Embraer Internacional A-1B AMX


História e Desenvolvimento.
A Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), constituída como uma estatal de capital misto em 19 de agosto de 1969, foi exigida com a missão de realizar a produção em série das primeiras aeronaves de transporte transportadas no Brasil: o Embraer EMB-110, em sua versão civil comercial, e o modelo militar C-95 Bandeirante. A primeira unidade de produção em série, registrada sob a matrícula FAB 2133, foi entregue à Força Aérea Brasileira (FAB) em 9 de fevereiro de 1973. Além de atender a uma significativa demanda militar, as versões civis do EMB-110, destinadas ao transporte regional, alcançaram expressiva notoriedade internacional ao conquistar numerosos contratos de exportação, suprindo as necessidades de dezenas de empresas de transporte aéreo. Esse sucesso comercial, aliado à sólida confiança corporativa da Embraer, levou sua diretoria a considerar a possibilidade de estabelecer negociações com empresas estrangeiras, evoluir para a viabilização de pesquisas conjuntas e para uma eventual transferência de tecnologia. O primeiro acordo prático nesse sentido foi concretizado no início da década de 1970, por meio de um contrato com a empresa italiana Aeronautica Macchi SpA. Esse acordo prévio a fabricação sob licença, no Brasil, de mais de cem unidades do avançado treinador Aermacchi MB-326GB. Embora não envolva transferência de tecnologia, a produção local desse modelo, redesenhado como Embraer AT-26 Xavante, proporcionou à Embraer o domínio de processos e conceitos relacionados à produção de aeronaves em jato de alto desempenho, estabelecendo as bases para avanços subsequentes em sua capacidade produtiva. Com o progresso bem sucedido da implementação do AT-26 Xavante na Força Aérea Brasileira (FAB), a diretoria da Embraer S/A passou a explorar novos nichos de mercado. Entre as propostas, destacou-se o desenvolvimento de uma versão monoplace do treinador, especializada em missões de ataque ao solo. Esse conceito, designado internamente como Programa "AX", foi compartilhado com o projetista-chefe Ermanno Bazzocchi, da Aeronáutica Macchi, que o considera operacionalmente viável. Assim, surgiu o projeto da primeira aeronave "ítalo-brasileira", provisoriamente chamada de Embraer EMB-330. Apesar de sua potencial promessa, a proposta não conseguiu conquistar o apoio do Ministério da Aeronáutica (MAer), que emitiu um parecer crítico sobre as capacidades da aeronave. Diante dessa infecção, a equipe de projetos prosseguiu com estudos para aprimorar o EMB-330, desenvolvendo novas variantes. Contudo, essas iniciativas não avançaram além da fase de concepção da aeronave, resultando na suspensão definitiva do programa.

O espírito de cooperação tecnológica e industrial entre Brasil e Itália foi retomado em 1978, a partir de uma oportunidade surgida durante uma visita de uma comitiva de oficiais e comandantes da Força Aérea Brasileira à Itália. Na ocasião, a diretoria da Aeronáutica Macchi SpA apresentou ao grupo um requisito da Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) para o desenvolvimento de uma aeronave subsônica de ataque a jato. Esse novo modelo visava substituir o Fiat G.91Y/R e o caça Lockheed F-104G/S Starfighter, usado em missões de ataque ao solo, apoio aéreo aproximado e ataque naval. Ao analisar as especificações propostas, constatou-se que elas eram bastante semelhantes às critérios previamente estabelecidos pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) para o projeto "AX". Essa convergência de parâmetros operacionais abriu caminho para o desenvolvimento conjunto de uma nova aeronave de ataque. A proposta foi aprovada pelo Ministério da Defesa Italiano, e, para sua execução, foi formalizada uma parceria entre as empresas Aeritalia Aeronautica e Aeronautica Macchi SpA. Essa colaboração distribuída as condições tecnológicas e industriais permite a criação da aeronave subsônica de ataque italiana, designada como "AMX" (onde "A" representa Aeritalia, "M" refere-se a Macchi e "X" indica seu caráter experimental). As negociações entre os governos brasileiro e italiano foram iniciadas, resultando na inclusão da Embraer S/A no consórcio, com a responsabilidade por um quarto do programa de desenvolvimento e dos investimentos correspondentes. A empresa brasileira coube o projeto e a fabricação dos frascos das asas e da empenagem, bem como a realização dos testes de fadiga desses componentes estruturais. As empresas italianas, por sua vez, ficaram sobrecarregadas dos dois terços restantes, abrangendo a produção da fuselagem, os sistemas de bordo e a condução de testes estáticos e com armamentos. Apesar desses entendimentos iniciais, o processo foi temporariamente suspenso para ajustes contratuais, burocráticos e processuais, que exigiram cerca de seis meses adicionais, adiando o cronograma originalmente previsto. Em maio de 1980, durante a Feira Aeronáutica Internacional de Farnborough, na Inglaterra, o Ministério da Aeronáutica (MAer) reafirmou publicamente seu compromisso com o programa. O contrato oficial foi finalmente assinado entre os dois países em 27 de março de 1981, consolidando a participação da Embraer no desenvolvimento do AMX.
Após ajustes contratuais, a participação da Embraer S/A no programa AMX foi elevada para 30%, enquanto as empresas italianas passaram a responder por 70%. Nesse novo arranjo, coube à empresa brasileira o desenvolvimento e a fabricação das asas, tomadas de ar do motor, estabilizadores horizontais, pilones subalares (suportes para armamentos) e tanques de combustível. Além disso, o Brasil se integra ao projeto de trem de pouso, dos sistemas de navegação e ataque, dos comandos de voo e do controle de armamentos. A Embraer S/A também ficou responsável pela construção de dois protótipos para ensaios em voo e um para testes de fadiga, os quais foram utilizados em um amplo programa de testes prolongados em território nacional. O caça bombardeiro tático Internacional AMX foi projetado como uma aeronave monomotor e monoposto, especializada em missões de ataque, com ênfase em robustez e confiabilidade para operar em condições de alta exposição em ambientes hostis. Equipado com uma gama avançada de sistemas de computação, navegação e ataque, além de contramedidas eletrônicas, o AMX incorpora inovações tecnológicas significativas para a época, como o sistema de comandos de voo "Augmentation System" e a configuração HOTAS (Hands On Throttle And Stick) para navegação e ataque. Sua capacidade de longo alcance operacional, ampliável por reabastecimento em voo, era compatível com as dimensões continentais do Brasil. A primeira maquete do projeto foi concluída em 1982, e a construção de quatro protótipos – dois em cada país participante – teve início quatro anos depois. O primeiro protótipo italiano realizou seu voo inaugural em 15 de maio de 1984, pilotado pelo comandante Mario Quarantelli, chefe de testes da Aeronáutica Aeritalia. Tragicamente, um acidente ocorreu no quinto voo, resultando na morte do piloto, que, embora tenha conseguido ejetar-se, não resistiu aos ferimentos. O programa foi retomado em novembro do mesmo ano com o segundo protótipo italiano. No Brasil, o primeiro protótipo, projetado YA-1 FAB 4200, decolou em 16 de outubro de 1985 nas instalações da Embraer em São José dos Campos, sob o comando do piloto de ensaios Luiz Fernando Cabral. O segundo protótipo brasileiro realizou seu voo inicial em 16 de dezembro de 1986. Posteriormente, foi desenvolvida uma variante biposto, projetada à conversão operacional de pilotos para essa aeronave.

Em 1986, a primeira célula de produção em série do AMX foi entregue à Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI), passando o modelo a equipar, ao longo dos anos subsequentes, seis grupos de ataque (Gruppo/Stormo). De maneira geral, as versões italiana e brasileira do AMX compartilharam um projeto básico convencional, caracterizado por uma asa alta com enflechamento de 27,5º no bordo de ataque. O sistema de comando de voo era híbrido: leme, spoilers, flaps e estabilizadores eram acionados por um sistema digital assistido por computador Fly-By-Wire (FBW) de dois canais, enquanto os ailerons e profundores operavam por um sistema hidráulico mecânico tradicional. Essa combinação tinha como objetivo principal aumentar a capacidade de sobrevivência da aeronave em combate, permitindo que o piloto retornasse à base com segurança, utilizando as superfícies de comando hidráulico-mecânico, caso o sistema FBW estivesse danificado. A estrutura das células era predominantemente composta por alumínio, com uso de aço em peças específicas e materiais compostos de fibra plástica reforçados em painéis de acesso, na estrutura da cauda, ​​nos ailerons e no duto de ar da turbina. Neste mesmo ano seria definida a produção de uma variante biplace, que passaria a ser designada como AMX-T, este modelo teria como função básica o treinamento e conversão de pilotos, porém, entretanto manteria sua completa capacidade de combate, tendo como limitante somente a redução no seu raio operacional, pois seu tanque de combustível central seria eliminado para ceder espaço ao segundo tripulante. Foram produzidos três protótipos que alçaram voo entre os anos de 1989 e 1990, sendo dois italianos e um brasileiro. O AMX contava ainda com um conjunto avançado de HUD (Head-Up Display) integrado ao sistema HOTAS (Hands On Throttle And Stick), otimizando a interface entre piloto e aeronave. Ao todo, a produção do monoposto alcançou 150 unidades, sendo 110 destinadas à Força Aérea Italiana e 45 à Força Aérea Brasileira (FAB), entregues entre 1989 e 1999. As diferenças fundamentais foram incorporadas às versões de cada país, refletindo suas respectivas demandas operacionais. A variante italiana foi projetada para missões de ataque no perfil “Lo-Lo-Lo” (voo baixo contínuo sobre o campo de batalha), enfrentando as sofisticadas defesas antiaéreas soviéticas, com um raio de ação limitado a 335 km.  Já a versão brasileira foi configurada para operar em um cenário de defesa aérea menos avançado, adotando o perfil “Hi-Lo-Hi” (voo alto até a proximidade do alvo, com voo baixo apenas na fase de ataque). 
Para atender a uma autonomia mínima de 965 km, a variante brasileira exigiria dois tanques de combustível subalares adicionais de 1.100 litros, o que, por sua vez, reduziria sua capacidade de carga bélica útil. No final de ano de 2002, a Embraer S/A anunciou publicamente, que havia celebrado um contrato com a Força Aérea Venezuelana (FAV), para a venda de doze unidades de uma versão melhorada do AMX-T, com estas aeronaves sendo incorporadas com o objetivo de se substituir os antigos treinadores que deveriam substituir os treinadores Rockwell T-2D Buckeye na Aviação Militar daquele pais caribenho. No entanto neste momento uma grave crise diplomática se desenvolvia junto ao governo dos Estados Unidos da América, culminando em uma série de embargos, entres estes figuraria um veto a esta negociação de fornecimento de aeronaves brasileiras, muito em função dos Embraer AMX-T fazerem uso de uma variada gama de componentes norte-americanos. O emprego dos AMX italianos durante a campanha dos Balcãs, clarificaria a necessidade de se  dotar o modelo de uma plena capacidade para operação em qualquer tempo. Este programa implementado pela  Força Aérea Italiana (Aeronáutica Militare Italiana - AMI) envolveria a modernização do sistema de navegação, instalação de nova tela multifuncional colorida compatível com sistema de visão noturna (NVG – Night Vision Goggles) e sistemas de comunicação com enlace de dados (data link).  A partir de fins da década de 1990, a participação do governo italiano, no projeto norte americano JSF (Joint Strike Fighter), definia o caça multifuncional Lockheed Martin F-35 Lightning II, como futuro substituto do AMX entre os anos de 2015 e 2018. Assim, visando atender a este cronograma, a Força Aérea Italiana (Aeronáutica Militare Italiana - AMI), definiu implementar um segundo programa de atualização, permitindo assim estender a operação da aeronave até o final da década de 2020. Este programa lograria o status de plena efetividade de sua aviação de ataque, evitando ainda aos pilotos italianos, uma exposição a lacunas tecnológicas abissais entre o modelo a ser retirado de serviço e seu novo vetor. Este programa seria conhecido pela sigla ACOL (Aggiornamento delle Capacità Operative e Logistiche – Melhoria da Capacidade Operativa e Logística), com o contrato sendo celebrado no ano de 2004 com a empresa nacional Leonardo S.p.A, no valor de US$ 390 milhões, envolvendo a modernização de cinquenta e duas aeronaves (quarenta e dois monopostos e dez bipostos). O primeiro protótipo alçaria voo em setembro de 2005, com as primeiras aeronaves operacionais sendo disponibilizadas em meados do ano seguinte, com este programa sendo concluído em 2012.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A doutrina operacional da aviação de caça e ataque ao solo da Força Aérea Brasileira (FAB) foi inicialmente concebida e consolidada durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial. Nesse conflito, pilotos brasileiros, operando os robustos caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, realizaram mais de 2.546 surtidas de combate e ataque, estabelecendo as fundações de uma força de ataque moderna e eficaz. Nas décadas seguintes, essa tradição, forjada em combate, foi aprimorada com o uso de aeronaves adaptadas para missões de ataque, como as caças Gloster F-8 Meteor e os Lockheed AT-33. Contudo, a utilização de vetores não específicos para tais operações resultou em limitações que comprometeram os resultados operacionais. Os esforços do Ministério da Aeronáutica (MAer) para superar essas restrições culminaram no programa AMX, que se concretizou na introdução de aeronaves especializadas. Assim, no final da década de 1980, a incorporação de uma aeronave moderna projetada especificamente para missões de ataque ao solo gerou grandes expectativas junto os comandantes da  Força Aérea Brasileira (FAB). Para maximizar essa oportunidade, o Comando da Aeronáutica (COMAER) determinou a criação de uma nova unidade aérea de combate de primeira linha dedicada à operação do AMX. Esse processo resultou, em 22 de abril de 1988, na ativação do 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, sediado na Base Aérea de Santa Cruz (BASC), no Rio de Janeiro. O nome de código “Adelphi” foi escolhido em homenagem aos veteranos do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvC) - Esquadrao Jambock, que perderam suas vidas em combate na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. O Embraer Internacional AMX recebeu a designação oficial de A-1A na Força Aérea Brasileira (FAB) , e a célula operacional brasileira, registrada sob a matrícula FAB 5500, foi formalmente incorporada em 13 de outubro de 1989, durante uma cerimonia realizada no Rio de Janeiro. Na semana seguinte, teve início o programa de certificação operacional básica da nova aeronave, com este processo sendo concluído em julho de 1990, quando as operações aéreas foram finalmente iniciadas. A etapa subsequente envolveu um amplo programa de desenvolvimento de doutrina operacional e treinamento de pessoal envolvido, que se estendeu até agosto de 1990. Nesse momento, a unidade alcançou o status de plena operacionalidade, contando com pelo menos cinco aeronaves em atividade no 1º/16º GAv – Esquadrão Adelphi. A primeira célula da versão de treinamento e conversão designada como A-1B AMX, seria recebida no dia 7 de maio de 1992 passando  a executar a tarefa de conversão operacional de pilotos da unidade.

O 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, recém-criado como esquadrão aerotático, tinha como missões prioritárias o ataque a alvos de superfície, a interdição do campo de batalha e o apoio aéreo aproximado, atuando em suporte às unidades de combate do Exército Brasileiro. Em caráter secundário, uma unidade também foi preparada para realizar bombardeios estratégicos. Com isso, a Força Aérea Brasileira (FAB) recuperou sua capacidade de ataque ao solo, perdida em meados da década de 1970 com a desativação dos últimos bimotores a projetar Douglas A-26B e A-26C Invader. Até então, essas tarefas eram desempenhadas de forma limitada por treinadores a jatos avançados adaptados para missões de ataque, como os norte-americanos Lockheed AT-33A, TF-33A e T-33A, seguidos posteriormente pelos Embraer AT-26 Xavante. O Embraer A-1A AMX destacou-se como a primeira aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) equipada com uma suíte completa de sistemas de autodefesa, tanto passivos quanto ativos, considerados de ponta para a época. Entre os recursos, incluía-se um sistema de alerta RWR (Radar Warning Receiver), que notificava os pilotos quando uma aeronave era rastreada por um radar hostil. Esse sistema operava em conjunto com lançadores de contramedidas chaff e flare, eficazes contra mísseis guiados por infravermelho ou radar, complementados por um pacote de contramedidas eletrônicas ativas (ECM – Active Electronic Counter Measures). Outra inovação do A-1A foi a presença de computadores de missão especializados para o lançamento de armamentos de ataque ao solo, utilizando os modos CCIP (Continuously Computed Impact Point – Ponto de Impacto Continuamente Computado) e CCRP (Continuously Computed Release Point – Ponto de Lançamento Continuamente Computado), otimizados para bombas não guiadas. Esse sistema conferia ao A-1A uma precisão significativamente superior em comparação aos caças-bombardeiros Northrop F-5E Tiger II e Embraer AT-26 Xavante. Adicionalmente, o Embraer A-1A apresentava uma baixa assinatura infravermelha e uma seção reduzida transversal ao radar, características que, aliadas aos sistemas eletrônicos de defesa passiva e ativa, asseguravam uma elevada capacidade de sobrevivência em ambientes hostis. Esses diferenciais consolidaram o modelo como um marco na modernização da capacidade de ataque ao solo da Força Aérea Brasileira (FAB). Este variado pacote eletrônico à primeira vista seria um desafio de adaptação para os jovens pilotos recém formados nos jatos analógicos de treinamento Embraer AT-26 Xavante pertencentes ao 1º/4º Grupo de Aviação - Esquadrão Pacau, e a adoção dos novos A-1B AMX viria a facilitar imensamente a adaptação e aclimatação, ajudando assim os novos pilotos superar o imenso abismo (gap) tecnológico entre estas aeronaves, com todos estes sistemas sendo então desmistificados pelo modelo biplace.
Além desta importante missão o Embraer A-1B AMX podia ainda ser empregado normalmente em missões de ataque e reconhecimento estratégico, pois estas células possuíam as mesmas capacidades operacionais da versão monoplace.  A segunda unidade da Força Aérea Brasileira (FAB)  a incorporar o Embraer A-1A AMX foi o 3º/10º Grupo de Aviação (3º/10º GAv) – Esquadrão Centauro. Em 15 de janeiro de 1998, essa unidade recebeu suas duas primeiras células da versão monoposto. Assim como ocorreu com o 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv), foi implementado um programa intensivo de introdução da aeronave, treinamento de tripulações e formação de equipes, culminando na declaração de operacionalidade da unidade no primeiro bimestre de 2000. Coube aos A-1A e A-1B AMX do Esquadrão Centauro a realização da missão de maior duração já registrada por aeronaves de ataque da Força Aérea Brasileira (FAB) . Em maio de 2003, duas aeronaves decolaram da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e, com apenas três reabastecimentos em voo realizados pelo Boeing KC-137, sobrevoaram a região oeste do país, a fronteira norte, e pousaram na Base Aérea de Natal, percorrendo mais de 6.500 km. Essa operação apresentou a capacidade de ataque estratégico da Força Aérea Brasileira (FAB) , evidenciando sua possibilidade de atingir alvos em toda a América Latina. A terceira unidade recebeu o A-1A AMX foi o 1º/10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv) – Esquadrão Poker, sediado em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A primeira aeronave foi entregue em março de 1999, e a dotação da unidade foi concluída no início de 2004, quando foi declarada operacional. Diferentemente das duas unidades anteriores, a missão prioritária do Esquadrão Poker era o reconhecimento tático do campo de batalha. Inicialmente, suas aeronaves foram equipadas com pods fotográficos nacionais Gespi e Vicon, dotados de capacidades de reconhecimento impasse e infravermelho. Posteriormente, foram adquiridos pods israelenses Recce Lite, mais avançados, projetados para reconhecimento exclusivo com múltiplos sensores. Além disso, o Esquadrão Poker também tinha como missão a supressão de defesas aéreas inimigas (Suppression of Enemy Air Defense – SEAD), com planos para o futuro emprego do míssil nacional antirradiação MAR-1, então em desenvolvimento. Contudo, esse projeto não avançou além da fase de protótipo, privando a Força Aérea Brasileira (FAB)  de um importante recurso dissuasório. De maneira peculiar, quando empregadas em missões de reconhecimento, as aeronaves do 1º/10º GAv – Esquadrão Poker utilizavam a designação e chamada de rádio RA-1.

O Embraer A-1A AMX tornou-se a primeira aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) a participar do exercício multinacional Red Flag, um dos maiores treinamentos anuais prolongados pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). A participação foi atribuída ao 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, que deslocou seis aeronaves, vinte e dois pilotos e sessenta e oito militares para o evento, programado para ocorrer entre 24 de setembro e 4 de outubro de 1998. Para atender às descrições operacionais desse exercício, a Força Aérea Brasileira (FAB) precisou adaptar o nível técnico de seus pilotos ao uso de novas ferramentas e fluxos de planejamento de missões. Até então, as técnicas e procedimentos da Força Aérea Brasileira (FAB) nesse âmbito foram moldados pela experiência adquirida durante a Segunda Guerra Mundial, contrastando com a doutrina norte-americana do "ataque por pacotes". Esse conceito, desenvolvido durante a Guerra do Vietnã na década de 1960, foi consolidado como padrão operacional nas décadas seguintes, sendo aplicado em diversas operações reais com forças aéreas de outros países, devido à diversidade de aeronaves pelas forças armadas dos Estados Unidos. O exercício multinacional Red Flag caracteriza-se por sua alta complexidade, exigindo interação fluida e transparente entre pilotos e aeronaves de diferentes esquadrões e forças aéreas. Nesse cenário, os Embraer A-1A AMX enfrentaram uma oposição robusta simulada, composta por caças norte-americanas de última geração, como o McDonnell Douglas F-15 Eagle, o General Dynamics F-16 Fighting Falcon e o Boeing F/A-18E Hornet, além de caças bombardeiros modernizados, como os Northrop F-5E Tiger III da Força Aérea Chilena. A defesa adversária foi complementada por sistemas eletrônicos que simulavam baterias antiaéreas de mísseis russos, incluindo os modelos SA-6, SA-3 e e franceses SAM Roland. Mesmo nesse ambiente altamente hostil, as aeronaves brasileiras realizaram com sucesso operações de infiltração em território inimigo, alcançando padrões operacionais elevados. Essa participação, combinada às capacidades do A-1A AMX, elevou a Força Aérea Brasileira (FAB) a um novo patamar em termos de doutrina de ataque tático, consolidando sua capacidade de operar em cenários complexos e integrados com forças aéreas internacionais. Em outra ocasião pilotos do caças General Dynamics F-16 da Guarda Nacional Americana da Força Aérea Americana (USAF) que participaram do exercício multinacional, Operação Tiger I, teceriam grande elogios sobre o desempenho da aeronave ítalo-brasileira, solicitando permissão para voar nas aeronaves A-1B AMX.
Apesar de representar um avanço significativo na capacidade de ataque da Força Aérea Brasileira (FAB), os diferenciais tecnológicos do Embraer A-1A AMX foram gradualmente neutralizados pelo avanço dos anos. A partir da segunda metade da década de 1990, novos sistemas de defesa e aeronaves de combate mais avançadas superaram rapidamente seus sistemas, impedindo a vantagem estratégica da aeronave no contexto sul-americano. Consciente dessa realidade, o Comando da Aeronáutica (COMAER) iniciou, na última década daquela época, estudos para avaliar alternativas de modernização da frota de A-1A  e A-1B AMX.  A Força Aérea Brasileira (FAB) planejaria uma modernização mais abrangente, com o objetivo de manter as aeronaves em operação até, pelo menos, meados da década de 2030. Além disso, o programa brasileiro visava adotar a mesma suíte aviônica já selecionada para os projetos Embraer  A-29 ALX (Aeronave de Ataque Leve) e Northrop F-5EM Tiger II, promovendo uma padronização de hardware e software, incluindo sistemas de enlace de dados. Essa uniformização também traria uma redução significativa nos custos de aquisição e gestão da cadeia de suprimentos de peças de reposição. Essa iniciativa foi formalizada em 2003, com a contratação da Embraer S/A como principal responsável pela execução e gerenciamento do programa. Porém as negociações burocráticas atrasaram o processo, exigindo uma renegociação com as empresas no final de 2006. Em 30 de maio de 2007, a primeira aeronave Embraer A-1A AMX, pertencente ao segundo lote de produção, foi entregue com  o objetivo de servir como base para o programa de modernização. Em fevereiro de 2009, foi assinado um contrato no valor de US$ 157,6 milhões para a modernização de 43 aeronaves. O programa incluiu uma extensa revitalização estrutural de todas as células promovendo a troca de componentes críticos, incorporando melhorias que visavam prolongar sua vida útil por mais 20 anos.  Contudo, em 2014, a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC) anunciou a redução do número de aeronaves a serem modernizadas, decisão justificada pela priorização de a partir de 2015 para os projetos estratégicos, como o do Embraer KC-390 Millennium e das caças  Saab JAS-39 Gripen NG F-39E. A seguir um novo corte orçamentário no Ministério da Defesa, levaria a suspensão do programa de modernização  por 12 meses, com o programa então  sendo limitado a apenas 14 células, sendo três do modelo A-1B

Em Escala.
Para representarmos o AMX A-1B “FAB 5653” empregamos o excelente kit em resina da escala 1/48 da Duarte Models, modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento e injeção para kits em resina. Utilizamos tanques subalares originais e bombas burras MK-83 do set Aircraft Weapons A da Hasegawa. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals presentes no Set 48/08.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Embraer A-1A e A-1B AMX, que passou a ser aplicado a partir do ano de 2003, apresentando ao longo dos anos pequenas variações em termos de detalhes ao que tange na identificação das unidades. As três células modernizadas mantiveram este mesmo padrão.


Bibliografia :

Revista ASAS nº20  AMX na FAB – Claudio Luchesi e Carlos Felipe Operti
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Mercedes-Benz Série LP (VTE - VTNE)


História e Desenvolvimento.
Há mais de um século, os engenheiros alemães Gottlieb Daimler e Carl Benz desenvolveram, de forma concomitante, os primeiros automóveis motorizados funcionais do mundo. O pioneirismo desses inventores resultou em outras conquistas notáveis, como a criação do primeiro ônibus, do primeiro caminhão com motor a gasolina e do primeiro caminhão movido a diesel. Em abril de 1900, foi introduzido o motor "Daimler-Mercedes", um grupo propulsor que revolucionou a produção em série de automóveis comerciais devido à sua simplicidade, eficácia e baixo custo de produção e aquisição. Durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa desempenhou um papel significativo no esforço de guerra alemão, fabricando uma ampla gama de produtos, incluindo veículos, componentes diversos e motores de aviação. Após o término do conflito, a economia alemã enfrentou severas dificuldades, marcadas por altas taxas de inflação e desemprego, que comprometeram a renda da população. Esse cenário impactou diretamente as vendas, especialmente de bens de luxo como automóveis de passageiros, exercendo forte pressão sobre a indústria automotiva alemã. Apenas marcas consolidadas, respaldadas por empresas financeiramente robustas, conseguiram sobreviver a esse período de instabilidade, enquanto muitas outras foram compelidas a formar cooperativas ou a se submeter a processos de fusão. Nos anos subsequentes, a produção automotiva recuperou-se de forma gradual. Buscando superar os desafios econômicos, as empresas Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG) e Benz & Cie decidiram unir forças em um acordo de administração conjunta e cooperação tecnológica. Esse compromisso, firmado entre seus acionistas e estipulado para vigorar até o ano 2000, previa a padronização de design, produção, compras, vendas e publicidade, com os modelos de automóveis sendo comercializados em conjunto, embora preservando as respectivas marcas originais. Pouco tempo depois, essa integração culminou na formação de uma identidade industrial e comercial única, dando origem à Daimler-Benz AG. O logotipo da empresa, a icônica estrela de três pontas, foi concebido por Gottlieb Daimler. Cada ponta simbolizava um elemento — ar, terra e mar —, representando a versatilidade dos motores desenvolvidos pela companhia, que se adaptavam aos três modais de transporte. Em meados da década de 1930, as vendas da Daimler-Benz AG foram significativamente impulsionadas por encomendas governamentais vinculadas ao ambicioso programa de rearmamento da Alemanha Nazista. 

O portfólio original da empresa, até então centrado em automóveis e caminhões, foi ampliado para incluir a produção de motores aeronáuticos, embarcações, aeronaves e diversos componentes mecânicos, consolidando a Daimler-Benz como um fornecedor estratégico da máquina de guerra nazista. Após o término da Segunda Guerra Mundial, as instalações industriais da empresa, severamente danificadas por intensos bombardeios nas fases finais do conflito, foram reconstruídas em colaboração com autoridades britânicas e norte-americanas, como parte de um esforço para a recuperação econômica da Alemanha. O processo de reconstrução de um país devastado gerou uma demanda significativa por veículos utilitários de diferentes portes. Nesse contexto, a Daimler-Benz identificou uma oportunidade singular de mercado e direcionou seus recursos para o desenvolvimento de veículos de pequeno e médio porte. Aproveitando projetos concebidos originalmente na década de 1930, a empresa alcançou grande sucesso comercial, não apenas na Alemanha, mas também em toda a Europa, o que resultou em expressiva recuperação econômica para a montadora. Contudo, foi somente em meados da década de 1950 que a Daimler-Benz lançou um produto especificamente projetado para atender às demandas daquele mercado no momento de reconstruçao da Alemanha: o Mercedes-Benz MB L-319. O MB L-319 foi projetado com uma cabine avançada (cab-over-engine, ou COE), um conceito que maximizava o espaço para carga útil sem aumentar o comprimento total do chassi ou a distância entre eixos. Essa configuração permitia maior manobrabilidade em áreas urbanas e eficiência no transporte de mercadorias. O MB L-319 era oferecido em diversas configurações, incluindo caminhões de carga, furgões, chassis para ônibus e veículos especializados, o que o tornava extremamente versátil. O sucesso do MB L-319 no mercado Europeu deu origem à família de caminhões LP (Lastkraftwagen-Pulmann), que incluía modelos derivados com capacidades e configurações variadas, como: LP-315,  LP-321,  LP-326. LP-329 e  LP-331 Esses modelos mantinham o conceito de cabine avançada e foram amplamente utilizados na Europa, especialmente na Alemanha, para transporte de mercadorias, serviços municipais e até como base para veículos de bombeiros e ambulâncias. A família Lastkraftwagen-Pulmann consolidou a reputação da Mercedes-Benz por produzir veículos duráveis e eficientes.
Nesse período, a diretoria da Daimler-Benz AG começou a delinear os primeiros planos para um programa de expansão internacional, identificando novos mercados potenciais. Entre esses, o mercado sul-americano foi considerado estratégico, com o Brasil sendo selecionado como o ponto de partida para essa iniciativa. O objetivo era estabelecer uma linha de produção de caminhões e, futuramente, chassis para ônibus, aproveitando o crescimento econômico do país. As vendas no Brasil eram lideradas por Alfred Jurzykowski, um empresário polonês e distribuidor da marca, que alcançava expressivo sucesso na comercialização de veículos importados no formato CKD (Completely Knock-Down). Em 1951, Jurzykowski desempenhou um papel crucial ao intermediar contatos entre a Daimler-Benz e o governo do presidente Getúlio Vargas, culminando na celebração de um acordo para a fabricação local de caminhões e ônibus com motorização diesel. Dois anos depois, em outubro de 1953, foi fundada a Mercedes-Benz do Brasil S.A., seguida pelo início da construção de uma planta industrial em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. Enquanto a fábrica era erguida, a montadora dedicou-se ao desenvolvimento de um projeto de nacionalização de seus motores diesel. Em dezembro de 1955, na presença de Juscelino Kubitschek, então presidente eleito, foi realizada, nas instalações da Sofunge - Sociedade Técnica de Fundições Gerais S/A, a fundição dos primeiros blocos de motor diesel da América Latina. Em janeiro de 1956, deu-se início à usinagem desses blocos, um marco que influenciou a adoção do motor diesel como padrão no Brasil, em um contexto até então dominado pelo modelo norte-americano de uso predominante da gasolina como combustível automotivo. A planta de São Bernardo do Campo foi inaugurada em 28 de setembro de 1956, sob a direção técnica de Ludwig Winkler, que anteriormente gerenciava a linha de montagem no Rio de Janeiro e, anos depois, supervisionaria a produção de chassis da concorrente Magirus. A cerimônia de inauguração, com a presença do Presidente da República, refletiu o momento de otimismo econômico do país. Juscelino Kubitschek, em seu discurso, declarou: “O Brasil acordou!”. Durante o evento, ele percorreu a fábrica a bordo do primeiro caminhão diesel de médio porte fabricado no Brasil: o Mercedes-Benz L-312, com capacidade para 6 toneladas de carga útil. Equipado com um motor nacional MB de seis cilindros, 4.580 cm³ e 110 cv, caixa de cinco marchas e freios hidráulicos com assistência pneumática, o L-312 possuía uma cabine metálica recuada, sendo o único modelo desse tipo produzido pela empresa no Brasil até os dias atuais.

O caminhão Mercedes-Benz L-312 foi introduzido no mercado brasileiro em três variantes, seguindo a nomenclatura adotada na Alemanha, que permaneceu em vigor por quatro décadas, todas com uma distância entre eixos de 3,20 metros: o modelo básico L (Lastwagen, ou caminhão, em alemão), o basculante LK (Kipper) e o cavalo-mecânico LS (Sattelschlepper, ou reboque), sendo os dois últimos configurados com balanço traseiro reduzido. Adicionalmente, estavam disponíveis duas opções de encarroçamento: uma versão completa e outra sem cabine, composta apenas por capô e para-lamas, que serviu como base principal para a fabricação de lotações. Em 1960, a Mercedes-Benz do Brasil participou da primeira edição do Salão do Automóvel, consolidando sua presença no mercado nacional. No ano seguinte, a empresa iniciou suas exportações para o mercado latino-americano, com a comercialização de 550 unidades do ônibus modelo O-321 para a Argentina. A exemplo da matriz alemã, a subsidiária brasileira passou a produzir, a partir de 1957, os caminhões da família LP, incluindo os modelos LP-315, LP-321, LP-326, LP-329 e LP-331. Esses veículos foram adaptados para diversas aplicações, como transporte de carga, combustível, cisternas e configurações com caçambas basculantes. A simplicidade mecânica do modelo LP-321, equipado com o motor OM 321 de seis cilindros em linha, que desenvolvia 120 cv a 3.000 rpm, constituiu um diferencial competitivo significativo. Esse motor contava com um sistema de combustão de antecâmara em fluxo contínuo, que otimizava o aproveitamento do combustível, aliado a um regime térmico reduzido e à refrigeração do óleo do cárter, tecnologias que garantiam maior durabilidade. O trem de força incluía uma transmissão manual de cinco velocidades, todas sincronizadas, resultando em baixo consumo de combustível. Essa eficiência, combinada com a maior capacidade de carga útil do modelo, permitia às empresas operar com frotas menores para transportar o mesmo volume de mercadorias, conferindo uma vantagem expressiva sobre os concorrentes. O desempenho superior do LP-321 resultou em um sucesso comercial notável, com a venda recorde de 34.142 unidades entre 1958 e 1970. Outro aspecto distintivo do projeto era a distância entre eixos de 4,6 metros, que proporcionava uma distribuição uniforme do peso ao longo da carroceria. A Mercedes-Benz do Brasil oferecia uma caçamba padrão de 6,5 metros de comprimento, mas permitia customizações conforme as necessidades dos clientes, o que facilitava adaptações específicas e impulsionava ainda mais as vendas da linha LP (Lastkraftwagen-Pulmann) no país.
O chassi do Mercedes-Benz LP-321, do tipo escada, foi projetado para oferecer alta flexibilidade, essencial para suportar curvas acentuadas e garantir a integridade de cargas pesadas. Construído com barras de aço reforçado, proporcionava rigidez estrutural superior, aumentando a confiabilidade e a robustez do conjunto, mesmo em altas velocidades. Com uma distância entre eixos de 4,6 metros, o chassi assegurava uma distribuição uniforme do peso ao longo da carroceria, otimizando a estabilidade. A Mercedes-Benz do Brasil oferecia uma caçamba padrão com 6,5 metros de comprimento, mas permitia customizações conforme as necessidades dos clientes, uma característica que impulsionou significativamente as vendas da linha LP no mercado brasileiro. Embora originalmente concebido com tração 4x2, a variante MB LPK-331, equipada com caçamba basculante, foi projetada com tração nas quatro rodas e pneus especiais para operações em terrenos fora de estrada, ampliando sua versatilidade. Diversas versões foram produzidas até 1965, com destaque para o modelo LP-334, que se tornou o mais bem-sucedido comercialmente, alcançando a produção de 4.703 unidades. Sua elevada confiabilidade e adaptabilidade levaram à sua adoção em larga escala por governos municipais em todo o país, especialmente para aplicações em serviços públicos. Em 1963, o modelo passou por uma última atualização, incorporando uma nova cabine com formas mais angulares, alinhada às tendências globais de design da Mercedes-Benz. Essa cabine, de dimensões reduzidas, aumentava o espaço disponível para transporte de carga na parte posterior do veículo, otimizando ainda mais sua funcionalidade. O Mercedes-Benz LP-321, lançado no Brasil em 1957 pela Mercedes-Benz do Brasil S.A., deixou um legado significativo para a indústria brasileira, influenciando não apenas o setor automotivo, mas também a economia, a infraestrutura de transporte e o desenvolvimento industrial do país.  O LP-321 foi um dos primeiros caminhões diesel de médio porte fabricados no Brasil, marcando a transição do uso predominante de motores a gasolina, típicos do modelo norte-americano, para motores diesel, mais econômicos e duráveis. Produzido em um contexto de industrialização acelerada durante o governo de Juscelino Kubitschek, o LP-321 se destacou por sua robustez, versatilidade e eficiência, consolidando a Mercedes-Benz como líder no mercado de veículos comerciais e estabelecendo padrões que moldaram a indústria nacional.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro experimentou um avanço significativo em sua capacidade de mobilização, impulsionado pelo recebimento de caminhões militares fornecidos pelos Estados Unidos sob a Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act). No entanto, na década de 1950, a frota enfrentou desafios operacionais devido ao desgaste e à dificuldade de obtenção de peças de reposição. Este relatório analisa o impacto dessas questões, as soluções propostas pelo comando do Exército Brasileiro e os desafios associados à sua implementação. Com a adesão do Brasil ao esforço de guerra aliado em 1942, as Forças Armadas Brasileiras receberam, até o final de 1945, mais de 5.000 caminhões militares das séries GMC CCKW, Corbitt, Diamond e Studebaker US6G, fornecidos por meio do programa Lend-Lease Act. Esses veículos foram fundamentais para a mobilização de tropas e cargas durante o conflito. Contudo, no final da década de 1950, a operacionalidade da frota foi gravemente comprometida por dois fatores principais: Desgaste Natural: Resultante do uso intensivo durante e após a guerra; Dificuldade na Obtenção de Peças: A descontinuação da produção desses modelos nos Estados Unidos, há mais de uma década, dificultava a importação de componentes essenciais. Esse cenário gerou preocupação no comando do Exército Brasileiro, pois comprometia a capacidade operacional da Força Terrestre, exigindo soluções urgentes para restaurar sua prontidão logística. A solução ideal para manter a capacidade operacional envolvia a substituição da frota por um número equivalente de caminhões modernos com tração 4x4 e 6x6, sendo os modelos REO M-34 e M-35 os mais indicados devido à sua robustez e tecnologia avançada. No entanto, o elevado custo de aquisição de uma frota desse porte excedia as limitações orçamentárias do Exército Brasileiro na época, tornando essa opção inviável. Diante das restrições financeiras, o comando do Exército elaborou três soluções complementares para enfrentar o problema: Aquisição Limitada de Caminhões Modernos: Compra de um pequeno número de caminhões REO M-34 e M-35 para atender às necessidades mais críticas, priorizando missões estratégicas. Repotencialização da Frota Existente: Estudos para a modernização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G, visando prolongar sua vida útil por meio de atualizações técnicas. Adoção de Caminhões Comerciais Militarizados: Incorporação de caminhões produzidos nacionalmente, adaptados para missões secundárias, como transporte de cargas leves e outras funções de apoio. A combinação dessas estratégias tinha o potencial de restaurar a operacionalidade da Força Terrestre de maneira sustentável e economicamente viável. Os estudos para a repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G foram minuciosamente analisados, mas não receberam recomendação para implementação. As principais razões incluíam: Alto Custo: O investimento necessário para modernizar a frota era elevado, especialmente considerando a necessidade de importar componentes ou desenvolver substitutos localmente. Falta de Capacidade Técnica: Naquela época, o Brasil carecia de um corpo técnico com a expertise necessária para executar um programa de repotencialização em escala, envolvendo reengenharia e adaptação de sistemas complexos. Esses fatores inviabilizaram a modernização da frota existente, direcionando o foco para as demais soluções propostas.

O cancelamento da repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G evidenciou a necessidade de soluções alternativas para restaurar a operacionalidade da frota do Exército Brasileiro. A adoção de caminhões comerciais militarizados foi identificada como uma abordagem viável, permitindo: Substituição em Missões Básicas: Utilização de veículos comerciais em tarefas de transporte básico, liberando os caminhões militares com tração 6x6 para operações táticas e estratégicas em ambientes fora de estrada. Otimização da Frota Existente: Concentração dos veículos militares remanescentes em melhor estado para missões críticas. Essa estratégia, já implementada desde a década de 1930 com caminhões comerciais de pequeno porte, beneficiava-se do baixo custo de aquisição e operação dos veículos produzidos localmente, alinhando-se às prioridades orçamentárias da Força Terrestre. Para atender à demanda por caminhões médios, o Ministério do Exército optou por veículos fabricados pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), uma empresa estratégica no fortalecimento da indústria automotiva brasileira. Dois modelos foram selecionados: FNM D-9500: Caminhão médio com características adequadas para adaptação militar. FNM D-11000: Modelo destacado por sua robustez estrutural, capaz de atender, em teoria, aos parâmetros exigidos para o processo de militarização. A escolha dos caminhões FNM refletiu o compromisso do governo em fomentar a indústria nacional, aproveitando a capacidade produtiva local para suprir as necessidades do Exército. Apesar do avanço na substituição dos caminhões médios, a frota de caminhões leves permanecia obsoleta, composta majoritariamente por modelos como: Opel Blitz II Comercial; Chevrolet 157 Gigante 1937; General Motors G7106, G7107 e G-617M, recebidos entre 1935 e 1942. Esses veículos desempenhavam um papel central na estrutura de transporte do Exército Brasileiro, mas seu desgaste e a dificuldade de manutenção exigiam um programa urgente de renovação. A substituição dessa frota representava uma oportunidade significativa para as montadoras nacionais, incentivadas pelo Governo Federal por meio do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), instituído em 1956. O GEIA foi criado para promover o desenvolvimento da indústria automotiva brasileira, oferecendo incentivos fiscais e financeiros às montadoras que investissem na produção local. Esse programa alinhava-se aos objetivos do Exército Brasileiro, pois: Estimulava a fabricação de veículos robustos e acessíveis, adequados à militarização; Reduzia a dependência de importações, mitigando os problemas de fornecimento de peças observados com a frota legada da Segunda Guerra Mundial; Fortalecia a economia nacional, gerando empregos e capacidade industrial. A aquisição de caminhões FNM e a perspectiva de renovação da frota de caminhões leves foram, portanto, estratégias alinhadas aos objetivos do GEIA, promovendo a integração entre as necessidades militares e o desenvolvimento industrial.
Consciente da oportunidade apresentada pelo mercado MILITAR brasileiro, a diretoria da montadora brasileira intensificou as negociações para a comercialização de seus caminhões, destacando como principal diferencial a excelência tecnológica de seus motores diesel. Essa tecnologia proporcionava significativa economia no consumo de combustível e nos custos de manutenção, posicionando os caminhões Mercedes-Benz como superiores em relação aos concorrentes da época (Ford F-600 e Chevrolet C-60) que estavam operando principalmente no Exército Brasileiro. Os esforços de negociação, fundamentados nas qualidades técnicas dos produtos, culminaram em êxito com a assinatura, em maio de 1959, do primeiro contrato de aquisição com o Ministério do Exército. Esse acordo consagrou a Mercedes-Benz do Brasil S.A. como fornecedora oficial de caminhões para a Força Terrestre. O contrato inicial estipulava a aquisição de 380 viaturas dos modelos MB LP-321 e MB LP-331, ambos com tração 4x2. O objetivo era otimizar a logística militar, reduzindo a dependência de caminhões puramente militares com tração 6x6, como os REO M3-4 recebidos em 1958, liberando estes para se focarem no transporte fora de estrada. Por se tratarem de caminhões comerciais adaptados, o cronograma de entrega foi extremamente célere, com as primeiras unidades sendo entregues às unidades operativas do Exército Brasileiro a partir de maio de 1960. As versões militarizadas dos caminhões LP-321 e LP-331 apresentavam diferenças visuais sutis em relação aos modelos comerciais. As modificações mais evidentes incluíam para-choques reforçados, guinchos mecânicos dianteiro e traseiro com capacidade para tração de cargas leves, grades de proteção para faróis e lanternas, gancho de reboque e uma carroceria de aço equipada com cobertura de lona no padrão militar, semelhante aos modelos GMC CCKW 352, 353 e Studebaker US6G. Em operações secundárias, como transporte de cargas e tropas, esses veículos demonstraram excelente desempenho, atribuído à confiabilidade do conjunto mecânico e à robustez estrutural. Os resultados positivos dessa primeira experiência abriram caminho para a formalização de um novo contrato em 1961. Essa encomenda abrangia caminhões com carrocerias especializadas, destinadas a funções específicas, como transporte de animais, cisternas de água potável, tanques de combustível, veículos de socorro e furgões, ampliando a versatilidade da frota militar. Logo em seguida novos contratos seriam firmados não só pelo Exército Brasileiro, mas também pela Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil, envolvendo os primeiros caminhões com tração 6X2, incluindo uma versão de veículo misto para transporte e de cargas pesadas. Neste pacote seriam recebidos os primeiros modelos especializados na versão “Munk”, com a viatura sendo equipada com um guindaste articulado com capacidade para erguer até quinze toneladas, sendo o primeiro caminhão nacional deste tipo a ser adquirido pelas Forças Armadas Brasileiras.  
Os últimos veículos pertencentes a estes contratos de produção seriam entregues aos seus operadores militares em fins do ano de 1964. Todas as versões militarizadas destes caminhões Mercedes Benz MB LP-321 e LP-331 seriam entregues na configuração de chassis com 5,5 metros de comprimento, 1,80 metro de largura e 2,60 metros de altura. Apesar da família de caminhões médios ser oferecida ao mercado civil com diversas opções de motorização, em função de padronização todos os caminhões adquiridos pelas Forças Armadas Brasileiras estavam equipados com o motor nacional a diesel Mercedes Benz OM-321 com seis cilindros em linha capaz de desenvolver 110 cv a 2.800 rpm. A única exceção foram os poucos veículos pesados do modelo MB LP-331 S, com potência elevada para 180 cv, tornando-o o mais potente caminhão brasileiro em uso no Exército Brasileiro naquele período. As versões incorporadas seriam : VTE Choque 48; VTE Furgão Transporte de Animais 4X2; VTNE Carga Emprego Geral carroceria de madeira 7 Ton 6x2 ; VTNE Furgão Carga Emprego Geral 15 Ton 6x2; VTNE Carga Emprego Geral 15 ton 4x2 e VTNE Carga Emprego Geral Comercial Munck 15 ton 4x2. Curiosamente apesar de não contarem com tração nas quatro rodas, os caminhões MB LP-321 quando operados esporadicamente em ambiente fora de estrada, apresentando ainda sim um desempenho aceitável, porém com um índice de desgaste mecânico preocupante.  A Mercedes Benz do Brasil S/A, ainda conquistaria vários outros contratos governamentais, envolvendo além de modelos transporte, cisterna de água, bombeiro e basculante, uma versão policial de transporte de tropas de choque destinada a tarefas de contenção de distúrbios urbanos. O primeiro cliente deste modelo policial seria o Governo do Estado de São Paulo, que no ano de 1962 assinou com a montadora um contrato para a aquisição de dez caminhões para o transporte de seus batalhões de choque, logo em seguida seriam adquiridos mais veículos na versão de transporte de combustível. Em sequência mais caminhões deste modelo de choque seriam fornecidos a outros estados brasileiros para emprego junto as policiais militares ou corpo de bombeiros.  Até o final de década de 1970 os Mercedes Benz LP-321 e LP-331 prestaram excelentes serviços as Forças Armadas Brasileiras, a partir do  início da década de seguinte, esta grande frota começaria a ser gradualmente substituída por outros caminhões militares nacionais mais modernos, entre ele os novos MB L-1111 e L-1113. Caminhões estes que passariam a ser dotados exclusivamente de tração nas quatro rodas, passando também a operar no ambiente fora da estrada em terrenos irregulares, com melhor desempenho e sem o mesmo desgaste apresentado por seus antecessores. 

Em Escala.
Para representarmos o Mercedes Benz LP-331 VTNE Carga Emprego Geral Comercial Munck 15 toneladas  4x2 “EB51-128”, fizemos uso do modelo em die cast produzido pela Axio  para a Editora Altaya, na escala 1/43. Para compormos o veículo empregado pelo Exército Brasileiro, desmontamos todo o veículo retirando o baú de carga, substituindo por uma carroceria confeccionada em scratch, como o sistema de guincho tipo Munk. Já na parte frontal do veículo aumentamos a distância entre o para choque e a cabine para a inclusão das grades proteção de lentes para os faróis e gancho mecânico de reboque. Fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942/1982".
OO esquema de cores (FS) descrito neste relatório representa o padrão tático militar adotado pelo Exército Brasileiro para todos os seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até o final de 1982. A partir de 1983, os veículos militares remanescentes do Exército Brasileiro passaram a adotar um novo esquema de camuflagem técnica de dois tons. Os veículos utilizados pela Marinha do Brasil não seguiam o padrão tático do Exército Brasileiro, adotando esquemas de pintura distintos, adaptados às suas missões específicas e aos ambientes operacionais em que atuavam. Essas variações garantiam a adequação dos veículos às necessidades de cada ramo, como maior visibilidade em operações aéreas ou resistência a condições marítimas. Para a aplicação dos esquemas de pintura, foram empregadas tintas e vernizes de alta qualidade produzidos pela Tom Colors. 


 Bibliografia : 
- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos  – MB LP-321/331 , Editora Altaya
- História da Mercedes Benz do Brasil -https://www.forummercedes.com.br/
- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976

Boeing SB-17G e RB-17G na Brasil

História e Desenvolvimento. 
A Boeing Airplane Company, seria fundada em 09 de maio de 1917 pelo pioneiro da aviação  William E. Boeing, empresário que já desde o início desta década já operava pequenos negócios neste segmento de mercado. No final deste mesmo ano o Estados Unidos entraria na I Guerra Mundial, e a empresa tinha plena consciência que a Marinha Americana (US Navy) necessitaria aumentar sua frota de hidroaviões para treinamento. Assim seriam apresentados dois modelos deste tipo de aeronave, e seu desempenho levaria a celebração de seu primeiro grande contrato militar, envolvendo cinquenta aeronaves, com a companhia seguindo conquistando espaço no mercado civil. Quando a Primeira Guerra Mundial terminou em 1918, um grande excedente de aviões militares usados e baratos inundou o mercado de aviões comerciais, limitando as vendas de novas aeronaves, levando muitas empresas entre elas a Boeing a derivar seu segmento de atuação, passando a fabricar móveis e barcos de fundo plano chamados de Sea Sleds. O mercado militar também sofreria uma grande estagnação, com as Forças Armadas Norte Americanas passando a adquirir ao longo dos anos seguintes poucas aeronaves novas. Perto da final da década de 1920, grandes avanços na tecnologia aeronáutica levariam a obsolescência um grande número de aeronaves militares em serviço, entre estes os caças bombardeiros embarcados, o Boeing F-2B (Model 69) e Boeing F-3B (Model 69B), aeronaves que entrarIam em serviço no início da década. Em fins da primeira metade da década de 1930 o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), estava focado no desenvolvimento de um ousado plano de modernização, envolvendo aeronaves de diversas categorias, entre estas estava a proeminente demanda pela substituição dos já obsoletos bombardeiros de médio porte Martin B-10. Assim desta maneira uma nova concorrência seria aberta em 1934, para o desenvolvimento e aquisição em grande escala de um bombardeiro desta categoria. As especificações demandavam uma aeronave bimotora de configuração monoplano, com capacidade mínima de transporte de uma tonelada de bombas a uma velocidade de 354 km/h, a 3.000 metros de altitude, a uma distância superior a 3.218 km e com uma autonomia de voo acima de dez horas. 

Diversos fabricantes de aeronaves norte-americanas, apresentaram suas propostas entre estas figuravam três finalistas, o Martin Model 146 (que se tratava de uma versão modernizada do B-10), o Boeing 299 (que seria a gênese do projeto B-17 Fortaleza Voadora) e finalmente o Douglas DB-1 (Douglas  Bomber 1). Na primeira avaliação conceitual, a aeronave da Glenn L. Martin Company, seria eliminada, por se basear em uma plataforma obsoleta, com a análise final ficando entre a aeronave da Boeing Aircraft Co. e da Douglas Aircraft Company.  Neste segundo estágio, a proposta do Boeing o Model 299, apesar de superior e radicalmente inovadora apresentava um custo superior de aquisição por aeronave, não se enquadrando nas expectativas conservadoras dos militares. Esta situação seria agravada quando o protótipo do Boeing Model 299, sofreu um acidente fatal durante um voo de avaliação, selando assim seu destino como projeto. Assim, o modelo da Douglas Aircraft Company seria declarado vencedor da concorrência, recebendo um contrato para produção em série, com as primeiras aeronaves entrando em serviço no Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), a partir de meados do ano de 1937. Apesar de não ter sido selecionado para aquela concorrência, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos  (USAAC) interessou-se pelo avião devido particularmente as suas características inovadoras, entendendo que havia um potencial a ser desenvolvido. Assim seria celebrado em fins de 1936 um contrato para a encomenda de treze aeronaves pré-série, a fim de serem submetidas a um extenso programa de ensaios em voo. Nesta fase a aeronave passou a ostentar a designação militar de YB-17, com esta versão incorporando uma série de mudanças significativas quando comparado ao modelo original Modelo 299, incluindo motores Wright R-1820-39 Cyclone mais potentes. Entre 1º de março e 4 de agosto de 1937, doze das treze aeronaves seriam entregues ao 2º Grupo de Bombardeio em Langley Field, na Virgínia, para desenvolvimento operacional e testes de vôo. Uma aeronave adicional seria construída para o emprego em teste em solo de resistência estrutural, esta célula receberia os novos turbo compressores General Electric, recebendo a designação de Y1B-17A. Após o encerramento do programa de ensaios, estas aeronaves foram entregues em 31 de janeiro de 1939, sendo redesignados B-17 e B-17A.
A segunda versão a ser produzida em série, receberia a designação de Boeing B-17B e incorporaria melhorias significativas em termos de sistemas mecânicos e hidráulicos, com um contrato para a aquisição de trinta e nove aeronaves sendo celebrado em 03 de agosto de 1939, este pedido seria direcionado para equipar mais dois esquadrões de bombardeio baseados na costa oeste do país. Apesar do bom desempenho, mais modificações seriam incorporadas, agora notadamente na melhoria do sistema de autodefesa, com a inclusão de mais três metralhadoras calibre .50, criando a versão Boeing B-17C com mais trinta e oito aeronaves encomendas, seguido por mais um contrato agora na ordem de quarenta células da versão designada como Boeing B-17D. O avançar da guerra na Europa com rápido êxito das forças militares nazistas, descontinuaria uma nova realidade, onde seria provada a teoria da inteligência aliada sobre as reais capacidades ofensivas das forças de caça e interceptação da Força Aérea Alemã (Luftwaffe). Fazendo uso de leis especiais para atuação em tempos de crise ou guerra, um contrato de mais quinhentas aeronaves seria celebrado entre a Boeing Aircraft e o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), diferentemente das versões anteriores que receberam um sistema defensivo contra ameaças, a nova versão designada como Boeing B-17E, seria o primeiro modelo da família   a ser produzido em larga escala, com seu conceito focado na guerra ofensiva, podendo assim ter mais chances de sobrevivência em um ambiente hostil permeado de caças inimigos. O Boeing B-17E visualmente se destacava dos demais, por incorporar uma nova barbatana dorsal, novo desenho do estabilizador, fuselagem 3 metros maior e adoção de uma torreta ventral de metralhadoras do tipo "Sperry Ball" com duas metralhadoras Browining calibre .50. Apresentava ainda novos e mais potentes motores do tipo Wright R-1820 Cyclone 9 com turbo compressores desenvolvendo 1.200 hp cada.

Experiências obtidas com a atuação do modelo nos diversos teatros de operações da Segunda Guerra Mundial, levariam a mais mudanças, entre as mais importantes foi a adoção de "torre do queixo" equipada com duas metralhadoras Browning calibre .50, dando-lhes uma capacidade de defesa avançada muito melhorada, principalmente contra ataques frontais (técnica muito utilizada pelos pilotos de caça alemães), este modelo receberia a designação de Boeing B-17F, com sua produção atingindo 3.045 aeronaves. No entanto o modelo definitivo da família apareceria em fins de 1943, com o modelo Boeing B-17G, aeronave que portava para sua defesa treze metralhadoras Browining .50., consagrando o nome popular de "Fortaleza Voadora". A todo até o início de 1945 seriam entregues mais de oito mil células deste modelo. Apesar de serem sobrepujadas em termos de desempenho pelos novos Boeing B-29 em 1944, os Boeing B-17 se mantiveram no teatro europeu como ferramenta fundamental para a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, sendo decisivos no desmonte da infraestrutura e capacidade de produção industrial alemã. Próximo ao final do conflito, pelo menos vinte e cinco aeronaves Boeing  B-17E/F foram equipados com controles de rádio e câmeras de televisão, carregados com 9.100 kg de explosivos altos, foram apelidados de "BQ-7 Mísseis Afrodite" para a Operação Afrodite, ofensiva esta que envolvia deslocar remotamente os "drones" até seus alvos, sendo estas controladas por aeronaves de comando que acompanhariam a operação. Com a aprovação oficial em 26 de junho de 1944, estes ataques foram realizados pelo 388º Grupo de Bombardeio da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). Os quatro primeiros drones foram enviados para Mimoyecques, o bunker Siracourt V-1, Watten, e Wizernes em 4 de agosto, causando pouco dano. Estes resultados e uma acidente fatal levariam ao cancelamento do programa no início de 1945. Durante a Segunda Guerra Mundial o Boeing B-17 chegou a equipar trinta e dois grupos de bombardeio no exterior.
Com o término do conflito o modelo foi retirado da missão de bombardeio estratégico, neste período a Força Aérea do Exército Americano (USAAF) dispunha ainda de milhares de células em bom estado, a grande maioria teve como destino a desmontagem e sucateamento. Porém uma grande parte das aeronaves passaria a desempenhar novas funções especializadas, entre estas transporte, busca e salvamento, aerofotogrametria, inteligência e alvo aéreo. A aeronave seria notabilizada neste período pelo desempenho da versão Boeing B-17H de Busca e Salvamento (SAR). O modelo desenvolvido no início de 1946 para uso no Serviço Aéreo de Resgate (Air Rescue Service), e contava com um bote salva vidas do tipo "Higgins" abastecido com viveres e material de primeiros socorros, de 8,18 m de comprimento e 772 kg de peso, que era lançado a uma velocidade de 190 km/h, a 360 metros de altura, tendo sua queda no mar amortecida por três para quedas. Além da Força Aérea do Exército Americano (USAAF), esta variante seria empregada ainda em uso militar e civil, por nações como Argentina, Áustria, Alemanha, Bolívia, Brasil, Canada, Colômbia, Dinamarca, Republicana Dominicana, Dinamarca, França, Irã, Arábia Saudita, Israel, México, Nicarágua, Peru, Portugal, África do Sul, Suécia e Reino Unido.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No ano de 1944 ocorreria na cidade de Chicago nos Estados Unidos, um encontro internacional, que culminaria no estabelecimento da "Convenção sobre Aviação Civil Internacional". Este tratado celebrado por diversas nações do continente americano, seria responsável pelo estabelecimento das bases do Direito Aeronáutico Internacional até hoje em vigor. Instituíra-se também o conceito de Acordo Bilateral de Transporte Aéreo entre Estados e determinou a criação da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). Esta convenção, estabeleceria as definições e regras acerca do espaço aéreo e sua utilização, envolvendo o registro de aeronaves e normas de segurança de voo, bem como o detalhamento dos direitos e deveres dos signatários, com respeito ao transporte aéreo internacional, entre outros assuntos importantes. Entre várias abordagens relativas ao tema central, estava o artigo de número 25, que definia todo o escopo referente ao planejamento e execução de missões de buscas e salvamento dentro das áreas geográficas de responsabilidade de cada país. Este acordo seria assinado em 07 de setembro por cinquenta e quatro países, entre este o Brasil, passando a vigorar em 04 de abril de 1947, gerando assim tempo hábil para a implementação de normas ou estruturas para o atendimento da convenção. Ao analisarmos as responsabilidades pertinentes ao Brasil dispostas no artigo 25, ficava estipulado que o país deveria proporcionar a proteção e seguranças de aeronaves voando em emergência sobre seu território continental, costeiro e marinho, bem como dos aviões que estivem em curso no processo de cruzar o Oceano Atlântico. Em 1944 durante a assinatura deste acordo, a Força Aérea Brasileira completava apenas três anos como força independente, e durante o conflito focaria todos seus esforços nas tarefas de patrulhamento e guerra antissubmarino em seu litoral. Em fins de 1945 seriam iniciados os esforços para o atendimento do cronograma das demandas exigidas pela "Convenção sobre Aviação Civil Internacional", com a primeira iniciativa se materializando no emprego de aeronaves de patrulha Consolidated PBY5/A Catalina, precariamente adaptadas para as missões de Busca e Salvamento - SAR.

Neste processo as aeronaves Consolidated PBY-5/A Catalina, começaram a ser gradualmente retirados das missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW), liberando assim a frota para o atendimento de missões de transporte, ligação e busca e salvamento. Em janeiro de 1946 a Força Aérea Brasileira passaria a dispor de sua primeira aeronave dedicada a este tipo de missão, quando o Consolidated PBY-5A Catalina "FAB 6516" pertencente ao 1º Grupo de Patrulha (1º GpP) sediado na Base Aérea de Belém, no estado do Pará, passou a ser destinado exclusivamente para o emprego em missões de Busca e Salvamento - SAR, com mais células sendo destacadas para esta missão posteriormente. Apesar dos esforços em se atender as demandas presentes na "Convenção sobre Aviação Civil Internacional", os  Consolidated PBY-5A Catalina, não dispunham de autonomia de voo suficiente para proporcionar  a execução de missões de busca e salvamento sobre o Oceano Atlântico, ou sobre o interior do continental do pais. Era necessário desta maneira dispor de um vetor com autonomia de voo, assim em 1950 o Ministério da Aeronáutica (MAer), solicitou ao Departamento de Estado do governo norte americano a possível cessão de   aeronaves que pudessem executar missões de busca e salvamento com grande autonomia para a eficaz cobertura do atlântico e do território brasileiro. Neste período a Força Aérea do Americana (USAF) dispunha em sua frota uma quantidade excedente de aeronaves Boeing B-17G convertidas em variantes especializadas para a execução de missões de busca e salvamento, em bom estado de conservação que poderiam ser facilmente cedidas. Esta pedido seria prontamente aceito em fins de 1950 , com uma equipe de oficiais sendo enviada aos Estados Unidos para proceder a seleção das aeronaves a serem transferidas. Os entendimentos iniciais previam o fornecimento de seis aeronaves, sendo cinco configuradas para Busca e Salvamento - SAR e uma para tarefas de  aerofotogrametria.
O fornecimento destes aviões iria garantir a dotação do "Serviço de Busca e Salvamento" que fora criado pela portaria ministerial Nº 324 em 16 de novembro de 1950. Em 24 de janeiro de 1951, foi criado na Base Aérea do Galeão - RJ, o Centro de Treinamento de Quadrimotores (CTQ), organização esta que tinha por missão, com a ajuda de instrutores norte-americanos, ministrar treinamentos teóricos e práticos sobre a operação dos Boeing B-17G. Em junho do mesmo ano esta unidade seria transferida para a Base Aérea de Recife, passando a executar as missões de busca e salvamento, transporte e aerofotogrametria. As aeronaves da versão Boeing SB-17G estavam equipadas com um radar de buscas instalado no queixo da aeronave (menos a aeronave FAB 5409) e um barco salva vidas "Higgins" para ser lançado em missões sobre o oceano, já o Boeing RB-17G possuíam uma aérea específica para a instalação de três câmeras, onde originalmente ficava a torreta da metralhadora frontal. Infelizmente em 23 de julho de 1952 ocorreria um acidente fatal com o Boeing SB-17G que ainda portava a matrícula norte-americana "44-85579", quando este, durante uma sessão de treinamento de lançamento do bote salva vidas, veio a colidir no ar com um North American T-6D, que o acompanhava para filmar a operação. Em 1 de setembro de 1953 ocorreu a primeira travesseia oceânica realizada por um avião militar brasileiro, ocasião em que um Boeing SB-17G percorreu o trecho Recife - Dakar - Recife O Centro de Treinamento de Quadrimotores (CTQ) operou até 15 de outubro de 1953, quando foi extinto e substituído pelo 1º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação (1º/6ºGAv), que assumiu na integra todas as missões executadas por esta unidade. No final do ano seguinte foram recebidas dos estoques da Força Aérea do Americana (USAF) , mais seis células do modelo Boeing SB-17G e mais uma do modelo Boeing RB-17G, totalizando doze células recebidas. Em 1955, as doze aeronaves restantes receberam as matrículas FAB 5400 a 5411. Em 1959, foi perdida em acidente a aeronave de matricula FAB 5404, seguida da FAB 5405 em 1962 e da FAB 5409 em 1964.

A ativação do 6 º Grupo de Aviação (6ºGAv) – Esquadrão Carcara, em 20 de novembro de 1957, permitiu a criação de dois esquadrões com missões distintas, o 1º Esquadrão responsável pelas missões de buscas e salvamento, e o 2º Esquadrão encarregado das missões de aerofotogrametria. Essa disposição se manteve até meados de 1967, quando os dois esquadrões foram fundidos em apenas um. Ainda em 1957, enquanto o 6º Grupo de Aviação (6ºGAv) era comandado pelo Tenente-Coronel-Aviador Délio Jardim de Mattos, foi instituída uma linha mensal do Correio Aéreo Nacional - CAN, desde Recife para Suez, no Egito. A escolha do modelo se deu por ser o único modelo de aeronave disponível na Força Aérea Brasileira, à época, capazes de voar a grandes distâncias. A finalidade da linha era a de garantir o apoio logístico, necessário ao Batalhão do Exército Brasileiro destacado naquele local a serviço das Nações Unidas (United Nations Emergency Force) para a pretensa pacificação da região da Faixa de Gaza. A primeira missão denominada como "1º CAN SUEZ", teve início em 20 de março, deixando o Brasil, rumo ao oriente, transportando pequenos volumes de carga e malotes de correio para a tropas brasileiras estacionadas naquela região do deserto. Foi empregado nesta ocasião o Boeing B-17G de matrícula FAB 5405, que cumpriu a seguinte rota: Rio - Recife - Dacar - Lisboa - Roma e por fim  a cidade de Abusir, no Egito.  A partir a da segunda missão, as aeronaves passariam a pousar em El Arish em vez de Abusir.  Ao todo foram completadas vinte e quatro viagens em apoio as tropas brasileiras, transportando 50.856 quilos de carga e malas postais, atingindo um total de 2.071 horas de voo, sem nenhuma ocorrência de acidente ou incidente com as aeronaves. A última missão realizada pelo 6º Grupo de Aviação (6ºGAv) se daria em14 de maio de 1960, com os Boeing B-17G, sendo substituídos nesta tarefa pelos novos e mais capazes quadrimotores Douglas C-54 Skymaster do 2º Grupo de Transporte (2º GT).
Apesar de ótimos serviços prestados, os Boeing SB-17G, RB-17G e B-17G brasileiros, já contavam com mais de vinte e um anos de uso e sofriam com falta de peças de reposição, pois o modelo havia tido produção descontinuada há mais de vinte anos, gerando graves de problemas de disponibilidade para voo. Assim entre os anos de 1965 e 1968, os quadrimotores remanescentes em serviço, foram sendo paulatinamente enviados para o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP). Nesta unidade, um minucioso processo de inspeção era aplicado as células, onde o objetivo primordial era o promover a verificação dos níveis de desgaste estrutural e mecanico, com esta análise determinando ou não, a desativação ou sucateamento da célula.  Este processo culminaria na drástica redução das aeronaves disponíveis, levando assim o 2º/6º Grupo de Aviação (2º/6º GAv) a ser absorvido pelo 1º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação - Esquadrão Carcará (1º/6ºGAv). Estas células seriam operadas até o ano de 1969, quando passaram a ser substituídas nas missões de busca e salvamento (SAR), pelos novos Lockheed SC-130E Hercules, encerrando assim dezessete anos de bons serviços prestados a Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Boeing SB-17G "FAB 5402" optamos pelo kit da Revell na escala 1/48 do modelo B-17G Flying Fortress. Para se representar a versão operada pela Força Aérea Brasileira, é necessário remover todo o sistema de  armamento defensivo (metralhadoras e torretas),  incluindo a remodelagem do nariz da aeronave,  retirando o anteparo aerodinâmico da torreta inferior e procedendo a  inclusão do domo do radar de busca marítimo, (confeccionado a partir de um  conta gotas de remédio infantil). Vale salientar que nesta apresentação a aeronave esta desprovida do bote salva vidas do tipo "Higgins". Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais, presentes no set 48/11.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão para aeronaves SAR aplicado nas aeronaves da Força Aérea Americana na da década de 1950, as células brasileiras SB-17G foram recebidas neste esquema recebendo posteriormente as marcações nacionais e as matriculas da Força Aérea Brasileira. As aeronaves  Boeing RB-17 não dispunham das faixas de alta visibilidade em amarelo e durante sua carreira receberam algumas modificações em seu esquema original, incluindo o painel antiglare a frente do para-brisa em verde fosco, tendo também os cowlings dos motores pintados de vermelho.


Bibliografia :

- Boeing B-17 Flying Fortress na FAB - Revista ASAS nº 42  - Aparecido Camazano Alamino
- Aviação Militar Brasileira 1916 -/ 1984 - Francisco C. Pereira Netto
- Boeing B-17 Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Boeing_B-17_Flying_Fortress
- História da Força Aérea Brasileira , Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html