História e Desenvolvimento
Fundada em 1828 na cidade inglesa de Sheffield, a Naylor Vickers & Company surgiu da parceria entre Edward Vickers e seu sogro, George Naylor. Inicialmente, a empresa operava em um modesto parque industrial dedicado à fundição de aço, destacando-se rapidamente pela qualidade de seus produtos. Com o passar dos anos, a companhia ganhou renome pela fabricação de sinos de igreja de grande porte, cuja sonoridade ecoava por vilarejos e cidades inglesas. Esse sucesso inicial pavimentou o caminho para uma expansão significativa, que transformaria a Vickers em uma potência industrial. Em 1867, a empresa abriu seu capital e foi renomeada Vickers, Sons & Company. Esse marco financeiro permitiu a aquisição de novos negócios e a diversificação de suas atividades. A partir de 1868, a Vickers passou a fabricar eixos marítimos, seguidos por hélices marítimas em 1872. Uma década depois, em 1882, a companhia instalou sua primeira prensa de forjamento, consolidando sua capacidade de produzir componentes pesados para a indústria de manufatura. Foi nesse período que a Vickers começou a se aproximar do setor militar, iniciando, em 1888, a produção de placas de blindagem para uso naval. Dois anos depois, em 1890, a empresa desenvolveu sua primeira peça de artilharia, marcando sua entrada definitiva no mercado bélico. O ano de 1897 representou um ponto de virada para a Vickers. A aquisição da Barrow-in-Furness The Barrow Shipbuilding Company, juntamente com sua subsidiária, a Maxim Nordenfelt Guns and Ammunitions Company, ampliou significativamente o portfólio da empresa. Renomeada Vickers, Sons & Maxim, a companhia passou a oferecer uma vasta gama de produtos, que incluía desde navios e acessórios marítimos até armamentos e placas de blindagem. A expertise em artilharia se consolidou com o desenvolvimento de canhões de calibre superior a 100 mm a partir de 1890, voltados especialmente para aplicações navais. Esses canhões utilizavam cargas propulsoras em sacos de seda, uma solução prática que se tornaria característica da Vickers. Na virada do século, o Almirantado Britânico enfrentava pressões para reduzir os custos operacionais de sua frota. Após experimentos com canhões de tiro rápido, que exigiam invólucros metálicos de latão pesados e dispendiosos, a Marinha Real optou por retornar aos sistemas de artilharia convencional. Nesse contexto, a Vickers, Sons & Maxim apresentou uma proposta inovadora: um canhão de 152,4 mm equipado com um mecanismo de culatra de ação simples. Esse modelo, batizado como Modelo VII, oferecia maior agilidade no carregamento e disparo, além de reduzir peso e espaço ao utilizar cargas propulsoras de cordite em sacos de seda. A Vickers, consolidou sua reputação não apenas na construção naval, mas também no desenvolvimento de armamentos inovadores. Um marco significativo foi o aperfeiçoamento do canhão naval de 152,4 mm, com o lançamento do modelo Vickers VIII.
Este modelo introduziu um mecanismo de culatra com abertura lateral à esquerda, uma inovação que permitia sua instalação em torres duplas, otimizando o espaço e a operação em navios de guerra. Adotado pela Marinha Real Britânica nos couraçados da classe Formidable, lançados em 1898 e comissionados em 1901, o Vickers VIII tornou-se um componente essencial para a frota britânica. Sua versatilidade garantiu sua presença em diversas embarcações, desde cruzadores de alta velocidade até canhoneiras fluviais, que desempenhavam papéis táticos em rios coloniais do Império. Notavelmente, esses canhões permaneceram em serviço até o término da Segunda Guerra Mundial, atestando à durabilidade e eficácia do projeto da Vickers. Na década de 1910, a empresa voltou sua atenção para a possibilidade de adaptar o canhão Modelo VII, predecessor do Vickers VIII, para uso como arma de campanha terrestre. Embora a ideia tenha inicialmente permanecido no campo dos estudos teóricos, o eclodir da Primeira Guerra Mundial em 1914 reacendeu o interesse por essa aplicação. Em resposta às demandas do Exército Britânico, as primeiras unidades do canhão de campanha de 155 mm foram enviadas para os campos de batalha na França em 1916. Essas peças foram inicialmente montadas em transportadores retangulares, originalmente projetados para os Modelos I e IV da Vickers. Apesar de sua eficácia em combate, esses transportadores apresentavam uma limitação significativa: o baixo ângulo de elevação restringia o alcance dos disparos, comprometendo seu desempenho em algumas operações. Reconhecendo essa deficiência, a Vickers agiu rapidamente e, ainda em 1916, desenvolveu um novo transportador que permitia uma elevação máxima de 22 graus. Essa melhoria ampliou o alcance e a flexibilidade do canhão, que se tornou um ativo crucial na Batalha do Somme, um dos confrontos mais intensos da guerra. O canhão de 155 mm Modelo VII destacou-se em missões de fogo anti-bateria, neutralizando posições de artilharia inimigas, além de desempenhar um papel vital na destruição de barreiras de arames farpados e em ataques de longo alcance contra alvos estratégicos em profundidade. Sua capacidade de combinar precisão e potência consolidou sua reputação como uma arma confiável no campo de batalha. Apesar de seu sucesso, o Modelo VII foi gradualmente superado pelo Vickers MK XIX, um canhão de mesmo calibre que incorporava avanços tecnológicos mais recentes. Ainda assim, o Modelo VII continuou em uso até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, devido à sua versatilidade e robustez. A capacidade da Vickers de adaptar seus projetos às exigências do conflito reflete o compromisso da empresa com a inovação e a excelência. Paralelamente, a divisão de armamentos da Vickers continuou a expandir seu portfólio. Um dos desenvolvimentos mais notáveis foi a metralhadora Vickers de 1912, uma arma de infantaria que se tornou um ícone militar. Sua confiabilidade e cadência de tiro fizeram dela uma ferramenta indispensável nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial e além.

Com o término da Primeira Guerra Mundial em 1918, a Marinha Real Britânica (Royal Navy) enfrentou a necessidade de reavaliar sua frota naval, que incluía inúmeros navios considerados obsoletos. Muitos desses vasos de guerra mais antigos, superados pelas rápidas inovações tecnológicas do período, foram desmobilizados e retirados do serviço ativo. Antes de serem destinados ao sucateamento, esses navios passaram por um processo meticuloso de desarmamento. Seus equipamentos, incluindo um número significativo de canhões Vickers-Armstrong de 152,4 mm, dos modelos MK VII e MK VIII, foram cuidadosamente removidos e armazenados para possível reutilização. Esses canhões, que haviam desempenhado papéis cruciais em conflitos navais, encontrariam uma nova vocação em tempos de paz. A versatilidade dos canhões Vickers MK VII e MK VIII permitiu sua reintegração como peças de artilharia costeira, destinadas a fortificar pontos estratégicos ao longo do vasto litoral do Império Britânico. De portos coloniais na África e Ásia a bases estratégicas no Mediterrâneo, essas armas reforçaram a defesa costeira britânica, garantindo a proteção contra ameaças marítimas. Além disso, um número considerável dessas peças foi fornecido a nações aliadas, como Portugal e Espanha, para serem empregadas em funções similares. Notavelmente, os canhões Vickers MK VII em serviço português permaneceram ativos até 1998, quando a divisão de artilharia costeira de Portugal foi finalmente desativada, encerrando quase um século de uso dessas armas robustas. Paralelamente, a Vickers-Armstrong continuou a inovar na área de armamentos, culminando no desenvolvimento do canhão Modelo XIX – BL 6”, cuja concepção teve início em 1915. Esse modelo foi projetado com o objetivo de superar as limitações de seus predecessores, os MK VII e MK VIII, oferecendo maior alcance e um design mais leve, otimizado para o uso como artilharia de campanha. Diferentemente dos modelos anteriores, que haviam sido adaptados para uso terrestre, o Modelo XIX foi concebido desde o início como uma arma de campo, incorporando avanços tecnológicos significativos. O Vickers-Armstrong Modelo XIX foi montado em um transportador moderno equipado com um sistema de recuo hidro-pneumático, que absorvia o impacto do disparo e aumentava a estabilidade da arma. Inicialmente, o transportador era equipado com rodas raiadas de metal, mas, posteriormente, adotou pneus semelhantes aos utilizados pelo obuseiro MK VI de 203 mm, conferindo maior mobilidade em terrenos variados. A plataforma de transporte foi projetada com uma abertura traseira que permitia elevações de alto ângulo, essenciais para disparos de longo alcance. Contudo, devido ao peso significativo do conjunto, o tracionamento por animais era inviável, exigindo o uso de tratores de artilharia pesados, uma prática comum nas forças armadas britânicas da época.
O Modelo XIX mantinha o sistema de carregamento por culatra interrompida, utilizando projéteis de diversos tipos acompanhados por cargas ensacadas de cordite, uma característica herdada de seus predecessores navais. Seu mecanismo de culatra, operado por uma alavanca posicionada à direita, era um exemplo de eficiência mecânica. Ao puxar a alavanca para trás, o parafuso da culatra era desbloqueado e movido para a posição de carregamento. Após a inserção do projétil e da carga, um movimento inverso da alavanca reinseria e travava o parafuso, preparando a arma para o disparo. Essa simplicidade operacional tornava o Modelo XIX altamente eficaz em cenários de combate dinâmicos. Durante a Primeira Guerra Mundial seriam produzidos trezentos e dez canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX, que teriam emprego em todos os fronts deste conflito, substituindo gradativamente nesta função até o final da guerra o Modelo VII. Neste mesmo período estes canhoes seriam empregados pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), pois quando do envolvimento deste país no conflito, sua arma de artilharia carecia armas pesadas de longo alcance. Visando suprir esta demanda emergencial seria celebrado um acordo para a produção de cem peça customizadas as necessidades norte-americanas, recebendo a designação de Vickers M-1917 de calibre 152,4 mm. Infelizmente a alta demanda do fabricante inglês no atendimento as necessidades do Exército Real (Royal Army) atrasariam consideravelmente o cronograma original de produção, com estes canhões sendo entregues somente no início do mês de março de 1920, bem após o término do conflito. Desta maneira os cem Vickers M-1917 após serem entregues seriam destinados a duas companhias de artilharia baseadas na costa oeste dos Estados Unidos. A partir do ano de 1933, a escassez de munição britânica de 152,4 mm nos paióis do Exército dos Estados Unidos (US Army), levaria a decisão de ser armazenar como reserva estratégica noventa e nove canhoes remanescentes, juntamente com cinquenta e um tubos. Anteriormente, porém, em 1927 após sofrer impactos financeiros de grande monta devido a problemas de gestão, a companhia para sobreviver seria forçada a se fundir com a empresa de engenharia Sir W G Armstrong Whitworth & Company , um de seus principais concorrentes neste segmento. Nasceria assim a Vickers Armstrongs Ltd. A sinergia entre os departamentos de engenharia causada por esta união, resultaria em um excelente portfólio, levando esta nova companhia a conquistar entre as décadas de 1930 e 1940, a posição de terceiro maior empregador do segmento industrial na Grã -Bretanha. Neste contexto passaria a ser considerado também um dos maiores fornecedores de equipamentos militares no continente europeu, atuando deste a produção de armas leves, peças de artilharia de campanha, navios, submarinos, carros de combate e aeronaves.

O início da Segunda Guerra Mundial, trouxe os canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX de volta ao cenário de conflitos globais. Essas peças, que haviam se destacado na Primeira Guerra Mundial, foram reativadas para atender às urgentes demandas do Exército Real Britânico (Royal Army). Três baterias de artilharia de campanha equipadas com o Modelo XIX foram mobilizadas como parte da Força Expedicionária Britânica (BEF), enviada à França em 1940 para conter o avanço das forças alemãs. Apesar de sua robustez, esses canhões enfrentaram os desafios de uma guerra moderna, marcada por táticas de blitzkrieg e armamentos mais avançados. Além do uso em campanha, cerca de 110 canhões Modelo XIX foram empregados na defesa costeira do Reino Unido, permanecendo em estado de alerta contra a temida ameaça de uma invasão alemã durante os primeiros anos do conflito. Essas peças fortificaram pontos estratégicos ao longo da costa britânica, simbolizando a resiliência do país em um momento de grande incerteza. No entanto, a partir do final de 1941, esses canhões começaram a ser substituídos pelos mais modernos canhões norte-americanos M1 de 155 mm, que ofereciam maior alcance e eficiência. Nos Estados Unidos, canhões Vickers M1917 de 152,4 mm, armazenados desde a Primeira Guerra Mundial, também foram reavaliados. Contudo, assim como no Reino Unido, foram rapidamente substituídos pelos obuseiros M1 de 155 mm, refletindo a transição global para armamentos mais avançados. Apesar disso, um pequeno número de canhões Vickers foi cedido à Marinha Real Britânica (Royal Navy) para equipar navios mercantes e de transporte de tropas. Essas armas desempenharam um papel crucial na proteção contra os navios corsários da Marinha Alemã (Kriegsmarine), que representavam uma constante ameaça às linhas de suprimento aliadas no Atlântico. Os canhões Vickers demonstraram sua eficácia em combates navais marcantes. Um exemplo notável foi o HMS Rawalpindi, um navio mercante armado que, em 23 de novembro de 1939, enfrentou os formidáveis cruzadores alemães Scharnhorst e Gneisenau. Apesar da desvantagem, o Rawalpindi lutou bravamente antes de ser afundado, exemplificando o espírito de resistência britânico. Outro episódio heroico envolveu o HMS Jervis Bay, que, em novembro de 1940, sacrificou-se em um confronto desigual contra o cruzador pesado alemão Admiral Scheer, equipado com canhões de 280 mm. A ação do Jervis Bay permitiu que o comboio sob sua proteção escapasse, salvando inúmeras vidas e suprimentos vitais para o esforço de guerra. Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, os canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX foram gradualmente desativados em suas aplicações de campanha e naval. No entanto, as peças destinadas à artilharia costeira continuaram em serviço, desempenhando um papel defensivo em territórios do Império Britânico. Essas armas permaneceram operacionais até o final da década de 1950, quando o processo de descolonização e o desmantelamento do império colonial britânico marcaram o fim de sua utilização. A desativação dessas peças coincidiu com o declínio do Império Britânico, encerrando uma era em que as armas da Vickers simbolizavam tanto a projeção de poder quanto a defesa de um vasto domínio global.
Emprego no Exército Brasileiro
A artilharia brasileira, profundamente enraizada nas lutas do período colonial e consolidada após a Independência de 1822, representa um pilar essencial da história militar do país, marcada por bravura, inovação e um constante esforço de adaptação às demandas de seu tempo. Durante a era colonial, brasileiros demonstraram coragem nas Batalhas de Guararapes (1648-1649), em Pernambuco, enfrentando as forças holandesas com táticas rudimentares, mas impregnadas de determinação. Esses confrontos iniciais forjaram um espírito de resistência que se tornaria emblemático da identidade militar brasileira. Com a proclamação da Independência, a artilharia de campanha começou a se estruturar como uma força organizada no Império do Brasil. Diferentemente da infantaria e da cavalaria, que exigiam menos especialização, a artilharia demandava formação técnica avançada, oferecida pela Academia Militar do Império. Jovens oficiais, dedicados ao estudo de cálculos balísticos e estratégias táticas, estabeleceram uma tradição de excelência que elevou o prestígio da arma. Esse rigor técnico encontrou seu ápice durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), particularmente na Batalha de Tuiuti (1866), o maior confronto campal da América do Sul. Sob o comando do Marechal Emílio Luís Mallet, um francês naturalizado brasileiro, a artilharia brasileira, apelidada de “Artilharia Revólver” por sua precisão e rapidez, resistiu aos ataques paraguaios com notável eficácia. Protegida por um fosso tático inovador, a força liderada por Mallet imortalizou sua determinação com a célebre frase: “Eles que venham! Por aqui não passam!”. A liderança de Mallet, que lhe rendeu o título de Barão de Itapevi em 1878 e a patente de marechal em 1885, transformou a artilharia em um símbolo de orgulho nacional. Após o término do conflito, a Marinha do Brasil iniciou um ambicioso programa de modernização de sua artilharia, voltando-se especialmente para a defesa costeira. Nesse contexto, foram adquiridos os primeiros canhões da renomada empresa inglesa Armstrong Whitworth Ltd., destinados a equipar os fortes espalhados pelo litoral brasileiro. Em um esforço de colaboração interforças, pelo menos dez dessas peças, incluindo modelos de calibre 280 mm, foram cedidas ao Exército Brasileiro. Até o final do século XIX, a artilharia costeira do país passou a contar majoritariamente com modernos canhões da Armstrong Whitworth e da alemã Friedrich Krupp AG, substituindo equipamentos obsoletos de origem francesa. Essas armas, projetadas para proteger os portos brasileiros contra ameaças marítimas, permaneceram em serviço até o final da década de 1920, desempenhando um papel crucial na segurança nacional.
A partir da década de 1930, o aumento das tensões na Europa, impulsionado pelo crescente expansionismo alemão, gerou um estado de alerta global, incluindo no Brasil. Os comandantes militares brasileiros, cientes da posição estratégica do país como potencial fornecedor de matérias-primas essenciais em um conflito de grande escala, reconheceram a urgência de modernizar suas defesas. O extenso litoral brasileiro, com seus portos vitais, exigia proteção adequada contra possíveis ameaças navais. Na época, a artilharia costeira ainda dependia de canhões ingleses, franceses e alemães nos calibres de 150 mm, 280 mm e 305 mm, muitos dos quais já eram considerados obsoletos frente aos avanços tecnológicos da artilharia moderna. Para enfrentar esse desafio, o governo brasileiro lançou um amplo programa de renovação, visando substituir essas peças por equipamentos mais avançados e reforçar a capacidade defensiva dos principais pontos estratégicos ao longo da costa. Neste momento o pais seria envolvido em um processo de aproximação com o governo norte-americano do Presidente Franklin Delano Roosevelt, que apresentava com principal objetivo estender sua influência conquistando assim a confiança do governo brasileiro. Esta movimentação inicialmente visava facilitar o processo de cessão de áreas no Nordeste do país, visando a construção e estabelecimento de bases áreas e navais para proteção e operação de portos, nestas regiões . Isto se dava, pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego em um hipotético futuro teatro de operações no continente europeu. O avançar destas negociações logo iram resultar em positivas expectativas que iriam culminar no apoio do governo norte-americano ao estabelecimento da indústria siderúrgica nacional, e também nas primeiras intenções em se prover uma ampla modernização das forças armadas brasileiras. Entre as soluções práticas se daria um primeiro movimento no processo de reformulação da artilharia de costa do Exército Brasileiro, mediante a decisão de cessão de noventa e nove canhões Vickers-Armstrong M-1971 (Mark XIX), a partir do segundo semestre de 1939. Estes armas pertencentes ao Exército dos Estados Unidos (US Army), apesar de terem sido produzidas no ano de 1920, se encontravam em perfeito estado de conservação, pois tiveram pouco emprego prático, sendo armazenados como reserva estratégica deste o ano de de 1933 devido à escassez de munição inglesa de calibre 152,4 mm. Não existem registros oficias sobre o possível recebimento no Brasil dos cinquenta um tubos de reposição do canhão que faziam parte do pacote original que fora armazenado juntamente com estas peças de artilharia. O recebimento dos canhões Vickers-Armstrong M-1917 (Mark XIX) seria iniciado em outubro de 1940, com os trabalhos de treinamento logo sendo implementados. Este acordo previa ainda apoio técnico norte-americano visando a produção local da munição de 152,4 mm, que em muito se assemelhava aos seus projeteis de calibre de 155 mm.

Durante toda a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, os Grupos Móveis de Artilharia de Costa (GACosM) mantiveram-se em constante estado de alerta, desempenhando missões de prontidão e proteção estratégica. Sediadas principalmente no estado de São Paulo, essas unidades também realizaram treinamentos intensivos e operações táticas ao longo dos litorais do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, garantindo a segurança dos principais portos do país em um período de incertezas globais. No sul do Brasil, o 7º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (7º GACosM), baseado no Rio Grande do Sul, destacou-se por seus frequentes deslocamentos para outros estados da região, demonstrando a capacidade de mobilidade e adaptação das forças brasileiras. Nessas operações de longa distância, os canhões Vickers-Armstrong M-1917 (Mark XIX) foram tracionados por robustos caminhões Diamond T968 & T969 6x6 e Corbitt-US White Cargo, que superavam em velocidade os tratores Minneapolis Moonline GTX-147 6x6 utilizados anteriormente. Esses veículos permitiram maior agilidade no reposicionamento das peças, essencial para a defesa costeira em um contexto de ameaças marítimas. Um grupo de canhões Vickers-Armstrong, ainda com transportadores não modernizados, foi mobilizado para proteger o arquipélago de Fernando de Noronha, operando sob o comando do 1º Grupo Independente de Artilharia (1º GIA). Essa unidade, equipada também com canhões antiaéreos Krupp Flak 88 mm C/56 Modelo 18, utilizava veículos meia-lagarta alemães Sd.Kfz. 7 para tracionar as peças, adaptando-se às condições do terreno insular. Posteriormente, o 1º GIA foi transferido para Niterói, no Rio de Janeiro, mas quatro canhões Vickers-Armstrong permaneceram em Fernando de Noronha, assegurando a defesa do arquipélago até o fim do conflito. O término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, não alterou imediatamente a rotina operacional dos canhões Vickers-Armstrong. Essas peças continuaram em serviço ativo nas bases costeiras, participando de missões de treinamento e desdobramentos de grande escala. Um exemplo notável foi o aquartelamento do 8º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (8º GACosM) em 1946, realizado nas praias do Leblon e na histórica Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Essas operações reforçaram a prontidão das unidades e a importância estratégica da defesa costeira no pós-guerra, em um momento de reconfiguração geopolítica global. A partir de agosto de 1949, os tratores Minneapolis Moonline GTX-147 6x6 começaram a ser substituídos pelos modernos M-4 High Speed Tractors, que trouxeram significativa melhoria na eficiência do transporte dos canhões Vickers-Armstrong M-1917. Esses novos tratores, mais rápidos e robustos, facilitaram o deslocamento das pesadas peças de artilharia, permitindo maior flexibilidade em operações táticas e logísticas. A modernização do equipamento de tração refletiu o compromisso contínuo do Exército Brasileiro em aprimorar suas capacidades defensivas, mesmo após o fim do conflito.

Em Escala.
Para recriar com precisão o icônico obuseiro Vickers-Armstrong M-1917 (Mark XIX), foi utilizado um inovador kit em resina produzido por meio de impressão 3D, confeccionado artesanalmente com um excepcional nível de detalhamento. Esse modelo, desenvolvido especificamente para representar os canhões desta família que integraram o arsenal do Exército Brasileiro, destaca-se pela fidelidade histórica e pela qualidade de sua execução. Projetado com atenção aos pormenores técnicos e estéticos, o kit dispensa qualquer necessidade de alterações durante a montagem
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos os canhões Vickers-Armstrong M-1971 (Mark XIX) desde o seu recebimento no ano de 1940. Este padrão se manteria inalterado até sua desativação no ano de 1994. Na recriação histórica desses canhões, foram utilizadas tintas e vernizes de alta qualidade produzidos pela Tom Colors, uma marca reconhecida por sua precisão na reprodução de cores militares.
Bibliografia:
- Vickers-Armstrong Limited - https://en.wikipedia.org/wiki/Vickers-Armstrongs
- Canhão Vickers Armstrong 152,4 mm VII/VIII - https://pt.wikipedia.org/wiki/Canh%C3%A3o_152,4_mm_modelo_VII/VIII
- A Evolução da Artilharia – Victor H. Mori & Adler Homero Fonseca de Castro
- Veteranos da Artilharia de Costa – Facebook.
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf