Northrop F-5E Tiger II no Brasil

História e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1950, o avançar da tecnologia aeronáutica militar atingia uma velocidade sem precedentes na história da aviação moderna, e cada vez mais os vetores atingiam maiores velocidades, autonomia e capacidade de transporte de carga útil. Porém em contrapartida os custos de aquisição e operação, destas novas aeronaves de combate superavam em muito, os caças e bombardeiros produzidos durante a década passada. Esse cenário preocupava não só os comandantes militares norte-americanos, bem como os fabricantes de aeronaves, que temiam terem suas receitas reduzidas em face de possíveis cortes orçamentários. Atento a esta demanda a este cenário e em busca de soluções, no início do ano de 1956 a empresa Northrop Aircraft Corporation, criaria uma equipe de trabalho e desenvolvimento, chefiada pelo vice-presidente de engenharia e aeronaves, Edgar Schmued (responsável pelo desenvolvimento dos modelos P-51 Mustang e F-86 Sabre). O principal objetivo desta iniciativa, era o de criar uma aeronave de combate leve, com alto desempenho, capacidade de manobra aprimorada e alta confiabilidade, mas apresentando um custo de aquisição e operação muito inferior ao caças de combate daquela geração em uso até então.  Ademais reconhecendo que aeronaves de combate complexas e de alto custos operacionais, não poderiam ser substituídos de maneira viável em curto período (como ocorria com as aeronaves com motor a pistão), este novo projeto deveria incluir o conceito de "potencial de crescimento projetado", permitindo uma longevidade de serviço superior a vinte anos. Seguindo ainda este preceito que ficaria definido como "custo do ciclo de vida"   o engenheiro chefe do projeto Welko Gasich, definiria que os motores deveriam estar localizados dentro da fuselagem para obter o máximo desempenho e a longa vida útil. O projeto então seria denominado oficialmente como N-156, sendo customizado para o atendimento de uma concorrência recém deflagrada pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Este processo visava o desenvolvimento de um caça leve para emprego em seus porta aviões de escolta, tendo em vista as aeronaves em uso até então nos porta aviões normais excediam as capacidades lançamento e hangaragem. Aliás o projeto do N-156 deveria ser extremamente flexível podendo também atender a possíveis demandas futuras da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Infelizmente para a Northrop Aircraft Corporation, logo em seguida, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) reavaliaria sua estrutura e meios navais, resultando na desativação dos pequenos porta aviões de escolta. 

O cancelamento desta importante demanda por parte da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), representaria um revés no planejamento Northrop Aircraft Corporation, pois afetaria diretamente a possível escala de produção da futura aeronave.  Porém sua diretoria se manteria resiliente, derivando seu projeto original em  duas vertentes, uma destinada ao desenvolvimento de um  caça tático leve o "N-156F" conhecido também como “Tally-Ho”, e uma aeronave de treinamento avançado o "N-156T" . O conceito deste último modelo agradaria muito o comando da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), sendo assim selecionado como treinador padrão, em substituição aos jatos subsônicos Lockheed T-33. Seu primeiro protótipo do já designado YT-38 Talon alçaria voo no dia 12 de junho de 1959, e após ser avaliando em um amplo programa de ensaios em voo recebeu de produção de mil cento e cinquenta e oito células  com as primeiras aeronaves sendo entregues no ano seguinte e as últimas sendo recebidas até janeiro de 1972. A excelência do projeto seria comprovada pela implementação de diversos programas de retrofit e modernização ao longo anos,  mantendo estas aeronaves em voo na missão de treinamento avançado até os dias atuais. Devendo ser somente substituídos a partir de meados da segunda década 2020, quando completarão mais  de cinquenta anos de serviço. Apesar da negativa em relação a versão monoplace, a empresa decidiria com recursos próprios continuar o desenvolvimento do projeto "N-156F", esta perseverança logo seria recompensada logo a seguir com alterações nas diretivas geopolíticas norte-americanas. Neste mesmo período o Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoS) solicitaria estudos referente ao desenvolvimento uma aeronave multifuncional de combate supersônico que apresentasse baixo custo de aquisição e operação, sendo destinada basicamente ao mercado de exportação a fim de compor o portifólio do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistence Program) para atendimento de itens de defesa a nações com as quais os Estados Unidos tinham interesse em manter sua esfera de influência. Este programa se materializaria na  criação do "Programa FX", uma concorrência viando a aquisição de mais duzentas aeronaves, com este processo prevendo a liberação de  recursos para a produção de três protótipos para avaliação. Neste contexto diversas propostas seriam apresentadas para a apreciação. O voo do primeiro protótipo do  Northrop N-156F ocorreria em 30 de julho de 1959, com a aeronave decolando da pista de testes da Base Aérea Edwards (AFB) na California, e após um complexo programa de avaliação comparativa contra seus concorrentes seria declarado como vencedor da contenda. 
O modelo receberia a designação militar de Northrop F-5A e nome de batismo de “Freedon Fighter” (Combatente da Liberdade), tendo este nome em alusão ao propósito original de se prover as nações amigas, de um vetor capaz de garantir a defesa aérea de países menos desenvolvidos, principalmente contra a ameaça do expansionismo soviético no mundo. A Northrop Aircraft Corporation receberia assim em 26 de outubro de 1962 o primeiro contrato de produção, envolvendo duzentas aeronaves.  Aos poucos o modelo ser tornaria a  principal aeronave de combate oferecida nos termos do MAP (Military Assistance Program - Programa de Assistência Militar) passando a equipar as forças áreas das  Filipinas, Irã, Etiópia, Noruega, Taiwan, Marrocos, Venezuela, Grécia, Turquia, Holanda, Turquia Coreia do Sul, Formosa e Espanha. Também seriam firmados contratos para produção sob licença pela Canadair LTd , Construcciones Aeronáuticas S.A - CASA e Fokker. No ano de 1969, o governo norte-americano, no anseio de manter sua influência militar e política sobre seus aliados, começou a considerar um sucessor para a família F-5A/B Freedom Fighter, desta maneira, oito empresas foram convidadas a participar de uma concorrência denominada como Processo IIFA (Improved International Fighter Aircraft). Após análises detalhadas das propostas apresentadas, seria anunciado como vencedor o  Model F-5A-2, apresentada pela empresa Northrop Aircraft Corporation. Projeto este que nada mais era do que uma evolução do caça tático F-5A/B  apresentando inúmeras modificações que visavam principalmente, atender as demandas da concorrência que exigiam uma aeronave com desempenho superior aos caças Mikoyan-Gurevich MiG-21 soviéticos. O primeiro protótipo alçou voo em 23 de agosto de 1972, esta nova aeronave estava equipada com dois motores General Electric J85-21 que apresentavam uma maior chegando a 5.000 libras de empuxo, o novo avião, possuía uma fuselagem alongada e aumentada que lhe permitia acomodar mais combustível que seu antecessor. Suas asas foram equipadas com extensões de borda de ataque ampliadas, proporcionando uma área de asa aumentada e consequente manobrabilidade aprimorada. Como diferencial para sobrevivência em um ambiente hostil o agora recém denominado Northrop F-5E Tiger II dispunha de aviônicos mais sofisticados, incluindo crucialmente um novo radar, inicialmente o Emerson Electric AN / APQ-153 (salientado que os modelos anteriores não dispunham de radar), podendo ainda receber, de acordo com a necessidade de customização a pedido do cliente,  sistemas de navegação inercial , equipamentos TACAN- Tatical Air Navegation (sistema tático aéreo de navegação) e ECM - Electronic Countermeasures (contramedidas eletrônicas).

Em 6 de abril de 1973, o 425º TFS (Tactical Fighter Training) sediado na Base Aérea de Williams, no Arizona, receberia o primeiro Northrop F-5E Tiger II de produção. Neste momento seria iniciado o programa de formação de equipes de voo e solo, e construção da doutrina operacional e de combate da nova aeronave. Posteriormente os Northrop F-5E Tiger II, começaram a ser despachados para o Sudeste Asiático, onde receberiam seu batismo de fogo no conflito do Vietnã, atuando como substitutos dos Northrop F-5A Freedon Fighter nas operações “Skoshi Tiger”. Dotando não só a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), mas também diversos esquadrões da Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Além desta nação, seguindo as diretrizes iniciais de seu desenvolvimento, o Northrop F-5E Tiger II, passou a ser oferecido uma série de países alinhados a política externa do governo norte americano, recebendo contratos de exportação para Coreia do Sul, Irã, Chile, Brasil, México, Suíça, Malásia, Cingapura, Taiwan, Marrocos, Jordânia, Grécia, Tunísia, Arábia Saudita, Etiópia. Honduras, Indonésia, Quênia, Noruega, Sudão e Iêmen. Neste contexto o 425º TFS (Tactical Fighter Training) foi designado como o esquadrão responsável em ministrar o treinamento e transição para o Northrop F-5E Tiger II de todos os pilotos estrangeiros cujos países tivessem adquirido a aeronave. Desta unidade saíriam centenas de pilotos, que empregariam o pequeno caça em combates reais como na Guerra do Ogaden (entre Etiópia e Somália), e na Guerra Irã X Iraque. Durante este processo de formação, observou-se a excelente manobrabilidade da aeronave em combate aéreo, iniciando assim seu emprego em como aeronave especializada para o combate dissimilar (DACT), substituindo os treinadores Northrop T-38 Talon até então em uso, que não eram totalmente adequados a esta missão. Aproximadamente setenta células novas de fábrica, que estavam destinadas a Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF) foram absorvidas pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), que as destinou aos esquadrões de treinamentos “Agressores”  como os esquadrões 57th, 64th e  65th (Fighter Weapons Squadrons) que operavam junto à Base Aérea de Nellis no estado de Nevada.  Vale salientar que a aeronave também seria operada aviação naval da Marinha Americana sendo empregadas também no papel de “agressores” em unidades baseadas na cidade  Key West na Florida.
Sua produção total atingiria até 1987 um total de 1.399 células, dispostas entre as versões monoplace F-5E e biplace F-5F Tiger II. A partir do final desta mesma década,  esta familia de aeronaves começaria a ser substituído na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), pelas primeiras versões do novo caça multifuncional General Dynamics F-16 Fighting Falcon. Apesar de estar defasado tecnologicamente em relação as aeronaves de nova geração, alguns dos maiores operadores do modelo vislumbrariam a oportunidade de prolongar a vida útil das células do Northrop F-5E e F-5F Tiger.  Pois além de apresentar uma excelente relação custo-benefício em termos de operação, ele possuía baixa assinatura aos radares e grande manobrabilidade, o que garantiria sua sobrevivência e êxito no novo ambiente de combate dos caças de quarta geração. A primeira experiência de implementação de um programa de modernização seria seria desenvolvida pela Força Aérea da República de Singapura (RSAF), com a adoção de radares FIAR Grifo-F produzidos pela empresa italiana Galileo Avionica (similar em desempenho aos modelos norte-americanos Emerson Electric's AN/APG-69), cockpits atualizados e sistema de armas compatíveis com misseis ar ar de longo alcance Hughes Aircraft AIM-120 AMRAAM e de curto alcance Rafael Python. Os resultados obtidos seriam extremamente positivos, levando a outros programas com o mesmo propósito entre seus principais operadores, resultando na revigorarão  da capacidade de combate do pequeno caça bombardeiro da Northrop Aircraft Corporation, permitindo estender sua vida útil pelo menos até fins da década de 2020. Vale salientar que em seu pais de origem o modelo continuaria a ser operado na versão “Agressor” pela aviação naval na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo a mesma reequipada com células usadas adquiridas da Força Aérea Suíça (Schweizer Luftwaffe) no ano de 2015.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira contava com mais de mil e quinhentas modernas aeronaves militares, com quase a sua totalidade sendo recebida a partir de 1942, nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Em termos de capacidade ofensiva dispunha-se de um grande número de células de aeronaves de primeira linha, como os famosos caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, Curtiss P-40 Warhawk e aeronaves de ataque Douglas A-20 Havoc e North American B-25 Mitchel. Esta combinação de aeronaves de combate combinada com modelos de transporte e patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), tornavam está a segunda maior força aérea das Américas, e a maior arma aérea do hemisfério sul do planeta. No entanto, o advento e maturidade da aplicação de motores turbo jatos em uma nova geração de aeronaves militares, tornaria os caças e bombardeiros de ataque a pistão virtualmente obsoletos em poucos anos. Apesar das ambições da Força Aérea Brasileira em incorporar modernas aeronaves como os Republic F-84E Thunderjet ou North-American F-86F Sabre, este desejo não se concretizaria em virtude de restrições orçamentárias e de ordem geopolítica. Esta demanda seria atendida a partir de 1953  com a adoção de aeronaves menos capazes  Gloster F-8 Meteor e Lockheed F-80C Shooting Star. Dez anos depois, os três principais esquadrões de linha de frente da Força Aérea Brasileira, estavam equipados com os caças ingleses,  que apesar de serem modelos relativamente defasados em relação as aeronaves de nova geração, se encontravam disponíveis em números suficientes na frota para o atendimento mínimo das demandas operacionais.  No entanto em abril do ano seguinte, o fabricante dos F-8 e TF-7, a Gloster Aircraft Company divulgaria um boletim técnico informativo, apontando a provável incidência de graves problemas relacionados desgaste estrutural, por fim este relatório restringiria  em muito o perfil operacional destas aeronaves. Apesar de serem aplicadas soluções paliativas indicadas pelo fabricante, logo seriam detectadas em diversas células graves fissuras nas longarinas das asas, condenando estas aeronaves a operação.  Esta ocorrência se repetiria dramaticamente nos meses que se seguiram, convertendo em pouco tempo a outrora aviação de caça brasileira em uma simples sombra do que era no começo da década, comprometendo completamente sua eficiência operacional.

Assim no final do ano de 1965,  em resposta a este cenário problemático, o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciaria uma série de estudos visando a análise e incorporação de novas aeronaves de caça. Neste contexto seria definida a aquisição de aeronaves de combate multifuncionais, com a escolha aspiracional recaindo sobre os potentes bimotores McDonnell Douglas F-4 Phantom II. Opção esta que seria prontamente negada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoS), sob a alegação que tal aquisição afetaria o balanço do poder aéreo na América do Sul. Após esta definição, o governo brasileiro passaria a cogitar a aquisição de pelo menos doze caças Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter que deveriam em primeira instancia substituir parte dos antigos vetores ingleses,  passando a  compor o braço armado do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Trafego Aéreo (SISDACTA) que se encontrava em processo de implementação . No entanto restrições orçamentarias e a necessidade emergencial para a modernização da aviação de transporte, levariam ao cancelamento deste importante programa de aquisição. Esta importante lacuna por um interceptador de alta performance, somente acabaria sendo preenchida somente em 1972 quando foram recebidos os primeiros Marcel Dassault Mirage IIIEBR (F-103E). Neste interim, os demais esquadrões de combate da Força Aérea Brasileira seriam reequipados com treinadores avançados Lockheed AT-33A modificados para missões de caça e interceptação. No entanto a opção pela aquisição de caças da norte-americanos, passaria a figurar novamente em meados da década de 1970, quanto tornava-se clara a necessidade em substituir os treinadores avançados ainda  lotados junto 1º Grupo de Aviação de Caça (1ºGAvC) – Esquadrão Senta a Pua e no 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv) – Esquadrão Pampa. Neste momento dispondo de uma grande provisão orçamentaria, seria decidido lançar uma concorrência internacional, prevendo a aquisição de pelo menos trinta novas aeronaves de combate multifuncionais. Em reposta a este processo seriam apresentadas propostas de diversos fabricantes, onde figuravam modelos como os ingleses Spect BAE Jaguar, BAE Jump Jet Harrier MK-50 , o italiano Aermachi MB-326K,  e por fim os norte-americanos McDonnell Douglas A-4F e Northrop F-5E Tiger II.   
Um profundo estudo comparativo entre os concorrentes seria conduzido pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), com a escolha recaindo sobre a aeronave da Northrop Corporation, modelo este atendia a praticamente todas as características exigidas para este programa de reequipamento brasileiro. Em abril de 1974, um contrato no valor de US$ 115 milhões de dólares seria celebrado entre a Northrop Aircraft Corporation e o Governo Brasileiro prevendo a aquisição de trinta e seis células monoplaces e seis biplaces além de peças de reposição e outros componentes. O modelo escolhido para emprego pela Força Aérea Brasileira , seria o padrão,  F-5E Tiger II envolvendo uma série de customizações em termos de sistemas de aviônica e comunicações, para conversão e treinamento dos futuros pilotos seria o no F-5F.  Ocorre, porém, que neste período a versão biplace ainda se encontrava nos estágios finais de desenvolvimento, com sua entrada em serviço sendo prevista pelo fabricante somente para  o final do ano e 1976.  O atendimento deste cronograma, atrasaria em muito o programa de introdução destes novos caças junto a  Força Aérea Brasileira, o que não poderia ser aceito por seus comandantes. Como solução a esta demanda, optaria-se pela aquisição de seis células da versão anterior da aeronave, o biplace F-5B,  que havia sido desenvolvido como aeronave de conversão operacional para os caças F-5A Freedom Fighter. Com todos os detalhes finais acertados em maio do mesmo ano, seria criada a Comissão de Fiscalização e Recebimento (COMFIREM) dos caças  Northrop  F-5E Tiger II e F-5B Freedon Fighter, sendo esta comissão, estabelecida junto as dependências da base aérea da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) de Palmdale -AFB na Califórnia. Nesta localidade, durante seis meses uma comitiva de pilotos e técnicos brasileiros, seria treinada sobre a tutela do pessoal do Esquadrão 425º TFS (Tactical Fighter Training), unidade originalmente sediada na Base Aérea de Willian AFB no Arizona. As novas aeronaves seriam transladadas ao Brasil em onze esquadrilhas, em uma operação denominada Tigre. Onde estes aviões percorreram a rota, que tinha início na cidade de Palmdale no estado da Califórnia, com escalas em San Antonio no Texas e Homestad Florida, passando assim por países da América Central e da América do  Sul como Porto Rico, Trinidad & Tobago e Suriname e por fim nas cidades brasileiras de  Belém, Anápolis e Rio de Janeiro. Em 06 de março de 1975 seria recebidas no Brasil as primeiras aeronaves Northrop F-5B Freedon Fighter, com o aviões monoplaces chegando entre junho do mesmo ano e fevereiro do ano seguinte.

Como a pista da Base Aérea de Santa Cruz (BASC) no Rio de Janeiro - RJ, estava passando por obras para prolongamento para poder operar os novos jatos supersônicos, as células já então incorporadas, passaram a operar a partir da Base Aérea do Galeão (BAGL) também no Rio de Janeiro, efetuando também missões de treinamentos nas cidades São Jose dos Campos e Guaratinguetá, no interior do estado de São Paulo. As aeronaves designadas na Força Aérea Brasileira como F-5E Tiger II, receberiam as matriculas de  "FAB 4820 á 4835", sendo distribuídas ao 1º Grupo de Aviação de Caça (1ºGAvC), passando a dotar seus dois esquadrões o 1º/1º GAvC  Senta a Pua e 2º/1º GAvC  Rompe Mato e também o  1º/14º Grupo de Aviação Esquadrão Pampa, na ordem de doze aeronaves por unidade. O advento da introdução em serviço deste novo vetor permitiu nestas unidades, a substituição dos jatos de treinamento avançado Embraer AT-26 Xavante e os derradeiros Lockheed AT-33A, representando ainda um marco na aviação de caça brasileira. Pois além tecnologia embarcada de caças de terceira geração, o desempenho destas novas aeronaves era muito superior aos modelos em uso até então. Vale ainda salientar que o Northrop F-5E Tiger II, foi a primeira aeronave em uso no país a dispor de sistema de reabastecimento em voo, sendo que em maio de 1976 ocorreria a primeira operação de REVO (Reabastecimento em Voo) no Brasil, quando sobre o litoral do Rio de Janeiro, um Lockhedd KC-130H Hercules reabasteceu dois Northrop F-5E Tiger II do 1º Grupo de Aviação de Caça. Como curiosidade, vale comentar que junto com um grande lote de peças sobressalentes a Força Aérea Brasileira, viria a receber seis narizes fotográficos iguais aos utilizados pelos Northrop RF-5E Tiger II em uso na Força Aérea Americana (USAF), porém  devido à dificuldade em se configurar rotineiramente este equipamento na aeronave, seu emprego junto as unidades de aviação de caça seria efêmero, deixando esta tarefa focada  junto ao 3º/10º Grupo de Aviação - Esquadrão Centauro, equipado com os Embraer RT-26 Xavante.
Em meados da década de 1980 seria feita a aquisição de mais vinte e duas aeronaves, agora se tratando de células usadas, visando assim repor perdas ocasionadas por desgaste natural ou acidentes operacionais. O recebimento imediato, destas novas aeronaves possibilitou a concentração de todas as células originais do primeiro lote na Base Aérea de Santa Cruz dotando o 1º e 2º Grupo de Aviação de Caça, destinando as "novas" aeronaves ao 1º/14º Grupo de Aviação – Esquadrão Pampa, baseado na cidade Canoas no estado do Rio Grande do Sul.  Esta definição permitiria ainda uma padronização por unidade de caças dos modelos, tendo em vista diferenças técnicas entre as células dos dois lotes. No final da década de 1990, a Força Aérea Brasileira iniciaria estudos visando a modernização de toda a sua frota de caças Northorp F-5E Tiger II, projeto este que seria conhecido como F-5BR. Com este programa sendo iniciado em 2003 pela Embraer S/A em parceria com a empresa israelense Elbit Systens, com as últimas células modernizadas entregues no  início de 2013, possibilitando assim estender a vida útil das aeronaves até meados da década de 2020 quando serão substituídos pelos novos SAAB Gripen NG F-39.

Em Escala.
Para representarmos o Northrop F-5E Tiger II matricula "FAB "4837"  pertencente ao 1º Grupo de Aviação de Caça, empregamos o antigo kit da Monogram, na escala 1/48. Para adequarmos este modelo a versão brasileira, adicionamos a barbatana dorsal confeccionada em plasticard e a sonda de reabastecimento em voo (peça em resina). Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais , presentes no Set 48/03.
O esquema de cores  (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura  tático do tipo ”Southeast Asia”  empregado em todos  os Northrop F-5E Tiger recebidos entre os anos de 1975 e 1976  seguindo a padronização norte-americana aplicada a todas as aeronaves empregadas na Guerra do  Vietnam. Sendo este padrão na Força Aérea Brasileira, somente alterado após a aplicação do processo de modernização para a versão F-5EM.



      Bibliografia :
- Os Tiger Afiam suas Garras - Carlos Lorch - Revista Força Aérea Nº3 
- Northop F-5 Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Northrop_F-5
- Aeronaves Militares Brasileira 1916 – 2015 Jackson Flores Jr.
- História da Força Aérea Brasileia , Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html


M-3A1 White Scout Car

História e Desenvolvimento.
A White Motor Company foi fundada no ano de 1900 na cidade de Cleveland no estado de Ohio, tendo iniciado suas atividades com produção de carros de passeio, sendo seguido pelo lançamento de veículos comerciais leves, como picapes e caminhões. A montadora seria notabilizada também por derivar seu mix de produtos para outros segmentos, produzindo bicicletas, patins, tornos automáticos e máquinas de costura. Após o término da Primeira Guerra Mundial, a empresa decidiria encerrar a produção de automóveis, concentrando-se exclusivamente no segmento de caminhões leves e médio. Decisão esta que mostraria acertada pois nos anos seguintes, a empresa conquistaria 10% de participação em vendas de todos os caminhões fabricados nos Estados Unidos. Este sucesso lhe renderia recursos para ousar se arriscar no promissor mercado militar, que no início da década de 1930 face as tensões geopolíticas na Europa, começava a mostrar tendências de crescimento a curto e médio prazo. Estudos mais elaborados mostravam um potencial nicho de mercado no segmento de utilitários com tração integral, abordando uma aérea com menor concorrência do que a de caminhões convencionais de transporte. Com esta orientação a equipe de engenharia da empresa projetaria um veiculo de pequeno porte com 4X4 montado sobre a plataforma de uma picape civil da montadora, recebendo um sistema de blindagem leve, gerando proteção efetiva contra armas de baixo calibre. Este conceito seria apresentado em maio de 1934 ao Exército dos Estados Unidos (US Army), que demonstraria grande interesse por este veículo, encomendando a montadora um lote de setenta carros, que receberia a designação militar de  M-1 Scout Car. Seu uso operacional descortinaria uma serie de oportunidades de melhorias, que no ano seguinte se materializaria no modelo  M-2 Scout Car. Este novo utilitário apresentava um desing semelhante ao seu antecessor, porém apresentando dimensões maiores, pesando apropriadamente 3,95 toneladas, sendo alimentado por um motor a gasolina de 94 hp (70 kW), que lhe proporcionava uma velocidade máxima de 80 km/h. Este novo modelo receberia um contrato para produção de vinte carros destinados ao exército.

A partir do ano de fins do ano 1937, ficava cada vez mais evidente que o aumento das tensões politicas motivadas pelos interesses expansionistas da Alemanha Nazista e do Império do Japão, poderiam  as principais potenciais mundiais a ingressarem em larga escala em um novo conflito de ordem mundial. Neste hipotético cenário o governo norte-americano decidiria promover em regime de urgência, uma série de estudos que culminaram na elaboração e execução de um amplo programa de modernização e reequipamento de suas forças armadas. Dentre as principais demandas a ser atendidas em âmbito deste programa estava a necessidade de se promover a consolidação do processo de motomecanizaçao do Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo a aquisição de milhares de veículos de transporte. Neste momento a diretoria da White Motor Company, vislumbraria uma grande oportunidade mercadológica. Assim fazendo uso de recursos próprios esta montadora iniciaria o desenvolvimento de um novo veículo blindado de transporte médio com tração integral. Visando a agilidade no desenvolvimento e consequente redução de custos em processos e ferramental, a empresa utilizaria como base, a plataforma e o chassi da camionete civil White Indiana, adicionando a mesma uma estrutura blindada capaz de resistir a armas de baixo calibre. Este novo veículo seria concebido envolvendo o emprego do maior número possível de componentes  automotivos comerciais, concebendo assim ao veiculo um menor custo de aquisição e operação.  O primeiro protótipo designado como  M-2A1 Scout Car, seria apresentado ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em dezembro de 1937, gerando expectativas positivas de operação por parte dos oficiais avaliadores. Este movimento culminaria na  celebração de um contrato para a construção de um pequeno lote de carros para serem avaliados em um estruturado programa de testes de campo. Neste interim melhorias seriam implementadas ao utilitário resultando na versão de produção de série, que receberia a designação de M-3 Scout Car, com este carro estando equipado motor a gasolina Hercules JXD que lhe proporcionava 94 hp de potencia. Este modelo receberia um contrato inicial prevendo a aquisição de sessenta e quatro carros , que deveriam ser entregues em um curto espaço de tempo.
Atendendo ao cronograma previsto em contrato, os primeiros carros White M-3 Scout Car começariam a ser entregues em meados de 1938, com a  7ª  Brigada de Cavalaria do Exército dos Estados Unidos (US Army), baseada no Forte de Santa Marta no estado do Texas. Este grupamento militar seria escolhido para inicialmente concentrar todos os veículos deste modelo, visando assim estabelecer a doutrina operacional e o consequente processo de aceitação final, a fim de se liberar a distribuição destes utilitários blindados a mais unidades militares mecanizadas. Durante este processo seriam identificadas uma variada gama de modificações e melhorias, que após apresentadas a equipe de engenharia da White Motor Company, culminariam na nova versão designada como M-3A1 Scout Car. As diferenças externas com a versão inicial, se baseavam no  alargamento do corpo frontal sobre os para-lamas, remoção da porta de acesso traseira, inclusão do sistema “unditching roller”  (rolo dianteiro) montado na frente do para-choque para auxiliar na transposição de terrenos íngremes, e por fim adoção de  um trilho na carroceria permitindo o deslocamento por toda carroceria para uma  metralhadora Browning calibre .30 refrigerada a água para autodefesa. Esta nova versão seria submetida novamente a testes campos, recebendo sua consequente homologação operacional, resultando em novo contrato para a aquisição de oitocentos carros, com seu cronograma de entrega as unidades do exército sendo estabelecido entre fevereiro e junho do ano de 1940. Em seguida um primeiro contrato seria celebrado com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), com os primeiros carros sendo entregues em agosto do mesmo ano. Paralelamente seriam firmados também os primeiros contratos de exportação, sendo o primeiro realizado com o governo das Filipinas envolvendo cinquenta veículos.

Seu batismo de fogo ocorreria no dia 8 de dezembro de 1941, dez horas após o ataque a Pearl Harbor, quando as forças do  Exército Imperial Japonês invadiriam as Filipinas, com vários White M-3A1 Scout Car sendo empregados pelo  Exército Filipino (Philippine Constabulary) nos esforços de defesa deste arquipélago. Em serviço junto as forças militares norte-americanas os M-3A1 Scout Car veriam combate real durante a Operação Tocha, que  teve lugar em 8 de novembro de 1942, quando os Aliados desembarcaram no Norte da África. Já seus primeiros embates no território europeu correriam a partir de julho de 1943, participando da invasão da Sicília na Itália, durante a Operação Husky.  Nestas duas campanhas os White M-3A1 Scout Car seriam empregados por unidades de cavalaria em tarefas de transporte, reconhecimento, triagem e como veículo de comando blindado. Seu perfil operacional confiável que privilegiava a agilidade e velocidade, rapidamente o tornariam popular entre suas equipes. Na campanha do Pacífico os White M-3A1s seriam empregados com restrições junto ao Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) devido principalmente ao terreno aeronoso ou de mangue das ilhas do pacifico , realizando missões administrativas e de transporte longe do front de combate. Em meados de 1943, relatórios preliminares de experiência em combate real, evidenciavam as falhas do projeto, entre elas a mais grave, que estava baseada no fato de que o veículo possuía sua parte superior aberta o que o tornava muito vulnerável os soldados a ataques aéreos ou emprego de granadas de mãos e coquetéis molotov. Com base nesta deficiência a partir desta das os White M-3A1 Scout Car começaram a ser gradativamente substituídos nas linhas de frente pelos novos carros blindados Ford M-8 Greyhound e M-20 Command Car, com o excedente destes carros sendo mantidos como veiculos destinados a tarefas de transporte e ligação distante do front de combate.
Os White M-3A1 Scout Car,  seriam largamente fornecidos as nações aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, nos termos da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Leand & Lease Act Bill), entre estes China Nacionalista, Inglaterra, Brasil, Canadá e União Soviética (incluindo versões a diesel com motores Buda-Lanova). Durante o conflito , centenas destes utilitários seriam fornecidos também a forças militares não regulares de resistência, como as francesas, belgas, checoslovacas e polonesas. Após o término do conflito, uma grande quantidade deste modelo,  que foram retirados do serviço ativo das forças armadas norte-americanas, seriam exportados para a Austrália, Chile, Colômbia, República Dominicana (que operaria o modelo até o início da década de 1990), Líbano, Laos, Israel, México, Katanga, Noruega, Filipinas, Polônia, Vietnã do Sul, Iugoslávia e Venezuela. Os White M-3A1 Scout Car seriam empregados ainda em batalhas reais durante a Guerra da Coréia (1950 - 1953) e conflitos regionais como Guerra Árabe Israelense em 1948 (com versões modernizadas localmente), Primeira Guerra da Indochina e finalmente  na guerra da Argélia (1954-1962).

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país.  A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros, levaria o governo  a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.

Entre as maiores demandas das forças armadas brasileiras neste momento, estava a necessidade da implementação de uma real capacidade de mobilidade do tipo motomecanizada, principalmente  no Exército Brasileiro (lembrando que a força terrestre apresentava ainda predominância de característica hipomóvel), principalmente no que tange a veículos de porte médio com tração 4X4. Neste período, a representatividade neste segmento de veículos militares,  restringia-se a poucas unidades do carro alemão Vidal & Sohn Tempo G-1200, que estavam também obsoletos em termos de desempenho. Apesar da previsão de recebimento de grandes volumes de veículos militares utilitários  com tração 4X4,  como os Dodges dos modelos WC-51, WC-52, WC-56 e WC-57, faltava ainda a ao Exército Brasileiro , a adoção de um veículo utilitário blindado sobre rodas.  Esta necessidade seria atendida em um dos contratos de fornecimento de material militar norte-americano, com a previsão para a cessão  de noventa veículos White M-3A1 Scout Car, um modelo de categoria até então inédita no país. O utilitário apresentava um chassi de camionete, com quatro rodas motrizes de tração permanente, sendo impulsionado por um motor a gasolina Hercules JXD, desenvolvendo cerca de 94 hp de potência. Sua carroceria era composta por uma estrutura blindada em aço que se estendia por toda a carroceria, e podia acomodar até oito soldados totalmente equipados. Dispunha ainda de uma capota removível em lona, para a proteção contra as intempéries, sendo montada sobre três arcos na carroceria (de fácil instalação). Seu para-brisa frontal era do tipo blindado, sendo fixado em um anteparo móvel de aço, visando assim o aumento da proteção aos infantes, criando, porém, limitações de visibilidade para o motorista e chefe do carro. Toda este sistema de blindagem provia proteção adequada contra armas de pequeno calibre, sendo indicados para operação na linha de frente. Para sua autodefesa estava equipado ainda com duas metralhadoras Browning calibre .50, que podiam ser disparadas de qualquer lado do veículo, fazendo uso de um sistema de trilhos existente ao redor do veículo.
As primeiras viaturas deste modelo seriam recebidas no porto do Rio de Janeiro entre agosto e novembro de 1942, totalizando cinquenta e um veículos iniciais, novos de fábrica. Após recebimento, adaptação e treinamento de motoristas e mecânicos,  os  novos White Motors M-3A1 Scout Car,  passariam a ser  distribuídos, sendo inicialmente direcionados as unidades de artilharia leve do campo, para compor as baterias de canhões anti-carro auto rebocados, devendo ser responsáveis por tracionar os recém recebidos canhões norte-americanos M-3 e M-3A1 de 37 mm, atuando também nestes mesmos grupamentos  em atividades de movimentação e transporte das respectivas guarnições do canhões  e munição. Durante toda a Segunda Guerra Mundial, este utilitários seriam extensivamente empregados em exercícios operacionais, se mantendo em prontidão para possível emprego real em combate. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, seria estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Curiosamente os White Motors M-3A1 Scout Car não seriam disponibilizados aos efetivos brasileiros em atuação no front de batalha italiano. Logo após o término do conflito em agosto de 1945, mais trinta e nove carros seriam recebidos compondo o contrato total compromissado anteriormente. Neste época, o Ministério da Guerra promoveria um  amplo programa de reorganização do Exército Brasileiro, envolvendo neste processo alteração na designação de seus principais meios e veículos, e neste contexto os White M-3A1 Scout Car seriam enquadrados como Viatura Blindada de Transporte Pessoal - VBTP.  Sua excelente capacidade de operar em terrenos adversos e transpor obstáculos,  poderia auxiliar em muito nas missões de apoio logístico, sendo assim distribuídas as unidades militares de cavalaria mecanizada, espalhadas por todo território nacional.

Já nesta nova missão, os White Motors M-3A1 Scout Car, por estarem em disponíveis relativamente em grande quantidade, passariam a ser  extensivamente empregados em grandes exercícios operacionais nas duas décadas seguintes, tendo destaque para a grande manobra da "Divisão Blindada", realizada durante o ano de 1968 no interior do estado do Rio de Janeiro. Apesar de não terem sido enviados a Itália para participação das forças brasileiras durante a guerra, os M-3A1 Scout Car seriam operados por militares brasileiros em um cenário de conflagração real, quando veículos antes pertencentes ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seriam comodatados a ONU (Organização das Nações Unidas), para o empregos das Forças Multinacionais de Paz (UNEF - United Nations Emergency Force) no Egito. O Brasil participaria deste esforço, com vários contingentes de soldados brasileiros sendo enviados ao Oriente Médio para atuar como mediadores no conflito existente entre o Estado de Israel, o Egito, e seus vizinhos árabes a partir do ano de 1956 pela dominância de regiões do Canal de Suez. Estes veículos foram disponibilizados ao Exército Brasileiro nesta região a partir de 4 de fevereiro de 1957, quando os primeiros contingentes nacionais desembarcaram. Já em serviço, estes veículos blindados, foram empregados um amplo espectro missões envolvendo transporte, patrulha de fronteira, suporte a tarefas de limpeza de campos minados no deserto subjacente e de demarcação entre as forças árabes e israelenses. Neste contexto o White Motors M-3A1 Scout Car se tornaria um dos principais meios de transporte blindado leve dos efetivos multinacionais ali dispostos. Com o término da força tarefa e o retorno do ultimo contingente de soldados brasileiros em 1967, este carros seriam devolvidos ao comando da UNEF - SUEZ.
Em fins da década de 1960 os altos custos de manutenção e a crônica falta de peças de reposição (principalmente componentes do grupo motriz a gasolina cuja produção havia sido descontinuada a mais de 20 anos), praticamente reduziram a frota dos veículos blindados meia lagarta dos modelos M-2, M-2A1, M-3, M-3A1, M-5 Half Track Car e M-3A1 Scout Car, a pouquíssimas unidades operacionais, debilitando gravemente a capacidade de mobilidade do Exército Brasileiro. Então a fim de se buscar uma solução de curto prazo que visasse restaurar a capacidade de mobilidade da Força Terrestre de forma adequada, levando ao estudo de alternativas, com os especialistas do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2), passando a conduzir estudos visando a repotencialização da frota dos meia lagarta brasileiros, tendo como principal objetivo atingir o maior nível de nacionalização possível. Apesar de existirem tabus dentro do Exército Brasileiro sobre a real capacidade técnica em se proceder um repotenciamento neste nível, foi decidido dar prosseguimento a esta pauta. Fazendo uso de um carro meia lagarta M-2 do primeiro lote, como protótipo, os trabalhos seriam rapidamente iniciados, com o objetivo crucial de proceder a troca do motor original a gasolina, por um nacional a diesel, com a escolha recaindo sobre o modelo Perkins 6357  de 6 cilindros com 142 hp de potência. Desta maneira em agosto de 1972, o primeiro protótipo repotenciado pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em conjunto com técnicos da Perkins S/A, foi oficialmente entregue a Diretoria de Moto Mecanização (DMM), a fim de ser submetido a exaustivos testes de campo. Após a finalização destes, o protótipo recebeu sua homologação, recebendo então a autorização para a implementação deste programa em todos os veículos desta família ainda em carga no Exército Brasileiro. Esta modernização permitiu a extensão de sua vida útil até o início da segunda metade da década de 1980, quando foram finalmente retirados da ativa e substituídos novo modelos.

Em Escala.
Para representarmos o White Motors M-3A1 Scout Car a serviço do Exército Brasileiro, durante sua participação na Crise do Canal de Suez, fizemos uso do excelente kit da Zvezda na escala 1/35, que apresenta bom nível de detalhamento e facilidade de montagem. Empregamos ainda, decais confeccionados pela Eletric Products presentes no Set UNEF- SUEZ.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado em todos os veículos participantes das Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), principalmente durante a operacionalização da missão internacional UNEF - SUEZ (United Nation Emergencial Forces). Em uso normal no país, estes veículos empregariam durante toda a sua carreira no Exército Brasileiro o padrão tático de pintura em verde oliva. 

Bibliografia :

- M-3A1 Scout Car  O primeiro 4X4 no EB - Expedito Carlos S. Bastos http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/arq/Art%2096.htm 
- Blindados No Brasil - Volume I - Expedito Carlos S. Bastos 
- M3 Scout Car - Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M3_Scout_Car
- Batalhão Suez - http://www.batalhaosuez.com.br/

Studebaker US6 G-630 (VTNE)


História e Desenvolvimento.
Fundada em 1852 na cidade de South Bend, Indiana, a Studebaker Brothers Manufacturing Company figura entre as mais antigas montadoras norte-americanas, marcando sua história com uma notável capacidade de adaptação e inovação. Inicialmente dedicada à produção de carroças, carruagens e, posteriormente, implementos ferroviários e vagões, a empresa encontrou terreno fértil para seu crescimento durante a expansão da malha ferroviária nos Estados Unidos no século XIX. Esse período de desenvolvimento consolidou sua reputação como uma referência em manufatura de qualidade. Em 1895, a pedido do genro de John M. Studebaker, a empresa deu um passo visionário ao iniciar estudos para o desenvolvimento de uma “carruagem sem cavalos”. Após análises, a Studebaker optou por focar em veículos elétricos, lançando a linha Studebaker Electric, produzida entre 1902 e 1911. Essa escolha refletia a ousadia da empresa em explorar tecnologias emergentes, embora os desafios técnicos da época limitassem o alcance dessa iniciativa. Paralelamente, a Studebaker firmou parcerias estratégicas com as empresas Garford, de Elyria, Ohio, e Everitt-Metzger-Flanders (E-M-F), de Detroit e Walkerville, Ontário, para a fabricação e distribuição de veículos movidos a gasolina. Em 1904, em colaboração com a Garford, a empresa passou a produzir automóveis a gasolina, marcando a transição para a Studebaker Automobile Company. Os anos seguintes foram desafiadores, com crises técnicas que demandaram esforços significativos para aprimorar os modelos e atender às expectativas do exigente mercado norte-americano. Contudo, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) representou um divisor de águas para a companhia. Durante o conflito, a Studebaker recebeu encomendas expressivas das forças armadas britânicas, incluindo 3.000 vagões de transporte, 20.000 conjuntos de arnês de artilharia, 60.000 selas de artilharia, ambulâncias e centenas de automóveis adquiridos por meio de seu escritório em Londres. Contratos com forças francesas e russas complementaram essas receitas, impulsionando a transformação da Studebaker em uma das líderes mundiais no setor automotivo. Em 1918, suas instalações industriais alcançaram a impressionante capacidade de produzir até 100.000 automóveis por ano, um feito notável para a época. Buscando diversificar sua gama de produtos, a empresa ingressou no segmento de caminhões em 1919, conquistando rapidamente uma posição sólida nesse mercado. A qualidade e a confiabilidade de seus veículos comerciais geraram maior lucratividade, consolidando a Studebaker como uma força inovadora e resiliente no cenário industrial. Sua trajetória reflete não apenas o empreendedorismo de seus fundadores, mas também a capacidade de se adaptar às demandas de um mundo em constante transformação.

A quebra da bolsa de valores de Wall Street, em outubro de 1929, marcou um período de adversidade sem precedentes para a indústria norte-americana. Poucos empresários estavam preparados para enfrentar as consequências devastadoras da crise econômica que se seguiu. A Studebaker Automobile Company, apesar de seu crescimento em produção e vendas até então, não escapou dos impactos do colapso do mercado. Em resposta, a empresa direcionou seus esforços para o desenvolvimento do Rockne, um automóvel compacto e acessível, projetado para atender a um público afetado pela crise. Contudo, as condições econômicas eram tão severas que mesmo veículos de baixo custo enfrentaram dificuldades de comercialização. Diante desse cenário, a Studebaker foi forçada a rever sua estratégia. Medidas como redução de salários e cortes de empregos foram implementadas, enquanto conflitos internos na diretoria culminaram na demissão do presidente Albert R. Erskine. A liderança foi assumida por executivos com uma abordagem mais conservadora, focada na contenção de custos. Essa reorientação estratégica começou a render frutos em meados de 1933, quando a empresa alcançou os primeiros sinais de recuperação econômica. Esse progresso permitiu a reativação de suas plantas industriais e o lançamento de novos modelos de automóveis, como o Champion, o Land Cruiser e o Starlight, que rapidamente conquistaram o mercado, consolidando a retomada da Studebaker como uma força competitiva no setor automotivo. No final de 1937, o agravamento das tensões geopolíticas, impulsionadas pelos interesses expansionistas da Alemanha Nazista e do Império do Japão, sinalizava a iminência de um novo conflito global. Antecipando-se a esse cenário, o governo dos Estados Unidos lançou um programa urgente de modernização e reequipamento de suas forças armadas, com foco no aumento da mobilidade das tropas terrestres. Um dos principais objetivos era substituir os antigos caminhões militarizados com tração 4x2 e 4x4, produzidos por empresas como a Ford Motor Company e a General Motors Corporation, que estavam em uso desde o início da década de 1920 e já não atendiam às demandas de um exército moderno. Para atender a essa necessidade, o Exército dos Estados Unidos abriu uma concorrência nacional com o objetivo de desenvolver e produzir em larga escala um caminhão tático com tração 6x6, capaz de transportar 2,5 toneladas (2.238 kg) em terrenos adversos. Esse veículo deveria operar com eficiência em ambientes fora de estrada, garantindo maior versatilidade e robustez às operações militares. A iniciativa marcou um momento crucial na preparação dos EUA para os desafios de um conflito iminente, e a Studebaker, com sua expertise em manufatura e experiência prévia com contratos militares durante a Primeira Guerra Mundial, posicionou-se como uma candidata promissora para contribuir com esse esforço de modernização.
Em junho de 1939, em meio ao crescente clima de tensão na Europa devido às anexações territoriais promovidas pelo regime nazista, montadoras norte-americanas como a International Harvester Company, a Studebaker Automobile Company e a Yellow Coach Corporation (subsidiária da General Motors) apresentaram ao Exército dos Estados Unidos seus projetos técnicos e propostas comerciais para o desenvolvimento de caminhões táticos. O iminente risco de um conflito global levou o governo norte-americano, em agosto do mesmo ano, a aprovar todas as propostas submetidas, com a ressalva de que os maiores contratos de aquisição fossem direcionados à Yellow Coach Corporation, para a produção da família GMC CCKW, e à Studebaker Automobile Company, para a fabricação da linha US6 6x6. Essa decisão refletiu a urgência de modernizar as forças armadas dos EUA, garantindo veículos robustos e versáteis para atender às demandas de um cenário de guerra iminente. O Studebaker US6 6x6 foi projetado com foco em robustez e confiabilidade, características essenciais para operações em terrenos adversos e ambientes de combate. Sua concepção priorizava a facilidade de manutenção em campo, permitindo reparos sem a necessidade de uma infraestrutura técnica complexa. O veículo era equipado com o motor a gasolina Hercules JXD de seis cilindros em linha, que desenvolvia 86 hp (64 kW) a 2.800 rpm e 271 Nm de torque a 1.150 rpm. Esse motor, de configuração conservadora e taxa de compressão de 5,82, destacava-se pela confiabilidade e pela padronização com outros veículos militares, como os blindados meia-lagarta White M-3, o veículo leve Ford M-8 Greyhound e o M-20 Command Car. Essa comunalidade facilitava a logística de peças de reposição, um fator crítico para a eficiência operacional das forças mecanizadas norte-americanas. O chassi do US6 6x6, estruturado em formato de escada com três eixos, contava com um sistema de suspensão robusto, composto por molas semi-elípticas na dianteira e um sistema elíptico em tandem na traseira. Disponível em duas distâncias entre eixos, o caminhão era oferecido em configurações versáteis, incluindo versões basculante, carga seca e semi-reboque. Além disso, o modelo era produzido em duas variantes principais: uma com tração integral 6x6, ideal para operações fora de estrada, e outra com tração 6x4, voltada para uso rodoviário. As carrocerias abrangiam uma ampla gama de funções, como transporte de cargas e tropas, cisterna de água, tanque de combustível, veículo de socorro e basculante, garantindo flexibilidade para atender às diversas necessidades do Exército dos EUA. A aprovação do Studebaker US6 6x6 e sua subsequente produção em larga escala representaram um marco na preparação militar dos Estados Unidos. A colaboração entre a Studebaker e outras montadoras demonstrou o compromisso da indústria norte-americana em fortalecer as forças armadas, fornecendo veículos que combinaram inovação, durabilidade e praticidade.

Em um esforço para otimizar a produção e reduzir custos, os engenheiros da Studebaker Automobile Company optaram por incorporar ao Studebaker US6 6x6 a cabine de seu modelo civil com tração 4x4, já comercializado pela montadora. Essa decisão estratégica agilizou a fabricação em larga escala, aproveitando componentes existentes e garantindo eficiência nas linhas de montagem. Seguindo o exemplo dos caminhões GMC CCKW, foi planejada uma variante com cabine aberta, equipada com um sistema rebatível de lona (soft top), ideal para operações em climas mais amenos. Contudo, essa configuração não foi amplamente produzida, uma vez que o governo norte-americano priorizou o atendimento aos contratos do programa Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), especialmente com a União Soviética. As rigorosas condições climáticas do inverno soviético tornavam a cabine aberta inadequada, levando à preferência pela cabine civil convencional, mais robusta e apropriada para proteger os operadores em ambientes extremos. Apesar disso, cerca de 10.000 unidades do US6 com cabine aberta foram produzidas para as forças armadas dos Estados Unidos, principalmente para o Exército, sendo destinadas a teatros de operações com climas moderados, como o Norte da África e partes do Pacífico. Essas viaturas demonstraram a versatilidade do projeto, adaptando-se às necessidades específicas de diferentes frentes de combate. Os primeiros caminhões Studebaker US6 destinados à União Soviética foram transportados por navio até o Irã, percorrendo a seguir uma árdua jornada terrestre pelo Corredor Persa, uma rota estratégica que conectava o Golfo Pérsico à fronteira soviética. As primeiras unidades chegaram no outono de 1941, marcando o início de uma contribuição significativa ao esforço de guerra aliado. O US6 tornou-se o principal veículo pesado do Exército Vermelho, que se consolidou como o maior operador mundial do modelo. Sua versatilidade foi comprovada em diversas funções, incluindo transporte de tropas e cargas, reboque de peças de artilharia e até como base para os lançadores de foguetes não guiados Katyusha, que desempenharam um papel icônico na resistência soviética. Conhecido afetuosamente como “Studer” pelas tropas soviéticas, o US6 conquistou respeito por sua robustez, confiabilidade e facilidade de manutenção em condições adversas. Sua importância foi tamanha que o líder soviético Joseph Stalin reconheceu publicamente o impacto do veículo, enviando uma carta de agradecimento ao governo dos Estados Unidos e à Studebaker Automobile Company. Nela, Stalin destacou a relevância do US6 Studebaker na Grande Guerra Patriótica, enfatizando como os caminhões contribuíram para a vitória contra a Alemanha Nazista.
Entre 1940 e 1945, a produção do caminhão Studebaker US6 6x6 alcançou a impressionante marca de 219.882 unidades, distribuídas em treze versões com chassis e carrocerias especializadas, projetadas para atender às diversas demandas do Exército dos Estados Unidos e seus aliados. Desse total, 197.678 caminhões foram fabricados nas linhas de produção da Studebaker Automobile Company, em South Bend, Indiana, enquanto 22.204 unidades foram produzidas sob licença pela R.E. Olds Motor Car Company, em sua planta industrial em Lansing, Michigan. As versões licenciadas eram praticamente idênticas às fabricadas pela Studebaker, com a principal diferença sendo a ausência do gancho hidráulico frontal de carga, uma característica distintiva dos modelos originais. Embora o US6 tenha sido menos utilizado pelo Exército dos Estados Unidos em comparação com o modelo GMC CCKW 352-353, sua contribuição deixou uma marca indelével em operações estratégicas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os caminhões US6 desempenharam um papel crucial na construção da Estrada da Birmânia (1939-1941), uma façanha logística que conectou a China à Índia e à Birmânia (atual Mianmar). Essa rodovia foi essencial para o transporte de suprimentos dos Aliados à resistência chinesa contra a ocupação japonesa, garantindo o fluxo de recursos vitais em um dos teatros de guerra mais desafiadores. Além disso, o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Corps of Engineers) empregou o US6 na construção da Estrada Alcan, na América do Norte, transportando equipamentos, suprimentos e pessoal para essa obra monumental, que conectou os Estados Unidos ao Alasca, fortalecendo a defesa do continente. Com o fim do conflito, os caminhões US6 começaram a ser desmobilizados do Exército dos Estados Unidos, sendo armazenados em grande quantidade para futura redistribuição. Por meio de programas de ajuda e cooperação militar, milhares dessas viaturas foram cedidas a nações aliadas, conhecidas como “nações amigas”. Em muitos desses países, os US6 permaneceram em serviço até o final da década de 1960, quando começaram a ser gradualmente substituídos por modelos mais modernos, como os REO M-34 e REO M-35, que incorporavam avanços tecnológicos e maior adequação às novas demandas militares. A longevidade do Studebaker US6 reflete não apenas a robustez de seu projeto, mas também o impacto duradouro de sua contribuição no esforço de guerra aliado. Sua presença em operações logísticas cruciais, como as Estradas da Birmânia e Alcan, e sua subsequente distribuição a nações aliadas ilustram o papel vital que a Studebaker desempenhou na construção de pontes – tanto literais quanto figurativas – entre nações em um período de desafios globais. O legado desses caminhões permanece como um símbolo de resiliência, colaboração e inovação industrial.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Esta possibilidade se clarificaria quando a França capitulou em junho de 1940, pois a partir deste momento a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, proporcionando um trampolim para uma provável invasão do continente. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável para o lançamento desta campanha, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão.  Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul, tornariam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral brasileiro se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, pois mais notadamente a cidade de Recife se postava como ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Desta maneira poderia ser estabelecido nesta localidade uma ponte para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário resultaria logo sem seguida um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, gerando uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil que estava sendo potencializada pelo comercio exterior com o Estados Unidos, transportando diariamente matérias primas para a indústria de guerra daquele país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmaria que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e possivelmente figurava entre seus planos uma participação mais destacada junto aos aliados envolvendo o emprego de tropas em algum importante teatro de operações  do conflito.   

Na década de 1940, durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro enfrentava um cenário de significativa obsolescência em seus armamentos e equipamentos. Entre suas maiores carências estava a escassez de caminhões militares com tração integral 4x4 e 6x6, essenciais para operações em terrenos variados e para atender às demandas logísticas de um conflito moderno. Os poucos veículos disponíveis eram, em sua maioria, caminhões civis leves adaptados para uso militar, como os modelos Chevrolet Gigante (Flatbed Truck), Chevrolet Tigre, Dodge T-203 e Ford V8. Esses eram complementados por um número limitado de veículos genuinamente militares, como os alemães Henschel & Son 6x6 e os americanos Thornycroft Tartar 6x4, insuficientes para suprir as necessidades operacionais. Nesse contexto, a adesão do Brasil ao programa Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo) representou um marco transformador. O programa previa a cessão de aproximadamente 4.000 caminhões militares, dos quais a maioria possuía tração 4x4, projetando assim uma respeitável frota a fim de atender às exigências de mobilidade e versatilidade das Forças Armadas Brasileiras. Dentre os veículos de maior porte, com tração 6x6, foram fornecidos 1.445 caminhões da família GMC CCKW dispostos em uma ampla gama de versões básicas e especializadas, como: Cisterna de Água: Para abastecimento em áreas remotas, Tanque de Combustível: Para suporte logístico de combustível;  Oficina Móvel: Para manutenção de equipamentos em campo;  Veículo de Socorro: Para recuperação de veículos avariados. Compressor de Ar, Telêmetro, Holofote, Guindaste e Cavalo Mecânico: Em virtude da priorização das linhas de produção da Studebaker Automobile Company para atender às urgentes demandas do Exército Vermelho da União Soviética no front oriental do conflito, a entrega dos caminhões Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4, destinados ao Brasil no âmbito do programa Lend-Lease Act, foi iniciada apenas no primeiro bimestre de 1943. Esses veículos, essenciais para a modernização do Exército Brasileiro, começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro em lotes sucessivos, com o processo de recebimento estendendo-se até meados de 1945. Registros históricos indicam que a Força Terrestres recebeu entre 808 e 830 unidades, embora haja divergências nos números oficiais da época, refletindo os desafios de documentação em um período de intensas operações globais. Já portando as marcações nacionais estes seriam inicialmente distribuídos as unidades militares dispostas no Rio de Janeiro e São Paulo, com a missão primordial formar motoristas e pessoal de manutenção para a frota. 
Após a conclusão do processo de entrega, iniciado em 1943 e finalizado em meados de 1945, os caminhões Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4 começaram a ser distribuídos às unidades do Exército Brasileiro, com ênfase nas formações de infantaria motorizada espalhadas pelo território nacional. Designados oficialmente como VTNE Carga Emprego Geral 2½ Ton 6x4 Cabine Fechada, esses veículos foram, de forma gradual, alocados preferencialmente a grupamentos operando em regiões distantes das principais capitais estaduais. Essa decisão estratégica foi motivada pela capacidade do US6 G-630 de operar em áreas com infraestrutura limitada, uma característica essencial para atender às necessidades logísticas do interior do Brasil na década de 1940. O desempenho excepcional desses caminhões era impulsionado pelo robusto motor Hercules a gasolina, de seis cilindros em linha, quatro tempos e 5.240 cc, que entregava 95 cv a 2.400 rpm. Esse motor se destacava por sua capacidade de operar com gasolina de baixa qualidade, comum nas regiões mais remotas do país à época, reduzindo significativamente a incidência de problemas mecânicos em comparação com outros modelos em uso pelo Exército Brasileiro. Assim como observado na União Soviética, onde o US6 Studebaker se tornou um pilar do Exército Vermelho Soviético, os caminhões brasileiros demonstraram notável adaptabilidade à precária malha viária do interior do país. Com desempenho confiável em terrenos irregulares, o US6 G-630 alcançava uma velocidade máxima de 70 km/h e uma autonomia de até 400 km sem reabastecimento, características que o tornavam ideal para operações em áreas desafiadoras. A chegada dos Studebaker US6 G-630, em conjunto com os caminhões da família GMC CCKW 352 e 353 com tração integral 6x6, marcou uma transformação significativa no Exército Brasileiro. Até então, as unidades de logística e infantaria motorizada dependiam de caminhões militarizados obsoletos de pequena capidade de transporte e principalmente  insuficientes em números, como os Chevrolet 6000, 6500, G-617, Diamond T-614 e Citroën 1930, todos com tração 4x4 e limitações operacionais. A introdução desses novos veículos trouxe uma capacidade de motomecanização sem precedentes, ampliando consideravelmente a mobilidade e a eficiência das operações militares. Essa modernização não apenas fortaleceu a prontidão do Exército Brasileiro para enfrentar possíveis ameaças, mas também consolidou sua capacidade de atuar em um vasto território com condições adversas. Esta incorporação de uma variada gama de caminhões de transporte possibilitaria a modernização das doutrinas operacionais nas unidades de apoio e logística, se adequando a nova realidade da guerra altamente móvel que se apresentava no conflito europeu. 

Seriam empregados em missões de transporte de cargas, transporte de tropas, reboque de peças de artilharia e tração de sistemas de busca e orientação antiaérea. Ao todo o Exército Brasileiro seria equipado com tres versões distintas desta família como o    Studebaker G-630 US-6U3  6×4 (VTNE Carga Emprego Geral 1 ½ Ton EB-21), Studebaker G-630 US-6U4  6×6 (VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ ton 6x6 cabine fechada/aberta EB-21) e VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ ton 4x4 EB-21. Com o término da Segunda Guerra Mundial, os caminhões Studebaker US6 G-630 continuaram a desempenhar suas funções no Exército Brasileiro com notável eficiência, contribuindo para as operações de logística e transporte em unidades de infantaria motorizada, especialmente em regiões remotas do país. No entanto, a partir de meados da década de 1960, essa frota começou a enfrentar desafios crescentes, marcados por elevados índices de indisponibilidade operacional. A principal causa era a dificuldade em obter peças de reposição para os motores a gasolina Hercules JXD de seis cilindros em linha, descontinuados há mais de duas décadas. Essa escassez também afetava os blindados leves Ford M-8 Greyhound, que utilizavam o mesmo grupo motriz, criando um problema compartilhado que impactava a prontidão da Força Terrestre. Este mesmo problema também era observado junto a frota de viaturas blindadas de transporte de pessoal meia lagarta M-2, M-3 e M-5 e neste sentido seriam conduzidos estudos visando a remotorização destas viaturas pelo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2). Este processo se mostraria exitoso levando a esta mesma organização a implementar este processo junto a frota de blindados sobre rodas  Ford M-8 Greyhound, substituindo o motor original a gasolina Hercules JXD. por um motor diesel nacional Mercedes-Benz OM 321, de seis cilindros em linha e 121 cv a 2.800 rpm. Essa iniciativa demonstrou a capacidade técnica do Exército Brasileiro de adaptar seus equipamentos às limitações impostas pelo tempo. Por empregar o mesmo motor utilizado nos Studebaker US6 G-630, chegou a cogitar a implementação deste programa junto a uma parcela desta frota. Contudo, o Comando do Exército optou por não replicar esse programa de modernização na frota remanescente dos Studebaker US6 G-630. A decisão foi fundamentada em dois fatores principais: a tração 6x4 desses caminhões (que compunham a maior parcela deste modelo), considerada menos versátil para operações em terrenos adversos em comparação com os modelos 6x6, e o número reduzido de unidades ainda em operação, especialmente quando comparado à frota significativamente maior de caminhões GMC CCKW 352 e 353, recebidos em quantidades muito superiores durante a década de 1940. 
Em vez de investir na modernização dos US6 G-630, o Exército Brasileiro direcionou seus recursos para um programa de retífica e revisão dos motores de pelo menos 600 caminhões GMC CCKW. Esse esforço de manutenção permitiu que essas viaturas permanecessem em serviço ativo até o início da década de 1980, assegurando a continuidade das operações logísticas com maior eficiência e economia. A escolha refletiu uma abordagem pragmática, priorizando a frota mais numerosa e versátil, capaz de atender às demandas estratégicas do Exército Brasileiro por um período mais prolongado. Diante da decisão de priorizar a manutenção da frota de caminhões GMC CCKW, o Comando do Exército Brasileiro estabeleceu, na década de 1960, um processo gradual de desativação da frota de Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4, que já apresentava sérias limitações devido à escassez de peças de reposição e à obsolescência de seus motores Hercules JXD. Esse processo marcou a transição para uma nova geração de veículos militares, com a substituição dos US6 G-630 pelos modernos REO M-34 e REO M-35, recebidos entre 1958 e 1965, e por caminhões militarizados de produção nacional, como os Mercedes-Benz L-1111, L-1113, L-1114, Chevrolet C-60, D-60 e Ford F-600. Esses novos modelos, mais adaptados às exigências contemporâneas, trouxeram maior confiabilidade e eficiência às operações logísticas do Exército. Os últimos Studebaker US6 G-630 permaneceram em serviço ativo até o final da década de 1960, sendo utilizados principalmente pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), no Rio de Janeiro. Sua presença na AMAN, uma instituição central na formação de oficiais do Exército Brasileiro, simbolizou a resiliência desses veículos, que, apesar dos desafios, continuaram a cumprir suas missões até o limite de sua vida útil. Com a desativação definitiva, centenas de caminhões foram leiloados, destinados ao sucateamento para aproveitamento de matéria-prima, encerrando assim uma trajetória de serviço que marcou a modernização militar brasileira. Felizmente, a história dos Studebaker US6 G-630 não se perdeu completamente. Graças à dedicação de entusiastas, colecionadores e preservacionistas, alguns exemplares sobreviveram até os dias atuais, mantidos como relíquias de um período de transformação e colaboração internacional.

Em Escala.
Para representarmos o Studebaker G-630 US-6 fizemos uso do antigo kit da ICM na escala 1/35, modelo este de detalhamento médio e fácil montagem.  Como opção alternativa sugerimos o uso do  novo kit da Italeri na mesma escala. Para se compor a versão utilizada pelo Exército Brasileiro não é necessário proceder nenhuma mudança. Fizemos  uso de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set  "Exército Brasileiro  1942/1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, com os quais estes caminhões foram recebidos a partir de 1943. Seriam posteriormente aplicados apenas o escudo nacional e registros de matricula de frota, com este esquema sendo  mantido durante toda sua carreira operacional no Brasil.

Bibliografia :
- Studebaker US6 – Wikipedia -  https://en.wikipedia.org/wiki/Studebaker_US6
- FEB na Segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa Monteiro - Decals e Books
- Blindados no Brasil - Volume I, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976