Dodge WC-62 e WC-63 Big Shot


História e Desenvolvimento.
A Dodge Brothers Motors Company, fundada no início do século XX, desempenhou um papel significativo na indústria automotiva norte-americana, evoluindo de uma produção artesanal para um importante fornecedor de veículos militares e comerciais. Em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge iniciaram um empreendimento para desenvolver um automóvel inovador, distinto dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Nos primeiros anos, a produção era predominantemente artesanal, com dezenas de veículos fabricados manualmente. Em 1914, a empresa foi formalmente estabelecida como Dodge Brothers Motors Company, adotando a produção em série, o que ampliou sua capacidade produtiva e marcou o início de sua ascensão no mercado. A Dodge Brothers Motors Company rapidamente conquistou notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio, capturando uma fatia significativa do setor. O sucesso comercial gerou recursos financeiros substanciais, permitindo investimentos em novos segmentos e consolidando a marca como sinônimo de qualidade e confiabilidade. O falecimento dos irmãos fundadores em 1920 representou um marco crítico na história da empresa, levando a mudanças significativas em sua gestão e orientação estratégica. Apesar desse impacto, a Dodge continuou a operar com foco em crescimento e inovação, preparando-se para novas oportunidades de mercado. Em 1928, a Dodge Brothers Motors Company foi adquirida pela Chrysler Corporation, passando a integrar um conglomerado que incluía marcas como De Soto, Plymouth e Fargo. Sob a nova gestão, a marca Dodge manteve sua identidade e expandiu sua presença, beneficiando-se dos recursos e da estrutura organizacional da holding. A partir de meados da década de 1920, a Dodge direcionou esforços para o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado civil. Esses modelos foram baseados nas plataformas de veículos comerciais de passageiros da marca, uma estratégia que reduziu os custos de projeto e produção ao utilizar ferramental e processos de manufatura existentes. Os utilitários alcançaram êxito comercial, destacando-se no transporte de cargas e em atividades pesadas fora de estrada, reforçando a reputação da Dodge como uma marca robusta e versátil. O crescimento contínuo das vendas proporcionou recursos adicionais à Dodge, permitindo à empresa planejar projetos mais ambiciosos a curto e médio prazo. A competitividade comercial dos utilitários, impulsionada pelos baixos custos de produção, consolidou a posição da Dodge no mercado norte-americano e abriu caminho para sua diversificação. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global tornou-se preocupante, com a ascensão do partido nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto, aliado à possibilidade de uma corrida armamentista global, levou os Estados Unidos a antecipar potenciais ameaças, apesar de sua política oficial de neutralidade. A diretoria da Dodge Motors Company identificou uma oportunidade estratégica no mercado militar, vislumbrando a demanda por veículos especializados para atender às forças armadas.

Em 1934, utilizando recursos próprios, a Dodge iniciou o desenvolvimento de protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte. Esses projetos foram fundamentados na experiência adquirida durante a Primeira Guerra Mundial, quando a empresa forneceu veículos leves às forças armadas norte-americanas. O foco em caminhões militares marcou o início de uma nova fase de crescimento, alinhada às necessidades emergentes do setor de defesa. Em 1937, a Dodge realizou uma apresentação oficial ao comando do Exército dos Estados Unidos, exibindo seu primeiro caminhão experimental, o K-39-X-4, um modelo de 1½ toneladas com tração integral nas quatro rodas. Submetido a testes de campo, o veículo impressionou os militares por seu desempenho, resultando na assinatura de um contrato para a produção de aproximadamente 800 unidades. As entregas começaram nos meses subsequentes, marcando o início da colaboração da Dodge com o setor militar. O sucesso do K-39-X-4 levou à assinatura de novos contratos, mais significativos, para a produção dos modelos Dodge VC-1 e VC-6, ambos de ½ tonelada. Esses veículos foram projetados para atender às necessidades militares, mas versões destinadas ao mercado civil também foram lançadas, alcançando grande sucesso comercial no mercado doméstico norte-americano. Esse êxito incentivou a Dodge a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan, projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios. Em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente redesenhada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e designada como “Job-Rated”. Essa linha foi desenvolvida para atender a uma ampla variedade de tarefas e trabalhos, combinando funcionalidade, durabilidade e estética contemporânea. O lançamento reforçou a posição da Dodge no mercado civil e preparou a empresa para atender às demandas emergentes do setor militar. No final da década de 1930, as crescentes tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico evidenciaram a necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas dos Estados Unidos. O Exército definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga útil: ½ tonelada, 1½ tonelada, 2½ toneladas, 4 toneladas e 7½ toneladas. Esse padrão visava garantir a eficiência logística e a prontidão operacional em um cenário de potenciais conflitos globais. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) testou e aprovou três caminhões comerciais padrão com tração nas quatro rodas: Dodge de 1½ toneladas 4x4; GMC de 2½ toneladas 6x6; Mack de ½ tonelada 6x6. Esses modelos foram selecionados para atender às necessidades estratégicas do Exército, estabelecendo as bases para contratos de produção em larga escala. No verão de 1940, a Dodge-Fargo Division da Chrysler Corporation recebeu um contrato para fornecer 14.000 unidades de caminhões de ½ tonelada com tração integral 4x4, designados como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro de 1940. 
Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial em 1941, os caminhões da série VC da Dodge foram redesignados como série WC (Weapons Carriers). A letra “W” indicava o ano de início da produção (1941), enquanto o “C” representava a classe inicial de ½ tonelada. Posteriormente, o código “C” foi estendido a modelos de ¾ tonelada e 1½ toneladas 6x6. O primeiro modelo da família WC, a versão G-505 de ½ tonelada, tornou-se um pilar da logística militar do Exército dos Estados Unidos (US Army). Durante o ano de 1940, a Dodge Motors Company produziu mais de 6.000 caminhões leves com tração integral 4x4 do modelo Dodge WC de ½ tonelada, sob dois contratos firmados com o governo norte-americano. Esses veículos, identificados como modelos VF-401 a VF-407 (equipados com o motor tipo T-203 da Dodge G-621), eram variações dos protótipos pré-guerra RF-40 (-X) e TF-40 (-X) (ou T-200/T-201). Montados em um chassi com distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros), os novos caminhões WC substituíram os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada, pertencentes à série original G505. Entre o final de 1940 e o início de 1942, foram produzidas aproximadamente 82.000 unidades de caminhões WC de ½ tonelada com tração 4x4, sob diversos contratos com o Departamento de Guerra dos Estados Unidos. A produção foi realizada tanto pela Dodge Motors Company quanto pela Fargo Motor Car Company, demonstrando a capacidade industrial da Chrysler Corporation em atender às demandas do esforço de guerra. Os modelos WC-1 e WC-50, pertencentes à classe de ½ tonelada, apresentavam 80% de intercambialidade de componentes com os modelos subsequentes de ¾ tonelada, um requisito essencial para a manutenção em campo. Em 1942, a Dodge atualizou a carga útil, introduzindo: Modelo G-502: Um caminhão de ¾ tonelada 4x4, mais curto; Modelo G-507 (1943): Um caminhão de 1½ toneladas 6x6, projetado para transporte de pessoal e carga. Apesar das melhorias no design, esses modelos mantiveram cerca de 80% de componentes intercambiáveis com os de ½ tonelada, garantindo eficiência logística e operacionalidade próxima às linhas de frente. A família Dodge WC alcançou um total de 38 variantes, projetadas para atender a diversas funções militares, incluindo: Transporte de tropas; Transporte de carga; Ambulância; Carro-comando; Estação móvel de comunicações; Canhoneiro com arma de 57 mm; Oficina leve e Reconhecimento. Versões complementares com cabine aberta e cobertura de lona foram desenvolvidas para ampliar a versatilidade operacional, adaptando-se às condições adversas dos fronts de batalha. Um dos principais diferenciais da série WC era a intercambialidade de 80% das peças de reposição entre todas as versões e modelos produzidos pela Dodge. Essa padronização facilitou significativamente a logística de suprimentos e os processos de manutenção durante a Segunda Guerra Mundial, permitindo reparos rápidos e eficientes em diferentes teatros de operações. A série WC tornou-se um componente crítico da logística militar dos Estados Unidos, substituindo veículos obsoletos e proporcionando mobilidade, confiabilidade e versatilidade às forças armadas. 

Em fins do ano de 1942 o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) viria a alterar a configuração padrão de um pelotão armado de infantaria, passando de oito para doze homens, aumentando assim além da capacidade de combate a possibilidade de sobrevivência no campo de combate. No entanto em termos de material esta nova disposição, traria problemas na capacidade de mobilidade das tropas norte-americanas, tendo em vista que doze soldados não podiam ser transportados nos modelos Dodge WC-51 e WC-52 Beep com tração integral de 4X4, que até então representavam o sustentáculo das tropas motorizadas. Para solucionar este problema, o Major General Courtney Hodges, um dos principais comandantes do exército, sugeriu a montadora o desenvolvimento de uma versão alongada dos modelos de utilitários em serviço até então, visando assim comportar a nova configuração do pelotão de infantaria. Com base neste pleito, em fevereiro de 1943, sua equipe de projetos iniciou o desenvolvimento de um novo utilitário de maior porte que fizesse uso de um sistema de tração integral 6X6. No objetivo de se buscar o aproveitamento do ferramental existente e consequente otimização do processo de produção, seria empregado como ponto de partida a plataforma e componentes do Dodge WC-51. Ao fazer uso de um chassi de maiores dimensões, seria necessário promover mudanças em componentes críticos como suspensão e transmissão, o peso extra resultando deste processo levaria a necessidade de incorporação de um motor mais potente sendo escolhido então o Dodge T-223 com 93 hp de potência. O veículo que emergiria deste conceito poderia ser classificado como um caminhão de infantaria com grande capacidade fora de estrada (off road), apresentando uma estabilidade incrível em terrenos acidentados, graças ao seu baixo centro de gravidade e banda de rodagem larga (que é a mesma, dianteira e traseira).  A tração nas seis rodas e a grande distância ao solo permitiam que o veículo superasse muitos perigos, seu bom ângulo de aproximação e saída o possibilitava subir e descer encostas íngremes sem enterrar o para-choque ou a estrutura traseira no solo. Sua distribuição de carga era feita de forma uniforme sobre os três eixos podendo operar sem maiores percalços em terrenos lamacentos ou praias. Ainda como ponto positivo, sua silhueta baixa o tornava de difícil visualização a distância, e seu consequente piso baixo da carroceria facilitava em muito os processos de carregamento e descarregamento de tropas ou carga. Os primeiros carros pré-série seriam completados até meados do mesmo sendo então submetidos a testes de aceitação pelo Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps), com estes sendo validados para emprego operacional em setembro. O modelo agora designado como Dodge WC-62  (G-507/ T-223 ) teria sua produção em série iniciada no mês de novembro, com os primeiros carros sendo entregues logo em seguida. A exemplo dos modelos anteriores da família de utilitários desta montadora, seria desenvolvida uma versão equipada com um sistema de guincho elétrico do modelo Braden MU2 com capacidade de tração de até 3.409 kg, com este veículo recebendo a denominação de WC-63. 

Após um breve período de adaptação e treinamento, estes dois modelos começaram a ser disponibilizados em grandes quantidades as forças armadas norte-americanos, passando a se faze presentes em todos os fronts de batalha ao longo do conflito. Inicialmente seu escopo de tarefas seria focado nas tarefas de transporte de tropas e cargas na linha de frente, porém em uso constante observou-se que o emprego da tração 6X6 melhoria significadamente não só na transposição de terrenos adversos, mas também em estradas normais, fazendo com que os Dodges WC-62 e WC-63 passassem a ser empregados no Exército dos Estados Unidos (US Army) em tarefas de reboque de artilharia leve antitanque, geralmente peças de 37 mm e 57 mm. Até o termino do conflito seriam produzidos cerva de quarenta e três veículos divididos entre as versões principais Dodge WC-62 e WC-63, tendo saído das linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, na cidade de Detroit e da Chrysler Corporation. Estes veículos seriam inclusos também no portifólio do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) sendo fornecidos a nações aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. Logo após o término da guerra uma grande parte da frota pertencente ao em operação na Europa seria abandonada, com muitos veículos sendo incorporados as forças armadas da Áustria, França e Bélgica. Em serviço junto ao Exército dos Estados Unidos (US Army) os Dodges WC-62 e WC-63 voltariam a um cenário de conflagração real durante a Guerra da Coreia (1950 – 1953). A partir da segunda metade da década de 1950 estes veículos começaram a ser desativados das forças armadas norte-americanas, sendo substituídos por versões da família Dodge M-37. Este processo resultaria em um grande lote excedente de veículos que seriam repassados a nações alinhadas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos através de programas de ajuda militar, como Grécia, Irã, Nicarágua, Portugal e Suíça. 

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

Naquele período, o Exército Brasileiro encontrava-se em um estado de obsolescência no que tange a armamentos e equipamentos, destacando-se entre suas principais deficiências a escassez de caminhões militares com tração integral 4x4 e 6x6. Os poucos veículos disponíveis eram insuficientes para atender às demandas operacionais da força terrestre. A partir do final de 1941, o Brasil começou a receber os primeiros lotes de veículos militares destinados às Forças Armadas, no âmbito do programa de assistência militar. Contudo, os primeiros utilitários da família Dodge WC foram entregues somente ao final de 1942. Esses veículos, em sua maioria, eram viaturas recém-fabricadas nas linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck e da Chrysler Corporation. Dentre os modelos iniciais, destacavam-se os utilitários Dodge WC-62 e WC-63 Big Shot, que passaram a ser utilizados pelos regimentos de infantaria localizados na cidade do Rio de Janeiro. A incorporação desses veículos com tração integral 4x4 ao Exército Brasileiro representou um marco significativo, elevando a doutrina operacional da força terrestre a um novo patamar. Essa modernização permitiu a substituição de uma frota de veículos leves civis, até então inadequados para fins militares, bem como de modelos obsoletos, como os Vidal & Sohn Tempo-Werk Tempo G1200, de origem alemã, recebidos em 1938, mas insuficientes para equipar uma unidade mecanizada. Nesse estágio inicial, aproximadamente trezentos utilitários norte-americanos da família Dodge WC, incluindo os modelos WC-51, WC-52, WC-62 e WC-63, foram entregues. Essa aquisição marcou o início de um processo de transição do Exército Brasileiro, que passou de uma força predominantemente hipomóvel para uma força terrestre moderna e mecanizada. Em conformidade com os compromissos assumidos junto aos Aliados, o Brasil formalizou sua participação no esforço de guerra em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada no Boletim Reservado de 13 de agosto do mesmo ano. Esse dispositivo legal instituiu a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com a missão de atuar em operações de combate no teatro europeu, sob os auspícios do Exército Brasileiro. A FEB foi estruturada segundo os padrões operacionais do Exército dos Estados Unidos (US Army), sendo composta pelas seguintes unidades: Três Regimentos de Infantaria: 1º Regimento de Infantaria, 6º Regimento de Infantaria (Caçapava) e 11º Regimento de Infantaria. Quatro Grupos de Artilharia: Três equipados com obuses de 105 mm e um com obuses de 155 mm. Uma Esquadrilha de Aviação: Pertencente à Força Aérea Brasileira, destinada a missões de ligação e observação. Unidades de Apoio: Um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de transmissões. O comando da FEB foi confiado ao General-de-Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, cuja liderança foi essencial para a organização e condução das operações.
O contingente estimado a ser enviado, seria da ordem de vinte e cinco mil soldados, e deveria atuar dentro do conceito operacional do Exército dos Estados Unidos (US Army), e desta maneira a Força Expedicionária Brasileira, deveria apresentar alta capacidade de mobilidade, devendo assim ser dotada de muitos veículos de transporte de pessoal de todos os modelos, sendo os mesmos em uso nas forças aliadas naquele momento. Atendendo ao cronograma estabelecido, o primeiro contingente brasileiro desembarcaria na cidade de Nápoles na Itália 16 de julho de 1944,  e após um breve período de treinamento passariam a integrar os efetivos do V Corpo do Exército dos Estados Unidos, sob o comando do general Mark Wayne Clark. Nesta etapa a Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia todo o seu armamento, equipamentos e veículos, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementação do Exército dos Estados Unidos (US Army), baseado na cidade italiana de Tarquinia.  Seriam dispostos um grande numero de caminhões, jipes e veiculos utilitários de médio porte, entre estes 137 viaturas 6X6 dos modelos Dodge WC-62 e WC-63.  O batismo de fogo da FEB ocorreu em 14 de setembro de 1944, durante as operações iniciais no Vale do Rio Serchio, na região da Toscana, Itália. Nesse dia, o 6º Regimento de Infantaria (6º RI), conhecido como "Regimento Ipiranga", oriundo de Caçapava, São Paulo, entrou em combate contra posições alemãs na Linha Gótica, uma fortificada linha defensiva estabelecida pelas forças do Eixo. Durante a Campanha da Itália, no âmbito da Segunda Guerra Mundial, os utilitários com tração integral 6x6 da família Dodge WC, pertencentes à Força Expedicionária Brasileira (FEB), desempenharam um papel essencial nas operações militares. Os utilitários Dodge WC-62 e WC-63 foram exaustivamente empregados no transporte de tropas e suprimentos, garantindo a mobilidade das unidades do Exército Brasileiro em terrenos acidentados e sob condições climáticas rigorosas. Sua capacidade de tração integral 6x6 assegurou o deslocamento eficiente em regiões montanhosas e lamacentas, características do front italiano. Esporadicamente, os Dodge WC-62 foram requisitados pelo Pelotão de Sepultamento (PS), unidade responsável pela coleta, identificação e sepultamento de militares brasileiros falecidos, além do envio de pertences pessoais aos familiares. Nessas operações, os veículos proporcionaram suporte logístico essencial, operando em conjunto com outras viaturas para cumprir essa delicada missão.

Seguindo o modelo adotado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), os Dodge WC-62 foram utilizados para tracionar peças de artilharia leves e médias, notadamente o canhão anticarro M-1 de 57 mm. Essa função reforçou a capacidade de mobilidade da artilharia brasileira no campo de batalha italiano, permitindo o reposicionamento rápido das peças em resposta às dinâmicas durante os momentos de batalha. Os veículos Dodge WC-62 e WC-63 da Força Expedicionária Brasileira (FEB) operaram em algumas das mais desafiadoras ações da Campanha da Itália, incluindo os combates em Montese, Castelnuovo di Vergato, Monte Castello, Camaiore, Monte Prano, Zocca, Collecchio e Fornovo. Nessas operações, enfrentaram condições extremas, como terrenos irregulares, chuvas intensas e o rigoroso inverno italiano. Apesar disso, demonstraram notável adaptação ao ambiente de guerra, mantendo funcionalidade mesmo com manutenção realizada em campo, frequentemente sem instalações adequadas ou ferramentas especializadas. Após o término do conflito em 08 maio de 1945, os caminhões Dodge WC-62 e WC-63 bem como os demais veículos, armas e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira seriam encaminhados ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta organização os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval.  Os veículos Dodge WC-62 e WC-63, modelos Big Shot, chegaram ao Brasil em tempo de integrar o desfile da Vitória, realizado em 18 de julho de 1945, na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi homenageada, exibindo ao público suas conquistas e glórias. No período pós-guerra, esses utilitários foram incorporados as unidades de infantaria motorizada e   também as companhias de canhões anti carro para tracionar os canhões M-1 de 57 mm. Nas duas décadas subsequentes, os veículos Dodge desempenharam um papel fundamental no processo de modernização e transformação da Força Terrestre Brasileira. Contudo, ao final da década de 1950, a frota começou a apresentar desafios operacionais significativos, especialmente devido à baixa taxa de disponibilidade. Esse cenário foi agravado pela dificuldade na aquisição de peças de reposição, particularmente para o motor a gasolina Dodge T-214, de seis cilindros, com válvulas laterais e refrigeração a água, cuja produção foi descontinuada nos Estados Unidos em 1947. 
Diante dessa conjuntura, tornou-se imperativa a busca por uma solução emergencial. Assim, o Exército Brasileiro, por meio de negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), viabilizou a aquisição de um lote significativo de utilitários mais modernos, pertencentes à família Dodge M-37 e M-43. A partir de 1966, o Brasil passou a receber mais de trezentos veículos usados desses modelos, marcando um novo capítulo na renovação de sua frota militar.   Concomitantemente às iniciativas de modernização da frota, a equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), sediado em São Paulo, conduziu estudos para substituir os motores a gasolina Dodge T-214, originalmente instalados nos utilitários Dodge (WC-51,WC-52, WC-53, WC-54, WC-62, WC-63), por motores a diesel de fabricação nacional. Essa iniciativa alinhava-se a programas similares em andamento, como a remotorização de caminhões GMC CCKW, Studebaker US6 e veículos meia-lagarta White Motors M-3, M-3A1 e M-5 Half Track. Contudo, o projeto de remotorização dos veículos Dodge não avançou além da fase inicial de prototipagem. Como medida paliativa, optou-se pela retífica dos motores a gasolina originais de grande parte da frota dos modelos Dodge WC-51 e WC-52, bem como de um número reduzido de unidades dos modelos WC-62 e WC-63. Esse processo foi executado pela empresa paulista Motopeças S/A, conferindo uma sobrevida operacional a essas viaturas. Apesar disso, a partir do final da década de 1970, os utilitários remanescentes começaram a ser gradualmente substituídos por caminhões militarizados de produção nacional, em um processo que se estendeu até o final da década de 1980. No período pós-guerra, os WC-62 e WC-63 foram amplamente empregados em operações de treinamento, transporte de tropas e equipamentos, além de apoio logístico em diversas regiões do país. Sua presença fortaleceu a capacidade do Exército de operar em cenários variados, contribuindo para a consolidação de uma doutrina militar mais dinâmica e adaptada às necessidades do contexto da Guerra Fria. Esses veículos também simbolizaram a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, reforçando o orgulho nacional pela atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com a desativação progressiva, muitos desses veículos foram leiloados a entusiastas ou alienados como sucata, marcando o encerramento de sua trajetória no Exército Brasileiro.

Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-63 "FEB 330", pertencente ao 11º Regimento de Infantaria da Companhia Anti Carros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) empregamos o excelente kit da AFV Club, na escala 1/35. Modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão WC-62 (sem o guincho elétrico frontal). Incluímos em resina, artefatos que simulam a carga em formato de caixas e lonas de campanha. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como complemento do livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático aplicado a todos os veículos em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, padrão este com os veículos foram cedidos ao Exército Brasileiro na Itália, recebendo neste momento apenas as marcações nacionais. Este esquema seria mantido durante o tempo de serviço dos Dodges WC-62 e WC-63,alterando-se apenas o padrão de matrícula, seguindo este esquema até sua desativação.







Bibliografia :

- FEB na Segunda Guerra Mundial, por Luciano Barbosa Monteiro
- Dodges WC Series - http://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series#WC51
- Standard Catalog of U.S. Military Vehicles, 1942
- Dodge 6X6 WC-63 da  FEB, por Expedito Stephani Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/Dodge.pdf