Vultee V-11 GB2 no Brasil

História e Desenvolvimento. 
Os empreendedores norte-americanos Gerard "Jerry" Freebairn Vultee (1900-1938) e Vance Breese (1904-1973) fundariam em abril de 1932 na cidade de Los Angeles, Califórnia, uma nova indústria aeronáutica, a Airplane Development Corporation. Neste contexto "Jerry", detinha larga experiencia no segmento, após participar por algum tempo como engenheiro aeronáutico estrutural na Douglas Aircraft, da equipe do renomado projetista John Knudsen "Jack" Northrop, na Douglas Aircraft Company.  Seu primeiro projeto comercialmente viável, o Vultee V-1, uma aeronave monoplano de asa baixa e produzido inteiramente de metal, com um trem de pouso com bequilha retrátil, seria concebido para o transporte executivo para até oito passageiros. Seu primeiro protótipo, alçaria voo em 19 de fevereiro de 1933 e despertaria um grande interesse por parte da direção executiva da empresa de transporte aérea American Airlines. Os resultados amostrados em seu programa de ensaios de voo se mostrariam extremamente promissor, inclusive registrando recordes de velocidade e autonomia. Logo em seguida, como esperado a American Airlines se tornaria seu primeiro usuário operacional, resultando em um contrato para a compra de quatorze aeronaves, que seriam empregadas em rotas domésticas. A empresa de transporte aéreo regional Bowen Airlines do Texas, se tornaria o segundo cliente do modelo. Apesar deste excelente início comercial, suas futuras projeções de vendas seriam, no entanto, impactadas por novas regulamentações impostas pela autoridade aeronáutica civil norte-americana que obrigaria o emprego de apenas aeronaves com dois motores em rotas regulares de transporte de passageiros. Isto limitaria as vendas deste modelo de aeronave, sendo produzidos pela Airplane Development Corporation, apenas vinte e sete aeronaves. Em 1934 uma nova legislação a "Lei do Correio Aéreo" demandaria uma série de reestruturação no meio aeronáutico norte-americano, levando em 30 de novembro do mesmo ano, ao estabelecimento da  Aviation Manufacturing Corporation (AMC), através da aquisição das participações da Cord, incluindo a Vultee's Airplane Development Corporation. Logo em seguida no dia 1 de janeiro de 1936 a Aviation Manufacturing Corporation seria liquidada, levando a formação da Vultee Aircraft Division, que passaria a ser uma subsidiária autônoma. Neste mesmo período, sete aeronaves que anteriormente pertenceram a American Airlines e outras oito células (adquiridas pelo governo espanhol para tarefas de transporte) seriam empregadas pelas forças republicanas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), com quatro aeronaves Vultee V-1 sendo capturados e operados também pelas forças nacionalistas.  

Este inusitado emprego militar, despertaria a diretoria da empresa, o vislumbre de um novo e promissor nicho de mercado, levando assim a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, iniciar o desenvolvimento de uma versão militar do modelo V-1. Apesar das restrições operacionais existentes neste período, quanto ao emprego de aeronaves monomotoras para emprego em tarefas bombardeio, foi decidido levar adiante este projeto. Esta nova aeronave estava equipada com um motor radial Wrigth Cyclone SR 1830-F53, de 750hp, que conservava as excelentes características de desempenhos vistas no modelo comercial V-1. Este modelo receberia a designação de Vultee V-11, e fazia uso do mesmo motor, trem de pouso e estrutura alar de seu antecessor, com as demais parte e componentes sendo desenvolvidas para esta nova aeronave. Sua principal missão era atuar no perfil de bombardeio de mergulho (picado), com opção para emprego também como treinador avançado. O primeiro protótipo realizou seu voo inaugural em 17 de setembro de 1937, empreendendo um voo entre as cidades de Los Angeles e Glendale. Porém o início da campanha de ensaios em voo não seria exatamente auspicioso, visto que este protótipo sofreria uma pane no motor durante a decolagem, resultando na perda total de material e pessoal. Apesar deste contratempo o segundo protótipo seria concluído em 03 de outubro do mesmo ano, e incorporava alguns aperfeiçoamentos, como hélice tripa e a capacidade de portar uma metralhadora MG-40 calibre .30, em uma gondola, alocada na fuselagem inferior da aeronave. Desta vez a campanha de ensaios ocorreria tranquilamente definindo o projeto final com mais alguns aperfeiçoamentos permitindo assim a empresa a iniciar uma agressiva campanha comercial de exportação junto a nações amigas a partir do ano seguinte.
Este investimento inicial não tardaria a render bons resultados, com o primeiro contrato de exportação sendo celebrado com o governo da China Nacionalista, envolvendo a encomenda de trinta aeronaves da versão Vultee V-11G configurado para operação com dois tripulantes e a pedido do cliente equipado com o motor Wright R-1820-G2 Cyclone com 1.000 hp de potência. Um segundo contrato com este governo seria firmado em 1939, agora para vinte e seis aeronaves da versão Vultee V-12-C equipados com o motor Wright R1-820-G105B Cyclone de 1.100 hp, destes uma célula seria entregue pronta e as demais fornecidas na forma de kits para serem montadas na unidade fabril da Central Aircraft Manufacturing Company em Loiwing, perto da fronteira entre a China e a Birmânia.  Por fim um terceiro acordo seria celebrado para a montagem local de cinquenta e duas aeronaves na versão Vultee V-12-D, novamente empregando a evolução de seu grupo propulsor, fazendo uso agora do Curtiss Wright R-2600 Cyclone 14 de 1.600 hp. Após a montagem da primeira célula a fábrica sofreu um bombardeiro por parte das forças de invasão japonesas, ficando evidente o risco de novos ataques, assim desta maneira decidiu-se por transferir a linha de produção para a fábrica da Hindustan Aircraft Limited em Bangalore na Índia para que fossem concluídas as montagens das demais aeronaves, porém após a montagem de algumas unidades a produção foi interrompida de forma definitiva. Os Vultee V-11 e V-12 foram usados como bombardeiros leves e alcançaram algum sucesso, incluindo a missão de bombardear o aeródromo japonês com quatro aeronaves no Yuncheng em 5 de fevereiro de 1939, pelo 10º Esquadrão da Força Aérea da República da China (ROCAF), antes que as aeronaves fossem retiradas das missões de bombardeio, para treinamento e funções de ligação a partir de 1940.

O próximo cliente internacional seria a Turquia, que assinaria em 1936 com a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, um contrato para a aquisição de quarenta e uma aeronaves na versão básica Vultee V-11GB. Neste mesmo ano, a União Soviética celebraria um contrato, envolvendo a compra de quatro aeronaves na versão de bombardeiro de mergulho, para três tripulantes e a produção sob licença de mais trinta e duas aeronaves da versão Vultee V-11GB que passariam a ser designados localmente BSh-1 (Bronirovanny Shturmovik). Estas aeronaves seriam configuradas para missões de ataque a solo passando a contar com um leve conjunto de blindagem extra, em pontos críticos da aeronave, visando assim melhorar sua capacidade de sobrevivência.  Com o início das operações junto a Força Aérea Soviética, verificou-se que este conjunto de blindagem, reduzia sensivelmente o desempenho da aeronave, não sendo assim recomendada a sua operação em missões de ataque. Este fator levaria a decisão de transferir todas estas aeronaves para a empresa estatal de transporte aéreo Aeroflot, onde o modelo passou a ser redesignado como PS-43, com emprego para transporte de passageiros em alta velocidade, executando com primazia esta tarefa até o advento da invasão alemã em 1941. Depois o início do conflito com a Alemanha, as aeronaves remanescentes seriam novamente incorporadas à Força Aérea Soviética para emprego em missões de ligação entre as bases aéreas.  O próximo pais a adquirir a aeronave em sua versão militar seria o Brasil, que em fevereiro de 1939 assinaria um contrato para entrega de vinte e seis aeronaves, para uso em sua Aviação Militar.
O Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) assinaria em 1938 um contrato para a aquisição de sete células da versão militar designada localmente como Vultee YA-19. Estas aeronaves estavam armadas com seis metralhadoras bronwing calibre .30, operando com capacidade para até 490 kg de bombas de queda livre, transportadas em um bomb bay interno. Estas aeronaves de pré-produção seriam então submetidas a um extenso programa de avaliação e ensaios em voo, no entanto os resultados deste processo determinaram que os parâmetros operacionais deste modelo e aeronave, não atendiam as necessidades mínimas exigidas pelos Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC).  Neste mesmo período, o mais provável cliente potencial da aeronave, a Marinha Americana (US Navy), estava em pleno processo de introdução de suas novas aeronaves de bombardeio de mergulho Douglas TBD Devastador, cerceando assim todas as expectativas de sucesso deste modelo, levando assim ao cancelamento dos esforços de desenvolvimento das aeronaves em sua versão militar.  Ao todo seriam produzidos até fins de 1940 um total de duzentos e vinte e cinco células, sendo dispostas em doze versões distintas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No final da década de 1930, a Aviação Militar do Exército Brasileiro iniciava um programa de modernização de suas aeronaves de caça, ataque, bombardeio e treinamento. No que tange as missões de bombardeio, buscava-se especificadamente a aquisição de uma aeronave de bombardeio de precisão (picado), no intuito de substituir os já antigos e obsoletos biplanos Vought V-65B Corsair e Boeing 256 e 267, que representavam o esteio da aviação de ataque brasileira, e que no momento se encontravam muito defasados tecnologicamente devido aos grandes avanços ocorridos durante esta década. Uma concorrência internacional seria aberta pelo Governo Brasileiro, com o comando do Exército Brasileiro, passando a receber propostas comerciais de diversos fabricantes europeus e americanos. Estas propostas seriam então analisadas pela Diretoria de Material da Aviação Militar do Exército (DAvM), com a decisão de escolha recaindo sobre a proposta comercial apresentada pela empresa norte-americana, Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division. Esta escolha seria profundamente influenciada pelas percepções obtidas quando da apresentação do modelo Vultee V-11, realizada no Brasil em abril de 1937 durante um tour de promoção desta aeronave militar. Assim em 9 de dezembro do mesmo ano seria assinado com o fabricante norte-americano, um contrato no valor de US$ 1,4 milhões de dólares para a aquisição de vinte células da versão V-11GB2, incluindo neste acordo, um amplo suprimento de peças de reposição, ferramental, documentação e treinamento de pilotos e equipes de manutenção. De acordo com o contrato original, estas aeronaves seriam entregues com o novo motor radial Wrigth Cyclone R-1820-G2 com 850 HP de potência, sendo superior a versão anterior. As aeronaves brasileiras seriam equipadas com duas metralhadoras Colt MG-53 de calibre .50 e duas metralhadoras Colt MG-40 de calibre .30 instaladas nas asas, ao contrário das quatro metralhadoras Browning .30 que equipavam as demais versões militares da aeronave.

Ademais também, as aeronaves adquiridas, receberiam um armamento de autodefesa suplementar, sendo composto por duas metralhadoras móveis Colt MG-40, dispostas na posição dorsal e ventral. Dispunham ainda de seis pontos duros, subalares que poderiam portar até 1.681 kg de carga útil, sendo fornecidos neste mesmo contrato bombas de demolição de 45 a 500 kg, e bombas químicas de 45 kg, produzidas pela empresa norte americana Lake Erie Chimical Co. Para as missões de bombardeio vertical, a aeronave estava equipada com um sistema de visor de mira Stoppey D-48 que podia ser complementado com uma câmera vertical Fairchild K3B, para emprego em missões de reconhecimento ou documentação fotográfica dos ataques. As primeiras aeronaves foram transportadas ao Brasil por via naval, sendo recebidas e posteriormente montadas nos hangares da Panair do Brasil, localizados no Aeroporto Santos Dumont (Rio de Janeiro). As demais células seriam montadas nas instalações do Parque Central da Aeronáutica da Aviação Militar, com este processo sendo finalizado no dia 5 de junho de 1938. Os Vultee V-11-GB2 brasileiros, receberam as matrículas seriais de "105 a 129", sendo esta sistemática mantida durante toda a sua operação no Exército Brasileiro. Assim que foram incorporadas, as aeronaves foram destinadas ao 1º Regimento de Aviação (1º RAv), sendo lotadas no Grupo de Bombardeio (esta unidade ostentava como emblema, um "jacaré" estilizado montado em uma bomba). Os primeiros voos operacionais das novas aeronaves, passariam a ocorrer a partir da primeira semana de novembro de 1938. Em setembro de 1939, três aeronaves foram transferidas ao 3º Regimento de Aviação (3ºRAv), sediado em Porto Alegre (RS). A Escola de Aviação Militar (EAvM) sediada no Campo dos Afonsos, receberia em 13 de abril de 1939 três aeronaves deste modelo, com a finalidade de adestrar os instrutores e cadetes do último ano.
As alterações solicitadas ao fabricante pela Diretoria de Aviação Militar do Exército, fizeram com que os Vultee V-11GB2 brasileiros, apresentassem um desempenho ligeiramente inferior aos V-11GB originais, principalmente em termos de velocidade máxima, razão de subida e teto operacional, porém como contrapartida, passava a apresentar um alcance significativamente maior. Esta autonomia pode ser praticamente aferida em um dos feitos mais marcantes na Aviação Militar Brasileira, com esta aeronave norte-americana sendo, responsável pelo estabelecimento do recorde de permanência no ar e distância por aeronaves brasileiras, ao completar no dia 8 de julho de 1939, um voo sem escalas com duração de 11:45 horas no trecho compreendido entre as cidades de Fortaleza no estado do Ceará no Nordeste e Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul,  na região sul do país. Este perfil operacional encorajaria a Diretoria de Aviação Militar (DAvM) a aumentar a quantidade de aeronaves em sua frota operacional, agregando mais cinco células da aeronave ao contrato original firmado anteriormente, com estas nova células, configuradas com duplo comandos para as tarefas de instrução. Além disso a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division chegaria a desenvolver uma versão com flutuadores, denominada Vultee V-11GB2F, a qual se destinava a uma possível compra por parte da Aviação Naval da Marinha do Brasil, com a construção de um protótipo que seria apresentado em 1939 no Rio de Janeiro, e diante da negativa desta arma, seria posteriormente incorporado a Aviação Militar do Exército.

A nova década trouxe poucas alterações quanto as atividades dos Vultee V-11GB2 em operação no 1º Regimento de Aviação (RAv), mantendo assim o programa anual de instrução desta unidade, sendo executado dentro das limitações da época, e periodicamente pontuada por exercícios de pequena envergadura. Curiosamente, apesar de existir uma aeronave com duplo comando, esta célula seria reconfigurada para o padrão das demais aeronaves. Como consequência e a partir de 1940, a instrução dos novos pilotos era realizada de forma peculiar, e como parte do ciclo de instrução, o piloto era obrigado a alojar-se de bruços diretamente atrás e acima em um espaço que existia na aeronave, espiando por cima do ombro do piloto, em uma posição totalmente desconfortável. Com a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em 27 de janeiro de 1941, as vinte e três células remanescentes seriam incorporadas ao acervo da recém-criada Força Aérea Brasileira, mantendo temporariamente suas marcações originais da Aviação Militar, passando a ostentar novas matriculas com seriais de quatro dígitos. As necessidades de incremento de missões de patrulhamento no litoral nordestino, obrigariam o deslocamento de seis V-11-GB2 do 1º Regimento de Aviação (RAv) para Recife, onde foram empregados nesta tarefa no período compreendido entre outubro de 1941 a maio de 1942, quando foram substituídos por aeronaves especializadas para este tipo de missão. Apesar do grande número de horas voadas em missões de patrulhamento do litoral brasileiro neste período, não existem registros oficiais que indiquem o ataque de algum aparelho deste modelo a submarinos alemães. Em 17 de abril de 1945, foram transferidos três aviões do 1º Regimento de Aviação (RAv)  para o 3º Regimento de Aviação (RAv), com o objetivo de reforçar as atividades de patrulhamento no litoral sul do Brasil.
Ao término do conflito as dezesseis aeronaves restantes, seriam transferidas ao 1º Grupo de Bombardeio Picado (1ºGBPi) sediado na Base Aérea de Santa Cruz, nesta fase a disponibilidade das células estava muito reduzida, pois a maioria das aeronaves necessitava ser submetida a uma ampla revisão geral no Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), para onde seriam transladadas em voo no dia 7 de outubro de 1947. Neste momento as primeiras avaliações estruturais levariam a decisão de se condenar e descarregar a maior parte destas células, por não ser economicamente recomendável sua recuperação. Somente dois aviões, que estavam em melhores condições (FAB 5005 e FAB 5009), seriam revisados e entregue em plenas condições operacionais, sendo então destinados para operação junto ao destacamento da Base Aérea de Curitiba em 24 de março de 1949, onde seriam utilizados em tarefas de transporte, ligação  e adestramento. Sua carreira nesta unidade, no entanto seria efêmera, sendo desativadas e descarregadas da frota da Força Aérea Brasileira em 8 de março de 1950.

Em Escala.
Para representarmos o Vultee V-11GB2 "113" da Aviação Militar do Exército Brasileiro, fizemos uso da única opção disponível no mercado, fabricado em resina na escala 1/72 pela empresa brasileira Commando5 (infelizmente o fabricante encerrou suas atividades). Modelo este que merece elogios em sua concepção e facilidade de montagem, como alteração incluímos uma bomba em seu cabide ventral. Fizemos uso de decais oriundos do próprio modelo que foram confeccionados pela FCM decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves Vultee V-11GB2 durante seu emprego pela Aviação Militar do Exército Brasileiro até janeiro de 1941, posteriormente já em serviço na Força Aérea Brasileira chegaram a receber novos padrões de pintura e marcações.

Bibliografia :

- Revista ASAS nº 51 " O Vultee V-11GB2 no Brasil - Aparecido Camazano Alamino
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 - Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Vultee V-11 – Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Vultee_V-11

AT-26 Embraer Xavante


História e Desenvolvimento. 
No início da década de 1950, a introdução de caças supersônicos de alta performance revelou a necessidade de aprimorar os processos de treinamento e conversão de pilotos. A significativa disparidade entre as aeronaves de treinamento avançado disponíveis e os caças de primeira linha demandava a adoção de soluções que facilitassem a transição para os novos vetores a jato. Após análises detalhadas de efetividade operacional e custo-benefício, optou-se pela introdução de aeronaves de transição operacional equipadas com motores a reação, projetadas para preparar pilotos para o desempenho exigido pelos jatos supersônicos. Nesse contexto, diversas nações desenvolveram aeronaves a jato específicas para treinamento avançado e transição operacional. Entre os modelos notáveis, destacam-se o francês Fouga Magister CM-170, o norte-americano Cessna T-37 Tweet, o britânico BAC Jet Provost e o tchecoslovaco Aero L-29 Delfin. Paralelamente, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) abriu uma concorrência internacional de grande relevância para selecionar um treinador avançado que equiparia as forças aéreas de seus países membros na Europa, visando uniformizar capacidades e otimizar recursos. Atenta a essa oportunidade de mercado, a empresa italiana Aermacchi-Aeronautica Macchi iniciou o desenvolvimento de uma aeronave voltada para atender a essa demanda, designada M.B. 326. Apesar de seus méritos, a proposta italiana não foi selecionada na concorrência da OTAN. Contudo, no mesmo período, a Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) também buscava uma aeronave com perfil operacional semelhante, planejando a aquisição de um número expressivo de unidades para modernizar seu sistema de treinamento. O Ministério do Ar Italiano estabeleceu requisitos rigorosos para o novo treinador avançado, que deveria atender aos seguintes critérios: - Suportar uma carga máxima de 7G durante manobras de treinamento; - Decolar com uma carga útil máxima de até 1.600 kg em uma pista de apenas 800 metros, superando obstáculos de até 16 metros; - Pousar em uma distância mínima de 450 metros; - Alcançar uma velocidade máxima de 700 km/h; - Apresentar uma taxa de subida de 15 metros por segundo. Além disso, a aeronave deveria oferecer custos reduzidos, tanto em termos de aquisição quanto de operação, garantindo alta disponibilidade e eficiência com o melhor custo-benefício possível. Estes requisitos estabelecidos pela Força Aérea Italiana refletem o compromisso com a eficiência operacional e a preparação de pilotos para os desafios das novas tecnologias aeronáuticas.

​Atendendo às especificações estabelecidas pelo Ministério da Aeronáutica Italiano (AMI), a equipe de engenharia da Aermacchi, sob a liderança do renomado engenheiro Ermanno Bazzocchi, desenvolveu uma aeronave de treinamento a jato que se destacava pela simplicidade, robustez e eficiência operacional. O projeto resultou em uma aeronave monomotora de asas baixas, equipada com tanques de combustível na fuselagem e tanques suplementares nas pontas das asas. O cockpit (cabine) em tandem, com assentos ejetáveis, era coberto por um único canopy em forma de bolha, proporcionando excelente visibilidade para ambos os tripulantes.​ A propulsão era fornecida pelo motor turbojato britânico Armstrong Siddeley Viper Mk 8, que desenvolvia 1.750 libras de empuxo. Originalmente concebido para uso em drones-alvo descartáveis, o turbojato Viper Mk 8, demonstrou ser mais confiável e eficiente do que o previsto, sendo adaptado para uso em aeronaves tripuladas. A estrutura da aeronave, inteiramente metálica, era leve e de fácil manutenção, características que contribuíram para sua adoção em diversas forças aéreas ao redor do mundo.​ Em 1954, o engenheiro Ermanno Bazzocchi apresentou os primeiros conceitos da aeronave ao Ministério da Aeronáutica Italiano, que rapidamente demonstrou interesse no projeto. Isso levou à assinatura de um contrato para a construção de três protótipos destinados a ensaios em voo. O primeiro protótipo, matriculado como MM.57-1, realizou seu voo inaugural em 10 de dezembro de 1957, sob o comando do piloto de testes Guido Carestiato. Durante os testes, a aeronave superou as expectativas, destacando-se por sua capacidade de suportar cargas de até +7,6 G e -3,3 G, proporcionando um ambiente de treinamento eficaz para os futuros pilotos da Aeronautica Militare Italiana (AMI).​ O sucesso do Aermacchi MB-326 consolidou a reputação de Ermanno Bazzocchi como um dos principais engenheiros aeronáuticos da Itália. Ao longo de sua carreira, ele contribuiu significativamente para o desenvolvimento de diversas aeronaves, incluindo o MB-308, MB-323, MB-339 e outros modelos que desempenharam papéis importantes na aviação italiana.​ A combinação de design eficiente, desempenho confiável e facilidade de manutenção fez do Aermacchi MB-326 uma das aeronaves de treinamento a jato mais bem-sucedidas de sua época, sendo adotada por várias forças aéreas ao redor do mundo.
Apesar das elevadas expectativas iniciais, as análises finais do programa de ensaios em voo revelaram a existência de falhas a serem corrigidas e a necessidade de diversas melhorias. Dentre as modificações realizadas, destaca-se a substituição do motor turbojato original pelo novo modelo Rolls-Royce Viper 9 MK-22 540, com empuxo de 2.500 libras, cujo objetivo era sanar as deficiências de desempenho observadas na aeronave. Outras alterações significativas incluíram a eliminação do ângulo diedro negativo nas superfícies horizontais da cauda e a substituição do sistema de freios aerodinâmicos duplos, anteriormente instalados nas asas, por um único freio localizado na parte ventral da fuselagem. O segundo protótipo, já incorporando essas melhorias, realizou seu voo inaugural em 22 de setembro de 1958. Contudo, enfrentava a concorrência direta do Fiat G.80, um modelo com desempenho superior ao da aeronave desenvolvida pela Aermacchi (Aeronautica Macchi). O Fiat G.80 detinha ainda a distinção de ser o primeiro jato genuinamente italiano, tendo realizado seu primeiro voo cinco anos antes do Aermachi MB-326. Entretanto, o Fiat G.80 apresentava diversas desvantagens relevantes, como maior peso, dimensões significativamente superiores e um custo mais elevado em comparação ao MB-326. Esses fatores foram determinantes para a escolha do modelo da Aeronautica Macchi. Como resultado, em 15 de dezembro de 1958, o governo italiano firmou um contrato para a produção de um lote inicial de quinze aeronaves pré-série, que seriam montadas nas novas instalações da empresa na cidade de Masnago, em Varese, no norte da Itália. A entrega dessas aeronaves ocorreu logo em seguida, permitindo a homologação oficial do modelo para operação. Neste momento seria realizadas as negociações comerciais entre o governo e o fabricante, e  posteriormente, em setembro de 1959, foi celebrado o primeiro contrato de produção em série, envolvendo um pedido inicial de cinquenta aeronaves a fim de todas as unidades de formação e treinamento. No ano seguinte, foi aprovado um aditivo para a fabricação de mais cem células, tendo em vista as excelentes expectativas operacionais apresentadas. A primeira aeronave de série destinada à Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) realizou seu voo inaugural em 5 de outubro de 1960.

As primeiras células do Aermacchi MB-326 foram entregues no final do ano de 1961 à Escola de Voo Básico Inicial em Jatos – SVBIA "Lecce-Galatina", passando a equipar o 214º Gruppo, unidade encarregada da formulação da doutrina operacional do novo modelo. Inicialmente, todo o efetivo do grupo foi temporariamente alocado na Base Aérea de Brindisi, localizada na região da Apúlia. Em 22 de março de 1962, o Aermacchi MB-326 foi oficialmente incorporado ao serviço ativo, sendo empregado em tarefas de instrução junto ao 43º Gruppo de Instrução, onde passou a substituir os já obsoletos treinadores North American T-6 Texan. Pouco tempo depois, novas unidades foram adicionadas à frota, possibilitando a ampliação do escopo de instrução para missões de treinamento intermediário e avançado. Como treinador, o MB-326 era consideravelmente mais caro, mas foi recebido com entusiasmo entre os alunos; além disso, quando usado em combinação com o treinador avançado Fiat G.91T, permitiu a promulgação de um curso de treinamento "totalmente a jato" para pilotos italianos, além disso, eram aeronaves projetadas e produzidas nacionalmente De acordo com a publicação aeroespacial Flight International, durante o início dos anos 1960, o programa de treinamento de voo da Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) foi fortemente influenciado pela iminente entrada em serviço do Lockheed F-104G Starfighter.  Destaca-se que, ao menos cinco aeronaves pertencentes ao último lote de produção foram entregues configuradas para instrução de ataque equipados com o   motor  Viper 11 Mk 200 e não o Viper 20 Mk 540 original. Essas aeronaves estavam equipadas com quatro pontos duros sob as asas, permitindo o emprego de armamentos como casulos de metralhadoras, bombas de queda livre e foguetes não guiados. Essa configuração ampliava a versatilidade do MB-326, possibilitando seu uso também como aeronave de ataque ao solo. As excelentes características de desempenho, manobrabilidade e confiabilidade operacional do MB-326 despertaram amplo interesse internacional, levando à sua adoção por diversas forças aéreas ao redor do mundo, em distintas versões. O primeiro contrato de exportação foi firmado com o governo da Tunísia, envolvendo a aquisição de oito aeronaves configuradas para ataque a solo. Em seguida, novas exportações foram realizadas: nove unidades MB-326F para a Força Aérea de Gana e oito aeronaves da versão MB-326GG para a Aviação Naval da Marinha Argentina (ARMADA). 
As condições favoráveis à produção sob licença abriram caminho para a fabricação em larga escala do Aermacchi MB-326 por diversos países. O primeiro acordo nesse sentido foi firmado em 1966 com o governo da África do Sul, prevendo a produção local de 150 unidades da versão MB-326M (designada Impala Mk I) e 100 unidades da versão MB-326K (Impala Mk II), sob responsabilidade da empresa Atlas Aircraft Corporation. No ano seguinte, a australiana Commonwealth Aircraft Corporation celebrou contrato para a produção de 97 aeronaves da versão MB-326H (CA-30). Em 1969, um novo e significativo acordo foi estabelecido com o Governo Brasileiro, autorizando a fabricação local do modelo MB-326G pela empresa estatal Embraer S/A, com o objetivo de atender às demandas operacionais da Força Aérea Brasileira (FAB). Na Itália, o Aermacchi MB-326 permaneceu em serviço ativo junto à Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) até o final de 1981, quando começou a ser gradualmente substituído pelos novos jatos de treinamento avançado Aermacchi MB-339. A produção total do MB-326 alcançou 761 unidades até o ano de 1981, consolidando-se como um dos treinadores a jato mais bem-sucedidos de sua época. Graças à sua robustez, confiabilidade e baixo custo operacional, o MB-326 manteve-se em operação em diversas forças aéreas ao redor do mundo, desempenhando missões de treinamento, conversão operacional e ataque leve até o início do século XXI. Entre os países operadores destacam-se: Austrália, África do Sul, Argentina, Congo, Camarões, Emirados Árabes Unidos, Dubai, Togo, Tunísia, Zaire, Zâmbia, Brasil e Paraguai. O modelo também teve participação destacada em operações reais de combate. As aeronaves Atlas Impala Mk II foram empregadas em missões de ataque a alvos terrestres durante os conflitos regionais em Angola e Namíbia com relativo êxito. Em 1982, o  Aermacchi MB-326 voltou a ver ação durante a Guerra das Falklands/Malvinas, quando unidades da versão MB-326GG da Aviação Naval da Marinha Argentina (ARMADA) foram utilizadas em ataques contra forças e embarcações da Marinha Real Britânica (Royal Navy). Curiosamente, o modelo também foi adotado pela companhia aérea italiana Alitalia, que adquiriu quatro unidades especialmente configuradas com painéis de instrumentos similares aos de aeronaves comerciais. O objetivo era proporcionar treinamento econômico para seus futuros pilotos de linha aérea. Essas aeronaves entraram em serviço em 27 de maio de 1963.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Na segunda metade da década de 1960, a Força Aérea Brasileira (FAB) atravessava uma grave crise operacional, decorrente, sobretudo, da desativação precoce de sua frota de caças de primeira geração, os Gloster Meteor F-8 e TF-7, entre os anos de 1966 e 1968. Tal desmobilização gerou uma lacuna preocupante na capacidade de defesa aérea do país, restando somente poucos Lockheed F-80C Shooting Star que equipavam o  1º/4º Grupo de Aviação (1º/4º GAv) – Esquadrão “Pacau” que se encontrava baseado no nordeste do pais. Diante das persistentes limitações orçamentárias, a aquisição de caças supersônicos modernos revelou-se inviável, e no  intuito de suprir essa deficiência, o Ministério da Aeronáutica (MAer), valendo-se dos dispositivos do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), solicitou ao governo dos Estados Unidos a cessão de mais células de Lockheed AT-33A e TF-33A Thunderbird, aeronaves de treinamento adaptadas para missões de ataque. Além de serem modelos usados (oriundas dos estoques da Força Aérea dos Estados Unidos - USAF), já apresentavam sinais claros de obsolescência e aproximavam-se do final de sua vida útil, tornando evidente a necessidade de uma substituição em curto prazo. Paralelamente a esse cenário, o país encontrava-se no processo de aquisição de sua primeira aeronave supersônica, que culminaria na escolha do Dassault Mirage IIIEBR (designado F-103E na Força Aérea Brasileira), cuja introdução exigiria a implementação de novos padrões de treinamento. Diante disso, tornou-se imprescindível selecionar uma aeronave intermediária que viabilizasse a transição operacional dos pilotos brasileiros para os modernos interceptadores franceses, em especial no que tange ao domínio de aeronaves de alta performance. Além da demanda por uma aeronave de transição, as condições de segurança nacional vigentes naquele período também impunham a necessidade de substituição dos monomotores North American AT-6 Texan. Esses modelos equipavam as Esquadrilhas de Reconhecimento e Ataque (ERA) e os Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), envolvidos em operações de combate a movimentos de guerrilha interna de orientação comunista. A soma desses fatores levou à especificação de uma aeronave versátil, capaz de cumprir missões de ataque leve e reconhecimento, com baixa complexidade operacional e que exigisse mínima adaptação por parte de pilotos recém-formados nos jatos de treinamento Cessna T-37C da Academia da Força Aérea (AFA). Em resposta a essas necessidades, foi lançada, em 1968, uma concorrência internacional visando à aquisição de uma aeronave com tais características. De forma inédita, o edital previa como critério diferenciador a apresentação, por parte dos fabricantes, de propostas que incluíssem condições econômicas e contratuais favoráveis podendo até serem eventualmente produzidas sob licença no Brasil. Tal possibilidade visava fomentar a autonomia tecnológica nacional, transferir tecnologia de engenharia de processos em produção seriada  e consolidar a capacidade industrial aeronáutica brasileira, representada pela recém criada empresa estatal Embraer S/A.

A concorrência internacional aberta pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), em 1968, atraiu ampla atenção da indústria aeronáutica global, dada sua magnitude e potencial estratégico. O processo previa a aquisição de 10 a 20 interceptadores supersônicos e até 100 aeronaves de treinamento avançado, o que motivou diversos fabricantes a apresentarem propostas, compondo um amplo leque de opções a serem avaliadas pelas autoridades brasileiras. Uma comissão técnica foi formada para a análise dos modelos oferecidos, sendo composta por oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB), entre os quais se destacava o Coronel Ozires Silva. Firme defensor da industrialização nacional, o coronel via na possível produção sob licença uma oportunidade crucial para consolidar a estrutura de montagem seriada na recém-criada Embraer S/A, especialmente em função da iminência da produção do transporte leve C-95 Bandeirante. Dentre os modelos avaliados no processo, figuravam os seguintes pares de aeronaves: o Saab 35 Draken e o treinador Saab SK 60, o Dassault Mirage IIIE e o Fouga CM.170 Super Magister, o English Electric Lightning F.6 e o BAC Jet Provost, bem como o Aeritalia F-104S Starfighter em conjunto com o Aermacchi MB-326. Desde as fases iniciais da análise, tornou-se evidente que a aquisição de dois modelos distintos de um mesmo país fornecedor não atenderia, de forma eficaz, às necessidades operacionais integradas da Força Aérea Brasileira (FAB). Assim, a escolha do interceptador recaiu sobre o Mirage IIIE, de origem francesa, em razão de sua superioridade técnica e alinhamento com os objetivos estratégicos da defesa aérea brasileira. No que se refere à seleção do treinador avançado, a proposta apresentada pela Aermacchi mostrou-se particularmente atraente. O plano italiano previa uma abordagem em duas etapas para a produção sob licença: na primeira fase, seriam fornecidos kits para montagem local das aeronaves; na segunda, ocorreria a nacionalização progressiva da fabricação das células e de seus componentes. Este modelo de transferência tecnológica era considerado ideal para a consolidação da capacidade industrial da Embraer. Outro fator decisivo foi a experiência bem-sucedida da Força Aérea Sul-Africana (SAAF), que em 1967 optou pela adoção do Aermacchi MB-326GB, com produção sob licença conduzida pela Atlas Aircraft Corporation. Relatos positivos sobre o desempenho operacional do MB-326 por parte de diversas forças aéreas reforçaram ainda mais a confiança na escolha da aeronave italiana. Além disso, o acordo com a Aermacchi-Aeronautica Macchi previa o envio de um contingente significativo de técnicos italianos ao Brasil, com o objetivo de colaborar diretamente com a Embraer na estruturação do processo de produção seriada do treinador. Esta colaboração técnica contribuiria não apenas para o sucesso do programa do MB-326 no Brasil, mas também fortaleceria a linha de montagem do C-95 Bandeirante. Como parte da estratégia de divulgação e validação da escolha, em 1969 foi assinada uma carta de intenções entre o Governo Brasileiro e a Aermacchi-Aeronautica Macchi. Em seguida, empreendeu-se uma ação de marketing institucional, que consistiu no envio ao Brasil de uma célula do MB-326 pertencente à Força Aérea Italiana, especialmente pintada com as marcações da Força Aérea Brasileira (FAB). A aeronave foi utilizada em demonstrações e avaliações operacionais em diversas bases aéreas do país, reforçando a confiança na escolha do modelo como novo treinador avançado da aviação militar brasileira.
A aeronave em questão atendia satisfatoriamente aos requisitos operacionais estipulados pela Força Aérea Brasileira (FAB), sendo considerada ideal para as necessidades da época em razão de suas características aerodinâmicas e versatilidade de emprego. O modelo permitia o transporte de dois tripulantes em configuração tandem (com os assentos dispostos em linha, um atrás do outro), e era capaz de operar com cargas externas em até seis pontos de fixação sob as asas, totalizando uma capacidade máxima de 2.500 kg de armamentos. Adicionalmente, havia a possibilidade de instalação de um casulo para reconhecimento fotográfico sob a asa direita. O desempenho da aeronave incluía uma velocidade máxima de Mach 0.82 e capacidade de suportar cargas estruturais de +7,5G e -3G, atributos que, aliados à sua longa vida útil, consolidavam sua adequação ao cenário operacional brasileiro. A moderna concepção de seus sistemas, com ênfase na modularidade e concentração dos componentes, também conferia facilidade de manutenção, fator estratégico para as operações militares e logísticas da FAB. Nesse contexto, foi celebrado em 1970, na cidade de Varese, Itália, um contrato entre o Governo Brasileiro e a Aermacchi-Aeronautica Macchi, prevendo a fabricação sob licença, pela Embraer S/A, de 112 unidades da versão MB-326GB, que receberia a designação local de EMB-326GB Xavante, em homenagem às tribos indígenas guerreiras do Brasil. Neste processo a Embraer S/A enviou engenheiros para fazer cursos na cidade de Varese, onde ficava a Macchi, enquanto técnicos italianos vieram para o Brasil. Essa variante foi adaptada para atender às especificações da Força Aérea Brasileira (FAB), estando equipada com sistemas completos de comunicação e navegação, incluindo VOR/ILS da Collins e ADF da Bendix. O contrato também contemplava a capacidade de emprego de uma ampla gama de armamentos de origem nacional, como bombas de uso geral de 113 kg e 227 kg, casulos de metralhadoras calibre 7,62 mm, casulos lançadores de foguetes não guiados SBAT de 37 mm e 70 mm, além de casulos de reconhecimento fotográfico. Em 3 de setembro de 1971, o AT-26 Xavante fez o primeiro voo teste, comandado pelo Major Aviador Carlos Rubens Resende e pelo piloto de provas Brasílico Freire Neto. O voo durou cerca de 90 minutos e percorreu a região de São José dos Campos, com grande entusiasmo da mídia brasileira, que cobria o “primeiro jato totalmente fabricado no pais" No dia 7 daquele mês, fez o primeiro voo oficial, durante as comemorações da Independência do Brasil.  No dia seguinte, foram entregues ao Ministério da Aeronáutica (MAer) os três primeiros aviões, e até  dezembro de 1976, a Força Aérea Brasileira (FAB) já havia adquirido 119 Xavantes. O contrato inicial foi cumprido integralmente até o início de 1977, incluindo ainda a exportação de seis unidades para o Togo. Posteriormente, novos contratos foram firmados com a Força Aérea Brasileira (FAB), elevando o número total de células entregues a 168 até o ano de 1983.  

A primeira unidade operacional da Força Aérea Brasileira (FAB) a empregar o AT-26 Xavante foi o 1º Grupo de Aviação de Caça (GAvC), que começou a receber suas aeronaves em 1972. Isso possibilitou a substituição gradual dos desgastados Lockheed AT-33A e TF-33, que foram desativados até o final de 1975, quando o esquadrão passou a operar os novos caças bombardeiros supersônicos Northrop F-5E Tiger II. A segunda unidade a adotar o AT-26 Xavante foi o 1º/4º Grupo de Aviação – Esquadrão Pacau, que, a partir de 1973, passou a utilizá-lo em substituição aos Lockheed AT-33A e TF-33, desempenhando funções de instrução e formação de pilotos de caça. Em seguida, o Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipagens (CATRE) incorporou o modelo, voltando-se para a formação específica de pilotos de ataque. O AT-26 Xavante consolidou-se como plataforma essencial na doutrina de formação de pilotos de combate, sendo igualmente empregado em ações de patrulha armada, dissuasão aérea e missões voltadas à segurança nacional. Ainda na primeira metade da década de 1970, o modelo foi distribuído aos 3º, 4º e 5º Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), para atuar em operações de contra-insurgência. Posteriormente, o 1º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Poker passou a operar o Xavante em substituição aos bombardeiros Douglas A-26 Invader. Nessa unidade, além das funções de caça, o modelo foi adaptado para executar missões de reconhecimento fotográfico, sendo equipado com um casulo contendo quatro câmeras Vinten, marcando a introdução da capacidade de reconhecimento aéreo a jato na Força Aérea Brasileira (FAB). Destaca-se ainda que, nesta mesma unidade, a aeronave de matrícula FAB 4600 foi equipada com um sistema de reabastecimento em voo (probe), desenvolvido pelo Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA). A modificação, que visava aumentar a autonomia operacional do modelo em missões de ataque, teve êxito técnico, porém não foi estendida a outras aeronaves devido a restrições orçamentárias. A célula modificada foi empregada no treinamento de pilotos de reabastecimento em voo para os caças Northrop F-5E Tiger II.  Além das unidades mencionadas, o AT-26 Xavante foi ainda utilizado pelo 3º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Centauro, pelo 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão Joker, pelo Grupo de Ensaios em Voo (GEV), e de forma provisória pelo 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), durante a transição de desativação dos interceptadores Dassault Mirage IIIEBR (F-103E). A partir de 1988, com o início da entrega das novas aeronaves Embraer A-1A AMX, os Xavante remanescentes foram concentrados no 1º/4º Grupo de Aviação – Esquadrão Pacau e no 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão Joker.
O  AT-26 Xavante também foi empregado, ainda que temporariamente, como aeronave de demonstração. Em 1981, durante o período de inatividade da Esquadrilha da Fumaça, o Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipagens (CATRE), por iniciativa de seu comandante, autorizou, no final daquele ano, a formação e treinamento de uma nova esquadrilha de demonstração aérea. Essa unidade, batizada de Esquadrilha "Alouette", foi composta por sete aeronaves AT-26 Xavante oriundas do 2º/5º Grupo de Aviação (Esquadrão Joker). Os aviões receberam modificações específicas, como a instalação de sistemas de liberação de fumaça e pintura personalizada, com o objetivo de distingui-los das demais aeronaves operacionais da unidade. A esquadrilha realizou diversas apresentações públicas em cidades como Natal, Fortaleza e São José dos Campos, sendo amplamente elogiada pela ousadia das manobras e pela habilidade de seus pilotos. Com a reativação do Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA), popularmente conhecido como Esquadrilha da Fumaça, em outubro de 1983, a Esquadrilha Alouette perdeu sua principal finalidade, sendo gradativamente desativada. Esse episódio marcou um capítulo singular e interessante no emprego do AT-26 Xavante, demonstrando também sua versatilidade como aeronave de demonstração. Apesar de sua destacada atuação operacional, por volta da década de 1990, o modelo encontrava-se tecnicamente defasado e apresentava crescente dificuldade de disponibilidade, em decorrência da crônica escassez de peças de reposição. Mesmo com o suporte do fabricante, diversos componentes do sistema haviam tido sua produção descontinuada há anos. Para manter a frota em condições operacionais, as equipes técnicas do Parque de Material Aeronáutico de Recife (PAMARF) foram frequentemente forçadas a recorrer ao canibalismo de células — ou seja, à retirada de peças de aeronaves inativas para manter outras em voo. Em 2002, visando mitigar esses desafios logísticos, foi adquirido, junto à Força Aérea Sul-Africana (SAAF), um lote de células da versão Atlas Impala MB-326K, bem como quarenta e oito motores Rolls-Royce Viper 20 Mk540, que serviram como fonte de componentes sobressalentes, representando um importante reforço para a manutenção da frota. O processo de substituição gradual do AT-26 teve início em 2004, com a incorporação dos primeiros exemplares do novo treinador Embraer A-29 Super Tucano ao 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão Joker, unidade responsável pelo Curso de Formação de Pilotos de Caça (CFPC), que progressivamente substituiu os Xavante nas funções de instrução avançada. A despedida oficial do AT-26 Xavante da linha de voo operacional ocorreu em 3 de dezembro de 2010, quando as últimas células ainda em serviço no 1º/4º Grupo de Aviação – Esquadrão Pacau foram retiradas de operação e substituídas por aeronaves  F-5EM Tiger II, encerrando, assim, sua longa carreira como vetor de treinamento avançado, reconhecimento fotográfico e ataque ao solo. Em abril de 2011, as três células em melhores condições operacionais — de matrículas FAB 4467, 4509 e 4516 — foram transferidas para o Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), sediado em São José dos Campos (SP), para utilização em missões técnicas e de testes. Essas aeronaves permaneceram em serviço até setembro de 2013, quando foram finalmente substituídas pelos A-29 Super Tucano, encerrando definitivamente o ciclo operacional do AT-26 Xavante na Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para a representação do Embraer AT-26 Xavante "FAB 4527", optou-se pelo kit da Italeri na escala 1/48. Durante o processo de montagem, foi necessário substituir os tanques auxiliares das asas pelos que são utilizados no kit do Atlas Impala MK-2 da Italeri. É importante ressaltar que os casulos de metralhadoras e os tanques auxiliares fixados sob as asas também foram extraídos deste último kit, que podem ser oriundos dos modelos da Esci ou da Italeri. Utilizou-se, ainda, os excelentes decais produzidos pelo fabricante FCM Decals, os quais estão disponíveis no conjunto 48/37.
O esquema de cores (FS) detalhado a seguir representa o padrão de pintura tático norte-americano em três tons “Sudeste Asiático”, que foi adotado para todas as aeronaves operacionais de linha de frente da Força Aérea Brasileira a partir da década de 1970. Este padrão foi mantido ao longo de toda a carreira da aeronave, ocorrendo somente pequenas alterações relacionadas à identificação das unidades que as operaram. A desativação final dessas aeronaves ocorreu em 2013.


Bibliografia :
- Aermacchi MB-326 Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Aermacchi_MB-326
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- AT-26A Atlas Impala - http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/impala.htm


Neiva AT-25 e T-25 Universal


História e Desenvolvimento. 
A Indústria Aeronáutica Neiva Ltda é uma empresa brasileira com uma história significativa no desenvolvimento e fabricação de aeronaves. Fundada em 12 de outubro de 1945, no Rio de Janeiro, por José Carlos de Barros Neiva, a empresa surgiu com o intuito de atender à demanda pela modernização da frota de planadores do Brasil, que na época era composta majoritariamente por aeronaves de origem alemã, incorporadas aos aeroclubes brasileiros durante a década de 1930.MEste processo foi uma resposta ao programa governamental denominado "Campanha Nacional de Aviação", cujo objetivo era fomentar a indústria aeronáutica nacional. A estratégia de José Carlos de Barros Neiva baseava-se no desenvolvimento de uma aeronave que apresentasse características de voo similares ao planador alemão Grunau Baby, amplamente utilizado no Brasil em sua configuração biplace. O protótipo designado Neiva B. Monitor, portando a matrícula PP-PCB, realizou seu primeiro voo em dezembro de 1945, recebendo sua certificação oficial no início do ano seguinte e sendo incluído naquele importante programa de fomento. Assim, foi celebrado um primeiro contrato com a empresa para a compra do protótipo e mais vinte aeronaves deste modelo, que, após serem recebidas pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), seriam distribuídas a diversos aeroclubes em todo o país.  O Neiva B. Monitor foi fundamental para a formação de novos pilotos e contribuiu significativamente para o treinamento de aviação civil no Brasil. No final da década de 1950, uma variante denominada Neiva B "Monitor Modificado" foi construída, utilizando materiais alternativos em substituição à madeira. Nos anos seguintes, novos planadores foram desenvolvidos e lançados no mercado, mas a empresa destacou-se a partir de 1956, quando adquiriu os direitos de fabricação do treinador Paulistinha CAP-4, período no qual transferiu sua linha de produção para a cidade de Botucatu, no interior do estado de São Paulo. Nestas novas instalações, a produção superou a cifra de duzentas e sessenta aeronaves, disponíveis em várias versões aprimoradas, como o Neiva Paulistinha 56. Na década de 1960, atendendo às diretrizes do “Programa de Fortalecimento da Indústria de Defesa Nacional”, a empresa foi contratada pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) para desenvolver uma aeronave leve destinada a missões de ligação e observação, com o objetivo de substituir antigos modelos como a Piper L-4 Cub e a Cessna 305 Bird Dog, então em serviço na Força Aérea Brasileira. Esse processo resultou na criação dos modelos U-42 e L-42 Neiva Regente, que representaram os primeiros aviões totalmente metálicos desenvolvidos e produzidos no Brasil.

No início da década de 1960, o treinamento e a formação de novos pilotos militares, conduzidos pela Escola de Aeronáutica (EAER), localizada no Rio de Janeiro, RJ, fundamentavam-se no uso das aeronaves Fokker T-21 e North American T-6 Texan. Embora reconhecidas por sua robustez e confiabilidade, essas aeronaves apresentavam limitações significativas, estando tecnologicamente defasadas para atender às demandas do treinamento de cadetes que, posteriormente, assumiriam o comando de aeronaves de primeira linha, muito mais avançadas e sofisticadas. Adicionalmente, a frota enfrentava desafios relacionados à baixa disponibilidade operacional, decorrente da escassez de peças de reposição, o que impactava diretamente os índices de manutenção e prontidão.  Diante desse cenário, em janeiro de 1962, o Ministério da Aeronáutica (MAer) estabeleceu as especificações técnicas para o desenvolvimento e a aquisição de novas aeronaves destinadas ao treinamento primário e avançado. O programa, classificado como prioritário, foi estruturado com um cronograma de curto e médio prazo, visando a substituição dos vetores obsoletos e a superação das limitações operacionais identificadas. Para o treinamento primário, optou-se por uma solução nacional, que culminou no desenvolvimento do Aerotec T-23 Uirapuru, projetado para atender aos requisitos de desempenho básico e cuja entrada em serviço ocorreu a partir de 1969. Já para o treinamento avançado, a preferência inicial dos oficiais brasileiros recaía sobre o Beechcraft T-34 Mentor, uma aeronave moderna e de alto desempenho. Contudo, os custos associados à aquisição de um grande lote desse modelo excediam a dotação orçamentária disponível pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) inviabilizando sua adoção naquele momento. Como alternativa, o Ministério da Aeronáutica direcionou esforços para o desenvolvimento de uma solução nacional voltada ao treinamento avançado. A nova aeronave deveria ser mais simples, com custos de aquisição e operação reduzidos, adequando-se às restrições financeiras do programa. Nesse contexto, a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. foi convidada a participar do projeto, apresentando estudos alinhados aos objetivos estabelecidos. Antecipando-se às demandas do mercado e buscando expandir seu portfólio, a empresa já desenvolvia um programa semelhante, liderado por uma equipe de técnicos sob a coordenação do talentoso engenheiro húngaro radicado no Brasil, Joseph Kovacks. Esse esforço conjunto representou um marco significativo na busca por autonomia tecnológica e na modernização do treinamento de pilotos militares brasileiros.
Com base nas especificações técnicas emitidas pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. desenvolveu o projeto da aeronave designada como Neiva N-621. Inspirada nos cânones de design aeronáutico estabelecidos pelo renomado projetista italiano Stelio Frati, o N-621 apresentava linhas elegantes e funcionais, consolidando-se como o primeiro monomotor de alto desempenho concebido e produzido em série no Brasil. O protótipo do Neiva N-621, registrado com o prefixo experimental PP-ZTW, realizou seu voo inaugural em 9 de abril de 1966, decolando de São José dos Campos, SP, sob o comando do experiente piloto de provas Brasílico Freire Neto. A aeronave, configurada como um monoplano de asa baixa, monomotor e biplace com assentos lado a lado, incorporava as seguintes especificações técnicas -  Configuração: Monomotor, biplace (com capacidade para um terceiro tripulante na parte traseira da cabine); Trem de pouso: Triciclo retrátil; Dimensões: Envergadura: 11,00 m, Comprimento: 8,60 metros Altura: 3,00 metros e Superfície alar: 17,20 metros²; Pesos: vazio: 1.150 kg - máximo: 1.700 kg;  Propulsão: Motor a pistão Lycoming IO-540-G1A5, de 290 HP, com seis cilindros opostos horizontalmente, movido a gasolina, acoplado a uma hélice tripá de velocidade variável, Desempenho: Velocidade máxima: 250 km/h, Razão de ascensão: 300 m/min, Teto operacional: 5.000 m e Autonomia: 1.150 km; Cabine: Ampla, com assentos lado a lado para piloto e instrutor, coberta por um canopy de plexiglass de peça única, deslizante para trás, proporcionando excelente visibilidade externa. A configuração do N-621 foi projetada para atender às exigências de treinamento avançado, destacando-se pela ampla cabine que facilitava a interação entre piloto e instrutor. O canopy de plexiglass, além de otimizar a visibilidade, contribuía para a experiência de instrução. A aeronave exibia comandos dóceis, alta manobrabilidade e desempenho satisfatório, características que a tornavam ideal para a formação de pilotos militares. As primeiras impressões em voo foram positivas, com o protótipo demonstrando um equilíbrio entre desempenho, manobrabilidade e facilidade de operação. Após os voos iniciais de aceitação e aprovação, o Neiva N-621 PP-ZTW foi encaminhado ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA), onde foi submetido a um rigoroso programa de ensaios em voo. Esses testes visavam validar a aeronave em diversas condições operacionais, garantindo sua adequação às especificações do Ministério da Aeronáutica (MAer) e sua prontidão para integração ao programa de treinamento da Força Aérea Brasileira (FAB).

O programa de desenvolvimento do Neiva N-621 seguiria para a fase de testes, e esta fase revelou que o desempenho inicial da aeronave não atendia integralmente às especificações estabelecidas pela Força Aérea Brasileira (FAB) para uma aeronave de treinamento avançado. A principal deficiência identificada foi a baixa potência do motor Lycoming IO-540-G1A5, originalmente instalado. Para superar essa limitação, a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. implementou uma solução técnica que envolveu a substituição do grupo propulsor por um motor radial Lycoming IO-540-K1D5, com 300 HP de potência, acoplado a uma hélice bipá de velocidade constante. O protótipo modificado foi submetido a um novo ciclo de ensaios em voo, conduzido pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Os resultados demonstraram melhorias significativas, com a aeronave atingindo: Velocidade máxima: 275 km/h, Razão de ascensão: 320 metros/minito, Teto operacional: 5.000 metros e Autonomia: 1.150 km. Esses novos parâmetros atenderam às exigências da Força Aérea Brasileira, culminando na homologação da aeronave pela diretoria de voo do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Em dezembro de 1967, o Ministério da Aeronáutica (MAer) formalizou um contrato com a Indústria Aeronáutica Neiva Ltda para a aquisição de 150 células do N-621, destinadas ao treinamento avançado de pilotos. A execução do contrato enfrentou desafios significativos devido à capacidade limitada da planta industrial da Neiva em Botucatu, que já estava comprometida com outros projetos, incluindo a produção do Neiva L-42 Regente. Para atender à demanda e ao cronograma estipulado, a empresa decidiu construir uma segunda fábrica em São José dos Campos, estrategicamente localizada próxima ao CTA. Contudo, atrasos burocráticos e problemas nos processos fabris impactaram o planejamento inicial, adiando a entrega do primeiro exemplar de produção em série para 7 de abril de 1971. Nesse ano, apenas quatro aeronaves foram entregues à Força Aérea Brasileira (FAB). A Neiva implementou melhorias na engenharia de processos da nova planta, o que resultou em um aumento gradual da capacidade produtiva. Em 1972, a produção alcançou 29 aeronaves, um número ainda insuficiente para atender à urgência da Força Aérea Brasileira (FAB) na substituição dos obsoletos North American T-6 Texan. No ano seguinte, 1973, a entrega de 45 aeronaves marcou um avanço significativo. Em 1974, foram produzidas 50 unidades, seguidas por 14 em 1975, completando assim o total de 150 células previstas no contrato.
O contrato inicial firmado em 1967 entre o Ministério da Aeronáutica (MAer) e a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. previa a entrega de 150 aeronaves Neiva N-621 (posteriormente designadas T-25 Universal) à Força Aérea Brasileira (FAB). Contudo, devido a cortes orçamentários implementados pelo MAer durante o processo de produção, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu apenas 140 células. Como a Neiva já havia fabricado as 150 aeronaves contratadas, as 10 unidades excedentes foram armazenadas, criando a necessidade de encontrar um destino para esse lote. Para resolver a questão do excedente, a Neiva lançou uma iniciativa comercial voltada ao mercado de defesa da América Latina. Esses esforços foram bem-sucedidos em meados de 1976, quando as 10 aeronaves foram adquiridas pelo governo chileno para uso pela aviação militar do Exército do Chile. As células foram empregadas intensivamente em missões de treinamento e ligação até o final da década de 1990, demonstrando sua robustez e adequação às operações militares. A Força Aérea Paraguaia (FAP) tornou-se o terceiro operador militar do T-25 Universal ao adquirir, logo após a exportação para o Chile, um lote de aeronaves excedentes da FAB. Em 1997, esse inventário foi complementado com a doação de seis células pelo governo chileno, que haviam sido retiradas de serviço ativo no início da década de 1990 e mantidas em armazenamento. Em 2005, como parte de uma iniciativa de fortalecimento das relações regionais, o governo brasileiro doou 12 aeronaves T-25 Universal, revisadas pelo Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS). Seis unidades foram destinadas à Força Aérea Boliviana (FAB) e outras seis à Força Aérea Paraguaia (FAP). Essas aeronaves passaram por manutenção completa para garantir sua operacionalidade antes da entrega. Até o presente momento, as aeronaves T-25 Universal doadas à Bolívia e ao Paraguai permanecem em serviço ativo, desempenhando papéis em treinamento e outras missões operacionais. A longevidade dessas células reflete a qualidade do projeto original e a eficácia das revisões realizadas, consolidando o impacto do T-25 Universal na aviação militar de países da América Latina. O T-25 Universal também ocupa um lugar importante na memória da aviação brasileira. Como o primeiro monomotor de alto desempenho produzido em série no Brasil, ele simboliza o pioneirismo e a inovação da indústria nacional em um período de consolidação tecnológica. Sua história, desde o desenvolvimento até sua operação em múltiplos países, é frequentemente celebrada em museus, eventos aeronáuticos e publicações especializadas, reforçando seu status como ícone da engenharia brasileira.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Conforme o cronograma contratual ajustado entre a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. e o Ministério da Aeronáutica (MAer), as primeiras unidades do Neiva T-25 Universal começaram a ser entregues em maio de 1971 ao Centro de Formação de Pilotos Militares (CFPM), localizado em Natal, Rio Grande do Norte. Nesse período, o T-25 passou a atuar como aeronave intermediária no processo de instrução, operando em conjunto com as aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, destinadas ao treinamento primário, e os jatos Cessna T-37C Tweety Bird, utilizados no treinamento avançado. Durante sua operação no CFPM, o T-25 demonstrou desempenho excepcional, acumulando 7.000 horas de voo dedicadas à instrução de pilotos militares. Em 1973, como parte de um processo de reorganização determinado pelo MAer, o CFPM foi oficialmente desativado. As aeronaves Neiva T-25 Universal foram então transferidas para a Academia da Força Aérea (AFA), sediada em Pirassununga, São Paulo. Na academia, o T-25 Universal assumiu o papel de treinador básico padrão, sendo utilizado até 1978. Durante esse período, o treinamento avançado continuou a ser realizado pelos jatos Cessna T-37C, complementando o programa de formação de pilotos. A partir de 1979, a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou uma reavaliação do uso de aeronaves a jato no estágio avançado do treinamento de pilotos, motivada por desafios operacionais significativos associados ao Cessna T-37C. Esses desafios incluíam: Baixa disponibilidade da frota: Influenciada por múltiplos acidentes graves, fadiga estrutural e dificuldades no suprimento de peças de reposição. Altos custos operacionais: Decorrentes do elevado consumo de combustível e da manutenção dos dois motores a jato. Diante desse cenário, o Ministério da Aeronáutica (MAer) decidiu retirar o Cessna T-37C do treinamento avançado, substituindo-o temporariamente pelo Neiva T-25 Universal. Apesar de projetado inicialmente como treinador básico, o T-25 adaptou-se satisfatoriamente à função de treinamento avançado, desempenhando-a com eficácia e confiabilidade. A utilização do T-25 Universal no treinamento avançado foi mantida como solução provisória até a incorporação dos novos treinadores turboélices Embraer EMB-312 T-27 Tucano, cuja entrega à FAB começou no final de 1983. A chegada do T-27 marcou o início de uma nova fase na formação de pilotos militares, com maior eficiência e desempenho, encerrando o ciclo do T-25 como treinador avançado.

A partir de 1984, o Neiva T-25 Universal foi completamente retirado das funções de treinamento avançado, sendo redesignado para o treinamento básico na Força Aérea Brasileira (FAB). Nesse novo papel, o T-25 substituiu gradualmente as aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, um processo concluído em 1º de outubro de 1984. A transição consolidou o T-25 como a principal plataforma de instrução básica, aproveitando suas características de manobrabilidade, confiabilidade e configuração otimizada para a formação inicial de pilotos. A partir de 1974, o T-25 Universal também passou a ser utilizado na formação de oficiais da reserva de 2ª categoria, uma missão conduzida pelo Centro de Aplicações Táticas e Recomplementação de Equipagens (CATRE), localizado em Natal, Rio Grande do Norte. Nesse contexto, as aeronaves foram alocadas ao 2º Esquadrão de Instrução Aérea (2º EIA), onde desempenharam papéis multifuncionais, incluindo: Instrução primária, básica e avançada e Treinamento operacional de pilotos em seu último ano de formação. Essa versatilidade permitiu ao T-25 Universal atender a uma ampla gama de necessidades de instrução, reforçando sua importância no sistema de formação da Força Aérea Brasileira (FAB). Durante sua operação no Centro de Aplicações Táticas e Recomplementação de Equipagens (CATRE), o T-25 começou a ser utilizado para ensaiar a doutrina básica de emprego armado, antecipando sua potencial aplicação em missões operacionais. Essa iniciativa respondia à necessidade urgente de substituir os obsoletos North American AT-6, que até então eram empregados em missões de contra-insurgência pelos Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA). Para atender a essa demanda, o Ministério da Aeronáutica (MAer) incluiu, no contrato original firmado com a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda., a entrega de 20 células do Neiva T-25 Universal modificadas para missões de ataque ao solo. Essas aeronaves foram projetadas para operar em um novo conceito operacional, estruturado em torno de Esquadrões Mistos de Operações Aéreas Especiais. Esses esquadrões foram concebidos para integrar diferentes tipos de aeronaves e helicópteros, incluindo: Aeronaves de ataque ao solo; Aeronaves de ligação e observação e Helicópteros de apoio tático. Essa abordagem representou uma evolução das antigas Esquadrilhas de Reconhecimento e Ataque (ERA), promovendo maior flexibilidade e eficácia em operações combinadas
A fim de  atender às especificações do Ministério da Aeronáutica (MAer) para missões de ataque ao solo, a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva Ltda. desenvolveu uma versão modificada do Neiva T-25 Universal, designada extraoficialmente como Neiva AT-25 Universal. Essa variante incorporou os seguintes aprimoramentos: Sistemas de mira e disparo: Equipada com visor de tiro e dispositivos de disparo fabricados pela empresa paulista DF Vasconcelos Ltda., instalados à frente do assento do piloto (posição esquerda). Capacidade de armamento: Provisão para quatro pontos fixos sob as asas, permitindo configurações mistas, incluindo: Dois casulos subalares com metralhadoras calibre 12,7 mm; Quatro cabides subalares para bombas MK.76 ou Dois casulos lançadores de foguetes não guiados Avibras de 37 mm ou 70 mm. Essas modificações transformaram o T-25 Universal  em uma plataforma versátil para operações de ataque leve e apoio aproximado, mantendo sua robustez e confiabilidade. As primeiras unidades do Neiva AT-25 Universal foram entregues, conforme o cronograma contratual, ao Centro de Aplicações Táticas e Recomplementação de Equipagens (CATRE), sediado na Base Aérea de Natal (BANT). No CATRE, a aeronave foi utilizada para desenvolver e consolidar a doutrina de emprego operacional armado, com resultados iniciais extremamente positivos. Esses testes demonstraram a eficácia do AT-25 em missões de ataque ao solo, levando a Força Aérea Brasileira (FAB) a planejar a substituição completa das aeronaves North American AT-6D/G ainda em operação nos Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA). Além disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) decidiu adotar o AT-25 na 2ª Esquadrilha de Ligação e Observação (2ª ELO), substituindo os modelos North American AT-6D/G, Pilatus L-3 e North American T-28. Essa decisão padronizou o Neiva AT-25 Universal como a principal aeronave nacional para missões de ataque leve, apoio aproximado, ligação e observação. A incorporação do Neiva AT-25 Universal nas unidades operacionais da FAB ocorreu de forma progressiva: 1975: O 1º Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (EMRA) Falcão, baseado em Belém, Pará, tornou-se a primeira unidade a operar o AT-25. - 1976: O modelo foi integrado ao 2º EMRA Esquadrão Poti, em Recife, Pernambuco, e ao 5º EMRA Esquadrão Pantera, em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Nos Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque, as missões eram conduzidas por uma tripulação composta por um piloto, responsável pela condução da aeronave e operação dos sistemas de armas, e um observador aéreo, encarregado de apoiar a identificação de alvos e a coordenação tática.  
Durante sua operação nos Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), os Neiva T-25 Universal, incluindo a variante armada AT-25, desempenharam um papel central em diversas missões conduzidas pela Força Aérea Brasileira (FAB), especialmente na região Nordeste do Brasil. Entre as principais atuações, destacam-se: Apoio humanitário: Suporte às populações desabrigadas por secas, demonstrando a capacidade do T-25 em missões de ligação e assistência; Operações de segurança: Colaboração com a Polícia Federal no combate à erradicação de plantações ilícitas de maconha no “Polígono da Maconha”, localizado em Pernambuco e  Manobras militares: Participação nas Manobras Reais da FAB em 1977 e 1978, operando em conjunto com helicópteros Bell UH-1H, evidenciando sua versatilidade em cenários táticos combinados. Essas operações consolidaram o T-25 como uma plataforma eficaz para missões de ataque leve, reconhecimento e apoio tático. A partir de 1980, a extinção gradual dos EMRA levou à redistribuição das aeronaves Neiva T-25 Universal para outras unidades da FAB. Entre os principais destinos, destaca-se a Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, São Paulo, onde as aeronaves foram reintegradas à frota de treinamento básico, reforçando a formação de novos pilotos. Esse processo marcou a transição do T-25 de uma plataforma multifuncional para um foco renovado em sua função original de treinamento. Na década de 1990, uma versão modernizada do T-25, designada T-25C ou AT-25C, foi introduzida, incorporando melhorias que ampliaram sua vida útil e capacidades operacionais. Essa variante foi alocada a diversas unidades, com destaque para: 2º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Poti: O T-25C foi empregado em missões de treinamento de combate aéreo dissimilar, operando contra helicópteros Helibras UH-50 Esquilo, uma prática que se estendeu até recentemente;  2ª Esquadrilha de Ligação e Observação (2ª ELO): Utilizado em missões de ligação e observação até a incorporação das aeronaves Embraer AT-27 Tucano e o  3º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Puma: Operou em funções de ligação e observação até sua retirada de serviço em 2008.  A modernização do T-25C permitiu à Força Aérea Brasileira (FAB) manter a relevância operacional da aeronave em um contexto de evolução tecnológica, adaptando-a a novos requisitos táticos e de treinamento. Atualmente, as células remanescentes do Neiva T-25 Universal estão concentradas na Academia da Força Aérea (AFA), onde continuam a desempenhar funções de treinamento básico, ao lado das aeronaves do lote original. Nos próximos anos, essas aeronaves deverão ser substituídas por um novo treinador básico a ser adquirido pela FAB, marcando o fim de uma carreira operacional que ultrapassa cinco décadas.


Em Escala.
Para a representação do Neiva AT-25A Universal, identificado como "FAB 1893", foi utilizado o kit em resina produzido pela GIIC Models na escala 1/48. Essa escolha proporcionou uma base detalhada para a construção de um modelo fiel à aeronave armada operada pela Força Aérea Brasileira (FAB). Com o objetivo de configurar a variante armada (AT-25A), foram realizados os seguintes aprimoramentos: Cabides subalares: Confeccionados em scratchbuilding, permitindo a reprodução precisa dos pontos de fixação de armamentos sob as asas. Lançadores de foguetes: Incorporados a partir de componentes em resina provenientes de outros kits, adaptados para representar os lançadores de foguetes Avibras de 37 mm ou 70 mm utilizados pela aeronave. Para a finalização do modelo, foi empregada uma combinação de decais de diferentes fontes, assegurando a autenticidade das marcações,  Decais originais: Fornecidos com o kit da GIIC Models, utilizados como base para as marcações principais. Decais FCM Decals: Extraídos do conjunto 48/08, complementando as marcações específicas do Neiva T-25 Universal. Decais Duarte Models: Produzidos originalmente para a escala 1/72, adaptados para representar detalhes adicionais do "FAB 1893".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura tático empregado nas aeronaves AT-25A, onde podemos observar por registros histórico a existência de pelo menos cinco esquemas de camuflagem. Já as aeronaves em serviço na  2º Esquadrilha de Ligação e Observação (2º ELO), empregariam  durante toda sua carreira o padrão em amarelo FS 13655. Vale salientar também que no CATRE as primeiras aeronaves empregadas  mantiveram o esquema padrão de aeronaves de treinamento.  Um ultimo esquema de pintura seria adotado por células do 3º/8º Grupo de Aviação -  Esquadrão Puma,  representando o padrão atual de camuflagem das aeronaves táticas da Força Aérea Brasileira.



Bibliografia:

- Neiva T-25  Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Neiva_T-25
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- A Flecha de Poti - Revista Força Aérea - Nº 3 Action Editora
- A Saga dos Guerreiros Polivalentes – Incaer  por Aparecido Camazano Alamino
- Um Peixe Fora D Agua – Neiva T-25 Universal - Prof. Rudnei Dias Cunha – Revista Força Aérea N 79