REO M-35A2 e M-813 (VTNE - VTE)


História e Desenvolvimento. 
Em agosto de 1897, Ransom Eli Olds, um engenheiro e designer de automóveis movido por uma paixão incansável pela inovação, fundou a Olds Motor Vehicle Company na cidade de Lansing, Michigan. Esse marco deu origem à marca Oldsmobile, que, ao longo das décadas, se tornaria sinônimo de excelência no mercado automotivo, conquistando o imaginário global com seus icônicos carros de passeio. A Oldsmobile não foi apenas uma empresa – foi a expressão do sonho de Olds de transformar a mobilidade, conectando pessoas e comunidades por meio de veículos confiáveis e elegantes. Em 1904, com a Oldsmobile já consolidada, Ransom Eli Olds decidiu embarcar em um novo desafio empresarial. Em parceria com outros empreendedores, ele fundou a REO Motor Car Company, na qual detinha 52% do capital acionário e assumiu os papéis de presidente e gerente geral. Para focar nessa nova empreitada, Olds tomou a difícil decisão de deixar a Olds Motor Vehicle Company em 1905, confiando que sua visão continuaria a prosperar em novas mãos. A REO, batizada com as iniciais de seu fundador, tornou-se o próximo capítulo de sua jornada, marcada pela mesma determinação que o levou a revolucionar a indústria automotiva. Para garantir a eficiência e a qualidade da REO, Olds demonstrou sua visão estratégica ao estabelecer empresas subsidiárias dedicadas à produção de componentes essenciais. A National Coil Company, a Michigan Screw Company e a Atlas Drop Forge Company foram criadas para formar uma cadeia de suprimentos confiável, reduzindo a dependência de fornecedores externos e assegurando a robustez dos veículos REO. Essa abordagem refletia não apenas sua perspicácia empresarial, mas também seu compromisso com a criação de empregos e o fortalecimento da economia local em Michigan. Inicialmente, Olds planejou nomear sua nova empresa como “R.E. Olds Motor Car Company”. Contudo, uma disputa legal movida pela Olds Motor Vehicle Company, que alegava confusão potencial entre os nomes devido à semelhança fonética, levou à mudança para “REO”. A partir de então, a marca REO, escrita em letras capitais ou, em algumas ocasiões, como “Reo”, tornou-se um símbolo de inovação e qualidade, estampada em veículos e materiais promocionais que conquistariam admiradores nos Estados Unidos e além. Em 1905, a REO lançou seu primeiro modelo, o Reo Speed-Wagon, um precursor das picapes modernas que combinava funcionalidade com design prático. O sucesso inicial do Speed-Wagon trouxe resultados animadores, consolidando a REO como uma força ascendente no mercado automotivo. Em 1907, a empresa alcançou um faturamento bruto superior a 4,5 milhões de dólares, posicionando-se entre as quatro maiores montadoras dos Estados Unidos. Esse êxito foi impulsionado pela dedicação de Olds e de sua equipe, que trabalhavam incansavelmente para expandir o portfólio da empresa com modelos que atendiam às necessidades de um público diversificado. Apesar do sucesso inicial, a partir de 1908, a REO enfrentou desafios crescentes devido à concorrência de montadoras emergentes, como a Ford Motor Company e a General Motors. Mesmo com a introdução de carros mais modernos e luxuosos, a participação de mercado da REO começou a declinar, exigindo adaptação e inovação contínuas para manter sua relevância. Em 1910, a REO estabeleceu uma divisão dedicada à fabricação de caminhões, com uma planta industrial localizada em St. Catharines, Ontário, Canadá. Essa iniciativa ampliou o alcance da empresa, atendendo à crescente demanda por veículos utilitários. Um dos episódios mais memoráveis da história da REO ocorreu em 1912, com a épica viagem Trans-Canadá. Um carro de turismo especial REO de 1912 percorreu 4.176 milhas (6.720 km) de Halifax, Nova Escócia, a Vancouver, Colúmbia Britânica, demonstrando a durabilidade e a confiabilidade dos veículos da marca. 

Em 1915, Ransom Eli Olds passou o cargo de gerente geral a seu protegido, Richard H. Scott, e, em 1923, deixou a presidência, mantendo-se como presidente do conselho. Sua saída da liderança operacional marcou o fim de uma era, mas seu legado continuou a guiar a empresa. Nesse mesmo ano, a REO lançou o “Motor Pullman Car”, um veículo recreativo pioneiro, conhecido popularmente como motorhome. Esse modelo conquistou uma fatia significativa do mercado, refletindo a capacidade da REO de antecipar tendências e atender às aspirações de uma sociedade em busca de novas formas de mobilidade e lazer. Entre 1915 e 1925, sob a liderança de Richard H. Scott, a REO Motor Car Company desfrutou de um período de alta lucratividade, consolidando sua posição no competitivo mercado automotivo norte-americano. Esse sucesso inspirou a empresa a lançar um ambicioso programa de expansão, projetado para ampliar sua competitividade ao oferecer carros de passeio em diversas faixas de preço, acessíveis a diferentes classes sociais. Modelos como o Reo Flying Cloud, lançado em 1927, e o sofisticado Reo Royale 8, introduzido em 1928, alcançaram êxito comercial, conquistando admiradores pela combinação de design e desempenho. Contudo, o programa de expansão revelou-se insustentável, culminando em um retumbante fracasso agravado pela Grande Depressão de 1929, que abalou profundamente a indústria automotiva dos Estados Unidos. As consequências da Grande Depressão foram devastadoras, trazendo perdas financeiras severas para a REO e para toda a cadeia produtiva automotiva. Diante desse cenário crítico, Ransom Eli Olds, fundador da empresa, interrompeu sua aposentadoria em 1933, reassumindo o comando com a determinação de reverter os resultados negativos. Com sua visão estratégica e experiência, Olds conseguiu, em um curto espaço de tempo, estabilizar as finanças da companhia, reacendendo a esperança entre trabalhadores e investidores. Sua liderança foi um farol em tempos de incerteza, mas, fiel ao seu legado de delegar responsabilidades, ele se retirou novamente do comando no final de 1934, deixando a empresa em bases mais sólidas. Nesse período, análises mercadológicas revelaram a necessidade de uma mudança estratégica. Em 1936, a REO tomou a decisão de abandonar a produção de carros de passeio, concentrando-se exclusivamente no mercado de caminhões, onde já vinha obtendo resultados promissores desde 1934. Modelos como o REO Fire Truck, voltado para bombeiros, e, a partir de 1936, o REO Bus e o REO Speed Wagon Truck, destacaram-se pela robustez e versatilidade, conquistando a confiança de clientes comerciais. Esses veículos não eram apenas máquinas – eram ferramentas que apoiavam comunidades, desde o combate a incêndios até o transporte público, refletindo o compromisso da REO com a funcionalidade e o serviço. Apesar dos sucessos no segmento de caminhões, a REO enfrentou problemas de gestão que geraram instabilidade financeira e fiscal. No início de 1939, a empresa atingiu seu ponto mais crítico, com a interrupção da linha de produção devido à inadimplência com fornecedores, que comprometeu o fluxo de componentes. Esse momento de dificuldade testou a resiliência dos trabalhadores, que, mesmo diante da incerteza, mantiveram a esperança de um recomeço.
A virada veio em 1940, impulsionada pelo agravamento das tensões geopolíticas na Europa e no Sudeste Asiático. Antecipando a possibilidade de envolvimento na Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos implementou medidas para fortalecer sua indústria automotiva, visando preparar a cadeia produtiva para o reequipamento das forças armadas. Nesse contexto, os credores da REO receberam aportes governamentais, permitindo à empresa recuperar sua capacidade produtiva. Esse apoio foi mais do que financeiro – foi um reconhecimento do potencial da REO para contribuir com o esforço nacional, reacendendo o orgulho de seus funcionários. A partir de meados de 1941, a REO Motor Car Company integrou-se plenamente ao esforço de guerra norte-americano, redirecionando suas linhas de produção para a fabricação de componentes militares, incluindo motores e caminhões de porte médio para diversas aplicações. Um dos destaques foi a produção do Studebaker US6 2½-ton 6x6 truck, um caminhão robusto que se tornou essencial para a logística militar. A REO entregou mais de 22 mil unidades desse modelo, muitas destinadas à União Soviética sob os termos do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). O término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, trouxe à REO Motor Car Company um momento de estabilidade financeira há muito não experimentado, resultado de sua intensa participação no esforço de guerra norte-americano. A produção de caminhões militares, como o Studebaker US6, havia fortalecido a empresa, mas, com o fim do conflito, a demanda por esses veículos diminuiu gradualmente, exigindo uma reorientação estratégica. Para os trabalhadores da REO, que haviam dedicado longas horas às linhas de produção durante a guerra, esse novo cenário representava tanto um desafio quanto uma oportunidade de redefinir o futuro da companhia, mantendo viva a chama da inovação que sempre a caracterizou. Reconhecendo a necessidade de diversificar suas operações, a REO lançou, em 1946, uma divisão industrial dedicada à produção de cortadores de grama movidos a gasolina. Essa decisão, aparentemente simples, revelou-se uma estratégia visionária. Os cortadores de grama garantiram lucros consistentes e um fluxo de caixa positivo, sustentando a empresa durante os três anos seguintes, marcados por uma significativa redução nas vendas de caminhões. Para os funcionários, essa nova linha de produção não era apenas uma fonte de renda – era um símbolo de adaptação, permitindo que a REO atravessasse um período de incerteza com resiliência e esperança. O aprendizado adquirido com a fabricação de caminhões militares sob licença durante a guerra inspirou a liderança da REO a reinvestir no segmento de veículos pesados. Antecipando a necessidade iminente de renovação da frota militar norte-americana, a empresa destinou recursos próprios ao desenvolvimento de uma nova família de caminhões de transporte pesado com tração integral. Essa aposta refletia a confiança dos engenheiros e gestores da REO em sua capacidade de inovar, bem como o compromisso de atender às demandas de um mercado em transformação. No final da década de 1940, o Exército dos Estados Unidos lançou uma concorrência para o desenvolvimento de um novo caminhão militar com tração 6x6, destinado a substituir a frota envelhecida de modelos como o GMC CCKW 353 e o Studebaker US-6G, que apresentavam sinais de desgaste e obsolescência. Esse programa representava uma oportunidade de grande relevância, com um contrato que prometia revitalizar a indústria automotiva militar. 

Diversas montadoras apresentaram propostas, mas o projeto conceitual da REO, centrado no caminhão M-34, destacou-se pela sua ousadia e inovação, capturando a atenção dos militares. Equipado com um sistema de trânsito subaquático, o M-34 podia atravessar rios e lagos por até quatro horas, utilizando um snorkel para o motor e um escapamento estendido. Essa capacidade, incomum para a época, desafiava as convenções e posicionava o M-34 como uma das maiores inovações no universo dos caminhões, um legado que permanece admirado até hoje. Alimentado por um motor a gasolina OA-331 Continental I-6, o veículo era capaz de transportar até duas toneladas e meia, destacando-se especialmente em operações fora de estrada, onde sua tração integral 6x6 garantia desempenho excepcional. Um primeiro lote de produção pré-série seria contratado, com estes caminhões sendo destinados a um extenso programa de testes de campo, com estes sendo iniciados no início do ano de 1950. O resultado deste processo, levaria o comando do Corpo Técnico do Exército dos Estados Unidos (US Army) há homologar seus parâmetros operacionais.  Em seguinte seria firmado um primeiro contrato envolvendo a aquisição de cinco mil caminhões, que seriam produzidos nas linhas de montagem da montadora na cidade Lansing, no estado de Michigan. Os primeiros REO M-34 passariam a ser entregues as unidades operativas do exército já em setembro de 1950. O REO M-34 teve seu batismo de fogo durante a Guerra da Coreia (1950-1953), quando centenas de unidades foram enviadas para a linha de frente. Em terrenos acidentados e sob condições extremas, o caminhão demonstrou sua capacidade única de atravessar rios e córregos, graças ao inovador sistema de trânsito subaquático. Essa habilidade conquistou o coração das tropas, que carinhosamente o apelidaram de “Eager Beaver” – uma referência a um castor animado de desenho animado, simbolizando sua capacidade de atravessar rios e córregos em terrenos adversos. No entanto, o uso contínuo em operações reais revelou limitações no projeto original. Problemas de desempenho em terrenos desafiadores e a potência insuficiente do motor a gasolina OA-331 Continental I-6 de seis cilindros demandaram melhorias. A REO respondeu com agilidade, introduzindo alterações significativas, como a adoção de conjuntos duplos de pneus nos eixos traseiros, que aumentaram a capacidade de carga e facilitaram o deslocamento fora de estrada. O motor foi substituído por um novo conjunto multifuel, mais eficiente e adaptável, resultando na evolução do modelo para o REO M-35. Após o fim da Guerra da Coreia em 1953, a REO enfrentou um revés significativo ao perder uma concorrência para a General Motors Corporation, que conquistou novos contratos de produção com o Exército dos Estados Unidos. Esse golpe testou a resiliência da empresa, mas a REO encontrou uma nova oportunidade com o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. A crescente demanda por caminhões militares levou à assinatura de um novo contrato, permitindo que a REO retomasse a produção em larga escala do REO M-35. 
A introdução do REO M-35A2, uma evolução aprimorada do caminhão militar M-35, marcou um capítulo notável na história da REO Motor Car Company e das forças armadas norte-americanas. Equipado com o motor multicombustível LDT 465 Turbo de 478 polegadas cúbicas (7,8 L), produzido pela Continental Motors Company, Hercules ou White Motor Company, o M-35A2 desenvolvia 134 cv (100 kW) e 330 pés-lb (447 N⋅m) de torque. Esse motor, projetado para operar com uma ampla gama de combustíveis – incluindo diesel, querosene, óleo de aquecimento e gasolina –, oferecia uma flexibilidade operacional que era essencial em cenários de guerra e missões remotas. Para os soldados que dependiam do M-35A2, essa versatilidade não era apenas uma especificação técnica – era a garantia de que suprimentos e apoio chegariam, independentemente das condições. O M-35A2 contava com uma transmissão manual de cinco velocidades, acoplada a uma caixa de transferência divorciada de duas velocidades, como a Rockwell 136-21 (operada por sprag) ou a Rockwell 136-27 (selecionável e operada a ar). Essa configuração assegurava desempenho robusto em terrenos desafiadores, consolidando o caminhão como um pilar da logística militar. Embora a versão A2 fosse a mais comum, a família M-35 incluía os modelos Standard, A1, A2 e A3, com o Standard equipado com o motor a gasolina REO “Gold Comet” ou Continental OA331 de seis cilindros. As versões A1 e A3, por sua vez, frequentemente utilizavam transmissões de quatro velocidades, enquanto a maioria dos A2 contava com caixas “diretas” de cinco velocidades, otimizando a eficiência. Adotado em larga escala a partir de 1965, o REO M-35A2 tornou-se o principal caminhão de transporte das forças armadas norte-americanas, destacando-se pela sua capacidade de carga de até duas toneladas e meia e pela adaptabilidade a diversas funções. Além do modelo padrão, foram desenvolvidas versões especializadas, como tanque de combustível e cisterna de água (M-49), oficina de reparos gerais (M-109), basculante (M-47), guindaste (M-108, M-62 e M-543), bombeiro (530B) e reparo de linhas telefônicas (M-763). Uma variante de distância entre eixos extralonga, o M-36, com uma caçamba de 16 pés (4,9 metros), ampliou ainda mais sua utilidade. Para os militares que operavam essas versões, o M-35A2 era mais do que um veículo – era um parceiro indispensável, capaz de transformar desafios logísticos em soluções práticas. A versatilidade do M-35A2 transcendeu as fronteiras dos Estados Unidos, com milhares de unidades exportadas ou produzidas sob licença para as forças armadas de países como Argentina, Áustria, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Coreia do Sul, Egito, Israel, Turquia, Vietnã e muitos outros. Em cada nação, o caminhão carregava a missão de conectar tropas, transportar suprimentos e apoiar comunidades, muitas vezes em condições extremas. Nos Estados Unidos, a família M-35 permaneceu em serviço até 1996, quando foi gradualmente substituída pelos veículos do programa FMTV (Family of Medium Tactical Vehicles), como o M-1078. Essa transição marcou o fim de uma era, mas não apagou o impacto do M-35A2, que continuou a ser lembrado como um dos caminhões militares mais confiáveis e inovadores de sua época. Sua capacidade de operar em terrenos adversos, atravessar corpos d’água e adaptar-se a múltiplas funções deixou uma marca indelével na história militar.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A adesão do Brasil ao esforço de guerra aliado durante a Segunda Guerra Mundial, por meio do programa Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), representou um divisor de águas para as Forças Armadas Brasileiras. Entre 1942 e 1945, o país recebeu um vasto conjunto de recursos, incluindo aeronaves, navios, armamentos, veículos e equipamentos militares, que fortaleceram significativamente sua capacidade operacional. Para o Exército Brasileiro, esse apoio traduziu-se na incorporação de mais de cinco mil caminhões militares com tração integral, pertencentes às famílias GMC CCKW, Studebaker US6G, Ward LaFrance, Corbitt e Diamond. Esses veículos, destinados a missões de transporte e aplicações especializadas – como socorro, cisterna, comando e basculante –, trouxeram uma experiência transformadora, elevando a mobilidade de tropas e cargas a patamares até então inimagináveis. Para os soldados que os operavam, esses caminhões eram mais do que máquinas – eram símbolos de prontidão, conectando a determinação militar à missão de defender a soberania nacional. No entanto, ao final da década de 1950, essa frota começou a apresentar preocupantes índices de indisponibilidade. O desgaste operacional, agravado pela dificuldade de importar peças de reposição – especialmente porque muitos desses modelos haviam sido descontinuados nos Estados Unidos há mais de uma década –, comprometeu gravemente a operacionalidade do Exército Brasileiro. Essa situação gerou profunda preocupação no comando da Força Terrestre, pois a redução da capacidade tática ameaçava a eficácia das operações militares. Para os militares responsáveis pela logística, o desafio era claro: encontrar soluções que preservassem a mobilidade essencial para missões de integração territorial e defesa, em um contexto de recursos limitados. A gravidade do cenário demandou estudos minuciosos para identificar soluções viáveis a curto e médio prazo. A opção mais imediata seria a aquisição de um número semelhante de caminhões militares modernos com tração 4x4 e 6x6, com destaque para os modelos REO M-34 e M-35, conhecidos por sua robustez e versatilidade em operações exigentes. Contudo, o investimento necessário para adquirir um lote significativo desses veículos revelou-se incompatível com as restrições orçamentárias do Exército Brasileiro na época. Essa realidade impôs a busca por alternativas mais práticas, capazes de equilibrar eficácia operacional com viabilidade financeira. Após análises detalhadas, três soluções complementares foram propostas. A primeira consistia na aquisição de um número reduzido de caminhões militares modernos, como os REO M-34 e M-35, para atender às necessidades mais críticas. A segunda envolvia a repotencialização dos caminhões GMC CCKW 352-353 e Studebaker US6G, visando prolongar sua vida útil por meio de reformas e atualizações. A terceira alternativa propunha a incorporação de caminhões comerciais militarizados, que poderiam assumir missões secundárias, aliviando a pressão sobre a frota militar. 

Juntas, essas medidas prometiam restaurar um nível mínimo de capacidade operacional, garantindo que o Exército pudesse cumprir suas responsabilidades com maior segurança. No entanto, a segunda opção – a repotencialização dos caminhões existentes – foi descartada após estudos aprofundados conduzidos pela equipe do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2). A análise revelou que a falta de experiência técnica e infraestrutura para implementar um programa de tal magnitude em escala tornava a iniciativa inviável.  Com o desgaste operacional e a crescente dificuldade de obtenção de peças de reposição, a capacidade de mobilização da Força Terrestre estava comprometida. Nesse cenário, a adoção de caminhões militarizados produzidos no Brasil ganhou destaque, impulsionada pelo apoio do governo brasileiro ao fortalecimento da indústria automotiva nacional. Essa iniciativa, que atraiu montadoras internacionais ao país, representava mais do que uma solução logística – era um símbolo de progresso, conectando a visão estratégica do Exército ao desenvolvimento econômico e industrial do Brasil. A primeira medida significativa foi a formalização de um acordo com a Fábrica Nacional de Motores (FNM), uma empresa estatal de capital misto sediada no Rio de Janeiro, que mantinha uma parceria comercial com a montadora italiana Alfa Romeo para a produção de caminhões médios e pesados. Por meio desse acordo, o Exército Brasileiro passou a incorporar versões militarizadas dos modelos civis FNM D-9500 e FNM D-11000, com adoção iniciada no começo da década de 1960. Esses caminhões destacavam-se por seu baixo custo, robustez e manutenção acessível, características que atendiam às limitações orçamentárias da época. Apesar de suas qualidades, os caminhões FNM não foram projetados como veículos militares, o que restringia seu desempenho em ambientes fora de estrada. Essa limitação impediu que substituíssem integralmente os antigos caminhões americanos, que, mesmo obsoletos, ofereciam tração superior em terrenos desafiadores. Ainda assim, entre 1957 e 1960, uma quantidade significativa de FNM D-9500 e D-11000 foi adquirida, sendo classificados como Viatura de Transporte não Especializada (VTNE). A incorporação dos caminhões FNM trouxe um alívio imediato, mas não eliminou a necessidade de veículos militares com tração integral 4x4 ou 6x6, essenciais para missões táticas em terrenos adversos. Consciente dessa lacuna, o comando do Exército Brasileiro voltou-se ao mercado internacional em busca de um modelo que combinasse excelência técnica com viabilidade econômica. A meta era ambiciosa: adquirir pelo menos dois mil novos caminhões, incluindo versões especializadas para funções como cisterna, comando e basculante. Esse volume de caminhões,  seria crucial para restaurar a capacidade operacional, excedia em muito o orçamento disponível, tornando indispensável a obtenção de uma linha de crédito internacional para financiar o programa.
Em 1957, após uma análise detalhada de diversos modelos de veículos militares, o caminhão norte-americano REO M-35 6x6 destacou-se como o que melhor atendia às especificações exigidas pela Força Terrestre Brasileira. Contudo, o elevado custo unitário de cada unidade fabricada inviabilizou a aquisição de veículos novos. Diante desse cenário, o Comando do Exército Brasileiro optou por explorar a compra de caminhões usados, iniciando negociações com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD). O objetivo era adquirir entre 500 e 1.000 veículos, valendo-se dos termos do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952. Esse acordo, por meio do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), facilitava o acesso a equipamentos militares modernos, com o propósito de fortalecer a defesa regional frente à hipotética ameaça de expansão socialista. As tratativas evoluíram para um amplo pacote de assistência militar, que incluía não apenas caminhões, mas também carros de combate, blindados de transporte de tropas e veículos leves. Esse pacote visava atender à premente necessidade de renovação dos recursos materiais do Exército Brasileiro e das demais Forças Armadas. No que se refere aos caminhões militares com tração integral 6x6, o acordo previa o fornecimento de mais de dois mil veículos usados, todos em excelente estado de conservação, provenientes da reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos (US Army). A frota era composta majoritariamente pelos modelos REO M-34 G742 (chassi M-44 motor REO OA331 6 cil 127 hp gasolina) e M-35A2 G-742, além de diversas variantes especializadas, como os REO M-34 Talha, M-109 Oficina, M-47 Transporte, M-611C Cisterna Combustível, M-41C Transporte, M-49C Cisterna Combustível, M-609 Oficina, M-613 Oficina, M-614 Basculante, M-108 Oficina, M-543 Socorro, M-602 Transporte, M-54 Transporte e M-62 Socorro. As primeiras unidades, dos modelos REO M-34 e M-34 Talha, começaram a ser entregues no início de 1958, totalizando cerca de mil caminhões. Essa aquisição representou um marco significativo, permitindo ao Exército Brasileiro recuperar grande parte de sua mobilidade operacional. Contudo, devido a atrasos nos cronogramas de entrega, os primeiros caminhões REO M-35 A2C, juntamente com suas variantes especializadas, só foram recebidos a partir do início de 1965. Em serviço no Exército Brasileiro, os REO M-34  receberiam a designação de Viatura de Transporte não Especializado Carga Emprego Geral 2½-Ton, 6×6 (VTNE), passando a serem empregados principalmente em missões de transporte de tropas, cargas, reboque de peças de artilharia e demais funções não especializadas de logística. Esse modelo ao longo do anos seguintes se tornaria essencial no Exército Brasileiro em operações de deslocamento de unidades militares, especialmente em regiões de difícil acesso.

Além do Exército, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil também passou a utilizar os caminhões REO M-34. Em 1962, por meio do Programa de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos (MAP), foram recebidos 40 veículos usados, que foram intensamente empregados pelo 1º Batalhão de Infantaria da Força Naval – Riachuelo. A partir de 1966 com o objetivo de se estruturar uma infantaria de pronta resposta eficiente para a Força de Fuzileiros da Esquadra (FEE), seriam iniciadas negociações com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD), que resultaram, sob os termos do Programa de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos (MAP), na aquisição de 70 caminhões dos modelos REO M-35A2 e REO M-49 (Cisterna). Esses veículos começaram a ser recebidos em maio de 1966 e, três anos depois, em 1969, foram complementados por um novo lote do modelo REO M-813. O REO M-813 destacava-se por incorporar avanços tecnológicos significativos, como o motor Cummins 6CTAA8.3 de 250 cavalos de potência, aliado a um câmbio Spicer 6453 de cinco velocidades sincronizadas. Esse conjunto, combinado com um sistema de tração automática, reversão pneumática e pneus especiais off-road 14.00 x 20, conferia ao veículo um desempenho excepcional em terrenos fora de estrada, atendendo plenamente às demandas operacionais do CFN. Após o recebimento, os caminhões foram distribuídos a unidades estratégicas do CFN, incluindo o Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (RJ), o Grupamento de Fuzileiros Navais de Rio Grande (RS), o Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (RJ), o Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais (RJ) e a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (RJ). Muitos desses veículos permaneceram em serviço por várias décadas, sendo gradualmente substituídos ou complementados por modelos mais modernos, como os Engesa EE25, UAI M1-50 Terex e Mercedes-Benz MB LA 1418 4x4. Com a chegada de 200 viaturas não especializadas de cinco toneladas com tração integral 4x4 Mercedes Benz 1725/42, iniciou-se um processo de desativação das 40 unidades mais antigas do modelo REO M-34 G742, tendo em vista que não seria aplicado a estas viaturas o mesmo programa implementados no caminhões deste modelo em operação no Exército Brasileiro. Paralelamente, em 1994, uma parcela da frota dos caminhões REO M-813 e M-49 Cisterna foi revitalizada pela empresa norte-americana Cummins Military System. O foco principal foi a repotencialização do motor, com a instalação do Cummins 6CTAA8.3 de 250 cavalos, que já equipava os M-813. Além disso, foram realizadas melhorias no câmbio, com a adoção do Spicer 6453 de cinco velocidades sincronizadas, e no sistema de tração, que passou a contar com reversão pneumática e pneus off-road 14.00 x 20. Essas mudanças ampliaram significativamente o desempenho em terrenos fora de estrada, essenciais para operações anfíbias, permitindo ainda estender seu ciclo de vida operacional, assegurando sua relevância em missões logísticas por mais alguns anos.
Em serviço no Exército Brasileiro, seriam empregados também o REO M-41 G-744  VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ Ton 6x6;  REO M-46 G-742 VTNE Carga Emprego Geral 5 Ton 6x6, REO M-47 G-742 VE Oficina Material Engenharia 2 1/2 Ton 6x6, REO M-49C G-742 VTNE Basculante Emprego Geral 2 ½ Ton 6x6,  REO M-52 G-744 VTE Cisterna Combustível 1200 galões 2 ½ ton 6x6, REO M-54 G-742  VTNE Carga Emprego Geral 5 Ton 6x6,  REO M-185 G-742 VE Oficina de Eletricidade 2 ½ Ton 6x6 e VE Oficina de Reparos Gerais 2 ½ Ton 6x6, REO M-543/A1/A2 G-744 VE Oficina de Reparos Gerais 2 ½ Ton 6x6  e VE Gabinete Odontológico em Campanha, REO M-602 G-835 VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ ton 6x6, M-62 VE Socorro Pesado de Rodas 5 Toneladas 6x6, M-543 VE de Socorro Pesado de Rodas 5 Toneladas 6x6.REO M-611C G-835 VE Oficina de Reparos Gerais 2 ½ ton 6x6,  REO M-613 G-835 VTER Cisterna Combustível 2 ½ ton 6x6 com kit para aviação, REO M-614 G-835 VE Oficina Comunicações 2 ½ Ton 6X6, REO M-818 G-744 VTNE Basculante Emprego Geral 2 ½ Ton 6x6 com guincho, REO M-614 G-835  VE Oficina de Reparos Gerais 2 ½ ton 6x6,  M-109  G-835 VE Oficina de Reparos Gerais 2 ½ ton 6x6  e por fim o modelo REO 28XS G-648 VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 5 Ton 6x6.  A partir do final da década de 1970, os caminhões REO M-34 e M-35, amplamente utilizados pelo Exército Brasileiro, começaram a exibir sinais de desgaste devido ao uso prolongado e intensivo. Esses veículos, fundamentais para a mobilidade operacional, apresentavam índices preocupantes de disponibilidade, o que levou o Exército a considerar tanto a substituição gradual a médio e longo prazo quanto a possibilidade de repotencialização da frota existente. Os primeiros esforços concretos de modernização foram conduzidos pelo Parque Regional de Manutenção da 1ª Região Militar (Pq R Mnt/1) entre 1981 e 1983. Nesse período, um lote de caminhões REO M-34 foi revitalizado, com destaque para a substituição do motor original a gasolina REO OA331 de 6 cilindros pelo motor diesel nacional MWM 229-6, também de 6 cilindros. Esta mesma solução seria empregada nos demais modelos produzidos pela REO que ainda se encontravam em uso no Exército Brasileiro, com estes trabalhos sendo conduzidos também pelo Parque Regional de Manutenção da 7ª Região Militar (Pq R Mnt/7) e pelo Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar (Pq R Mnt/3).  Em termos de grupo motriz a exceção se daria  20011, quando 12 caminhões do modelo REO M-602 G-835 VE Socorro Pesado 5 Ton 6X6, receberam um motor a diesel Scania DS 11 6 cilindros.  Apesar deste programas de extensão de vida útil, ao final da década de 1990 ficava evidente a necessidade em se desativar a frota remanescentes desta frota de caminhões, com este processo sendo iniciado em 2004. Atualmente ainda permanecem em serviço uma pequena parcela destes sendo representados pelos modelos REO M-543, M-109 e M-602. Já junto ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil permanecem ainda em operação poucos  REO M-813 e M-49 .

Em Escala. 
Para representar o caminhão REO M-35A2  VTNE Carga Emprego Geral 5 Ton 6x6, registrado sob a matrícula "EB21-41395" quando em uso durante a década de 1970, foi utilizado o excelente kit da marca AFV na escala 1/35, reconhecido por sua facilidade de montagem e elevado nível de detalhamento. Para a customização da versão nacional, foram empregados decais variados incluídos no conjunto "Exército Brasileiro 1942 - 1982", produzido pela Eletric Products.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982. A partir de 1983 este esquema foi alterado passando a adotar uma  camuflagem em dois tons, com os REO M-35  mantendo este padrão  sua gradativa desativação a até fins da década de 1990. Já as versões desta família empregadas pelo  Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, fizeram uso de seu padrão de pintura total em verde aplicado a todos os seus veículos de transporte.

Bibliografia :

- M-35 2½ ton cargo truck - http://en.wikipedia.org/wiki/M35_2%C2%BD_ton_cargo_truck
- Caminhão Candiru I 4X4 Uma Solução Nacional – Expedito Carlos S. Bastos
- M-34 e M-35 Serie, Olive Drab -  http://olive-drab.com/od_mvg_www_deuce_m35.php


Beechcraft A-35 Bonanza na FAB

História e Desenvolvimento. 
O empresário Walter H. Beech se tornaria um dos mais relevantes personagens durante os primórdios da história da aviação norte-americana, sendo responsável pelo seu grande desenvolvimento. Em sua biografia destaca-se a fundação da Travel Air Manufacturing na cidade de Wichita Kansas, uma empresa de construção aeronáutica, que apresentaria entre seus quadros os promissores projetistas Lloyd Stearman e Clyde Vernon Cessna.  No início da década de 1930 após o início da Grande Depressão, Walter Beech deixaria a vice-presidência da Travel Air Manufacturing para criar sua própria empresa de construção aeronáutica. Com seu planejamento estratégico estabelecido em meados do ano 1932, seria fundada a Beech Aircraft Corporation. Apesar do cenário econômico americano nesta época se apresentar caótico em função do auge da depressão, Walter H. Beech resolveu focar seus esforços para o segmento de transporte executivo e turismo de luxo, segmentos estes que apesar de pequenos, ainda e mantinham e atividade regular apesar da crise. Esta premissa resultaria no lançamento em fins do mesmo ano, do modelo Beech Model 17, que logo conquistaria um rápido sucesso comercial. Este êxito inicial alimentado pelos lucros resultantes, levaria a empresa a investir recursos próprios para assim desenvolver uma aeronave de maior porte que resultaria no projeto do Beech Model 18. O primeiro protótipo alçou voo em 15 de janeiro de 1937, basicamente esta nova aeronave apresentava configuração bimotora monoplano de asa baixa, metálico e com trem de pouso convencional. Dispunha de uma capacidade de transporte de até seis passageiros e dois tripulantes, sua versatilidade de projeto o permitia ser equipado com uma variada gama de motores produzidos pela Curtiss - Wright, Jacobs ou Pratt & Whitney, oferecendo assim ao mercado alternativas de padronização e redução de custo de manutenção. As qualidades da nova aeronave, cujo desenvolvimento visava originalmente o mercado civil, repetiriam o sucesso em vendas do modelo anterior da empresa. Este êxito não passaria desapercebido por algumas forças militares, despertando inicialmente o interesse do governo filipino, que ser tornaria o primeiro cliente militar do modelo. 

As qualidades da nova aeronave, cujo desenvolvimento visava originalmente o mercado civil, repetiriam o sucesso em vendas do modelo anterior da empresa. Este êxito não passaria desapercebido por algumas forças militares, despertando inicialmente o interesse do governo filipino, que ser tornaria o primeiro cliente militar do modelo. Desta maneira seria celebrado com a Beech Aircraft Corporation, um contrato para o desenvolvimento e produção de uma versão destinada a realizar missões de aerofotogrametria, esta variante receberia a designação comercial de  C-18 e militar de T-7. A última versão a ser desenvolvida, o AT-7C-BH, dispunha de uma suíte avionica mais avançada e peso vazio significadamente maior do que as versões anteriores, contando ainda com o novo motor Pratt & Whitney R-985. Esta variante seria chamada de Beechcraft Navigator. Durante o conflito a empresa se destacaria na produção de aeronaves de treinamento multi motor e transporte leve, recebendo vultuosos recursos governamentais que a permitiram se consolidar como grande fabricante aeronáuticos. Logo após o final da Segunda Guerra Mundial, o mercado de aviação civil foi impulsionado pela grande oferta de aeronaves de transporte militares, que foram desmobilizados e vendidos como excedente de guerra a preços módicos possibilitando o surgimento de milhares de empresas de transporte. Neste contexto o mercado voltado para aeronaves de pequeno porte não seria atingido por este processo, possibilitando aos fabricantes desenvolver novos modelos que pudessem conquistar o mercado, principalmente o nicho de transporte executivo.  Neste cenário duas empresas se destacavam na disputa por este seguimento, figurando a Cessna Aircraft Company com seu modelo 195, e a Beechcraft com o Bonanza 35. Comparativamente o modelo de Beech Aircraft Corporation era superior ao seu concorrente que praticamente herdava a tecnologia aeronáutica do período pré-guerra. Desenvolvido pela equipe do engenheiro Ralph Harmon, o projeto do  Bechcraft Model 35 viria a causar uma revolução no segmento de aeronaves civis de pequeno porte, apresentado com principal diferencial ser todo praticamente construído em metais, quando ainda a maioria dos modelos fabricados eram compostos em metal, madeira e tela, apresentaria ainda ao mercado sua exclusivo design possuindo trem de pouso triciclo retrátil e empenagem da cauda em “V”.
O primeiro protótipo da aeronave da nova aeronave da Beech Aircraft Corporation alçaria voo em 22 de dezembro de 1945, sendo imediatamente submetido a um extensivo programa de ensaios em voo. O ousado projeto, no entanto, apresentava uma série de pontos a serem melhorados, o que culminaria em diversas alterações a aeronave, sendo o modelo somente liberado para produção em série a partir de 1947, representando assim com um atraso significativo quando comparado a outras aeronaves. Curiosamente as primeiras quarenta aeronaves de produção apresentavam pequenas extensões das superfícies moveis cobertas com tecido (fruto das alterações do modelo original), após este lote estas essas superfícies foram cobertas com folha de liga de magnésio. Uma grande campanha de marketing foi implementada pelo fabricante para o lançamento comercial da aeronave, resultando em excelentes resultados em vendas no mercado interno norte americano de aeronaves executivas. Grande parte do público comprador do Beechcraft Bonanza por ricos pilotos amadores de” final de semana” que buscavam no ato conduzir sua própria aeronave uma ostentação além dos bens materiais. Infelizmente sua configuração não usual o tornava uma aeronave de perfil de voo indócil, passando a cobrar o preço quando conduzido por pilotos menos experientes, assim desta maneira inúmeros acidentes com perdas fatais passaram a ocorrer, levando a aeronave a ganhar má reputação recebendo o pejorativo apelido de “Doutor Assassino da Cauda Bifurcada”. Apesar das causas destes acidentes serem popularmente atribuídas a aeronave, um estudo desenvolvido entre 1982 e 1989 pela Associação de Proprietários e Pilotos de Aeronaves dos Estados Unidos demonstrou que o Bonanza tinha uma taxa de acidentes ligeiramente menor do que outros tipos no estudo. O erro do piloto seria citado em 73% dos acidentes de cauda V e 83% dos acidentes de cauda convencional, com causas relacionadas à aeronave representando 15%  e 11% dos acidentes, respectivamente.

Apesar da má fama, o modelo seguiria com altas vendas no mercado norte-americano e internacional com sua participação de mercado crescente ajudando a consolidar a marca do fabricante. O Beechcraft Modelo 33 Debonair seria introduzido em 1960 como uma aeronave de menor custo de aquisição, apresentando instrumentação padrão mais austera, equipamentos externos, esquemas de pintura e tecidos interiores e acabamento inferiores aos oferecidos nas versões originais do Bonanza. Porém esta versão mais barata passaria a canibalizar as vendas da família, levando assim a empresa a descontinuar a versão Debonair, passando a concentrar esforços e recursos para o desenvolvimento e lançamento de versões melhoradas do Bonanza a partir do ano de 1968. Neste mesmo período seria concebida uma versão militar especializada, partindo da plataforma original do  Beechcraft 36/A36 Bonanza esta variante fora concebida para operar como vetor aéreo do programa "Pave Eagle" da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) durante a Guerra do Vietna. A aeronave recebeu a designação de QU-22 sendo responsável pela retransmissão de sinal de monitoramento eletrônico, para emprego de observação da  movimentação de tropas e suprimentos ao longo da trilha Ho Chi Minh no Laos sendo colocados em operação a partir de fins do ano de  1968. Seis protótipos YQU-22A (modificações do Beechcraft 33 Debonair) foram testados em combate em 1968, e dois foram perdidos durante as operações, com um piloto de teste civil morto. Apesar de ser originalmente concebido como drones não tripulados, as aeronaves acabariam sendo pilotadas por oficiais do Destacamento do Esquadrão de Reconhecimento 1º . Vinte e sete Beechcraft QU-22Bs seriam modificados, treze células em 1969 e quatorze em 1970, com seis perdidos em combate e dois pilotos mortos em ação.
A produção da família Beechcraft Bonanza, atingiria a cifra de mais de dezessete mil aeronaves completadas até o ano de 2019, sendo dispostas em três variantes matrizes básicas que seriam divididas em trinta e três subversões.   Atualmente a aeronave continua em produção seriada com a versão Beechcraft G36 que apresenta um painel totalmente no padrão glass cockpit, equipado ainda com o moderno sistema de navegação digital Garmin G1000.  Além do mercado civil, o Beechcraft Bonanza seria empregado junto a forças áreas de países como Argentina, Bolívia, Brasil, Haiti, Irã, Indonésia, Costa do Marfim, México, Países Baixos, Nicarágua, Paraguai, Arábia Saudita, Espanha e Tailândia, onde executaram primordialmente missões de transporte e ligação. Apesar de não estar em serviço atualmente em nenhuma força área militar, existem ainda milhares de células das versões mais recentes ainda em operação no mercado civil principalmente no segmento de fretamento e taxi aéreo, com uma sobrevida operacional de pelo menos mais vinte anos ainda.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a recém-criada Força Aérea Brasileira foi beneficiada nos termos do acordo Leand & Lease Bill Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), vindo a receber centenas de aeronaves dos mais variados tipos. Logo no período pós-guerra, o Ministério da Aeronáutica (MAer) se reestruturaria, levando a uma grande expansão de sua estrutura funcional e organizacional, culminando assim na criação de diversas unidades aéreas, estabelecimentos de ensino e comandos aéreos espalhados por todo território nacional. Esta nova realidade, levaria a necessidade de se estabelecer uma frota de aeronaves utilitárias de pequeno porte a fim de cumprir missões de ligação e transporte em proveito destas organizações militares baseadas em diversas localidades de um país continental. Apesar de dispor de muitas aeronaves bimotoras de transporte de médio porte em sua frota, não seria recomendado o emprego deste tipo de avião, com esta decisão baseada em seu porte e consequentes altos custos operacionais.  Com base neste contexto o Comando da Aeronáutica (COMAER) iniciaria estudos visando a aquisição de uma aeronave monomotora para emprego em missões de ligação e transporte leve que entre vários aspectos técnicos deveria priorizar a relação de custo-benefício. Neste mesmo período a empresa paulista Companhia Carnasciali Ltda passava a representar no pais o fabricante de aeronaves norte- americano Beech Aircraft Corporation, a exemplo de seus pares no Estados Unidos, o produto mais relevante de seu portfólio de vendas era representado pelos modelos Beechcarft 35 e A-35 Bonanza, chegando a comercializar um grande número de aeronaves no pais seja para empresas de taxi aéreo ou particulares.  Em seu processo de prospecção, representantes da empresa fizeram contatos junto aos militares brasileiros a fim de apresentar seu portfólio de produtos.

Com base demanda por aeronaves de ligação, a Companhia Carnasciali Ltda apresentaria ao Ministério da Aeronáutica (MAer), uma proposta para a aquisição de um pequeno numero de aeronaves dos modelos Beechcraft35 e A-35 Bonanza, este termos previam ainda um pacote de manutenção operacional de baixo custo. O grande diferencial desta proposta era baseado no grande número de aeronaves em voo no mercado civil nacional naquela época, o que garantia a proficiência técnica e constante fluxo de peças de reposição.  Os dois modelos de aeronaves propostos seriam estudados com os parâmetros sendo baseados em avaliações de ordem técnica e de custo-benefício, com a escolha sendo definida pela aquisição da versão Beechcraft A-35 Bonanza, com o contrato para aquisição de cinco células sendo celebrado entre as partes provavelmente nos últimos meses do ano de 1949. Até hoje não está claro se as células encomendadas foram produzidas especificadamente em atenção ao contrato do Ministério da Aeronáutica (MAer) ou se já haviam sido solicitadas pela  Companhia Carnasciali Ltda para encomendas do mercado civil  e por força de oportunidade redirecionadas ao contrato com a Força Aérea Brasileira. Seja como estas aeronaves seriam transladadas ao Brasil por via marítima, com as cinco aeronaves sendo recebidas no porto do Rio de Janeiro no final do primeiro trimestre 1950.  Estas células desmontadas seriam encaminhadas por via terrestre ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqArAF) a fim de serem montadas por técnicos do fabricante em parceria com a equipe brasileira. Contudo sob circunstâncias até hoje desconhecidas, neste processo de movimentação,  uma das aeronaves seria seriamente danificada quando estava sendo desembalada. Após rápida análise identificou-se que a extensão dos danos era extremantes graves, não sendo assim recomendada sua recuperação por questões econômicas, desta maneira esta aeronave seria baixada do acervo da Força Aérea Brasileira em maio de 1951, com suas peças sendo armazenadas como fonte de reposição e sua estrutura preservada.
Quanto as células remanescentes do Beechcraft A-35 Bonanza, esta seriam montadas e colocadas em condições de voo em abril de 1950, sendo no mês seguintes distribuídas a então Diretoria de Aeronáutica Civil (DAC) e a Diretoria de Material Aeronáutica (DIRMA), ficando à disposição do serviço de vistoria daquele órgão. Assim com a designação oficial de UC-BB, os quatro aviões Beechcraft Bonanza passariam enfim a ser usados para as missões as quais foram adquiridos, como voos de ligação entre as bases aéreas e para fiscalização de aeroclubes espalhados pelo país. Os dois aviões entregues a Diretoria de Aeronáutica Civil (DAC) passariam a realizar o transporte do diretor geral daquele órgão ou de seus inspetores para verificação in loco dos aeroclubes, pequenas empresas de taxi e transporte aéreo e oficinas de manutenção.  Já no caso dos dois Beechcraft UC-BB distribuídos a Diretoria de Material Aeronáutica (DIRMA), não há registros oficiais sobre o detalhamento das atividades por eles realizados, tendo sido certamente empregados do transporte do pessoal desta organização para os distantes parques de aeronáutica então existentes na Força Aérea Brasileira, assim como viagens para diversas bases aéreas. Infelizmente no início do ano de 1951, um dos Beechcraft A-35 Bonanza da Diretoria de Material Aeronáutica (DIRMA) sofreria um grave acidente na região do município de Lages no interior do estado de Santa Catarina, o que determinaria sua baixa devido aos estragos de grande monta ocorridos com a célula. A segunda metade deste mesmo ano tampouco seria particularmente boa para os Beechcraft Bonanza brasileiros, pois, dos três aviões em operação, dois seriam recolhidos a Fábrica do Galeão no Rio de Janeiro, para recuperação como resultado de acidentes de pequena monta. Assim para se manter as mínimas condições operacionais uma das aeronaves em serviço junto a Diretoria de Aeronáutica Civil (DAC), seria transferido para a Seção de Aviões de Comando em 29 de abril de 1952.

Em outubro daquele ano, a Diretoria de Material Aeronáutica (DIRMA) baixaria a instrução reservada 2A4-521013, em que concedia uma nova designação aos Beechcraft Bonanza, que passaram a ser identificados como C-35. Esta medida pouco influenciou a operação do modelo na Força Aérea Brasileira, pois, naquele momento, a frota encontrava-se reduzida a somente um exemplar que voava a serviço da Diretoria de Aeronáutica Civil (DAC). Na última metade do ano de 1953 o Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) recuperaria a célula que havia sido danificada quando do recebimento do lote original, sendo prontamente alocada a serviço da Seção de Aviões de Comando, onde passaria a ficar à disposição do adido aeronáutico da Força Aérea Brasileira na cidade de Assunção, capital do Paraguai. O Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) repetiria o feito, vindo a recuperar totalmente a célula que fora dada como condenada como perda total no acidente em Santa Catarina em 1951. Talvez como prêmio aos seus esforços, em 1956 aquela aeronave foi distribuída para o uso desta mesma organização, passando a ser empregado como aeronave de ligação. Em 4 de junho de 1954, a Portaria Ministerial Nº 6/GM2 estabeleceria a criação do Esquadrão de Transporte Especial, unidade que veio a suceder a Seção de Aviões de Comando (organização esta que seria o berço embrionário do Grupo de Transporte Especial - GTE). Prevendo em sua estruturação que uma esquadrilha deveria ser dotada com os três remanentes Beechcraft C-35 Bonanza, atuando em complemento aos Douglas VC-45 e VC-47 e Vickers VC-90. Também serviriam diretamente ao Gabinete do Ministro da Aeronáutica, para missões de transporte e ligação. Pelo menos uma aeronave ainda seria empregada pelo 1º Esquadrão de Ligação e Observação (ELO), por um curto período. Porém esta sistemática não perdurou por muito tempo, pois em agosto de 1956 outra célula seria perdida em um acidente, e logo em seguida devido a motivos de ordem técnica a outra célula seria enfim retirada de serviço.
Assim o último Beechcraft C-35 Bonanza remanescente, portador da matrícula FAB 2861, lotado junto ao Esquadrão de Transporte Especial, seria transferido para o 2º Grupo de Transporte de Tropas (GTT) em maio de 1957, passando a ser derradeira célula de sua espécie em serviço na Força Aérea Brasileira, tendo em vista que a outra célula fora desativada em março do mesmo ano. Ao realizar missões de ligação e transporte, esta aeronave permaneceria no Campo dos Afonsos por dez meses, sendo transferida para o Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) em março e 1958. Neste momento ficava claro que era economicamente inviável (devido a cadeia logistica de peças de reposição) manter um modelo em uso do qual se possuía apenas uma célula em condições de voo. Em consequência deste cenário, em 30 de dezembro de 1959 foi assinada a Portaria Ministerial Reservada Nº78/GM4 que determinava a baixa do último Beechcraft Bonanza da Força Aérea Brasileira. Em janeiro do seguinte seria determinada a doação da aeronave para a Fundação Brasil Central, onde após receber a matrícula PP-FBL permaneceria em uso junto a aquela organização pelo menos até o início da década de 1970.

Em Escala.
Para representarmos o Beechcraft Bonanza UC-35 "FAB 2857" empregamos o kit Minicraft  na escala 1/48. Como este modelo representa a versão V-35, temos de proceder em scratch a exclusão da última janela lateral dos dois lados da aeronave, para assim podermos representar a versão operada pela Força Aérea Brasileira. O kit ainda possibilita montar a aeronave com o motor exposto, o que valoriza o resultado final. Como não existe um set de decais específico para este modelo, optamos por configurar as marcações com decais diversos oriundos de diversos sets confeccionados pela FCM Decais, tendo somente a bolacha do Gabinete do Ministro da Aeronáutica sendo impressa artesanalmente.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o ultimo padrão de pintura empregado nas aeronaves Beechcraft C-35 Bonanza, sendo este o esquema implementado nas aeronaves de transporte de passageiros e transporte VIP da Força Aérea Brasileira naquele período. Apesar de não existirem registros fotográficos claros, estas aeronaves podem ter sido recebidas no padrão da Beechcraft para operadores civis, sendo na cor de metal natural com detalhes em vermelho ou azul, recebendo somente as marcações militares e suas respectivas matriculas.


Bibliografia : 

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  - Jackson Flores Jr
- Beechcraft Bonanza -  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Beechcraft_Bonanza
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Let Blanik L-13J no Brasil

História e Desenvolvimento. 
A origem da empresa Let Kunovice Aircraft Industries, remonta o ano de 1936 na antiga Tchecoslováquia, com a construção de uma fábrica de aviões militares na cidade em Kunovice, edificada pela empresa Škoda Works, sendo esta iniciativa parte de um amplo programa de fortalecimento da indústria nacional de defesa do país impulsionado pelo governo, frente as tensões de um iminente conflito na Europa. O eclodir da Segunda Guerra Mundial, atrasaria a conclusão deste fábrica, faltando setores operacionais imprescindíveis ao processo produtivo completo de aeronaves, relegando então estas instalações inacabadas apenas para a realização de reparos de aeronaves e motores. Após o término do conflito, a empresa e suas instalações seriam nacionalizadas, recebendo o nome comercial de Let Kunovice Aircraft Industries – LET, passando a produzir aeronave desportivas de pequeno porte. Entre os anos de 1950 e 1953 suas instalações seriam modernizadas e ampliadas, logo em seguida entre os anos de 1956 e 1967 a empresa teria alterada sua razão social, passando a ser denominada como SPP (Strojírny první pětiletky - "Obras do primeiro plano quinquenal"), porém logo voltaria a operar sobre o nome de LET. Este período seria marcado pela produção sob licença de treinadores soviéticos Yakovlev Yak-11 (sob a designação local de C-11) e aeronaves de transporte leve como os Aero Ae 45 e Aero Ae 145. Em 1968, a empresa começou a desenvolver as aeronaves utilitárias leves L-200 Morava e, quatro anos depois, as aeronaves agrícolas Z-37 Cmelak, que foram um sucesso comercial. Por um curto período, a Let Kunovice Aircraft Industries também produziria sob licença também aeronave de treinamento a jato polonesa, Delfin L-29. Apesar de pouca expressão internacional no segmento de aeronaves, a empresa atingiria renomada projeção a partir do final da década de 1950 no segmento de planadores para prática desportiva e treinamento.

Em fins do ano de 1956, o promissor engenheiro aeronáutico Karel Dlouhý, pertencente a equipe de projetos da empresa Let Kunovice, iniciou estudos para o desenvolvimento de um novo planador com asas em configuração de enflechamento negativo. Este projeto empregaria como parâmetros de partida, os conhecimentos técnicos desenvolvidos no modelo XLF-207 Letov Laminar (sendo este o primeiro planador de produção em série a empregar perfis laminares asa de fluxo). Esta nova aeronave tinha por objetivo fornecer ao mercado um planador prático adequado para instrução básica de voo, instrução acrobática e treinamento de cross-country. O conceito de design deste novo planador foi combinado com a tecnologia experimentada e testada, envolvendo a construção metálica, com perfis laminares empregando muitos componentes oriundos da indústria aeroespacial soviética. O primeiro voo foi logo seguido de um programa de avaliação e certificação com a aeronave recebendo a designação do fabricante como LET Blanik L-13. Sua produção em série foi iniciada em meados do ano de 1958 nas instalações da empresa na cidade de Kunovice, com as primeiras aeronaves produzidas logrando êxito em contratos governamentais junto as repúblicas socialistas soviéticas. O bom desempenho em operação junto as organizações militares soviéticas abririam caminho para vendas no mercado privado, inicialmente dentro do próprio bloco oriental e posteriormente junto a nações europeias do bloco ocidental. O possível preconceito do ocidente junto a uma aeronave produzida pelo regime socialista seria vencido pelas qualidades excepcionais de voo do LET Blanik L-13 e pela robustez, facilidade de operação e excelente custo de aquisição. Como diferencial frente aos concorrentes internacionais a aeronave podia ser opcionalmente dotada (em sistema simples de instalação) de um compacto motor a pistão Java M-150 de 42 hp de potência, que proporcionava um expressivo aumento no envelope de voo do modelo.
A aeronave apresentava configuração de fuselagem de construção semi-monocoque empregando longons e anteparas, com seção transversal ovoide, com seu cockpit apresentando uma cobertura de vidro acrílico em duas partes. Já as asas apresentavam padrão trapezoidal de conicidade simples com varredura para frente (negativa), haste única, construção totalmente metálica, com hastes de metal 'salmão'. As abas e ailerons possuíam uma estrutura de metal e são revestidas em tecido, com spoilers de metal do tipo DFS nas superfícies superior e inferior da asa. As superfícies horizontais da cauda dobravam-se paralelamente à barbatana para transporte e armazenamento, facilitando em muita sua operação em terra. Já o elevador e o leme apresentavam estruturas metálicas cobertas com tecido. O trem de pouso principal de uma roda é suspenso com um amortecedor óleo pneumático. Quando retraída, ainda se projeta o suficiente para fora, para que haja pouco ou nenhum dano, mesmo que a roda seja acidentalmente deixada na posição elevada para aterrissar. Estas características de projeto além de oferecer uma excelente relação de planeio na ordem de voo de 28:1 (que tem por objetivo se manter o maior tempo possível no ar), proporcionam ao LET Blanik L-13 uma interessante eficácia como treinador básico, que era proporcionada pelas características de envelope de voo (entre elas a baixa velocidade de pouso e ampla deflexão dos lemes) que agradavam aos alunos e instrutores. Com efeito em voo e pouso dos típicos dos antigos treinadores primários de madeira e tecido, como o planador ASK 13, com o qual o Blaník se assemelha no manuseio, embora não em materiais e configuração de construção.

O mercado civil norte-americano se materializaria logo em seguida com um dos grandes nichos de mercado para o LET Blanik L-13, gerando assim inúmeros contratos de exportação. As qualidades de voo superiores do modelo levariam o modelo a ser adotado em grande número pela Força Aérea Americana (USAF) a partir do final da década de 1960 a fim de serem a fim de serem empregados em tarefas de instrução básica de voo a vela na Academia da Força Aérea Americana (United States Air Force Academy) localizada na cidade de Colorado Springs no estado do Colorado. Sendo a primeira e única aeronave de origem do bloco soviético a operar regularmente junto a Força Aérea Americana (USAF), neste contexto receberam a designação de TG-10 Blanik, se mantendo em serviço até meados da década de 1990. O LET Blanik L-13 foi originalmente concebido para emprego em acrobacias simples, incluindo voo invertido, com apenas um tripulante (em função do peso da aeronave). Como resultado deste último requisito, o treinamento acrobático de nível intermediário no L-13 Blaník era realizado em voo solo com o instrutor no solo ou em outra aeronave, dando suporte remoto ao aluno. Porém a longo prazo verificou-se que estas características se materializavam em alto risco quando a aeronave era submetida a manobras acrobáticas, ocasionando alto número de acidentes entre pilotos não experientes, levando os órgãos de segurança aeronáuticas internacionais a proibir em 2010 a aplicação de modo de voo acrobático com os Blanik L-13. A vocação para acrobacias culminaria em uma versão específica para esta pratica, recebendo do fabricante a designação de L-13AC Blaník, este modelo possuía construção total em metal, sendo destinado principalmente ao treinamento acrobático duplo, enquanto também é usado para o treinamento de planadores elementares, possuía ainda  o mesmo cockpit do L-23 Super Blanik com copo de uma peça, a cauda de um L-13 e asas L-23 encurtadas.
No papel de planador cross country, o Let Blanik L-13 é detentor de vários recordes mundiais de distância e permanência no ar, especialmente nos anos de 1960.  Sua produção total atingiu a cifra de três mil planadores, podendo ser considerado um best seller das aeronaves de voo a vela. E decorrido mais de meio século depois de seu primeiro voo, ainda pode ser considerado planador mais comum no mundo em serviço. Seu conceito inovador ainda inspiraria o desenvolvimento de planadores modernos de grande renome internacional como o Delmant e L-21 Spartak. Além de ter estado no serviço militar em forças aéreas do bloco soviético (com o maior usuário sendo a própria Força Aérea Soviética), o modelo seria empregado pelas forças armadas do Brasil, Estônia, Espanha, Estados Unidos, Itália e Uruguai, sendo substituído nestas armas áreas somente em fins da década de 1990.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A prática e voo a vela no país teve seu início na década de 1930 mediante influencia provocada pela Expedição Alemã de Planadores à América do Sul em 1934, com seu embrião ocorrendo no Estado de São Paulo através do Aeroclube Politécnico de Planadores, em seguida o Aeroclube de Bauru e Aeroclube do Centro de Voo a Vela do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CVV-CTA) em São Jose dos Campos. No Rio Grande do Sul, a primeira incursão no voo a vela ocorreria no início da década de 1930, na cidade de Santa Cruz do Sul, um grupo de 6 rapazes se reuniram para construir um planador primário, modelo tipo Grunau 9, dispondo para isso apenas de uma foto uma foto publicada em um jornal alemão. Com base neste registro fotográfico os irmãos Ottomar e Hugo Reichart, Kolberg e Stahl partiram para a construção, deste modo para terem uma ideia das dimensões do planador, mediram a altura de uma pessoa sentada e, transferindo esta estimativa para a foto, obtiveram uma escala. Era o ano de 1934 e fizeram uso das instalações da escola de pilotagem na Varig Aero Esporte (VAE) em Porto Alegre, nascendo assim posteriormente deste esforço em 1941 o Aeroclube de Santa Cruz do Sul. Esta iniciativa provocaria a disseminação da cultura do voo desportivo a vela no país, atividade sendo impulsionada pela importação de planadores de origem alemã naquelas décadas, neste período despontaram também fabricantes nacionais liderados pelo empresário Francisco Pignatari, que em 1942 constituiu em sua empresa a Laminação Nacional de Metais S/A (LNM) uma divisão industrial destinada a produção de planadores para atuação em tarefas de treinamento. A criação da Força Aérea Brasileira em janeiro de  1941, em um momento conturbado priorizaria a aviação de combate, excluindo assim do setor militar a prática do voo a vela como processo de treinamento na formação de novos pilotos (a exemplo do que ocorria em outras armas aéreas naquele período). Com o interesse por este segmento sendo retomado efetivamente somente em fins da década de 1960.

Apesar da prática da modalidade de Voo a Vela constar no imaginário da Força Aérea Brasileira como parte do processo de formação dos cadetes, faltavam não só a infraestrutura adequada a esta atividade, bem com a localização própria para a execução desta missão, sendo este último o fator impeditivo. Neste período toda a formação de novos pilotos da Força Aérea Brasileira estava concentrada na Escola de Aeronáutica (EAer) localizada no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, região esta que apresentava um denso e cada vez mais crescente tráfego aéreo, ambiente completamente inadequado para a prática do voo a vela. Este cenário começaria a mudar a partir de 17 de outubro de 1960, quando foi inaugurado o Destacamento Precursor da Escola de Aeronáutica(DPEAer), embrião este que se materializaria em 1971 na criação da Academia da Força Aérea (AFA) que teria todo seu pessoal e equipamentos transferidos para suas novas instalações em Pirassununga, no interior do estado de São Paulo, município que reunia as melhores condições de clima e temperatura de todo o país para a prática de atividades de instrução aérea, tendo como principal vantagem o baixo nível de trafego aéreo. Este cenário possibilitaria a Força Aérea Brasileira implementar pela primeira vez a prática de voo a vela como parte da formação de cadetes. Surgia, assim, em 11 de novembro de 1976 na Academia da Força Aérea (AFA), o Clube de Voo a Vela (CVV-AFA) unidade esta que tinha como principal objetivo propiciar aos cadetes, aviadores, intendentes e infantes a prática do voo a vela, sendo como complemento às suas atividades profissionais e de lazer. A rotina da academia é exaustiva para os cadetes e, nos finais-de-semana, muitos destes jovens aspirantes poderiam assim se  dedicar a esta atividade que, além do lazer, propicia muita prática de vôo (pé e mão).
Com a estrutura e organização definidas, faltava agora buscar a aquisição de um vetor adequado a estas tarefas, neste contexto a experiência do Força Aérea Brasileira no emprego de aeronaves desportivas era muito pequena, tendo registro em operação somente de uma unidade do motoplanador Fornier RF-5 que fora incorporado a Força Aérea Brasileira em 1972 após complicações em seu processo de importação que levaram a desistência da aquisição pela Escola de Aeronáutica de São Paulo. Neste momento está aeronave designada como TZ-5 com matrícula FAB 8003 foi destinada a Esquadrilha de Adestramento da Academia da Força Aérea. Vale salientar que na época ainda não havia sido o criado o Clube de Voo a Vela (CVV-AFA). Desta maneira o Ministério da Aeronáutica (MAer) abriu uma concorrência internacional para o fornecimento de até quinze planadores, passando a receber propostas de diversos fabricantes dispostos em vários modelos que teoricamente estavam enquadrados dentro dos parâmetros exigidos para contratação da produção. Após analisar detalhadamente as propostas entregues, ponderando aspectos técnicos e econômicos o Ministério da Aeronáutica (MAer) em 27 de janeiro de 1976 decidiu pela aquisição de dez células novas de fábrica do planador L-13J Blanik fabricado pela empresa Tcheca Let Kunovice  Aircraft Industries. O contrato de fornecimento foi celebrado logo em seguida prevendo o recebimento total entre 1976 e 1977. A versão adquirida o L-13J foi desenvolvida para o emprego opcional de um motor de pequeno porte Jawa M-150 de 42 hp de potência, porém não há registros estes propulsores foram incluídos no contrato original, e se sim se foram efetivamente empregados na força aérea nesta configuração.

As primeiras células foram despachadas ao Brasil por via marítima sendo recebidas no porto de Santos – SP em meados de 1976, sendo transportadas por via terrestre até a Academia da Força Aérea (AFA) na Cidade de Pirassununga – SP, onde foram montadas e testadas para voo, recebendo a designação de TZ-13 com as matrículas de FAB 8004 a 8013. Para operar como rebocador, a aeronave escolhida seria o EMB-201 Ipanema, fabricada pela Embraer S/A , e que, na época, era utilizada apenas como aeronave agrícola. Seriam adquiridas duas aeronaves que, ainda na fábrica, receberiam a indispensável adaptação para seu novo uso. Posteriormente, atendendo justificáveis ponderações do Comandante da Academia da Força Aérea, o Ministério da Aeronáutica (Maer) autorizou a aquisição do terceiro EMB-201 Ipanema. Concluídas as providências indispensáveis ao início das suas operações, teve lugar, no dia estabelecido, 12 de novembro de 1976, a inauguração do Clube de Voo a Vela da Academia da Força Aérea (AFA) solenidade foi presidida pelo Ministro da Aeronáutica, Ten Brig Ar Joelmir Campos de Araripe Macedo e contou com a presença de inúmeros convidados, destacando-se vários oficiais generais: Ten Brig Ar Deoclécio Lima de Siqueira, Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, Ten Brig Ar João Camarão Telles Ribeiro, Comandante Geral do Pessoal, Ten Brig Ar Silvio Gomes Pires, Diretor Geral do Departamento de Aviação Civil, Maj Brig Ar Clovis Pavan, Comandante do IV COMAR, e Maj Brig Ar Pedro Frazão de Medeiros Lima, Diretor do Centro Técnico Espacial, além do Presidente da Associação Brasileira de Voo a Vela e representantes dos Clubes de Voo a Vela de Bauru, São José dos Campos, Nova Iguaçu e Jundiaí. Houve formatura do Corpo de Cadetes seguida de um desfile durante o qual foram usados, pela primeira vez, os novos uniformes do Clube, os quais foram aprovados naquele dia em boletim interno da Academia. Em sequência, houve uma exposição dos planadores e voos panorâmicos nas novas aeronaves com alguns oficiais generais da Força Aérea, tendo o voo inaugural sido realizado pelo Ministro da Aeronáutica, Ten. Brig. Ar Araripe, em planador comandado pelo Maj. Av. Padilha, oficial coordenador - supervisor do Clube de Voo a Vela da Academia da Força Aérea (AFA).
O lendário LET TZ-13 Blanik foi, sem dúvida, o maior formador de pilotos de planador da EVV, tendo sido voado por gerações e gerações de militares da Força Aérea Brasileira. Em 1990 a frota se encontrava reduzida a cinco células, devido a acidentes com perda total ou alto nível de comprometimento das estruturas, e já dividiam as tarefas com um número maio de planadores como os IPE KW-1B2 Quero Quero e IPE 02b Nhapecan II. Após vinte e cinco anos de uso e devido ao desgaste do material, no ano de 2000, foram adquiridos quatro TZ-23 Super Blanik para substituí-los e dois Z-33 Blanik Solo para complementar a formação primária. Após oito anos, em 2008, chegaram à Academia da Força Aérea (AFA) os planadores de alta performance: três TZ-17 Duo Discus XL e quatro Z-17 Discus CS, ambos com computador de bordo embarcado e voltados para missões de navegação. Assim desta maneira as últimas quatro células remanescentes foram retiradas do serviço ativo no Clube de Voo a Vela da Academia da Força Aérea (AFA).em fins de 2006, sendo descarregadas do inventario da Força Aérea Brasileira em 2008. Três aeronaves seriam transferidas ao Departamento de Aviação Civil (DAC) para serem doadas a aeroclubes, já o Let TZ-13 FAB 8010 seria preservado, sendo exposto na Academia da Força Aérea (AFA), com a citação de 10.000 pousos e o nome batismo do Tenente Juventino pintados em seu nariz.

Em Escala.
Para representarmos o  LET Blanik TZ-13 "FAB 8004", fizemos uso do raríssimo e antigo kit do fabricante Tcheco Modela, na escala 1/48 sendo um modelo que apesar de possuir linhas em alto relevo apresenta uma facilidade incrível para a montagem para maiores detalhes sobre o kit acesse nossa secção de Reviews. Um fato interessante e que o modelo dispõe originalmente  de decais para se compor a versão brasileira.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregados nas aeronaves Blanik TZ-13, implementado em meados da década de 1990 as células remanescentes. Originalmente este planadores foram recebidos ostentando um padrão de esquema de alumínio complementado por uma faixa azul escura ao longo da fuselagem.



Bibliografia :

- História da Força Aérea Brasileira - Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr
- Voo a Vela AFA - http://www.turmaepcar67.com.br/

Cessna T-37C Tweety Bird no Brasil

História e Desenvolvimento. 
A gênese da Cessna Aircraft Company, tem início em junho de 1911, quando o Clyde Cessna, um fazendeiro residente na cidade de Rago, Kansas construiu sua própria aeronave, sendo a primeira pessoa a voar entre o rio Mississippi e as montanhas rochosas. Seus aeroplanos seguintes empregavam estrutura básica de madeira e tecido, sendo produzidos na cidade de Enid, Oklahoma, sendo submetidos a testes nas salinas. Visando ampliar seu empreendimento, Clyde fez um pedido de empréstimo aos banqueiros de sua cidade, solicitação esta que lhe foi negada, levando assim o empresário a se mudar para a cidade de Wichita. Dispondo de financiamento se associaria a Victor Roos fundando a Cessna Aircraft (ou Companhia de Aeronaves Cessna- Ross) em 1927, porém o novo sócio se retiraria da empresa em pouco tempo deixando o comando sobre o controle com Clyde. Buscando se estabelecer no mercado de forma solida a empresa iniciou o desenvolvimento de um ousado projeto denominado como Cessna DC-6, com a nova aeronave recebendo a certificação oficial no mesmo dia do crash da bolsa em 29 de outubro de 1929, que deflagaria um dos piores períodos da economia norte-americana e mundial. . Apesar de lutar com o cenário de crise provocado pela depressão a empresa fecharia as portas em 1932. O rumo da empresa seria alterado em 1933 quando um piloto profissional fazendo uso de um Cessna CR-3 venceu a American Air Race em Chicago, estabelecendo um novo recorde mundial de velocidade para aeronaves daquela categoria. Antevendo o possível sucesso comercial da marca, os sobrinhos de Clyde, Dwane Wallace e Dwight Wallace compraram a empresa no ano seguinte e iniciaram um processo que transformaria a empresa. Com a economia norte americana apresentando sinais de melhoria no curto e médio prazo levando a empresa a investir em aeronaves de transporte de passageiros e treinamento básico multi motor, produtos estes que alcançariam grande destaque nos anos seguintes tanto no mercado civil, quando no militar que era potencializado pelo advento da Segunda Guerra Mundial, com a Cessna Aircraft Company recebendo inúmeros contrato governamentais para produção de componentes e aeronaves, garantindo assim recursos que a possibilitaria investir pesado nos anos seguintes no desenvolvimento de novos produtos. Logo esta decisão se mostraria acertada, com a marca conquistando grande parcela nos mercados civis e militar nos anos seguintes.

No início da década de 1950, a era da aviação de combate a jato já estava plenamente estabelecida nas forças armadas norte-americanas, e fazia se necessário adequar as tarefas de instrução básica e e avançada a esta nova realidade. Esta demanda tinha por objetivo basico evitar quaisquers problemas de adaptação dos cadetes  as aeronaves de linha de frente, melhorando a qualidade de formação e consequentemente custos. Desta maneira em 1951 a Força Aérea Americana (USAF) estabeleceu os requisitos básicos para a abertura de um processo de concorrência para o desenvolvimento de uma aeronave de treinamento básico com dois assentos a reação. Este programa foi oficialmente lançado em maio de 1952, recebendo o codinome de Programa TX - Trainer Experimental (Treinador Experimental). Este programa recebeu a apresentação de quinze projetos distintos oriundos de oito empresas aeronáuticas americanas, entre estes estava o Model 318 da a Cessna Aircraft Company, sendo este uma das duas únicas propostas que apresentavam com solução uma aeronave com dois motores. Como diferencial marcante este projeto apresentava  a disposição dos assentos lado a lado, ao invés do tradicional perfil  “tandem” (um atras do outro), com esta nova configuração permitindo uma maior interação entre o instrutor e o aluno, fato necessário nos primeiros estágios de formação dos novos pilotos. Após uma serie de avaliações de todos os concorrentes o projeto da Cessna foi declarado vencedor, com o comando da Força Aérea Americana (USAF) autorizando em medos de 1953  a construção de três protótipos inciais para avaliação e desenvolvimento  que receberam a designação de XT-37. O  voo da primeiro protótipo do XT-37 ocorreu em 12 de outubro de 1954 a partir das instalaçoes da empresa na cidade de  Wichita no estado do Kansas, com esta aeronave sendo propulsada por dois motores turbojato J-69 Continental - Teledyne T-9 com 1.025 libras de empuxo cada.
Infelizmente durante os voos seguintes de avaliaçao, este protótipo sofreu um um grave acidente quando o piloto de testes não conseguiu recuperar o controle da aeronave após efetuar uma manobra de parafuso. Ensaios e pesquisas aerodinâmicas indicaram que o Cessna XT-37 apresentava uma tendencia a não sair do parafuso,  casos algumas condições especificas não fossem observadas.  Entre todas a mais grave provocada por diferença na tensão correta nos cabos de comando da aeronave, caso fosse aplicada uma tensão inferior ao ideal, este fator bloqueava  a deflexão total das superfícies de comando, impedindo a saída da aeronave de manobra por causa das forças aerodinâmicas resultantes, gerando assim graves riscos de acidente, perfil este completamente inadequado para uma aeronave de instrução. Com base nestas aferições o comando da Força Aérea Americana (USAF) exigiu a correção destes problemas e inclusão de melhorias aerodinâmicas, e o resultante deste processo passou a ser designado como XT-37A.  Avaliações realizadas nesta nova versão levariam a sua homologação e a celebração do primeiro contrato em meados de 1955 de produção englobando a entrega de quatrocentas e quarenta aeronaves. A primeira celula agora designada como T-37A foi oficialmente entregue a Força Aérea Americana (USAF) em junho de 1956. O o som agudo de suas duas turbinas J69 Continental-Teledyne -T-9 motivaram os pilotos a apelidarem jocosamente o modelo de Tweety Bird (canário), apesar da ironia o emprego do modelo nas bases aéreas  norte americanas demandou a obrigatoriedade do uso de equipamento de proteção auricular para todo o pessoal de terra, bem com a adaptação das instalações das bases aéreas com janelas anti ruido. Em 1957, o Exército Americano (US Army) avaliou três T-37As para observação no campo de batalha e outros papéis de apoio ao combate, mas acabaria adquirindo o turboelice Grumman OV-1 Mohawk para o emprego nestas tarefas.

Como citando anteriormente  encomenda inicial previa a entrega de mais de quatrocentas aeronaves, porém o excelente desempenho renderia uma novo contrato com a aquisição de mais noventa células, que deveriam ser entregues até fins do ano de 1959, elevando assim a frota da Força Aérea Americana (USAF) para mais quinhentas aeronaves do modelo Cessna T-37A Tweety Bird. No inicio da decada de 1960 o comando da força aérea solicitou ao fabricante um estudo para melhorar o desempenho da aeronave, neste momento o departamento técnico do fabricante sugeriu emprego de uma versão atualizada dos motores J-69-T-25 Updated que proporcionavam cerca de 10% a mais de empuxo. Esta nova versão receberia a atualização da suíte avionica e sistemas de comunicação. Após a aprovação da proposta a aeronave recebeu a designação de Cessna T-37B, levando a assinatura de um contrato de produção de quinhentas e cinquenta novas células que deveriam ser entregues até meados de 1973, além da modernização de duzentas e três aeronaves da versão T-37A. Durante o emprego operacional entre os anos de 1965 a 1970 foram registrados vários acidentes graves em acidentes com impacto de aves, levando a necessidade da troca do canopy original de todas as aeronaves, com os T-37B passando a receber um novo para-brisa feito de policarbonato Lexan plástico com 12,7 mm de espessura, que podia tolerar o impacto de 1,8 kg. kg) de aves a uma velocidade relativa de 468 km h. Em 1962, a Cessna sugeriu o T-37B como um substituto do North American F-100 Super Sabre como a aeronave principal da equipe de demonstração acrobática Thunderbirds, com esta proposta sendo rejeitada. Orginalmente os T-37A e T-37B não foram desenvolvidos para o emprego armado, porém em 1961 a empresa começou a desenvolver uma versão para instrução de ataque a solo, a este fator observa-se no momento uma demanda no mercado internacional por aeronaves para combate a guerrilha (COIN). Este esforços resultariam no Cessna Model 318C que era baseada na plataforma do T-37B, estando equipado com visor de tiro e provisão para emprego de bombas, lançadores de foguete e casulos de metralhadoras em quatro pontos fixos sob as asas.
Esta versão recebeu a designação militar de Cessna T-37C, sendo dotado com uma moderna avionica, sendo equipado com ADF e VOR, que permitia a instrução  e ataque em ambientes diurno e noturno. Por ser uma variante destinada a exportação não seria adotada pela Força Aérea Americana (USAF). Ao todo foram produzidas duzentas e setenta aeronaves que foram empregadas pelo Brasil, Colômbia, Paquistão, Birmânia, Chile, Grécia, Portugal, Turquia e Coreia do Sul. Já as aeronaves T-37A e T-37B em serviço na Força Aérea Americana (USAF) representaram o sustentáculo do processo de treinamento basico daquela arma aérea ate o inicio do ano 2000, quando passaram a ser substituídos pelos novos turbo hélices Beechcraft T-6 Texan II. A última unidade a operar o modelo na Força Aérea Americana (USAF) seria a 80ª Ala de Treinamento de Voo (Flying Training Wing) que faria uso deste treinador até o dia 31 de julho de 2009. As células remanestentes em em bom estado de conservação, após serem armazenadas nos Centros de Manutenção e Regeneração de Aeronaves (Aerospace Maintenance and Regeneration Center – Amarc), passaram a ser disponibilziadas as naçoes amigas nos termos do MAP- Military Assistence Program (Programa de Assistência Militar), com dezenas de aeronaves sendo transferidas a Colômbia, Equador, Bangladesh, Chile, Alemanha, Grécia, Jordânia, República Khmer, Peru, Vietnã do Sul e Tailândia.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Entre meados da década de de 1960 a Força Aérea Brasileira já mantinha em sua primeira linha de defesa aeronaves a reação como os Gloster F-8 Meteor e Lockheed F-80C Shooting Star, modelos este de alto desempenho que deveriam ser operados por pilotos habilmente treinados. Neste contexto o sustentáculo do processo de formação e treinamento da Força Aérea Brasileira ainda estava baseando nos obsoletos monomotores com motor a pistão North American T-6D e T-6G Texan, que proporcionam um desempenho completamente insatisfatório quando engajados no estagio avançado de pilotos de caça nas modernar aeronaves a reação. Vislumbrava-se a necessidade emergencial de incorporar uma nova aeronave dedicada ao treinamento avançado, buscando em uma única ação melhorar o processo de formação, diminuir  gap de adaptação entre um vetor de treinamento a hélice e uma aeronave de combate a jato e também reduzir toda a escala de custos de operação e manutenção que as aeronaves mais desgastadas proporcionavam. Para se atender a esta demanda, o Ministério da Aeronáutica (MAer) abriu uma concorrência internacional para a aquisição de até cinquenta aeronaves de treinamento com motores a reação, para assim substituir, os veteranos e já ultrapassados, North American T-6D e T-6G Texan na instrução básica e avançada dos cadetes da então Escola de Aeronáutica - (EAer) . Diversas propostas seriam apresentadas, e as análises apontavam para escolha pelo modelo Cessna T-37C (Model 318), com este preenchendo o maior número dos requisitos determinados pelo Estado Maior da Aéronautica (EMAer). Além do aspecto técnico a proposta apresentada pela Cessna Aircraft Company concedia as formas mais atraentes de pagamento, sendo então escolhido como o novo treinador avançado da Força Aérea Brasileira. 

O contrato original previa a aquisição de quarenta células nova de fabricas do Cessna Model 318C, que receberiam as matriculas de FAB 0870 a 0909 e a designação militar de T-37C.  Imediatamente, seria criada uma Comissão de Fiscalização e Recebimento da Força Aérea Brasileira na Cessna - COMFIREM-CESSNA, na cidade de Wichita no estado do Kansas. Esta comissão coordenaria, a transferência de tecnologia de manutenção para os nossos técnicos, o treinamento dos primeiros pilotos da Força Aérea Brasileira, que realizariam o traslado em voo dos aviões para o Brasil, sendo esta equipe responsável também pelo recebimento das aeronaves. Seu translado em voo realizado por oficiais da Escola de Aeronáutica (EAer), seria iniciado em meados do ano de 1967, sendo composto em esquadrilhas constituídas com quatro ou cinco aeronaves, sempre acompanhadas por uma aeronave de apoio Fairchild C-119G. As primeiras aeronaves começariam a chegar à cidade de Pirassununga, no interior de São Paulo, sede do Destacamento Precursor da Escola de Aeronáutica - (DPEAer), em agosto do mesmo ano. O período compreendido entre o último trimestre deste e o próximo ano de 1968 seriam utilizados na complementação da dotação das aeronaves, bem como formar os novos instrutores de voo, preparar a sistemática de manutenção, assim como todos os manuais e procedimentos necessários ao voo de instrução. No dia 09 de setembro de 1968, seria realizado o primeiro voo de instrução com cadetes no Cessna T-37C no Brasil. Com a criação do Centro de Formação de Pilotos Militares (CFPM), na cidade de Natal, RN, em 1970, a Força Aérea Brasileira optaria pela compra de mais vinte e cinco aeronaves, do mesmo tipo, com estas recebendo as matriculas de FAB 0910 a FAB 0934. Esta nova unidade teria a responsabilidade de ministrar, em um ano, praticamente toda a instrução de vôo primária, básica e avançada para os cadetes do primeiro ano, selecionando-os como pilotos militares, que seguiriam, após, para a Academia da Força Aérea (AFA), novo nome da Escola de Aeronáutica (EAer), desde o dia 10 de julho de 1969 - onde fariam somente voos de manutenção, pois toda a seleção de voo já teria sido realizada no Centro de Formação de Pilotos Militares (CFPM).
Um grupo de instrutores da Academia da Força Aérea (AFA) resolveu formar uma esquadrilha de demonstração aérea, denominada de ESQUADRILHA CORINGA, equipada com nove aeronaves Cessna T-37C, no âmbito do Primeiro Esquadrão de Instrução Aérea - 1º EIA, em princípios de 1969, a fim de manter o treinamento do vôo de formação, assim como participar de atividades de representação aérea na própria academia, nas datas festivas como a entrega do espadim aos novos cadetes e na formatura dos aspirantes-a-oficial, no final de cada ano. Porém, o motivo principal do grupo seria proporcionar vibração e confiança aos jovens cadetes aviadores da Força Aérea Brasileira. A primeira demonstração aérea da Esquadrilha CORINGA foi realizada no dia 10 de julho de 1969, exatamente na entrega dos espadins aos novos cadetes e para comemorar a transformação da Escola de Aeronáutica em Academia da Força Aérea, assim como a transferência definitiva da Escola do Campo dos Afonsos para a Cidade de Pirassununga, SP. O sucesso foi total, sendo, inclusive, uma grande surpresa para todos os presentes que se impressionaram com a perfeição e o arrojo das manobras realizadas por nove jatos birreatores pesados na ala. Com a desativação temporária da Esquadrilha da Fumaça, em virtude da retirada de serviço dos aviões North American T-6D e T-6G, em 1976, a Coringa era a única esquadrilha de demonstrações da Força Aérea Brasileira, mesmo não sendo oficializada, porém, as solicitações para demonstrações eram enormes, em sua maioria atendidas pelo Comando da Academia da Força Aérea (AFA), dentro da disponibilidade das aeronaves e do quantitativo de horas de voo aprovadas para o esforço aéreo da Academia. Infelizmente, no final de 1978, a Esquadrilha Coringa fez a sua última demonstração, em decorrência da pouca disponibilidade dos jatos T-37C, que não atingiam o total de nove aeronaves para formar a Esquadrilha. Assim, o Comandante da academia determinaria que durante as solenidades os voos fossem realizados somente por quatro aeronaves, o que acarretou na prematura desativação de tão querida equipe, que tantas alegrias e emoções proporcionou aos cadetes da Academia da Força Aérea (AFA) e ao público em geral de 1969 a 1978.

A adoção deste treinador revolucionou a formação de pilotos na Força Aérea Brasileira, pois possibilitava aos cadetes em curso, o contato com uma aeronave muito semelhante em características de desempenho, com os modelos de primeira linha que dotavam as unidades de combate naquele período. Tal sistemática teve duração efêmera, pois em 1973 todos os T-37C foram concentrados na Academia da Força Aérea (AFA) , onde permaneceram como o treinador padrão para a formação dos novos pilotos militares brasileiros, sendo extinto assim o curso de Formação de Pilotos da Reserva. O atrito operacional iria cobrar um alto preço da frota de treinadores Cessna T-37C, em meados da década de 1970 um alto índice de acidentes se acumulava sobre o modelo, representando uma perda de vinte e uma células, ou 32,30% da frota. A este cenário se somavam mais fatores negativos, como altos custos de manutenção, problemas no fluxo de peças de reposição, fadiga estrutural  e alto custo de operação, resultando em cada cada vez mais críticos índices de disponibilidade da frota, que passavam a afetar todo o processo de instrução na academia. Clarificava-se assim a necessidade de promover a retirada da aeronave do serviço ativo da Academia da Força Aérea (AFA) , com este processo sendo iniciado em meados de 1978, esta solução seria dividida em duas fases, com o T-25 Universal passando a dividir o estagio de treinamento avançados com os Cessna T-37C proporcionando assim um transição menos traumática para os cadetes. Ja constava nos planos do Ministério da Aeronáutica (MAer) a adoção do treinador avançado Embraer T-27 Tucano, que se encontrava neste período em estagio final de desenvolvimento e deveria ser incorporado a partir de 1983, passando a assumir o papel do Cessna T-37C. Este processo de transição seria concluído até o inicio do ano de 1980, quando enfim o modelo deixou a Academia da Força Aérea com as aeronaves sendo transladadas até o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMASP), localizado no Campo de Marte, na cidade de São Paulo, organização esta que era responsável pela aplicação das revisões gerais  denominadas de  IRAN (Inspection and Repair As Necessary).
Finalmente, todas as aeronaves foram concentradas no Campo de Marte, em São Paulo, no final de 1980, quando as mesmas começaram a ser preparadas para uma possível colocação em concorrência internacional para venda. O Boletim da Diretoria de Material - DIRMA de nº 028, de 20 de outubro de 1981, dá baixa do acervo da Força Aérea Brasileira de 42 aeronaves Cessna T-37C, remanescentes da antiga frota de sessenta e cinco aeronaves, recebidas em 1967 e 1970. Completando o processo, a Força Aérea Brasileira colocou à venda quarenta e duas aeronaves Cessna T-37C, em 1981, que estavam estocadas no Parque de Material Aéronautico de São Paulo (PAMASP). Apareceram inúmeros países interessados em adquirir tais aviões como o Chile, o Uruguai e até os Estados Unidos. Porém, foi a Coréia do Sul que apresentou a melhor oferta e acabou adquirindo todo o lote de aeronaves que foram entregues no mês de março de 1982. Assim, este magnífico avião, que teve a responsabilidade de formar toda uma geração de pilotos da Força Aérea Brasileira, conseguindo introduzir a doutrina do jato aos novos oficiais e capacitando-os para a pilotagem de aeronaves mais sofisticadas, com certeza, deixou um preito de saudade e emoção nos que tiveram o prazer de tê-lo voado ou, principalmente, nele ter começado os primeiros passos na arte de voar! . A aeronave T-37C FAB 0922 está preservada no Museu Aeroespacial. As outras aeronaves foram perdidas em acidentes durante os quinze anos de sua operação na Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Cessna T-37C "FAB 0922", empregamos o kit GIIC (resina) na escala 1/48, modelo este que já apresenta as conversões pertinentes a versão operada pelo Brasil. Não necessitando assim de modificações em scratch que devem ser feitas caso o modelista faça a opção por modelos injetados disponíveis no mercado (Revell ou Monogram). Empregamos decais originários do modelo em combinação com decais confeccionados pela FCM Decais presentes no antigo  Set 48/10.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o terceiro padrão de pintura empregado nas aeronaves T-37C em uso pela Força Aérea Brasileira, inicialmente as células foram recebidas nos Estados Unidos com acabamento metálico, sendo depois adicionadas faixas de alta visibilidade no Brasil (empregado na CFPM e AFA), o terceiro padrão foi implementado após as revisões gerais em âmbito de parque (IRAN – Inspecion and Repair as Necessery) e mantido até sua retirada do serviço ativo.



Bibliografia :

- Cessna T-37C , Wikipédia -http://pt.wikipedia.org/wiki/Cessna_T-37
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 – Jackson Flores Jr.
- Cessna T-37 Esse eu Voei Cel Av Antônio R. Biasus – Revista Força Aérea Edição 95
- História da Força Aérea Brasileia, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html