Jeep Willys M-38 (VTNE)

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) intensificou esforços para transformar sua estrutura operacional, buscando acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, capaz de atender às demandas de um cenário bélico moderno. Esse processo foi impulsionado pelos avanços tecnológicos da pujante indústria automotiva norte-americana, que oferecia soluções inovadoras para mobilidade e logística militar. O programa de mecanização abrangia o desenvolvimento de uma ampla gama de veículos, incluindo caminhões de carga, transportes de pessoal e, de forma prioritária, um veículo utilitário leve com tração integral 4x4. Este veículo deveria operar em ambientes fora de estrada, superar obstáculos com facilidade e transportar até quatro soldados totalmente equipados, garantindo agilidade e versatilidade em operações táticas.  Contudo, restrições orçamentárias impostas pela Grande Depressão adiaram essa fase, interrompendo temporariamente o progresso do programa. O projeto foi retomado no final de 1936, quando o cenário econômico começou a se estabilizar e o Exército priorizou novamente a modernização. Após uma concorrência aberta, a Bantam Car Company, sediada na Pensilvânia, foi selecionada para desenvolver e produzir o lote pré-série. No final da década de 1930, a Bantam Car Company, sediada em Butler, Pensilvânia, produziu os primeiros setenta veículos utilitários leves com tração nas quatro rodas, que dariam origem à icônica família Jeep, reconhecida como uma das mais célebres linhas de veículos militares da história. Esses primeiros modelos, utilizados inicialmente pelas forças de infantaria do Exército dos Estados Unidos, destacaram-se por sua excepcional mobilidade, desempenhando com êxito uma ampla variedade de missões operacionais. Esse desempenho motivou a decisão de adotar o veículo em larga escala nas Forças Armadas norte-americanas, levando à abertura de um processo licitatório para o desenvolvimento de uma versão aprimorada, destinada à produção em grande quantidade. Em 1941, após um processo de avaliação e contratação marcado por debates, a produção do Jeep foi iniciada nas fábricas da American Bantam Company, Ford Motor Company e Willys-Overland Company. As primeiras unidades começaram a ser entregues ao Exército a partir de março de 1942. Os soldados, encantados com a versatilidade do veículo, passaram a chamá-lo de “GP” (sigla para General Purpose, ou “Propósito Geral”), cuja pronúncia em inglês lembrava a palavra “jeep”. Curiosamente, o termo “jeep” também evocava um personagem querido da cultura popular: Eugene, o animal de estimação de Olívia Palito, namorada do marinheiro Popeye, nos quadrinhos e desenhos animados dos anos 1930. Eugene era conhecido por seus poderes extraordinários, como superforça e a habilidade de caminhar por paredes e tetos. Inspirados por essa associação, os militares começaram a chamar seus veículos de “Jeep”, uma alusão às suas capacidades impressionantes. A expressão “Hey, he’s a real Jeep!” (“Ei, ele é um verdadeiro Jeep!”) tornou-se comum para descrever pessoas com habilidades físicas notáveis, consolidando o nome como um símbolo de robustez e versatilidade. 

Durante toda a Segunda Guerra Mundial, a produção desta versátil família de utilitários leves superaria mais de meio milhão de carros, destes 363.000 produzidas pela Willys Overland Co. e cerca de 280.000 entregues pela Ford Motors Company. O modelo seria ainda um dos principais expoentes do Programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com mais de 51.000 unidades fornecidas somente para a União Soviética, além de milhares mais para os países aliados.  O término da Segunda Guerra Mundial em agosto de 1945, levaria a uma desmobilização quase que imediata dos esforços de produção industrial militar dos Estados Unidos. Desta maneira, todas as indústrias de defesa norte-americanas, seriam profundamente afetadas por cancelamentos nos contratos de produção. Entre estas empresas estava a Willys Overland Company, que neste momento dedicava quase que a totalidade das linhas de produção e ferramental para a produção da família Jeep. No final da década de 1940, a Willys-Overland Company, reconhecendo a necessidade de reorientar estrategicamente seu portfólio automotivo, voltou suas atenções para o mercado civil. Essa mudança foi impulsionada por uma significativa vantagem de marketing: a Ford Motor Company, sua concorrente, estava judicialmente impedida de utilizar a marca “Jeep”. Assim, a empresa consolidou sua posição ao capitalizar a popularidade do nome que se tornara sinônimo de robustez e versatilidade. Assim a Willys-Overland lançou as bases para a versão civil de seu icônico veículo militar, o Willys MB, dando origem ao Willys CJ-2 (Civil Jeep). Foram produzidos quarenta exemplares pré-série, mas a fabricação em escala industrial teve início apenas em julho de 1945, com o modelo aprimorado CJ-2A. Embora baseado no design do Willys MB, o CJ-2A foi adaptado para o uso civil, com modificações significativas na carroceria e na construção. Equipado com o confiável motor Willys Go-Devil de quatro cilindros, o modelo apresentava carburador e sistema de ignição distintos, além de eliminar características exclusivamente militares, garantindo maior apelo ao público não militar. Em 1949, a montadora introduziu o CJ-3A, que permaneceu em produção até 1953, quando foi substituído pelo CJ-3B. O CJ-3A era movido pelo motor L-134 Go-Devil de 60 cv (45 kW; 61 cv), combinado com uma transmissão T-90, caixa de transferência Dana 18, eixo dianteiro Dana 25 e eixo traseiro Dana 41 ou 44. Esse modelo consolidou a reputação da Willys no mercado civil, oferecendo durabilidade e desempenho em diversas condições.  No final da década de 1940, os Jeeps da Segunda Guerra Mundial (MB e GPW) ainda estavam em uso, mas apresentavam sinais de obsolescência. O Exército americano precisava de um veículo que mantivesse a versatilidade e capacidade off-road dos modelos anteriores, mas com melhorias em durabilidade, capacidade de carga e operação em ambientes extremos, como rios profundos e terrenos lamacentos. A Willys, com sua experiência na produção do MB, foi escolhida para desenvolver esse novo modelo, aproveitando a base do Jeep civil CJ-3A, lançado em 1948, mas com modificações significativas para atender às especificações militares. Este programa envolveria a militarização do modelo civil porém envolvendo também características estruturais dimensionadas as demandas específicas do Exército dos Estados Unidos (US Army), nascendo assim o projeto do jipe M-38
A adequação as demandas resultarias na seguintes alterações e inovações:  Chassi e Suspensão Reforçados - O M-38 possuía um chassi mais robusto que o CJ-3A, com placas de reforço marcadas com a letra "M" para maior resistência. A suspensão também foi aprimorada para suportar maior peso e melhorar a estabilidade em terrenos acidentados. -  Eixos mais robustos: o dianteiro (Dana 25, totalmente flutuante) era sustentado pelos cubos das rodas, aumentando a capacidade de carga, enquanto o traseiro (Dana 44, semi-flutuante) oferecia maior durabilidade. Sistema Elétrico de 24 Volts - Uma das maiores mudanças foi a adoção de um sistema elétrico à prova d'água de 24 volts (usando duas baterias de 12 volts em série), em vez do sistema de 6 volts do MB. Isso garantia maior confiabilidade em condições úmidas e durante travessias de rios. Capacidade de Travessia de Água - O M-38 foi projetado para operações em ambientes alagados, com um sistema de ventilação selado para motor, transmissão, caixa de transferência, sistema de combustível e freios. Um snorkel elevado para entrada de ar no carburador permitia vadeação em águas profundas, uma exigência crítica dos militares norte-americanos. Motor e Transmissão - O motor era o "Go-Devil" L-head de 4 cilindros e 2,2 litros, produzindo 60 cavalos (ligeiramente menos potente que o desejado, o que levou ao desenvolvimento do M- 38A1 com um motor mais forte). Apesar disso, o motor foi adaptado com carburador aprimorado e ignição blindada para maior confiabilidade. A transmissão era a T-90 manual de 3 marchas, com uma caixa de transferência Dana 18, permitindo tração 4x4 temporária e marcha reduzida para maior torque em terrenos difíceis. O utilitário apresentaria ainda as seguintes dimensões e desempenho :  Comprimento: 3,38 m; largura: 1,57 m; altura: 1,88 m (com capota); distância entre eixos: 2,03 m. Peso: cerca de 1.247 kg (vazio) e 1.791 kg (bruto). Velocidade máxima: aproximadamente 97 km/h; autonomia: até 480 km com tanque cheio. Capacidade off-road: excelente, com ângulos de ataque (46°), saída (29°) e vão livre do solo de 23,5 cm. Por fim o projeto receberia modificações em seu desing externo como :  Faróis maiores, salientes e protegidos por grades de arame, em vez dos faróis embutidos do MB, para facilitar manutenção e melhorar a iluminação. A grade frontal tinha 7 fendas de ventilação (em vez de 9 do MB) devido ao tamanho dos faróis. O para-brisa podia ser rebatido para facilitar disparos, e o veículo incluía ganchos de reboque (pintle hook) e manilhas de elevação na dianteira e traseira. Ferramentas "pioneiras" (machado e pá) foram realocadas para o lado do passageiro, diferentemente do MB. Pneus militares 6.50x16 NDT e jantes "tubeless" ofereciam maior resistência e aderência. O pneu sobressalente e um galão de combustível de 18,9 litros eram montados na traseira, com suportes específicosO modelo não dispunha de um degrau externo (incluído no CJ-3A), para melhorar a distância ao solo facilitando o embarque. 

Entre os acessórios previstos incluíam-se guinchos hidráulicos Ramsey (com um peso líquido de 2.745 libras), equipamentos para vadear depressões e sistema de respiração especial para permitir a passagem de vales em riachos. Alguns jipes Willys M-38 seriam configurados especialmente para operações nivelamento leve de solo (sendo esta considerada uma versão raríssima) com lâminas controladas hidraulicamente. Os modelos destinados a operar em áreas de clima extremo de inverno incluíam um gabinete rígido (carroceria e capota), todo em metal. O painel de instrumentos do Willys M-38 era um exercício de simplicidade, assim como seus antecessores. Os instrumentos estavam agrupados no centro com iluminação externa, com as placas de dados à direita e um porta-luvas na extrema direita.  Os primeiros carros pré-série seriam extensamente avaliados junto ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland), sendo logo homologados para uso operacional.  Em janeiro de 1951 seria celebrado um primeiro contrato para cinco mil veículos que passariam a ser entregues no segundo semestre do mesmo ano. Este seriam implantados no principal teatro de operações durante a Guerra da Coreia (1950-1953) sendo empregados pelo Exércitos dos Estados Unidos (US Army) e pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (US Marine Corps). Mais contratos seriam firmados logo em seguida, com o modelo ficando conhecido também na Europa pela utilização por unidades militares norte-americanas na então Alemanha Ocidental. Aproximadamente dois mil e trezentos jipes M-38, seriam fabricados pela Ford Motors do Canadá para as Forças Armadas Canadenses a partir do ano de 1952, sendo localmente designados como jipe M38-CDN. Um grande número seria produzido para o mercado de exportação atendendo a contratos da Suíça, França, Holanda (M-38 NEKAF) e Bélgica. Neste meio tempo a pedido do comando do Exércitos dos Estados Unidos (US Army), já se encontrava em desenvolvimento uma nova versao deste utilitário, com este projeto culminando em fevereiro de 1952 no lançamento do MD  M-38A1 Truck, Utility G-758. Este seria o primeiro jipe a apresentar uma carroceria significativamente reestilizada, imediatamente reconhecível por seu capô arredondado e para-lamas, servindo de base para o novo modelo comercial CJ-5 produzido initerruptamente por três décadas entre os anos de 1954-1983. Seria também o modelo a fazer uso do novo motor Willys Hurricane F-Head 134 de quatro cilindros em linha, e por este apresentar um perfil mais alto, levaria a necessidade de redesenho de sua carroceria, principalmente na parte frontal.  A produção em série do Jeep Willys M-38A1, uma evolução do modelo M-38, teve início em meados de 1952, com os primeiros veículos sendo entregues às forças armadas dos Estados Unidos. Esses veículos eram frequentemente equipados com acessórios especializados, como a metralhadora Browning M2 calibre .50 ou sistemas de rádio com suportes para antenas, atendendo às necessidades operacionais de comunicação e combate.
Um marco significativo foi a celebração de um contrato de grande porte com o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps). Para atender às especificações da Marinha, os M-38A1 foram customizados com proteção reforçada contra corrosão, essencial para operações em ambientes navais, e chassi adaptado com suportes robustos que permitiam a instalação de anéis de elevação para transporte aéreo. Essa versatilidade tornou o veículo ideal para missões em cenários variados. Além do mercado interno norte-americano, o M-38A1 alcançou relevância internacional por meio de acordos de licenciamento para montagem em outros países. No Canadá, foi produzido como M-38A1CDN; na Holanda, como M-38 DAF YA-054; e na Coreia do Sul, como os modelos Kia KM410 e Keohwa M-5GA1. Essa expansão global reflete a confiabilidade e adaptabilidade do projeto. Em 1953, foi introduzida a variante M-38A1C, conhecida como “canhoeira”, equipada com um canhão sem recuo M-40A1 de 106 mm. Acoplado a esse sistema, um fuzil semiautomático M-8C calibre .50, com cartucho 22 mm mais curto que o padrão da metralhadora .50, era utilizado para alinhamento prévio do tiro, garantindo maior precisão ao disparar o projétil de 106 mm. Essa configuração demonstrou notável eficiência em combates táticos. Outra inovação foi a conversão de dezenas de M-38A1 para integrar o sistema de armas nucleares táticas Davy Crockett. Esse sistema utilizava canhões sem recuo de grande diâmetro, como o M-28 de 120 mm ou o M-29 de 155 mm, capazes de disparar projéteis M-388 com ogivas nucleares Mk-54. Com alcance efetivo entre 2 e 4 km, dependendo do canhão, o sistema foi denominado "Battle Group Atomic Delivery System" e alocado principalmente em unidades aerotransportadas, destacando a versatilidade estratégica do M-38A1. Para atender às necessidades médicas em campo, foi desenvolvida a versão M-170 Frontline Ambulance, com distância entre eixos aumentada em 51 cm. Esse chassi, que mais tarde inspiraria o Jeep civil CJ-6, permitia transportar até seis passageiros sentados ou três pacientes em macas, sendo essencial para evacuações médicas em zonas de combate. Entre 1950 e 1971, foram produzidos mais de 140.000 veículos das variantes M-38, M-38A1 e M-170, consolidando sua importância nas forças armadas dos EUA. A partir de 1960, o M-38A1 começou a ser gradualmente substituído pelo Ford M-151 MUTT. Milhares de unidades foram então armazenadas e, posteriormente, incluídas em programas de assistência militar coordenados pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Nesse contexto, os modelos M-38, M-38A1 e M-38A1C foram fornecidos às forças armadas de diversos países, incluindo Bangladesh, Brasil, Chade, Cuba, Croácia, Egito, El Salvador, Guatemala, Israel, Irã, Jordânia, Katanga, Laos, Líbano, Líbia, Mianmar, Nicarágua, Paquistão, Portugal, Congo, Rodésia, Suíça e Turquia.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A história da utilização de veículos utilitários leves com tração integral 4x4, conhecidos como jipes, nas Forças Armadas Brasileiras teve início em 1942, no contexto da adesão do Brasil ao programa norte-americano Lend-Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Esse acordo, firmado durante a Segunda Guerra Mundial, previa a cessão de aproximadamente dois mil jipes ao Brasil, sem padronização por fabricante ou modelo. Não há registros oficiais que detalhem a proporção de veículos fornecidos pela Ford Motor Company ou pela Willys-Overland Company, mas os primeiros lotes, compostos por veículos novos e usados provenientes da frota e da reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos, começaram a chegar ao país a partir de março de 1942. Dentre esses veículos, 655 foram enviados diretamente à Itália para equipar a Força Expedicionária Brasileira (FEB). A experiência operacional adquirida pelo Exército Brasileiro em um cenário de conflagração com os jipes foi inestimável, moldando a doutrina motomecanizada do Exército Brasileiro nas décadas seguintes. A frota de jipes, complementada por outros veículos de transporte, proporcionou às Forças Armadas Brasileiras, especialmente ao Exército Brasileiro, uma capacidade de mobilidade sem precedentes entre as décadas de 1940 e 1950. Essa mobilidade fortaleceu as operações de infantaria, permitindo maior agilidade e eficiência em diversos cenários. Com o passar dos anos, o desgaste operacional e a obsolescência dos jipes começaram a impactar sua disponibilidade. A falta de manutenção adequada e a dificuldade de obtenção de peças de reposição, tendo em vista que muitos destes modelo tiveram sua produção descontinuada, agravaram o cenário, resultando em índices preocupantes de veículos inoperantes. A fim de sanar esta problemática, que afligia principalmente o Exército Brasileiro, o governo federal passaria a estudar a aquisição de um lote de fábrica dos novos jipes Willys M-38 ou Ford M-151 Mutt, os sucessores naturais dos veteranos Ford GPW e Willys MB, afim substituírem uma parcela considerável de sua frota deste tipo utilitário. No entanto esta alternativa seria descartada, tendo em vista a possibilidade de de aquisição de um lote de jipes Willys MB em bom estado de conservação,   classificados como material excedente de guerra (war surplus). Desta maneira dentro dos termos dos programas de ajuda militar seriam cedidos um grande numero de veículos deste tipo  provenientes dos estoques estratégicos norte-americanos. O recebimento destes utilitários aliviaria a pressão sobre a  combalida frota da Força Terrestre. 


Estudos preliminares realizados durante o ano de 1954, apontavam que deveriam ser adquiridos entre trezentas e seiscentas viaturas destes modelos elencados, possibilitando assim retirar de serviço os veículos mais desgastados que se encontravam em operação desde o ano de 1942. No entanto o investimento total previsto para o atendimento para esta demanda, se mostraria inviável do ponto de vista orçamentário para aquele momento.  A alternativa então, passaria a ser pautada na aquisição de viaturas usadas, assim seriam iniciadas tratativas junto ao Departamento de Estado do governo norte-americano, fazendo uso dos termos previsto nos auspícios do programa do Acordo Militar Brasil – Estados Unidos, celebrado no ano de 1952.  Porém inicialmente a totalidade da demanda não seria atendida, pois neste momento o Exército dos Estados Unidos passava a receber os primeiros lotes do Ford - Kaiser M-151 Mutt não havendo ainda disponíveis para a cessão de uma quantidade representativas dos jipes Willys M-38.  Assim os primeiros jipes deste modelo só passariam a ser disponibilizados ao Exército Brasileiro a partir de meados do ano de 1956, sendo recebidos juntamente com uma grande quantidade de carros de combate, caminhões, peças de artilharia e armamentos de infantaria. Um total de noventa jipes do modelo M-38A1 e vinte da versão canhoneira M-38A1C, seriam desembarcadas no porto do Rio de Janeiro em julho deste mesmo ano. Estes novos utilitários com tração integral 4X4 se mostrariam muito superiores aos modelos em operação até então, e logo passariam a ser distribuídos as unidades operacionais, substituindo assim os jipes mais antigo em uso. Teria assim início o movimento de recuperação da capacidade mobilidade da força, sendo também classificados no Exército Brasileiro como Viatura de Transporte Não Especializado 4X4 (VTNE). 
Porém a grande novidade para o Exército Brasileiro, ficaria por conta da incorporação da versão “canhoneira” M-38A1C, equipada com o canhão sem recuo M-40 de 106 mm, marcando a introdução deste tipo de arma de artilharia na Força Terrestre.  Visualmente este modelo se diferenciava por apresentar um novo para-brisa, dividido em duas partes, possuindo entre estas partes um suporte para fixar o canhão quando este não estava em uso. Por este motivo o vidro não basculava, somente o quadro inteiro. Não dispunha de tampa traseira e era dotado de dois pequenos assentos sobre os paralamas traseiros para os artilheiros, além de uma espécie de suporte sobre o assoalho traseiro para alojar os obuses do canhão. Apresentava também pá e machado nas laterais, uma em cada lado, além do estepe e o galão transferidos para o lado direito. Em termos de mecânica a principal diferença estava baseada em seu sistema de suspensão, que passava a ser reforçada com molas helicoidais sobre os feixes, uma em cada lado. Esta alteração se fazia necessária para o veículo suportar um forte solavanco para traz, quando do disparo do canhão sem recuo M-40 de 106 mm. Este sistema de armas quando montado sobre o jipe Willys M-38A1C se mostrava de operação bastante ági,l e sua mobilidade no campo de batalha representava o seu ponto forte, estando perfeitamente adaptado para as características dos conflitos daquela época. Os utilitários Willys M-38A1C “Canhoneiros” passariam a ser identificados pela nomenclatura de VTE (Viatura de Transporte Especializado) CSR (canhão sem recuo) 1/4 tonelada 4x4, e possuíam o código de inscrição de matrícula de frota “EB22”. 
 
Anteriormente em 1950, seria aprovada uma nova regulamentação para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que caracteriza uma profunda mudança de orientação, preparando assim o corpo para plena capacidade operativa com ênfase em operações anfíbias, criando  a Força de Fuzileiros de Esquadra ou FFE. No entanto este regulamento não determinava o início das operações, e sim apenas previa sua necessidade, pois neste momento ainda faltava a Marinha do Brasil os meios para a implementação desta nova doutrina. Nos anos seguintes seriam incorporados os primeiros navios de transporte de tropas e desembarque de veículos e carros de combate. Faltava agora a incorporação de veículos que permitissem o emprego em operações de desembarque anfíbio, a solução se daria em 1958 quando do recebimento de cinquenta jipes divididos entre os modelos Willys M-38A1 e M-38A1C, com estes veículos usados sendo oriundos dos estoques de reserva do Exército dos Estados Unidos (US Army). O advento da introdução desta arma iria trazer a Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE) novas capacidades ofensivas e defensivas, proporcionando uma capacidade de projeção de força em operações de desembarque anfíbio. Entre os anos de 1957 e 1959, mais duzentos jipes Willys dos modelos M-38A1 e M-38A1C seriam recebidos nos termos de programas de ajuda militar norte-americanos, com sua totalidade representando veículos usados, muitos dos quais com baixa quilometragem e excelente estado de conservação que recentemente haviam sido substituídos pelos novos modelos Ford – Kaiser M-151A1 e M-151A1C. Nos anos seguintes mais jipes Willys M-38A1 seriam recebidos e distribuídos ao Exército Brasileiro e ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil.
O jipe Willys M-38A1, seria empregado pelo Exército Brasileiro em um cenário de conflagração real, quando da participação das tropas pertencentes ao Batalhão Suez quem compunham a Força de Emergência das Nações Unidas - UNEF (United Nations Emergency Force). Estes veículos eram pertencentes a Organização das Nações Unidas (ONU), e seriam comodatados aos países participantes. Entre os anos de 1956 e 1957 estas viaturas atenderam operacionalmente aos vinte contingentes brasileiros participantes desta missão, operando desde missões de reconhecimento patrulha. Estes utilitários participariam nos esforços de minimização do número de   confrontos entre os lados egípcio e israelense. A partir do ano de 1959 a necessidade de substituição da frota remanescente de jipes Ford GPW e Willys MB, levaria o comando do Exército Brasileiro a derivar para a adoção de utilitários militarizados dos modelos Willys CJ-2, CJ-3, CJ-4 e CJ-5, incluindo neste contexto uma versão do jipe canhoneiro.  Nos anos seguintes a incorporação de constante lotes destas viaturas nacionais militarizadas deflagariam no Exército Brasileiro um gradual processo de desativação dos Willys M-38A1 e M-38AC, com os últimos sendo baixados no ano de 1984. Este processo se repetiria no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), com modelos M-38A1 sendo suplantados pelos novos Willys CJ-5 e os M-38A1C pelos modelos canhoneiros dos Willys CJ-5 e Toyota Xingu, com os últimos sendo retirados de serviço somente  no ano de 1989. 

Em Escala.
Para representarmos o Jipe Willys M-38A1C  "Canhoneiro” pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), fizemos uso do antigo kit produzido pela Skybow na escala 1/35. Para se compor a versão utilizada pelas Forças Armadas Brasileiras, não é necessário proceder nenhuma mudança, com o modelo podendo ser montado diretamente da caixa. Fizemos uso de decais produzidos pela Decal & Books , presentes no set especial “Forças Armadas do Brasil 1983 – 2002”.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um dos diversos padrões de camuflagem  tática aplicadas aos veículos pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) durante as décadas de 1970 e 1970. Tanto os veículos da Marinha do Brasil, quanto os do Exército Brasileiro foram recibos nas cores do Exército dos Estados Unidos (US Army). Durante sua carreira no país, diversos padrões de pintura foram aplicados. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors. 
 

Bibliografia : 

- O Jeep Militar no Brasil - http://jeepguerreiro.blogspot.com/ 

- Batalhão Suez -   http://www.batalhaosuez.com.br   

- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133. 

- Jeep Willys M-38 Wikipidia  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB 

- Primeiro Jeep Nacional https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/willys-jeep-universal-ford-jeep-cj-5/