História e Desenvolvimento.
Leroy Randle Grumman nasceu em 1895, na cidade de Nova York, Estados Unidos. Demonstrou desde cedo um interesse marcante pela aviação, o que o levou a ingressar na Cornell University, onde se graduou em Engenharia Mecânica. Sua paixão pela área aeronáutica o conduziu a alistar-se na Reserva Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), onde seu talento foi rapidamente identificado por seus superiores. Reconhecido por seu potencial, Grumman foi enviado à Universidade Columbia para especializar-se em motores aeronáuticos, aprofundando seus conhecimentos técnicos. Após concluir essa formação, foi transferido para a Estação Naval de Miami (Naval Air Station Miami), no estado da Flórida, onde recebeu treinamento intensivo como piloto e, posteriormente, assumiu o papel de instrutor de voo, orientando cadetes navais. Mais tarde, Grumman optou por abandonar a instrução para dedicar-se à função de piloto de bombardeio na Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), destacando-se por sua competência e desempenho exemplar. Seu talento e dedicação culminaram em uma indicação honrosa para cursar Engenharia Aeronáutica no prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT). Graduando-se com distinção, Grumman passou a atuar como piloto de ensaios em voo, sendo responsável pela avaliação e recebimento de novas aeronaves destinadas à Marinha. Em março de 1927, Leroy Grumman deixou o serviço militar e ingressou na Loening Aeronautical Engineering Corporation, uma empresa renomada no setor aeronáutico. Nessa companhia, ele retomou as atividades de piloto de testes, com ênfase em aeronaves anfíbias, e também participou ativamente da elaboração de projetos dessas aeronaves. Essa experiência proporcionou-lhe um conhecimento profundo sobre a manutenção e o funcionamento das aeronaves produzidas pela Loening, consolidando sua expertise no setor. Aproveitando sua experiência acumulada, Grumman decidiu empreender, fundando, em 1929, a Grumman Aircraft Engineering Corporation. Inicialmente, a empresa focava na manutenção, reparo e revisão geral de aeronaves anfíbias fabricadas pela Loening, que estavam em serviço ativo na Aviação Naval Marinha dos Estados Unidos (US Navy)a. As receitas geradas por essas atividades permitiram a Grumman investir em projetos mais ambiciosos, direcionando seus esforços para o desenvolvimento de aeronaves de caça navais. Em 1931, a Grumman Aircraft alcançou um marco significativo com o voo do protótipo do Grumman FF-1, uma aeronave de caça naval que introduziu inovações notáveis, como o trem de pouso retrátil. Essa característica, à época revolucionária, chamou a atenção das autoridades navais americanas, resultando na assinatura do primeiro contrato de produção em larga escala da empresa. O sucesso do FF-1 abriu caminho para novos contratos, consolidando a Grumman Aircraft Engineering Corporation como a principal fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy)) pelas cinco décadas subsequentes.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os submarinos do Eixo – alemães, italianos e japoneses – representaram uma ameaça formidável às nações aliadas. Os ataques implacáveis dos U-Boats alemães, combinados com as operações de submarinos italianos e japoneses, quase estrangularam as linhas de abastecimento aliadas nos primeiros anos do conflito, especialmente entre 1940 e 1942, um período conhecido como a “Batalha do Atlântico”. A Grã-Bretanha, cuja sobrevivência dependia do transporte marítimo de alimentos, combustíveis e matérias-primas, enfrentou perdas catastróficas, com milhões de toneladas de navios afundados nos primeiros anos do conflito. Essa crise exigiu inovações tecnológicas e táticas que moldariam a guerra antissubmarino (ASW, do inglês Anti-Submarine Warfare), culminando no desenvolvimento do conceito “Hunter-Killer” (Caçador-Matador) e na introdução de aeronaves especializadas que transformariam o curso da guerra e a aviação naval. Até 1943, a balança permanecia desfavorável aos Aliados, que lutavam para localizar e neutralizar essas ameaças submersas. O ponto de inflexão veio com avanços tecnológicos significativos, particularmente a introdução de radares aerotransportados embarcados em aeronaves com maior raio de ação. Essas inovações permitiram que os Aliados passassem de uma postura defensiva para uma estratégia ofensiva, caçando submarinos em alto-mar. Aeronaves como o Consolidated B-24 Liberator, equipadas com radares ASV (Air-to-Surface Vessel), começaram a patrulhar vastas áreas do Atlântico, localizando U-Boats em superfície ou em mergulho raso e coordenando ataques com navios de escolta ou outras aeronaves. Essa capacidade de detecção mudou o equilíbrio da Batalha do Atlântico, reduzindo drasticamente as perdas aliadas a partir de 1943. À medida que a guerra se alongava, os avanços tecnológicos permitiram a miniaturização dos radares, tornando viável sua instalação em aeronaves baseadas em porta-aviões. Contudo, essas aeronaves, como os primeiros modelos adaptados para ASW, enfrentavam uma limitação crítica: os radares, embora eficazes na detecção de submarinos, eram pesados e ocupavam espaço que poderia ser usado para armamentos. Assim, uma única aeronave não conseguia combinar detecção e ataque, levando ao desenvolvimento do conceito “Hunter-Killer”. Nesse modelo, pares de aeronaves operavam em conjunto: uma, equipada com radar para localizar submarinos (o “Caçador”), coordenava a missão, enquanto a outra, armada com torpedos, cargas de profundidade ou foguetes (o “Matador”), executava o ataque. Essas missões abrangiam a proteção de comboios e forças-tarefa em quaisquer condições atmosféricas, a localização de alvos navais de superfície, reconhecimento aéreo e avaliação tática-fotográfica pós-ataque para verificar danos. A estratégia exigia coordenação precisa entre as aeronaves, tripulações altamente treinadas e integração com navios de superfície, como contratorpedeiros, que muitas vezes complementavam os ataques aéreos.
No final da década de 1940, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) empregava o Grumman TBM Avenger, adaptado para missões ASW. Duas variantes foram desenvolvidas: o TBM-3W, equipado com radar ASV para detecção (Caçador), e o TBM-3S, armado com cargas de profundidade e torpedos (Matador). Sua capacidade de operar em longas distâncias e sob condições adversas o tornou ideal para as demandas da guerra antissubmarino. Na década de 1950, seria introduzido o Grumman AF-2 Guardian, projetado especificamente para ASW e considerado o primeiro avião construído exclusivamente para essa função. Disponível nas versões AF-2W (Caçador), equipada com radar AN/APS-20, e AF-2S (Matador), armada com torpedos, cargas de profundidade e foguetes, o Guardian representou um avanço significativo. Com um design maior e mais robusto que o Avenger, ele oferecia maior alcance e capacidade de carga, mas ainda operava em pares de aeronaves trabalhando em conjunto. Apesar de sua eficácia, o conceito Hunter-Killer apresentava uma deficiência significativa: a dependência de duas aeronaves para completar uma missão. Se uma delas sofresse uma pane mecânica ou fosse abatida, a operação precisava ser abortada, comprometendo a eficiência da missão. Além disso, tanto o TBM-3 quanto o AF-2 eram monomotores, o que aumentava os riscos operacionais, especialmente em missões de longa duração sobre o oceano, onde a falha de um motor poderia ser catastrófica. A fim de solucionar esta problemática, a Grumman iniciou estudos visando desenvolver uma aeronave bimotora, grande o suficiente para armazenar tanto os sensores quanto o armamento necessário à destruição do submarino, combinando em uma única célula as funções de caçador e matador. Deste conceito emergiria o projeto G-89, uma aeronave com asa alta e trem de pouso triciclo (o que facilitava a aterrissagem em porta-aviões), equipada com radar (em um radome ventral, retrátil) e uma antena retrátil MAD (“Magnetic Anomaly Detection”), localizada na cauda, abaixo do leme. Uma baia (bomb bay)de armamentos, à frente do radome, permitia carregar dois torpedos antissubmarino ou cargas de profundidade; foguetes ou bombas podiam ser transportados em três cabides subalares. A tripulação consistia de piloto e copiloto, e dois operadores de sistema. O modelo agradaria o comando da aviação naval norte-americana, levando a autorização em junho de 1950 para a produção dos primeiros protótipos. A aeronave agora designada como XS2F-1 equipada com dois motores radiais Wright R-1820-82WA, alçaria voo primeira vez em 4 de dezembro de 1952, e logo seria submetido a um extenso programa de ensaios em voo. Em outubro do ano seguinte o segundo protótipo já estava envolvido no programa de testes no Naval Air Test Center (NATC), em Patuxent River, Maryland, onde foi utilizado para as provas de adequação ao uso em porta-aviões.
O sucesso dos testes conduzidos que validaram o projeto do Grumman S2F-1, levou a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) a contratar, em 1950, o primeiro lote de 15 aeronaves, designadas oficialmente como S2F-1. Esse foi o início de uma produção que totalizaria 1.281 unidades, incluindo variantes, até o final da década de 1960. Inicialmente apelidado de “Sentinel” durante a fase de desenvolvimento, o S2F-1 foi oficialmente nomeado “Tracker”, e entre as tripulações, a aeronave ganhou o carinhoso apelido “STOOF” (de “S-TWO-F”). O Grumman S2F-1 Tracker foi projetado com uma suíte eletrônica de ponta para a época, combinando sistemas de detecção avançados com capacidade de ataque Suas principais características incluíam: Radar de Busca AN/APS-38: Instalado em um radome retrátil no ventre da aeronave, o radar permitia a detecção de submarinos em superfície ou em mergulho raso, mesmo em condições de baixa visibilidade. O design retrátil minimizava o arrasto aerodinâmico, preservando o desempenho da aeronave. Antena MAD (Magnetic Anomaly Detector): Montada na cauda, a antena retrátil do MAD, que se estendia aproximadamente 23 cm, detectava variações no campo magnético terrestre causadas pelo casco metálico de submarinos submersos. Esse sistema, testado exaustivamente no NATC, era essencial para localizar alvos invisíveis sob a água. Antena AN/APA-69: Posicionada em um radome sobre a cabine de pilotagem (ou como uma antena dipolo nos primeiros exemplares), essa antena localizava emissões eletrônicas, permitindo à tripulação identificar sinais de radar ou comunicações de submarinos ou navios inimigos. Holofote de Identificação: Inicialmente, o S2F-1 era equipado com um holofote de 70 milhões de candelas, instalado sob a asa direita, para identificar alvos à noite. Esse sistema foi posteriormente substituído por um holofote mais potente, de 85 milhões de candelas, aprimorando a capacidade de operações noturnas. Além dos sensores, o Tracker podia carregar uma variedade de armamentos, incluindo torpedos acústicos, cargas de profundidade e foguetes, armazenados em um compartimento interno e pontos de fixação sob as asas. O Grumman S2F-1 Tracker entrou em serviço em 1954 e rapidamente se tornou um pilar da guerra antissubmarino da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) operando em porta-aviões e bases terrestres. Em 1962 a aviação naval redesignou os S2F1 como S-2A, e a partir deste momento seriam produzidas 51 células da versão utilitária US-2A, destinadas a substituir os antigos Beechcraft C-45 em tarefas de transporte de pessoal e carga. Eventualmente estas aeronaves seriam empregadas em missões de reboque de alvos para a artilharia embarcada. Seria ainda desenvolvida a versão S2F1T (posteriormente redesignados como TS2A), destinados ao treinamento de tripulações de voo em aeronaves multimotor e de operadores de sistemas ASW. Alguns poucos S2F-1 tiveram sua designação alterada para S2F1S (ou S2B a partir de 1962) ao receberem o sistema JULIE - JEZEBEL de detecção eletrônica, JULIE era um sistema de determinação de distância por eco acústico, e JEZEBEL era um sistema de busca de eco.
Emprego na Força Aérea Brasileira.
A singularidade da força aérea como operadora de aviação embarcada está intrinsecamente ligada à sua criação em 20 de janeiro de 1941, com a instituição do Ministério da Aeronáutica (MAer). Até então, o Brasil possuía duas aviações militares distintas: a Aviação Militar, subordinada ao Exército Brasileiro, e a Aviação Naval, operada pela Marinha do Brasil. Essas estruturas, que remontavam às primeiras décadas do século XX, refletiam a descentralização da aviação militar no país, com cada força desenvolvendo suas próprias doutrinas e capacidades. Com a criação do Força Aérea Brasileira (FAB), o governo brasileiro buscou unificar e modernizar a aviação militar, transferindo a quase totalidade do pessoal e dos equipamentos da Aviação Militar e da Aviação Naval para a recém-formada organização. Essa consolidação, embora estrategicamente necessária para centralizar recursos e padronizar operações, gerou tensões institucionais, particularmente com a Marinha, que perdeu sua autonomia na operação de aeronaves. Após a Segunda Guerra Mundial, a Marinha do Brasil tentou reconstituir sua aviação naval, argumentando a necessidade de operar aeronaves embarcadas para proteger as extensas águas territoriais do país. Contudo, essas iniciativas enfrentaram resistência do Ministério da Aeronáutica (MAer), que reafirmava sua autoridade sobre a aviação de asa fixa. No final da década de 1950, o governo brasileiro avançou em negociações com o Reino Unido para adquirir um porta-aviões, reconhecendo a importância estratégica de projetar poder naval no Atlântico Sul. Após avaliações, foi selecionado o HMS Vengeance, um navio da classe Colossus que servira na Marinha Real (Royal Navy) durante a Segunda Guerra Mundial. Construído em 1944, o Vengeance participou de operações no Pacífico e, após a guerra, foi colocado em reserva. Em 1956, o Brasil formalizou sua aquisição, e o navio foi submetido a um extenso processo de modernização no estaleiro Verolme United Shipyard, em Rotterdam, Holanda. A modernização, concluída em 1960, incluiu atualizações nos sistemas de propulsão, radares e catapultas, além de adaptações para operar aeronaves modernas. Renomeado NAeL A-11 Minas Gerais, em homenagem ao estado brasileiro, o porta-aviões tornou-se o primeiro de sua categoria na Marinha do Brasil, marcando um salto na capacidade naval do país. Com 211 metros de comprimento e capacidade para operar até 20 aeronaves, o A-11 Minas Gerais era um navio-aeródromo ligeiro, projetado para missões de patrulha marítima, guerra antissubmarino (ASW) e apoio a operações anfíbias. Diante deste contexto a Força Aérea Brasileira (FAB) assumiu a responsabilidade de prover os meios aéreos para o porta-aviões. Em 6 de fevereiro de 1957, por meio de uma portaria ministerial, foi criado o 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE), sediado na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (RJ).
Originalmente, o 1º Grupo de Aviação Embarcada – 1º GAE foi concebido para abrigar dois esquadrões: um de patrulha, focado em guerra antissubmarino (ASW), e outro de caça, para missões de superioridade aérea. No entanto em virtude do cenário regional naquele momento onde a maior ameaça era representado por submarinos soviéticos, levaria a Marinha do Brasil a decidir por operar A-11 Minas Gerais primariamente como um porta-aviões antissubmarino levou à substituição do esquadrão de caça por um esquadrão de helicópteros especializados neste escopo de missão. Como elemento aéreo seriam escolhidos dois vetores, assim o de asa fixa o primeiro esquadrão (1º/1º GAE) passaria a ser equipado com aeronaves de guerra antissubmarino Grumman S-2F1 Tracker e o segundo (2º/1º GAE) deveria operar seis helicópteros de guerra antissubmarino Sikorsky HSS-1 SH-34J. Desde sua ativação, em novembro de 1958, este esquadrão operaria um conjunto de aeronaves North-American B-25, North-American T-6D e Bell H-13J, em caráter temporário a fins do estabelecimento da proficiência operacional. Em julho de 1961, o esquadrão recebeu seus primeiros S2F-1 Tracker, designados como P-16 na Força Aérea Brasileira (FAB), treze dos quais foram adquiridos novos diretamente da Grumman Aircraft Co. Essas aeronaves, equipadas com radar AN/APS-38, antena MAD (Magnetic Anomaly Detector) e holofotes de alta potência, representavam o estado da arte em guerra antissubmarino (ASW), permitindo a eficiente patrulha e proteção das extensas águas territoriais brasileiras contra ameaças submarinas, uma prioridade estratégica durante a Guerra Fria. Continuavam, no entanto, as dificuldades de entendimento entre os ministérios da Aeronáutica e da Marinha, pois apesar do porta aviões Nael A-11 “Minas Gerais” encontrar-se em operação desde 12 de dezembro de 1960, a Marinha do Brasil proibia a operação das aeronaves de asas ficas e rotativas da Força Aérea Brasileira (FAB) a partir do navio aeródromo. O impasse foi resolvido em 26 de janeiro de 1965, quando o presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco assinou o Decreto-Lei nº 55.627, autorizando o restabelecimento da Aviação Naval, limitada à operação de helicópteros. Esse decreto marcou um compromisso histórico, permitindo que a Marinha assumisse o controle dos helicópteros Sikorsky SH-34J do 2º/1º GAE, que foram transferidos para a Aviação Naval. Com isso, o 1º GAE perdeu seu segundo esquadrão, mas a Força Aérea Brasileira (FAB), manteve a exclusividade sobre as operações do Grumman P-16 Tracker, que finalmente pôde iniciar suas missões embarcadas a partir do Minas Gerais. Em 22 de junho de 1965, um momento histórico foi registrado: o Capitão-Aviador Antonio Claret Jordão, pilotando o Grumman P-16 Tracker de matrícula FAB 7021, realizou o primeiro pouso de uma aeronave militar brasileira a bordo de um porta-aviões.
Em 1974, a Ministério da Aeronáutica (MAer) a fim de repor perdas operacionais e aumentar a frota, adquiriu um lote de oito aeronaves Grumman S-2E Tracker, oriundas das reservas da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), ao custo de US$ 93.000,00 por unidade. Essas aeronaves, designadas P-16E na Força Aérea Brasileira (FAB), trouxeram melhorias significativas em relação aos S-2F-1 Tracker (P-16A), adquiridos em 1961. Equipadas com sistemas eletrônicos avançados, como o radar AN/APS-38, antena MAD (Magnetic Anomaly Detector) e holofotes de alta potência, os P-16E eram otimizados para missões ASW, essenciais para proteger as extensas águas territoriais do Brasil durante a Guerra Fria. A chegada dos P-16E levou à redesignação das aeronaves do lote original como P-16A. Além disso, oito P-16A foram convertidos ao longo dos anos para o padrão de transporte utilitário UP-16, inspirado no Grumman US-2B, envolvendo a remoção dos equipamentos ASW e a reconfiguração do interior para transporte de carga e até cinco passageiros. Essas modificações ampliaram a versatilidade da frota, permitindo ao 1º GAE realizar missões logísticas e de treinamento, além de operações de patrulha marítima. A chegada destas "novas" aeronaves levaria à reativação do 2º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação Embarcada (2º/1º GAE), passando a operar os Grumman P-16A e UP-16, em missões de treinamento e transporte, enquanto os P-16E passariam a ser empregados pelo 1º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação Embarcada (2º/1º GAE). Os Grumman P-16E Tracker da brasileiros desempenharam um papel central nas operações navais e anfíbias da Marinha do Brasil, participando de exercícios de grande relevância, como UNITAS, Dragão, Redex, Tropicalex e Temperex. Essas manobras, conduzidas em conjunto com marinhas aliadas, fortaleceram a interoperabilidade da Aeronáutica e da Marinha, consolidando a posição do Brasil como uma potência naval regional no Atlântico Sul. Além disso nestes exercícios , os P-16E operaram diversas vezes a partir de porta-aviões norte-americanos, como o USS Randolph (CVS-15) e o USS America (CV-66),participando também operações conjuntas “ARAEX”, com a Armada Argentina, demonstrando a competência dos pilotos brasileiros em cenários internacionais. O intenso ritmo operacional dos P-16 Tracker cobrou um preço significativo. Entre 1961 e 1980, cinco aeronaves foram perdidas em acidentes, dois dos quais a bordo do NAeL A-11 Minas Gerais. Esses incidentes, comuns em operações embarcadas devido à complexidade de pousos e decolagens em porta-aviões, refletem os riscos enfrentados pelos aviadores brasileiros. Entre 1976 e 1988, a Ministério da Aeronáutica (MAer) adquiriria outros seis Grumman S-2E; denominados como P-16 logísticos, sendo destinados para fornecerem peças para as demais aeronaves em uso.
No final da década de 1980, o 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE) da Força Aérea Brasileira (FAB) enfrentava um momento crítico em sua história. Operando a partir do Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) A-11 Minas Gerais, as aeronaves Grumman P-16 Tracker, que haviam consolidado a FAB como a única força aérea do mundo a operar embarcada em porta-aviões, exibiam sinais de obsolescência e desgaste. Apesar da alta proficiência das tripulações, os desafios logísticos e técnicos ameaçavam a operacionalidade da frota naquele momento. Os motores radiais Curtiss-Wright R-1820-82WA, fora de produção há mais de duas décadas, apresentavam dificuldades crescentes de manutenção devido à escassez de peças de reposição. Além disso, o desgaste das células, agravado por anos de operações intensas em ambientes marítimos corrosivos, comprometia a prontidão operacional. Ficava clara a necessidade de substituição destes vetores por aeronaves mais novos, no entanto esta alternativa se mostraria inviável, pois o NAeL Minas Gerais, por se tratar de um porta-aviões ligeiro apresentava limitações de espaço e capacidade de catapulta, tornando assim inviável a aquisição de novas aeronaves existentes no mercado naquele período. Diante desse cenário, o comando da Força Aérea Brasileira (FAB) optou por modernizar as células remanescentes, um projeto ambicioso que visava não apenas prolongar a vida útil dos Trackers, mas também melhorar seu desempenho em operações embarcadas, onde potência e peso reduzido eram cruciais. Em 1987, o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), hoje Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), coordenou estudos para avaliar a viabilidade técnica e operacional da modernização dos P-16. Após análises detalhadas, definiu-se a adoção dos motores Pratt & Whitney PT6A-67CF, com 1.650 HP, equipados com hélices compostas de cinco pás Hartzell. Essa escolha foi estratégica, pois os motores PT6A eram compatíveis com os utilizados nas aeronaves Embraer C-95 e P-95 Bandeirante, já em serviço na Força Aérea Brasileira (FAB), garantindo padronização de componentes e redução de custos logísticos. Um desafio técnico significativo foi o impacto das mudanças no centro de gravidade da aeronave. A substituição dos pesados motores radiais por turboélices mais leves exigiu a adição de um lastro de 500 kg de chumbo no nariz do Tracker, assegurando a estabilidade em voo e durante operações embarcadas. Este processo também deveria incluir a reconstrução das naceles e berços dos motores, mantendo o plano e o eixo das hélices, além da revitalização estrutural e atualização dos sistemas elétrico, hidráulico e pneumático, e a instalação de ar-condicionado para melhorar o conforto da tripulação em longas missões marítimas.
Em 1988, o Ministério da Aeronáutica (MAer) abriu uma licitação internacional para executar a modernização de 12 células da versão P-16E, com a empresa canadense IMP Group, sediada em Halifax, Nova Escócia, sendo selecionada como vencedora. Com um custo total de US$ 40 milhões, o contrato previa a reconstrução completa das aeronaves, incorporando as especificações definidas pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA). A IMP Group, conhecida por sua experiência em manutenção e modernização de aeronaves, como o Lockheed P-3 Orion, teoricamente traria a expertise técnica essencial para o projeto, tendo contribuído para esta decisão a apresentação de uma melhor proposta comercial. Desta maneira em seguida o Grumman P-16E de matrícula FAB 7036 foi selecionado como protótipo do projeto agora denominado como "P-16H", com esta célula sendo transladada em voo no dia 6 de fevereiro de 1989, tendo como destino as instalaçoes da IMP Group na cidade de Halifax, no Canadá, onde se tornaria o primeiro P-16H da Força Aérea Brasileira (FAB). Este "protótipo" alçaria voo 14 de julho de 1990 nas instalações do fabricante em Halifax, sendo então transladada para o Naval Air Engineering Station Lakehurst na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em New Jersey, a fim de ser submetida a avaliação e e testes operacionais. Findado este processo em dezembro do mesmo ano a aeronave ainda ostentado a designação de P-16E na cauda, seria transladada para a Base Aérea de Santa Cruz, onde após um voo de 33h40 seria recebida no dia 24 daquele mês. Nos dias 21 e 22 de março de 1991, o Grumman P-16H "FAB 7036", faria seus primeiros testes a partir do Nael A-11 Minas Gerais”, o que incluiu três arremetidas, três toques-e-arremetidas, seis pousos, duas catapultagens e três decolagens livres. Apesar de pequenos desafios técnicos, os testes demonstraram a viabilidade do projeto P-16H, contudo ao longo deste processo vários problemas em nível técnico e de gerenciamento de projeto assolariam o projeto P-16H, tanto pela inexperiência da IMP Group na conversão (ao contrário das conceituadas empresas Marsh Aviation e da IAI - Israel Aerospace Industries), como pela crônica falta de recursos destinados ao Ministério da Aeronáutica (MAer) naquele período. Assim infelizmente no inicio do ano de 1996 o programa seria cancelado, salientando que neste momento a empresa francesa Thomson CSF já havia sido declarada vencedora em uma concorrência complementar destinada a atualização de toda a aviônica e sistemas de guerra antissubmarino. Posteriormente já armazenado no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP) o P-16H FAB 7036, teria seus motores Pratt & Whitney PT6A-67CF retirados, revisados e devolvidos ao fabricante. Encerrando em definitivo o programa, desperdiçando-se assim um grande oportunidade em manter atualizada e operacional a capacidade de guerra antissubmarino (ASW) da Força Aérea Brasileira (FAB).
Em Escala.
Para representarmos o protótipo do Grumman P-16H "FAB 7036" Turbo Tracker , fizemos uso do antigo kit em resina na escala 1/48 produzido pela GIIC Models. Desenvolvido no inicio da década de 2000 este modelo foi concebido com base no antigo kit injetado do S2F Hunter Killer do fabricante Aurora. Para configurarmos o "FAB 7036" usamos os decais impressos pela FCM Decais presentes no set 48/42 em conjunto decais das identificação da aeronave originais do modelo.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves Grumman P-16 Tracker em operação na Força Aérea Brasileira (FAB) junto ao 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE) . O P-16H FAB 7036 empregou durante sua curta operação, dois padrões de marcações nacionais em verde e amarelo no leme durante sua carreira, o que pode ser observado nas fotos de época.
Bibliografia :
- Os Cardeais 1º Grupo de Avião Embarcada e 4º/7º Grupo de Aviação - Mauro Lins de Barros - Editora Adler
- História da Força Aérea Brasileira , Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Grumman S-2 Tracker – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_S-2_Tracker
- Poder Naval Notícias - http://www.naval.com.br/blog/2010/08/12/marinha-adquire-08-aeronaves-c-1a-trader/