M-26 e M-25 Dragon Wagon no Brasil

História e Desenvolvimento.
Em setembro de 1939 o eclodir da Segunda Guerra Mundial iria descortinar uma realidade no campo de batalha, o da campanha mecanizada altamente móvel, empregando principalmente em larga escala o enfrentamento de carros de combate. Neste contexto, os observadores militares do Exército dos Estados Unidos (US Army) passariam a acompanhar de perto o desempenho dos blindados britânicos do Exército Real (Royal Army) na campanha do deserto na África do Norte. Uma das principais observações levantadas apontavam a falta de veículo especializado de socorro capaz de recuperar e transportar os carros de combate blindados imobilizados, seja por combate, seja por problemas mecânicos. A ausência deste tipo específico de viatura ocasionaria como consequência a perda desnecessária de numerosos carros de combate que tiveram de ser desnecessariamente deixados para trás ou destruídos por suas próprias equipagens para não caírem em mãos inimigas. Uma solução a esta demanda passaria a ser estudada pelos militares norte-americanos, envolvendo o desenvolvimento de um veículo sob rodas, que deveria ser apto a operar em qualquer terreno, capaz de transportar ou tracionar todos os blindados com peso de até quarenta toneladas em uso nas forças armadas até aquele momento, e, em particular, os carros de combate médios M-4 Sherman. Em meados de 1942, uma concorrência seria aberta, com várias empresas do segmento automotivo e de construção de máquinas pesadas para mineração sendo convidadas a participar deste processo. Diversas propostas seriam apresentadas, se destacando o projeto apresentado pela Knuckey Truck Company de San Francisco. Esta empresa detinha muita experiência no desenvolvimento e construção de caminhões pesados. Em testes comparativos seus concorrentes apresentariam diversas falhas em campo, com seu modelo se mostrando muito superior. O principal diferencial da proposta da Knuckey Truck Company  estava baseado no fato de seu modelo contar com um sistema de ransmissão por corrente dupla nos eixos traseiros. Curiosamente, pressões políticas e um forte lobby com interesses escusos, levariam esta empresa a não receber o contrato de produção, com seu projeto recebendo a chancela de “Segurança Nacional” o mesmo seria legalmente apropriado e direcionado a outro fabricante. 

Contando com grande influência junto aos congressistas, a empresa Pacific Car and Foundry Company de Seattle, Washington, acabaria por receber os contratos de produçao sobre o projeto da Knuckey Truck Company. Os primeiros veículos denominados pelo fabricante como TR-1seriam entregues as unidades operativas do Exército dos Estados Unidos (US Army) a partir de julho de 1942. O conceito de aplicação em campo consistiria no trator sob rodas com tração integral 6X6, designado oficialmente como M-26, operando em conjunto com a carreta M-15 (produzido pela empresa Fruehauf A Trailer Corporation). A conjunção destes dois equipamentos receberia no inventário do exército, a designação de M-25. Devido à sua finalidade operacional e ao seu tamanho imponente (17,48 metros de comprimento), seria popularmente conhecido pelo apelido de "Carroça do Dragão" (Dragon Wagon). O cavalo mecânico estava equipado com uma cabine levemente blindada ( 16 mm a frente e aos lados e 6,4 mm na traseira), eficiente contra o fogo de armas leves e estilhaços de artilharia, que podia transportar com segurança sua tripulação de até sete homens. Seu grupo propulsor podia ser composto pelos robustos motores a gasolina TM 9-1767A ou Hall-Scott 440, ambos com 6 cilindros em linha de 17,86 litros, que produziam cerca de 240 cv em potência máxima (motores projeto marítimos produzidos desde o início da década de 1930, sendo comprovadamente eficientes e de baixa manutenção). Estes operariam em conjunto com uma transmissão automática com quatro marchas à frente e uma ré, atingindo pouco mais de 40 km/h em estradas pavimentas e cerva de 19 km/h em ambiente fora de estrada (off-road).  Apesar de serem empregados mais habitualmente na configuração M-26 para o transporte sobre a prancha de veículos pesados, o M-25 estava equipado com três guinchos hidráulicos, um posicionado à frente, sob o para-choques e ancorado no chassi, que tinham a capacidade de tracionar veículos de até dezoito toneladas.   

Apesar de prover o transporte dos veículos pesados avariados em combate o com problemas técnicos da linha de frente para a retaguarda, o principal objetivo do conjunto M-26 Dragon Wagon  era o de tentar recuperar in loco os carros de combate, e para isso contavam com um amplo leque de ferramentas destinadas a esta missão, incluindo equipamento completo de soldagem, compressor de ar, correntes, cabos de reboque, polias hidráulicas de dez e vinte toneladas e outros acessórios adequados à tarefa de recuperar blindados em campo. Esta suíte de ferramentas podia ainda receber a opção de instalação de um pequeno guindaste na parte traseira da cabine com a finalidade de levantar cargas leves, ou para mudar uma roda. Além disso, na parte traseira, havia uma estrutura dobrável em forma de "A "que podia ser erguida e travada em diferentes posições para facilitar o arraste dos veículos a serem recuperados. Muitas vezes estas missões de socorro poderiam se dar em zonas de conflagração com alto risco, e para autodefesa o M-26 Dragon Wagon dispunha de uma escotilha no teto da cabine com anel deslizante no qual uma metralhadora Browning calibre .50 podia ser instalada. Além disso, a tripulação dispunha de um kit de armamento pessoal como metralhadoras Thompson, carabinas M-1, pistolas, granadas de mão e sinalizadores. Os primeiros M-25 e M-26 Dragon Wagons começariam a ser destacados para o teatro de operações na Europa em maio de 1943 principalmente no teatro italiano, passando a executar com maestria a missão para qual foram desenvolvidos. Curiosamente ao contrário do esperado, observou-se que estes veículos de socorro acabariam não sendo frequentemente utilizados em operações de recuperação durante o calor da batalha, o que tornava complemetamente desnecessária a ampla blindagem de cabine empregada. Assim a este sistema acabaria por ser suprimido na nova versão M-26A1, reduzindo além do peso total, o seu custo de produção final. 

Seu maior emprego no teatro de operações europeu se daria partir dos dias em que seguiram os desembarques da Operaçao Overload na invasão aliada no continente, avançando em conjunto com as divisões blindadas do Exército dos Estados Unidos (US Army) no interior da França, Holanda e Bélgica. Neste cenário teriam um extenso emprego, principalmente em face do alto número de carros de combate M-4 Sherman avariados em batalha contra os modelos superiores do Exército Alemão (Wehrmacht). Vale salientar que os índices de disponibilidade da frota de de carros de combate aliados neste cenário seriam amplamente influenciadas pela pronta resposta em missões de recuperação pelos M-25 Dragon Wagon. Curiosamente registros fotográficos apresentam diversas ocasiões em que estes veículos foram empregados para transportar para as linhas de retaguarda, inúmeros carros blindados alemães capturados a fim se serem enviados para os Estados Unidos e Grã-Bretanha para avaliação de desempenho, visando descobrir fortalezas e fraquezas de seus projetos. Algumas poucas dezenas de veículos do modelo M-25 Dragon Wagon seriam empregados no teatro de operações no pacífico, com destaque durante a Batalha de Okinawa em 1945 (abril-junho). Próximo ao término do conflito, a introdução em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) de carros de combate com peso de deslocamento superior ao M-4 Sherman, levariam a necessidade de adaptação principalmente da carreta, nascendo assim a versão M-15A1 que expandia a capacidade de transporte para veículos com peso igual ao novo carro de combate M-26 Pershing. O eclodir da Guerra da Coreia (1950-1953) levaria os caminhões M-25 e M-26 Dragon Wagon, a atuar novamente em um cenário de conflagração real, quando seriam deslocados para este teatro de operações. Novamente a introdução de carros de combate mais pesados, levaria a necessidade de melhorias na motorização dos M-26, e a criação de uma nova versão da carreta (trailer) que receberia a designação de M-15A2. 

O M-26 Dragon Wagon continuaria em uso no Exército dos Estados Unidos (US Army) até meados do ano de 1955, quando passariam a ser substituídos novos caminhões semi tratores sob rodas  Mack M- 123 e  Mack M-125 com tração 6X6 de dez toneladas. Curiosamente as antigas carretas (trailer) M-15A2 passariam a operar com estes novos veículos se mantendo em uso ativo até o início da década de 1970, sendo empregado inclusive na Guerra do Vietnã. Com sua retirada do serviço ativo, muitas unidades remanescentes em bom estado de conservação, passariam a ser comercializadas no mercado civil, sendo empregados em tarefas de reboque de veículos pesados em áreas de dificil acesso e trânsito, principalmente em tarefas de reboque de vagões de trem. No entanto seu emprego comercial em rodovias era proibido devido a sua velocidade máxima ser inferior a 50 km/h.  Algumas unidades seriam empregas pela NASA (Administração Nacional do Espaço), transportando conjuntos dos foguetes Saturno durante o programa Apollo. Ao todo até o ano e 1945 seriam produzidos dois mil e cem veículos da família M-26 Dragon Wagon. Algumas dezenas seriam cedidos nos vantajosos termos de programas de ajuda militar a paises como França, Japão, Grã-Bretanha, Brasil, França e Iugoslávia, permanencendo em uso até meados da década de 1970. 

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. 

Entre os anos de 1942 a 1945, o Exército Brasileiro viria a receber nos termos deste acordo, mais de seiscentos modernos carros de combate divididos entre os modelos M-3 Lee, M-3/A1 Stuart e M-4 Sherman. O contínuo emprego destes meios em conjunto com veículos blindados de transporte de tropas, resultariam nos primeiros passos para o o domínio de uma operação efetiva no país de carros de combate. Ocorre, no entanto, que por fatores não divulgados o Exército Brasileiro, jamais receberia neste período, qualquer quantidade de veículos de socorro sobre rodas ou sob esteiras especializados em tarefas de recuperação e transporte de blindados de combate deste porte, como os porte como os M-32 Sherman, M-31B1 Lee ou M-25 Dragon Wagon. Dispondo e operando uma grande frota de carros de combate, a frota de carros de combate brasileira, seria ao longo dos anos acometidas de muito incidentes e falhas mecânicas, quando do emprego em exercícios operacionais em terrenos irregulares e trajetos fora de estrada. Nestas ocorrências, caso não houvesse a a viabilidade do reparo no local devido ao nível da falha mecânica, se fazia necessário remover o carro de combate e transportá-lo até os locais específicos para manutenção. É fato afirmar que sem dispor de veículos de socorro especializados, geralmente estas tarefas representavam desafios hercúleos, levando assim os mecânicos e o corpo de engenheiros a fazer uso de uso de soluções improvisadas, como emprego de carros de combate similares, ou ainda empregar os robustos tratores Minneapolis Moline GTX 147 G-641. Estas soluções paliativas, apesar de lograram relativo êxito, demandavam um tempo de execução muito alto, criando frequentes problemas de indisponibilidade continuada dos carros de combate envolvidos, principalmente se estes fossem dos modelos M-3 Lee e M-4 Sherman que apresentavam um peso de deslocamento superior aos usuais carros de combate leves M-3 Stuart (que compunham naquele período o esteio da frota de carros blindados). 
Já o transporte por via rodoviária em termos práticos, quando em operações de deslocamento da frota com maior rapidez, se mostraria algo praticamente impossível, pois não havia disponíveis caminhões ou pranchas rodoviárias adequadas, e em número suficiente para o emprego neste tipo de missão. Neste contexto na busca de atendimento destas demandas, seriam realizados alguns experimentos, fazendo uso de poucos Tratores sobre Cavalo Mecânico Emprego Geral de oito toneladas (VTTNE) dos modelos Corbitt-White G-512 Model 50SD6 e Diamond T-980 conjugados com carretas produzidas localmente para o transporte de carros de combate, se limitando, porém, a operação com os carros leves M-3 e M-3A1 Stuart.  Até o final da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro viria a receber mais veículos militares nos termos do Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), porém curiosamente nenhum veículo especializado de grande porte, capaz de recuperar e transportar os carros de combate blindados imobilizados. Infelizmente durante os anos seguintes a Força Terrestre não teria esta deficiência atendida, gerando uma grande lacuna na doutrina operacional de recuperação e manutenção de carros de combate com eficiência. No final da década de 1940, os Batalhões de Carros de Combate (BCC), começaram a registrar vários eventos recorrentes de quebra em campo de seus carros de combate, mais notadamente relacionados a frota de carros M4 Sherman, criando como no passado, uma série de transtornos operacionais para sua remoção e transporte até os pontos de manutenção. Ao longo dos anos seguintes estas ocorrências se tornariam mais e mais frequentes devido ao fator de envelhecimento da frota de carros de combate do Exército Brasileiro.   

Com esta demanda se tornando cada mais emergencial, a direção da Escola de Motomecanização (EsMM) no Rio de Janeiro, começaria a desenvolver estudos visando solicitar ao Ministério do Exército a disponibilização de pelo menos o mínimo necessário em termos de equipamento, para assim iniciar o desenvolvimento da doutrina operacional de recuperação e transporte de carros de combate em campo. A oportunidade de ser atender a esta importante demanda começaria a se materializar no início da década de 1950, quando o governo brasileiro fazendo uso dos termos do programa de ajuda militar norte-americano MAP (Militay Assistence Program – Programa de Assistência Militar) iniciou um gradual processo de ampliação e modernização de suas forças armadas. Neste primeiro estágio, o Exército Brasileira seria beneficiado com o recebimento de trinta carros de combate M-4 Sherman, juntamente com cinquenta motores radiais de reposição. O pacote abrangeria também uma limitada quantidade de veiculos e apoio e socorro em campo de carros de combate, incluindo um M-32 Recovery Vehicle, três M7-4 Recovery Vehicle, um M-39 (para transporte da equipe de manutenção) e por fim um conjunto M-25 Dragon Wagon (composto por um cavalo mecânico sobre rodas M-26 e uma carreta M15A1).  Tanto o M-26 quanto a prancha rodoviária M-15A1 recebidos, eram oriundos dos estoques do Exército dos Estados Unidos (US Army), representando a primeira versao deste conjunto a entrar em operaçao durante a Segunda Guerra Mundial. Não existem registros oficiais quanto a operação do único M-25 Dragon Wagon no Brasil, mas acredita-se que tenha sido mantido na Escola de Motomecanização (EsMM) durante sua carreira operacional, infelizmente não existem dados sobre e quando o cavalo mecânico e a carreta foram retirados do serviço ativo. 
Apesar de sua breve carreira no Exército Brasileiro, o emprego do "conjunto" M-25 Dragon Wagon, acabaria por fornecer subsídios para o desenvolvimento de veículos de produção nacional destinados a esta tarefa, a exemplo dos modelos FNM D-11000 e Scania 110 Super 6x6 17 toneladas (militarizado pela Engesa S/A). Quanto ao destino final do M-26 Dragon Wagon brasileiro, pairam diversos mistérios, com sua última aparição registrada como parte do acervo do Museu do Forte Copacabana no Rio de Janeiro, infelizmente acabaria por ser removido juntamente com outros veículos em fins da década de 1970. Especula-se que o M-26 foi levado para as instalações da empresa Avibras S/A na cidade de Sao José dos Campos - SP, a fim de ser empregado como objeto de estudo no desenvolvimento da carroceria e cabine blindada do veículo lançador do sistema de foguetes Astros II. Porém também não podemos descartar o fato de ter sido vendido como sucata ou ainda repousar perdido em alguma unidade do Exército Brasileiro. Quanto a prancha rodoviária M-15A1 existem informações que a mesma é parte integrante do acervo do Museu Militar Brasileiro na cidade de Panambi, no interior do estado do Rio Grande do Sul. 

Em Escala.
Para representarmos o M-26 Dragon Wagon “EB30-120” pertencente a Escola de Motomecanização (EsMM), empregamos o excelente kit produzido pela Tamiya na escala 1/35.  Modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento e grande quantidade de acessórios. Empregamos decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set  "Exército Brasileiro - Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982 ".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército dos Estados Unidos (US Army),  aplicado durante a Segunda Guerra Mundial, recebendo como alteração somente as marcações nacionais. Durante toda sua carreira o M-26 Dragon Wagon ostentaria este padrão com suas últimas fotos coloridas realizadas no Museu do Forte Copacabana na década de 1970, atestando esta informação.

 




Bibliografia : 

- M-26 Tank Transporter – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/M25_Tank_Transporter 

- M2-6 Dragon Wagon Walk Around – David Doyle 

- Veiculos Militares  do Brasil – EB e CFN https://www.facebook.com/groups/blindadosbrasil  

Spad XIII na Aviação Militar

História e Desenvolvimento.
A empresa francesa SPAD (Société Pour L'Aviation et ses Dérivés), foi criada em 1911 como Aéroplanes Deperdussin, tornando-se a Société de Produção des Aéroplanes Deperdussin no ano seguinte. Seu fundador Armand Deperdussin iniciou sua vida profissional como vendedor ambulante e cantor de cabaré nas cidades de Liège e Bruxelas, seu viés comercial iria lhe trazer no futuro uma grande fortuna no negócio da seda.  Deperdussin tornou-se fascinado pela aviação em 1908, decidindo assim a partir do ano seguinte investir no segmento de aeronaves, contratando para isso o engenheiro Louis Béchereau para atuar como diretor técnico. Béchereau seria responsável pelos projetos de várias aeronaves, entre estas o Deperdussin TT que se mostrou como foi um considerável sucesso de exportação, com sessenta e três sendo construídos pela empresa Lebedev na Rússia e outros em Highgate, em Londres, pela British Deperdussin Company. A partir de 1911, a empresa passou a produzir aeronaves em uma nova fábrica em Grenelle, nos subúrbios de Paris. Porém em 1913 seu fundador seria preso por fraude fiscal e financeira o que levaria a paralização das atividades. Armand Deperdussin , apesar apresentar de aguerrida defesa jurídica acabou sendo condenado, isto lhe traria um grande impacto em sua saúde mental, o que o motivaria a tirar sua própria vida. Com o financiamento desonrado e seu fundador preso a empresa foi paralisada, ameaçando assim futuro desta empresa. Detentora de um grande potencial tecnológico, o espolio da empresa passou a ser disputado por várias empresas nacionais, com um consórcio liderado por Louis Blériot arrematando os ativos da empresa em 1913, passando a reorganizar a empresa como Société Pour L'Aviation et ses Dérivés, mantendo a sigla SPAD.

Os primeiros projetos Béchereau-SPAD foram representados por aviões biplanos incomuns de dois lugares com o piloto instalado logo atrás das asas, como em um projeto convencional, enquanto o observador - artilheiro estava sentado em uma nacele, ou púlpito, em frente à hélice, conjunto este afixado no trem de pouso. Este projeto conceitual foi implementado na série SPAD A, nos modelos S.A.1, S.A.2, S.A.3 e S.A4, sendo exportado em pequenos lotes para a arma aérea francesa (principalmente S.A.2) e russa (principalmente S.A.4). No entanto a disponibilidade do novo caça Nieuport 11 e o desenvolvimento subsequente de um sincronizador eficaz de metralhadoras pelos franceses tornaram esta configuração incomum rapidamente obsoleta. Nesta fase da construção aeronáutica, o desempenho nos primeiros projetos de aeronaves dependia diretamente dos motores, ciente deste cenário o designer suíço Marc Birkigt estudou o desenvolvimento de um grupo propulsor aeronáutico com base no motor automotivo Hispano-Suiza V8, resultando em conjunto de 330 libras capaz de produzir 140 cv a 1.400 rpm, no ano seguinte um refinamento trouxe a potência para 150 cv. Dado o potencial do motor, as autoridades francesas ordenaram que a produção fosse configurada o mais rápido possível e chamaram os projetistas de aeronaves para criar um novo caça de alto desempenho em torno do motor, chamado Hispano-Suiza 8A. Assim Louis Béchereau, rapidamente produziu desenhos para um protótipo de caça equipado com o novo motor, gerando assim o modelo SPAD V, que era uma versão menor do SPAD S.A de dois lugares.
Uma das muitas características de design comum entre o novo SPAD V e o S.A-2 foi o uso da configuração de asa biplano com baía única com suportes de luz adicionais montados no meio da baía no ponto de junção dos fios de sustentação e de pouso. Este projeto simplificaria o sistema de cabos, levando a redução de vibração, reduzindo o arrasto. A fuselagem apresentava a construção padrão da época, consistindo em uma estrutura de madeira coberta com tecido, enquanto a parte dianteira estava coberta com chapas metálicas. Uma metralhadora refrigerada a agua Vickers .303 calibre 7,7 mm, seria instalada acima do motor, sincronizada para disparar através do arco da hélice. O protótipo inicial foi equipado com um grande spinner na hélice que seria abandonado nos modelos de série. Outra característica de design comum dos caças da época que seria empregado tanto no SPAD VII como no seu sucessor o SPAD XIII era a conexão dos controles dos aileirons com sistema pushrod em conjunto com um par de bellcranks expostos de 90º nas saliências dos painéis da asa inferior para operar flexões verticais. O primeiro protótipo alçou voo em abril de 1916, com os testes revelando. Os testes de voo revelaram excelente velocidade máxima de 192 km/h, e taxa de subida de 4,5 min a 2.000, revelando também grande capacidade de mergulho. A combinação de alta velocidade e boa capacidade de mergulho prometeu dar aos pilotos aliados a iniciativa de se envolver ou sair do combate. Se o novo caça era uma plataforma de tiro robusta e estável, alguns pilotos lamentaram sua falta de manobrabilidade, especialmente quando comparados a tipos mais leves como o Nieuport 17, podendo assim ser facilmente sobrepujado em voo.

Diante de tal desempenho, um contrato inicial de produção foi feito em 10 de maio de 1916, exigindo que as 268 aeronaves, fossem designadas SPAD VII C.1 (C.1, de avion de chasse em francês, indicando que a aeronave era um caça, enquanto a 1 indicava que era um único assento). As aeronaves do primeiro lote de produção apresentaram uma série de defeitos, que em face do processo de correção iriam impor atrasos e limitar as taxas de entrega as unidades no front. Poucas células chegariam as unidades de linha de frente no último semestre de 1916, com esta situação sendo normalizada somente a partir dos primeiros meses de 1917. O emprego operacional evidenciaria uma série de falhas de projeto que seriam provisoriamente resolvidas em campo, porém clarificaria a necessidade de se implementar melhorias no projeto, inclusive seguindo as demandas de usuários de exportação do modelo como Inglaterra e Rússia. O primeiro resultado seria o SPAD XII armado com um canhão de 37 mm e motor HS.8B de redução de marcha, infelizmente este modelo não seria bem aceito, levando a equipe de projetos novamente a repensar o modelo. Nascia assim o novo SPAD XIII que realizaria seu primeiro voo em 4 de abril de 1917. O novo modelo era um avião biplano monomotor compartilhando com seu antecessor o processo de estrutura e materiais, apresentando como novidade o potente motor HS.8Be V8 com 200 cv de potência e armamento renovado com um par de metralhadoras Vickers. Durante maio de 1917, apenas um mês após o voo inaugural do tipo, as entregas para a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) começaram. A nova aeronave rapidamente se tornou um elemento importante nos planos franceses para sua força de caça, sendo esperado para substituir o SPAD S.VII, bem como os poucos caças Nieuport restantes no serviço de linha de frente.
No entanto, esses planos sofreram atrasos, sendo que no final de março de 1918, apenas 764 caças haviam sido entregues em comparação com uma força planejada de 2.230. Mesmo assim o SPA XIII equiparia praticamente todos os esquadrões de caças franceses, compreendendo setenta e quatro Esquadrilhas durante a Primeira Guerra Mundial, permanecendo em serviço até fins de 1923. O modelo seria empregado em larga escala pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), chegando a equipar quinze dos dezesseis esquadrões operacionais no front. Também o  Corpo Voador Real (Royal Flying Corps RFC) britânico faria uso do SPAD XIII durante o conflito, e por fim o Corpo Aeronáutica Militar Italiano (Corpo Aeronautico Militare) seria o último operador do modelo durante a Primeira Guerra Mundial. A aeronave seria ainda exportada a partir de 1919 para a Argentina, Bélgica, Brasil, Grécia, Japão, Rússia, Servia, Siam, Espanha, Turquia, Uruguai e Tchecoslováquia. Um total de 8.772 aeronaves seriam produzidas até meados de 1920, com as últimas células sendo retiradas do serviço ativo no início da década de 1930.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O Brasil teve uma participação modesta na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), já que não possuía neste momento grandes recursos bélicos. Assim sendo, o país limitou-se a fornecer apoio pontual, em colaboração nos combates aéreos e marítimos, bem como no auxílio aos feridos nos campos de batalha. Em 3 de abril de 1917, um navio mercante dos Estados Unidos foi torpedeado por submarinos alemães e, no mesmo dia, um navio brasileiro também o foi no Canal da Mancha na costa do Reino Unido. Isso provocou o rompimento das relações diplomáticas dos dois países com o Império Alemão. Pouco tempo depois, os Estados Unidos entraram na guerra contra a aliança entre austríacos e alemães. Depois de outros navios brasileiros serem torpedeados novamente, na costa do Mar Mediterrâneo, o então presidente Venceslau Brás assinou após aprovação no Congresso Brasileiro a declaração de guerra contra a Tríplice Aliança no dia 26 de outubro de 1917. Apesar de limitada, a participação brasileira evidenciou a total obsolescência do Exército Brasileiro perante a nova realidade militar mundial, mostrando uma necessidade fundamental de atualização, não só em termos de material, mas também de doutrina e cultura.  No intuito de reverter este cenário, o governo brasileiro no segundo semestre do ano de 1918 iniciou tratativas junto ao governo francês a fim de estudar o desenvolvimento de consultoria e assessoria militar no intuito de modernizar as forças do Exército Brasileiro. As negociações para o contrato ocorreram em Paris, entre o adido militar brasileiro na França, coronel Malan d’Angrogne, e o ministro da Guerra francês, Georges Clemenceau. Já naquele momento o chefe designado, general Maurice Gamelin, se encontrava em missão de reconhecimento no Brasil. O contrato foi assinado poucos meses depois na capital francesa e ratificado logo em seguida no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, criando assim oficialmente a “Missão Militar Francesa”. 

Os termos do contrato estipulavam que oficiais franceses comandariam durante quatro anos as escolas de Estado-Maior (EEM), de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), de Intendência e Veterinária; e que o Brasil se comprometia a privilegiar a indústria francesa em suas compras de armas e equipamentos militares com a condição de que o material oferecido, o prazo de entrega e os preços fossem no mínimo equivalentes aos de outros países fornecedores. Neste escopo havia destaque para a aérea de aviação, com a contratação de oficiais aviadores e mecânicos franceses que iriam auxiliar no estabelecimento de uma escola de aviação para o Exército Brasileiro. Além da contratação de pessoal, as negociações incluíram a aquisição de aeronaves e de material de apoio destinados a equipar a futura Escola de Aviação Militar (EAvM). Entre as muitas aeronaves encomendadas, encontrava-se um lote de aeronaves SPAD XIII, os primeiros aviões de caça da arma de aviação do Exército Brasileiro. Conquanto seja difícil por falta de registros oficiais, estabelecer com exatidão o período em que os caixotes com esses aviões chegaram ao Brasil, existem evidências de que um grupo de dez células SPAD XIII foi montado e ensaiado por pessoal francês, no Campo dos Afonsos durante o mês de agosto de 1920.  As dez células remanescentes permaneceram desmontadas e abrigadas nos caixotes nos quais chegaram até o mês de agosto de 1921, quando também foram montadas e colocadas em condições de voo.  Tendo em vista que neste período a Escola de Aviação Militar (EAvM), mal havia completado um ano de existência, com a decisão de se disponibilizar apenas parte das aeronaves possivelmente foi influenciada devido a total falta de pessoal brasileiro devidamente capacitado.
De igual forma, a falta de pessoal inibiu a imediata formação de uma unidade aérea específica para operar essas aeronaves recém incorporadas. Distribuídos a Escola de Aviação Militar (EAvM), foi somente no final de 1920 que os SPAD XIII que se encontravam montados foram reunidos numa subunidade, criando assim a Esquadrilha de Aperfeiçoamento (Esqda. Aperf.), que, ao receber os pilotos diplomados do Curso de Pilotos Aviadores da Escola de Aviação Militar (EAvM), tinha como principal tarefa a transformação daqueles pilotos em aviadores militares, por meio de um curso ministrado por um oficial francês e focalizado nas diversas formas de emprego do avião como um instrumento de guerra. O nível de desenvolvimento das aptidões dos novos aviadores militares brasileiros permitiu que dois segundos tenentes do exército, realizassem o primeiro voo militar brasileiro entre Rio de Janeiro e São Paulo. Fazendo uso de duas células do SPAD XIII, os dois oficiais decolaram do Campo dos Afonsos no dia 11 de junho de 1921 e regressaram no dia 13 do mesmo mês. Em decorrência da decisão de desdobrar elementos da Aviação Militar para o sul do Brasil, em agosto de 1921, foram montados os dez SPAD XIII que ainda se encontravam encaixotados. Paralelamente, o Ministro da Guerra determinaria naquele mesmo mês, que fossem adquiridos terrenos em distintos pontos do Rio Grande do Sul, que não somente deveriam ser preparados, como deveriam contar com hangares e oficinas para apoiar as aeronaves.

A extensão dos trabalhos a serem realizados nas cidades rio-grandenses de Alegrete, Santa Maria e Pelotas para prover o mínimo de infraestrutura demandaria um tempo superior ao estimado inicialmente, muito em função do baixo desenvolvimento destas regiões. Entre as principais alterações era o prolongamento das instalações e vias de acesso até os ramais férreos mais próximos (pois era o melhor modal a ser empregado para o translado das aeronaves e material de apoio). Foi somente em dezembro de 1921 que as composições férreas que levaram a dotação inicial de material para as unidades aéreas que iriam operar no Rio Grande do Sul partiram do Rio de Janeiro (RJ). Finalmente, com o mínimo de instalações já prontas e adequadas para a realização de missões aérea, o ministro da Guerra João Pandiá Calógeras, criou provisoriamente via decreto um novo Grupo de Esquadrilhas de Aviação, sendo estas unidades subordinadas a 3º Região Militar. Com três esquadrilhas e um parque de aviação para apoiar as atividades das unidades aéreas, essas foram repartidas entre as bases aéreas de Alegrete e Santa Maria. Nove aviões SPAD XIII foram enviados para o sul, passando a integrar a 1ª Esquadrilha de Caça, que repartiu sua sede em Santa Maria com a 3ª Companhia Provisória de Parque de Aviação. Muito pouco se sabe das atividades que a 1ª Esquadrilha de Caça realizou durante sua existência, que, juntamente com as demais unidades do Grupo de Esquadrilhas de Aviação, foi dissolvida no dia 12 de março de 1928. Conquanto algo do material aeronáutico lá tenha permanecido até janeiro de 1930, algumas informações indicam que os SPAD XIII regressaram ao Campo dos Afonsos no transcorrer de 1929.
Por sua vez, os SPAD XIII que permaneceram no Campo dos Afonsos continuaram a ser usados na formação final dos aviadores diplomados pela Escola de Aviação Militar (EAvM). Porém, a fragilidade do material, cujos motores precisavam de revisão geral a cada cinquenta horas de voo, resultou em índices de disponibilidade cada vez mais baixos. Ao chegar ao fim do ano de 1924, somente dois SPAD XIII estavam disponíveis; os demais se encontravam em péssimo estado e precisavam de extensos reparos. A chegada de material aeronáutico mais moderno em 1927 fez com que o uso dos SPAD XIII fosse gradativamente reduzido. Finalmente, em janeiro de 1930, foram excluídos da carga da Escola de Aviação Militar (EAvM). os dois últimos SPAD XIII, que aparentemente não voavam desde o ano anterior.

Em Escala.
Para representarmos o SPAD XIII da Aviação Militar do Exército, empregamos o excelente kit na 1/48 da Eduard, modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento, sendo muito superior aos demais kits deste modelo no mercado. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais retirados de diversos sets.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelos SPAD XIII quando em uso pela Aviação Militar do Exército Brasileiro. Infelizmente existem poucas fotos de época com qualidade aceitável para podermos afirmar que as cores e marcações no modelo apresentado são iguais as aeronaves reais.

Bibliografia :

Brasil na Primeira Guerra Mundial - www.historiadomundo.com.br

SPAD S.XIII - https://en.wikipedia.org/wiki/SPAD_S.XIII

Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores 

GM Picape Série C (TETP-TNE)

História e Desenvolvimento. 
Fundada em 16 de setembro de 1908, em Flint, Michigan, por William C. Durant, a General Motors Corporation (GM) consolidou-se como uma das maiores e mais influentes fabricantes de veículos do mundo, deixando um legado de inovação, diversificação e impacto global. Visionário e ex-fabricante de carruagens, Durant idealizou uma holding que unificasse diversas marcas automotivas sob uma única estrutura, promovendo sinergias e fortalecendo a competitividade no mercado. Essa visão estratégica, aliada ao empenho de milhares de trabalhadores, engenheiros e líderes, transformou a GM em um símbolo de progresso industrial e resiliência, moldando a história da indústria automotiva. Desde sua fundação, a GM adotou uma estratégia ousada de aquisições para diversificar seu portfólio e consolidar sua presença no mercado. Em 1908, a Buick Motor Company, fundada por David Dunbar Buick e já reconhecida por sua qualidade, foi a primeira a integrar a GM, trazendo consigo a expertise de Durant, que havia presidido a empresa. No mesmo ano, em 12 de novembro, a Oldsmobile Motor Vehicle Company, estabelecida em 1897, tornou-se a segunda marca do grupo, reforçando a posição da GM no cenário automotivo americano. Nos anos seguintes, a Oakland Motor Car Company, que mais tarde evoluiu para a Pontiac, e a Cadillac Automobile Company, adquirida em 1909 por US$ 5,5 milhões, enriqueceram o portfólio com veículos de luxo e inovação. Essas aquisições não apenas ampliaram a oferta de produtos, mas também refletiram o compromisso da GM em atender às necessidades de diferentes públicos, desde consumidores comuns até os mais exigentes. Em 1911, após divergências com acionistas que o levaram a deixar a GM, Durant fundou a Chevrolet Motor Company of Michigan, em parceria com o piloto e mecânico suíço Louis Chevrolet. A Chevrolet rapidamente conquistou o mercado com veículos acessíveis e confiáveis, e, em 1956, foi incorporada à GM, tornando-se uma das marcas mais emblemáticas da empresa. No mesmo ano, a GM criou a GMC, derivada da aquisição da Rapid Motor Vehicle Company, focada na produção de caminhonetes e caminhões leves. Esse segmento tornou-se um pilar estratégico, atendendo à crescente demanda por veículos comerciais robustos e versáteis. A visão da GM não se restringiu ao mercado automotivo. Em 1917, a empresa deu início à sua expansão global com operações comerciais no Canadá, marcando o começo de uma trajetória que alcançaria todos os continentes. Essa internacionalização foi impulsionada pela dedicação de equipes que adaptaram produtos e estratégias às realidades locais, conquistando a confiança de consumidores ao redor do mundo. Em 1919, a GM diversificou ainda mais suas atividades ao adquirir a Frigidaire Company, fabricante de refrigeradores, em uma incursão pioneira no setor não automotivo. Essa decisão, guiada por uma diretoria visionária, demonstrou a ambição de explorar novos horizontes e consolidar a GM como uma empresa de alcance multifacetado. A diretoria comercial da General Motors Corporation (GM) , guiada por uma visão estratégica, identificou o potencial para uma presença global significativa. A visão estratégica da General Motors Corporation (GM), aliada ao compromisso de seus líderes e colaboradores, impulsionou uma série de iniciativas que consolidaram sua presença global e reforçaram seu papel como uma das maiores fabricantes de veículos do mundo. Essas expansões, realizadas ao longo das décadas de 1920 e 1930, refletem não apenas a ambição da empresa, mas também o esforço coletivo de milhares de pessoas que transformaram desafios em oportunidades, conectando comunidades e promovendo o progresso em diferentes continentes.

Em 1923, a GM marcou sua entrada no mercado europeu com a inauguração de sua primeira fábrica em Copenhague, Dinamarca, um passo significativo que ampliou seu alcance além da América do Norte. Em 1925, a empresa intensificou sua expansão com o início de operações orgânicas na Argentina, França e Alemanha, além da aquisição da renomada montadora britânica Vauxhall Motors. No mesmo ano, estabeleceu operações na Austrália, Japão e África do Sul, demonstrando uma visão ousada de alcançar mercados diversos. Em 1928, a GM deu um passo pioneiro ao entrar no mercado indiano, um território ainda pouco explorado pela indústria automotiva. Em 1929, a aquisição da alemã Opel fortaleceu sua posição na Europa, enquanto a incorporação da Yellow Coach Company, fabricante de ônibus escolares nos Estados Unidos, diversificou seu portfólio, atendendo às necessidades de transporte coletivo. Paralelamente, a GM reconheceu o potencial do mercado latino-americano, estabelecendo a General Motors do Brasil em 26 de janeiro de 1925. Inicialmente, a empresa operou em instalações alugadas no bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde lançou seu primeiro produto no mercado brasileiro: um furgão utilitário leve. Produzido pelo sistema Completely Knocked Down (CKD), o veículo era montado localmente a partir de kits importados, compostos por chassis, motores, transmissões e outros componentes. Esse processo apresentava características distintas: Baixa agregação de componentes nacionais: Apenas algumas partes não metálicas da carroceria eram fabricadas no Brasil, refletindo as limitações industriais da época. Flexibilidade de entrega: Os veículos podiam ser fornecidos completos ou como chassis nus com capô, permitindo personalização por encarroçadores terceirizados. Essa abordagem permitiu à GM estabelecer uma presença inicial no Brasil, adaptando-se às condições do mercado e pavimentando o caminho para um crescimento sustentável. Desde o início, a empresa identificou oportunidades no setor militar, fornecendo caminhões leves ao Exército Brasileiro. Esses veículos, baseados em chassis de modelos comerciais, eram configurados com carrocerias padronizadas para uso militar, demonstrando a versatilidade da GM em atender às demandas das Forças Armadas. O sucesso crescente no mercado brasileiro incentivou investimentos significativos, culminando na construção de uma moderna planta fabril em São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo, concluída em outubro de 1929. Projetada para ampliar a capacidade produtiva, a fábrica reforçou o compromisso da GM com o desenvolvimento industrial do país. A partir de 1933, a General Motors do Brasil iniciou um novo ciclo de crescimento, expandindo sua influência não apenas no Brasil, mas também em outros mercados sul-americanos. Novos aportes na infraestrutura produtiva elevaram o índice de nacionalização, e, em 1940, cerca de 75% dos furgões e caminhões comercializados pela empresa possuíam carrocerias fabricadas localmente, com quase 90% de componentes básicos produzidos no Brasil. No portfólio da GM Brasil, a família de caminhões médios e leves GMC Flatbed Truck ganhou destaque, atendendo às necessidades de transporte comercial e militar. Com o início da Segunda Guerra Mundial, a subsidiária brasileira reorientou suas linhas de produção para apoiar o esforço bélico. A partir de 1941, a empresa fabricou reboques militares de duas rodas e componentes críticos para a matriz nos Estados Unidos. Em 1943 a GM Brasil passou a montar milhares de veículos militares fornecidos em estado semidesmontado, destinados às Forças Armadas Brasileiras. Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, a General Motors do Brasil (GM Brasil) retomou suas atividades com renovado empenho, impulsionada pelo compromisso de seus colaboradores e pela crescente demanda do mercado brasileiro por veículos confiáveis.

Esse período marcou o início de uma nova era para a empresa, que buscava consolidar sua presença em um país em plena transformação. A produção foi ampliada para incluir automóveis, utilitários e caminhões, atendendo às necessidades de uma nação que almejava modernização e progresso. A década de 1950 foi particularmente significativa, impulsionada por políticas governamentais que incentivaram a nacionalização da indústria automotiva. Essas medidas, voltadas para o fortalecimento da economia e da indústria nacional, incluíram restrições às importações de componentes automotivos, permitindo apenas peças sem equivalentes produzidos localmente, e a proibição da importação de veículos finalizados. Em 1956, a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) consolidou esses esforços, oferecendo incentivos fiscais e financeiros que estimularam a GM Brasil a investir em inovação e na integração com a economia local. Essas iniciativas pavimentaram o caminho para a maturidade empresarial da companhia na década seguinte, marcada por avanços significativos na produção nacional. Nesse contexto, a General Motors  Brasil lançou, em 1957, o caminhão leve Opel Blitz II Comercial, um modelo que atendia à demanda por soluções de transporte robustas e confiáveis. Apesar do sucesso, a dependência de componentes importados ainda representava um desafio, exigindo da empresa esforços contínuos para alcançar maior autonomia produtiva. Um marco histórico ocorreu em 1964, durante o Salão do Automóvel de São Paulo, com a apresentação da segunda geração de picapes e caminhões da marca Chevrolet. Essa linha renovada incluía as picapes C-14 (chassis curto, com 2,92 metros de entre-eixos), C-15 (chassis longo, com 3,23 metros) e o caminhão C-65. O grande destaque, porém, foi o modelo C-1416, que se tornaria conhecido como Chevrolet Veraneio, o primeiro utilitário esportivo (SUV) produzido pela GM Brasil. Com um design inovador e diferenciado, a Veraneio marcou uma nova fase na história da empresa, combinando funcionalidade, conforto e versatilidade. A linha de utilitários também trouxe a substituição da família Brasil 3100, considerada o primeiro veículo utilitário leve fabricado pela General Motors do Brasil, graças aos incentivos do GEIA. A picape C-14, em sua versão básica, oferecia uma capacidade de carga de 1.000 kg, atendendo às necessidades do mercado comercial. Uma inovação significativa foi a introdução da versão com cabine dupla, capaz de transportar confortavelmente até três passageiros adicionais. Contudo, essa configuração sacrificava parte da capacidade de carga, limitada a 750 kg, o que impactou sua aceitação no mercado. Apesar do caráter inovador da cabine dupla, a Chevrolet Veraneio, na sua versão utilitária, conquistou maior preferência do público. Com capacidade de carga de 500 kg e um nível superior de conforto, a Veraneio destacou-se como uma opção mais versátil e prática, resultando em maior sucesso comercial em comparação com a variante de cabine dupla. No início da década de 1980, o mercado automotivo brasileiro testemunhou o crescente sucesso das picapes de cabine dupla, que se tornaram sinônimo de luxo e versatilidade.

Desde seu lançamento em 1964, a família de picapes Chevrolet, incluindo a icônica Veraneio, destacou-se por sua robustez e inovação. Esses veículos eram equipados com o motor a gasolina General Motors Mod. 261 Pol3, de 4,3 litros e cinco mancais, que entregava uma potência de 142 HP. Esse propulsor, o primeiro fabricado pela General Motors do Brasil, marcou a história da empresa no país, tendo equipado inicialmente a Série Brasil 3100, conhecida pelas picapes “Marta Rocha” e pela perua “Amazonas”. Com seis cilindros em linha, comando de válvulas no bloco e acionamento por varetas, o motor representava a tecnologia da época, combinando confiabilidade e desempenho. A partir de 1974, a montadora brasileira iniciou a substituição em larga escala desse motor pelo General Motors Mod. 250, de 4,1 litros, disponível nas versões a gasolina e diesel. Embora mais moderno, o novo motor apresentava um torque ligeiramente inferior (27 kgfm contra 32 kgfm do antecessor), o que levou a montadora a manter o Mod. 261 em alguns modelos das picapes C-14 e C-15, atendendo a consumidores que valorizavam sua robustez. Em termos de transmissão, a GM oferecia duas opções fabricadas pela Clark Equipamentos: a caixa de três marchas CLK M1-4, amplamente produzida, e a opcional CLK M-20, de quatro marchas, que proporcionava maior versatilidade. O ano de 1974 marcou um momento de transformação para a General Motors do Brasil , impulsionado pela concorrência com a nova linha de picapes Ford F-100, que apresentava um design mais moderno e arrojado. Em resposta, a montadora lançou um ambicioso programa de renovação de sua linha de picapes, focado em três pilares: reestilização do design, adoção de novos motores (como o General Motors Mod. 302 a gasolina, de 4,3 litros, e o Perkins a diesel, de 3,9 litros) e a introdução de uma suspensão mais eficiente. Contudo, a família renovada enfrentou críticas por manter o sistema de freios a tambor nas quatro rodas, uma escolha considerada ultrapassada em comparação com os sistemas de freio a disco já adotados pela concorrência, o que comprometia a segurança, uma demanda crescente do mercado. Paralelamente, inspirada pelo sucesso da Chevrolet Veraneio C-1416 na configuração ambulância, a equipe de engenharia da GM Brasil dedicou-se ao desenvolvimento de uma nova viatura voltada para tarefas de socorro médico e UTI móvel, baseada na plataforma da picape C-10. Designada como C-1503, essa ambulância aproveitava a versatilidade da plataforma comum, que permitia uma melhor utilização do espaço interno. Esse diferencial possibilitou a incorporação de um conjunto mais amplo de equipamentos médicos, tornando a C-1503 uma opção mais avançada e eficaz em comparação com a C-1416, que, até então, liderava as vendas no segmento de ambulâncias. A linha de picapes Chevrolet, composta pelos modelos C-10, C-14 e C-15, alcançou uma posição de destaque no mercado brasileiro de veículos utilitários ao longo do século XX. Reconhecida por sua robustez, versatilidade e capacidade de atender às demandas de um país em desenvolvimento, essa família de veículos tornou-se a mais produzida no Brasil durante esse período. A liderança da linha C-10, C-14 e C-15 consolidou a Chevrolet como um ícone da indústria automotiva nacional, deixando um legado de inovação e impacto duradouro na história do transporte no Brasil. 

Na década de 1970, a General Motors do Brasil S/A enfrentou um desafio significativo com a crise do petróleo, um evento global que abalou profundamente o mercado automotivo. A escassez de combustível e o aumento dos preços impactaram especialmente a comercialização de picapes e outros veículos com alto consumo, em particular aqueles movidos a gasolina. Em um curto período, as vendas desses modelos, incluindo a renomada linha de picapes Chevrolet, registraram uma queda acentuada, ficando muito abaixo do ponto de equilíbrio almejado pela montadora.  Em uma tentativa de ser criar um movimento de retomada de vendas e  reconquistar a confiança dos consumidores e atender às expectativas de um público cada vez mais exigente, a montadora introduziu melhorias significativas em seus modelos, demonstrando seu compromisso com a inovação e a qualidade. Entre as principais inovações, destaca-se a adoção, como item de série, da nova caixa de câmbio manual de quatro marchas produzida localmente pela Clark Equipamentos. Essa transmissão, mais moderna e eficiente, proporcionava maior suavidade e versatilidade na condução, atendendo às necessidades de motoristas em diferentes cenários, das estradas rurais aos centros urbanos. Além disso, a GM Brasil passou a oferecer, como opcional, o tão aguardado sistema de freios a disco nas quatro rodas, uma evolução significativa em relação ao ultrapassado sistema de freios a tambor. Essa melhoria reforçava a segurança dos veículos, respondendo a uma demanda essencial do mercado e alinhando as picapes Chevrolet aos padrões tecnológicos de seus concorrentes.  A partir de 1981, com o fortalecimento do Pró-Álcool, a GM Brasil introduziu a Chevrolet A-10, uma variante da C-10 otimizada para rodar com etanol (álcool hidratado, ou E100). A A-10 a álcool foi projetada para atender às necessidades de um mercado que valorizava a economia de combustível em um contexto de preços elevados da gasolina. Equipada com o motor de 4,1 litros (derivado do Opala), a versão a álcool oferecia 99 cavalos e 26,5 kgfm de torque, com adaptações específicas, como um carburador recalibrado e um sistema de partida a frio com um pequeno tanque de gasolina para facilitar a ignição em temperaturas abaixo de 15°C. Apesar de seu consumo elevado — cerca de 3,5 km/l na cidade e 4,5 a 6 km/l na estrada — a A-10 conquistou agricultores, comerciantes e frotistas devido ao menor custo do etanol e à robustez do veículo, capaz de transportar até 750 kg de carga. Em climas frios, especialmente nas manhãs do interior do Brasil, o motor a álcool exigia paciência para aquecer, devido à menor volatilidade do etanol. Além disso, a partir de meados da década de 1980, a estabilização dos preços do etanol, que se aproximaram dos da gasolina, reduziu a vantagem financeira do combustível alternativo. Esses fatores, somados à concorrência de modelos mais modernos, como a Ford F-100, impactaram as vendas da A-10, que foi produzida até 1986. No entanto apesar destas mudanças, as vendas não só não reagiriam, como também continuaram a definhar, motivando assim a decisão da montadora, em se descontinuar a produção de toda esta linha de picapes no início da década de 1980, encerrando assim mais um importante capítulo da história da indústria automobilística brasileira.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras. 
Durante a década de 1950, o Exército Brasileiro empreendeu um ambicioso programa de atualização de sua frota de transporte, um marco fundamental para o fortalecimento de sua capacidade logística e operacional. Nesse contexto, a General Motors do Brasil (GM Brasil) desempenhou um papel crucial ao fornecer uma expressiva quantidade de caminhões Chevrolet Brasil 6400 e 6500. A agilidade na entrega desses veículos, viabilizada logo após a formalização do contrato, foi facilitada pela mínima necessidade de adaptações para uso militar, já que os modelos eram versões comerciais retiradas diretamente da linha de produção. A robustez, confiabilidade e excelência mecânica desses caminhões atenderam plenamente às exigências operacionais do Exército, estabelecendo uma base sólida para uma parceria duradoura com a GM Brasil e consolidando a confiança dos militares na qualidade dos produtos da montadora. O sucesso dos caminhões 6400 e 6500 abriu caminho para a incorporação do utilitário Chevrolet Amazonas, lançado em 1959. Projetada para atender às demandas tanto do campo quanto da cidade, estes  utilitário compartilhava o mesmo conjunto mecânico dos modelos anteriores, equipada com um motor de seis cilindros em linha de 4,3 litros (261 polegadas cúbicas, 142 cv) e uma transmissão manual de três marchas. Sua versatilidade permitiu seu emprego em diversas funções, como transporte de pessoal e até mesmo como ambulância, conquistando a admiração dos militares pela sua capacidade de operar em condições desafiadoras. A Amazonas tornou-se um símbolo de confiabilidade, contribuindo para o êxito das operações logísticas do Exército e reforçando o compromisso da General Motors do Brasil  com as necessidades das Forças Armadas. A partir da década de 1960, a General Motors do Brasil  intensificou sua parceria com as Forças Armadas Brasileiras, passando a fornecer veículos produzidos localmente, com foco inicial nos caminhões C-60 e D-60 e nas picapes C-10, que substituíram gradualmente os modelos derivados da Amazonas. Essa transição marcou um avanço na modernização da frota militar, alinhando-a às demandas de um país em rápido desenvolvimento. Em 1966, a introdução do Chevrolet Veraneio C-1416 representou um marco significativo. Inicialmente adquirido pelo Exército Brasileiro, esse utilitário esportivo destacou-se por sua robustez e versatilidade, sendo seguido pela versão ambulância C-1410, que se tornou essencial para operações de socorro médico. A excelente receptividade da família Veraneio incentivou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a adquirir, em 1974, um grande lote de ambulâncias C-1410 e C-1503. Essas viaturas foram destinadas à Infraero, empresa estatal responsável pela administração de aeroportos, com o objetivo de equipar as unidades de emergência médica dos principais terminais aéreos do Brasil. Na sequência do fortalecimento de sua parceria com as Forças Armadas Brasileiras, a General Motors do Brasil S/A consolidou sua posição como uma das principais fornecedoras de veículos militares ao conquistar novos contratos para o fornecimento de picapes Chevrolet C-10. 

Esses acordos, formalizados com o Exército Brasileiro, a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil (especificamente o Corpo de Fuzileiros Navais), representaram um marco significativo na história da empresa. A escolha da C-10 refletiu sua robustez, versatilidade e capacidade de atender às exigências operacionais de diferentes cenários, desde o transporte logístico até missões de segurança e apoio. A General Motors do Brasil S/A forneceu às Forças Armadas Brasileiras picapes Chevrolet C-10 idênticas às versões comerciais disponíveis no mercado, sem adaptações específicas para uso militar. Esses veículos, valorizados por sua robustez e versatilidade, foram amplamente empregados em missões de transporte de carga e pessoal, atendendo com eficiência às demandas logísticas do Exército Brasileiro, da Força Aérea Brasileira e do Corpo de Fuzileiros Navais. A confiabilidade da C-10 em diversas condições operacionais destacou seu potencial, inspirando o Ministério do Exército a investir em uma versão customizada, projetada para enfrentar os desafios de ambientes fora de estrada. Para concretizar essa iniciativa, o Exército Brasileiro recorreu à expertise da Engesa (Engenheiros Especializados S/A), uma empresa paulista reconhecida por sua excelência em engenharia automotiva. A Engesa contava com um quadro técnico de profissionais altamente qualificados, muitos formados pelo prestigiado Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), e acumulava vasta experiência na customização de veículos comerciais. Desde o final da década de 1960, a empresa alcançava sucesso comercial com o desenvolvimento de um sistema de tração integral 4x4, projetado para veículos produzidos no Brasil por montadoras multinacionais. Esse sistema, patenteado tanto no Brasil quanto no exterior, conquistou a atenção das Forças Armadas Brasileiras devido à sua capacidade de conferir maior mobilidade e resistência em terrenos adversos. A pedido do Exército Brasileiro, a Engesa S/A iniciou estudos para desenvolver um sistema de suspensão específico para operações off-road, adaptado à picape C-10. Esse projeto visava aprimorar a capacidade do veículo em enfrentar condições extremas, garantindo maior segurança e eficiência em missões militares realizadas em terrenos acidentados. A colaboração entre a Engesa e o Exército Brasileiro reflete o espírito de inovação e dedicação de profissionais que, com engenhosidade e compromisso, contribuíram para fortalecer a capacidade operacional das Forças Armadas. Em 1967, a solução inovadora de Tração Total desenvolvida pela Engesa (Engenheiros Especializados S/A) foi oficialmente reconhecida pelo governo brasileiro como um projeto de "Interesse para a Segurança Nacional". Esse marco destacou a relevância estratégica do sistema de tração integral 4x4, projetado para conferir excepcional desempenho a veículos em terrenos adversos, atendendo às exigências das Forças Armadas Brasileiras. A classificação reforçou o papel da Engesa como uma protagonista no desenvolvimento de tecnologias automotivas voltadas para a defesa do país, resultado do talento e dedicação de seus engenheiros, muitos dos quais formados pelo prestigiado Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Nos anos seguintes, o sistema Tração Total foi amplamente adotado por grandes montadoras no Brasil, incluindo a Ford do Brasil, a General Motors do Brasil e a Dodge Chrysler do Brasil. Essa tecnologia foi integrada a diversos modelos de caminhões militares, ampliando a capacidade operacional do Exército, da Força Aérea e da Marinha em missões que exigiam mobilidade e resistência em condições desafiadoras. Tendo por base a picape Chevrolet C-10  na versão comercial civil, a equipe de projetos da Engesa S/A,  focaria esforços inicialmente redesenho da suspensão, visando assim fortalecer este sistema a fim de evitar quebras por impacto em situações extremas ou ainda fadiga por uso repetitivo, prevendo assim situações normais de uso de veículos militares fora de estrada (off road). Superada esta etapa passou-se a adaptar o projeto da "Tração Total" versão militarizada no modelo, os resultados iniciais se mostraram extremamente promissores, levando a General Motors a homologar o kit de tração 4X4 da Engesa S/A para uso em sua linha comercial de picapes utilitárias. Após a validação interna do projeto da picape Chevrolet C-10 equipada com o sistema de tração integral 4x4 desenvolvido pela Engesa (Engenheiros Especializados S/A), a General Motors do Brasil decidiu apresentar o protótipo ao comando do Exército Brasileiro. Em março de 1975, o veículo foi entregue para testes preliminares, marcando um passo significativo na parceria entre a indústria automotiva nacional e as Forças Armadas. Inspirado em grandes jipes utilitários americanos, como o Kaiser Jeep M-715, o protótipo da C-10 foi cuidadosamente projetado para atender aos rigorosos padrões militares, combinando robustez, funcionalidade e versatilidade. Para cumprir as exigências do Exército, o veículo incorporava uma série de adaptações específicas, incluindo: Para-choques frontais e traseiros reforçados, projetados para resistir a impactos em terrenos acidentados; Grade de proteção para os faróis, garantindo durabilidade em operações de campo; Caçamba com piso reforçado, adequada ao transporte de cargas pesadas em condições adversas; Sistema elétrico de 24 volts, compatível com os padrões militares; Cabine aberta com cobertura de lona e para-brisa basculante, facilitando o transporte aéreo em aeronaves da Força Aérea Brasileira, como o Lockheed C-130 Hercules e o De Havilland C-115 Buffalo; Suporte para galão de combustível removível, posicionado na lateral da caçamba, entre os eixos, seguindo o padrão de veículos militares. Nos meses seguintes, o protótipo foi submetido a um extenso programa de testes, que avaliou seu desempenho em cenários operacionais extremos. Esse processo resultou em um conjunto significativo de correções e melhorias, aprimorando a confiabilidade e a eficiência do veículo para atender às necessidades do Exército Brasileiro.

Paralelamente, o Exército enfrentava a necessidade urgente de renovar sua frota de Viaturas de Transporte Não Especializado (VTNE), composta majoritariamente por modelos obsoletos, como os Dodge WC-51, WC-53, WC-56, WC-57 e M-37, adquiridos na segunda metade da década de 1940. Esses veículos, embora valiosos em sua época, já não atendiam às demandas modernas de mobilidade e resistência exigidas pelas operações militares. A introdução do protótipo da C-10 4x4 representou uma oportunidade de modernização, trazendo uma solução nacional que combinava tecnologia avançada com a expertise da Engesa e da General Motors do Brasil. Estes eram complementados por veículos da família Rural Willys Overland F-85. Embora os Willys possuíssem tração integral 4x4, seu projeto não era adequado para operações em terrenos adversos, apresentando limitações em cenários militares exigentes. A situação era agravada pela alta indisponibilidade dos modelos Dodge, devido à escassez de peças de reposição, e pela quantidade insuficiente de Willys para atender às necessidades operacionais da Força Terrestre. Esse cenário impactava diretamente a capacidade do Exército em realizar missões essenciais, como transporte de carga, movimentação de tropas, remoção médica e telecomunicações em campo. Diante desse contexto crítico, tornou-se imperativa a incorporação de uma nova família de veículos utilitários militarizados, capazes de oferecer robustez, confiabilidade e versatilidade. Com esse objetivo, o Ministério do Exército conduziu negociações estratégicas com a General Motors do Brasil S/A e a Engesa (Engenheiros Especializados S/A), culminando, em junho de 1974, na celebração de um contrato histórico para a aquisição de noventa e cinco viaturas Chevrolet C-14 e C-15. Essas viaturas foram projetadas para desempenhar múltiplas funções, incluindo transporte de carga e pessoal, além de servir como veículo porta-morteiro, equipado para o transporte e operação de peças de artilharia de 81 mm e 60 mm. As primeiras unidades dessa nova família de veículos começaram a ser entregues em outubro de 1975, marcando o início de uma renovação significativa da frota militar. As viaturas foram distribuídas aos Batalhões de Infantaria Blindada (BIB) e aos Batalhões de Infantaria Leve (BIL), substituindo gradualmente os últimos veículos norte-americanos ainda em serviço. A integração das C-14 e C-15, equipadas com o sistema de tração integral 4x4 desenvolvido pela Engesa, representou um avanço notável na capacidade operacional do Exército, oferecendo maior mobilidade e resistência em terrenos desafiadores. Vale salientar também que a aquisição destes novos modelos, vieram a complementar também a frota de veículos utilitários com tração 4X4 Rural Willys e Toyota Bandeirante, resultando pela primeira vez no Exército Brasileiro na predominância de modelos utilitários produzidos nacionalmente, reduzindo assim a perigosa dependência externa. Além de que este novo cenário provia uma significativa redução de custos em termos de manutenção, bem como simplificação da linha de suprimentos logística, em face da operação de outros veículos produzidos nacionalmente pela General Motors do Brasil S/A e demais montadoras aqui estabelecidas. 
Em 1976 a montadora assinaria um contrato com o Ministério da Marinha para produção de um pequeno lote de carros da versão Chevrolet C-14 Porta Morteiro para uso junto as tropas de infantaria do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN). Logo em seguida a Força Aérea Brasileira passaria a fazer uso do veículo nas versões ambulância C-1503 e utilitário C-14, com esta última sendo destinada aos Batalhões de Infantaria da Aeronáutica (BINFAE). Em 1975 a Policia Militar do Estado de São Paulo procederia a aquisição de pelo menos uma dezena de picapes do  modelo C-15 Chevrolet Engesa 4X4 C1-4 para o emprego inicial junto ao 1º Batalhão de Polícia (1º B.P) – Batalhão Tobias de Aguiar. Em 1977 seria realizada a aquisição de mais dois lotes destinados a unidade especial de Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA) e as Companhias de Operações Especiais (COE). Tradicional usuário do modelo de viatura policial C-1416 Veraneio, o Governo do Estado de São Paulo encomendaria  a General Motors do Brasil S/A uma variante do veículo para o transporte de tropas dos Batalhões de Choque da Policia Militar. Tratava-se de uma picape Chevrolet C-10 simplificada com cabine aberta com cobertura de lona e para-brisa basculante, estando desprovida de portas dianteiras e dotada com dois bancos traseiros na caçamba para até oito policiais completamente equipados para as missões urbanas de pronta resposta e garantia de lei e ordem (GLO). O êxito da operação dos modelos Chevrolet Engesa 4X4 C-14 e C-15 junto as Forças Armadas Brasileiras, motivaria a diretoria da Engesa S/A a estudar o desenvolvimento de um novo veículo especializado para atuação no segmento militar. Assim em 1981 nasceria como fruto de uma parceria entre Engesa S/A e a empresa paulista Envemo - Engenharia de Veículos e Motores Ltda,  o utilitário EE-34. Baseado nas plataformas dos modelos Chevrolet C-10 e C-15 este novo utilitário trazia uma série de melhorias em relação a versões militarizadas anteriores, seu conceito seria desenvolvido para aplicação militar pura. Após avaliação o Ministério do Exército, formalizou a contratação para a produção de 858 unidades que foram entregues entre os anos de 1981 e 1985, vindo a complementar as picapes  Chevrolet C-14 e C-15 em uso.  A partir do início da segunda metade da década de 1990, estes três modelos ainda uso nas Forças Armadas Brasileiras, já apresentavam  evidentes sinais de desgaste,  após quase vinte anos de operação continua, levando ao estabelecimento de um planejamento para a renovação da frota.  Um processo de concorrência seria criado com a solução sendo pautada pela aquisição de diversos modelos de utilitários com tração integral como JPX Montez, Toyota Bandeirante e Land Rover Defender, com as primeiras viaturas destas sendo incorporadas ao Exército Brasileiro a partir de 1996. O mesmo destino ocorreria junto as forças policiais miliares estaduais , com as últimas viaturas sendo retiradas do serviço ativo ao final desta mesma década. 

Em Escala.
Para recriar com precisão o Chevrolet Engesa C-15 na versão porta-morteiro “EB21-1840”, utilizada pelo Exército Brasileiro, optamos por um modelo em die-cast na escala 1/43, produzido pela Axio em parceria com a Salvat Editora. A escolha desse modelo foi motivada pela ausência de kits ou réplicas específicas dessa viatura no mercado. O processo de construção envolveu uma série de modificações artesanais realizadas com grande atenção aos detalhes. Inicialmente, removemos a cabine original em metal, substituindo-a por uma estrutura adaptada ao padrão militar. Os para-choques frontais foram redesenhados para corresponder à robustez exigida em operações de campo, enquanto luzes e faróis de comboio, típicos do padrão militar.  Para garantir autenticidade, incorporamos um para-brisa basculante com cobertura de lona e por fim confeccionamos em scratch um morteiro de 81 mm. Para finalizar, aplicamos decais personalizados do conjunto “Exército Brasileiro 1942-1982”, produzidos pela Decais Eletric Products. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Brasileiro em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982. As picapes da família Chevrolet Engesa 4X4, passaram a empregar no novo esquema tático de camuflagem em dois tons e novas marcações militares a partir do ano seguinte, permanecendo nesta nova sistemática até a desativação dos últimos veículos em meados da década de 1990.


Bibliografia : 
- Chevrolet Colection – C-10 Salvat Editora
- Grandes Brasileiros: Engesa EE-34 – Chevrolet C-15 Revista Quatro Rodas 201
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976