ainda por seu envolvimento no ousado projeto de produção nacional de motores aeronáuticos sob licença. Esta iniciativa seria concebida inicialmente no ano de 1939, quando o governo brasileiro decidido a formar seu parque industrial, fundou a Fábrica Nacional de Motores - FNM,  com o objetivo de produzir motores aeronáuticos para o atendimento da aviação militar e à nascente produção nacional de aviões para uso civil. Acordos seriam celebrados com o governo norte-americano resultando em um contrato para a produção local de motores radiais Curtiss-Wright R-975-11. Sob supervisão de técnicos do fabricante, esse processo seria conduzido a partir de 1942, porém devido ao conflito seria postergado pelos anos seguintes. Os trabalhos seriam recomeçados em 1946, com duas aeronaves deste modelo sendo cedidas pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), para serem empregados como banco de testes estático e em voo para os novos motores "nacionais" designados oficialmente como FNM R-975-11 de 450 hp. O Vultee BT-15 Valiant  "FAB 1082" seria escolhido para o programa de ensaios reais em condições normais de operação, com o primeiro voo da aeronave com o protótipo do motor ocorrendo em 19 de março de 1946. Após ser submetido a um completo programa de testes, seria autoriza a conversão de mais sete aeronaves, com as matrículas FAB 1052, 1072, 1080, 1083, 1127, 1144 e 1147, sendo equipados com os novos motores, testados e validados até meados do ano seguinte. No entanto neste momento o mercado de defesa mundial seria inundado uma grande oferta de aeronaves usadas, consideradas como excedentes de guerra, com preços extremamente baixos, o que eliminaria qualquer chance de exportação de seus motores aeronáuticos. Assim desta maneira este importante projeto seria prematuramente cancelado. 
No ano de 1951, tanto a aeronave quando seu motor radial Curtiss-Wright R-975-11, seriam declarados pela Diretoria e Material da Força Aérea Brasileira como parcialmente obsoletos, sendo iniciados estudos visando a implementação de um gradual programa de desativação. Por outro lado, a designação de BT-15 seria modificada para T-15 pela Portaria nº R2A4-521013 promulgado em 17 de outubro de 1952, com esta sistemática se mantendo até sua retirada do serviço militar. Em 20 de fevereiro de 1953, seis aeronaves (FAB 1059, 1060, 1090, 1123 e 1165) seriam entregues para a companhia de transporte aéreo Varig S/A, que seriam destinadas a instrução de pilotos comerciais junto a Varig Aéreo Esporte - EVAER. Em seguida cinco aeronaves Vultee T-15 (FAB 1049, 1063, 1076, 1112 e 1161) seriam transferidas agora para a Real (Redes Estaduais Aéreas Ltda), que também seriam destinados a sua escola de pilotos. Em 1957, a crônica falta de peças de reposição, o obsoletismo e o desgaste decorrente de sua intensa operação levariam a desativação dos Vultee T-15 na Força Aérea Brasileira, encerrando sua operação militar no país. Porém muitas células ainda dispunham de algum tempo de vida útil, sendo transferidos ao Departamento de Aviação Civil (DAC), que os distribuiria a diversos aeroclubes, onde se manteriam em operação até os anos de 1963 e 1964, quando foram então desativados para alienação para venda. Em 1 de setembro de 1964, as células remanescentes seriam leiloadas pelo então Parque de Aeronáutica de São Paulo (PASP), que era o parque apoiador da aeronave. O Vultte T-15 Valiant que mais tempo operou no Brasil, foi o FAB 1084, que se encontrava então no Centro Técnico da Aeronáutica (CTA), onde seria empregado até 21 de agosto de 1968, quando foi autorizada sua alienação para venda como sucata, encerrando sua carreira na Força Aérea Brasileira. Atualmente existem duas aeronaves preservadas no Brasil, sendo uma no Museu Aeroespacial (Musal) e uma no Museu Asas de m sonho da TAM na cidade de São Carlos no interior paulista. 

Em Escala.
Para representarmos o Vultee BT-15 Valiant  “FAB 110321” (número de série original norte-americano, alterado posteriormente) empregamos o excelente kit em resina na escala 1/48 produzido pela Planet Models. Apesar do modelo representar a versão BT-13, pode ser utilizado para a versão emprega ppela Força Aérea Brasileira, pois a diferença está localizada apenas em seu motor radial. Como não existe no mercado um set de decais específicos para o modelo quando em sua atuação na Força Aérea Brasileira, fizemos uso de decais oriundos de diversos sets confeccionados pela FCM Decais. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa padrão de pintura de aeronaves de treinamento do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com o qual as aeronaves  do primeiro lote foram recebidas a partir de 1942. As demais células recebidas a partir de 1943 apresentavam um esquema de pintura total e alumínio. Posteriormente logo após o termino da Segunda Guerra Mundial, as células receberam o esquema de aeronaves de instrução da Força Aérea Brasileira, mantendo este padrão até a sua desativação no ano 1957.



Bibliografia :

- Vultee BT-13 Valiant – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Vultee_BT-13_Valiant
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- BT-15 no Brasil Revista Asas Edição 81 Aparecido Camazano Alamino

Bell Model 205 UH-1D Huey

História e Desenvolvimento.
A Bell Helicopter Company uma divisão especializada na produção de helicópteros, teria suas origens fundamentadas no início da década de 1940, quando as forças armadas norte-americanas passariam a demonstrar interesse nos possíveis potenciais operacionais de aeronaves de asas rotativas. Uma proposta neste âmbito seria apresentada em 03 de setembro de 1941 pela diretoria da Bell Aircraft Company ao comando da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). Este programa receberia um pujante financiamento governamental, que envolvia inicialmente a produção de dois protótipos da aeronave, agora designada como Bell Model 30. Seu primeiro voo ocorreria no dia 26 de junho de 1943, e logo seria submetido a um extenso programa de ensaios e testes de voo. Os resultados obtidos deste processo serviriam para o desenvolvimento de uma aeronave aprimorada, que receberia a designação de Bell Model 47. Seu projeto logo despertaria o interesse das forças armadas norte-americanas, com este programa um novo orçamento governamental para seu desenvolvimento final. Assim em abril de 1945, seria estabelecida na sede da empresa em Forte Worth no estado do Texas, uma nova unidade de negócios dedicada a produção de helicópteros. O primeiro modelo Bell Model 47 de pré-produção alçaria voo no dia 8 de junho de 1945, com as primeiras versões militares, como o Bell  OH-13, entrando em serviço nas forças armadas norte-americanas em fins do ano seguinte. Durante a década seguinte a companhia registraria um grande sucesso comercial tanto no mercado civil quanto militar, com sua produção atingindo a casa de mais de cinco mil células. Durante a Guerra da Coréia (1950-1953) estas aeronaves seriam empregadas em larga escala no conflito, atuando em missões de ligação, observação e principalmente no transporte de feridos da linha de frente diretamente para os centros médicos de campanha, recebendo esta tarefa a denominação de MEDEVAC (Medical Evacuation – Evacuação Aero médica). Em 1952, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) identificaria a necessidade de um novo helicóptero para atuar em missões de Evacuação Médica, no intuito de suprir as deficiências dos primeiros modelos de asas rotativas empregados anteriormente. Umas das principais exigências desta concorrência, era que este novo helicóptero fosse propelido com rotor bipá acionado por turbina, substituindo assim o conceito de aeronaves de asas rotativas com motor a pistão, como o próprio Bell H-13 ou ainda os helicópteros de médio porte como o Sikorsky UH-34.  

Os parâmetros do projeto seriam revisados novamente em novembro de 1953, resultando no lançamento de uma concorrência nacional, que receberia propostas técnicas e comerciais de vinte fabricantes aeronáuticos.  Estudos comparativos seriam realizados, resultando em uma seleção de apenas dois potenciais projetos, sendo liberados recursos governamentais para a produção de seus respectivos protótipos. Desenvolvido com base nestes parâmetros, o primeiro protótipo do Bell XH-40 alçaria voo em 20 de outubro de 1956, sendo equipado com um rotor principal bipá semirrígido, acionado por uma única turbina Lycoming T53-L1, de 700 shp de potência. Assim em abril de 1954 seria iniciado um programa comparativo de testes entre os modelos Bell Model 204 e Kaman H-43, com modelo da Bell Helicopter Company sendo declarado vencedor em  23 de fevereiro de 1955. Com o modelo sendo designado como  XH-40 pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e XHU-1 pelo Exército dos Estados Unidos (US Army). Desta maneira seria celebrado um primeiro contrato, envolvendo a produção de três protótipos,  que deveriam ser empregados em um programa de desenvolvimento.  Os primeiros resultados obtidos após a realização de um novo programa de testes em voo, se mostrariam muito promissores, levando a contratação para a produção de mais três células da aeronave que apresentariam grandes modificações e melhorias, com estas sendo entregues e empregadas entre os anos de 1957 e 1959. Seu primeiro contrato de produção em série, acabaria sendo celebrado incialmente com o Exército dos Estados Unidos (US Army) em março de 1960, com o modelo recebendo a denominação militar de HU-1A, e o nome de batismo de  “Iroquis” em alusão as tribos indígenas do meio oeste dos Estados Unidos. No entanto ao longo dos anos seguintes este helicóptero se tornaria mais popularmente conhecido como “Huey”. Os primeiros helicópteros designados como HU-1A começariam a ser entregues a diversas unidades aviação do exército em janeiro de 1961, iniciando o processo de substituição dos modelos Sikorsky UH-34 e H-19D.  Já as versões especializadas na missão de evacuação aero médica MEDEVAC (Medical Evacuation) designadas como SHU-1A seriam alocadas junto a 101º Divisão Aerotransportada, a 82º Divisão Aerotransportada e ao 57º Destacamento Médico. Seu primeiro emprego em um cenário de conflagração real se daria em meados de 1964, durante as fases iniciais da participação norte-americana na guerra do Vietnã. Desta experiencia seriam identificadas algumas deficiências operacionais do helicóptero, entre esta sua insatisfatória potência nominal, o que limitava em muito seu emprego tático. 
Com vistas a atender a esta deficiência, seria adotado um motor turbo eixo mais robusto, o Lycoming T53-L-5 que chegava a proporcionar 960 shp de potência, nascia assim a versão Bell UH-1B. Esta modificação no grupo propulsor permitiria ainda estender as dimensões da fuselagem aumentando capacidade de transporte da aeronave para até sete soldados totalmente equipados ou quatro macas e um médico. A primeira aeronave de produção seria entregue em março de 1964, e neste interim seria decido também elevar uma grande parte das células produzidas anteriormente a esta nova versão. Apesar da significativa melhoria em desempenho apresentada, no entanto, o ciclo de aprimoramento da aeronave estava apenas começando. No segundo semestre do mesmo ano, o corpo técnico da aviação do Exército dos Estados Unidos (US Army), apresentaria ao fabricante, uma relação envolvendo inúmeras sugestões de opções de melhorias, com muitas destas demandadas da necessidade de se corrigir deficiências aerodinâmicas do modelo Bell UH-1B, apresentadas em sua versão especializada de plataforma de armas. Neste contexto, novamente o grupo propulsor seria alvo de estudos para melhoria de performance, com a aeronave passando a receber o motor um Lycoming  T53-L-11 com 1.100 shp de potência. Seria adotado também um novo desenho de cauda com estabilizador destinado a fornecer a energia necessária para elevar todos os sistemas de armas em uso ou em desenvolvimento. O aumento da potência e um rotor de diâmetro maior exigiram que os engenheiros da Bell Helicopter Company projetassem uma nova lança traseira de cauda, este componente passaria a incorporar uma aleta vertical de corda mais larga no pilão do rotor de cauda e elevadores sincronizados maiores.  Esta nova versão receberia a designação de UH-1C e seu novo sistema de rotor permitiria a aeronave dispor de velocidades de ar de cruzeiro mais altas, reduzindo incidência de estolagem de lâminas em retirada durante atividades de mergulho. Esta modificação ainda resultaria em uma melhor manobrabilidade e um ligeiro aumento de velocidade final.  Além de receber novas encomendas de produção a empresa seria agraciada ainda com contratos de atualização dos primeiros UH-1B para esta nova configuração. Apesar de satisfeitos com os resultados operacionais, os militares norte-americanos ainda almejavam por uma aeronave com maior capacidade de transporte de tropas, levando a apresentação formal desta demanda ao fabricante. Assim em atendimento a este pedido, o corpo técnico da empresa, optaria por estender em 104 cm a fuselagem da versão Bell UH-1C, passando a adotar portas maiores deslizantes com duas janelas, com esta variante passando a dispor de quinze assentos.   

O protótipo do novo modelo agora designado como Bell UH-1D, realizaria seu primeiro voo em 16 de agosto de 1965, e logo seria submetido a um completo programa de ensaios em voo, que resultaria em sua homologação operacional, validando sua produção em série. Desta maneira, em dezembro deste mesmo ano seria celebrado um contrato envolvendo a produção de duzentas células, com as primeiras aeronaves sendo entregues a partir de março de 1966, sendo destinadas as principais unidades de asas rotativas do Exército dos Estados Unidos (US Army). Neste contexto a seguir a aeronave também seria adotada pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps). A partir de meados de 1967, os novos Bell UH-1D começariam a ser empregados maciçamente no conflito do Vietnã, chegando a ser destacadas mais de três mil células do modelo, operando inclusive junto a Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Esta experiencia operacional iria consolidar uma nova doutrina operacional em aeronaves de asas rotativas, envolvendo desde missões de evacuação aero médica (MEDEVAC), busca e salvamento (SAR), assalto aéreo, transporte de tropas, apoio aéreo aproximado, comando, controle e até transporte de cargas. No entanto caberia ao modelo ser o difusor em definitivo do emprego de aeronaves de asas rotativas, como plataforma de ataque e apoio aproximado. Neste emprego estas aeronaves passariam a ser equipadas com um par de metralhadoras M-60D com calibre .50 instaladas nas portas laterais, duas metralhadoras M-60 de tiro frontal no casulo M-59, um canhão de 20 mm, lançadores de foguetes na guiados de 70 mm ou 40 mm ou ainda lançadores de misseis guiados por fio M-11 ou M-22. Nesta configuração armada, os Bell UH-1D seriam primordialmente empregados em missões de apoio aproximado, abrindo caminho e protegendo o desembarque das tropas aerotransportadas. Estas aeronaves seriam imortalizadas no imaginário popular neste perfil operacional, principalmente nos filmes e séries com a temática militar produzidos durante as décadas seguintes. Apesar de uma longa lista de qualidades e êxitos operacionais, ainda recaia sobre a aeronave problemas relacionados a potência, que continuavam a limitar o desempenho do Bell UH-1D. Novamente estudos seriam conduzidos pela equipe de engenharia da Bell Helicopter Company, resultando na adoção do novo modelo um novo modelo de motor, o  Lycoming T53-L-13 (LTC1K-4) que passava a oferecer 1.400 shp de potência ao helicóptero. Neste mesmo processo, o tubo de pitot seria transferido do nariz da aeronave para o teto da cabine, no intuito de se evitar danos durante as operações de pouso em terrenos de difícil acesso. 
Estas mudanças gerariam uma nova versão, que passaria a ser designada como Bell UH-1H, que além de apresentar maior potência, passava a dispor maior capacidade de transporte de carga útil. Neste momento a existência de muitas células da versão do Bell UH-1D em carga nas forças armadas norte-americanas, seria criado um programa de modernização elevando assim todas as aeronaves para o modelo UH-1H.  Até o ano de 1987, seriam produzidas mais de dezesseis mil células dispostas desta família de aeronaves, dispostas em várias versões, incluindo aeronaves montadas sob licença pelas empresas italiana Augusta Spa., alemã Dornier Flugzeugwerke e japonea Fuji Heavy Co. Apesar da excelente e longa folha de serviços, em meados da década de 1970 seria lançado pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), o programa “Sistema de Aeronave de Tático Utilitário e Transporte UTTAS” (Utility Tatical Transport Aircraft System), que visava desenvolver um substituto, que culminaria na criação do projeto Sikorsky S-70A Black Hawk. Estes novos helicópteros passariam a ser entregues na primeira metade da década de 1980, gerando assim uma grande quantidade de aeronaves excedentes do modelo Bell UH-1H, que passariam a ser disponibilizadas em programa de ajudas militar a diversos países como Argentina, Brasil, Alemanha, El Salvador, Israel, Líbano, Nova Zelândia, Filipinas, Rodésia, Espanha, Portugal e Yemen. Já no início do ano de 1989, o Exército dos Estados Unidos (US Army), daria início ao processo de retirada destas aeronaves das unidades de primeira linha, transferindo cerca de setecentas células para o emprego em tarefas de treinamento. Com os Bel UH-1H se mantendo em operação neste escopo de missão até o início do ano de 2005, quando foram substituídos pelos Eurocopeter UH-72 Lakota.  Junto a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) o modelo se manteria em operação até meados do ano de 2016 sendo totalmente substituídos pelos novos Sikorsky UH-60L Blackhawk. Atualmente somente o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), mantém em operação, algumas centenas de células da versão UH-1N. Muitas aeronaves do modelo UH-1H ainda se encontram em operação ao redor do mundo, porém dificilmente deverão estar se manter em uso ainda nos primeiros anos da década de 2030.   

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A utilização de aeronaves de asas rotativas na Força Aérea Brasileira, tem seu início durante o mês de março de 1952, quando seria celebrado o primeiro contrato junto a Bell Helicopter Company, para a aquisição de quatro células do modelo Bell Model 47 D1 H-13D. Estes helicópteros na época, representava a versão mais avançada da aeronave em produção, trazendo ao país o emprego de um modelo no estado da arte naquele momento. Apesar de comporem uma minúscula frota, estas aeronaves seriam empregadas em um variado leque de missões, como ligação, transporte especial (VIP) e busca e salvamento SAR (Searching and Rescue). Neste último pacote de missão podiam operar ainda no ambiente naval, tendo em vista que as células brasileiras vieram equipadas com kits especiais de flutuação, com este perfil de missão resultando na criação na força de um embrião doutrinário para a realização deste tipo de missão em todos os ambientes. Estes esforços seriam muito importantes, pois desde o ano de 1944 nosso país passava a ser signatário da "Convenção sobre Aviação Civil Internacional”, com os termos deste acordo determinando que o Brasil deveria dispor de uma completa infraestrutura especializada em missões de busca e salvamento – SAR (Searching and Rescue), para cobertura das áreas geográficas continentais e marítimas sob sua responsabilidade. Para atendimento a esta demanda, em 16 de novembro de 1950, o Ministério da Aeronáutica (MAer), procederia a criação oficial do "Serviço de Busca e Salvamento". Como braço aéreo deste serviço, seriam incorporadas aeronaves especializadas neste tipo de missão, como os quadrimotores Boeing SB-17G e os anfíbios bimotores  Consolidated PBY5A Catalina.  Apesar de serem aeronaves com grande raio de ação e capacidade de operação anfíbia, havia ainda uma lacuna a ser preenchida, a de aeronaves de asas rotativas, vetor considerado indispensável para o emprego com sucesso deste tipo de missão. Em 1958 seriam incorporadas quatro células do Sikorsky H-19D, passando assim a substituir os pequenos limitados Bell Model 47 D1 H-13D nas missões de busca e salvamento SAR (Searching and Rescue). Neste mesmo período seria criada primeira unidade brasileira a ser dedicada especial para este escopo de missão, o 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano, estabelecido em  6 de dezembro de 1957.

Ao longo dos anos seguintes os Sikorsky H-19D apresentariam destacado papel na consolidação da doutrina operacional das missões de busca e salvamento – SAR (Searching and Rescue) junto a Força Aérea Brasileira. No entanto seu limitado número de células e seu intensivo emprego, logo cobrariam um alto preço em termos de desgaste, reduzindo em muito a capacidade operacional da unidade. Neste contexto se fazia necessário a curto prazo, prover a aquisição de um novo vetor de asas rotativas para o leque de missões especializadas desenvolvidas pelo 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano. Paralelamente o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer)  passava a desenvolver estudos referentes a aquisição de modernas aeronaves de asas rotativas, que deveriam ser empregadas em missões de transporte de tropa, ligação e ataque. Assim nada mais natural, do que se buscar um modelo de helicóptero que pudesse em uma unica plataforma atender a todas estas finalidades, criando assim um vetor comum de asas rotativas na Força Aérea Brasileira. Desta maneira em meados do ano de 1965, uma concorrência internacional seria aberta pela Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA), visando a aquisição de uma nova aeronave de asas rotativas de médio porte, devendo obrigatoriamente ser equipada com motores turbo eixo. Diversas propostas seriam apresentadas, de destacando a oferecida pela empresa norte-americana Bell Helicopter Company, apresentando o Modelo 205, disposto na variante militar mais moderna, o  UH-1D Huey. Esta proposta englobava ainda soluções de financiamento e um pacote mais atrativo em termos de custo-benefício.  Tratativas seriam então realizadas, culminando em maio de 1964 na assinatura de um contrato para a aquisição de seis células novas de fábrica, especialmente configuradas para missões de busca e salvamento – SAR (Searching and Rescue) e evacuação aero médica (MEDVAC). Estas aeronaves seriam recebidas a partir de 1967, recebendo a designação de SH-1D e as matrículas de FAB 8530 a 8535, sendo destinadas ao 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano com sede na Base Aérea de São Paulo em Cumbica. Estes helicópteros seriam recebidos ostentado um padrão de pintura de alta visibilidade com atendendo as marcações internacionais padrão para este tipo de missão.
Os excelentes resultados operacionais, levariam em 1970 o Ministério da Aeronáutica (MAer)  a decidir pela aquisição de mais aeronaves, passando a incorporar mais mais oito células novas de fábrica do modelo Bell UH-1D que receberiam as matrículas FAB 8536 a 8542. Estas seriam destinadas a equipar os recém ativados 4º e 5º Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), atuando inicialmente em tarefas de transporte, ligação e reconhecimento, constituindo assim a doutrina inicial de operações desta aeronave.  Vale citar ainda a importante participação dos Bell UH-1D durante a realização do Projeto Radam (Projeto Radar da Amazônia, após 1975, Projeto Radam Brasil), apoiando como braço aéreo de asas rotativas este pioneiro esforço do governo brasileiro na década de 1970 para a pesquisa de recursos naturais, sendo organizado pelo Ministério de Minas e Energia através do Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM.  Apesar destas missões de transporte e apoio, o viés guerreiro dos Bell UH-1D  Huey começaria a tomar forma a partir de 1972 quando as equipagens do 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano passariam a serem adestradas no emprego da aeronave como plataforma de armas para missões de ataque. Com a formação da doutrina, os demais esquadrões de asas rotativas começariam a realizar missões de missões de Combate SAR (C-SAR), sendo armadas com metralhadoras de tiro frontal e lateral M-60 de 7,62mm e lançadores de foguetes não guiados. Este tipo de missão se manteria em operação, mesmo após a ativação do 1º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão “Falcão, 2º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão “Poti”, 5º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão “Pantera” e do 7º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão “Harpia”. Um dos principais fatores que motivaram a aquisição deste modelo de aeronave seria a necessidade de estruturação de uma força de Contra Insurgência (COIN), que teria como missão suportar as operações militares de campo do Exército Brasileiro. Neste contexto as forças militares brasileiras já operavam em operações de combate a focos de guerrilha comunista, principalmente na região da cidade de Registro no interior de São Paulo, e em Xambioá no norte do estado de Tocantins. 

Neste cenário, entre os anos de 1967 e 1974, os Bell UH-1D seriam intensamente operados em inúmeras missões reais de combate, atuando contra uma ação revolucionária comunista no Brasil, localizada na região conhecida como “Bico do Papagaio”, situada na fronteira entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins (então Goiás), com estes eventos sendo popularmente conhecidos como a Guerrilha do Araguaia. Os membros desta organização estavam vinculados ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil), partido revolucionário dissidente do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro), e seguiam a linha estratégica Maoista, linha de atuação ideológica implantada pelo governo chines de  Mao Tsé-Tung após a Segunda Guerra Mundial. O objetivo dessa estratégia era o de instaurar um estado de “guerra popular prolongada” na região Norte do Brasil e, a partir disso, tentar tomar o poder no país e instaurar uma ditadura do proletariado, a exemplo do que existia em países do bloco socialista. Assim os Bell UH-1D que já estavam sendo empregados em missões contra outros focos de guerrilha no país, seriam também deslocados para esta região. Neste teatro de operações estes helicópteros em conjunto com aeronaves de asas fixas como os North American AT-6D e Douglas A-26B/C Invader empregados em inúmeras situações de conflagração real, como a operação "Sucuri" em abril de 1973, com suas missões sendo conduzidas estrategicamente com o objetivo de empurrar os guerrilheiros para as terras mais altas e secas, para emboscá-los quando descessem em busca de água. Essa tática resultaria em êxito com os embates resultando em grande êxito, culminando na morte e captura de muitos guerrilheiros, porém verificaria-se que esta linha da açao tardaria a trazer resultados em um curto espaço de tempo. Em dezembro de 1973 o coronel Nilton Cerqueira (que dois anos antes emboscaria o terrorista Carlos Lamarca) assumiria o comando das operações, instalando seu posto de comando em um curral de fazenda, passando a alterar sua tática de atuação, passando a atuar em uma linha mais combativa, seguindo a máxima que “guerrilha se combate com guerrilha”. E nesta nova estratégia os Bell UH-1D seriam de fundamental apoio principalmente durante a realização da operação "Marajoara" , com toda a oposição sendo erradicada entre os meses de outubro de 1973 e outubro de 1974. 
Paralelamente as experiências obtidas neste cenário de conflagração real durante a Guerrilha do Araguaia, trariam uma grande bagagem de conhecimento operacional, com sua doutrina sendo replicada e aprimorada em parceria com o Exército Brasileiro nos anos seguintes.  Este êxito operacional levaria o Ministério da Aeronáutica (MAEr) a negociar junto ao Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoD) a aquisição de mais células da aeronave, com estas tratativas se materializando no recebimento de trinta e duas células usadas da versão mais recente, o Bell UH-1H, provenientes das unidades operacionais do Exército dos Estados Unidos (US Army) e das Força de Defesa de Israel (IDF). Neste momento o 4º Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (EMRA) cederia suas aeronaves Bell UH-1D para o 5º EMRA, pois sua menor potência de motor o classificaria como ideal para operar no clima frio do Rio Grande do Sul. A partir do ano de 1974, seria decido aplicar as células remanescentes dos Bell SH-1D e UH-1D, um elaborado processo de modernização que abrangeria além de uma atualização de aviônicos e sistemas de comunicações, a troca por um novo motor Lycoming  T53-L-13B com 1.400 shp, elevando o modelo para a versão Bell UH-1H. As últimas células operacionais "modernizadas" se mantiveram em operação até finais da década de 1990, quando seriam substituídas por um novo lote de aeronaves usadas do modelo Bell UH-1H adquiridas do Exército dos Estados Unidos (US Army) estacionadas na Alemanha. Voltando a faceta de emprego não armado, estas aeronaves seriam imortalizadas no imaginário do povo brasileiro durantes as catástrofes dos incêndios dos edifícios Joelma e Andraus na cidade de São Paulo entre os anos de 1972 e 1974 quando os helicópteros Bell UH-1D e SH-1D da Força Aérea Brasileira operariam brilhantemente na missão de resgate as vítimas destes trágicos eventos que se encontravam concentradas no telhado destes edifícios.

Em Escala.
Para representarmos o  Bell UH-1D "FAB 8541" optamos pelo antigo modelo da ESCI na escala 1/48, para compormos a versão empregada pela Força Aérea Brasileira é necessário se confeccionar em scratch o set de armamentos (metralhadoras e lança foguetes) e as antenas de rádio da cauda. Empregamos decais produzidos pela FCM Decals pertencentes a diversos sets, e utilizamos as bolachas do 5º  Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (EMRA) impressas artesanalmente pelo modelista Cesar Hares.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o terceiro padrão de pintura empregado, pelas aeronaves Bell UH-1D e UH-1H pertencentes ao 4º e 5º Esquadrões, Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), no padrão tático americano “Southeast Asia” em dois tons de verde, marrom e branco. Anteriormente operariam também com esquemas em dois tons de verde, sendo o último padrão mantido sua desativação final.


Bibliografia:

- Bell UH-1D/H   Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Bell_UH-1_Iroquois
- 2º/10º GAV Esquadrão Pelicano 50 anos, por Mauro Lins de Barros e Oswaldo Claro Junior
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015, por Jacson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira por, Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Ford Engesa F-600 (VTE)


Historia e Desenvolvimento.
A Ford Motor Company, uma das mais icônicas e prestigiadas montadoras norte-americanas, foi fundada em 16 de junho de 1903, em modestas instalações situadas no subúrbio de Detroit, no estado de Michigan. Liderada pelo engenheiro e visionário Henry Ford, a empresa teve início com um investimento inicial de US$ 28.000, aportados por doze investidores, entre os quais se destacavam os irmãos John e Horace Dodge, que posteriormente deixariam a companhia para fundar a Dodge Motors Company. Este documento apresenta uma análise formal e estruturada da trajetória inicial da Ford, seu impacto na indústria automotiva e o legado de suas inovações. Nos primeiros anos de operação, a Ford Motor Company produzia veículos de forma quase artesanal em sua fábrica localizada na Avenida Mack, em Detroit. Pequenos grupos de dois ou três trabalhadores montavam cada automóvel, utilizando componentes majoritariamente fornecidos por terceiros. Apesar da escala limitada, os produtos da Ford rapidamente conquistaram a confiança dos consumidores norte-americanos, posicionando a empresa como líder no segmento de carros de passeio. Esse sucesso inicial gerou recursos que viabilizaram a expansão da companhia e o aprimoramento de seus processos industriais. Com o crescimento da demanda, a Ford optou por internalizar a fabricação de componentes críticos, adotando o conceito de integração vertical. Essa estratégia, inovadora para a época, permitiu maior controle sobre a qualidade e os custos de produção, consolidando a eficiência operacional da empresa. A integração vertical tornou-se um modelo funcional e amplamente adotado, contribuindo para a escalabilidade da Ford e sua capacidade de atender a um mercado em rápida expansão. Em 1908, Henry Ford lançou o Ford Modelo T, equipado com o primeiro motor de cabeça de cilindro removível, um marco técnico que elevou os padrões da indústria. Contudo, foi em 1914 que a Ford revolucionou a manufatura com a introdução da linha de montagem contínua, um sistema que implementou a produção em série de forma prática e eficiente. Esse método, conhecido como “Fordismo”, baseava-se na padronização de processos, na verticalização da produção e no aperfeiçoamento contínuo, encapsulado no célebre lema de Henry Ford: “Você pode comprar um Ford de qualquer cor, contanto que seja preto.” Desde seus primeiros anos, a Ford Motor Company demonstrou uma visão estratégica voltada para o mercado internacional. Em 1904, a empresa estabeleceu sua primeira linha de montagem no exterior, no Canadá, para a produção do Modelo C. Essa iniciativa marcou o início de uma política de parcerias globais, que facilitavam a fabricação local e a adaptação dos veículos às necessidades de diferentes mercados. O impacto do Fordismo transcendeu a indústria automotiva, influenciando métodos de produção em diversos setores. A combinação de eficiência, padronização e acessibilidade introduzida por Henry Ford redefiniu os paradigmas da manufatura moderna, estabelecendo um modelo que seria adotado mundialmente. Além disso, a Ford Motor Company consolidou-se como uma das pioneiras na democratização do automóvel, transformando-o de um artigo de luxo em um bem acessível a milhões de pessoas.

A expansão da Ford na América Latina teve início na Argentina, onde, em 1913, foi estabelecida uma filial. Contudo, a montagem de veículos nesse país só foi iniciada em 1921. No Brasil, a produção de automóveis Ford começou de forma pioneira em 1918, por meio de uma iniciativa do industrial baiano Antônio Navarro Lucas. Licenciado pela Ford, Lucas passou a montar, em Salvador, Bahia, dez unidades mensais do Modelo T, marcando o Brasil como o primeiro país latino-americano a fabricar veículos da montadora. Reconhecendo o potencial do mercado brasileiro, a diretoria da Ford Motor Company decidiu, em 24 de abril de 1919, criar uma filial no país. Já no início de maio do mesmo ano, foi instalada, na Rua Florêncio de Abreu, no centro de São Paulo, uma unidade que combinava um escritório administrativo e uma linha de montagem para a produção do Modelo T. Essa instalação tornou-se a primeira indústria automobilística do Brasil, um marco histórico para o setor. O Ford Modelo T destacou-se no Brasil por sua robustez, facilidade de condução e manutenção, características que o tornaram o automóvel mais popular do país na época. Com apenas 20 cavalos de potência, seu projeto simples e funcional permitia sua desmontagem para transporte em caixotes, sendo remontado em galpões próximos a portos ou estações ferroviárias, especialmente em regiões com infraestrutura rodoviária limitada. Essa versatilidade contribuiu para sua ampla aceitação no mercado brasileiro. A crescente demanda por veículos Ford no Brasil impulsionou a expansão das operações em São Paulo. Até 1921, a Ford mudou suas instalações duas vezes, ainda no centro da cidade, até se estabelecer na Rua Sólon, no bairro do Bom Retiro. Nesse endereço, a produção alcançou a capacidade de 40 unidades diárias. Em 1923, a mesma unidade montou o primeiro caminhão fabricado no Brasil, ampliando o portfólio da empresa. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Ford priorizou a produção de veículos e componentes para uso militar. Com o fim do conflito, a montadora acelerou sua produção, atingindo, em 1948, uma cadência de 50 a 60 veículos leves por dia. Nesse período, a fábrica passou a montar uma gama diversificada de produtos, incluindo automóveis Ford, Mercury e Lincoln (de origem norte-americana), Anglia e Prefect (de origem britânica), além de veículos comerciais leves, ônibus e caminhões médios e pesados das marcas Ford e Thames. Aproximadamente 1.200 componentes já eram produzidos localmente, por meio da Ford e de cerca de cem fornecedores nacionais, enquanto cabines e carrocerias continuavam a ser importadas e montadas no Brasil. Ao completar 30 anos de operações no Brasil, em abril de 1949, a Ford já havia montado mais de 200 mil veículos. Em 1953, a empresa inaugurou uma moderna fábrica no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com capacidade para produzir 125 veículos por dia. Essa unidade representou um salto em termos de infraestrutura e eficiência produtiva. Nesse contexto, o governo federal começou a considerar políticas de incentivo à nacionalização da indústria automotiva, embora planos concretos só fossem formalizados em 1956, com a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA).
Com a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) em maio de 1956, o Brasil estabeleceu diretrizes para a nacionalização da indústria automotiva, exigindo que as montadoras desenvolvessem planos para a fabricação de veículos com crescente conteúdo local. A Ford do Brasil S/A, alinhada a essas metas, submeteu seu plano ao GEIA próximo ao prazo limite, consolidando um marco na história da indústria automotiva nacional. Eram três tipos: um caminhão médio, um leve e uma picape, prevendo capacidade máxima de trinta mil unidades, em 1960, com a produção de mails de oito mil caminhões já em 1957. Em coerência com as regras vigentes, o índice de nacionalização deveria aumentar progressivamente, saltando de cerca de 40%, em 1957, para 90% (em peso) em 1960. Quando o projeto da Ford foi aprovado, no final de 1956, a quase totalidade dos componentes das cabines já era estampada no Brasil; a produção de algumas partes era terceirizada, caso das caçambas de picapes, fornecidas pelas Máquinas Piratininga, e algumas centenas de itens diversos eram adquiridos junto a outros fabricantes nacionais. Em 26 de agosto de 1957 deixou a linha de montagem do Ipiranga o primeiro caminhão Ford nacional – o F-600, ainda apenas com cerca 40% de conteúdo nacional, em peso. Tratava-se de um modelo convencional, de porte médio (para 6,5 t, entre eixos de 4,37 m) e arquitetura tipicamente norte-americana, com motor V8 a gasolina (4,5 l e 161 cv) e cabine recuada; tinha caixa de quatro marchas e diferencial de duas velocidades, com reduzida de comando elétrico. Dois meses depois foi lançada a picape F-100, para 930 kg, dotada da mesma motorização e igual cabine, porém com três marchas (primeira não sincronizada). Ambos eram modelos descontinuados nos Estados Unidos – um mix de capô, para-lamas e cabine de 1953 com grade de 1956. Exatos 3.454 veículos foram concluídos no primeiro ano, 576 dos quais do modelo picape. Para atender às metas do plano, foram criados os Departamentos de Engenharia do Produto e de Ensaios e Pesquisa (alocados nas antigas instalações do Bom Retiro), construída uma fundição de motores em Osasco (SP), instaladas linhas de usinagem e montagem de motores e ampliada a estamparia do Ipiranga, as três últimas inauguradas em novembro de 1958. Em 1959, a cabine do caminhão e picape foi reestilizada, recebendo novo painel, volante “em cálice” e os para-brisas panorâmicos introduzidos em 1956, nos Estados Unidos. A picape, por sua vez, ganhou caçamba muito mais moderna, com para-lamas integrados, seguindo projeto apenas recentemente adotado na matriz. Para registrar o salto no índice de nacionalização, obtido após a inauguração da fábrica de motores, os emblemas de todos os modelos passaram a vir nas cores verde e amarela.   Em junho daquele mesmo ano seria lançado o caminhão leve F-350 (para 2,7 ton entre eixos de 3,30 m), com a mesma mecânica dos demais (este seria, por muitos anos, o único modelo brasileiro na categoria). No ano seguinte o caminhão médio ganhou a versão F-600-148″, com menor entre eixos (3,77 m), próprio para receber carroceria basculante ou quinta roda, com capacidade de tração de 12 toneladas.

Em 1961 foi também o ano em que a Ford brasileira se dobrou à realidade local, que aceleradamente se afastava dos motores a gasolina no transporte de cargas, e lançou seu primeiro veículo diesel. Equipado com motor Perkins de seis cilindros e 125 cv, o F-600 Diesel recebeu poucas modificações com relação ao modelo a gasolina: apenas reforço da suspensão dianteira e substituição do logotipo “V8”, na grade, por outro, nomeando o novo combustível.  Em abril de 1962 o estilo da linha Ford foi mais uma vez alterado, desta vez assumindo o desenho do modelo norte-americano de 1960. A nova série, chamada Super Ford, não mereceu alterações mecânicas significativas. A linha de comerciais foi renovada em maio de 1968: além das novas carrocerias com faróis retangulares para todos os modelos e do novo motor Perkins de 142 cv para o F-600 Diesel (seis cilindros, sete mancais, camisas removíveis e bomba injetora rotativa). Em julho de 1970 já apareciam os primeiros lançamentos para 1971 na linha de caminhões, trazendo faróis redondos para todos os modelos; na picape, freios, suspensão Twin-I-Bean e relação de transmissão foram modificados; a F-350 recebeu freios assistidos e o F-600 opcionalmente, tanque de combustível de maior capacidade e caixa de cinco marchas sincronizadas. Em 1976, a Ford lançou mais um caminhão diesel, o F-7000. Dispondo da mesma capacidade e iguais elementos mecânicos do F-600 Diesel, o F-7000 vinha, porém, equipado com um motor diesel diferente, o novo dois tempos Detroit (quatro cilindros em linha, injeção direta e 145 cv), cuja produção havia sido iniciada pouco antes no Brasil. Novos modelos foram lançados em 1977: em fevereiro, FT-7000, com 3º eixo de fábrica (fabricado pela Hendrickson, porém montado pela Ford); e em julho, mais dois semipesados (F-8000 e FT-8000) e o primeiro pesado da marca, o cavalo mecânico F-8500, para 30,5 t, os três últimos com motor Detroit de seis cilindros em V e 202 cv, filtro de ar montado externamente sobre o para-lama direito, freios pneumáticos, freio de estacionamento com trava de mola, embreagem dupla  e direção hidráulica opcional. Todos eles dividiam a mesma cabine, oriunda dos caminhões médios.  Na década de 1980, a Ford do Brasil S/A implementou mudanças significativas em sua linha de caminhões, promovendo a substituição dos modelos tradicionais da Série F por novos veículos mais modernos e adaptados às demandas do mercado. Este documento apresenta, de forma estruturada, a evolução da linha de caminhões Ford Série F, destacando as inovações tecnológicas, as atualizações de design e as estratégias comerciais adotadas pela empresa até o início do século XXI. No início dos anos 1980, a Ford do Brasil reformulou a nomenclatura e a oferta de sua linha de caminhões, introduzindo modelos que atendiam aos segmentos médio e semipesado. As principais novidades incluíram: Modelos Médios: F-11000, F-12000 e F-13000: Caminhões com capacidade de carga líquida entre 6,5 e 9 toneladas. Projetados para transporte de cargas intermediárias, ofereciam robustez e eficiência operacional. Modelos Semipesados: F-19000 e F-21000: Equipados com terceiro eixo (tandem ou balancim), com capacidades de carga de 13 e 15 toneladas, respectivamente.

Os novos modelos da Série F incorporaram avanços tecnológicos significativos, alinhados às necessidades do mercado brasileiro. Motores Introdução do motor MWM de seis cilindros, com maior eficiência e durabilidade Opção de motores Perkins para os modelos médios, oferecendo maior flexibilidade aos clientes Transmissão Nova caixa de cinco marchas, com a primeira marcha não sincronizada. Sistema de redução no diferencial, acionado eletricamente ou pneumaticamente, para melhor desempenho em terrenos variados..Sistemas de Freios : Freios pneumáticos nos modelos F-12000, F-13000, F-19000 e F-21000, garantindo maior segurança Modelo F-11000 equipado com freios hidráulicos a vácuo, adequados à sua capacidade. Outras Melhorias Suspensão revisada para maior conforto e estabilidade. Sistema elétrico atualizado para 12 volts, alinhado aos padrões da época Tanque de combustível cilíndrico de maior capacidade, aumentando a autonomia. Opcionais como direção hidráulica e rodas raiadas, disponíveis em alguns modelos, para atender a diferentes necessidades operacionais. Diante do aumento da concorrência no mercado brasileiro, a Ford do Brasil planejou a nacionalização da linha europeia Ford Cargo, conhecida por seu design moderno e tecnologia avançada. Em abril de 1985, os primeiros caminhões da família Cargo chegaram ao mercado, marcando uma nova fase para a empresa. A linha Cargo foi posicionada como uma alternativa mais sofisticada, voltada para os segmentos médio e pesado, e rapidamente ganhou aceitação no mercado. Para manter a competitividade da Série F, a Ford do Brasil realizou atualizações significativas ao longo dos anos: 1992 – Modernização da Cabine ("Sapão") A Série F passou por uma reformulação radical nas cabines, com design renovado e melhorias ergonômicas A nova estética, popularmente apelidada de "Sapão", reforçou a identidade visual da linha e prolongou sua relevância no mercado. 1998 – Última Atualização e Introdução do F-16000: A Ford implementou a última modernização das cabines da Série F, aprimorando conforto e funcionalidade. Lançamento do modelo F-16000, ampliando as opções disponíveis no segmento médio. No início dos anos 2000, a Ford do Brasil reavaliou sua estratégia no segmento de caminhões. A Série F, embora histórica, enfrentava dificuldades para competir com modelos mais modernos, como a linha Cargo e os produtos de concorrentes. Como resultado - A produção da Série F foi parcialmente descontinuada, com foco mantido apenas nos modelos leves.- A linha Ford Cargo assumiu a liderança no segmento de caminhões  médios e pesados, sustentando as vendas da empresa nesse mercado. A evolução da linha de caminhões Ford Série F no Brasil reflete o compromisso da Ford do Brasil em atender às demandas do mercado por meio de inovações tecnológicas e estratégias comerciais. Desde a introdução dos modelos F-11000, F-12000, F-13000, F-19000 e F-21000 na década de 1980 até a modernização das cabines nos anos 1990, a Série F desempenhou um papel central no transporte de cargas no país. Apesar de sua substituição gradual pela linha Cargo e do abandono parcial da produção, a Série F deixou um legado significativo na história da indústria automotiva brasileira, marcada por sua robustez, versatilidade e adaptação às necessidades do mercado.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro experimentou um avanço significativo em sua capacidade de mobilização, impulsionado pelo recebimento de caminhões militares fornecidos pelos Estados Unidos sob a Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act). No entanto, na década de 1950, a frota enfrentou desafios operacionais devido ao desgaste e à dificuldade de obtenção de peças de reposição. Este relatório analisa o impacto dessas questões, as soluções propostas pelo comando do Exército Brasileiro e os desafios associados à sua implementação. Com a adesão do Brasil ao esforço de guerra aliado em 1942, as Forças Armadas Brasileiras receberam, até o final de 1945, mais de 5.000 caminhões militares das séries GMC CCKW, Corbitt, Diamond e Studebaker US6G, fornecidos por meio do programa Lend-Lease Act. Esses veículos foram fundamentais para a mobilização de tropas e cargas durante o conflito. Contudo, no final da década de 1950, a operacionalidade da frota foi gravemente comprometida por dois fatores principais: Desgaste Natural: Resultante do uso intensivo durante e após a guerra; Dificuldade na Obtenção de Peças: A descontinuação da produção desses modelos nos Estados Unidos, há mais de uma década, dificultava a importação de componentes essenciais. Esse cenário gerou preocupação no comando do Exército Brasileiro, pois comprometia a capacidade operacional da Força Terrestre, exigindo soluções urgentes para restaurar sua prontidão logística. A solução ideal para manter a capacidade operacional envolvia a substituição da frota por um número equivalente de caminhões modernos com tração 4x4 e 6x6, sendo os modelos REO M-34 e M-35 os mais indicados devido à sua robustez e tecnologia avançada. No entanto, o elevado custo de aquisição de uma frota desse porte excedia as limitações orçamentárias do Exército Brasileiro na época, tornando essa opção inviável. Diante das restrições financeiras, o comando do Exército elaborou três soluções complementares para enfrentar o problema: Aquisição Limitada de Caminhões Modernos: Compra de um pequeno número de caminhões REO M-34 e M-35 para atender às necessidades mais críticas, priorizando missões estratégicas. Repotencialização da Frota Existente: Estudos para a modernização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G, visando prolongar sua vida útil por meio de atualizações técnicas. Adoção de Caminhões Comerciais Militarizados: Incorporação de caminhões produzidos nacionalmente, adaptados para missões secundárias, como transporte de cargas leves e outras funções de apoio. A combinação dessas estratégias tinha o potencial de restaurar a operacionalidade da Força Terrestre de maneira sustentável e economicamente viável. Os estudos para a repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G foram minuciosamente analisados, mas não receberam recomendação para implementação. As principais razões incluíam: Alto Custo: O investimento necessário para modernizar a frota era elevado, especialmente considerando a necessidade de importar componentes ou desenvolver substitutos localmente. Falta de Capacidade Técnica: Naquela época, o Brasil carecia de um corpo técnico com a expertise necessária para executar um programa de repotencialização em escala, envolvendo reengenharia e adaptação de sistemas complexos. Esses fatores inviabilizaram a modernização da frota existente, direcionando o foco para as demais soluções propostas.

O cancelamento da repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G evidenciou a necessidade de soluções alternativas para restaurar a operacionalidade da frota do Exército Brasileiro. A adoção de caminhões comerciais militarizados foi identificada como uma abordagem viável, permitindo: Substituição em Missões Básicas: Utilização de veículos comerciais em tarefas de transporte básico, liberando os caminhões militares com tração 6x6 para operações táticas e estratégicas em ambientes fora de estrada. Otimização da Frota Existente: Concentração dos veículos militares remanescentes em melhor estado para missões críticas. Essa estratégia, já implementada desde a década de 1930 com caminhões comerciais de pequeno porte, beneficiava-se do baixo custo de aquisição e operação dos veículos produzidos localmente, alinhando-se às prioridades orçamentárias da Força Terrestre. Para atender à demanda por caminhões médios, o Ministério do Exército optou por veículos fabricados pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), uma empresa estratégica no fortalecimento da indústria automotiva brasileira. Dois modelos foram selecionados: FNM D-9500: Caminhão médio com características adequadas para adaptação militar. FNM D-11000: Modelo destacado por sua robustez estrutural, capaz de atender, em teoria, aos parâmetros exigidos para o processo de militarização. A escolha dos caminhões FNM refletiu o compromisso do governo em fomentar a indústria nacional, aproveitando a capacidade produtiva local para suprir as necessidades do Exército. Apesar do avanço na substituição dos caminhões médios, a frota de caminhões leves permanecia obsoleta, composta majoritariamente por modelos como: Opel Blitz II Comercial; Chevrolet 157 Gigante 1937; General Motors G7106, G7107 e G-617M, recebidos entre 1935 e 1942. Esses veículos desempenhavam um papel central na estrutura de transporte do Exército Brasileiro, mas seu desgaste e a dificuldade de manutenção exigiam um programa urgente de renovação. A substituição dessa frota representava uma oportunidade significativa para as montadoras nacionais, incentivadas pelo Governo Federal por meio do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), instituído em 1956. O GEIA foi criado para promover o desenvolvimento da indústria automotiva brasileira, oferecendo incentivos fiscais e financeiros às montadoras que investissem na produção local. Esse programa alinhava-se aos objetivos do Exército Brasileiro, pois: Estimulava a fabricação de veículos robustos e acessíveis, adequados à militarização; Reduzia a dependência de importações, mitigando os problemas de fornecimento de peças observados com a frota legada da Segunda Guerra Mundial; Fortalecia a economia nacional, gerando empregos e capacidade industrial. A aquisição de caminhões FNM e a perspectiva de renovação da frota de caminhões leves foram, portanto, estratégias alinhadas aos objetivos do GEIA, promovendo a integração entre as necessidades militares e o desenvolvimento industrial.
A Ford do Brasil iniciou sua trajetória como fornecedora de veículos militares na década de 1920, com a incorporação dos caminhões Ford Modelo T pelo Exército Brasileiro. Esses veículos foram fundamentais no processo de expansão das fronteiras nacionais, demonstrando a confiabilidade e a versatilidade dos produtos da empresa. A sólida reputação construída ao longo dos anos posicionou a Ford como uma candidata natural para atender às demandas não apenas do Exército, mas também da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil. No mesmo período, a Ford lançou no mercado comercial brasileiro o Ford F-600, seu primeiro caminhão de fabricação nacional. Projetado para o transporte de cargas, o F-600 apresentava características que permitiam sua militarização, tornando-o uma opção viável para atender às necessidades das Forças Armadas. Prototipagem e Avaliação : Em meados da década de 1950, a Ford do Brasil apresentou ao Exército Brasileiro os primeiros protótipos do Ford F-600 adaptados para uso militar, nas configurações de tração 4x2 e 6x2. Esses veículos foram submetidos a avaliações rigorosas, mas a preferência inicial recaiu sobre a versão militarizada do Chevrolet Brasil 6500, que foi selecionada para atender às necessidades imediatas do Exército. Primeiro Contrato com a Aeronáutica: Em 1958, o Ministério da Aeronáutica (MAer) marcou um marco significativo ao celebrar o primeiro contrato para aquisição de 20 caminhões Ford F-600 militarizados. Esses veículos foram configurados com a carroceria do tipo “Espinha de Peixe”, projetada especificamente para o transporte de tropas de choque, e destinados às unidades da Polícia da Aeronáutica (PA). A carroceria, caracterizada por sua estrutura de aço com bancos longitudinais e cobertura de lona militar, permitia o transporte eficiente e seguro de soldados em operações táticas. Adoção pelo Exército Brasileiro : A experiência positiva da Aeronáutica com o Ford F-600 abriu caminho para sua adoção pelo Exército Brasileiro. Em outubro de 1959, o Exército adquiriu um número significativo de caminhões F-600, majoritariamente na configuração de tração 4x2, para uso em tarefas de transporte de tropas de choque e cargas. Esses veículos passaram por um processo de militarização que incluiu: Reforços Estruturais: Para-choques reforçados para maior resistência em operações de campo. Guinchos mecânicos dianteiro e traseiro, com capacidade para tração de cargas leves. Grades de proteção para faróis e lanternas, garantindo durabilidade em ambientes adversos. Gancho de reboque traseiro para operações logísticas. Carroceria: Estrutura de aço com cobertura de lona no padrão militar, inspirada no design dos caminhões GMC CCKW 352/353, amplamente utilizados na Segunda Guerra Mundial. Configuração que facilitava o embarque e desembarque rápido de tropas, essencial para operações de choque. A entrega dos caminhões Ford F-600 às unidades operativas do Exército Brasileiro teve início em 1960. Ao longo das décadas seguintes, esses veículos prestaram serviços de excelência, sendo empregados em diversas missões, incluindo: Transporte de tropas de choque em operações de garantia da lei e da ordem (GLO). Movimentação de cargas em apoio logístico às unidades militares.

Operações táticas em ambientes urbanos e rurais, onde sua robustez e simplicidade mecânica foram amplamente valorizadas. Novos Contratos com o Exército Brasileiro : O desempenho positivo dos caminhões Ford F-600 adquiridos em 1959 incentivou o Comando do Exército Brasileiro a formalizar novos contratos de aquisição. Esses contratos incluíram a versão com tração 6x2, configurada com a carroceria do tipo “Espinha de Peixe”, projetada para o transporte de tropas de choque. Essa configuração foi destinada principalmente aos batalhões da Polícia do Exército (P.E.), reforçando a capacidade operacional em operações de garantia da lei e da ordem (GLO) e controle de distúrbios. Características da Configuração 6x2: Carroceria de aço com bancos longitudinais, coberta por lona militar, otimizada para embarque e desembarque rápido. Capacidade para transportar até 20-30 soldados, dependendo da configuração. Estrutura reforçada para suportar operações táticas em ambientes urbanos e rurais. Em 1966, a Engesa lançou no mercado um sistema de tração 4x4, projetado para conferir capacidade off-road a veículos comerciais leves e médios. Denominado “Tração Total”, o sistema era oferecido como um kit, composto por: Caixa de transferência com duas tomadas de força. Eixo dianteiro direcional. Guincho (opcional), para operações de resgate e tração. Essa solução permitiu que veículos comerciais, como o Ford F-600, adquirissem características operacionais de veículos fora-de-estrada, ampliando sua versatilidade em terrenos acidentados. Em 1969, a Engesa introduziu o sistema de tração dupla traseira, conhecido como “Boomerang”. Esse sistema foi um marco no desenvolvimento de veículos militares, oferecendo maior tração e estabilidade em condições adversas. O sucesso comercial do Boomerang no mercado internacional atraiu a atenção do Exército Brasileiro, que identificou no sistema uma solução estratégica para a modernização de sua frota de caminhões militares. Relevância Estratégica: Em 1967, o programa de renovação da frota militar com tração integral foi classificado como “De Interesse para a Segurança Nacional”, destacando sua importância para a defesa do país. O sistema Boomerang tornou-se a base para o desenvolvimento de veículos militares com tração 6x6, fundamentais para operações em terrenos variados. A partir do final de 1971, as unidades de infantaria motorizada do Exército Brasileiro começaram a receber os primeiros caminhões Ford F-600 equipados com tração 4x4 e 6x6, desenvolvidos em parceria com a Engesa. Esses veículos representaram um avanço significativo na modernização da frota militar, permitindo a substituição gradual de modelos obsoletos, como: GMC Série CCKW 352/353 6x6. Studebaker USG-6 6x6. GMC G-7107 4x4. Características Operacionais. Os Ford F-600 com tração integral apresentaram as seguintes vantagens: Capacidade Off-Road: Os sistemas 4x4 e 6x6, combinados com o sistema Boomerang, garantiam desempenho superior em terrenos acidentados, como os encontrados nas regiões amazônica e pantaneira. Versatilidade: Utilizados tanto para transporte de tropas quanto de cargas, os veículos atenderam às necessidades logísticas e táticas do Exército. Manutenção Simplificada: Mais de 80% dos componentes dos caminhões eram compartilhados com o mercado comercial, reduzindo significativamente os custos de manutenção preventiva e corretiva. Durabilidade: A construção robusta e os reforços militares, como para-choques e guinchos, asseguravam longa vida útil mesmo em condições operacionais intensas.
Durante as décadas de 1970 e 1980, as três Forças Armadas Brasileiras adquiriram centenas de caminhões Ford F-600, com diferentes níveis de militarização. Esses veículos foram configurados para atender a uma ampla gama de funções operacionais, disponíveis nas trações 4x2, 4x4 e 6x2, e equipados com carrocerias especializadas, incluindo: Carga Seca: Disponível em versões comercial e militar, para transporte de suprimentos e equipamentos. Cisterna: Modelos para transporte de combustível ou água, essenciais para operações logísticas. Bombeiro: Adaptados para combate a incêndios em instalações militares. Basculante: Utilizados em tarefas de construção e engenharia. Oficina: Equipados para manutenção em campo. Baú de Carga: Para transporte de materiais sensíveis ou protegidos. Frigorífico: Destinados ao transporte de alimentos perecíveis. Posto de Comando: Configurados como centros de coordenação tática. Socorro Mecânico (Guincho): Produzidos pela Bisseli Viaturas e Equipamentos Ltda., para recuperação de veículos em operações. A versatilidade e a robustez do Ford F-600 fizeram dele o principal componente da frota de transporte militar para todos os terrenos do Exército Brasileiro. Sua capacidade de operar em ambientes variados, aliada à simplicidade mecânica e à disponibilidade de peças no mercado comercial, garantiu alta confiabilidade e baixos custos de manutenção. Essas características consolidaram o F-600 como um ativo essencial para missões logísticas, táticas e de apoio, incluindo transporte de tropas de choque, suprimentos e equipamentos. A partir de meados da década de 1980, a frota de caminhões Ford F-600 começou a apresentar sinais de desgaste operacional, decorrentes do uso intensivo e da idade dos veículos. A necessidade de modernização da frota tornou-se evidente, exigindo a substituição dos F-600 por modelos mais avançados, capazes de atender às demandas operacionais contemporâneas. Naquele momento, a Ford do Brasil S/A não dispunha em seu portfólio comercial de um modelo que pudesse substituir o F-600 de maneira competitiva. A ausência de uma alternativa moderna limitou a capacidade da empresa de manter sua posição como principal fornecedora de caminhões militares. O vácuo deixado pela Ford abriu espaço para a Mercedes-Benz do Brasil S/A, que, com uma estratégia eficaz, assumiu a liderança no fornecimento de caminhões militares para as Forças Armadas Brasileiras. A Mercedes-Benz ofereceu veículos mais modernos, com maior capacidade tecnológica e operacional, atendendo às necessidades de renovação da frota. Apesar do declínio no fornecimento de caminhões militares, a Ford do Brasil conseguiu manter uma participação limitada no mercado por meio de pequenos contratos para os modelos F-6000, F-12000, F-14000 e Ford Cargo nas décadas seguintes. Esses contratos, embora de menor escala, permitiram à empresa permanecer ativa no segmento militar, ainda que em um papel secundário. A partir da década de 1990, o Exército Brasileiro iniciou um processo gradual de desativação dos caminhões Ford F-600, à medida que novos veículos, principalmente da Mercedes-Benz. O processo de desativação foi concluído em 2004, quando as últimas unidades do Ford F-600 foram retiradas de serviço.

Em Escala.
Para retratar o Ford Engesa F-600 VTE “EB21-4131”, foi selecionado um modelo de resina impresso de alta qualidade, produzido pela 3D Scale Models. O modelo foi adquirido na escala 1/48, que oferece um equilíbrio entre detalhes minuciosos e praticidade de construção. A 3D Scale Models também disponibiliza o mesmo modelo nas escalas 1/72 e 1/35, permitindo que os modelistas escolham a opção mais adequada às suas necessidades. Os decais utilizados no modelo a foram confeccionados  pela Decals e Books, extraídos do conjunto temático “Forças Armadas do Brasil 1983 a 2002"
Inicialmente todos os caminhões Ford Engesa F-600 VTE, foram recebidos ostentando o padrão de pintura tático em verde oliva adotado pelo Exército Brasileiro desde a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1982, o Exército Brasileiro introduziu um novo esquema de pintura para o Ford F-600 VTE, adotando um padrão de camuflagem em dois tons. Esse esquema permaneceu em uso até a desativação final das viaturas em 2004.  Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors. 


Bibliografia :
- História da Ford no Brasil - www.ford.com.br
Primórdios da Motorização no Exército Brasileiro 1919-1940 - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Motorização no Exército Brasileiro 1906 a 1941 - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Ford do Brasil Lexicar - www.lexicar.com.br/ford