M-1 Pack Howitzer 75 mm

História e Desenvolvimento.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, o Exército dos Estados Unidos (US Army) reconheceu a necessidade de modernizar sua artilharia, que dependia majoritariamente de equipamentos franceses e britânicos, como o canhão M-1897 75 mm. A necessidade de desenvolver armas mais adequadas às demandas de uma guerra moderna, com ênfase em mobilidade, potência e versatilidade, levou à criação, em 1919, do Westervelt Board, uma comissão estratégica que marcou um ponto de inflexão na história militar americana. Presidida pelo General de Brigada William I. Westervelt, esse comitê teve a missão de avaliar as lições aprendidas na guerra e propor diretrizes para o futuro da artilharia do Exército dos Estados Unidos (US Army). Sua missão era ambiciosa: recomendar o desenvolvimento de novas armas que atendessem às exigências de mobilidade, potência de fogo e capacidade de operar em terrenos variados, como montanhas, selvas e campos abertos. O Westervelt Board também considerou a possibilidade de transporte por meios não convencionais, como mulas ou aviões, antecipando as demandas de operações aerotransportadas e em terrenos acidentados. A Primeira Guerra Mundial revelou tanto os avanços quanto as limitações da artilharia da época. Embora os canhões franceses e britânicos, como o 75 mm Schneider e o QF 18-pounder, fossem eficazes, seria reconhecida a necessidade de se desenvolver um obuseiro leve de 75 mm, capaz de disparar projéteis de 6,8 kg a uma distância mínima de 10.090 metros e ser desmontado em cargas transportáveis por mulas.  Esse requisito visava atender operações em terrenos montanhosos e facilitar o transporte em regiões de difícil acesso, onde veículos motorizados não eram práticos. O desenvolvimento do M-1 Pack Howitzer começou em 1920, mas enfrentou desafios iniciais. Uma primeira versão, testada naquele ano, foi rejeitada por não atender completamente aos requisitos de peso e mobilidade. Após revisões, um projeto aprimorado foi apresentado em 1922, culminando na padronização do Howitzer, Pack, 75 mm M-1 on Carriage M-1 em agosto de 1927.  O primeiro protótipo seria rapidamente concluído, sendo então enviado para testes  de campo no inicio do ano seguinte. Este programa de ensaios resultaria em excelentes e promissores resultados, no entanto a partir de 1929 uma grande crise a crise econômica iniciada com a quebra da Bolsa de Valores, se abateria sobre os Estados Unidos. Entre cenário levaria ao imediato contingenciamento de todo o orçamento militar, adiando assim entre tantos projetos, o início da produção deste novo obuseiro.  Este programa só seria retomado no inicio da década seguinte, porém ainda sobre o efeito de restrições orçamentárias, até o inicio de 1933 somente 32 peças foram fabricadas.  

O M-1 75 mm Pack Howitzer foi projetado com foco na portabilidade e versatilidade. Com um peso de aproximadamente 653 kg, o obuseiro podia ser desmontado em seis a nove cargas, dependendo da configuração, com cada carga variando entre 73 e 107 kg. Essas cargas incluíam componentes como o tubo, o mecanismo de culatra, o reparo, a base de tiro e as rodas, permitindo transporte por mulas, paraquedas ou até mesmo por tripulações em situações emergenciais. O canhão utilizava um sistema de recuo hidropneumático, posicionado sob o tubo, e um mecanismo de culatra de cunha deslizante horizontal, operado manualmente, que garantia rápida montagem e desmontagem. O reparo original M1 Carriage, com rodas de madeira, era projetado para tração animal ou reboque em baixa velocidade. Contudo, a necessidade de maior mobilidade, especialmente para operações aerotransportadas, levou ao desenvolvimento do M-8 Carriage na década de 1930.  Esse reparo incorporava rodas metálicas com pneus pneumáticos, reduzindo o peso e facilitando o transporte por veículos leves, como jipes de ¼ de tonelada, ou por aviões Douglas C-47  e planadores, como o CG-4 Waco. O M-8 tornou-se o padrão para unidades aerotransportadas, sendo capaz de ser desmontado em nove cargas para paraquedas (incluindo 18 munições) ou sete cargas para mulas. Além do transporte aéreo convencional o M-1 Pack Howitzer 75 mm poderia ser lançado de paraquedas, podendo já em solo ser facilmente montado e movido. Em  operação, uma equipe de 6 soldados bem treinada conseguia realizar de 3 a 6 disparos por minuto com satisfatória precisão, apenas  como ponto negativo seu curto canhão proporcionava um alcance limitado máximo de 8,7 km. Apesar de promissor o projeto ainda recebia poucos recursos e até meados do ano de 1940 apenas 91 peças haviam sido entregues as unidades operativas do Exército dos Estados Unidos (US Army). O cenário mudou drasticamente com a intensificação das tensões na Europa e no Pacífico no final da década de 1930. O início da Segunda Guerra Mundial e a necessidade urgente de equipar as forças aliadas, incluindo por meio do programa Lend-Lease Act, impulsionaram um ambicioso programa de rearmamento nos Estados Unidos. O M-1 75 mm Pack Howitzer foi priorizado devido à sua versatilidade, e a produção em massa foi iniciada em setembro de 1940, liderada pelo Rock Island Arsenal, um dos principais centros industriais do Exército dos Estados Unidos (US Army) para armamentos de artilharia. Outros fabricantes foram contratados para atender à crescente demanda, garantindo a escalabilidade da produção. Entre 1940 e dezembro de 1944, foram fabricadas 4.939 unidades do M-1/M1A1, um feito notável considerando as restrições iniciais e a necessidade de produzir simultaneamente outros armamentos, como o obuseiro M-2A1 105 mm.
No inicio de 1942, um versão aprimorada do obuseiro, a M-1A1, foi introduzida com pequenas modificações no anel de culatra e no bloco de culatra, oferecendo maior confiabilidade, neste contexto passariam a ser distribuídas as unidades operativas do Exército dos Estados Unidos (US Army), principalmente as unidades de montanha e divisões de paraquedistas.  O batismo de fogo do M-1 75 mm Pack Howitzer ocorreu no contexto da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, após o ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941. Sua estreia em combate foi registrada no Teatro do Pacífico, particularmente durante a Campanha das Ilhas Salomão em 1942, com destaque para a Batalha de Guadalcanal (agosto de 1942 – fevereiro de 1943). Operado pelos Fuzileiros Navais, o M-1 foi amplamente utilizado em operações em selva, onde sua portabilidade e facilidade de montagem foram cruciais para superar as dificuldades logísticas impostas pelo terreno. Na Batalha de Guadalcanal, o M-1 75 mm Pack Howitzer, apelidado de “Tiny Tim” pelos Fuzileiros Navais, provou sua eficácia contra posições fortificadas japonesas, como bunkers e ninhos de metralhadoras. Transportado por mulas ou desmontado para ser carregado por soldados em trilhas estreitas, o obuseiro ofereceu suporte de fogo preciso e contínuo, permitindo às tropas americanas neutralizar defesas inimigas em um ambiente hostil de selva tropical. Sua capacidade de ser rapidamente montado e operado por uma equipe de seis soldados, com uma cadência de três a seis disparos por minuto, garantiu flexibilidade tática em combates intensos.  Em 22 de janeiro de 1944, o obuseiro foi empregado de maneira significativa durante a Operação Shingle, o desembarque anfíbio aliado em Anzio, Itália, pelas unidades do 39º Regimento de Artilharia de Campo, do 504º Regimento de Infantaria de Paraquedistas e da 82ª Divisão Aerotransportada. Esta operação teve como objetivo abrir uma nova frente na Itália, contornando as fortificações alemãs da Linha Gustav e acelerando o avanço aliado em direção a Roma. O desembarque em Anzio, liderado pelo VI Corpo do V Exército dos Estados Unidos, envolveu forças americanas e britânicas, incluindo unidades de elite como a 82ª Divisão Aerotransportada. O terreno costeiro e pantanoso de Anzio, combinado com a resistência alemã, exigia armas que fossem móveis, fáceis de posicionar e capazes de fornecer suporte de fogo imediato. O 39º Regimento de Artilharia de Campo, parte do VI Corpo, utilizou o M-1 75 mm Pack Howitzer para fornecer apoio de fogo às tropas desembarcadas em Anzio. Transportado em cargas leves, o obuseiro foi rapidamente posicionado nas praias e áreas adjacentes, oferecendo disparos de alto explosivo (HE) contra posições alemãs fortificadas, como ninhos de metralhadoras e bunkers.

A partir de fevereiro de 1944, uma nova normativa organizacional do Exército dos Estados Unidos (US Army) estabeleceu que cada divisão aerotransportada deveria ser equipada com três batalhões de artilharia, totalizando 36 peças do M-1/M-1A1 75 mm Pack Howitzer. Dois desses batalhões eram transportados por planadores Waco CG-4, enquanto o terceiro, um batalhão de artilharia de campo, utilizava peças lançadas por paraquedas a partir de aeronaves Douglas C-47 Skytrain. Essa configuração garantia suporte de fogo imediato em operações aerotransportadas, como a Operação Shingle em Anzio (janeiro de 1944) e a Operação Overlord na Normandia (junho de 1944). Em alguns casos, o M-1 podia ser substituído pelo mais potente M3 105 mm Howitzer, refletindo a flexibilidade tática das divisões aerotransportadas. Nas divisões de montanha, como a 10ª Divisão de Montanha, cada unidade contava com três batalhões equipados com 12 obuseiros M-1/M-1A1, totalizando 36 peças por divisão. Essas unidades se destacaram em terrenos acidentados, como os Apeninos na Itália. Além disso, o M-1 foi amplamente utilizado em batalhões de artilharia de campo no Teatro do Pacífico, especialmente na Birmânia, onde mulas de carga transportavam as peças desmontadas por trilhas irregulares, garantindo suporte de fogo em ambientes onde veículos motorizados eram inviáveis. A partir de 1943, uma variante do obuseiro, designada M-2 75 mm, foi adotada pelas unidades de artilharia divisional do Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps). Apelidado de “Tiny Tim”, o M-1/M2 foi empregado em operações anfíbias no Pacífico, como em Guadalcanal, Iwo Jima e Okinawa, onde sua leveza e precisão foram cruciais para neutralizar posições fortificadas japonesas. Entre 1944 e 1945, no entanto, os Fuzileiros Navais começaram a substituir o M-1 por obuseiros mais potentes de 105 mm e 155 mm, refletindo a necessidade de maior alcance e poder de fogo contra defesas mais robustas.  Um dos usos mais singulares do M-1 75 mm Pack Howitzer ocorreu em abril de 1945, durante a Operação Tombola, na Itália. Uma única peça foi lançada de paraquedas para equipar o 2º Regimento Italiano do SAS (Serviço Aéreo Especial), uma unidade heterogênea composta por partisans italianos, ex-prisioneiros de guerra russos e desertores do Exército Alemão (Wehrmacht). Operando entre Modena e Florença, ao longo da Rota 12, o obuseiro foi utilizado para atacar comboios alemães, demonstrando sua versatilidade em operações de guerrilha.  Esse feito destacou a capacidade do M-1 de ser empregado por forças não convencionais em missões táticas complexas, reforçando sua reputação como uma arma adaptável. 
Após a Segunda Guerra Mundial, o M-1 75 mm Pack Howitzer continuou em serviço em diversos exércitos. Na China, sua longevidade se estendeu até a Guerra do Vietnã, onde foi operado pelo Viet Minh contra forças francesas e, posteriormente, americanas. Nos Estados Unidos, o obuseiro foi redesignado como M-116 em 1962 e permaneceu em uso até a década de 1980, inclusive em funções cerimoniais, disparando salvas em eventos militares, prática que persiste em algumas unidades até hoje. Em 1960, 153 peças do M-116 75 mm Howitzer foram transferidas dos estoques do Exército dos Estados Unidos (US Army) para as Forças de Autodefesa do Japão (Jieitai), como parte de acordos de cooperação militar no pós-guerra. Essas unidades, projetadas para serem desmontadas em cargas transportáveis por mulas, paraquedas ou veículos leves, foram integradas às operações japonesas, permanecendo em serviço ativo até o final da década de 1980. A longevidade do M-116 no Japão destaca sua confiabilidade e adaptabilidade, especialmente em terrenos montanhosos e em operações que exigiam mobilidade e suporte de fogo preciso. Surpreendentemente, o M-116 retomou um papel operacional em 2010, quando o Exército Turco (Türk Kara Kuvvetleri) empregou dezenas dessas peças em operações contra grupos separatistas curdos no sudeste da Turquia. A capacidade do obuseiro de operar em terrenos acidentados, aliada à sua facilidade de transporte, tornou-o adequado para conflitos assimétricos, onde a mobilidade era essencial. Nos Estados Unidos, o M-116 75 mm Howitzer continua a desempenhar um papel cerimonial, preservando sua importância histórica. O Exército Americano mantém três peças na Bateria de Artilharia Norwich, localizada na Universidade de Norwich, e duas peças na Universidade do Norte da Geórgia, ambas instituições reconhecidas entre as seis principais faculdades militares do país. Nessas unidades, o obuseiro é utilizado para disparar salvas em cerimônias oficiais, honrando tradições militares e conectando gerações de cadetes à história da artilharia americana. O M-116 permanece como um símbolo da colaboração aliada e da resiliência militar, conectando gerações de soldados que, em diferentes épocas e contextos, confiaram em sua precisão e mobilidade. Seja em campos de batalha históricos ou em cerimônias que honram a tradição militar, o M-116 75 mm Howitzer continua a inspirar respeito, preservando o legado de coragem e inovação que marcou sua história.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa de suas forças,  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

Na década de 1940, a artilharia de campanha do Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, equipada majoritariamente com armamentos ultrapassados, como os canhões alemães Krupp 75 mm Modelo 1908 e franceses Schneider-Canet 75 mm, projetados para tração hipomóvel e fabricados no início do século XX. Neste contexto ainda pesava a já defasada doutrina operacional, fundamentada durante a permanência da "Missão Militar Francesa” no pais.  Esses equipamentos, embora robustos para sua época, não atendiam às exigências do combate moderno. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, marcou o início de uma transformação profunda, a partir de meados de 1942, navios de transporte começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro, trazendo uma gama de equipamentos modernos, incluindo armas de infantaria, canhões antitanque de 37 mm e obuseiros de 75 mm, 105 mm e 155 mm.  Neste contexto inicialmente um total de 36 obuseiros do modelo M-1 75 mm Howitzer Pack foram cedidos nos primeiros contratos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), sendo dispostos em duas versões de carro reboque, o M-1 com rodas de madeira (primeiro lote de produção) e o M-8 com pneus de borracha convencionais, no entanto não se sabe com exatidão a real quantidade recebida destes dois modelos. Essa incorporação representou um salto qualitativo para a artilharia brasileira, dotando-a de maior potência de fogo e precisão. O compromisso do Brasil com o esforço de guerra aliado foi formalizado em  Em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado no dia 13 do mesmo mês, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estruturada como a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, a Força Expedicionária Brasileira (FEB incluía, além da divisão principal, diversos órgãos não-divisionários essenciais para sua operação, devendo ao todo ser composta por 25.000 soldados. Não existem registros oficiais ou fotográficos do emprego dos M-1 75 mm Howitzer Pack pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a campanha na Itália. Especula-se no entanto que como a organização do Exército Brasileiro, foi espelhada nos mesmos moldes das unidades que compunham o V Exército Americano, comandado pelo General Mark Clark, existe a possibilidade de algumas destas peças possam ter sido as entregues juntamente com os obuseiros M-1 de 155 mm , M-2 de 105 mm e M-3 também de 105 mm. Esta teoria se reflete pelo fato de 10ª Divisão de Montanha norte-americana, que  era uma das principais unidades que participaram deste front de batalha , era especializada em operações nos terrenos adversos. Representava assim a primeira e única divisão norte-americana de Alpinos, sendo formada por esquiadores experientes, alpinistas e montanhistas com formação concluída no Texas, e por operar neste nível de especialização estava equipada com peças de artilharia de pequeno porte como os canhões antitanque M-3 37 mm e obuseiros M-1 75 mm Howitzer Pack. Assim a Força Expedicionária Brasileira (FEB) por operar nesta mesma região, possa ter vindo a operar este modelo de peça de artilharia, no entanto reforçamos que trata-se de uma especulação.
No período pós-Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro passou por um processo de modernização de suas capacidades operacionais, com a incorporação de equipamentos recebidos durante o conflito, como os obuseiros leves M-1 75 mm Howitzer Pack. Essas peças, inicialmente alocadas aos Grupos de Artilharia de Campanha, operavam em conjunto com outros armamentos adquiridos por meio do programa Lend-Lease Act, sendo transportadas por veículos leves, como os Ford e Willys Jeeps e os Dodges WC-51 e WC-52 Beep. A mobilidade e a versatilidade desses obuseiros os tornavam ideais para as demandas táticas da época, marcando um avanço significativo em relação aos antigos canhões de tração hipomóvel. Uma transformação significativa no emprego operacional dos M-1 75 mm Howitzer Pack ocorreu com a criação, em 26 de dezembro de 1946, do Núcleo de Formação e Treinamento de Paraquedistas, que deu origem ao Núcleo da Divisão Aeroterrestre. Essa nova estrutura organizacional foi concebida para desenvolver uma força aerotransportada de elite, composta por batalhões de infantaria paraquedista, esquadrões de cavalaria paraquedista, companhias de comando, comunicações, engenharia, apoio logístico e grupos de artilharia paraquedista. A doutrina operacional desses grupos de artilharia previa a formação de uma bateria de obuses de 75 mm e outra de 105 mm, sendo o M-1 75 mm Howitzer Pack a peça mais adequada para equipar essa unidade. Projetado originalmente para operações aerotransportadas pelas forças norte-americanas durante a Segunda Guerra Mundial, esse obuseiro era leve, desmontável e compatível com lançamento por paraquedas, características que o tornavam ideal para as necessidades de uma força de projeção rápida. O Núcleo da Divisão Aeroterrestre concentrou esforços no desenvolvimento de uma doutrina operacional inovadora, voltada para o emprego de artilharia de campanha aerotransportada. Esse trabalho culminou na criação de uma unidade independente e altamente profissional, capaz de operar em cenários de alta mobilidade. Um marco histórico nesse processo ocorreu em 26 de dezembro de 1950, quando o Capitão Dickson Melges Grael, pioneiro do paraquedismo militar no Brasil e primeiro comandante dessa unidade, realizou o primeiro tiro de bateria com um obuseiro M-1 75 mm Howitzer Pack. Esse evento simbolizou a consolidação da artilharia paraquedista como uma arma de apoio de fogo, ampliando a capacidade operacional da recém-formada unidade. As operações aerotransportadas iniciaram-se imediatamente após esse marco, embora enfrentassem limitações logísticas. As aeronaves disponíveis na Força Aérea Brasileira, como os Douglas C-47, não eram ideais para o transporte de cargas pesadas, devido à sua capacidade limitada e ao uso exclusivo de portas laterais para lançamento. Apesar dessas restrições, a unidade demonstrou resiliência e adaptabilidade, características essenciais para sua missão.

A trajetória da artilharia aerotransportada do Exército Brasileiro alcançou um marco significativo em 31 de março de 1953, quando o Núcleo da Divisão Aeroterrestre foi elevado à condição de Grupo de Obuses 75 mm Aeroterrestre. Essa reestruturação centralizou todas as peças M-1 75 mm Howitzer Pack disponíveis no Brasil, reforçando a especialização da unidade em operações aerotransportadas. Sob a liderança de oficiais visionários, como o Capitão Dickson Melges Grael, pioneiro do paraquedismo militar brasileiro, o grupo consolidou-se como símbolo de inovação e profissionalismo, lançando as bases para o que se tornaria a Brigada de Infantaria Paraquedista (Bda Inf Pqd), uma das forças de elite mais prestigiadas do Exército Brasileiro. Um salto qualitativo nas capacidades operacionais da unidade ocorreu a partir de janeiro de 1956, com a chegada dos primeiros aviões de transporte Fairchild C-82 Packet à Força Aérea Brasileira. Projetada especificamente para missões de lançamento de paraquedistas e cargas, essa aeronave oferecia maior capacidade de transporte em comparação com os antigos Douglas C-47, até então utilizados. A introdução do C-82 foi determinante para o aprimoramento da doutrina aeroterrestre do Exército Brasileiro, proporcionando o suporte logístico necessário para a consolidação do Grupo de Obuses 75 mm Aeroterrestre e da própria Brigada de Infantaria Paraquedista. Esse progresso culminou, em 1955, no primeiro lançamento em larga escala de peças de artilharia M-1 75 mm Howitzer Pack, um feito que demonstrou a capacidade da unidade de integrar artilharia leve em operações aerotransportadas. A partir de 1962, a incorporação dos aviões Fairchild C-119 Flying Boxcar intensificou os exercícios operacionais de maior envergadura. Com maior capacidade de carga e portas traseiras adequadas para lançamento de equipamentos, o C-119 permitiu a adoção de peças de artilharia mais pesadas, como os obuseiros M-2 e M-3 de 105 mm, que complementaram os M-1 75 mm. Essa evolução marcou a transição do grupo para novas denominações, como Grupo de Obuses 105 mm Aeroterrestre, e, posteriormente, 8º Grupo de Artilharia Paraquedista, estruturado nos moldes que persistem até hoje. A criação da Brigada Aeroterrestre em 1968, a partir da reestruturação do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, representou um momento decisivo no desenvolvimento das forças aerotransportadas brasileiras. Essa reorganização fortaleceu a capacidade da unidade de operar em cenários de alta complexidade, com uma estrutura modular que incluía batalhões de infantaria paraquedista, esquadrões de cavalaria, companhias de comando, comunicações, engenharia, apoio logístico e grupos de artilharia. Em 1971, a redesignação oficial para Brigada de Infantaria Paraquedista consolidou sua identidade como uma tropa de elite, sediada no Rio de Janeiro e subordinada ao Comando Militar do Leste.
Na década de 1970, os obuseiros M-1 75 mm Howitzer Pack, que haviam desempenhado um papel fundamental na modernização da artilharia aerotransportada do Exército Brasileiro, começaram a exibir sinais evidentes de obsolescência e desgaste. Após décadas de serviço, essas peças, originalmente recebidas na década de 1940, enfrentavam limitações impostas pela idade e pela necessidade de padronização logística. O calibre de 105 mm foi adotado como padrão para a artilharia de campanha do Exército Brasileiro, refletindo a busca por maior eficiência operacional e uniformidade nos estoques de munição. Nesse contexto, muitos dos obuseiros M1 75 mm passaram a ser utilizados em funções secundárias, como instrução militar e disparos de salvas cerimoniais, especialmente no âmbito do Curso de Formação de Reservistas de 2ª Categoria (CMPA). Essas atividades, embora importantes para a formação de reservistas e para a preservação de tradições militares, indicavam o declínio do papel operacional dessas peças, que já não atendiam às exigências das operações modernas. Diante desse cenário, o Comando do Exército Brasileiro tomou a decisão estratégica de substituir os obuseiros M-1 75 mm por equipamentos mais avançados. A escolha recaiu sobre o modelo italiano Oto Melara C/14 M-56R de 105 mm, cuja aquisição teve início em 1977. Esse obuseiro, reconhecido por sua leveza, mobilidade e compatibilidade com operações aerotransportadas, representou um avanço significativo para a artilharia brasileira, alinhando-se às necessidades táticas da época e consolidando o calibre de 105 mm como padrão.  Com o fim de sua carreira operacional, alguns obuseiros M-1 75 mm Howitzer Pack foram realocados para o Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ), onde passaram a ser empregados em atividades de instrução e em disparos de salvas de honra, ao lado dos antigos obuseiros franceses Schneider de 75 mm. Nessas funções, as peças continuaram a desempenhar um papel simbólico e educativo, preservando a memória histórica da artilharia brasileira e contribuindo para a formação de jovens cadetes. Esse uso, contudo, foi temporário. No início da década de 1990, os M-1 75 mm foram completamente desativados do serviço ativo.

Em Escala.
O kit da Vision Models na escala 1/35 é ideal para representar o M1 75 mm Howitzer Pack do Exército Brasileiro. Apesar de limitações na injeção plástica, o modelo oferece bom detalhamento, com peças em metal e photo-etched, que garantem realismo a elementos como o cano, suportes e grades. O kit não requer modificações para representar a versão usada pelo Brasil, recebida via Lend-Lease Act. A pintura em verde-oliva, com marcações discretas, reflete o uso pelo Núcleo da Divisão Aeroterrestre e pela Brigada de Infantaria Paraquedista.
O esquema de pintura adotado para o M-1 75 mm Howitzer Pack consistia predominantemente no Verde-Oliva Fosco, correspondente ao padrão FS 34087 (Federal Standard 595), amplamente utilizado em equipamentos militares brasileiros e aliados durante e após a Segunda Guerra Mundial. As marcações eram minimalistas, geralmente restritas a numerações ou insígnias discretas do Exército Brasileiro, aplicadas em preto fosco (FS 37038) ou, em alguns casos, branco fosco (FS 37875), dependendo do contexto operacional ou cerimonial.


Bibliografia: 
- M116 75 mm  Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/M116_howitzer
- Technical Manual TM 9-1320, 75mm Howitzers and Carriages. War Department, 1944
- Veículos Militares do Brasil - EB e CFN – Facebook Edição colaborativa do artigo
-  Exército Brasileiro - http://www.bdainfpqdt.eb.mil.br/oms/60-organiza%C3%A7%C3%B5es-militares/110-8-gac-pqdt.html