Caça Submarinos Classe PC-461

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1930, o mundo assistia ao crescente agravamento das tensões geopolíticas, prenunciando a iminência de um conflito de escala global. Na Europa, as ambições expansionistas da Alemanha nazista, liderada por Adolf Hitler, manifestavam-se em violações sucessivas do Tratado de Versalhes (1919), como a remilitarização da Renânia em 1936 e a anexação da Áustria em 1938 (Anschluss). Paralelamente, na Ásia, o Império do Japão intensificava sua política imperialista, com a invasão da Manchúria em 1931 e a escalada da Segunda Guerra Sino-Japonesa a partir de 1937. Esses acontecimentos sinalizavam claramente que o mundo se encaminhava para uma conflagração de proporções devastadoras, que viria a ser a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Diante desse cenário, o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Franklin D. Roosevelt, reconheceu a necessidade urgente de fortalecer sua capacidade militar para enfrentar potenciais ameaças. A partir de 1938, foram implementados diversos programas de modernização das forças armadas, com ênfase na preparação para conflitos futuros. Um dos pilares dessas iniciativas foi o fortalecimento do poder naval, essencial para a projeção de força em um mundo cada vez mais instável. O poder naval tornou-se uma prioridade estratégica, especialmente em razão do crescimento da armada imperial japonesa, que, na década de 1930, modernizou sua frota com navios de guerra avançados, como os encouraçados da classe Yamato. Além disso, as marinhas italiana e alemã investiam significativamente em forças submarinas. Apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes, que restringia o rearmamento alemão, a Kriegsmarine (Marinha Alemã) expandia rapidamente sua frota de submarinos (U-Boote). Relatórios de inteligência britânicos, compartilhados com os aliados, indicavam que, em 1939, a Alemanha já possuía cerca de 57 submarinos operacionais, número que cresceria para mais de 100 no início da guerra. Essa força representava uma ameaça direta às linhas de abastecimento marítimo, especialmente para a Grã-Bretanha, que dependia de importações estratégicas, como petróleo, alimentos e matérias-primas, provenientes majoritariamente dos Estados Unidos. A possibilidade de uma campanha coordenada de submarinos alemães, utilizando táticas de "matilha" (Rudeltaktik), poderia paralisar o comércio marítimo britânico, comprometendo sua capacidade de sustentar o esforço de guerra. Em 1938, estimativas apontavam que cerca de 60% das importações britânicas cruzavam o Atlântico, tornando a proteção dos comboios mercantes uma questão de sobrevivência nacional. A resposta mais imediata para essa ameaça seria a construção de uma frota robusta de navios especializados em escolta de comboios e guerra antissubmarino (ASW), como contratorpedeiros (destroyers) e fragatas. No entanto, um programa dessa magnitude exigiria investimentos vultosos, estimados em centenas de milhões de dólares – um desafio significativo em um contexto de recuperação econômica pós-Grande Depressão. Para se ter uma ideia, o orçamento de defesa dos EUA em 1938 era de aproximadamente US$ 1 bilhão, com a Marinha recebendo cerca de um terço desse montante. A alocação de recursos para um programa de construção naval em larga escala poderia comprometer outras áreas críticas do esforço de rearmamento.

Assim, tornou-se essencial buscar soluções mais econômicas que permitissem expandir rapidamente a capacidade de defesa naval. Uma alternativa promissora foi o reaparecimento dos “Submarine Chasers” (caçadores de submarinos), embarcações de pequeno porte, ágeis e de baixo custo, que haviam desempenhado um papel crucial durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918). Durante esse conflito, os Submarine Chasers da classe SC-1, com deslocamento de cerca de 85 toneladas e armados com cargas de profundidade, foram empregados com sucesso contra submarinos alemães no Atlântico. Em 1918, aproximadamente 440 unidades dessas embarcações estavam em operação, demonstrando sua viabilidade como solução tática. Curiosamente após o término da Primeira Guerra Mundial em 1918, a percepção predominante entre estrategistas navais era de que os “Submarine Chasers” (caçadores de submarinos), embarcações de pequeno porte especializadas em guerra antissubmarino (ASW), poderiam tornar-se obsoletos na década seguinte. Essa visão decorria do avanço tecnológico dos submarinos, que, na década de 1920, começaram a ser projetados para operações em mar aberto, com maior autonomia e capacidade ofensiva. No entanto, analistas navais vislumbraram que essas embarcações menores ainda poderiam desempenhar um papel crucial em missões costeiras, liberando navios de maior porte, como contratorpedeiros (destroyers), para operações em alto-mar. Essa divisão estratégica ampliava a capacidade de dissuasão antissubmarino das frotas aliadas, especialmente em um contexto de crescentes tensões globais. Com o agravamento das tensões internacionais no final da década de 1930, impulsionado pelas expansões da Kriegsmarine alemã e da armada imperial japonesa, a US Navy reconheceu a necessidade de modernizar sua frota antissubmarino. A construção de grandes navios, como contratorpedeiros e fragatas, era financeiramente inviável em larga escala, o que levou à busca por alternativas mais acessíveis. Nesse contexto, em março de 1940, foi instituído o Experimental Small Craft Program, conduzido pela equipe técnica da Defoe Shipbuilding Company, localizada em Bay City, Michigan. Esse programa teve como objetivo desenvolver uma nova geração de Submarine Chasers que combinasse baixo custo de construção e operação com alta eficiência, permitindo sua produção em massa para reforçar a frota naval norte-americana. O programa resultou na criação de dois protótipos experimentais, classificados como PC-451 e PC-452, que foram submetidos a avaliações comparativas. Após testes rigorosos, a US Navy aprovou a versão final, designada como classe PC-461, que se tornou um marco na guerra antissubmarino. As embarcações da classe PC-461 apresentavam as seguintes especificações técnicas: Deslocamento: 280 toneladas (padrão) e 450 toneladas (carregado). Dimensões: 52,73 metros de comprimento, 7,01 metros de boca e 3,04 metros de calado. Propulsão: Dois motores diesel General Motors Model 16-258S de 16 cilindros, cada um gerando 2.000 bhp, acoplados a dois eixos com hélices de três pás. Essa configuração proporcionava uma velocidade máxima de 20 nós e um alcance de 3.000 milhas náuticas a uma velocidade de cruzeiro de 12 nós. Armamento: 1 canhão naval de 3 polegadas (76,2 mm/50); 1 canhão Bofors L/60 de 40 mm em reparo Mk 3; 2 metralhadoras Oerlikon de 20 mm em reparos singelos Mk 4; 2 lançadores óctuplos de bombas granada antissubmarino (Mousetrap Mk 20) na proa; 2 calhas de cargas de profundidade Mk 3; 2 lançadores laterais tipo K Mk 6 para cargas de profundidade Mk 6 ou Mk 9. Essa combinação de armamentos conferia às embarcações da classe PC-461 uma capacidade robusta para enfrentar submarinos, mantendo a agilidade necessária para operações costeiras e de escolta de comboios.
A classe PC-461 de Submarine Chasers (caçadores de submarinos) representou um marco significativo na modernização naval dos Estados Unidos às vésperas da Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Diferentemente de seus antecessores utilizados na Primeira Guerra Mundial (1914–1918), que dependiam de detecção visual para localizar submarinos, as embarcações da classe PC-461 incorporavam avanços tecnológicos que aumentavam sua eficácia em operações antissubmarino (ASW). Equipadas com radar de vigilância de superfície, do tipo SF ou SL, e um sonar de casco de última geração, essas embarcações podiam detectar ameaças submersas com maior precisão, mesmo em condições adversas. Esses sistemas, aliados a uma tripulação composta por cinco oficiais e sessenta praças, permitiam uma operação eficiente dos armamentos e sistemas de bordo, otimizando o desempenho em missões costeiras e de escolta. Projetada para atender às especificações do Experimental Small Craft Program iniciado em março de 1940, a classe PC-461 foi desenvolvida com foco na economia e na escalabilidade. Cada unidade tinha um custo de produção de aproximadamente US$ 1,7 milhão (valor da época, equivalente a cerca de US$ 35 milhões em 2025, ajustado pela inflação), tornando-a uma solução financeiramente viável para produção em massa. Esse baixo custo foi crucial para atender às demandas dos Estados Unidos e de seus aliados, especialmente no âmbito do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), promulgado em março de 1941. Essa legislação permitiu o fornecimento de equipamentos militares a nações aliadas, como a Grã-Bretanha, que enfrentavam a ameaça iminente dos submarinos alemães (U-Boote) no Atlântico. Os primeiros 46 navios da classe PC-461, construídos pelos estaleiros da Defoe Boat and Motor Works Company em Bay City, Michigan, receberam a designação de exportação PC-471. A maioria dessas embarcações foi transferida diretamente para a Marinha Real Britânica (Royal Navy), que as empregou no Mar do Norte. Essa transferência estratégica permitiu que os contratorpedeiros britânicos fossem redirecionados para a proteção de comboios em alto-mar, enquanto os Submarine Chasers assumiam a responsabilidade pela segurança de portos e águas costeiras. Essa divisão de papéis foi essencial para conter a campanha de guerra submarina alemã, que, entre 1940 e 1943, afundou mais de 2.700 navios mercantes aliados, segundo estimativas históricas. A versatilidade e o baixo custo da classe PC-461 transformaram-na em um componente estratégico do esforço de guerra aliado. Para atender à crescente demanda por embarcações antissubmarino, a US Navy firmou contratos para a construção de 400 navios dessa classe. Além da Defoe Shipbuilding Company, a produção foi licenciada para a Luders Marine Construction Company, em Stamford, Connecticut, garantindo o cumprimento do cronograma de entregas. O primeiro navio da classe PC-461 foi lançado ao mar em maio de 1941, marcando o início de uma produção acelerada para enfrentar a ameaça dos submarinos alemães e japoneses. Até outubro de 1944, 343 embarcações haviam sido concluídas, um feito notável que reflete a eficiência dos estaleiros americanos e a prioridade dada à guerra antissubmarino. No entanto, nesse período, a maré da guerra havia mudado. 

A intensificação das operações aliadas, combinada com avanços táticos e tecnológicos, como o uso de sonares mais avançados e a decodificação das comunicações alemãs pelo projeto Ultra, reduziu significativamente a ameaça dos U-Boots. Em 1943, por exemplo, as perdas de submarinos alemães superaram a produção, com mais de 240 U-Boots destruídos, segundo registros históricos. Diante desse cenário, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) decidiu cancelar a construção dos 60 navios restantes do contrato original, considerando que a capacidade antissubmarino existente era suficiente para garantir a segurança das rotas marítimas. A decisão refletiu a avaliação estratégica de que os recursos poderiam ser redirecionados para outras prioridades do esforço de guerra, como a construção de porta-aviões e navios de desembarque para as campanhas no Pacífico. Naturalmente seu batismo de fogo se daria com os PC-471 da Marinha Real Britânica (Royal Navy), com os primeiros embates contra submarinos alemães sendo registrados em julho de 1941, no entanto ao longo da Segunda Guerra Mundial seriam empregados em todos os fronts de batalha naval, atuando destacadamente no Pacífico, Atlântico, Caribe e Mediterrâneo. Seu escopo operacional envolvia desde missões de patrulha, guerra antissubmarino (ASW) e escoltas finais de comboio, estas, no entanto na realidade não representavam missões empolgantes ou gloriosas, objetivas e de curta duração, como aconteciam rotineiramente com os aviões aeronavais de guerra antissubmarino (ASW), os quais recebiam informes precisos para ataque aos navios inimigos que apresentavam riscos aos comboios. Assim a vida dos tripulantes de um “Submarine Chaser”, pelo contrário, era monótona e cansativa, prolongando-se por dias seguidos, patrulhando aéreas próximas as rotas de comboios, sem muitas a ocorrência de embates diretos com os submarinos alemães e italianos. A vitória da missão estava, justamente, em nada de anormal acontecer aos comboios por eles apoiados, com os navios mercantes chegando, com as suas valiosas cargas, ilesos aos seus destinos. As tripulações dos navios da classe PC-461 eram compostas geralmente por gente jovem, pois os tripulantes mais velhos não poderiam resistir à dura rotina e vida de bordo.  Podemos dizer, sem receio de errar, que os homens que tripulavam esses navios, se não eram, tornaram-se verdadeiros marinheiros, como exemplo citamos sua operação de condução, onde os seus dois eixos acoplados hidraulicamente aos motores principais davam ao navio, ao fim de 30 segundos, inicialmente a velocidade de 7 nós, indo depois até 18 nós. Assim o  fato de se levar algum tempo para o acoplamento e arrancar já nos 7 nós, quando se dava a partida no forte motor diesel, perturbava os manobristas de renome, dificultando as atracações e outras manobras. Apesar destas características era um ótimo navio no mar, apesar de baixo, e os seus dois lemes faziam o navio girar muito rapidamente, condição necessária à caça do insidioso inimigo, o submarino alemão. Os caça submarinos da classe PC-461 eram navios excelentes: dificilmente os engenheiros navais poderiam conceber um barco tão completo e, ao mesmo tempo, tão compacto. 
Durante o conflito, a classe PC-461 demonstrou notável flexibilidade. Vinte e quatro unidades foram convertidas em canhoneiras de patrulha motorizadas (Patrol Gunboat, Motor – PGM), equipadas para missões de apoio a operações costeiras. Outras 35 foram transformadas em embarcações de controle anfíbio (Patrol Craft, Control – PCC), desempenhando funções de coordenação durante operações de desembarque. Além disso, 18 navios foram convertidos em varredoras de minas da classe Adroit (AM), mas seu desempenho nessa função foi considerado insatisfatório, levando à reconversão para a configuração original de Submarine Chaser. Essas adaptações refletem a capacidade da Marinha dos Estados Unidos (US Navy)  de ajustar rapidamente suas estratégias às demandas do teatro de guerra. Os registros oficiais da US Navy creditam à classe PC-461 o afundamento do submarino alemão U-166 em julho de 1942, no Golfo do México, uma vitória significativa na Batalha do Atlântico. No entanto, o site da Patrol Craft Sailors Association sugere que navios dessa classe podem ter contribuído para o afundamento ou neutralização de até seis submarinos alemães e japoneses, embora tais números careçam de confirmação unânime em registros históricos. Um momento emblemático do emprego da classe PC-461 ocorreu durante a Operação Overlord, o desembarque aliado na Normandia em 6 de junho de 1944 (Dia D). Diversos navios da classe foram utilizados em missões de apoio, incluindo escolta de comboios e patrulhamento costeiro. Entre eles, o USS PC-1264 destacou-se por sua singularidade histórica: foi uma das duas únicas embarcações da US Navy durante a Segunda Guerra Mundial a operar com uma tripulação majoritariamente afro-americana, um marco significativo em um período de segregação racial nas forças armadas dos Estados Unidos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, muitos navios da classe PC-461 foram retirados do serviço ativo ou colocados em esquadrões de reserva. No entanto, um número considerável foi transferido para nações aliadas sob o Mutual Defense Assistance Program (MDAP), instituído em 1949 para fortalecer a capacidade militar de países alinhados com os Estados Unidos durante a Guerra Fria. Essas transferências ampliaram o alcance global da classe PC-461, que passou a servir em marinhas de diversas regiões do mundo. Marinha da República da Coreia (ROK): Um dos principais beneficiários do MDAP, a Coreia do Sul recebeu várias embarcações da classe PC-461. O USS PC-823, renomeado ROKS Baekdusan (PC-701), teve um papel crucial na Batalha do Estreito da Coreia, um confronto naval ocorrido em 25 de junho de 1950, no primeiro dia da Guerra da Coreia (1950–1953). Durante essa batalha, o ROKS Baekdusan afundou um navio norte-coreano, contribuindo para a defesa inicial do território sul-coreano. Marinha Portuguesa: Em 1949, seis navios foram transferidos para Portugal sob o MDAP, recebendo as seguintes designações: USS PC-812 (NRP Maio), USS PC-811 (NRP Madeira), USS PC-1257 (NRP Santiago), USS PC-809 (NRP Sal), USS PC-1256 (NRP São Tomé) e USS PC-1259 (NRP São Vicente). Esses navios foram empregados em missões de patrulhamento e segurança costeira. Marinha da Indonésia: Entre 1958 e 1960, cinco embarcações foram cedidas à Indonésia no âmbito do Mutual Assistance Program: USS PC-1141 (KRI Tjakalang), USS PC-1183 (KRI Tenggiri), USS PC-581 (KRI Torani), USS PC-580 (KRI Hiu) e USS PC-787 (KRI Alu-Alu). Essas embarcações fortaleceram a capacidade naval indonésia durante um período de tensões regionais. Outras Marinhas: Diversos outros países receberam navios da classe PC-461 no pós-guerra, incluindo França, Camboja, Brasil, Uruguai, Noruega, Grécia, Holanda, China, Bolívia, Israel, Cuba, Nigéria, Vietnã do Sul e Filipinas. Essas transferências refletem o papel estratégico dos Submarine Chasers na consolidação de alianças militares durante os primeiros anos da Guerra Fria.

Emprego na Marinha do Brasil.
No início da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), o governo dos Estados Unidos passou a considerar com grande preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo – Alemanha, Itália e Japão. Essa ameaça tornou-se ainda mais palpável após a capitulação da França em junho de 1940, quando a Alemanha Nazista passou a controlar territórios estratégicos, como as Ilhas Canárias e a cidade de Dacar, no Senegal, então uma colônia francesa. Esses locais poderiam servir como bases operacionais para incursões militares no continente americano, especialmente na América do Sul. Nesse contexto, o Brasil emergiu como um alvo potencial devido à sua proximidade geográfica com a África Ocidental, que figurava nos planos expansionistas alemães delineados no início da década de 1940. Além da ameaça estratégica, o Brasil destacou-se como um fornecedor crucial de matérias-primas para os Aliados. Após as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, que interromperam o acesso aliado às plantações de borracha na Malásia e nas Índias Orientais Holandesas, o Brasil tornou-se o principal exportador de látex, matéria-prima essencial para a produção de borracha. Em 1942, o Brasil respondia por cerca de 90% do fornecimento de borracha natural para os Estados Unidos, um insumo vital para a fabricação de pneus, vedações e outros componentes da indústria bélica. A posição geográfica do litoral brasileiro, particularmente a região Nordeste, revelou-se de imenso valor estratégico. A cidade de Recife, no Pernambuco, situada a aproximadamente 2.000 quilômetros de Dacar, era o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Essa localização tornava Recife um ponto ideal para a construção de bases aéreas e portos militares, que poderiam servir como uma ponte logística para o transporte de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. A Base Aérea de Parnamirim, em Natal, conhecida como “Trampolim da Vitória”, tornou-se um dos principais centros de operações aéreas dos Aliados no Atlântico Sul, com mais de 15.000 voos realizados entre 1942 e 1945 para apoiar as campanhas aliadas. A possibilidade de uma ofensiva do Eixo no Brasil, somada à importância econômica e logística do país, intensificou a necessidade de cooperação militar com os Estados Unidos. A ameaça dos submarinos alemães (U-Boote), que entre 1941 e 1943 afundaram mais de 30 navios mercantes brasileiros, prejudicava diretamente o comércio exterior do Brasil com os Estados Unidos, especialmente o transporte de matérias-primas como látex, minério de ferro e manganês. Esses ataques, que resultaram na perda de cerca de 1.000 vidas brasileiras, reforçaram a urgência de medidas defensivas. Diante desse cenário, o governo brasileiro, sob a liderança de Getúlio Vargas, aprofundou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos. Um marco dessa parceria foi a adesão do Brasil ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), promulgado pelos EUA em março de 1941. Esse programa destinava-se a fornecer assistência militar a nações aliadas, e o Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a se beneficiar. Em 1942, o Brasil recebeu uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em 2025, ajustado pela inflação) para a aquisição de equipamentos militares, incluindo armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate.

Esses recursos foram fundamentais para modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, até então, operavam com equipamentos obsoletos. A Marinha do Brasil, por exemplo, adquiriu navios de patrulha e corvetas, enquanto a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu aeronaves como o caça Curtiss P-36 Hawk e o bombardeiro leve Douglas A-20 Havoc. Além disso, o Exército Brasileiro foi equipado com tanques leves M-3 Stuart, que fortaleceram sua capacidade de defesa costeira. Esses investimentos permitiram ao Brasil proteger suas águas territoriais contra a ameaça dos U-Boots e garantir a segurança das rotas marítimas que conectavam o país aos mercados aliados. No contexto da campanha de guerra antissubmarino (ASW), esta representava um dos maiores desafios para as forças aliadas, especialmente no Atlântico Sul, onde submarinos alemães (U-Boots) e italianos ameaçavam as rotas marítimas vitais para o transporte de matérias-primas, como o látex brasileiro, essencial para a indústria bélica dos Estados Unidos. Inicialmente, as operações aeronavais antissubmarino no Brasil eram conduzidas por grupos de combate da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). A partir do final de 1942, com a entrega de aeronaves especializadas por meio do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), a Força Aérea Brasileira (FAB) assumiu uma parcela significativa dessas missões, utilizando aviões como o Consolidated PBY Catalina, que realizaram mais de 1.500 patrulhas no Atlântico Sul entre 1942 e 1945. Contudo, para consolidar a defesa costeira, era imprescindível fortalecer o braço naval da Marinha do Brasil, que, até então, carecia de embarcações adequadas para o combate antissubmarino. No início do envolvimento brasileiro no conflito, após a declaração de guerra ao Eixo em agosto de 1942, a Marinha do Brasil contava com uma frota limitada para operações antissubmarino. Seus únicos navios dedicados a essa função eram seis navios mineiros da classe Carioca, construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, na Ilha das Cobras, entre 1938 e 1940. Reclassificados como corvetas após a entrada do Brasil na guerra, essas embarcações possuíam sensores e radares rudimentares para detecção de submarinos, mas seu armamento – um canhão de 102 mm e lançadores de minas marítimas – era inadequado para enfrentar os modernos submarinos alemães e italianos, como o U-507, responsável pelo afundamento de cinco navios brasileiros em agosto de 1942, que precipitou a entrada do Brasil no conflito. A insuficiência dessas embarcações evidenciava a necessidade urgente de modernizar a frota brasileira, especialmente para proteger o litoral nordestino, um ponto estratégico devido à proximidade com a África e à presença de bases aliadas, como a Base Naval de Natal. A solução veio por meio da cooperação militar com os Estados Unidos, consolidada pelo Lend-Lease Act. No âmbito do Lend-Lease Act, os Estados Unidos transferiram para a Marinha do Brasil oito Submarine Chasers da classe PC-461, que receberam a denominação de classe Guaporé. Essas embarcações, projetadas para operações antissubmarino, eram equipadas com radar de vigilância de superfície (tipo SF ou SL), sonar de casco e um armamento robusto, incluindo um canhão naval de 3 polegadas (76,2 mm), um canhão Bofors de 40 mm, metralhadoras Oerlikon de 20 mm e lançadores de cargas de profundidade. Seu baixo custo de produção – cerca de US$ 1,7 milhão por unidade (equivalente a aproximadamente US$ 35 milhões em 2025, ajustado pela inflação) – e sua capacidade de operar com uma tripulação de 65 homens tornavam-nas ideais para as necessidades brasileiras.
Entre os navios transferidos, destacaram-se o G-1 Guaporé (ex-USS PC-544) e o G-2 Gurupi (ex-USS PC-547), ambos construídos pelo estaleiro Defoe Boat and Motor Works em Bay City, Michigan. O USS PC-544 foi lançado ao mar em 30 de abril de 1942 e incorporado à US Navy em 5 de junho do mesmo ano. Após a entrada do Brasil na guerra, essas embarcações foram transferidas em uma cerimônia oficial realizada na Base Naval de Natal, no Rio Grande do Norte, em 24 de setembro de 1942. Em 5 de outubro de 1942, pelo Aviso nº 1661, os navios passaram a integrar a Força Naval do Nordeste (FNNE), criada para substituir a Divisão de Cruzadores e coordenar as operações navais no Atlântico Sul. O G-1 Guaporé realizou sua primeira missão operacional em 23 de julho de 1943, quando detectou um contato submarino positivo por sonar na posição geográfica de latitude 00º28' S e longitude 45º54' W, lançando cargas de profundidade em uma tentativa de neutralizar a ameaça. Embora não haja confirmação oficial do afundamento de um submarino nessa ação, o episódio demonstra a relevância da classe Guaporé na proteção das águas territoriais brasileiras. O G-1 Guaporé serviu à Marinha do Brasil por mais de 15 anos, navegando 113.869 milhas náuticas e acumulando 427 dias de mar. Sua baixa do serviço ativo foi formalizada pelo Aviso Ministerial nº 0025, de 4 de janeiro de 1958, sendo transferido ao Exército Brasileiro em 5 de fevereiro de 1958 para utilização como transporte de munições. O G-2 Gurupi após o termino do conflito seguiria participando de  exercícios de guerra e tática anti-submarina, operando em conjunto com navios da armada e aeronaves da Força Aérea Brasileira. Em 1955 com a nova padronização dos indicativos de casco da Marinha do Brasil, teve seu indicativo alterado para CS 2. Em abril de 1959 daria baixa do serviço ativo e foi para desmanche. Já o  Guaíba (ex-USS PC-604) foi construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company, localizado em Stamford, Connecticut. Lançado ao mar em 24 de outubro de 1942, o navio foi incorporado à Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 9 de março de 1943. Em 11 de junho do mesmo ano , o navio foi transferido para a Marinha do Brasil em uma cerimônia realizada em Miami, Flórida, onde passou a integrar a classe Guaporé com a designação G-3 Guaíba. O comando foi assumido pelo Capitão-de-Corveta Aluísio Galvão Antunes, um oficial experiente que liderou a embarcação em suas missões no Atlântico Sul.  A exemplo dos dois primeiros navios desta classe, participaria de inúmeras missões de escolta mista (norte-americana/brasileira) a comboios nos trajetos principalmente nos de Recife / Salvador, Salvador / Recife, Recife / Trinadad, Trinadad / Recife,  sendo também regularmente empregado em outras rotas de comboio costeiro no país. No ano de 1952 seria  retirado do serviço ativo e vendido como sucata para desmanche. 

O quarto navio da classe PC-461 o caça submarino, o Gurupá (G-4), ex-USS PC-605, foi o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio Gurupá, localizado no estado do Pará. Construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company em Stamford, Connecticut, o navio foi lançado ao mar em 19 de novembro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 28 de maio de 1943. Neste mesmo ano o, o navio foi transferido para a Marinha do Brasil em uma cerimônia realizada em Miami, Flórida, sob o comando do Capitão-de-Corveta Hélio Ramos de Azevedo Leite. Integrado à Força Naval do Nordeste (FNNE), criada em outubro de 1942, o Gurupá foi amplamente empregado na campanha do Atlântico Sul, participando da escolta de numerosos comboios em rotas estratégicas longo do litoral nordeste do Brasil. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o Gurupá permaneceu em serviço, realizando operações de patrulhamento e treinamento até ser retirado do serviço ativo em 1952. Sua desativação marcou o fim de uma década de contribuições para a segurança marítima brasileira, em um período em que a Marinha do Brasil buscava consolidar sua modernização. O quinto navio da classe o  Guajará (G-5), ex-USS PC-607, foi o terceiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem à Baía do Guajará, localizada no estado do Pará, formada pelo braço sul do Rio Amazonas e pelos rios Capim e Guama. Também construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company em Stamford, Connecticut, o navio foi lançado em 11 de fevereiro de 1943 e incorporado à US Navy em 27 de agosto de 1943. Como os demais navios da classe PC-461, o Guajará estava equipado com tecnologias avançadas para a época, incluindo radar, sonar e um armamento versátil, ideal para operações antissubmarino. Transferido para a Marinha do Brasil em 19 de outubro de 1943, em cerimônia realizada em Miami, Flórida, o Guajará passou ao comando do Capitão-de-Corveta Dário Camillo Monteiro. Integrado à Força Naval do Nordeste, o navio participou de missões de escolta e patrulhamento costeiro, protegendo comboios marítimos contra a ameaça dos submarinos alemães, que entre 1942 e 1943 afundaram mais de 30 navios mercantes brasileiros, resultando na perda de cerca de 1.000 vidas. A presença do Guajará nas rotas do Atlântico Sul foi essencial para garantir a continuidade do comércio exterior brasileiro, especialmente o transporte de matérias-primas estratégicas para os Estados Unidos. O Guajará permaneceu em operação até meados de 1959, quando foi retirado do serviço ativo. Sua longa carreira, que se estendeu por mais de 15 anos, reflete a durabilidade e a versatilidade das embarcações da classe PC-461, que continuaram a servir a Marinha do Brasil mesmo após o fim do conflito.
O sexto navio caça submarino desta classe o Goiana - G 6 (ex-USS PC 554), foi o segundo navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio e a cidade homônimas no Estado de Pernambuco. O Goiana seria construído pelo estaleiro Sullivan Dry Dock and Repair Company, em Brooklyn, New York, sendo lançado em 1º de maio de 1942 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 15 de setembro de 1942. Seria transferido e incorporado a Marinha do Brasil em 29 de outubro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente José Geossens Marques.  Em 13 de dezembro de 1951, deu baixa do serviço ativo, sendo submetido a Mostra de Armamento em cumprimento ao Aviso n.º 2632 de 15/10/51 e vendido para desmonte. O sétimo navio da classe o caça submarino Grajaú - G 7 (ex-USS PC 1236), foi o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a um riacho homônimo do antigo Distrito Federal. O Grajaú foi construído pelo estaleiro Sullivan Dry Dock and Repair Company, em Brooklyn, New York. Seria lançado em 31 de agosto de 1943 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) 15 de novembro, e transferido a Marinha do Brasil no mesmo dia, em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Antônio Augusto Cardoso de Gastão.  Em 11 de abril de 1959 , deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 0847. Por fim o Caça Submarino Graúna - G 8  (ex-USS PC 561), seria o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a essa ave negra de nossa fauna. O Graúna foi construído pelo estaleiro Jeffersonville Boat and Machine Company, em Jeffersonville, Indiana, seria lançado em 1º de maio de 1942 e incorporado a  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 11 de julho do mesmo ano. Seria incorporado a Marinha do Brasil em 30 de novembro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente José Leite Soares Júnior. Esta embarcação operaria na  Marinha do Brasil até 15 de outubro, deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 2632.  Além de suas missões de escolta, o Guajará destacou-se em uma operação humanitária de resgate, consolidando sua importância na história naval brasileira. Em 21 de julho de 1944, enquanto em serviço ativo, o Guajará (G-5), sob o comando do Capitão-de-Corveta Dário Camillo Monteiro, integrava o Grupo de Escolta do comboio JT-18, ao lado do Jutaí (CS-52), outro navio da Marinha do Brasil. Durante a missão, às 09h30, a aproximadamente 12 milhas náuticas a nordeste de Recife, Pernambuco, a Corveta Camaquã (C-6), uma embarcação da classe Carioca, afundou devido às severas condições climáticas. A Camaquã, originalmente um navio mineiro reclassificado como corveta, não possuía a robustez necessária para enfrentar tempestades intensas, o que resultou em seu naufrágio e na perda de 33 tripulantes, um dos episódios mais trágicos da Marinha do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. O Guajará, junto com o Jutaí, desempenhou um papel crucial no socorro aos náufragos da Camaquã. Operando em condições adversas, as tripulações desses navios mobilizaram esforços para resgatar os sobreviventes, demonstrando coragem e profissionalismo. A ação humanitária destacou a versatilidade do Guajará, que, além de suas funções primárias de combate antissubmarino, provou ser capaz de responder a emergências marítimas com eficácia.  Em 19 de abril de 1950 , retornou a custodia do Governo dos Estados Unidos, através do Departamento de Estado e acabou sendo transferido em definitivo para o Brasil. Em 15 de outubro de 1951, deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 2632. 

Em Escala.
Para representarmos o Caça Submarinos da Classe PC-461 Gurupi G2 da Marinha do Brasil, quando a serviço da  Força Naval do Nordeste (FNNE),  fizemos uso de um kit em resina produzido pela empresa francesa L Arsenal na escala 1/350. Este modelo pode ser montado diretamente da caixa tendo em vista que este modelo é muito semelhante aos navios empregados no Brasil. Fizemos uso de decais confeccionados sob encomenda pela Decal Sings.
Apesar da maioria dos Caças Submarinos da Classe PC-461 da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) fazerem uso camuflagens táticas, os registros fotográficos de época apontam que os navios destinados a Marinha do Brasil, foram recebidos no padrão básico de pintura naval. Este esquema de pintura ao longo dos anos se manteria inalterado até o ano de 1959, havendo apenas a alteração na identificação visual dos mesmos. 


Bibliografia : 
- PC-461 Class Submarine Chaser Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/PC-461-class_submarine_chaser
- A Vida nos Caça-Ferro – Poder Naval https://www.naval.com.br/ngb/G/CS-na-IIGM.htm
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/