Schneider C-17S (M1919) 155 mm

História e Desenvolvimento.
Em 1836, os irmãos Adolphe Schneider (1802-1845) e Joseph-Eugène Schneider (1805-1875), originários de uma família lorraine, fundaram a Schneider, Frères & Cie., uma sociedade em comandita por ações, na cidade de Le Creusot, na Borgonha, França. A empresa nasceu com a aquisição das forjas e fundições locais, que estavam em falência, em parceria com o banqueiro François-Alexandre Seillière e Louis Boigues, proprietário das Forges de Fourchambault. A escolha de Le Creusot foi estratégica, uma vez que a região dispunha de minas de carvão e minério de ferro em um perímetro próximo, além de acesso ao Canal du Centre, que facilitava o transporte de matérias-primas e produtos acabados. Este contexto, aliado ao início da Revolução Industrial na França e ao surgimento das ferrovias, ofereceu um cenário promissor para o desenvolvimento industrial. Os irmãos Schneider, apesar de não possuírem formação técnica formal, demonstraram visão empreendedora e conhecimento financeiro, adquiridos em parte por meio de cursos no Conservatoire des Arts et Métiers em Paris. Adolphe assumiu a gestão administrativa e comercial, enquanto Eugène focava nos aspectos técnicos e operacionais, estabelecendo uma divisão de papéis que impulsionou o crescimento inicial da empresa. A Schneider, Frères & Cie. foi criada com a ambição de modernizar a indústria metalúrgica francesa, aproveitando as inovações britânicas, como a produção de aço e a construção de locomotivas. A partir de 1837, a empresa iniciou um processo de modernização dos equipamentos industriais, com a introdução de altos-fornos alimentados a coque, fornos de pudlagem mecanizados e o uso do marteau-pilon (martelo-pilão), inventado pelo engenheiro François Bourdon. Em 1838, a Schneider, Frères & Cie. produziu a primeira locomotiva a vapor fabricada na França, batizada de La Gironde, destinada à Compagnie du Chemin de Fer Paris–Versailles. Este feito colocou a empresa em competição direta com as indústrias britânicas, consolidando sua reputação no setor ferroviário. Além de locomotivas, a empresa fabricava trilhos, pontes metálicas e estruturas para estações de trem, atendendo à crescente demanda por infraestrutura ferroviária na França e no exterior, incluindo Itália, Espanha e o Império Russo. A empresa também investiu na integração vertical, controlando desde a extração de minério e carvão até a produção de produtos acabados. Foram adquiridas minas de carvão no bassin de Blanzy e de minério de ferro na Nièvre e na vallée de la Dheune, garantindo a segurança no fornecimento de matérias-primas. A criação de ateliers de mecânica e montagem em Le Creusot, apoiados por escritórios de projetos internos, permitiu à empresa desenvolver suas próprias máquinas-ferramentas, uma inovação que a destacou como pioneira na França.

Em 1845, a trajetória da empresa sofreu um revés com a morte acidental de Adolphe Schneider, vítima de um acidente a cavalo. Eugène assumiu sozinho a liderança, renomeando a empresa para Schneider & Cie.. Apesar da perda, Eugène demonstrou habilidade em manter o crescimento da companhia, expandindo suas operações e consolidando sua influência econômica e política. Sob a liderança de Eugène Schneider, a Schneider & Cie. tornou-se um dos principais grupos industriais da França no século XIX. A empresa diversificou sua produção, entrando nos setores de armamentos, construção naval e engenharia pesada. Após a derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), o governo francês solicitou a retomada da produção de armamentos, já que os canhões de aço prussianos haviam se mostrado superiores. A Schneider & Cie. respondeu com a fabricação de canhões, blindagens e novos tipos de aço, como o aço ao níquel, utilizado em armamentos e navios. A empresa também se destacou na construção naval, produzindo navios de guerra e componentes para estaleiros, como os Forges et Chantiers de la Gironde, controlados pelo grupo entre 1882 e 1927. No setor ferroviário, a Schneider & Cie. exportava locomotivas para mercados internacionais, incluindo a Rússia, onde participou da construção da Ferrovia Transiberiana. Em 1876, a aquisição de um marteau-pilon de 100 toneladas reforçou a capacidade da empresa de produzir peças de grande porte, como eixos para navios e canhões.Eugène Schneider implementou uma política paternalista em Le Creusot, construindo moradias, escolas, hospitais e igrejas para os trabalhadores, que chegaram a 10.000 no auge do século XIX.  Após a morte de Eugène Schneider em 1875, seu filho Henri Schneider (1840-1898) assumiu a liderança da empresa. Henri continuou a modernização tecnológica, adotando processos como os convertidores Bessemer e os fornos Martin para a produção de aço. Sob sua gestão, a Schneider & Cie. intensificou a exportação de armamentos, aproveitando a Lei de 1884, que autorizava a venda de equipamentos militares para o exterior. Canhões como o Longtom (brevet Canet Schneider) foram fornecidos a exércitos estrangeiros, incluindo o do Transvaal, e demonstraram superioridade em conflitos contra os britânicos. O representativo viés de produção militar da corporação Schneider - Creusot Fréres & Cie, surgiria após o término da Guerra Franco-Alemã (1870-1871), quando o herdeiro do conglomerado Henri Schneider decidiria se estabelecer neste segmento, criando linha de produção dedicadas ao desenvolvimento e fabricação uma ampla gama de canhões e morteiros. Em 1897, a empresa procederia a aquisição das “Oficinas de Artilharia do Mediterrâneo Forges”, localizadas na cidade Le Havre no interior da França.
 Ao incorporar aos seus quadros toda a equipe de engenheiros e projetistas o grupo absorveria um amplo know how neste segmento de construção, se destacando principalmente a tecnologia de produção de canhões sem recuo. Neste momento o principal trunfo da corporação era proporcionado pela atuação do inovador engenheiro Gustave Canet (colaborador original da Forges Mediterrâneo), que ao longo dos anos alçaria postos de destaque na corporação, como diretor de artilharia no Creusot e diretor honorário da Artilharia de Schneider. Ele seria o principal responsável pelo desenvolvimento da emblemática família de canhões Canet Schneider, produzida em uma variada gama de calibres, para as mais diversas aplicações em âmbito terrestre e naval. No início do ano de 1909 a Schneider Fréres & Cie seria procurada pelo governo imperial russo, visando o desenvolvimento de um obuseiro pesado de campanha, com a empresa apresentando uma proposta de uma peça convencional com calibre de 152 mm, que seria prontamente aceito, recebendo a designação de Modelo 1910 Schneider. Nos anos seguintes, este projeto passaria a despertar o interesse por parte do Exército Frances (Armée de Terre), levando a criação de uma versão customizada, contando agora com o calibre padrão de 155 mm, passando a ser denominado como "Canon de 155 C modèle 1915 Schneider". Este obuseiro apresentava uma concepção convencional envolvendo um sistema de recuo hidropneumático montado sob o cano de disparo e um escudo de arma para proteger a tripulação. Todo o conjunto estava disposto em uma carruagem com rodas de madeira. Empregava ainda uma culatra de parafuso interrompido com munição de carga separada; o projétil sendo carregado primeiro seguido pela quantidade adequada de propelente em uma caixa de cartucho de latão. Uma bandeja de carregamento seria articulada ao lado esquerdo do berço, e seria colocado na posição após a culatra se abrir para segurar o projétil antes de ser empurrado para dentro da câmara, mantendo o projetil na posição até que pudesse ser acionado.  A peça de artilharia seria tracionada por um conjunto de oito cavalos mediante o acoplamento de um suporte com duas rodas. Diferentemente do canhão Modelo 1910 russo, este novo modelo contava com um cano mais longo e maior velocidade de saída, projetando um alcance de 2.500 metros, porém apresentava um peso extra na ordem de 1.100 kilos. Rapidamente este modelo se tornaria a principal arma de artilharia pesada de campanha das forças francesas, em seguida contratos de exportação seriam firmados, com o governo espanhol com os primeiros canhões sendo entregues em 1917, e posteriormente em novembro de 2022 a arma seria declarada padrão para uso do Exército Espanhol (Ejército de Tierra), embora seu primeiro uso militar tenha sido na África em 1921, durante o assalto a Turiet Hamed.  Curiosamente este armamento seria largamente operado pelos dois lados durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).  

Operacionalmente o Exército Frances (Armée de Terre) preferia o emprego cargas ensacadas para suas munições em detrimento aos cartuchos de latão usados pelo Canon de 155 C modèle 1915, principalmente em função do custo de produção e alta necessidade de latão (um material estratégico) utilizado neste processo. Esta exigência se mostraria um problemas real durante o início da Primeira Guerra Mundial, dado o grande número de projéteis gastos. Neste contexto seria solicitado a Schneider Fréres & Cie um redesenho de seu projeto original , permitindo assim o uso de pólvora ensacada. A empresa atenderia a esta demanda passando a fazer uso de um novo obturador, adaptando um a nova culatra para o cano original. Muitas armas armas tiveram suas bandejas de carregamento removidas porque isso diminuiu a taxa de tiro, uma bandeja portátil foi usada pelos carregadores. No entanto este processo enfrentaria problemas de ordem técnica, com a arma que receberia a designação de Canon de 155 C modèle 1917 Schneider, sendo colocada em serviço somente no final do ano de 1916. Ao todo até o termino do conflito três mil canhões deste modelo seriam entregues, com muitas centenas do Canon de 155 C modèle 1915 sendo atualizados para o modelo 1917.  No decorrer da Primeira Guerra Mundial, este modelo seria adotado como obuseiro padrão pela Força Expedicionária Americana - AEF (American Expeditionary Force), sendo adquiridos maios de mil e quinhentas peças, que seriam entregues ao Exército dos Estados Unidos (US Army) na França. O último tiro americano disparado durante a Grande Guerra seria realizado pelo obuseiro  chamado "Calamity Jane", do 11º Regimento de Artilharia de Campanha. Seriam adquiridos os diretos de não exclusivos sobre o design e projetos, resultando na produção local de seiscentas e vinte e seis peças. Estes diferiam um pouco dos modelos franceses, apresentando um escudo reto em vez de curvo, pneus de borracha em vez de aço em rodas raiadas de madeira, uma pá giratória e um mecanismo de disparo ligeiramente diferente. Contratos de exportação seriam firmados, com centenas de peças sendo incorporadas as forças terrestres da Grécia, Romênia, Polônia, Portugal, Espanha, Finlândia, Argentina, Iugoslávia, Brasil, Sérvia e Rússia, com muitas destas peças se mantendo em atividade até pelo menos meados da década de 1960. Ao longo da década de 1920 os investimentos mundiais destinados a defesa permaneceriam estagnados, não havendo neste período nenhum desenvolvimento significativo de novas armas de artilharia desta categoria, com os canhões Schneider Modelos 1917 e 1918 se mantendo como arma padrão em diversos exércitos europeus. Nos Estados Unidos, entre os anos de 1934 e 1936, uma grande parte destas peças seriam modernizadas, recebendo vagões de transporte equipados com freios a ar, novas rodas metálicas e pneus pneumáticos de borracha para tração de motores de alta velocidade, adaptando os assim a tração mecanizada de alta velocidade.  Este programa permitiria que os canhões Schneider permanecessem como arma padrão de artilharia do Exército dos Estados Unidos (US Army), até começarem a ser substituídos pelos novos obuseiros M-1 de 155 mm a partir do final de 1942. 
Com a queda da França em junho de 1940, após a invasão alemã, um número significativo de canhões Schneider M-1917 e M-1918 foi capturado pelo Exército Alemão (Wehrmacht). Essas peças foram rapidamente incorporadas ao serviço ativo, recebendo a designação alemã SFH 414 15,5 cm. A Wehrmacht utilizou os obuses em diversas frentes, aproveitando sua confiabilidade e capacidade de fogo. Na Muralha do Atlântico, uma extensa linha de fortificações costeiras construída para deter uma invasão aliada, os canhões Schneider reforçaram posições defensivas ao longo do litoral francês. Além disso, foram alocados a divisões de infantaria de segunda linha estacionadas na França ocupada e empregados na Campanha do Norte da África, onde apoiaram as forças do Afrika Korps lideradas pelo General Erwin Rommel. Durante a Guerra de Continuação (1941-1944), um conflito paralelo à Segunda Guerra Mundial entre a Finlândia e a União Soviética, cerca de 160 obuses Schneider foram fornecidos ao Exército Finlandês pelas forças alemãs. Essas peças foram intensivamente utilizadas contra as tropas soviéticas, especialmente em operações defensivas na Frente da Carélia. A capacidade dos M-1917 e M-1918 de operar em terrenos acidentados e condições climáticas adversas, como os rigorosos invernos finlandeses, tornou-os valiosos para os finlandeses, que enfrentavam um inimigo numericamente superior. O uso dessas armas contribuiu para a resistência finlandesa, embora o país tenha enfrentado desafios logísticos para manter o suprimento de munições. O Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) também se beneficiou da captura de canhões Schneider durante o conflito. Durante a Batalha da França em 1940, os italianos tomaram oito peças, e, posteriormente, na Campanha dos Balcãs, em outubro de 1940, capturaram 96 obuses na Grécia. Essas armas foram redesignadas como Obice da 155/14 PB e integradas ao arsenal italiano, sendo empregadas em operações nos Balcãs e no Norte da África. A incorporação dessas peças pelo exército italiano, que enfrentava limitações em sua própria indústria de armamentos, demonstra a versatilidade e o valor tático dos Schneider M-1917 e M-1918 em diferentes teatros de guerra. O Exército dos Estados Unidos (US Army) fez uso limitado dos obuses Schneider M-1917 e M-1918 nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial. Essas peças, originalmente fornecidas à França e posteriormente exportadas ou produzidas sob licença nos EUA, foram empregadas em combates iniciais, com destaque para a invasão japonesa das Filipinas em 1941-1942. Durante a defesa de Bataan, o 301º Regimento de Artilharia do Exército Colonial Filipino, equipado com obuses Schneider fornecidos pelos americanos, utilizou essas peças contra as forças japonesas, marcando seu batismo de fogo no conflito. Cerca de cem obuseiros M-1918 modernizados seriam fornecidos ao Reino Unido sob o programa Lend-Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), passando a ser empregados no final de 1941 no teatro de operações do norte da África, servindo aos efetivos do Oitavo Exército. Após o término do conflito, muitos destes canhões permaneceriam em serviço até a década e 1960. Já o Exército Boliviano, receberia em 1976 uma doação de dezesseis obuses do Exército Argentino pertencentes aos modelos Schneider L.15.05 e L.30.05, com estes se mantendo em serviço até o início do século XXI. 

Emprego no Exército Brasileiro.
A artilharia brasileira, enraizada nas lutas coloniais e consolidada após a Independência de 1822, é um pilar da história militar do país, marcada por momentos de bravura, inovação e resiliência. As origens da artilharia brasileira remontam ao período colonial, quando brasileiros se mobilizaram em conflitos como as Batalhas de Guararapes, enfrentando forças holandesas em Pernambuco com táticas rudimentares, mas corajosas. Após a Independência, em 1822, a artilharia de campanha começou a se estruturar como uma arma organizada, ganhando prestígio no Império do Brasil. Diferentemente da infantaria e da cavalaria, que exigiam menos anos de formação, a artilharia demandava treinamento completo na Academia Militar do Império, refletindo sua complexidade técnica. Os artilheiros, muitas vezes jovens oficiais, dedicavam-se a dominar cálculos balísticos e manobras táticas, forjando uma tradição de excelência que marcaria gerações. O auge desse período foi a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), onde a artilharia brasileira, sob o comando do Marechal Emílio Luís Mallet, se destacou na Batalha de Tuiuti (1866), a maior batalha campal da América do Sul. Apelidada de “Artilharia Revólver” por sua precisão e rapidez, a força brasileira, protegida por um fosso tático inovador, resistiu a ataques paraguaios com uma determinação eternizada na frase de Mallet: “Eles que venham! Por aqui não passam!”. Nascido na França em 1801 e naturalizado brasileiro, Mallet comandou com destreza, sendo promovido a brigadeiro por mérito e agraciado com o título de Barão de Itapevi em 1878, ascendendo a marechal em 1885. Sua liderança transformou a artilharia em um símbolo de orgulho nacional, inspirando gerações de artilheiros. A influência da Friedrich Krupp AG no Brasil começou em 1872, com a aquisição dos primeiros canhões de campanha de 75 mm, destinados aos Regimentos de Artilharia a Cavalo. Essas peças, fabricadas em Essen, Alemanha, representavam o auge da tecnologia bélica, superando os canhões franceses La Hitte, que até então equipavam o arsenal brasileiro. Na década de 1880, o Exército Imperial recebeu mais três dezenas de canhões Krupp 75 mm Modelo 1895, recomendados pelo Conde d’Eu, Comandante Geral da Artilharia e presidente da Comissão de Melhoramento de Material do Exército. Como genro do Imperador Dom Pedro II, o Conde d’Eu desempenhava um papel central como conselheiro militar, defendendo a superioridade dos canhões alemães, que alcançavam até 12.000 metros, uma melhoria significativa em relação aos modelos anteriores. A adoção em larga escala dos canhões Krupp marcou uma virada na modernização do Exército Brasileiro, recuperando o potencial militar após anos de estagnação. Para os artilheiros, operar essas armas era um desafio que exigia precisão e treinamento. Em exercícios nos campos de treinamento do Rio de Janeiro, equipes de cinco a sete homens carregavam projéteis de 6,5 kg, ajustavam sistemas de mira e disparavam sob o calor carioca, fortalecendo a camaradagem. Ironicamente, os canhões recomendados pelo Conde d’Eu foram usados contra uma rebelião monarquista na Guerra de Canudos (1896-1897), onde provaram sua eficácia em combates reais, apesar das condições adversas do sertão baiano.

No início do século XX, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos decorrentes da obsolescência de seus armamentos e doutrinas militares. As limitações técnicas haviam sido expostas durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), o maior conflito da América do Sul, e confirmadas na Campanha de Canudos (1896-1897), que revelou a inadequação do arsenal brasileiro frente às demandas de combates modernos. Os canhões Krupp de 75 mm, adquiridos em 1872 e 1895, embora inovadores em sua época, já não acompanhavam os avanços tecnológicos da artilharia global, como os sistemas de recuo hidropneumático e a maior mobilidade exigida pelas táticas contemporâneas. Este cenário refletia não apenas a ausência de uma indústria bélica nacional, mas também a dependência de importações e a necessidade urgente de modernização para alinhar o Brasil às potências militares da época. A transformação do Exército Brasileiro ganhou impulso com a liderança de figuras visionárias, como os Marechais João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Francisco de Paula Argolo e, sobretudo, Hermes da Fonseca, que, com o apoio do Barão do Rio Branco, então Ministro das Relações Exteriores, impulsionaram a chamada Reforma Hermes (1900-1908). Este processo de reestruturação, conduzido durante o governo de Rodrigues Alves e intensificado sob a presidência de Afonso Pena, buscava reposicionar o Exército como uma força moderna, capaz de responder aos desafios estratégicos do novo século. Inspirado pelo modelo do Exército Prussiano, particularmente pelo sistema de Estado-Maior desenvolvido por Helmuth von Moltke, Hermes da Fonseca defendia a necessidade de equipar o Brasil com armamentos de ponta e adotar uma organização militar baseada na disciplina, na eficiência e na inovação tecnológica. A Reforma Hermes incluiu a reorganização territorial do país, com a divisão em 21 regiões para alistamento militar e 13 para inspeção, além da criação e regulamentação do Estado-Maior do Exército, um órgão central para planejamento estratégico e coordenação operacional. Essas medidas visavam não apenas modernizar a estrutura militar, mas também fortalecer a soberania nacional em um contexto de crescente influência geopolítica do Brasil na América do Sul. Reconhecendo a inexistência de uma indústria bélica nacional capaz de suprir as necessidades do Exército, Hermes da Fonseca organizou, em agosto de 1908, uma missão militar à Europa, com destino à Alemanha e à França, dois dos principais centros de tecnologia militar da época. A missão, composta por oficiais de alto escalão, tinha como objetivo identificar fornecedores de armamentos modernos e estabelecer parcerias para a transferência de conhecimentos técnicos e profissionais, essenciais para a capacitação do Exército Brasileiro. Os resultados dessa missão foram expressivos, culminando na aquisição de um vasto arsenal de equipamentos destinados a renovar as capacidades da infantaria, cavalaria e artilharia. Para a infantaria, foram adquiridos 400.000 fuzis Mauser de calibre 7 mm, fabricados na Alemanha, reconhecidos por sua precisão e confiabilidade. A cavalaria foi equipada com 10.000 lanças Ehrhardt, 20.000 espadas e 10.000 mosquetões, adaptados às táticas de combate montado. 
O início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) marcou uma transformação profunda na arte da guerra, com avanços significativos em tecnologia de armamentos e doutrinas militares. A introdução de tanques, aviação militar, artilharia pesada e táticas de guerra de trincheiras elevou os padrões da guerra moderna, expondo a obsolescência de muitas forças armadas ao redor do mundo. No Brasil, o Exército, apesar dos avanços promovidos pela Reforma Hermes (1900-1908), viu-se rapidamente superado a partir de 1918, tanto em termos de equipamentos quanto de organização doutrinária. Os canhões Schneider-Canet de 75 mm e Krupp de mesmo calibre, adquiridos no início do século XX, embora robustos, não acompanhavam as inovações tecnológicas, como os sistemas de recuo mais avançados e a mobilidade exigida pelas novas táticas de combate. Essa obsolescência era agravada pelo contexto geopolítico da América do Sul, onde a Argentina experimentava um rápido desenvolvimento econômico e militar, emergindo como a principal ameaça hipotética ao Brasil. A rivalidade histórico-estratégica entre os dois países, intensificada desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), motivou o governo brasileiro a buscar soluções urgentes para reequilibrar a balança militar na região. A partir do segundo semestre de 1918, sob a presidência de Delfim Moreira e com o apoio do Ministro da Guerra, General Alberto Cardoso de Aguiar, o Brasil iniciou esforços para implementar um novo ciclo de modernização militar, visando recuperar sua capacidade defensiva e projeção regional. Reconhecendo a necessidade de expertise externa para conduzir esse processo, o governo brasileiro abriu negociações com a França, uma potência militar reconhecida por sua avançada indústria bélica e doutrina de combate, especialmente após seu desempenho na Primeira Guerra Mundial. Em 1918, diálogos avançados foram conduzidos em Paris entre o adido militar brasileiro na França, Coronel Malan d’Angrogne, e o Ministro da Guerra francês, Georges Clemenceau, uma figura central na vitória aliada. Paralelamente, o General Maurice Gamelin, que mais tarde se tornaria comandante-chefe do Exército Francês, foi enviado ao Brasil em uma missão de avaliação. Sua tarefa era analisar o estado das Forças Armadas Brasileiras, identificando deficiências em equipamentos, treinamento e organização, para embasar uma proposta francesa de cooperação. As negociações culminaram na assinatura de um contrato em Paris, ratificado meses depois no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1919, durante o governo de Epitácio Pessoa. Este acordo criou oficialmente a Missão Militar Francesa, um marco na história militar brasileira. Pelo contrato, oficiais franceses assumiriam, por quatro anos, o comando de instituições-chave, como a Escola de Estado-Maior (EEM), a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), a Escola de Intendência e a Escola de Veterinária. 

Em contrapartida, o Brasil comprometeu-se a priorizar a indústria militar francesa em suas aquisições de armas e equipamentos, desde que as propostas francesas fossem competitivas em preço e prazo de entrega em relação a outros fornecedores internacionais. A chegada da Missão Militar Francesa, liderada por oficiais experientes como o General Louis Gillet, marcou o início de uma transformação profunda no Exército Brasileiro. A partir de 1921, novos regulamentos foram adotados, alinhados às doutrinas francesas, incluindo normas para a Direção e Emprego das Grandes Unidades, o Exercício e Emprego da Artilharia e o Serviço de Estado-Maior em Campanha. Essas mudanças modernizaram a organização tática e logística, introduzindo conceitos de mobilidade, coordenação interarmas e planejamento estratégico, inspirados nas lições da Primeira Guerra Mundial.  As avaliações iniciais dos oficiais franceses identificaram a urgência de atualizar o arsenal brasileiro, com ênfase na substituição de equipamentos obsoletos. Uma concorrência internacional foi aberta, e, conforme estipulado no contrato, as propostas da indústria francesa, lideradas pela Schneider & Cie., foram priorizadas devido a custos competitivos e qualidade técnica. Entre os armamentos adquiridos, destacaram-se: Canhões Schneider C-50 1902 de 150 mm: Utilizados em aplicações terrestres e ferroviárias, reforçando a artilharia de costa e de campanha. Canhões Schneider 75/28 Modelo 1906 de 75 mm: Peças de tiro rápido, ideais para apoio tático em operações móveis. Canhões Schneider C-18-6 Modelo 1919 de 75 mm: Modelos de montanha, leves e adaptados para terrenos acidentados. Obuses Schneider C-17S de 155 mm: Peças pesadas, destinadas a equipar unidades de artilharia de fronteira, com entregas realizadas em 1923. Os obuses Schneider C-17S de 155 mm, projetados para atender às necessidades de artilharia pesada, foram adaptados ao contexto do Exército Brasileiro, que na década de 1920 era predominantemente hipomóvel, ou seja, dependente de tração animal. Essas peças foram entregues com rodas de madeira, adequadas ao transporte por cavalos e muares, mas que limitavam sua mobilidade em terrenos irregulares. Destinados às unidades de artilharia de fronteira, os C-17S ofereciam maior poder de fogo em comparação com os canhões de montanha Schneider-Canet de 75 mm, que eram leves e facilmente transportáveis, mas apresentavam restrições devido ao seu peso e dimensões. Seguindo o padrão francês, as baterias de artilharia equipadas com os Schneider C-17S eram organizadas com: Quatro canhões de 155 mm por bateria. Quatro carros de munição, cada um transportando 38 munições por canhão, complementados por 60 unidades adicionais em carros de apoio. Um carro de apoio com ferramental para manutenção. Um carro-forja, responsável por reparos em campanha, incluindo consertos nas rodas de madeira e nos carros de tração. Cada bateria era operada por um efetivo de três oficiais, dez sargentos e 121 praças, mobilizando 39 cavalos e 96 muares para a tração das peças, munições e pessoal. 
Em comparação com os canhões de montanha Schneider-Canet de 75 mm, que se destacavam pela leveza e facilidade de transporte em terrenos acidentados, os obuses Schneider C-17S de 155 mm apresentavam desafios operacionais. Seu peso elevado, aliado às rodas de madeira, restringia sua mobilidade, tornando-os mais adequados para posições defensivas fixas ou operações em terrenos regulares, como nas regiões de fronteira. Essas limitações, embora significativas, eram compensadas pelo maior alcance e poder destrutivo dos obuses, que ofereciam suporte crucial em combates de maior escala.. Ao todo oitenta canhões Schneider  C-17S 155 mm seriam recebidos, e por se tratar de modernas peças de artilharia, apresentariam excelentes resultados operacionais, e a exemplo dos Schneider-Canet 75 mm, se fariam presentes ação real, em quase todos os grandes conflitos regionais ocorridos no país no início do século XX, incluindo a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932, e neste último cenário de conflagração sendo empregados pelos lados em conflagração. Estes canhoes de 155 mm se manteriam em posição de destaque no Exército Brasileiro até o ano de 1940, quando seriam recebidos os primeiros canhoes ingleses Vickers Armstrong 152,4 mm, trazendo como principal evolução, seu alcance de 18.400 metros com uma excelente cadência de três tiros por minuto, superando em muito as peças em uso até então que atingiam no máximo 9.000 metros de alcance. A estes no ano seguinte se somariam os novos e mais modernos canhoes alemães Krupp Flak 88 mm C/56 Modelo 18, com estes sendo tracionados por veículos motorizados, passando a dotar as principais unidades de artilharia de costa e antiaérea. A partir de 1942 com a adesão do país ao programa de ajuda militar  Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seriam recebidas as primeiras unidades dos obuseiros norte-americanos M-1 155 mm. Durante a Segunda Guerra Mundial os canhoes Schneider  C-17S 155 mm seriam empregados em diversas manobras e exercícios de defesa equipando os regimentos de artilharia a cavalo. Com a ampliação da motorização do Exército Brasileiro, a partir de fins da década de 1930, estes canhões seriam modernizados nos arsenais de guerra no Rio de Janeiro (AGRJ) e General Câmara (AGRS) no Rio Grande do Sul,  recebendo novas rodas com pneus no lugar das rodas de madeira passando a serem tracionados por caminhões alemães Hennshel & Sohn. Permaneceriam em  operação até a segunda metade da década de 1960, quando foram retirados de serviço, com algumas peças sendo preservadas. 

Em Escala.
Para recriar o canhão Schneider C-17S de 155 mm em escala, foi selecionado o novo e altamente detalhado kit produzido pela Das Werk na escala 1/35. Este modelo destaca-se pela excepcional qualidade de seus componentes, incluindo um conjunto de peças em photo-etched (fotogravadas) que reproduzem com precisão os detalhes técnicos do obuseiro, como o sistema hidropneumático de recuo, o berço de aço cromo-níquel e os cilindros do freio e recuperador. A fidelidade do kit à versão original elimina a necessidade de modificações para representar a configuração utilizada pelo Exército Brasileiro, tornando-o uma escolha ideal para modelistas que buscam autenticidade histórica. O kit da Das Werk captura elementos distintivos do C-17S, como o peso visual das rodas de madeira, a estrutura robusta do trenó e o design do tubo estriado, permitindo uma representação fiel do equipamento que equipou as baterias de artilharia de fronteira brasileiras. O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura com que estes canhoes foram recebidos no pais em 1923, e seguem o esquema de camuflagem tática aplicada aos canhões Schneider  C-17S 155 mm empregados pela Força Expedicionária Americana - AEF (American Expeditionary Force) durante a Primeira Guerra Mundial. No Brasil estas peças receberiam posteriormente uma pintura total em verde oliva, a exemplo dos canhões norte-americanos recebidos durante a Segunda Guerra Mundial.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura com que estes canhões foram recebidos no pais em 1923, e seguem o esquema de camuflagem tática aplicada aos canhões Schneider  C-17S 155 mm empregados pela Força Expedicionária Americana - AEF (American Expeditionary Force) durante a Primeira Guerra Mundial. No Brasil estas peças receberiam posteriormente uma pintura total em verde oliva, a exemplo dos canhões norte-americanos recebidos durante a Segunda Guerra Mundial. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados em 1942, o Exército Brasileiro passou por um processo de reequipamento e padronização, influenciado pela crescente parceria com os Estados Unidos. Como parte desse processo, os canhões Schneider C-17S foram repintados em um tom uniforme de verde-oliva (aproximadamente FS 34088), Posteriormente, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as peças Schneider C-17S no Brasil foram repintadas em um tom uniforme de verde-oliva, seguindo o padrão adotado pelos canhões norte-americanos fornecidos ao país.

Bibliografia: 
- Schneider Frères et Compagnie - https://www.lesechos.fr
- Schneider-Canet - https://pt.wikipedia.org/wiki/Schneider-Canet
- Missão Militar Francesa por Rodrigo N. Araujo -  https://cpdoc.fgv.br/
- Arquivos do Museu Militar de Conde de Linhares – Rio de Janeiro