North American B-25B Mitchel


História e Desenvolvimento.
A North American Aviation Company foi fundada em 6 de dezembro de 1928 por Clement Melville Keys, inicialmente estruturada como uma holding empresarial com o objetivo de negociar a compra e venda de participações em diversas companhias aéreas e empresas associadas ao setor de aviação. Contudo, essa estratégia tornou-se insustentável com a promulgação da "Lei Federal do Correio Aéreo" em 1934, que resultou na inviabilidade econômica e no colapso de holdings especializadas nesse modelo de negócio. Já consolidada como uma referência significativa no setor aeronáutico, a North American Aviation Corporation reorientou suas atividades para a produção de componentes e aeronaves. Nesse período, a empresa passou a ser liderada pelo engenheiro James H. "Dutch" Kindelberger, um profissional de vasta experiência adquirida durante sua atuação na Douglas Aircraft Company.  A operação neste momento contava com recursos financeiros provenientes de fundos da Eastern Air Lines. Em 1935, a General Motors Corporation adquiriu o controle da North American Aviation Company, promovendo uma fusão com sua divisão aeronáutica, a General Aviation Manufacturing Corporation. No mesmo ano, a companhia decidiu transferir sua planta industrial de Dundalk, Maryland, para Los Angeles, na Califórnia, visando aproveitar as condições climáticas mais favoráveis da região, que permitiam a realização de ensaios de voo durante todo o ano. Nessa nova fase, a estratégia comercial da empresa voltou-se para o mercado de aeronaves de treinamento, um segmento teoricamente menos competitivo em comparação aos nichos de aeronaves maiores ou mais complexas como caças e bombardeiros. Os primeiros resultados dessa reorientação estratégica se materializariam n os modelos North American GA-16, projetado para missões de treinamento básico, e GA-15, destinado a tarefas de reconhecimento e observação. Essas aeronaves, cujos projetos haviam sido originalmente desenvolvidos pela General Aviation Manufacturing Corporation, realizaram seus voos inaugurais e obtiveram homologação no início de 1936. O North American GA-16  após ser oficialmente apresentado, receberia a designação militar de “NA-18”, com seus dois protótipos sendo submetidos a um completo processo de avaliação para ensaios em voo. Em outubro do ano de 1935, seria  celebrado o primeiro contrato de produção para Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo quarenta e duas células, com as primeiras entregas sendo realizadas no início do ano seguinte. Esses desenvolvimentos marcaram os  passos iniciais da North American Aviation em sua trajetória para se estabelecer como um dos principais fornecedores de aeronaves militares para as forças armadas dos Estados Unidos. 

Em 11 de março de 1938, o Comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) emitiu especificações técnicas para o desenvolvimento de uma aeronave monoplano bimotora destinada a operar como bombardeiro médio de ataque. Diversas empresas aeronáuticas, incluindo Bell Aircraft Company, Boeing Stearman Company., Douglas Aircraft Company, Martin Aircraft Company e North American Aviation Company, submeteram seus projetos para avaliação. Contudo, este processo foi marcado por uma série de contratempos, com o registro de múltiplos acidentes e incidentes envolvendo os protótipos apresentados por estes fabricante. Esses eventos adversos culminaram no cancelamento do programa, identificado como CPN 38-385, encerrando assim provisoriamente o desenvolvimento desse novo bombardeiro. Entretanto, o agravamento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico proporcionou um novo ímpeto à modernização das forças armadas norte-americanas. Assim, em março de 1939, foi lançado um novo programa, denominado Projeto ACP 39-640, com o objetivo de desenvolver  um bombardeiro médio de ataque. Diferentemente da concorrência anterior, a urgência em avançar o projeto levou os militares a adotarem uma abordagem arriscada: selecionar o vencedor com base nas propostas apresentadas, sem a exigência de um protótipo funcional, visando disponibilizar a aeronave para operação antes do início de 1940. Dentre as propostas submetidas, duas foram escolhidas como finalistas: o Martin Model 179 e o North American NA-62, este último projetado pelos engenheiros R.H. Rice e John Leland Atwood. A aeronave bimotora da North American Company destacava-se por sua configuração de asa alta, dupla deriva e amplo armamento defensivo, com capacidade de transportar até 3.600 libras de bombas em altas velocidades – características que, em teoria, superavam as do Martin Model 179. Após uma análise detalhada das duas propostas, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) embasado na necessidade de reequipar seus esquadrões, optou por adotar ambos os modelos, formalizando contratos para a produção de 184 unidades do North American B-25 e 200 unidades do Martin B-26. É pertinente observar que o projeto final aprovado para a produção em série do North American B-25, embora derivado da proposta NA-40 apresentada na concorrência de 1938, resultou em uma aeronave significativamente maior e mais pesada, com um incremento  total de quase quatro toneladas em relação ao peso inicialmente projetado.
O primeiro protótipo do North American B-25 foi concluído em 2 de agosto de 1940, realizando seu voo inaugural em 19 de agosto do mesmo ano, sendo submetida a um completo programa de ensaios de voo, que logo culminariam na autorização para sua produção em série.  As primeiras 9 aeronaves concluídas apresentavam um diedro constante, o que significa que a asa tinha um ângulo consistente para cima da fuselagem até a ponta da asa. Após serem entregues ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), verificou-se que este desing ocasionava problemas de estabilidade "achatando" os painéis externos das asas. De imediato alterações seriam feitas, com a aeronave recebendo sua sua configuração de asa de gaivota, além disso seriam implementadas também menos perceptíveis, incluindo  um aumento no tamanho das barbatanas da cauda e uma diminuição em sua inclinação para dentro em seus topos. Em setembro de 1940, outros três protótipos foram entregues para submissão a um rigoroso programa de ensaios em voo, cujo sucesso resultou na homologação do modelo para produção em série. Nesse contexto, foi firmado um contrato entre a North American Aviation e as autoridades militares para a aquisição de 24 unidades, com as primeiras entregas ocorrendo em meados de fevereiro de 1941. Neste mesmo momento aeronave foi oficialmente designada B-25 e batizada como "Mitchell", em homenagem ao brigadeiro-general William Lendrum "Billy" Mitchell, renomado defensor das estratégias de emprego do poder aéreo norte-americano nas décadas de 1920 e 1930.  Paralelamente, aprimoramentos foram incorporados ao projeto original, dando origem ao North American B-25A. Essa versão atualizada assegurou um novo contrato para a fabricação de 40 unidades.  Durante esse período, relatórios da inteligência militar dos Estados Unidos, elaborados com base em dados provenientes do front aéreo europeu, destacaram a necessidade de avaliar a capacidade de sobrevivência dos bombardeiros frente à ameaça representada pelos caças alemães. Essas análises indicaram a pertinência de implementar melhorias no B-25A, incluindo a introdução de blindagem para proteção da tripulação e a adoção de tanques de combustível autos selantes. Embora tais modificações tenham elevado significativamente a resistência da aeronave a ataques inimigos, elas impactaram sua autonomia. A capacidade interna de combustível foi reduzida de 912 galões para 694 galões. Contudo, essa alteração não comprometeu a capacidade ofensiva do B-25, que manteve seu perfil operacional como bombardeiro diurno de curto e médio alcance. Por outro lado, a redução afetou a capacidade de translado para longas distâncias, problema parcialmente mitigado com a instalação de um tanque de combustível suplementar e removível no compartimento de bombas ("bomb bay") da aeronave.

O sistema defensivo do North American B-25B foi significativamente aprimorado, incorporando uma torreta elétrica Bendix tipo “L” equipada com duas metralhadoras Browning calibre .50, posicionada na parte traseira superior da aeronave, e uma torreta retrátil similar, com idêntico armamento, instalada na parte inferior, próxima ao compartimento de bombas ("bomb bay"). Essa nova configuração resultou na assinatura de um contrato para a produção de 120 unidades, cuja entrega teve início imediato às diversas unidades aéreas do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), distribuídas tanto no continente quanto no teatro de operações do Oceano Pacífico. A entrega das últimas aeronaves previstas nesse contrato foi concluída em janeiro de 1942. Apesar de fabricado em quantidade bem inferior às versões posteriores, o B-25B Mitchell alcançaria notoriedade histórica ao participar da ousada missão de bombardeio ao Japão em 18 de abril de 1942. Nessa operação, dezesseis aeronaves decolaram do porta-aviões USS Hornet (CV-2) para atacar alvos nas cidades de Tóquio, Kobe, Yokohama e Nagoya. Embora os danos materiais tenham sido limitados, o impacto psicológico foi expressivo, elevando significativamente o moral das forças militares norte-americanas. As versões subsequentes do B-25 incluíram o B-25C, com 1.625 unidades produzidas em Inglewood, e o B-25D, com 2.290 exemplares fabricados em Kansas City. Ambas as versões apresentavam características bastante semelhantes. A Força Aérea Real (RAF) se tornaria um dos primeiros clientes de exportação, recebendo a designação local de Mitchell I (B-25B), com as primeiras aeronaves sendo entregues em  agosto de 1941, à Unidade de Treinamento Operacional Nº 111 com sede nas Bahamas. Esses bombardeiros foram usados exclusivamente para treinamento e familiarização e nunca se tornaram operacionais. Ja os modelos B-25C e B-25D  foram designados Mitchell II, vindo a servir com os  esquadrões do Grupo N.º 2, e com  a força tática de bombardeiros médios da RAF. Seu batismo de fogo sob o comando dos britânicos ocorreria  22 de janeiro de 1943, quando seis aeronaves do Esquadrão N.º 180 da RAF atacaram instalações petrolíferas em Ghent. No início de 1943, aeronaves B-25C baseadas na Austrália foram adaptadas para realizar ataques rasantes contra navios japoneses no Mar de Bismarck. Para essa finalidade, o compartimento de bombardeio tornou-se desnecessário, uma vez que as bombas eram lançadas diretamente pelo piloto. Assim, o nariz do B-25C foi modificado, recebendo quatro metralhadoras fixas calibre .50, cada uma com 500 disparos, complementadas por outras quatro metralhadoras do mesmo calibre instaladas em pares nos lados da fuselagem, próximas à cabine de pilotagem. Essa configuração conferiu à aeronave uma capacidade de fogo excepcional, dificultando sobremaneira a resposta do inimigo.
As adaptações bem-sucedidas realizadas no B-25C serviram de base para o desenvolvimento do B-25G, do qual foram produzidas 750 unidades. Em sequência, foi introduzido o B-25H, caracterizado por um armamento mais potente em relação ao seu antecessor, destacando-se a inclusão de um canhão leve de 75 mm, modelo T13-E1. A última variante da série, o B-25J, alcançou a maior produção, com 4.318 exemplares fabricados. O B-25J preservou o nariz envidraçado típico dos modelos B-25C e B-25D, manteve as torretas dorsal e de cauda herdadas do B-25H e integrou as metralhadoras laterais frontais presentes nas versões C e D. A partir dessas configurações, uma série de modificações deu origem a variantes especializadas para missões diversas, como reconhecimento fotográfico, treinamento multimotor, reconhecimento meteorológico, patrulha marítima, transporte e capacitação em sistemas de radar embarcados. Até o final do conflito seriam produzidas  9.816 células dispostos em 31 versões, além dos Estados Unidos e Grã-Bretanha, uma grande parte destas aeronaves seriam cedidas a nações aliadas como Brasil, Uniao Soviética, Canáda, Australia e França Livre.  No pós-guerra o modelo foi empregado pela Argentina, Biafra, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba República Dominicana, Indonésia, México, Peru, Polônia, Espanha, Uruguai e Venezuela, sendo operados até meados da década de 1970. As primeiras versões destinadas ao transporte de carga emergiram da conversão de células dos North American B-25B iniciais, disponíveis em grande quantidade devido à substituição por modelos mais avançados. O sucesso dessa iniciativa levou o Comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a requisitar a conversão adicional de aeronaves, resultando nas designações CB-25B, CB-25C, CB-25D e CB-25J. Essas variantes de transporte foram amplamente empregadas em todos os teatros de operações durante a Segunda Guerra Mundial. Destaca-se ainda o desenvolvimento de uma variante especial para transporte de personalidades (VIP – Very Important Person), designada VB-25J, que teve como usuários notáveis os generais norte-americanos Henry H. Arnold e Dwight D. Eisenhower. Essa versão foi amplamente valorizada por tripulantes e passageiros, permanecendo em serviço ativo até 1960, quando o último exemplar foi retirado da Base da Força Aérea de Eglin, na Flórida. Após o término do conflito, diversas aeronaves na configuração original de bombardeiro foram transferidas a nações aliadas. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Este programa seria de vital importância para adequar em termos de aeronaves e doutrina operacional a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), que até então herdara da Aviação Militar do Exército Brasileiro e da Aviação Naval da Marinha do Brasil, aeronaves obsoletas e não adequadas para principalmente para se fazer frente a ameaça dos submarinos italianos e alemães. 

Na fase inicial de suas operações, a Força Aérea Brasileira (FAB) restringiu suas atividades a voos de presença ao longo do litoral brasileiro, empregando predominantemente monomotores como o North American AT-6B e o Vought V-65B Corsair. Essa dinâmica começou a se alterar no início de 1942, quando, sob incentivos econômicos e pressões diplomáticas, o governo brasileiro autorizou o uso de bases aéreas nacionais por unidades de patrulha da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Esse marco possibilitou os primeiros confrontos contra submarinos alemães e italianos, missões que contaram com a observação atenta de oficiais brasileiros. Esse acompanhamento permitiu à Força Aérea Brasileira (FAB) assimilar gradualmente os conhecimentos relacionados à guerra aeronaval, adquirindo, ao longo do tempo, a capacitação necessária para desenvolver e disseminar essa doutrina. Esse processo de aprendizado foi acompanhado pela cessão de aeronaves modernas, com primeira a entrega envolvendo seis North American B-25B Mitchell em janeiro de 1942. Essas aeronaves foram adaptadas para missões de patrulhamento marítimo e combate antissubmarino (ASW), passando a ser destinadas ao Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), unidade criada em 4 de fevereiro de 1942 e sediada em Fortaleza, no Ceará. As primeiras missões operacionais tiveram início em abril do mesmo ano, conduzidas por tripulações mistas formadas por oficiais e graduados da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) e da  Força Aérea Brasileira (FAB). Nestas operações os oficiais dos dois países alternavam as posições durante o voo, melhorando assim o nível de treinamento. Curiosamente em 22 de 1942, um North American B-25B Mitchell, destacaria-se ao se tornar-se a primeira aeronave militar brasileira a entrar em combate na Segunda Guerra Mundial. Salientamos ainda que o  Brasil ainda não estava em guerra contra o nazismo, e o Ministério da Aeronáutica  MAer) tinha apenas 15 meses de criação. Quatro dias antes desta data, o navio Comandante Lyra havia sido atacado em águas territoriais brasileiras por um submarino italiano o Barbarigo, a pouco mais de 330 km de distância de Fernando de Noronha.  Era a oitava embarcação brasileira atingida pelas forças do Eixo. Esta embarcação apresentava 73 metros de comprimento, velocidade de até 30 km/h, dois canhões de 100mm, quatro metralhadoras e oito tubos para lançamento de torpedos. Danificado por disparos de um torpedo, de bombas incendiárias e de disparos de canhão 100 mm e metralhadoras, o Comandante Lyra não afundou, mas pegou fogo e deixou uma imensa nuvem de fumaça, visível pelo trajeto, emergencialmente  seguiria  rebocado até a cidade de Fortaleza (CE). 
Naquele dia 22 de maio, os Capitães  Aviadores Parreiras Horta e Pamplona estavam em missão de treinamento de formação operacional como pilotos de patrulha. Mas nenhum voo era realmente tranquilo: o Brasil ainda não estava oficialmente em conflito, porém qualquer tripulação da Força Aérea Brasileira (FAB), mesmo as envolvidas em treinamento, eram orientadas a voarem prontas para o combate. Qualquer submarino ou navio que não pudesse ser identificado seria considerado como possivelmente hostil. O B-25B levava na sua tripulação os oficiais brasileiros e quatro militares da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF): Tenente Schwane (instrutor), Sgt. Yates, Sgt. Tyler e Sgt. Robinson, localizou o submarino italiano Barbarigo (Classe Marcelo) navegando em superfície.  Conforme as diretrizes vigentes à época, que refletiam a neutralidade brasileira, as tripulações só poderiam engajar alvos inimigos em caso de ataque prévio, então basicamente seria uma operação apenas de intimidação, porém ao identificar a aproximação da aeronave, a tripulação do submarino inimigo  respondeu imediatamente com intenso fogo antiaéreo. Diante da agressão, a tripulação do B-25B neste momento a 300 metros de altitude sobrevoou a embarcação da proa à popa e lançou 10 bombas  de 45 kg. Em segundos, começaram as explosões próximas ao casco. Somente depois do lançamento começou o ininterrupto fogo antiáereo enquanto a embarcação iniciava uma curva e expelia fumaça dos motores diesel. Enquanto o bombardeiro mantinha contato visual com o alvo e informava o comando sobre o ataque, os disparos da antiaérea continuavam, até que a aeronave desapareceu nas nuvens. Antes do pouso em Fortaleza, mais aviões já haviam decolado para caçar a ameaça inimiga na costa brasileira, mas o alvo não foi mais encontrado. Em referência a este ataque, foi declarado o batismo de fogo da Força Aérea Brasileira (FAB) e instituído naquela data o dia da Aviação de Patrulha. No final deste mesmo ano seria determinado que a Força Aérea Brasileira deveria começar a assumir uma significativa parcela das atividades de patrulhamento e guerra antissubmarino em seu mar territorial. Neste período a força de patrulha  brasileira ainda era incipiente. Os seis B-25B, juntamente com doze caças Curtiss P-36 e dois Douglas B-18 Bolo, formavam o Agrupamento de Aviões de Adaptação, sediado na Base Aérea de Fortaleza. Essas aeronaves realizavam voos na costa em busca dos submarinos inimigos. A fim melhorar esta estrutura em dezembro de 1942, seriam  recebidos dez Lockheed A-28A-LO Hudson, o primeiro modelo especializado em missões deste tipo.  

A rotina de missões de patrulha com os North American B-25B Mitchel, que se iniciara em Fortaleza, continuaria em Recife no estado de Pernambuco e Natal no Rio Grande do Norte, locais para onde estas aeronaves foram transferidas no transcurso da guerra. Reduzido para cinco exemplares após a perda de um destes aviões na Base Aérea de Recife, os três aviões que se encontravam nesta localidade, foram enviados para a Base Aérea de Natal, a fim de reforçar a 1º, 2º e 3º Esquadrilhas do 5º Grupo de Bombardeio Médio, unidade sucessora do 1º Grupo Misto. Neste meio tempo a Força Aérea Brasileira (FAB) incorporaria mais 21 aeronaves agora dispostas  nas versões North American B-25J-15 e B-25J-20, igualmente empregadas em missões de patrulhamento marítimo e combate antissubmarino. Pouco antes do final do conflito, ao menos dois B-25B Mitchel permaneceram brevemente destacados na Base Aérea de São Paulo (SP), regressando para Natal em julho de 1945. Novamente concentrados na Base Aérea de Natal, a permanência destas aeronaves no nordeste brasileiro seguiria até julho de 1947, ocasião em que cederam lugar aos mais modernos B-25J que chegaram ao Rio Grande do Norte para equipar o 5º Grupo de Aviação (5º GAv), unidade sediada na Base Aérea de Natal e criada em março daquele mesmo ano. Como resultados as cinco aeronaves remanescentes foram recolhidas ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), para assim aguardar a redistribuição de acordo com as necessidades da Força Aérea Brasileira. Dos cinco North American B-25B Mitchel do lote original, que ora se encontravam estocados no Campo de Marte em São Paulo, três aeronaves seriam logo excluídos da carga do Ministério da Aeronáutica (MAer) no início do mês de março do ano de 1949, visto que os trabalhos de recuperação e revisão geral foram considerados antieconômicos pelo comando do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP). Entre  julho de 1946 e outubro de 1947, o Brasil recebeu 64 unidades adicionais do North American B-25J por meio de programas de assistência militar, como o "American Republic Projects". Esse incremento permitiu à Força Aérea Brasileira (FAB) consolidar uma frota significativa desse modelo, especializando-se nos processos de operação e manutenção em nível de parque. Ao se contar com uma representativa frota destas aeronaves, passaria-se estudar alternativas para a extensão de sua vida útil e consequente  maximização do emprego destas robustas aeronaves.
Dessa forma, decidiu-se inicialmente realizar um abrangente trabalho de revisão geral e modificação nas duas células remanescentes do B-25B. Este processo consistiu, basicamente, na remoção de todos os sistemas de armamento originalmente instalados, na substituição dos motores Wright Cyclone R-2600-9 pelos motores Wright Cyclone R-2600-13, que possuíam a mesma potência, mas eram mais confiáveis, e nas adaptações necessárias para adequar as aeronaves à missão de transporte. O primeiro avião, agora designado como North American CB-25B, foi distribuído em maio de 1948 à Esquadrilha Mista de Instrução do Curso de Tática Aérea (EMICTA), com sede na Base Aérea de São Paulo (SP). O segundo CB-25B foi entregue ao Núcleo do Parque de Aeronáutica do Recife (NPqAerRF). Contudo, a permanência dessas aeronaves nessas unidades foi curta, uma vez que foram rapidamente substituídas por versões de transporte de carga mais modernas, como o North American CB-25J. Ambos os aparelhos retornaram ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), onde, por um breve período, continuaram a atuar como aeronaves orgânicas do parque, até que foi decidida sua desativação do serviço ativo da Força Aérea Brasileira (FAB). Finalmente, no dia 21 de novembro de 1957, o último North American B-25B Mitchell foi retirado da carga do Ministério da Aeronáutica (MAer) e alienado, sendo vendido como sucata no ano seguinte. Uma sétima aeronave do modelo North American B-25B Mitchell foi incorporada em 1944, destinada à Escola Técnica de Aviação (ETAv) situada no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo – SP, para ser utilizada exclusivamente em instrução em solo, visando o treinamento dos mecânicos em formação do 1º Grupo Misto de Instrução. No entanto, por se tratar de uma célula "cansada de guerra" (War Weary), a aeronave não chegou a realizar voos de instrução, sendo rapidamente transferida para a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer) em Guaratinguetá, no interior do estado de São Paulo. Na EEAer, a aeronave permaneceu até dezembro de 1954, recebendo a designação IS-B-25B, e posteriormente foi recolhida ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP). Nessa unidade, a célula foi submetida a uma avaliação técnica para verificação de seu estado, sendo considerada inapta para o trabalho de instrução em solo. Consequentemente, este último North American B-25B Mitchell foi oficialmente excluído da carga da Força Aérea Brasileira (FAB) em outubro de 1956 e, em seguida, alienado como sucata.

Em Escala.
Para representar o North American B-25B Mitchell, matrícula “FAB 10”, em uso durante os anos de 1942 a 1945, utilizamos o renomado kit da Accurate Model na escala 1/48, o qual se destaca por sua riqueza em detalhes. Para adaptar o modelo à versão utilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), foi necessário remover a torre ventral de metralhadoras. Adicionalmente, empregamos decalques produzidos pela FCM Decais, que estão disponíveis no antigo Set 48/08.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático norte-americano adotado no recebimento das aeronaves em 1942, sendo aplicadas as marcações brasileiras (cocares) sobre as originais do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Este padrão de pintura, com pequenas alterações, foi mantido até a realização das primeiras revisões completas em nível de parque, momento em que as aeronaves passaram a apresentar uma pintura metálica. Esse novo esquema de pintura foi mantido até a desativação das aeronaves, ocorrida entre os anos de 1956 e 1957.


Bibliografia :

- Revista Asas Mº 40 B-25 Mitchell na FAB, por Aparecido Camazano Alamino 
- Historia da Força Aérea Brasileia , Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html 
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015, por Jakson Flores Jr
- Bombardeiros Bimotores na FAB, por Aparecido Camazano Alamino  - Editora C&R 

De Haviland Canada DHC-5A Buffalo

História e Desenvolvimento.
As origens da De Havilland Aircraft da Canada Ltd, remontam ao ano de 1928, quando British de Havilland Aircraft Company, fundou no país uma subsidiária na cidade de Torono no estado Ontário (CA), para a produção de aeronaves de treinamento básico De Havilland DH-82 Tiger Moth, a fim de serem empregados junto as forças armadas canadenses. Durante a Segunda Guerra Mundial, a empresa seria transformada em uma corporação da coroa do governo do Canadá, passando a compor o esforço industrial aliado, fabricando aeronaves e componentes aeronáuticos. A produção local do bombardeiro De Havilland DH.98 Mosquito, seria a maior contribuição da empresa para o esforço de guerra, pois das mais de 7.000 aeronaves deste modelo, cerca de 17% seriam produzidas em solo canadense, sendo todas enviadas para o teatro de operações da Europa. Após o término da Segunda Guerra Mundial, a empresa começaria a construir seus próprios projetos, exclusivamente adequados ao severo ambiente operacional canadense, mantendo ainda em paralelo uma divisão orientada para produção sobre licença de várias aeronaves de origem britânica. Mais tarde a empresa seria responsável também, por uma versão construída com licença da aeronave norte-americana de guerra antissubmarino (ASW) Grumman S2-F Tracker. No entanto seu primeiro projeto de uma aeronave militar no período pós-guerra, o De Havilland Canada DHC-1 Chipmunk (Esquilo), alçaria seu primeiro voo em 22 de maio de 1946, e seria posto em serviço em fins do mesmo ano, como treinador básico, atuando em substituição aos já obsoletos De Havilland DH-82 Tiger Moth. Sua produção até o ano de 1956, atingiria a cifra de 1.284 aeronaves operadas por vinte e cinco forças aéreas, com a última aeronave, um exemplar pertencente a Real Força Aérea (RAF), sendo retirado de serviço somente em 1995. Seu segundo projeto de renome, o De Havilland Canada DHC-2 Beaver seria lançado em meados de 1947, e representaria a primeira aeronave com características de operação "STOL" (pousos e decolagens em pistas curtas) a ser desenvolvida pela empresa. Seu próximo modelo o De Havilland Canada DHC-3 Lontra, representava uma grande evolução em relação ao seu antecessor e seria lançado no mercado no início do ano de 1952, conquistando rapidamente excelentes resultados em vendas.

No início do ano de 1958 o comando do Exército Americano (US Army), lançaria uma concorrência internacional para o desenvolvimento de uma nova aeronave de transporte tático, que deveria ser capaz de operar próximo a linha de frente de batalha em missões de ressuprimento de tropas e evacuação aero médica. Fazendo usos de recursos patrocinados pelo Departamento de Produção de Defesa do Canadá, a De Havilland Aircraft da Canada Ltd desenvolveria o modelo DHC-4, com o primeiro protótipo de demonstrador, alçando voo pela primeira vez em 30 de julho de 1958. Impressionados com as capacidades e potencial de operação de pousos e decolagens em pistas curtas, os militares norte-americanos, assinariam com o fabricante canadense um contrato para a produção de cinco células para a avaliação, com o modelo recebendo a designação militar de YAC-1. Os resultados positivos deste programa culminariam em um contrato de produção de cento e cinquenta e nove células do modelo para o Exército Americano (US Army), com as primeiras aeronaves CV-2 Caribou entrando em serviço em março de 1961. No ano de 1966, mediante um acordo operacional estas aeronaves seriam transferidas para a Força Aérea Americana (USAF), passando a ser designadas como C-7 Caribou, neste momento seriam intensamente empregadas com grande êxito na Guerra do Vietnã. Durante o transcorrer deste conflito algumas aeronaves seriam capturadas pelas forças norte-vietnamitas e permaneceriam em serviço em sua força área até pelo menos o final da década de 1970. Em 1962, antevendo as necessidades de modernização de sua frota de aeronaves de transporte tático, novamente o comando do Exército Americano (US Army), lançou uma concorrência para o desenvolvimento de uma nova aeronave de transporte médio, contando como requisitos principais a capacidade de operação para pousos e decolagens em pistas curtas e não preparadas (STOL-Short Take off and Landing), capacidade de mesma carga útil de um helicóptero CH-47A Chinook, ou ainda versatilidade para transportar uma série de cargas especificas como,  trinta soldados totalmente equipados, um míssil balístico de médio alcance MGM-31 Pershing,  um obuseiro de 105 mm, ou ainda uma viatura média três quartos de tonelada.
Este processo tinha por objetivo substituir cerca de cento e ciquenta células do De Havilland DHC-4 Caribou que se encontravam em operação, e apresentavam como principal deficiência o emprego de motores radiais a pistão Pratt & Whitney Motores R-2000 que além de obsoletos apresentavam um alto consumo de combustível, impactando diretamente no desempenho operacional destas aeronaves. Desta maneira em resposta a este programa, a empresa canadense apresentou uma proposta contemplando uma versão ampliada do seu DHC-4 Caribú, equipada agora com dois turbo propulsores General Electric CT64-820-1 com 3055 shp de potência, que lhe proporcionavam a capacidade de decolar em míseros 369 metros de pista, superando obstáculos de quinze metros de altura, com 18.597 kg de carga. Este conceito agradaria o comando do Exército Americano (US Army), que solicitaria participar em conjunto com a empresa no desenvolvimento do projeto, sendo celebrado um primeiro contrato para a produção de quatro aeronaves a serem empregadas em um programa de avaliação e ensaios em voo. O primeiro protótipo alçou voo em 9 de abril de 1964, e apresentava capacidades superiores aos requisitos da concorrência, entre eles a capacidade de transportar até quarenta soldados equipados ou diversos tipos de carga, inclusive pequenas e médias viaturas. Infelizmente para a De Havilland Aircraft da Canada Ltd., neste mesmo período ocorreriam mudanças na política de aquisição de material militar pelas forças norte-americanas, criando assim uma corrente pela priorização de escolha de fornecedores locais, destinando assim os recursos gerados pelos contribuintes americanos na forma de impostos, somente a empresas nacionais. A contragosto restaria ao Exército Americano (US Army), proceder somente a aquisição das quatro aeronaves iniciais, que receberiam a designação de C-8A, sendo operados no Vietnã por um curto período junto ao 2º Pelotão de Voo da 92ª Companhia de Aviação, unidade está com sede na Base Aérea de  Bien Hoa.

Apesar deste grande revés comercial inicial, a empresa entendeu que as características únicas de operação da aeronave, poderiam gerar uma boa demanda em termos de exportações, com o projeto recebendo agora a denominação de De Havilland DHC-5A Buffalo. Devido ao seu envolvimento como principal investidor no projeto original, o governo canadense adquiriria um total de quinze aeronaves, que seriam designadas localmente como CC-115. Estas aeronaves seriam empregadas pela Força Aérea Real Canadense (RCAF), operando em missões de patrulha, transporte, lançamento de paraquedistas. Três aeronaves deste modelo, seriam extensivamente empregadas em missões internacionais, junto as Forças Multinacionais de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU), principalmente no Oriente Médio até o ano de 1979. Em 9 de agosto de 1974, o De Havilland CC-115 Buffalo "RCAF115461" apesar de estar caracterizado com uma aeronave de assistência da Organização das Nações Unidas (ONU), acabaria sendo abatido por um míssil superfície-ar lançado pelas forças sírias, resultando na morte de todos os passageiros e tripulantes. No ano seguinte o modelo seria retirado da função de aeronave de transporte tático da Força Aérea Real Canadense (RCAF), com as células em melhor estado de conservação sendo convertidas para emprego exclusivo em missões de Buscas e Salvamento – SAR (Search and Rescue), recebendo um chamativo padrão de pintura em amarelo e vermelho. Durante quarenta e sete  anos o De Havilland CC-115 Buffalo, representaria o principal vetor de asas fixas de busca e salvamento canadense, com o ultimo exemplar retirado de serviço somente em 17 de janeiro de 2022.
Por causa de sua asa alta, trem de pouso reforçado e características de pouso e decolagem curtos (STOL-Short Take off and Landing), o De Havilland Canada DHC-5A Buffalo, aparentava ser a aeronave ideal para emprego em áreas inóspitas e desprovidas de infraestrutura aeroportuária, sendo extremamente indicada para operação em ambientes de densa floresta tropical a exemplo da Amazônia.  Este perfil operacional único, acabaria gerando o interesse em aquisições por parte das forças armadas do Peru, Equador e Brasil.   Uma versão melhorada a DHC-5D Buffalo produzida a partir de 1974, sendo exportada para o Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Camarões, Chile, Congo, Indonésia, Quênia, Mauritânia, México, Omã, Sudão, Tanzânia e Zâmbia. A produção do modelo seria descontinuada em 1986 com uma entrega de cento e vinte e seis células, com a aeronave permanecendo em uso ainda em alguns países até os dias atuais.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No final da primeira da década de 1960 a Força Aérea Brasileira ainda operava os obsoletos Fairchild C-82 Packet no 1º/1º GTT (Grupo de Transporte de Tropas) em missões de transporte logístico, transporte de tropas e lançamento de paraquedistas do Exército Brasileiro. Neste leque de missões, estas aeronaves eram complementadas pelos mais novos Fairchild C-119G Flying Boxcar do 2º/1º GTT (Grupo de Transporte de Tropas). Estes últimos transportes apesar de apresentar maior potencial em termos de desempenho e capacidade operacional, que os Fairchild C-82 Packet, se encontravam em números insuficientes. Como agravante problemas de ordem técnica passavam a afligir cada vez mais severamente a capacidade operacional desta força de transporte, principalmente devido a problemas crônicos causados pela constante falta de peças de reposição para seus velhos motores a pistão Pratt & Whitney R-2800-85 e Wrigth Cyclone R-3350-85. Este cenario causava paura no Comando da Aeronáutica (COMaer), que em função da grande extensão territorial do país, necessitava apresentar a maior prontidão operacional possível. Desta maneira o Ministério da Aeronáutica (MAer), ciente do fator de disponibilidade e obsolescência de sua frota de aeronaves de transporte, decidiu no início do ano de 1965, por substituir os  Fairchild C-82 Packet  e complementar temporariamente os Fairchild C-119G Flying Boxcar (que seriam depois substituídos pelo novos Lockheed C-130E Hercules) por aeronaves mais modernas. Assim a fim de atendimento a esta demanda, seria prevista uma concorrência internacional para a aquisição de até trinta aeronaves de transporte de porte médio. Algumas propostas seriam apresentadas por fabricantes aeronáuticos, incluindo neste escopo também aeronaves usadas de diversos modelos, porém diferentemente de outros programas de aquisição militar brasileira, a demanda por aeronaves de transporte havia sido classificada como prioritária pelo governo brasileiro, com o Ministério da Aeronáutica (MAer) sendo provido com um grande orçamento para este processo de compra.

Esta concorrência internacional seria aberta em fins de 1964 pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), com a fase inicial deste trabalho se dando através da análise de propostas enviadas por diversas empresas de construção aeronáutica. Estes estudos baseados no teor comparativo derivaram para a escolha lógica da aeronave DHC-5A Buffalo produzida pela empresa canadense De Havilland Canada. Pesando a seu favor, suas capacidades de operação em pousos e decolagens em pistas curtas (STOL-Short Take off and Landing), e sua robustez para o emprego em aeródromos não preparados ou desprovidos de qualquer infraestrutura básica. Características estas que muito interessavam, pois se adaptavam ao tipo de emprego almejado pela Força Aérea Brasileira, que seria basicamente definido por missões de lançamento de tropas paraquedistas ou mesmo o pouso de assalto em pistas rusticas ou campos sem infraestrutura adequada. Além desse tipo de emprego especificadamente militar, a nova aeronave serviria perfeitamente para o apoio as populações no interior da Amazônia e a suporte as operações da COMARA (Comissão de Aeroportos da Região Amazônica), organização militar responsável pela implantação da malha de aeroportos naquelas regiões longínquas do Brasil. E assim as características de pouso e decolagens curtas e a potência de seus motores, representavam os maiores trunfos da aeronave, neste processo de concorrência, levando assim o Ministério da Aeronáutica (MAer) a decidir pela aprovação da proposta apresentada pela empresa canadense. Em 1966, seriam adquiridas vinte e quatro células do modelo De Havilland Canada DHC-5A Buffalo, que começaram a ser recebidas no Campo dos Afonsos a partir de 1968, sendo então alocadas junto ao 1º/1º Grupo de Transporte de Tropas (1º/1º GTT) – Esquadrão Zeus , substituindo de imediato os já cansados Fairchild C-82 Packet. 
Em virtude do número de aeronaves adquiridas neste contrato, seria possível ativar em março do ano de 1970, o 1º/9º Grupo de Aviação (1º/9º  GAv) - Esquadrão Arara, com sede na Base Aérea de Manaus no estado do Amazonas, e o 1º/15º Grupo de Aviação (1º/15º  GAv) – Esquadrão Onça , sediando na Base Aérea de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. A partir deste momento caberia ao 1º/1º Grupo de Transporte de Tropas (1º/1º GTT), as tarefas de instrução e formação operacional das equipagens das novas unidades aéreas. Nestes dois novos grupos, as principais tarefas estavam relacionadas a missões de apoio aos pelotões de fronteira do Exército Brasileiro, e eventuais tarefas em proveito da Marinha Brasileira e entidades governamentais, em tarefa de assistência ás cidades e vilas isoladas na floresta, realizando evacuação aero médica, missões de misericórdia e complemento de atividades do Correio Aéreo Nacional. Já o 1º/1º Grupo de Transporte de Tropas (1º/1º GTT), baseado no Campos dos Afonsos os C-115 Bufalo estavam ligados diretamente a Brigada de Paraquedistas do Exército Brasileiro. Eventualmente ocorriam missões no interior da Amazonia, em atendimento às necessidades do Correio Aéreo Nacional (CAN). Durante mais de trinta e cinco anos os C-115 Bufalo (como foram designados no Brasil), prestariam relevantes serviços ao país e ao seu programa de integração nacional, não só na região amazônica, mas em todo território nacional. Durante todo este período, o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMASP) seria responsável por todo o processo de suporte e manutenção destas aeronaves, mantendo inclusive uma célula orgânica em sua dotação, para a realização de missões de transporte logístico da própria unidade. 

Apesar de serem constantemente submetidos a processos contínuos de manutenção esmerada, o peso dos anos, o desgaste estrutural das células, sua consequente obsolescência e problemas na obtenção de peças de reposição, começaram a gerar preocupantes índices de indisponibilidade, fato que este aliado a perda de nove aeronaves em acidentes ao logo dos anos, passava a comprometer seriamente a capacidade de transporte da força. Este cenario levaria a Força Aérea Brasileira a repensar o emprego do modelo, decidindo assim em 1981, substituir os C-115 Bufalo do 1º/15º Grupo de Aviação (1º/15ºGAv), pelos novos Embraer C-95B Bandeirante, concentrando assim as aeronaves remanescentes junto ao 1º/1º Grupo de Transporte de Tropas (1º/1º GTT) e ao 1º/9º Grupo de Aviação (1º/9º GAv), reforçando ambas as dotações, permitindo assim a retomada de um nível operacional aceitável. Em novembro de 2002, o cenário de baixa disponibilidade se repetiria com a frota de C-115 da Força Aérea Brasileira, com as aeronaves do 1º/1º Grupo de Transporte de Tropas (1º/1º GTT), sendo substituídas pelos Lockheed C-130H Hercules, passando a concentrar as últimas células remanescentes junto ao Esquadrão Arara. Paralelamente a Força Aérea Brasileira ciente da necessidade emergencial de substituição do modelo, deu início ao processo denominado CL-X que visava através de concorrência internacional definir um sucessor ao avião canadense. Este processo resultaria no ano de 2005 aquisição do EADS CASA C-295M, aeronave este destinada a substituir em definitivo os De Haviland C-115 Bufalo junto ao 1º/9º Grupo de Aviação (1º/9º GAv). Este processo seria iniciado em 2007 com o recebimento das primeiras células do agora designado C-105 Amazonas.
Para deixar uma marca indelével como aeronave “insubstituível”, antes de sua retirada completa do serviço ativo, o último C-115 Búfalo em condições de voo em Manaus, realizou uma missão final digna de nota. Por causa da necessidade de ampliação de uma pequena pista de pouso existente na reserva indígena Raposa do Sol, em Roraima, em 2007 foi montada uma verdadeira operação de guerra. Para realizar este trabalho, o único trator disponível da COMARA (Comissão de Aeroportos da Região Amazônica),  estava em uso na pista do Estirão no Equador na fronteira entre o Brasil e o Equador, aeródromo este não permitia o emprego dos Lockheed C-130H Hercules em razão de seu pequeno comprimento. Como a cabine de carga do recém-chegado CASA C-105 Amazonas não conseguia comportar o trator mesmo desmontado, não restava outra aeronave para cumprir aquela missão, assim o C-115 Búfalo tinha de voar. Desta maneira esta última célula foi submetida a uma ampla revisão e colocada em plenas condições de voo, realizando com primazia todos os trechos aéreos desta última missão, não apresentando uma pane sequer. Uma última aeronave, a pertencente ao Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMASP) seria mantida em operação até meados do ano de 2011.

Em Escala.
Para representarmos o De Haviland Canada C-115 Búffalo  “FAB 2367" empregamos a primeira versão de 2006 do excelente kit em resina da Liberty Quality Kits na escala 1/72. Construímos em scratch todo o detalhamento interior do compartimento de carga. Fizemos uso de decais do confeccionados pela FCM Decais que compõe o set original do modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o terceiro padrão de pintura empregado pelos De Haviland Canada C-115 Búfalo adotado em meados da década de 1980. Originalmente as aeronaves foram recebidas com uma camuflagem verde e azul, similar as empregadas pelas aeronaves canadenses, com as células do  1º/1º Grupo de Transporte de Tropas (1º/1º GTT) e do 1º/15º Grupo de Aviação (1º/15ºGAv), adotando posteriormente um padrão de tático em verde e cinza, e por fim um outro padrão pintura de alta visibilidade na cor metálica e branco empregado temporariamente pelo 1º/9º Grupo de Aviação (1º/9º GAv).

Bibliografia :

- Revista ASAS nº 33 " DHC-5A Buffalo (C-115)  - Aparecido Camazano Alamino
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 por Jackson Flores Jr
- Revista Flap Internacional - " O incrível Buffalo" - http://www.revistaflap.com.br/web/noticias/noticias/4789-o-incrivel-buffalo

Lockheed 12A UC-40 Electra Junior

História e Desenvolvimento.
A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, uma companhia norte-americana do setor aeronáutico, foi fundada em 1912 pelos irmãos Allan e Malcolm Lockheed, na cidade de San Diego, localizada no estado da Califórnia. Em seus primeiros anos, a empresa direcionou seus esforços para o desenvolvimento e a produção de aeronaves de pequeno porte, destinadas ao turismo e ao treinamento civil. Ao longo das décadas subsequentes, a organização experimentou um crescimento significativo em suas vendas, consolidando sua posição no mercado. No entanto, o encerramento da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, trouxe desafios consideráveis ao setor aeronáutico. A desmobilização de milhares de aeronaves militares, que passaram a ser subutilizadas e disponibilizadas no mercado global de aviação civil, saturou a demanda por novos equipamentos. Esse cenário desencadeou uma crise sem precedentes na comercialização de aeronaves, resultando no fechamento de diversas fabricantes, incluindo a Lockheed Aircraft Manufacturing Company. Diante desse contexto, os irmãos Lockheed decidiram suspender as operações da empresa e reorientar suas atividades empreendedoras para outros segmentos do mercado, buscando garantir sua sustentabilidade empresarial. Em 1926, Allan Lockheed uniu-se aos engenheiros John Northrop, Kenneth Kay e Fred Keeler para estabelecer um novo empreendimento. Com o apoio de investidores, o grupo conseguiu captar os recursos financeiros necessários para fundar a Lockheed Aircraft Company, com sede em Hollywood, Califórnia. A nova companhia aproveitou a tecnologia previamente desenvolvida para o Modelo S-1 como base para o projeto do Lockheed Vega, que se tornou seu primeiro modelo de destaque. O sucesso comercial foi alcançado em pouco tempo: em 1928, a empresa transferiu suas instalações para Burbank e, até o final daquele ano, alcançou um faturamento superior a um milhão de dólares. Nesse período, a produção atingiu a marca de centenas de aeronaves, com uma força de trabalho composta por mais de trezentos funcionários e uma linha de montagem capaz de concluir até cinco unidades por semana. Em julho de 1929, Fred Keeler, então acionista majoritário, negociou 87% das ações da empresa com a Detroit Aircraft Corporation, viabilizando a execução de um plano ambicioso de expansão. Contudo, a crise econômica conhecida como Grande Depressão, iniciada naquele mesmo ano, impactou severamente o setor aeronáutico, levando a Lockheed a uma situação de insolvência financeira. Em 1932, durante o processo de liquidação judicial, a companhia foi adquirida por um grupo de investidores liderado pelos irmãos Robert e Courtland Gross, em parceria com Walter Varney. Essa transação marcou o início de uma nova fase para a empresa, que conseguiu se recuperar ao longo daquela década, especialmente por meio do desenvolvimento de novas aeronaves, consolidando sua trajetória de resiliência e inovação no mercado aeronáutico.

Apesar dos desafios enfrentados, a Lockheed Aircraft Manufacturing Company conseguiu estabelecer rapidamente a confiança do mercado civil e comercial dos Estados Unidos, especialmente a partir de 1934, com o lançamento bem-sucedido do Modelo 10 Electra. Essa aeronave, caracterizada por uma estrutura totalmente metálica e capacidade para transportar até dez passageiros, foi desenvolvida inicialmente como uma resposta competitiva ao Boeing 247. Um marco notável nesse projeto foi a participação de Clarence Leonard "Kelly" Johnson, que sugeriu a incorporação de uma cauda dupla – uma inovação que se tornaria uma característica distintiva da Lockheed. O Modelo 10 Electra destacou-se como um dos primeiros aviões comerciais de passageiros equipados com trem de pouso retrátil e guarda-lamas como itens padrão, embora esse acessório já fosse comum em aeronaves de trem de pouso fixo em períodos anteriores. A partir de outubro de 1943, uma regulamentação do governo norte-americano proibiu o uso de aeronaves monomotores para o transporte de passageiros em voos noturnos, o que posicionou estrategicamente a Lockheed no mercado com o Modelo 10 Electra, uma aeronave bimotora. Esse modelo alcançou expressivo sucesso comercial, sendo adotado por diversas companhias aéreas nacionais. Além disso, operadores europeus incorporaram o Electra às suas frotas, enquanto, na América Latina, a Cubana de Aviación tornou-se a primeira empresa da região a utilizá-lo em rotas domésticas. Em 1935, reconhecendo a necessidade de uma aeronave de menor porte voltada tanto para pilotos privados quanto para atuar como alimentadora das principais linhas de transporte aéreo (“feeder liner”), a Lockheed Aircraft Company iniciou o desenvolvimento de uma variante do Modelo 10 Electra, projetada para acomodar seis passageiros. Essa iniciativa foi motivada por uma solicitação do Escritório de Negócios do Ar (Bureau of Air Commerce), que convocou os fabricantes de aeronaves dos Estados Unidos a apresentarem projetos até 30 de junho de 1936. O resultado foi o Electra Junior 12A, uma aeronave de dimensões reduzidas em comparação ao seu antecessor, mas que preservava a configuração estrutural com asas baixas e derivas duplas – estas últimas ampliadas em tamanho. O Electra Junior 12A apresentava especificações técnicas notáveis: envergadura de 15,09 metros, comprimento de 11,07 metros, altura de 2,97 metros, superfície alar de 32,70 m² e pesos de 2.615 kg (vazio) e 3.924 kg (máximo). Equipada com dois motores radiais Pratt & Whitney Wasp Junior de nove cilindros e 450 HP cada, a aeronave alcançava uma velocidade máxima de 362 km/h a 1.525 metros de altitude, com uma razão de ascensão de 427 metros por minuto, teto de serviço de 6.980 metros e alcance de 1.290 km. Esses parâmetros de desempenho evidenciavam a capacidade da Lockheed em atender às demandas específicas do mercado, consolidando ainda mais sua reputação e influência no setor aeronáutico.
Assim como observado nos modelos Electra 10 e Boeing 247, a longarina da asa principal do Lockheed 12A Electra Junior atravessava a cabine de passageiros. Para facilitar a circulação interna, pequenos degraus foram instalados em ambos os lados da longarina. A cabine contava com um banheiro posicionado na parte traseira e apresentava inovações notáveis, como a inclusão de piloto automático. Dentre os diferenciais, destacavam-se as opções de acabamento interno, que incluíam divisórias, assentos estofados em pelúcia, sofá, banheiro, mesa e até mesmo uma máquina de escrever. A empresa oferecia diferentes níveis de acabamento, variando de configurações mais básicas a versões de alto luxo, com o objetivo de atender às diversas exigências de proprietários corporativos e privados. O protótipo inicial do Lockheed 12A Electra Junior, registrado sob a matrícula NX16052, realizou seu primeiro voo em 27 de junho de 1936, apenas três dias antes do prazo estipulado pelo governo norte-americano. Seus principais concorrentes, o Beechcraft Model 18 e o Barkley-Grow T8P-1, não conseguiram cumprir o cronograma estabelecido, o que levou o Escritório de Negócios do Ar (Bureau of Air Commerce) a declarar o modelo da Lockheed como vencedor da concorrência. A certificação oficial da aeronave foi emitida em 14 de outubro de 1936, e a primeira unidade foi entregue em 5 de setembro de 1937. Apesar do sucesso na competição governamental, o Lockheed 12A Electra Junior enfrentou resistência no mercado doméstico, sendo rejeitado pela maioria das companhias aéreas regionais, o que resultou em um número limitado de unidades comercializadas internamente. Seu principal operador nos Estados Unidos foi a Continental Air Lines, que utilizou uma frota de três aeronaves para operar a rota comercial entre Denver, no Colorado, e El Paso, no Texas, no final da década de 1930. Internacionalmente, a empresa inglesa British West Indian Airways Ltd. também adotou o modelo, operando-o em rotas nas Antilhas Menores, na região do Caribe, durante meados da década de 1940. Embora tenha enfrentado dificuldades para se estabelecer no setor de transporte comercial de passageiros, o Lockheed 12A Electra Junior encontrou seu nicho como aeronave executiva. Tornou-se particularmente popular entre empresas dos setores siderúrgico e petrolífero, bem como para o transporte de altos funcionários do governo norte-americano. Um dos exemplares mais célebres da história da aviação mundial foi adquirido pela Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana, para uso da aviadora Amelia Earhart. Esse avião, utilizado por Earhart em sua tentativa de circunavegação global, desapareceu sem deixar vestígios sobre o Oceano Pacífico em 3 de julho de 1937, marcando um capítulo enigmático na trajetória do modelo.

Conforme mencionado, o Lockheed 12A Electra Junior foi comercializado predominantemente para o governo norte-americano e empresários do setor privado. Contudo, a aeronave também encontrou aplicação no âmbito militar, atendendo a diversas forças armadas ao redor do mundo. O primeiro contrato militar foi firmado com o governo argentino, que adquiriu duas unidades do modelo para integrar sua aviação militar. Em seguida, a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) encomendou dez aeronaves em 1937. Já o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) incorporou quatro unidades, designadas como UC-40A, com contratos subsequentes para a aquisição de versões adicionais, identificadas como UC-40B e UC-40D. Uma variante específica, o Lockheed Model 212, foi desenvolvida para atender às necessidades do governo colonial das Índias Orientais Holandesas (atual Indonésia). Projetada como uma aeronave de bombardeio e treinamento, essa versão contava com oito suportes sob a fuselagem para bombas de até 100 libras, além de armamento defensivo composto por uma metralhadora Browning calibre .30 instalada no nariz e outra de mesmo calibre em uma torreta dorsal. O contrato previa a entrega de 16 unidades, com a primeira aeronave sendo fornecida à Divisão Aérea do Exército das Índias Orientais Holandesas (Militaire Luchtvaart - MLu) em 4 de fevereiro de 1939 e a última em 13 de maio de 1942. Essas aeronaves desempenharam um papel ativo em combates durante a invasão japonesa na região, sendo infelizmente todas abatidas ou destruidas em solo nesta campanha. Na Europa, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o Lockheed 12A Electra Junior protagonizou um episódio singular. Três células norte-americana, registradas com as matrículas 1203 (G-AFTL), 1267 (G-AFKR) e 1270 (G-AFPF), foram adquiridas pelo governo britânico e oficialmente vinculadas à companhia de transporte aéreo British Airways Ltd. No entanto, essas aeronaves foram secretamente modificadas na Grã-Bretanha para realizar missões de reconhecimento aerofotogramétrico sobre a Alemanha Nazista, abrangendo alvos como bases aéreas, instalações navais e militares, além de complexos industriais. As adaptações incluíram a instalação de uma câmera vertical modelo F-24 na cabine, dois tanques suplementares de combustível no interior e uma cobertura em forma de bolha na janela lateral do piloto, otimizando a aeronave para operações de inteligência estratégica.
Para viabilizar esse processo de reconhecimento aéreo estratégico, o serviço de inteligência britânico MI6 recrutou Frederick Sidney Cotton, um inventor, fotógrafo e pioneiro da aviação e da fotografia aérea de origem australiana. Cotton foi encarregado de liderar uma equipe especializada responsável pela operação das aeronaves Lockheed Model 12A, configuradas especificamente para missões de espionagem. Aproveitando sua reputação como um aviador privado rico e influente, ele utilizou como fachada a promoção de seus negócios no setor cinematográfico, recorrendo a diversos subterfúgios – como se apresentar como arqueólogo ou produtor de cinema em busca de locações – para ocultar o verdadeiro propósito das operações. Entre 1939 e o início da Segunda Guerra Mundial, foram realizados diversos voos sobre o território alemão, resultando na produção de um extenso acervo fotográfico. Esses registros forneceram informações cruciais sobre a infraestrutura industrial e militar das forças armadas nazistas, desempenhando um papel fundamental no planejamento de ataques aéreos contra a Alemanha nos primeiros estágios do conflito, a partir do final de 1939. Apesar do sucesso dessas missões, o principal legado de Frederick Sidney Cotton foi a demonstração inequívoca da relevância do reconhecimento aéreo como ferramenta estratégica em tempos de guerra. Com a escalada das hostilidades no início da Segunda Guerra Mundial, diversas unidades civis do Lockheed 12A Electra Junior foram requisitadas por forças militares aliadas, incluindo o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), a Força Aérea Real Britânica (RAF) e a Força Aérea Real Canadense (RCAF). Embora a aeronave tenha apresentado desempenho satisfatório em aplicações militares, sua produção foi interrompida no início de 1941. Essa decisão foi motivada pela estratégia da Lockheed de redirecionar seus recursos industriais para o desenvolvimento e fabricação de aeronaves militares mais avançadas, como o bombardeiro Lockheed A-28 Hudson e o caça bimotor P-38 Lightning. Como resultado, o nicho operacional previamente ocupado pelo Electra Junior passou a ser dominado pelo Beechcraft Model 18, cuja produção alcançaria milhares de unidades. Além dos Estados Unidos, outras nações, como Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, França Livre e Reino Unido, também empregaram variantes do Lockheed 12 em operações militares. Muitas dessas aeronaves permaneceram em serviço ativo até o início da década de 1960, evidenciando sua durabilidade e versatilidade em diferentes contextos operacionais.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A partir de 1935, a Aviação Militar do Exército Brasileiro iniciou uma série de programas de aquisição de aeronaves, com o objetivo de substituir grande parte de seu material aeronáutico, que se encontrava em estado de obsolescência. Esse processo visava, simultaneamente, atender às deficiências identificadas pelas autoridades militares da época. Entre as prioridades estabelecidas, destacava-se a necessidade de modernização da aviação de transporte, que, naquele momento, dependia majoritariamente de aeronaves monomotoras de pequeno porte, como os modelos Waco CJC, CPF-5 e CSO, recebidos no pais a partir de 1932. Embora esses aviões estivessem prestando serviços valiosos ao Correio Aéreo Militar (CAM), apresentavam preocupantes limitações em termos de capacidade de transporte de carga e pessoal. Mais notadamente no deslocamento de autoridades militares e governamentais em viagens pelo interior do pais. Desta maneira, com frequência, recorria-se a aeronaves pertencentes a empresas brasileiras de transporte aéreo comercial para suprir as demandas de transporte de autoridades para diversos destinos no território nacional. Embora essa solução fosse prática e de baixo custo, ela acarretava inconvenientes operacionais que comprometiam a eficiência e a autonomia das operações militares. Diante desse contexto, em 1937, as autoridades militares decidiram priorizar a aquisição de uma aeronave especificamente destinada ao transporte de autoridades, tanto do Exército Brasileiro quanto do Governo Federal, com características que atendessem de forma mais adequada às necessidades estratégicas desta tarefa. Os detalhes do processo de avaliação e seleção seriam conduzido pela Diretoria de Aviação Militar (DIRMA) porém  não são plenamente conhecidos. Contudo, é razoável supor que, entre as opções consideradas, estavam aeronaves já em operação pelas companhias aéreas brasileiras. Nesse cenário, o Lockheed Electra L-10, que havia entrado em serviço na Panair do Brasil no início de 1937, provavelmente figurava entre os modelos analisados demonstrando grande preferencia. Apesar disso talvez por critérios financeiros, a escolha final recaiu sobre o Lockheed 12A Electra Junior, uma variante de menor porte derivada do Electra L-10. Assim, no segundo semestre de 1937, foi formalizado um contrato entre o governo brasileiro e a Lockheed Aircraft Company para a encomenda de duas unidades novas de fábrica dessa aeronave, marcando um passo significativo na modernização da aviação de transporte militar brasileira.

Após passarem por testes e serem oficialmente recebidas por representantes da Aviação Militar do Exército Brasileiro nas instalações da Lockheed Aircraft Company, nos Estados Unidos, as duas aeronaves Lockheed 12A Electra Junior foram desmontadas e transportadas ao Brasil por via marítima. Ao chegarem ao porto do Rio de Janeiro na primeira semana de outubro de 1937, os caixotes contendo as aeronaves foram encaminhados à Ponta do Galeão, também no Rio de Janeiro, onde foram remontadas nas instalações da Escola de Aviação Naval (EAvN). Concluída a montagem, as duas unidades foram transferidas para o Campo dos Afonsos, igualmente localizado no Rio de Janeiro, que se estabeleceu como a principal base de operações desse modelo nos anos subsequentes. A partir desse ponto, as aeronaves passaram a ser intensivamente empregadas em missões de transporte de autoridades. Posteriormente, as aeronaves foram alocadas à Diretoria de Aviação Militar (DIRMA), que mais tarde seria redesignada como Diretoria de Aeronáutica do Exército (DAeEx). Inicialmente, a responsabilidade por sua guarda e manutenção foi atribuída à Escola de Aviação Militar (EAvM). Contudo, em 1938, essa atribuição foi transferida para o 1º Regimento de Aviação (1º RAv). Uma vez alcançada a plena operacionalidade, os Lockheed 12A Electra Junior começaram a cumprir missões em benefício de autoridades militares e de diversos setores do governo federal, incluindo o então Presidente da República, Getúlio Vargas. Entre os pilotos designados para operar essas aeronaves destacava-se o Capitão Nero Moura, que anos depois comandaria o 1º Grupo de Aviação de Caça durante a campanha da Itália (1944-1945). Essas aeronaves marcaram um precedente no Brasil como as primeiras a serem especificamente destinadas ao transporte de autoridades. Nesse papel, realizaram voos regulares entre o Rio de Janeiro e as principais capitais das regiões Sul e Sudeste, bem como a localidades menores em outras partes do país. Após dois anos de operação bem-sucedida, constatou-se a necessidade de expandir a frota desse modelo para atender à crescente demanda por serviços de transporte de autoridades. Assim, no final de 1939, foi formalizada a encomenda de mais duas unidades do Lockheed 12A Electra Junior junto ao fabricante, com recebimento nos Estados Unidos em fevereiro de 1940. Às vésperas da criação do Ministério da Aeronáutica (MAer), em janeiro de 1941, foi assinado um terceiro contrato para a aquisição de mais quatro aeronaves. Essas unidades foram trasladadas em voo até o Brasil, chegando ao país em abril de 1941. Esse processo de ampliação da frota reflete o reconhecimento da importância estratégica dessas aeronaves para as operações de transporte oficial, consolidando seu papel no contexto militar e governamental brasileiro da época
Com a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em janeiro de 1941, as quatro unidades do Lockheed 12A Electra Junior até então em operação foram incorporadas ao acervo da recém-estabelecida Força Aérea Brasileira (FAB), formada a partir da fusão dos recursos materiais e humanos da Aviação Militar do Exército e da Aviação Naval. Posteriormente, com a chegada de mais quatro aeronaves em abril de 1941, o total de oito unidades continuou a desempenhar missões de transporte de autoridades, incluindo o Presidente da República. Esse cenário permaneceu inalterado até 1942, quando a FAB recebeu o Lockheed Lodestar L.18-08 VC-66, uma aeronave especialmente configurada para o transporte presidencial. A partir desse momento, os Lockheed 12A Electra Junior, apelidados de “Lockheedinhos”, deixaram de ser utilizados para o deslocamento do chefe de Estado, mantendo, no entanto, suas funções regulares sob a subordinação direta da Seção de Aviões de Comando. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1942, trouxe mudanças significativas à operação dessas aeronaves. Desde o final de 1939, as unidades aéreas localizadas nas regiões Norte e Nordeste do país haviam recebido um reforço gradual em suas dotações de aeronaves. Essa medida tinha como objetivo não apenas expandir as operações do Correio Aéreo Militar (CAM) nessas áreas, mas também garantir uma presença mínima capaz de dissuadir atividades das marinhas de guerra dos países em conflito ao longo do litoral brasileiro. Contudo, no início de 1942, tornou-se evidente que a costa brasileira estava se transformando em um cenário de operações bélicas, especialmente devido aos ataques de submarinos do Eixo. Diante disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) intensificou sua presença nas regiões costeiras, fortalecendo a vigilância como nunca antes. Nesse contexto, surgiu a necessidade de estabelecer uma ligação rápida e eficiente entre a capital federal, então no Rio de Janeiro, e os quartéis-generais das principais zonas aéreas do país. Com a incorporação de novas aeronaves Lockheed VC-60 Lodestar ao longo de 1942, a FAB decidiu realocar alguns dos Lockheed 12A Electra Junior para bases estratégicas de forma semipermanente. Assim, cidades como Florianópolis, Natal e Recife passaram a contar com a presença dessas aeronaves, que desempenharam um papel essencial no suporte logístico e na coordenação das operações militares durante o conflito. Essa redistribuição refletiu a adaptação da FAB às exigências impostas pelo cenário de guerra, otimizando o uso de seus recursos aéreos para atender às prioridades estratégicas da época.

As aeronaves Lockheed 12A Electra Junior foram cedidas às Zonas Aéreas por meio de um regime de empréstimo, ficando à disposição dos respectivos Quartéis-Generais beneficiados. De maneira notável, essas aeronaves passaram a desempenhar funções que iam além do transporte de pessoal e autoridades, adquirindo papéis adicionais conforme as necessidades regionais. Um exemplo significativo ocorreu com as unidades alocadas à 2ª Zona Aérea, sediada em Recife, onde os Lockheed 12A Electra Junior foram frequentemente empregados em missões de patrulha visual ao longo do litoral. Esse uso foi particularmente intensificado entre a segunda metade de 1942 e o início de 1943, período em que os meios aéreos especificamente destinados a tais operações ainda eram escassos, destacando a versatilidade dessas aeronaves em um contexto de guerra. Com o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, as unidades do Lockheed 12A Electra Junior que haviam sido destacadas para bases fora do Rio de Janeiro retornaram à capital federal. Nesse momento, foram reintegradas à Seção de Aviões de Comando, então sediada no atual Aeroporto Santos Dumont. Contudo, a introdução de diversas aeronaves Lockheed Lodestar C-60, recebidas durante o conflito, e do único Lockheed Lodestar 18-10-01 VC-66, reduziu a relevância dos “Lockheedinhos” – como eram carinhosamente chamados – nas missões de transporte executivo (VIP – Very Important Person). A frota, que originalmente contava com oito unidades, foi reduzida a sete em decorrência de um acidente envolvendo um dos Electra 12A Junior em 1944. Em 1946, essas aeronaves passaram por uma reclassificação: suas matrículas originais foram substituídas por um novo sistema estabelecido pela Diretoria de Material (DIRMA), recebendo a designação oficial UC-40. Permaneceram subordinadas à Seção de Aviões de Comando, sendo algumas delas disponibilizadas para atender às necessidades de grandes comandos militares. Essa configuração operacional manteve-se praticamente inalterada ao longo dos anos seguintes. Mesmo com a transformação da Seção de Aviões de Comando no Esquadrão de Transporte Especial (ETE), em maio de 1954, os Lockheed 12A Electra Junior continuaram a desempenhar suas funções dentro desse novo arranjo organizacional, evidenciando sua durabilidade e adaptabilidade ao longo de quase duas décadas de serviço na Força Aérea Brasileira (FAB).
A incorporação de um significativo número de aeronaves de transporte Douglas C-47 ao longo da década de 1950 marcou o declínio definitivo do Lockheed 12A Electra Junior como aeronave destinada ao transporte de autoridades na Força Aérea Brasileira (FAB). Com a chegada desses novos modelos, os “Lockheedinhos” foram redirecionados para funções de caráter mais utilitário, atendendo às necessidades operacionais de diversas unidades da Aeronáutica. Nesse período, a frota já havia sido reduzida a apenas quatro unidades, número que, em 1960, caiu para três células devido ao desgaste natural e à obsolescência do modelo. Diante da quantidade limitada de aeronaves ainda operacionais e das crescentes dificuldades em obter peças de reposição – considerando que a produção do Lockheed 12A Electra Junior havia sido encerrada há quase duas décadas –, a Diretoria de Material (DIRMA) decidiu pela desativação e alienação das unidades remanescentes, designadas como UC-40. Esse processo foi formalizado no primeiro trimestre de 1963, quando as três células ainda em serviço foram retiradas das operações ativas. Posteriormente, elas foram disponibilizadas para alienação por meio de concorrência pública. Dentre essas, duas aeronaves foram adquiridas por operadores civis, permanecendo em uso até o final da década de 1960, encerrando assim a trajetória desse modelo no contexto brasileiro.

Em Escala.
Para representarmos o Lockheed 12A Electra Junior “D.A.E01” da Aviação Militar do Exército Brasileiro, empregamos como base o antigo kit produzido pela Williams Bross na escala 1/53, salientando ser necessário um amplo processo de conversão, pois o modelo representa a versão Lockheed Electra 10. Apesar não termos atingindo um resultado satisfatório a conversão serviu a contento para podemos agregar uma tão rara aeronave ao nosso acervo nas cores nacionais. Empregamos uma combinação entre o set especial de decais produzidos pelo modelista Rafael Pinheiro Machado, em conjunto com itens confeccionados pela FCM decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Lockheed 12A Electra Junior, quando em uso pela Aviação Militar do Exército Brasileiro. Após sua transferência ao Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1941 estas aeronaves tiveram como alteração básica apenas a retirada das marcações “Exército”, posteriormente seriam aplicados mais dois tipos de esquemas de pintura, seguindo ao longo das décadas de 1950 e 1960 o mesmo padrão aplicado nas aeronaves de transporte da Força Aérea Brasileira.



Bibliografia :
- Lockheed 12A Electra Junior - Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_Model_12_Electra_Junior
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  por Jackson Flores Junior
- História da Força Aérea Brasileira, Prof. Rudnei Dias Cunha  -http://rudnei.cunha.nom.br

Grumman TBM-3E Avenger

História e Desenvolvimento.
Nascido em Nova York no ano de 1895,  e graduado em engenharia mecânica pela universidade Cornell University em 1926, o jovem entusiasta da aviação Leroy R. Grumman, se alistaria a seguir na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para servir junto a Reserva Naval, onde seria identificado por seus superiores como um potencial talento, o enviando assim para a Universidade Columbia a fim de se especializar no segmento motores aeronáuticos. Após a conclusão deste estágio, ele seria encaminhado para a Estação Naval de Miami (Naval Air Station Miami), no estado da Florida, a fim de ser preparado e receber todo treinamento para instrução em voo. Após sua graduação Leroy R. Grumman, permaneceria nesta unidade, agora exercendo a função e instrutor de voo para os jovens cadetes que ali ingressavam. Porém posteriormente abandonaria esta atividade para se dedicar a missão de piloto de bombardeio na Aviação Naval. Sua excelente performance, em todas as atividades a ele destinadas, lhe renderiam uma indicação honrosa para uma vaga no Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT (Massachusetts Institut of Technology), para o curso de engenharia aeronáutica.  Após formado com louvor, passaria a exercer as atividades de piloto de ensaios em voo, sendo responsável pelo recebimento de novas aeronaves na Aviaçao Naval. Após pedir baixa do serviço militar em março de 1927, Leroy foi trabalhar na indústria aeronáutica Loening Aeronautical Engineering Corporation, onde voltaria a exercer a atividade de piloto de testes e ensaios, mais notadamente dedicado a linha de aeronaves anfíbias produzidas por aquela empresa, participando também na elaboração destes projetos. Este período, lhe traria grande experiencia na manutenção de aeronaves produzidas pela Loening Aeronautical Engineering Corporation, levando Leroy a empreender, fundando a Grumman Aircraft Company, uma pequena empresa dedicada a execução de reparos e revisões gerais de aeronaves fabricadas por seu antigo empregado, que se encontravam em serviço ativo junto a aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). As receitas produzidas por esta atividade permitiram a Leroy R. Grumman a se aventurar no projeto e desenvolvimento de aeronaves navais de caça, com seu primeiro investimento neste segmento se materializando em 1931 quando o primeiro protótipo do Grumman FF-1 alçou voo. Suas características inovadoras como o trem de pouso retrátil, chamariam a atenção das autoridades navais norte-americanas, levando assim a assinatura do primeiro contrato de produção de grande vulto da empresa. A estes seguiram outros mais, tornando assim a  Grumman Aircraft Engineering Corporation a principal empresa fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha Estados Unidos (US Navy) pelas seguintes cinco décadas. 

O início das hostilidades entre os Estados Unidos e o Império do  Japão em 7 de dezembro de 1941 com o ataque surpresa as instalações norte-americanas em Pearl Harbour no Havaí, e as demais investidas japonesas no Pacífico Sul, traria ao comando de defesa norte-americano uma visão emergencial sobre a necessidade de se desenvolver novos vetores de combate. Esta decisão se daria pela análise de que as aeronaves em uso até então, se mostraram obsoletas ou inadequadas face as possíveis ameaças das forças do Império do Japão, apresentadas em cenários hipotéticos estudados antes de 1940, que seriam dolorosamente confirmados nos eventos que seguiram ao início das hostilidades. Como exemplo deste cenário, podemos citar os torpedeiros Douglas TBD Devastador da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que apresentariam uma performance extremamente ruim nos primeiros embates no teatro de operações do pacífico, se tornando assim claro a necessidade de substituição imediata por aeronaves de melhor performance. Neste contexto projetos em andamento, ganhariam prioridade de desenvolvimento, e entre estes se encontrava um programa contratado em meados do ano de 1940 , junto a Grumman Aircraft Engineering Corporation, para o desenvolvimento de um novo  aviao torpedeiro embarcado de grande porte, a ser operado por três tripulantes. Os parâmetros básicos deste projeto envolviam principalmente requisitos básicos, como baixo custo de aquisição e operação, facilidade de produção em alta escala e robustez. O acordo firmado entre as partes previa um estreito prazo de apresentação de dois primeiros protótipos a serem contratados.  Assim desta maneira os engenheiros aeronáuticos da Grumman Aircraft Engineering Corporation empregariam como ponto de partida, o conceito aerodinâmico do recém-criado caça embarcado Grumman F-4F3  Wildcat. Esta decisão além de ajudar na redução do prazo de desenvolvimento do modelo iria potencializar em muito na comunalidade de alguns componentes entre as aeronaves, facilitando as operações de manutenção e simplificação dos processos logísticos de peças de reposição. 
O primeiro voo do protótipo designado pelo fabricante como XTBF-3 seria realizado no dia 7 de agosto de 1941, e estava equipado com um motor radial Wrigth R-2600-8 Cyclone com 1.700 hp de potência. Apresentava uma tripulação composta por três tripulantes acomodados em tandem, sob um longo canopy envidraçado. Como armamento defensivo a nova aeronave possuía uma metralhadora Browming  calibre .50 montada sob o lado direito do capo, uma Browming calibre .30 instalada em um corte ventral na parte inferior e outra metralhadora calibre .50 alojada em uma torre dorsal elétrica giratória garantindo uma satisfatória capacidade de autodefesa. Os dois protótipos seriam submetidos a um extensivo programa de testes e avaliação, com os resultados se mostrando extremamente promissores, representando uma grande evolução quando comparados as aeronaves sem serviço até então. Este processo culminaria na aceitação e homologação do Grumman XTBF-3 pela comissão técnica da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Desta maneira seria celebrado o primeiro contrato de produção no segundo semestre de 1941, prevendo a compra de duzentas e sessenta e oito aeronaves. As primeiras células seriam entregues no início do ano seguinte, e o seu consequente batismo de fogo se daria durante os eventos decorrentes da Batalha de Midway em junho de 1942. E apesar do resultado desastroso do modelo neste combate (cinco dos seis Avengers TBF-3 empregados na batalha foram abatidos por caças japoneses), o comando da Marinha dos Estados Unidos  (US Navy) não desanimaria quanto ao potencial de emprego da aeronave. Logo em seguida esta decisão se mostraria acertada, com  o Grumman TB-3 Avenger se mostrando posteriormente extremamente apreciado por suas tripulações principalmente por sua alta velocidade, capacidade ofensiva e defensiva e alcance. Em vista dessas e de outras qualidades, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) passaria a contratar a aquisição de mais exemplares da aeronave, e em consequência desta demanda, a divisão Eastern Aircraft Company da fabricante de automóveis General Motors Corporation, passaria a produzir as aeronaves desta família em novembro de 1942. Para distinguir os Avenger TBF produzidos pela Grumman Aircraft Engineering Corporation dos produzidos pela General Motors, estes últimos receberam a designação TBM. 

A primeira versão denominada como Grumman TBF-1 Avenger atingiria a cifra de mais de mil e quinhentas células produzidas, sendo sucedido pelo novo Grumman TBF-1C que apresentava melhor capacidade de combustível e inclusão de duas metralhadoras Browning calibre.50 nas asas para autodefesa. Esta variante receberia contratos de aquisição totalizando setecentos e sessenta cinco unidades, entre elas algumas centenas destinadas a Marinha Real Britânica (Royal Navy) designadas como TBF-1B , sendo cedidas nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Já as variantes produzidas pela Eastern Aircraft (divisão aeronáutica da General Motors Corporation) alcançariam o total de quinhentos e cinquenta células do TBM-1 e  duas mil trezentos e trinta seis da versão TBF-1C Avenger. A estas variantes se seguiriam novas versões contemplando uma série de melhorias, culminando na variante final,  o Grumman TBM-3 Avenger,  que em 1944 que passava a contar com um motor mais potente, cabides subalares para foguetes não guiados ou tanques suplementares, com este representando o modelo mais produzido da família, totalizando quatro mil e seiscentas células entregues. Ao todo seriam produzidas nove mil oitecentas e trinta e nove unidades até fins de 1945, dispostas em vinte e duas variantes, entre elas, torpedeiro, bombardeio, ataque noturno, transporte, antissubmarino, alerta aéreo antecipado e reboque de alvos. Durante a Segunda Guerra Mundial, as aeronaves da família Grumman Avenger teriam destacada participação no esforço de guerra aliado, registrando como primeiro troféu, a participação no afundamento do encouraçado japonês Hiei em novembro de 1942. Seu piloto mais famoso, seria o futuro presidente norte-americano George H. W. Bush, que operava embarcado junto ao porta aviões de escolta USS San Jacinto (CVL-30). A participação final dos Grumman Avenger da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) se daria em 1945 durante os ataques aeronaves que culminaram no afundamento dos super encouraçados da Marinha Imperial Japonesa (IJN) Yamato e Musashi. No teatro de operações europeu, estas aeronaves teriam grande participação na campanha contra as flotilhas alemães de submarinos no oceano Atlântico, principalmente a serviço da Marinha Real (Royal Navy), operando as versões Avenger Mk I, Avenger Mk II e Avenger Mk III. 
Durante o período pós-guerra, inúmeras versões do Grumman Avenger seriam desenvolvidas com base na conversao de aeronaves já produzidas, das quais se destacam com maior relevância,  a TBM-3E e TBM-3E2 (equipadas com radar AN/APS-4 em “pod” subalar), TBM-3S e TBM-3S2 (versões modificadas dos TBM-3E  e TBM-3E2 para guerra antissubmarino - ASW) e TBM-3W e TBM-3W2 (equipadas com radar de busca sob a fuselagem); os TBM-3W e TBM-3S.  Estas últimas eram utilizadas normalmente em pares “hunter-killer”, sendo o “W” empregado na busca de submarinos e o “S” na destruição dos mesmos, sendo empregadas pela Marinha dos Estados Unidos  (US Navy) e Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) até meados da década seguinte, quando começaram a ser substituídas por aeronaves mais modernas. Ainda dentro dos programas de “Mutual Defense Assistance Program” (Programas de Assistência de Defesa Mútua), centenas destas células seriam transferidas a nações amigas alinhadas aos interesses geopolíticos dos Estado Unidos. Desta maneira aeronaves de diversas versoes da família  Grumman TBM-TBF Avenger seriam cedidas as forças armadas da  Holanda, Cuba, Brasil, Canada, Nicarágua, França, Japão, Nova Zelândia e Uruguai.  Muitas aeronaves remanescentes também seriam largamente convertidas para o uso civil principalmente como aeronaves destinadas da pulverização de lavouras e combate a incêndios, com algumas células em operação até os dias atuais. 

Emprego na Marinha do Brasil.
No dia  12 de dezembro de 1956, o Governo Federal Brasileiro em conjunto com Ministério da Marinha, após uma série de negociações, procederia formalmente a aquisição de um porta-aviões leve britânico classe Colossus, o HMS R-71 Vengeance. Este navio aeródromo apresentava um deslocamento padrão de 19.900 toneladas era um veterano da Segunda Guerra Mundial, tendo atuado nos teatros de operações do Mediterrâneo e do Pacífico. Após o término do conflito, este navio seria arrendado à Marinha Real Australiana (Royal Australian Navy), pelo período compreendido entre o dia 13 de novembro de 1952 a 13 de agosto de 1955, sendo assim devolvido ao governo britânico e colocado à disposição para venda. Após sua aquisição pelo governo brasileiro, este porta aviões seria encaminhado em meados do ano de 1957, aos estaleiros da empresa holandesa Verolme United Shipyard, na cidade de Rotterdam, a fim de ser submetido a um extenso programa de modernização e atualização. Este navio, emergiria deste processo em dezembro de 1960, ostentando a adição de convés de voo em ângulo a 8,5°, catapulta e sistema de parada modernizados, novos elevadores, nova ilha, sistemas de operação e eletrônica e atualização de sistema defensivo. Após a conclusão dos trabalhos, o navio passaria a ser submetido a provas no mar, neste processo estava incluso a avaliação dos sistemas de catapultagem e recolha de aeronaves, sendo empregados para isto aeronaves turboélices Fairey Gannet e caças Hawker Sea Hawk da Marinha Real (Royal Navy). Recomissionado em 6 de dezembro de 1960 como Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11), o navio passaria a ser a nau capitania da Marinha do Brasil. Neste contexto ainda não havia estudos reais sobre as opções de aeronaves de asas fixas e rotativas a serem adquiridas pela Aviação Naval, ou mesmo pela Força Aérea Brasileira (em função da prerrogativa da exclusividade de operação de aeronaves de asa fixas), para compor o grupo aéreo do novo porta aviões brasileiro. Apesar do navio ser de origem britânica, todo o treinamento e sua consequente doutrina operacional seria baseada nos moldes da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), mediante um acordo firmado anteriormente entre os governos brasileiro e norte-americano. 

É neste momento que tem início a efêmera história dos Grummam TBM-3E/E2 Avenger na Marinha do Brasil, pois como citado o processo de treinamento da tripulação do Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11) seria completo, envolvendo o processo de movimentação e hangaragem de aeronaves. Nesta época várias aeronaves Grumman TBM-3 do Serviço Aéreo da Real Marinha Holandesa (RNethN) estavam sendo desativadas e de acordo com os termos da aquisição das mesmas constantes no programa norte-americano “Mutual Defense Assistance Program” (Programas de Assistência de Defesa Mútua), estas deveriam ser assim devolvidas aos Estados Unidos ou destruídas no localmente com comprovação fotográfica. Um terceiro destino para estas células seria criado, quando a diretoria do estaleiro Verolme United Shipyard passou a intermediar uma negociação entre as partes envolvendo uma doação de um lote destas aeronaves monomotoras, para fins de treinamento de manobra em convés de voo. Desta maneira seria acordada a cessao de cinco células do modelo Grumman TBM-3 Avenger que deveriam ser escolhidas da  frota da aviação naval holandesa, empregando como critério seu estado de conservação.  No entanto curiosamente, apenas três destas aeronaves receberiam matrículas brasileiras; e destes dois restantes, uma célula apesar de ser oficialmente transferida a Marinha Brasileira, não seria fisicamente entregue, sendo descartado e sucateado em uma base aeronaval daquele país, quanto a quinta célula não existem registros sobre seu destino final, mas nunca seria realmente incorporada. Existem ainda relatos de que uma das aeronaves recebidas pela Marinha do Brasil, pertenceria ao modelo TBM-3S Avenger, sendo oriundo da Aviação Naval Francesa (Aéronavale), mas não existem registros franceses (conforme contatos com a Association pour la Recherche de Documentation sur l’Histoire de l’Aéronautique Navale) que atestem sua transferência a Marinha do Brasil. Informações extra oficias informam que outras tres células (como os números de série BuAer 85930, 86174 e 85543) teriam sido recebidos no Brasil desmontadas em caixas, porém esta afirmação para ser  inverossímeis, já que pelo menos o BuAer 85930 foi aquela aeronave destruída como sucata, mencionada anteriormente. 
As aeronaves com confirmação real de recebimento, seriam então o TBM-3E2 BuAer 53142 com   data de aceitação Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 3/05/45; transferido para a Marinha Real (Royal Navy) 29/9/53, matrícula XB378; convertido AS.5 por SAL Prestwick Junho/54; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em 19/02/58 para emprego como rebocador de alvo recebendo a matricula 22-32 e depois 073; descarregado em 08/2/61; transferido Marinha do Brasil: 25/7/60, matriculado 1 e depois N-501. Ja a segunda célula o TBM-3E BuAer 53604 com data de aceitação na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 8/06/45; transferido para Marinha Real (Royal Navy) em 29/9/53, matrícula XB385; convertido AS.5 por SAL Prestwick Junho/54; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Holandesa (RNethN) em 19/2/58, matriculado 22-28 e depois 069; transferido Marinha do Brasil em 25/07/60, matriculado 3 e depois N-503; descarregado Marinha Holandesa 30/7/60. A última aeronave o  TBM-3E BuAer 85549 com data de aceitação na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em  24/02/45; transferido  para Marinha Real (Royal Navy) a bordo do HMS Perseus em 4/05/53, matrícula XB445; convertido AS.5 por SAL Prestwick Novembro/53; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em 17/3/58, matriculado 22-25 e depois 067; descarregado em 25/07/60; sendo transferido para a Marinha do Brasil:  25/7/60, matriculado 2 e depois N-502. Já sobre as células não recebidas temos apenas as informações , como o TBM-3E BuAer 85930 com data de aceitação na  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em  28/03/45; transferido  para Marinha Real (Royal Navy) em 4/05/53, matrícula XB447; convertido AS.5 por SAL Prestwick Janeiro/54; descarregado em 28/3/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em  17/03/58, matriculado 22-26 e depois 068; transferido Marinha do Brasil:  25/07/60; porém descarregado em  30/07/60, sendo destruído como sucata em The Kooij, Holanda. Por fim o  TBM-3E2 BuAer 86174 com data de aceitação na Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 20/04/45; transferido a Marinha Real (Royal Navy) a bordo do HMS Perseus em 4/05/53, matrícula XB331; convertido para AS.4 por SAL Prestwick 04/08/54; descarregado em 28/03/58; transferido Marinha Real Holandesa (RNethN) em  19/02/58 como rebocador de alvo, matriculado 22-34 e depois 075; descarregado Marinha Real Holandesa 30/7/60; transferido a Marinha do Brasil em  25/07/60. 

Durante a entrega oficial da primeira célula, o Grumman TBM-3E2 Avenger BuAer 53142 em 25 de julho de 1960 ainda na Holanda, um oficial do Serviço Aéreo da Real Marinha Holandesa (RNethN)., ministrou aos brasileiros todas as técnicas para o emprego da aeronave, tais como sistemas mecânicos, elétricos e hidráulicos, bem como taxiamento, recolhimento das asas e alinhamento na catapulta e hangaragem. Havia no entanto uma solicitação por parte do governo norte-americano que estas aeronaves não fossem empregadas em voo, embora tivessem condições de fazê-lo. Durante os treinamentos na Holanda, os Grumman Avengers eles eram “rolados” pelo convés de vôo até a velocidade de decolagem, porém abortando o processo logo em seguida. Reza a lenda ainda, que ao final deste treinamento, este mesmo oficial holandês fazendo uso de ferramentas apropriadas retirou os parafusos do sistema das asas dobráveis, dizendo em seguida “de acordo com ordenado, três aeronaves sem condições de voo entregues perfeitamente”. E assim que ele se retirou do navio, os tripulantes brasileiros trataram logo de recolocar os parafusos em seu devido lugar. As três aeronaves foram transportadas ao Brasil, a bordo do Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11), chegando no porto do Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 1961. Na semana seguinte seria possível dar atenção ao início do processo de formação do pessoal destinado a compor as equipes de manobra, conquanto esse trabalho já houvesse sido iniciado por aqueles que acompanharam o recebimento das aeronaves na Holanda, restando realizar a instrução das novas equipes, com esta atribuição destinada ao Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). A intenção original era que ao menos um Grumman TBM-3E2 Avenger fosse entregue aquele centro, mantendo os outros dois exemplares a bordo do porta aviões. Para atender a esse planejamento seria decidido que uma aeronave faria uma decolagem livre do porta aviões e voaria para a Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA). Assim em 1 de setembro de 1961, logo após livrar o convés de voo, o Grumman TBM-3E N-502, infelizmente perdeu sustentação e caiu no mar ao longo do litoral do Rio de Janeiro, felizmente o piloto o Capitão-Tenente Mario Costa sofreu apenas ferimentos leves, resultando somente na perda material. Desta maneira a segunda célula seria transportada pelo navio até o porto do Rio de Janeiro sendo transladado por via terrestre até a sede do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). 
Por sua vez o terceiro Grumman TBM-3 Avenger, seria mantido a bordo do Navio-Aeródromo Leve (NAeL) “Minas Gerais” (A-11), e estas duas unidades foram continuadamente empregados como instrumentos de instrução em terra ou embarcado, porém mesmo envidando esforços para manter todos as duas aeronaves em condições de voo, a constante falta de peças de reposição impedia este objetivo. Assim desta maneira visando manter o mínimo de operacionalidade, o Grumman TBM-3 Avenger “N-502" passou então a fornecer peças para que a outra aeronave, o  TBM-3 Avenger “N-501", pudesse voar. Essa aeronave recebeu então um esquema pintura de alta visibilidade na cor branca com detalhes em vermelho alaranjado. Devido às divergências entre a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira os aviões nunca chegaram a operar embarcados no porta aviões brasileiro, embora decolassem normalmente a partir da Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA). Paralelamente a estes evento, a  crise institucional criada pela disputa entre os Ministérios da Aeronáutica e Marinha, pelo direito a operação de aeronaves de asas fixas se agravava dia a dia, com a solução sendo auferida em 26 janeiro de 1965,  mediante promulgação do decreto presidencial Nº 55.627, que que efetivamente extinguia a aviação naval de asas fixas da Marinha do Brasil. Em consequência dos artigos apresentados naquele instrumento,  seria definido que toda estrutura material e de pessoal deveriam ser incorporadas a Força Aérea Brasileira, neste contexto estas aeronaves seriam rejeitadas  e se manteriam sobre os auspícios da Força Aeronaval. Desta maneira seriam definitivamente desativados, o N-501 foi desmontado e vendido como sucata, e o N-502 seria preservado como monumento junto a entrada do Quartel dos Marinheiros localizado na Av. Brasil (Rio de Janeiro), permanecendo até o até o início dos anos setenta, sendo sucateado posteriormente.   

Em Escala.
Para representarmos o Grumman TBM-3E Avenger "N- 502" da Aviação Naval da Marinha do Brasil, fizemos uso do excelente kit da Hobby Boss na escala 1/48, que além de ser extremamente detalhado, possibilita a montagem da aeronave com as asas dobradas para a hangaragem. Para se adequar a versão operada pela Marinha do Brasil é necessário suprimir o posto do metralhador ventral da aeronave. Empregamos decais confeccionados pelo fabricante FCM Decals presentes no antigo set 48/07. 

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura original da Marinha Real Holandesa (RNethN), ou seja, midnight blue em toda superfície, incluindo cubos e caixas de rodas e spinner da hélice, substituindo-se somente os cocares holandeses pelos da nossa aviação naval nas quatro posições das asas. Posteriormente receberam o mesmo esquema aplicado nas aeronaves de treinamento da Aviação Naval (Pilatus, Taylorcraft e CAP-4), todo branco brilhante, leme de direção azul,amarelo e verde, cowling do motor, pontas das asas e cubo de rodas em vermelho alaranjado.


Bibliografia :
-  Grumman Avenger  - Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_TBF_Avenger
-  Grumman/General Motors Avenger TBM-3 - http://www.naval.com.br
-  Avenger , o Classico Naval Anonimo no Brasil – Rogério Terlizzi Revista Asas Nº 7
 Aeronaves Militares Brasileiras 1916 á 2015 - Jackson Flores Jr Action Editora.