AH-2 Sabre MI-35M Hind

História e Desenvolvimento.
No que tange ao emprego de helicópteros em combate, a maior fonte de ensinamentos foi, sem sombra de dúvidas, a Guerra do Vietnã, nas décadas de 1960 e 1970. Naquele conflito, as aeronaves de asas rotativas foram empregadas no transporte de tropas e no ataque ao solo, em apoio as operações de infantaria. Ocorre que, a exceção do Bell AH-1 Cobrar, que fora desenvolvido exclusivamente para o emprego armado, as aeronaves empregadas neste conflito, e em particular os Bell Huey UH-1B, UH-1D e UH-1H, necessitavam alternar a configuração para a realização de suas missões. Ao detectar este problema, o engenheiro russo Mikhail Leontyevich Mil, decidiu conceber um helicóptero que fosse capaz de realizar missões de ataque em apoio a infantaria e, simultaneamente, transporte de pequena quantidade de tropa, e assim submeteria sua proposta as altas autoridades militares russas. Neste momento o engenheiro apresentaria uma maquete conceitual no ano de 1966, sobre o número de projeto 329, sendo posteriormente designado como V-24 (com este projeto sendo baseado em outra aeronave o modelo utilitário V-22 que nunca avançou além do estágio inicial de desenvolvimento. O novo helicóptero apresentava um compartimento de infantaria central que podia acomodar até oito soldados totalmente equipados, sentados de costas para trás, e um conjunto de pequenas asas posicionadas na parte superior traseira da cabine de passageiros, capaz de suportar até seis mísseis ou pods de foguetes não guiados, além de um canhão GSh-23L de cano duplo fixado à derrapagem de pouso no nariz da aeronave. Embora este projeto recebesse de imediato o apoio de vários estrategistas, acabaria sendo contestado por vários membros seniores das forças armadas soviéticas, que acreditavam que as armas convencionais ainda representavam o melhor segmento de investimento dos recursos militares. Apesar da oposição, Mikhail Leontyevich Mil conseguiu convencer o primeiro vice do ministro da Defesa, o marechal Andrey A. Grechko, a convocar um painel de especialistas para analisar o assunto. Embora as opiniões finais resultantes do painel tenham sido mistas, os apoiadores do projeto acabariam prevalecendo, e um pedido de propostas de design para um helicóptero de apoio ao campo de batalha foi emitido pelo Ministério da Aeronáutica. Este processo seria motivado e referendado pela grande tendência demonstrada pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) em investir maciçamente no desenvolvimento de aeronaves de asas rotativas voltadas a este espectro de missão, visando assim potencializar os excelentes resultados aferidos durante seu envolvimento na Guerra do Vietnã. 

Os engenheiros da empresa preparariam então dois conceitos básicos desta nova aeronave: um projeto monomotor de sete toneladas e um projeto bimotor de dez toneladas, ambos baseados no conjunto turboeixo Izotov TV1-700A de 3.177 shp de potencia cada. Mais tarde, três maquetes completas seriam produzidas, juntamente com cinco maquetes de cockpit para permitir que as posições do piloto e do operador da estação de armas fossem ajustadas. Neste mesmo momento o escritório de design JSC Kamov sugeriria ao exército uma versão especializada e baixo custo baseada em seu modelo naval Ka-25 ASW. Esta proposta seria inicialmente considerada, mas depois enfim suplantada em favor do projeto da aeronave bimotora proposta pela empresa Mil MI. O projeto original aprovado para desenvolvimento oficial em 06 de maio de 1968 sob o codinome de “Yellow 24”,  seria submetido a uma série de mudanças, que foram exigidas pelos militares soviéticos, incluindo a substituição do canhão de 23 mm por uma metralhadora pesada de fogo rápido montada em uma torre de queixo, e o uso do míssil antitanque 9K114 Shturm (AT-6 Spiral). Os trabalhos prosseguiriam sobre o comando de Mikhail Leontyevich Mil, com uma maquete em escala real do projeto foi revisada e aprovada em fevereiro de 1969. Os testes de voo com um protótipo começaram em 15 de setembro de 1969 com um pairar amarrado, e quatro dias depois o primeiro voo livre seria realizado. Um segundo protótipo seria construído e após novos refinamentos seria concedido a empresa um contrato para a produção de um lote pré-série de dez helicópteros a fim de serem submetidos a programas de ensaios em voo. Infelizmente em 31 de janeiro de 1970, Mikhail Leontyevich Mil viria a falecer, não chegando a ver sua ideia se tornar operacional nas forças armadas soviéticas. Os testes de aceitação da nova aeronave teriam início e junho do mesmo ano, se estendendo pelos próximos dezoito meses. As mudanças feitas no projeto abordaram a resistência estrutural, problemas de fadiga e níveis de vibração, além disso, um anedral de doze graus foi introduzido nas asas para abordar a tendência da aeronave de rolar a velocidades superiores a 200 km/h (124 mph). Os suportes para os misseis ar-terra seriam movidos da fuselagem para as pontas das asas, o rotor de cauda seria posicionado do lado direito para o lado esquerdo da cauda, e a direção de rotação invertida, aumentando assim sua eficiência. Uma série de outras mudanças de design foram feitas até que a versão de produção Mi-24A (Izdeliye 245) fosse colocada em produção em abril do ano de 1970.
Visualmente o primeiro modelo de série apresentava um cockpit angular no estilo estufa, proporcionando ao piloto e artilheiro uma excelente visão do campo, com as primeiras células recebendo sua certificação de capacidade operacional em meados do ano de 1971, e sua consequente aceitação no início do ano seguinte, recebendo pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) o codinome de “Hind-A”. Ao todo seriam entregues as forças armadas da União Soviética até o ano de 1973, um total de duzentos e cinquenta células. Seu emprego operacional demonstraria a necessidade da implementação de muitas melhorias, resultando no modelo MI-24B, que não evoluiria além da fase de protótipo. Visando melhor capacitar pilotos e tripulantes neste mesmo período seria criada uma versão destinada apenas a treinamento e conversão, não possuindo canhão nem estações de armamentos nas asas, recebendo assim a denominação  de MI-24C. O modelo definitivo de produção receberia a designação de MI-24D (Hind-D), com uma tripulação de três militares, incluindo piloto, artilheiro e engenheiro de voo, entraria em produção no início do ao de 1976. Este novo helicóptero passava a apresentar uma fuselagem redesenhada fazendo uso de diversos componentes oriundos do projeto modelo naval MI-14 Haze. A principais diferenças estéticas estavam baseadas na adoção de um novo cockpit em tandem com formato de "bolha dupla", e novas asas que além de proporcionarem uma melhoria na sustentação da aeronave forneciam seis pontos subalares. Estes permitiam a aeronave o emprego de uma variada combinação de sistemas de armas ar-solo que em conjunto com o canhão duplo de 23 mm permitiriam o MI-24D Hind a operar em missões de apoio aéreo próximo, operações antitanque ou combate aéreo. Além de manter sua vocação secundaria de transporte de tropas, oscilando de oito soldados totalmente equipados ou doze parcialmente equipados, isto o diferenciava dos demais helicópteros de ataque, podendo ser empregado em operações de transporte aero móvel tático, com seus sistemas de armamento inicialmente sendo usados para suavizar as defesas inimigas ou suprimir o fogo inimigo antes de desembarcar suas tropas, e após este processo proporcionar apoio ao avanço em terra dos infantes. Estas aeronaves poderiam ainda ser empregadas para infiltração de tropas atrás das linhas inimigas, com seu sistema de armas e blindagem oferecendo maior chance de sobrevivência em território hostil.  Apesar de poder portar diversos modelos de misseis antitanque guiados, o MI-24D não era uma aeronave especializada neste tipo de missão e sim um helicóptero de apoio. 

Estas características tornariam o MI-24D Hind no mais capaz dos helicópteros de ataque, sendo ágil, fortemente armado e blindado. Uma versão simplificada de exportação seria desenvolvida recebendo a designação de MI-25 Hind, com batismo de fogo desta família de helicópteros de ataque, ocorrendo durante a Guerra de Ogaden (1977-1978), quando aeronaves das forças etíopes foram usadas contra a Somália. Em 1978 a Força Aérea Líbia empregaria diversas células dos modelos Mi-24A e Mi-25 durante suas numerosas intervenções na guerra civil do Chade. No entanto o modelo ganharia notoriedade internacional durante a intervenção da União Soviética no Afeganistão (1979-1989), com estas aeronaves sendo empregadas inicialmente a partir de abril de 1979 com células fornecidas ao governo afegão para lidar com a guerrilha Mujahidin, com o primeiro MI-24A sendo perdido em ação, abatido por guerrilheiros em 18 de julho de 1979. Apesar de enfrentar forte resistência dos rebeldes afegãos, o MI-24 provou ser muito efetivo, recebendo o apelido de "Shaitan-Arba” (Carruagem de Satanás). Estas aeronaves se tornariam muito populares entre as tropas terrestres, uma vez que podia permanecer no campo de batalha e fornecer fogo conforme necessário, enquanto os jatos de ataque só podiam ficar por um curto período de tempo antes de voltarem à base para reabastecer. Os ensinamentos colhidos neste conflito levariam ao desenvolvimento do MI-24V, contendo nova aviônica e sistema de armas entre ele o avançado misse ar-solo 9M114 Shturm (AT-6 Spiral), com oito destes podendo ser montados nas asas externas. Esta se tornaria a versão a ser mais produzida totalizando mil e quinhentas células. Neste contexto ao longo dos anos seguintes seriam desenvolvidas mais dezessete versões com diversas melhorias ou configurações para missões especializadas. A famílias de aeronaves MI-24, MI-25 e MI-35 lograria grande sucesso em exportações, sendo adquirida pelo Afeganistão, Argélia, Bulgária, Burquina Faso, Congo, Burundi, Chade, Cuba, Chipre, República Tcheca, Djibuti, Egito, Guiné Equatorial, Eritreia, Etiópia, Índia, Hungria, Indonésia, Iraque, Sri Lanka, Serra Leoa, Servia, Líbia, Mali, Moçambique, Ruanda, Namíbia, Brasil, Camboja, Nicarágua, Niger, Servia e Montenegro, Coréia do Norte, Nigéria, Paquistão, Senegal Vietnã, Alemanha Oriental, Polônia e Peru.  Após a dissolução da União Soviética, grande parte das aeronaves MI-24 permaneceriam a serviço das forças armadas da Ucrânia, Geórgia, Uzbequistão, Belarus, Croácia, Transnístria, Cazaquistão, Armênia, Quirguistão, Azerbaijão, Rússia e Moldávia.
Programas de atualização seriam conduzidos por diversas nações com destaque para a versão sul africana Mi-24 Super Hind Mk.II, russa  Mi-24P-1M e israelense Tamam Mi-24 HMOSP. Neste contexto no início do século XXI a empresa russa Rostvertol, uma subsidiária da Russian Helicopter, lançaria o desenvolvimento de uma versão melhorada do modelo de exportação do MI-24V designado como MI-35, visando não só o mercado de exportação bem o como o doméstico. A nova plataforma incorporaria várias melhorias, incluindo asas encurtadas, um novo sistema de rotor, aviônicos modernos, motores turbo eixo atualizados e um sistema hidráulico. O cockpit e os componentes vitais do helicóptero também seriam são fortemente blindados proporcionando assim maior chance de sobrevivência em ambientes hostis.  Em termos de aviônicos a versão agora oficialmente designada como MI-35M passaria a contar com cockpit compatível com óculos de visão noturna (NVG) integra monitores multifuncionais (MFDs), controles de voo redundantes, sistema de mira eletro-óptico GOES-342, sistema de navegação GLONASS/GPS, computador de bordo e equipamentos de comunicação à prova de congestionamento. Em termos de sistema de armas a aeronave estava equipada com um canhão GSh-23V 23mm de cano duplo com 450 a 470 munições, podendo disparar de 3.400 a 3.600 tiros por minuto. As semi asas podiam ainda transportar uma variedade de sistemas de armas, incluindo mísseis antitanque, cápsulas de foguetes - cápsulas de armas ou tanques de combustível. Seu sistema de defesa passiva era composto por um conjunto de contramedidas, incluindo um receptor de aviso de radar, um telêmetro a laser e um localizador de localização, sistema de lançamento de chaff e flare, sistema de bloqueio infravermelho (IR) e supressor IR de escape do motor. Como prenunciado o modelo logo conquistaria contratos de exportação para a Venezuela, Azerbaijão, Brasil, Nigéria, Iraque, Cazaquistão, Paquistão, República do Mali, Belarus e Uzbequistão. Em 2018 a Federação Russa assinaria o primeiro contrato para a aquisição de doze células, que logo teria seu número elevado para sessenta aeronaves. Ao que tudo indica centenas de aeronaves dos modelos MI-24D, MI-25, MI-35 e MI-35M ainda devem se manter em serviço pelo menos pelas próxima duas décadas, mantendo o legado do crocodilo voador russo.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A operação de aeronaves de asas rotativas para emprego militar teve início no Brasil na primeira metade da década de 1950 com a aquisição pela Força Aérea Brasileira de quatro células do modelo Bell 47D1. Neste tempo começou a ser fundamentada no país a doutrina operacional para o emprego do helicóptero como plataforma de transporte, observação e busca e salvamento (SAR), porém somente na primeira metade da década de 1970 é que começariam os esforços visando empregar a aeronave como plataforma de armas. Este processo teria início com os Bell SH-1D Huey durante a implementação da implementação da doutrina de Combate SAR (C-SAR), com estas aeronaves passando a ser equipadas com metralhadoras de tiro frontal e lateral M-60 de 7,62 mm e lançadores de foguetes não guiados, concedendo assim ao helicóptero e sua tripulação uma melhor capacidade de autodefesa e consequente sobrevivência em espaço aéreo inimigo durante a realização de missões de Combate SAR (C-SAR). Estas potencialidades seriam ampliadas nos anos seguintes com a aquisição de mais aeronaves dos modelos Bell UH-1D e UH-1H Huey, com o emprego destes helicópteros como plataformas de armas. Neste momento além das missões de Combate SAR (C-SAR) realizadas pelo 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano, os 1º, 2º, 3º 4º e 5º Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA) começariam a se adestrar extensamente neste perfil de missão de ataque a solo e apoio ao desembarque aerotransportado. Este treinamento muito valido nos anos seguintes quando os modelos Bell UH-1D e UH-1H Huey seriam empregados em cenários de conflagração real inicialmente durante a Guerrilha do Araguaia e depois nas operações combate a focos de guerrilha em Registro no interior de São Paulo, e em Xambioá, norte de Tocantins. As operações militares terrestres com o apoio aéreo dos Bell Hueys e demais aeronaves de asas fixas da Força Aérea Brasileira, seriam conduzidas de forma a empurrar os guerrilheiros para as terras mais altas e secas, para emboscá-los quando descessem em busca de água. Essa tática resultaria em três enfrentamentos bem-sucedidos, com a captura e morte de seis guerrilheiros, restavam ainda em torno de cinquenta quadros (militantes treinados) do Partido Comunista do Brasil (PcdoB). A partir de 1984 a introdução dos novos helicópteros leves Helibras HB350B B1 UH-50 Esquilo permitiria a Força Aérea Brasileira a ampliar sua frota de aeronaves de asas rotativas armadas, fazendo uso agora de uma variada gama de pods de metralhadores e foguetes não guiados de 35mm e 70 mm, com estes ao longo dos anos assumindo o principal papel de helicópteros de ataque particularmente junto ao   2º/8º Grupo de Aviação  - Esquadrão Poti.

Apesar de desenvolver uma relativa capacidade de ataque a solo e apoio a infantaria aerotransportada, nem a Força Aérea Brasileira, nem o Exército Brasileiro dispunham ainda em suas frotas helicópteros especializados em missões de ataque. Apesar de representar um anseio de ambas as armas aéreas, este projeto acabaria sempre relegado a segundo plano devido as constantes restrições orçamentárias. No entanto no ano de 2008 surgiria uma oportunidade, quando o governo brasileiro após negociar junto a Rússia o estabelecimento do processo de exportação de carne bovina. Como contrapartida a esta grande negociação comercial o estabelecimento de uma contrapartida comercial, envolvendo possivelmente a aquisição de material militar mais notadamente aeronaves. Neste mesmo período o Comando da Aeronáutica (COMAER) estudava a possibilidade de aquisição de helicópteros de ataque, figurando como concorrentes os modelos Agusta A-129 Mangusta e o Eurocopter EC 665 Tiger. Este processo levaria o governo brasileiro a sondar a possibilidade de aquisição de helicópteros russos, sendo ofertado no modelo MIL MI-35M da Russian Helicopters, uma versão de exportação do notável crocodilo russo o MI-24V. Rumores internos não confirmados mostravam certa preocupação por parte dos comandantes da Aeronáutica na incorporação de uma aeronave de origem russa. Apesar deste sentimento, em outubro de 2010, seria celebrado um contrato junto ao governo da Federação Russa e a Mil Moscow Helicopter Plant, para a aquisição de doze células desta aeronave, a um custo de US$ 363,9 milhões abrangendo, além de serviços de apoio logístico e treinamento e um simulador de voo. Estes helicópteros seriam produzidos nas instalações da empresa em Rostov na Rússia, com o primeiro voo de MI-35M o FAB 8951 ocorrendo no dia  22 de agosto de 2009 nas instalações do fabricante. As primeiras nove aeronaves a serem entregues deveriam ser transportadas semidesmontadas até a cidade de Porto Velho – RO a bordo de cargueiros Antonov AN-124, onde seriam incorporados ao 2º/8º Grupo de Aviação - Esquadrão Poti. Atendendo ao cronograma previsto, em 16 de dezembro do mesmo ano chegaram os MI-35M FAB 8950, 8951 e 8952 a bordo de uma aeronave de transporte da empresa ucraniana Volga-Dnepr. O segundo lote, composto pelos FAB 8954, 8955 e 8956 foram recebidos em 22 de outubro de 2010. As demais aeronaves deveriam ser entregues até o final do ano seguinte, porém em junho este contrato seria temporariamente suspenso pelo Ministério da Defesa, por alegações de contingenciamento de recursos orçamentários e dificuldades de ordem técnica. Este entrave só seria superado em agosto do ano de 2012 quando foram recebidos os FAB 8957, 8958 e 8959, as três últimas aeronaves o FAB 8960, 8961 e 8962 seriam recebidas na Base Aérea de Porto Velho (BAPV) no dia 26 de novembro de 2014.
As aeronaves destinadas a Força Aérea Brasileira seriam customizadas pelo fabricante para o emprego de sistemas e aviônicos de origem israelense produzidos pela empresa Elbit,  como computador balístico, sistema de navegação digital KNEI-24, telêmetros, sensores imageadores térmicos (FLIR), visão noturna NVG e de GOES-342 TV, visando assim a intercambialidade com as demais aeronaves militares em operação no país. Em termos de armamento ofensivo a aeronave estava equipada com um canhão Gryazev Shipunov GSh-23L de cano duplo, calibre 23 mm com cadência de disparo de 3.600 tiros por minuto e, um casulo de munição com capacidade para até 450 tiros, montados em uma torre móvel na seção frontal, além de poder portar em quatro pontos de fixação de armas nas semi asas, até quarenta foguetes S-8 de 80 mm ou dezesseis mísseis antitanque 9M120 Ataka  ou AT-6 Spiral ambos com alcance de seis quilômetros. Como uma herança do IL-2 Shturmovik, o Mi-35 possui uma banheira blindada para proteção dos tripulantes; essa proteção, inclusive, se estende para os motores, caixa de transmissão principal e intermediária, sendo homologada contra impactos de munições até 20mm. Os pilotos contam com a blindagem transparente (canopy blindado) dotada de proteção contra projéteis de calibre 0.50 (12,7mm); como proteção ativa o vetor conta com uma suíte de contramedidas eletrônicas composta por um sistema RWR (Radar Warning Receiver) L-006LM, sistema de jammer IR L166V1AE e dispensadores de chaff - flare ASO-2V, este último com capacidade para 192 cartuchos. O compartimento de carga não possui blindagem e o helicóptero conta com a possibilidade de instalação de dois supressores de calor, que adicionam ar frio e direcionam os gases, agora misturados, para o alto, de modo a serem dispersados pelas pás do rotor principal. Outra característica se baseava na capacidade de transportar oito soldados totalmente equipados ou 1.500 kg de carga no compartimento interno.). Pilotos e mecânicos iniciaram as suas instruções ainda em solo russo, seis meses antes da entrega do primeiro lote, enfrentando temperaturas de até 30° Celsius negativos (-30°). A apresentação e a incorporação oficial das aeronaves agora designadas como AH-2 Sabre ocorreriam no da 17 de abril de 2010 na Base Aérea de Porto Velho (BAPV). A principal missão a ser desempenhada era a de ataque, transporte de tropas e missões de assalto, com este espectro sendo posteriormente completado por tarefas de esclarecimento de tráfego aéreo possivelmente ilegal e interceptação aeronaves de baixa performance. A possibilidade de levar tropas também agradava o comando da Aeronáutica, já que poderia ser utilizado em interceptações de aeronaves pequenas, das quais pilotos do tráfico costumam fugir após o pouso. 

Os primeiros pilotos aptos a operar o AH-2 Sabre finalizariam o curso em solo brasileiro nas novas aeronaves do Esquadrão assim que estas chegaram. A partir disso, passaram a lapidar todo o envelope operacional do vetor a ponto de se ter feito lançamentos de armas anti-carro guiadas, uso de FLIR e NVG, em campanhas de tiro realizadas no campo e provas Brigadeiro Veloso na serra do Cachimbo, bem como na Restinga de Marambaia no Rio de Janeiro. Nestes exercícios seria possível notar a precisão dos sistemas de armas da aeronave, responsáveis pela pontaria excepcional do vetor, eficiente em 100% dos lançamentos com mísseis, foguetes e acertos com os disparos efetuados pelos canhões geminados. A aeronave traria a Força Aérea Brasileira a inédita capacidade de ataque a colunas blindadas inimigas, fazendo uso de mísseis anti-carro 9M120 ATAKA com potencial de penetração de 800 mm de blindagem composta, mesmo que esta esteja protegida por ERA (Explosive Reactive Armour). No exercício Zarabatana IV o Mi-35M AH-2 Sabre exibiria 100% de acertos! O seu último exercício envolveu o uso de NVG (Zarabatana V). Um detalhe curioso observado é o costume por parte dos membros do Esquadrão Poti de utilizar o compartimento de assalto como um espaço para transporte de carga ligeira nos deslocamentos do esquadrão. Para os pilotos do Esquadrão Poti a introdução desta aeronave representaria um salto gigantesco, por óbvio, antes equipado com helicópteros leves Helibras UH-50 Esquilo, equipados quando muito para reconhecimento armado com metralhadoras e foguetes não guiados, passando a voar agora em um poderoso gigante de doze toneladas (dez toneladas de diferença), com rotor de cabeça semi-rígida. Um dado interessante é que helicópteros com cubos semi-rígidos são tidos como menos manobráveis e de fato é uma tática clássica de emprego dos MI-24 e MI-35 de “Hinds” em duplas, justamente para compensar a menor agilidade deste helicóptero de combate.  Estas aeronaves teriam destacada participação em eventos de importância tornando-se parte do esquema de segurança da Conferência Rio + 20, da Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude 2013, da Operação Ágata 7 (guarda de fronteira) e a Copa do Mundo FIFA de 2014. O esquadrão possuía vinte e nove pilotos em seus quadros, que não escondiam no dia a dia das operações, o entusiasmo com a aeronave, apesar de frequentes problemas de disponibilidade de voo.
Desde seu processo de implantação, a frota de aeronaves MI-35M AH-2 Sabre sofreu com problemas de logistica, suprimentos e manutenção, que, em vários momentos, reduziriam drasticamente a operacionalidade, deixando inclusive os helicópteros no solo. Outro fator complicador era a distância de mais de 3.000 km entre a Base Aérea de Porto Velho (BAPV) e o Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (MG) e a cidade vizinha de Lapa onde se localiza a empresa IAS – Indústria de Aviação e Serviços, na vizinha São José da Lapa, única habilitada no país para trabalhar com este modelo de aeronave. Outro ponto predominante é que apesar de terem voado menos de dez mil horas a serviço da Força Aérea Brasileira, as células já aproximavam na necessidade de implementação de um abrangente processo de manutenção e modernização de “meia vida”, demandando um investimento extremamente alto. Todos estes fatores e outros não revelados levariam o Comando da Aeronáutica (COMAER) a decidir pela desativação precoce desta frota de helicópteros, com este ato sendo tomado pouco antes da Rússia invadir a Ucrânia, onde o MI-24 e MI-35 Hind foram uma das grandes figuras da guerra em ambos os lados, mas de maneira negativa, já que ao menos dez foram abatidos, a maioria com perda total e morte dos tripulantes. Especula-se que o início do conflito reforçaria a decisão da Força Aérea Brasileira, em função do consequente agravamento na falta de peças de reposiçao no mercado internacional. Assim em 05 de fevereiro de 2021 o boletim do Comando da Aeronáutica 029  DCA-400-100 determinaria a desativação das aeronaves AH-2 Sabre, com inicio do processo em Março de 2022 com o primeiro lote com este processo se estendendo até o mês de dezembro do mesmo ano. Apesar inicialmente decidir pela venda das células a outros operadores do modelo, a Aeronáutica optaria por armazenar onze células junto as dependências do Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa - PAMALS (MG), com a restante sendo incluída no acervo do Museu Aerospacial (MUSAL) no Rio de Janeiro. Com sua desativação o pais volta a ficar novamente sem um helicóptero de ataque, já que o projeto do Exército Brasileiro para um helicóptero dedicado para esta função está parado há anos.

Em Escala.
Para representarmos o  Russian Helicopter MI-35M AH-2 Sabre  FAB 8956 fizemos uso do antigo kit da Revell na escala 1/48 que apresenta porém a versão mais antiga o MI-24D. Um grande processo de conversão deve ser implementado com a confecção de inúmeras peças em scratch building, empregando neste o set de conversão em resina para o MI-24V produzido pela CMK Kits, retirando diversos componentes comuns com a versão MI-35M. Felizmente já existe no mercado o modelo do MI-35M nesta mesma escala, produzido pela Zvezda. Fizemos uso de decais confeccionados pela empresa russa Begemot Decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático de baixa visibilidade implementado pela Força Aérea Brasileira a partir de 1997, com os MI-35M AH-2 Sabre mantendo este esquema durante toda sua carreira no Brasil.


Bibliografia :
- Mil Mi-24 – Wikipedia  https://en.wikipedia.org/wiki/Mil_Mi-24
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  por  Jackson Flores 
- FAB desativa os AH-2 Sabre Revista Força Aérea - https://forcaaerea.com.br/
- Lista de variantes do Mil Mi-24 – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Mil_Mi-24_variants
- AH-2 Sabre: o trovão alado - http://portaldefesa.com/3360-ah-2-sabre-o-trovao-alado/
- Mi-35M (Hind E) - www.airforce-technology.com/projects/mi-35m-hind-e/

Dodge WC-54 Ambulância (TE)


Historia e Desenvolvimento.
No início do século XX, em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge embarcaram em um ambicioso empreendimento: criar um automóvel que se destacasse dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Inicialmente, a produção era quase artesanal, com a fabricação de poucas dezenas de veículos. Contudo, a partir de 1914, esse processo evoluiu para uma produção em série, marcando o nascimento da Dodge Brothers Motor Company. Rapidamente, a empresa conquistou prestígio no competitivo mercado de automóveis de passeio dos Estados Unidos, alcançando uma significativa participação nesse setor. O êxito comercial proporcionou à Dodge recursos financeiros que viabilizaram, na década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado comercial civil. A entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial levaria a montadora a fornecer milhares de veículos militarizados a Força Expedicionária Americana (AEF), se destacando o Dodge Light Repair Truck e a Dodge Ambulance. Infelizmente, a trajetória dos irmãos fundadores foi interrompida por seu falecimento precoce (ambos no ano de 1920), e neste momento as viúvas dos irmãos, Matilda Dodge e Anna Dodge, assumiram o controle acionário da empresa. No entanto, sem a liderança direta dos fundadores, a Dodge Brothers Motor Company foi vendida em 1928 para a Chrysler Corporation, marcando o início de uma nova fase sob o conglomerado. Os primeiros modelos utilitários lançados no mercado norte-americano foram desenvolvidos com base nas plataformas dos veículos de passageiros da Chrysler, o que reduziu os custos de projeto e produção. A utilização compartilhada de ferramental e processos de manufatura resultou em preços competitivos, conferindo à Dodge uma forte vantagem comercial. Assim como os automóveis de passeio, os novos veículos utilitários da Dodge alcançaram expressivo sucesso de vendas no mercado interno, consolidando a reputação da marca como sinônimo de robustez e versatilidade, especialmente em atividades pesadas e em ambientes fora de estrada. O crescimento contínuo das vendas gerou recursos adicionais, permitindo que a empresa planejasse projetos ainda mais ambiciosos a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global começou a se tornar preocupante, especialmente na Europa, com a ascensão do Partido Nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto gerou inquietação em diversas nações, incluindo os Estados Unidos, que, embora adotassem uma postura de neutralidade, permaneciam atentos a possíveis ameaças futuras. Diante da possibilidade de uma corrida armamentista global, a diretoria da Dodge Motor Company vislumbrou uma oportunidade estratégica no mercado militar. Assim, em 1934, a empresa passou a investir recursos próprios no desenvolvimento de projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte, aproveitando a expertise adquirida em projetos anteriores para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1937, a Dodge Brothers Motor Company, já integrada à Chrysler Corporation, alcançou um marco significativo ao apresentar ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seu primeiro modelo experimental de caminhão militar: o K-39-X-4, um veículo de 1 ½ toneladas equipado com tração integral nas quatro rodas. Submetido a rigorosos testes de campo, o protótipo impressionou os militares por sua robustez e desempenho, culminando na assinatura de um contrato para a produção de aproximadamente 800 unidades. Nos meses subsequentes, as primeiras entregas foram realizadas, e a confiança depositada no modelo levou à celebração de novos contratos, desta vez envolvendo os caminhões Dodge VC-1 e VC-6, de ½ tonelada, que se tornariam peças-chave no portfólio da empresa. Paralelamente, a Dodge lançou versões civis desses veículos no mercado norte-americano, que alcançaram notável sucesso comercial. Esse êxito incentivou a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan. Projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios, essa fábrica marcou um avanço estratégico na capacidade produtiva da companhia. No ano seguinte, em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente renovada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e pela designação “Job-Rated”, que prometia atender às mais diversas demandas de trabalho, consolidando a reputação da marca por versatilidade e inovação. Enquanto isso, o cenário geopolítico global tornava-se cada vez mais tenso, com ameaças emergindo na Europa e no Pacífico. Diante da necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas norte-americanas, o Exército dos Estados Unidos definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga: ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ toneladas, 4 toneladas e 7 ½ toneladas. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando de Intendência do Exército (US Army Quartermaster Corps) aprovou três modelos de caminhões comerciais com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 ½ tonelada 4x4, o GMC de 2 ½ toneladas 6x6 e o Mack de ½ tonelada 6x6. Nesse contexto, a Dodge-Fargo Division da Chrysler assegurou um contrato significativo no verão de 1940 para a produção de 14.000 unidades do modelo de ½ tonelada com tração integral 4x4, designado como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro do mesmo ano, e, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o modelo foi redesignado como série WC (Weapons Carriers). A letra “W” indicava o ano de início da produção (1941), enquanto “C” representava a classificação de ½ tonelada. Posteriormente, o código “C” foi estendido para modelos de ¾ tonelada e 1 ½ tonelada 6x6, com o primeiro veículo dessa família sendo o G-505 WC de ½ tonelada.
Os modelos Dodges WC 1 e WC-50 pertenceriam a faixa de veículos de  ½ tonelada, sendo novamente intercambiáveis em 80% em componentes de serviços dos  novos modelos da linha de 3/4 toneladas  lançados posteriormente. Em 1942, a carga útil seria atualizada, com sua linha de caminhões se dividindo entre o modelo 3⁄4 toneladas, 4×4 mais curto denominado como G-502 com tração integral 4X4 e o modelo G-507 mais longo de ½ tonelada que seria destinado a transporte de carga e tropas que passava a contar com tração integral 6X6. Curiosamente a montadora reteria confusamente os códigos de modelo da família de utilitários Dodge WC. Embora as versões de 3⁄4 toneladas apresentassem melhorias significativas no design, estes novos veículos manteriam o percentual de componentes intercambiáveis, e peças de serviço com os modelos de ½ toneladas, sendo este um requisito exigido pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) para a manutenção em campo e a operacionalidade dos caminhões próximos a linha de frente. Novamente o grande percentual de intercambialidade. Esta característica de projeto facilitaria em muito o processo de logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial.  Seria decidido criar uma versão de carroceria fechada para o transporte de comandantes, visando assim complementar o emprego dos carros oficiais derivados de modelos comerciais. O ponto de partida para este novo veículo seria o Dodge WC-51, fazendo uso de seu chassis e conjunto mecânico, passando a empregar a carroceria de um carro civil da montadora . Em termos de motorização esta proposta apresentava um modelo convencional de cabeçote plano de válvulas laterais, (do tipo flathead que foi produzido até a década e 1960), possuindo seis cilindros dispostos em V com 3.800 cm ³ e 105 CV de potência com baixa taxa de compressão, configuração esta que lhe proporcionava um nível de torque significativo ideal para operações fora de estrada, no entanto como ponto negativo apresentava um alto consumo. Sua carroceria possuía quatro grandes janelas laterais pivotantes, assentos dianteiros dobráveis para possibilitar acesso aos bancos traseiros mais confortáveis. Para otimização do espaço interno do veículo optou-se pela fixação externa do estepe, com este sendo instalado ao lado da porta do motorista, curiosamente embora a porta estivesse totalmente operacional, ela não podia ser aberta devido a este fato. Já na extremidade traseira do veículo seria disponibilizadas duas portas com abertura lateral, facilitando o acesso de carga ou ainda manutenção do sistema de rádio. Sua produção em larga escala teria início em fins do ano de 1941, com as primeiras unidades sendo entregues as forças armadas norte-americanas logo em seguida, sendo disponibilizadas a organizações militares dispostas no território continental. Inicialmente seriam empregadas na tarefa de transporte de oficiais, porém quando operando em cenários de conflagração real passariam a ser engajadas em missões de reconhecimento de campo de batalha e posto de rádio para uso dos comandantes.

Em fins do ano de 1941, este novo modelo designado como WC-53 serviria e base ainda para o desenvolvimento de versão ambulância, que teria por finalidade substituir os antigos modelos de socorro médico produzidos por esta mesma montadora que se dividiam nas versões WC-9, WC-18 e WC-27 que até então dotavam as unidades médicas das forças armadas norte-americanas e já se mostravam não adequadas a operação no moderno front de batalha terrestre com observado na Europa. Além deste primícia, visava-se com esta nova ambulância militar, iniciar um processo de padronização de veículos deste tipo, além do colaborar na intenção do comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em um programa maior de unificação da cadeia logistica de peças de reposiçao, que já estava em curso com os novos Dodge WC-51, WC-52, WC-53, WC-56, WC-57, WC-60 e WC-62. Embora baseado no chassi Dodge WC-51 "Beep" de 3/4 de toneladas, cujos eixos dianteiro e traseiro apresentavam faixas mais largas de 643⁄4+ em (1,64 m), as versões ambulância de 3/4 toneladas manteriam uma distância entre eixos mais longa, muito próxima dos modelos anteriores de maiores dimensões, apresentando ainda um desing em sua linha frontal mais arredondada e inclinada para cima, em vez da tampa do motor totalmente horizontal, plana e mais larga dos modelos desta montadora. Seu sistema de suspensão seria redesenhada visando o nível de conforto dos enfermos e feridos. Sua carroceria fechada e totalmente em metal seria produzida pela empresa Wayne Body Works, apresentando capacidade de transporte de sete pacientes sentados ou quatro deitados em macas do tipo beliches dobráveis, além do médico ou enfermeiro de campo. Ainda visando o aspecto de conforto, esse novo veículo dispunha ainda de um grande aquecedor de cabine matricial instalado na parte frontal para emprego durante os rígidos invernos europeus e norte-americanos. Seria ainda equipado com um degrau dobrável em sua parte traseira para permitir um acesso mais fácil para portadores de maca e pessoal ferido. Esta ambulância militar receberia a designação de catálogo de fornecimento norte-americano como G-502. Os primeiros carros produzidos em série apresentavam uma tampa de enchimento de combustível presa que foi alterada para uma embutida no modelo posterior, uma modificação que foi adaptada a alguns caminhões de modelo inicial. Ao longo dos anos diversos contratos de produção seriam firmados com a primeiras viaturas sendo incorporadas ao serviço ativo principalmente no Exército dos Estados Unidos  em março de 1942, passando em seguida a equipar os demais ramos das forças armadas daquele pais.
No âmbito do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), o Dodge WC-54, uma ambulância militar robusta e confiável, foi fornecido durante a Segunda Guerra Mundial às forças armadas de nações aliadas, incluindo a Grã-Bretanha (Corpo Aéreo do Exército Real), as Forças Francesas Livres, a Austrália e o Brasil. Esses veículos desempenharam um papel vital nas frentes de combate, operando em diversos teatros de guerra ao lado das forças norte-americanas, onde salvaram inúmeras vidas ao transportar feridos sob condições extremas. Entre 1942 e 1945, as linhas de produção da Dodge Motors Company, em Detroit, entregaram um total de 29.502 unidades do WC-54, consolidando sua reputação como um pilar essencial do suporte médico em campanha. Ainda durante o conflito, a Dodge desenvolveu uma versão aprimorada, designada WC-64, que incorporava melhorias significativas, como uma carroceria ligeiramente alongada, permitindo maior capacidade para o transporte de feridos e enfermos no campo de batalha. Apesar de seu desempenho superior e maior eficiência operacional, o iminente fim da guerra, em 1945, levou ao cancelamento de diversos contratos de defesa, incluindo os da produção do WC-64. Até julho daquele ano, apenas 3.500 unidades desse modelo foram completadas, limitando seu impacto em relação ao antecessor, mas ainda assim reforçando o compromisso com a inovação em tempos de crise. Após o término da Segunda Guerra Mundial, as ambulâncias WC-54 e WC-64 voltaram a desempenhar um papel crucial durante a Guerra da Coreia (1950–1953), operando em conjunto para atender às demandas médicas em um novo cenário de conflito. Sua capacidade de operar em terrenos difíceis e sob condições adversas continuou a salvar vidas, perpetuando seu legado de serviço humanitário. A partir de meados da década de 1950, o Exército dos Estados Unidos (US Army) iniciou a substituição gradual do WC-54 pelo Dodge M-43, uma versão ambulância do modelo M-37, mais moderna e adaptada às novas exigências operacionais. Com a grande quantidade de veículos WC-54 e WC-64 disponíveis, muitos em excelente estado de conservação, milhares foram armazenados como reserva estratégica. Posteriormente, essas ambulâncias foram cedidas a nações aliadas por meio de programas de assistência militar, incluindo Grécia, Áustria, Bélgica, Brasil, Noruega, Filipinas, Suécia e Iugoslávia. Em muitos desses países, os veículos permaneceram em serviço até meados da década de 1970, demonstrando sua durabilidade e versatilidade. No Brasil, as ambulâncias WC-54 foram empregadas pelo Exército Brasileiro em operações logísticas e de apoio médico, contribuindo para a modernização da Força Terrestre e para o atendimento em situações críticas. O Dodge WC-54 e seu sucessor WC-64 não foram apenas instrumentos de guerra, mas símbolos de esperança e resiliência, transportando feridos e salvando vidas em momentos de grande adversidade. Seu legado, marcado pela dedicação dos militares que os operaram e pela engenhosidade de seu projeto, permanece como um testemunho da importância do suporte médico no campo de batalha e da cooperação internacional que fortaleceu os esforços aliados

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Dentre os equipamentos fornecidos, os utilitários Dodge WC-51 e WC-52, com tração integral 4x4, começaram a ser entregues ao Brasil no final de 1942. Esse atraso inicial decorreu da prioridade dada às forças armadas norte-americanas, que demandavam grandes quantidades desses veículos para os esforços de guerra. Quase a totalidade destes veículos era representado por viaturas recém produzidas das linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, e Chrysler Corporation. Dentre os diversos modelos previstos para incorporação as forças armadas brasileiras se encontravam inicialmente, cento e quarenta e nove ambulâncias Dodge WC-54. Estas viaturas especializadas começariam a chegar no porto do Rio de Janeiro no início do ano de 1943, sendo distribuídas as unidades operativas dispostas no sudeste e nordeste.  Neste tipo de missão, principalmente junto ao Exército Brasileiro os Dodge WC-54 com tração 4X4 vieram a substituir e complementar modelos civis de ambulâncias produzidas pela Ford Motors Company e General Motors Company, adquiridas no início da década de 1930 (em substituição as lendárias ambulâncias baseadas na plataforma do modelo Ford T). A implementação desta nova viatura representaria um salto operacional qualitativo com sua capacidade para emprego em ambientes fora de estrada (off road), se mostrando com o maior diferencial, proporcionado assim as unidades médicas militares da força terrestre, uma mobilidade jamais atingida com as versões civis com tração 4X2.  Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. Esta força seria comandada por um general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais. Esta força seria composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 mm e um de calibre 155 mm); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação (pertencente a Força Aérea Brasileira); um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações).
 A tropa além de seu próprio comando, deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música. Do total de veículos Dodge WC-54 previstos para cessão ao Brasil nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seria definido que trinta destas viaturas deveriam ser entregues diretamente na Itália, após a chegada do primeiro contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Atendendo ao cronograma original, a partir do dia 5 de agosto de 1944 toda a frota de veículos militares destinadas aos efetivos brasileiros já se encontravam prontas para  serem disponibilizadas, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementaçao do 5º Exército dos Estados Unidos (5th Us Army) baseado na cidade italiana de Tarquinia. Não existem registros oficiais sobre se estas ambulâncias eram novas de fábrica ou veteranas de guerra, pois naquela localidade se encontravam armazenadas um grande número de viaturas empregadas anteriormente nas campanhas militares na Sicília e no Norte da África. Sobre os Dodge WC-54 seria definido sua total alocação junto ao Serviço de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, sendo este destacamento composto por um Batalhão de Saúde e um Destacamento de Saúde. Dentre as importantes atividades a serem realizadas por esta organização estava a missão de transporte de feridos, iniciando na linha de frente, operando em uma sistemática padrão de socorro, evacuação, triagem e hospitalização. Neste momento a mobilidade seria fundamental envolvendo no campo de batalhas os padioleiros e por consequente veículos de remoção imediata para o transporte até os postos de saúde (PS) onde seria realizada a triagem, estabilização inicial do ferido grave, tratamento de condições pouco graves que possibilitassem o retorno do ferido ao combate e medidas de saúde preventiva. A sistemática inicialmente a ser empregada, a exemplo da doutrina operacional norte-americana, previa o uso de dois modelos de viaturas, com os Jeep MB Willys "Holden Jeeps" (versão ambulância de campanha) fazendo o primeiro transporte no front para o atendimento de campanha, e posteriormente caso os feridos necessitassem ser evacuados para os Posto de Atendimento Avançados (PAAs), operados pelas Companhias de Saúde Avançadas do Batalhão de Saúde (2º Escalão), esta tarefa passaria a ser realizada pelas as ambulâncias especializadas Dodge WC-54 que podiam proporcionar melhor assistência e conforto no transporte, com este processo, muitas vezes representando a diferença entre a vida e morte para os soldados feridos em combate.

O batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB), ocorreria no 16 de setembro de 1944, quando o 6º Regimento de Infantaria (R.I) durante a batalha pela conquista da cidade Massarosa, o intensificar das ações resultariam em um grande número de feridos, com os Dodge WC-54 ajudando a salvar a vida de muitos combatentes brasileiros, transportando-os desde a frente de batalha até os hospitais na retaguarda. Estes veículos receberiam um esquema de identificação marcante, sendo visível a grande distância, possuindo uma grande cruz vermelha sobre fundo branco nas laterais, teto e traseira, além de duas pequenas acima do para-brisa, tendo no centro a inscrição em branco “Ambulance”, (salientando que algumas ambulâncias chegaram a ter a cruz vermelha pintada na grade frontal). Além destas marcações, os veículos a serviço do Exército Brasileiro apresentavam as identificações nacionais como o “Cruzeiro do Sul” inserido em um círculo branco nas laterais da porta e a sigla FEB aplicada nos para-choques frontais e traseiros, com os números de identificação 710 ou 310 (número de todos os veículos do Batalhão de Saúde), mais letra K (Destacamento de Comando). Podiam ainda apresentar marcações com as letras A B e C (1ª, 2ª e 3ª Cia de Evacuação, respectivamente) ou ainda a letra D (Cia de Tratamento), seguido de um pequeno emblema do Cruzeiro do Sul e o número do veículo (1 a 30), aplicado nas laterais, no alto, atrás das portas dianteiras e no lado direito da porta traseira e no alto. No dia a dia das operações os motoristas e enfermeiros destas ambulâncias estariam expostos aos mesmos riscos dos demais combatentes, com seus veículos sendo alvejados frequentemente por rajadas de metralhadoras do Exército Alemão (Wehrmacht). Além deste fato, havia ainda o risco de se trafegar por estradas estreitas e semidestruídas, e muitas vezes lamacentas, o que exigia o uso de correntes nos pneus, e com grandes penhascos, onde qualquer erro poderia ser fatal. No entanto, em um contexto geral a frota total de veículos disponibilizados ao Exército Brasileiro na Itália, se apresentava em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), com este fato se repetindo na frota de ambulâncias de campanha, levando a necessidade de adaptação de outras viaturas, como os Dodges WC-56 e Willys Jeep MB para a complementação da frota a serviço dos batalhões de saúde. Registros fotográficos da campanha da Itália apontam para o emprego de pelo menos dois Dodge WC-54 pela Força Aérea Brasileira, servindo de apoio as equipes de ar e terra do 1º Grupo de Avião de Caça (1° GAvCa) e da 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1ºELO), não se sabe ao certo se estas viaturas faziam parte do lote de trinta ambulâncias destinadas ao Exército Brasileiro ou se foram cedidas pelo comando regional do teatro de operações da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF).
Com o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, as ambulâncias Dodge WC-54, juntamente com outros veículos, armas e equipamentos utilizados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) e pela Força Aérea Brasileira (FAB), foram transferidos ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos, sediado em Roma. Nesse processo, as viaturas em melhor estado de conservação foram cuidadosamente selecionadas, armazenadas e posteriormente enviadas ao Brasil por via naval. Ao chegarem ao país, essas ambulâncias se integraram à frota de veículos da mesma família, em serviço desde 1943, distribuída entre o Exército Brasileiro e a FAB. Há indícios de que novos veículos foram incorporados ao final da década de 1940, embora a ausência de registros oficiais detalhados, com datas e quantidades precisas, limite a confirmação dessas informações. No início da década de 1960, a condição operacional da frota de utilitários Dodge, incluindo as ambulâncias WC-54, começou a gerar preocupação no comando do Exército Brasileiro. A baixa disponibilidade dessas viaturas decorria, em grande parte, das dificuldades na aquisição de peças de reposição, especialmente para o motor a gasolina Dodge T-214, de seis cilindros, cuja produção foi descontinuada nos Estados Unidos em 1947. Esse obstáculo comprometeu a manutenção e a operacionalidade dos veículos, exigindo medidas urgentes para assegurar a continuidade de seu uso em missões críticas, como o transporte de feridos e o suporte logístico. Para enfrentar esse desafio, o Exército Brasileiro, por meio de negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, recorreu ao Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), buscando a aquisição de um lote significativo de utilitários mais modernos das famílias Dodge M-37 e M-43. Essas tratativas resultaram na incorporação de mais de 300 veículos usados, cuja entrega ao Brasil teve início em 1966. Entre esses, destacavam-se as ambulâncias M-43 (M-615), que ofereceram maior capacidade e modernidade em relação ao WC-54. A chegada dessas novas viaturas permitiu a desativação progressiva da frota remanescente de Dodge WC-54, com as últimas unidades, muitas das quais remotorizadas para prolongar sua vida útil, sendo retiradas do serviço ativo em 1978. A transição para os modelos M-37 e M-43 marcou um avanço significativo na modernização da logística militar brasileira, garantindo maior eficiência no atendimento médico e no suporte operacional. As ambulâncias WC-54, que por décadas desempenharam um papel crucial, especialmente durante a campanha italiana da FEB, deixaram um legado de resiliência e serviço humanitário.

Em Escala.
Para representarmos o  Dodge WC-54 “FEB 710”, quando em uso pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), fizemos uso do antigo kit da Italeri na escala 1/35, modelo este que apesar de ser de fácil montagem, carece de um melhor nível de detalhamento interno. Não há a necessidade de realizar nenhuma alteração para se compor a versão empregada pela Exército Brasileiro no teatro de operações italiano. Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products presentes no set “FEB Corpo Médico” em conjunto com decais originários do próprio modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército dos Estados Unidos (US Army), aplicado em suas ambulâncias durante a Segunda Guerra Mundial, esquema com o qual as viaturas brasileiras foram recebidas e operadas (Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira), passando a ostentar somente as marcações nacionais. Este padrão seria mantido durante seu emprego no período, mantendo este esquema com poucas variações até sua baixa  de serviço no ano de 1978.



Bibliografia : 
- Dodge WC Series – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- WC-54 Ambulance – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC54
- Ambulâncias Dodge WC-45 FEB – Expedito C.S.Bastos -  http://www.ecsbdefesa.com.br/arq/Art%2018.htm
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947

P-47B-RE Republic Thunderbolt


 
Historia e Desenvolvimento.
A Seversky Aircraft Company foi fundada em 1931, em Farmingdale, Long Island, Nova Iorque, por Alexander de Seversky, um expatriado russo e veterano piloto da Primeira Guerra Mundial. Na época, Seversky ocupava a posição de assessor do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, trazendo consigo uma visão inovadora para a aviação militar. Nos primeiros anos de operação, a empresa reuniu uma equipe de talentosos engenheiros aeronáuticos, majoritariamente russos e georgianos, incluindo nomes como Michael Gregor e Alexander Kartveli. Esses profissionais desempenhariam papéis fundamentais no desenvolvimento das aeronaves que marcariam a trajetória da companhia. O caminho até o sucesso, contudo, foi repleto de desafios. Após diversas tentativas frustradas, a Seversky Aircraft conquistou um marco significativo em 1936, ao vencer uma concorrência promovida pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para o desenvolvimento de um novo caça. O projeto apresentado, denominado SEV-1XP, resultou no primeiro contrato militar da empresa. Este caça, conhecido pela designação militar P-35, representou um avanço notável para a aviação militar norte-americana. O P-35 foi o primeiro caça moderno do Exército dos Estados Unidos (US Army), caracterizado por uma fuselagem metálica, configuração de asa baixa, trem de pouso retrátil — embora parcialmente exposto — e equipado com um motor radial Pratt & Whitney R-1830 de 850 cavalos de potência. No final da década de 1930, o governo norte-americano lançou um ambicioso programa de reequipamento de suas forças aéreas, promovendo, em 1938, uma nova concorrência para o desenvolvimento de um caça-bombardeiro. Em resposta, a Seversky Aircraft Company apresentou, em 1939, o projeto XP-41. Este modelo introduzia melhorias significativas em relação ao P-35, incluindo uma fuselagem de design mais aerodinâmico, com a seção traseira elevada até a deriva — um perfil conhecido como “razorback”. Além disso, o XP-41 contava com um trem de pouso totalmente retrátil, duas metralhadoras de calibre .30 polegadas montadas sobre o capô do motor e um motor Pratt & Whitney R-1830 com turbocompressor, capaz de gerar 1.150 cavalos de potência e atingir uma velocidade de 515 km/h a 15.000 pés de altitude. Apesar das inovações, o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) rejeitou o XP-41, considerando seu desempenho insuficiente. Como sugestão, foi recomendada a incorporação de um turbocompressor semelhante ao utilizado nos bombardeiros Boeing B-17. Atendendo a essa orientação, os engenheiros Seversky e Kartveli reformularam o projeto do XP-41, reposicionando o turbocompressor na parte traseira da fuselagem, com tubulações instaladas sob a cabine de pilotagem, e adicionando duas metralhadoras de calibre .50 nas asas. O resultado foi a aeronave YP-43 Lancer, capaz de alcançar 563 km/h a uma altitude de 38.000 pés. Este modelo foi aprovado para produção, culminando na assinatura de um contrato inicial para a entrega de cinquenta e quatro unidades do P-43A Lancer. A primeira aeronave foi entregue ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em setembro de 1940, consolidando a posição da Seversky Aircraft Company como uma importante fornecedora de tecnologia aeronáutica militar.

Na mesma época, a Seversky Aircraft Company apresentou o projeto XP-44, que se destacava por sua cabine mais aerodinâmica e um cubo de hélice projetado para envolver o motor, reduzindo o arrasto aerodinâmico causado pela ampla área frontal dos motores radiais de alta potência. Inicialmente, o projeto previa a utilização do motor Pratt & Whitney R-2180, com 1.400 cavalos de potência. Contudo, com o cancelamento do desenvolvimento desse motor, a empresa optou pelo Pratt & Whitney XR-2800 “Double Wasp”, que oferecia impressionantes 2.000 cavalos. As características promissoras do XP-44 impressionaram tanto o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) que um pedido de oitenta unidades foi feito antes mesmo da construção de um protótipo. No entanto, a queda da França em junho de 1940 alterou drasticamente o cenário. O XP-44 foi considerado inferior aos caças alemães Messerschmitt Bf-109 da Luftwaffe, levando ao cancelamento da encomenda. Para apoiar a continuidade das operações da Seversky Aircraft Company, os militares norte-americanos encomendaram mais oitenta unidades do P-43A Lancer. Além disso, em julho de 1941, a Força Aérea da China adquiriu 125 unidades do P-43, das quais 108 foram entregues. As 13 unidades restantes foram incorporadas ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos após dezembro de 1941 e convertidas para missões de reconhecimento fotográfico, recebendo a designação P-43B. Adicionalmente, quatro P-43A e quatro P-43D foram utilizados pela Força Aérea Real Australiana (Royal Australian Air Force) em operações de reconhecimento tático. Com o cancelamento do XP-44, Alexander de Seversky e Alexander Kartveli voltaram suas atenções para um novo projeto de caça, conhecido internamente como “Advanced Pursuit Design No. 10” (AP-10) e designado pelos militares como XP-47. Este projeto previa o uso de um motor em linha Allison V-1710, refrigerado a água. Contudo, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos passou a exigir a inclusão de equipamentos adicionais, como armamento mais pesado, tanques de combustível auto-selantes, blindagem para o piloto e cabides subalares, entre outros. Essas demandas aumentaram significativamente o peso da aeronave, comprometendo seu desempenho. Por volta de maio de 1940, o XP-47 corria o risco de ser cancelado. Determinada a reverter esse cenário, a equipe da Seversky Aircraft Company trabalhou intensamente e, em tempo recorde, apresentou uma proposta revisada, designada como XP-47A. Infelizmente, mesmo com as melhorias, a aeronave ainda não atendia aos parâmetros mínimos necessários para competir com os caças alemães, resultando em sua rejeição pelos militares. Não se dando por vencida, a equipe de engenheiros retornou à prancheta e desenvolveu um projeto completamente novo, que recebeu a designação XP-47B. Essa aeronave representava uma evolução significativa em relação às propostas anteriores, marcando um novo capítulo na busca da empresa por um caça capaz de atender às exigências do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC).
A proposta do XP-47B, apresentada pela Seversky Aircraft Company, impressionou profundamente os oficiais do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). O entusiasmo foi tamanho que, de maneira notável, um contrato para a produção de oitenta aeronaves foi formalizado antes mesmo da conclusão dos ensaios em voo do protótipo. Contudo, o início das hostilidades na Europa revelou que os caças Republic P-43 e P-44, embora inovadores, apresentavam desempenho inferior aos modernos Messerschmitt Bf-109 da Força Aérea Alemã (Luftwaffe). Essa constatação levou ao cancelamento do contrato, que já se encontrava em fase inicial de execução. Determinada a superar esse revés, a equipe da Seversky Aircraft Company trabalhou incansavelmente e, em tempo recorde, desenvolveu uma proposta aprimorada, designada XP-47A. Apesar dos esforços, essa nova aeronave ainda não alcançava os padrões necessários para competir com o caça alemão, resultando em sua rejeição pelos militares. Correndo contra o tempo, os engenheiros, liderados por Alexander Kartveli, retornaram à prancheta e conceberam um projeto inteiramente novo, o XP-47B, que representava um avanço significativo em relação às propostas anteriores. O XP-47B destacava-se por sua construção robusta, inteiramente metálica, exceto pelas superfícies de controle da cauda, que eram revestidas de tecido. Suas asas elípticas, com um bordo de ataque ligeiramente deslocado para trás, conferiam-lhe uma silhueta distinta. A aeronave contava com uma cabine espaçosa, equipada com blindagem para proteção do piloto e um assento confortável, além de tanques de combustível auto-selantes, que aumentavam a segurança. O coração do XP-47B era o motor Pratt & Whitney R-2800 Double Wasp, um confiável propulsor de dezoito cilindros que gerava 2.000 cavalos de potência (1.500 kW), acoplado a um turbocompressor. Essa configuração permitia alcançar uma velocidade máxima superior a 400 milhas por hora e um teto operacional próximo de 40.000 pés. As dimensões avantajadas do caça, descritas por Kartveli como “um dinossauro, mas um dinossauro bem proporcionado”, eram diretamente influenciadas pelo potente conjunto propulsor. A proposta do XP-47B conquistou o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), resultando na aprovação para a construção de um protótipo. Em 6 de maio de 1941, o XP-47B realizou seu primeiro voo, pilotado por Lowry P. Brabham. O pouso ocorreu sem incidentes, com flaps, freios e trem de pouso funcionando conforme projetado. Após o voo, a aeronave taxiou até o local onde estavam os oficiais do exército que ficaram impressionados com suas características inovadoras e dimensões imponentes. O protótipo permaneceu na base aérea de Mitchel Field por aproximadamente um mês, sendo submetido a uma série de voos de ensaio. Esses testes revelaram falhas técnicas e limitações de desempenho que demandariam ajustes, mas o XP-47B já demonstrava um potencial promissor, marcando um momento pivotal na trajetória da Seversky Aircraft Company na busca por um caça capaz de atender às exigências da aviação militar da época.

Soluções seriam então implementadas, com o XP-47B novamente sendo submetido a um programa de ensaios em voo, com novas alterações sendo demandadas, com este processo resultando no atraso da formatação final da versão produção. Um primeiro contrato celebrado com o governo norte-americano, prevendo a aquisição de trezentas células, com a primeira aeronave de pré-produção sendo complementada em novembro de 1941, um mês antes dos Estados Unidos se envolver no conflito contra a Alemanha e o Japão. Este momento aceleraria o desenvolvimento da aeronave, com uma versão atualizada e mais leve do motor Pratt & Whitney R-2800 foi instalada nas primeiras aeronaves P-47B de série a serem produzidas, proporcionando a aeronave uma velocidade ainda melhor em altitude e uma pequena melhora na taxa de subida. No início de junho de 1942, o primeiro lote de trinta e sete células deste modelo seria designado para equipar o 56º Grupo de Caça, sendo destacados imediatamente para o 63º Esquadrão de Caça estacionado no aeródromo de Farmingdale. Gradualmente seria iniciado o processo de transição para este novo vetor, com o P-47B se mostrando uma aeronave notadamente robusta e resistente, com vários acidentes operacionais não resultado em perdas fatais, fato este que não ocorreria se o vetor em questão fossem os Bell P-39 e Curtiss P-40. Apesar desta grande vantagem, intercorrências passariam a ser registradas em seu processo de manutenção, com as equipes de solo logo passando a criticar o processo de troca de motores, elencando uma série de dificuldades que culminavam em constantes atrasos, prejudicando assim os índices de disponibilidade. O fabricante responderia a esta demanda com a introdução da primeira grande mudança do projeto da fuselagem, passando a receber uma extensão de oito polegadas na parte frontal. Este novo design permitiria empregar com sucesso o processo de Troca Rápida de Motor (QEC), reduzindo em 60% o tempo necessário para esta operação. Este alongamento na fuselagem não só ajudaria na manutenção, mas também resultaria na melhoria do manuseio e a manobrabilidade. Neste momento nasceria a versão P-47C, que além desta extensão sem eu cumprimento, passaria a contar com reforços em todas as superfícies de controle de metal, mastro de rádio vertical curto, passando ainda a ser dotado com um sistema regulador para o turbo compressor. Neste contexto um novo contrato seria celebrando prevendo a aquisição de trezentas células, que acabariam sendo divididas entre as versões P-47C-1 e P-47C-2, com esta última passando a contar com um ponto duro sob a linha central para transporte de bombas ou tanques suplementares. Em novembro do mesmo ano uma nova variante, o P-47C-5 que introduziria o novo motor Pratt & Whitney R-2800-59 equipado com sistema de injeção de água-metanol para assim proporcionar um aumento na potência final.
Em fins de 1942, no Dia de Ação de Graças o comando do 56º Grupo de Caça seria notificado sobre sua mobilização e futuro envio para a Grã-Bretanha a fim que comporem a estrutura da Oitava Força Aérea Americana, neste contexto preparativo seriam efetivados visando esta transferência, envolvendo o total de aeronaves e pessoal. Em 3 de janeiro de 1943, o 56º Grupo de Caça embarcaria no transatlântico HMS Queen Elizabeth para a viagem através do Atlântico, e para a surpresa de seu comandante o Major Hub Zemke, seus Republic P-47B não seriam transladados para o front de batalha Europeu, permanecendo nos Estados Unidos. Ao chegarem sem eu destino final, seus pilotos teriam uma grata surpresa a se deparar com novos e reluzentes Republic P-47C-5 Thunderbolt, mais velozes e capazes que as versões anteriores à disposição do grupo. Depois de instalados e orientados os primeiros Thunderbolts receberiam seu batismo de fogo no dia em 10 de março de 1943, quando um grupo de quatorze aeronaves foram empregadas em uma varredura de caça sobre a França, já a primeira vitória ocorreria em 15 de abril, quando o Major Don Blakeslee abateu um Focke-Wulf FW 190. As experiências colhidas em batalha neste período inicial, levariam a novos refinamentos de projeto, culminando na versão Republic P-47D Thunderbolt, que logo seria liberada para a produção em série. As primeiras aeronaves produzidas, eram em sua essência muito semelhantes ao P-47C, sendo entregues dez células que receberiam a designação de P-47D-1-RA. Quanto as células remanescentes do modelo Republic P-47B estacionadas nos Estados Unidos, estas seriam transferidas a unidade de caça dispostas no continente norte-americano. Com o passar dos meses mediante ao crescimento da produção de aeronaves combate, os veteranos P-47B acabariam sendo transferidos as unidades de reserva do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com muitos destes recebendo a classificação de "Restrict - R" (o “R” indicando ser uma aeronave “war-weary” e não deveria ser usada operacionalmente). Estas aeronaves seriam todas baixadas da frota no início do ano de 1945, sendo transferidas a nações aliadas ou sucateadas.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou esses temores, especialmente diante da possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar (atual Senegal). Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico vulnerável devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que, após a campanha alemã no Norte da África iniciada em 1940, figurava nos planos expansionistas do Terceiro Reich. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, incluindo a ocupação da Indochina em 1940 e das Filipinas em 1942, transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, utilizada em pneus, vedações e outros componentes críticos para a indústria bélica. A costa nordeste brasileira, particularmente nas cidades de Recife e Natal, adquiriu relevância estratégica por ser o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, facilitando o translado aéreo de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África, como a Operação Tocha de novembro de 1942.  Diante dessas ameaças, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos, resultando em uma série de acordos estratégicos. Um dos mais significativos foi a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), promulgado pelo Congresso americano em março de 1941. Esse programa destinou ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados para 2025), voltada para a aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e navios. O objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, na época, enfrentavam obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional militar. Os recursos do Lend-Lease foram essenciais para capacitar o Brasil a enfrentar as ameaças representadas pelos submarinos alemães (U-boats) da Kriegsmarine e italianos da Regia Marina, que intensificaram ataques contra a navegação civil e militar ao longo do extenso litoral brasileiro. Entre 1942 e 1943, cerca de 20 navios mercantes brasileiros foram afundados, impactando o transporte de matérias-primas cruciais para os Estados Unidos. A modernização naval e aérea, impulsionada pelo programa, permitiu ao Brasil desempenhar um papel ativo na defesa do Atlântico Sul e na proteção das rotas marítimas aliadas. Neste período a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida em 20 de janeiro de 1941, enfrentava desafios significativos devido à obsolescência de sua frota. Composta por aeronaves ultrapassadas, a Aeronáutica carecia de equipamentos modernos, incluindo aviões de treinamento básico e avançado, essenciais para formar pilotos militares em quantidade e qualidade suficientes para atender às demandas de um conflito global. 

O Brasil, alinhado aos Aliados, assumiu um papel estratégico na defesa do Atlântico Sul, protegendo comboios marítimos, a necessidade de modernização levou à formulação de um programa de reequipamento em fases, priorizando aeronaves de treinamento para formar pilotos e, em seguida, aviões de patrulha para proteger comboios, e por fim aeronaves de caça e de transporte.  A partir de 1942, com o fortalecimento das relações entre Brasil e Estados Unidos, o país começou a receber centenas de aeronaves americanas de alta performance, como os caças Curtiss P-40 Warhawk, os bombardeiros Douglas A-20 Havoc e os treinadores North American T-6 Texan. Essas aeronaves, equipadas com tecnologias avançadas, representavam um salto significativo em relação aos modelos herdados da Aviação Naval e da Aviação Militar do Exército, exigindo uma reformulação completa da doutrina operacional da recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), instituída em 20 de janeiro de 1941 pelo Decreto-Lei nº 2.961. A chegada dessas aeronaves, embora crucial para modernizar a arma aérea brasileira, trouxe desafios complexos. Além de operar essas máquinas sofisticadas, era essencial garantir sua manutenção em condições operacionais, especialmente em um contexto de guerra. Isso demandava a capacitação de mecânicos, técnicos, oficiais e pilotos, capazes de lidar com sistemas avançados de propulsão, hidráulica, eletrônica e armamentos, que contrastavam com a simplicidade das aeronaves anteriormente utilizadas. Nesse cenário, a criação de instituições de ensino técnico especializadas tornou-se uma prioridade estratégica para o Ministério da Aeronáutica (MAer), liderado pelo Ministro Joaquim Pedro Salgado Filho, figura central na modernização da aviação brasileira. Para atender a essa demanda, o Ministério da Aeronáutica firmou, em 29 de setembro de 1943, um acordo histórico com o governo dos Estados Unidos, representado por John Paul Riddle, fundador da prestigiada Embry-Riddle School of Aviation, com sede em Miami, Flórida. Esse termo de ajuste, aprovado pelo Presidente Getúlio Vargas por meio do Decreto-Lei nº 5.983, de 10 de dezembro de 1943, estabeleceu a criação da Escola Técnica de Aviação (ETAv) no Brasil, inspirada no modelo da Embry-Riddle. A instituição, destinada à formação de técnicos especializados em operação e manutenção de aeronaves, foi instalada em uma ampla área na Rua Visconde de Parnaíba, nº 1.316, no bairro da Mooca, em São Paulo, um local estratégico pela sua proximidade com o crescente polo industrial da cidade. A escolha de São Paulo refletia a visão de posicionar a cidade como um centro de excelência aeronáutica, aproveitando sua infraestrutura e a efervescência econômica da época. A parceria com os Estados Unidos, consolidada no contexto do Lend-Lease Act e da aliança militar durante a Segunda Guerra Mundial, garantia não apenas o fornecimento de aeronaves, mas também o compartilhamento de conhecimentos técnicos e metodologias de ensino avançadas. A Embry-Riddle, reconhecida por sua expertise em formação aeronáutica, serviu como referência para estruturar os currículos e as práticas pedagógicas da ETA, assegurando um padrão de qualidade compatível com as demandas da aviação moderna.
Na década de 1940, a aviação exercia um fascínio quase mítico sobre os jovens brasileiros. A imagem de pilotos enfrentando combates aéreos, a chegada de aeronaves americanas de design arrojado e as façanhas da aviação aliada na guerra capturavam a imaginação popular, inspirando uma geração a buscar carreiras no setor aeronáutico. Esse entusiasmo traduziu-se em uma adesão expressiva aos cursos da Escola Técnica de Aviação (ETAv). No seu primeiro ano de funcionamento, em 1944, a escola matriculou cerca de quatro mil alunos, um número impressionante que refletia tanto o interesse pela aviação quanto a percepção de oportunidades profissionais em um campo em rápida expansão. A instituição  oferecia uma ampla gama de cursos técnicos, abrangendo especialidades essenciais para a manutenção e operação de aeronaves modernas. Entre as áreas de formação estavam: Sistemas hidráulicos: Capacitação para manutenção de sistemas de controle de voo e trem de pouso. Hélices: Técnicas para reparo e ajuste de hélices de passo variável. Instrumentos: Calibração e manutenção de instrumentos de navegação e voo. Motores: Diagnóstico e reparo de motores a pistão. Manutenção e reparação de aeronaves: Técnicas gerais de inspeção e reparo estrutural. Operação de Link Trainer: Treinamento em simuladores de voo para formação de pilotos. Meteorologia: Fundamentos para previsão de condições climáticas em operações aéreas. Manutenção de paraquedas: Inspeção e reparo de equipamentos de segurança. Sistemas de rádio: Operação e manutenção de equipamentos de comunicação. Sistemas elétricos: Diagnóstico de circuitos elétricos de aeronaves. Chapas e metal: Técnicas de fabricação e reparo de componentes metálicos. Máquinas e ferramentas: Uso de equipamentos especializados para manutenção aeronáutica. Viaturas motorizadas: Manutenção de veículos de apoio em aeródromos. Além de um currículo teórico robusto, a organização reconhecia a importância de uma formação prática intensiva, que permitisse aos alunos aplicar diretamente os conhecimentos adquiridos, trabalhando com as mãos — ou, como dizia o jargão popular, "pôr a mão na graxa". Para isso, era imprescindível contar com uma estrutura operacional composta por aeronaves reais, representativas dos modelos em uso pela Força Aérea Brasileira (FAB), que servissem como laboratórios vivos para o treinamento de mecânicos, técnicos e oficiais. A aquisição dessas aeronaves foi viabilizada por meio de um aditivo ao Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), prevendo  cessão aeronaves classificadas como "Restrict - R" (Restrito), ou seja, células no limiar de sua vida útil, inadequadas para operações de combate, mas ideais para instrução em solo. Para complementar o currículo teórico de ensino, a Escola Técnica de Aviação (ETAv), deveria contar ainda com uma estrutura operacional para a aplicação de aulas práticas, onde os alunos literalmente deveriam pôr a "mão na graxa", com está devendo ser composta por aeronaves de diversos modelos e aplicações. Esta necessidade seria contemplada nos aditivos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), o qual apregoava a cessão de aeronaves classificadas como "Restrict - R" (o “R” indicando ser uma aeronave “war-weary” e não deveria ser usada operacionalmente), com estas sendo destinadas apenas a tarefas de instrução em solo. 

Neste contexto passariam a ser recebidas uma grande variedade de aeronaves de caça, transporte, bombardeio e patrulha de origem norte-americana, modelos estes que se encontravam em serviço junto a Força Aérea Brasileira naquele momento. Estas aeronaves seriam destinadas a ocupar uma grande área externa junto ao Hipódromo da Mooca, local este que se encontrava próxima a sede da Escola Técnica de Aviação (ETAv) no mesmo bairro. Seriam então incorporados a escola um Lockheed B-34 Ventura; dois North American B-25 Mitchel; dois Curtiss P-40E Kittyhawk; um Douglas A-20K Havoc; um Douglas B-18 Bolo; um Vultee A-35B Vengeance e um Republic P-47B Thunderbolt.  Esta última aeronave, segundos registros, foi retirada de unidade de reserva da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), baseada no meio oeste do país, e pertencia a subversão P-47Be-RE Razorback. Apesar de se tratar de uma aeronave relativamente nova de produção recente, esta célula recentemente havia recebido a classificação de RP-47B-RE, indicando seu uso restrito "Restrict - R", com este status operacional concedido, muito em função de um prematuro desgaste estrutural, resultante de seu intenso emprego em tarefas de treinamento. Esta aeronave portava originalmente a matrícula “USAAF 41-6037”, pertencente a reserva estratégica da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), e após ser revisada e preparada para voo, seria entregue para translado ao Brasil para Segundo Tenente Aviador Moacyr Domingues. O percurso envolveria como ponto de partida a Florida com sobrevoo na América Central continental, norte do Brasil, sendo recebida na Base Aérea de Natal (RN) em 16 de outubro de 1944. A vultosa aeronave despertaria a atenção e interesse do todos ali, seguindo viagem somente no 14 dezembro até o Campo dos Afonsos na cidade do Rio de Janeiro, alçando voo no dia seguinte até seu destino, sendo conduzido agora Primeiro Tenente Aviador João Eduardo Magalhães Motta até a Base Aérea de Cumbica, na cidade de Guarulhos. Naquele momento, o Republic RP-47B-RE Razorback, representava o modelo de caça bombardeiro mais moderno e potente existente em todo território brasileiro, e passava assim a despertar na maioria dos pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB), a curiosidade e desejo de domar esta espetacular aeronave de combate. Especula-se então que alguns oficiais lotados naquela organização militar lograriam êxito em realizar voos (sem registro oficial) nas imediações da Base Aérea de Cumbica, experimentando assim uma aeronave de combate de categoria superior, que estava sendo empregada pelo 1º Grupo de Aviação Caça (1º GpAvCa), no teatro de operações na Itália.  No entanto logo em janeiro do ano de 1945, esta aeronave registraria seu último voo, tendo como destino o aeroporto do Campo de Marte na cidade de São Paulo, onde seria desmontado pelo pessoal técnico do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP) e transportado por via terrestre até as instalações da Escola Técnica de Aviação (ETAv) no bairro da Mooca. 
Após ser rapidamente montado, seria incorporado ao acervo do 1º Grupo Misto de Instrução (1º GpMI), onde em conjunto com mais aeronaves dedicadas a tarefas de instrução em solo, iriam complementar o currículo teórico da escola através de aulas práticas em solo para os futuros sargentos especialistas da Aeronáutica. Além de abordar as funcionalidades normais de uma grande aeronave de caça bombardeiro e seus respectivos processos de manutenção preventiva e corretiva, esta célula seria ainda empregada em tarefas voltadas ao ensino de reparo de sistemas elétricos, hidráulicos e grupo propulsor, com seu motor Pratt & Whitney R-2800-59, sendo desmontado e remontado constantemente. Não sabe ao certo em que ano, o Republic RP-47B-RE Razorback recebeu o nome de batismo de  "Teco-Teco", com esta marcação aplicada com tinta no nariz da aeronave. Fotos de época retratam também, que posteriormente esta aeronave receberia uma hélice tripá, provavelmente oriunda de um bombardeiro médio North American B-25B Mitchel, denotando neste momento,  que o motor Pratt & Whitney R-2800-59 não era mais mantido em condições operacionais. No início do ano de 1953, em atendimento a um ambicioso processo de reorganização estrutural e operacional o Ministério da Aeronáutica (MAer) por meio de seu comando geral, determinaria por motivos de redução de custo e otimização, a fusão dos recursos materiais e do pessoal da Escola Técnica de Aviação (ETAv) e da Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer), criando assim uma organização de ensino de grande porte que pudesse atender as crescentes demandas por pessoal técnico especializado da Força Aérea Brasileira. Em função de necessidade de uma grande área útil, definir-se-ia sua localização no interior do estado de São Paulo, com suas novas e modernas instalações sendo edificadas na cidade de Guaratinguetá no Vale do Paraíba. Seria decidida também a transferência de grande parte do acervo de aeronaves de instrução em solo para esta nova localidade. Assim em junho do mesmo ano este processo teria inicio com as aeronaves, incluindo o Republic RP-47B-RE Razorback , sendo desmontadas e transportadas em caminhões até Guaratinguetá. Após sua montagem esta aeronave receberia a matrícula “FAB 4103”, continuando a servir como ferramenta para aplicação das aulas práticas destinadas a formação dos futuros sargentos especialistas da Aeronáutica. Em meados da década de 1960, novas aeronaves com motores a jato e turboélices passavam a ser incorporadas a Força Aérea Brasileira, e neste momento o ensino técnico iria iniciar um grande ciclo de transformação e evolução, ficando claro que os motores a pistão logo seriam coisa do passado. Neste contexto no ano de 1964, seria decidido pela direção da escola, desativar uma grande parcela da frota das aeronaves de instrução em solo, entre estes o Republic RP-47B-RE Razoarback. “FAB 4103”. Esta célula seria vendida como sucata para aproveitamento de sua matéria prima em 1966. Curiosamente esta aeronave seria o primeiro P-47 Thunderbolt a ser recebido no país e também o último a ser desativado na Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Republic RP-47B-RE Thunderbolt FAB “4103”, empregamos o excelente kit da Tamiya na escala 1/48 modelo que prima pelo excelente nível de detalhe. Apesar deste modelo indicar a versão P-47D Razor Back, o utilizamos por não existir no momento da montagem a versão P-47B, somente a partir do ano de 2023 seria lançado pela Dora Wings um kit deste modelo. Fizemos uso de decais oriundos de diversos sets confeccionados pela FCM Decais em conjunto com o set original do modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), tendo em vista que esta aeronave foi retirada de uma unidade operacional de reserva, quando do seu recebimento no Brasil em outubro de 1944. Este padrão seria mantido com poucas alterações, como as aplicadas no cowling do motor. Este esquema seria mantido até a desativação da aeronave em 1964.

Bibliografia :
- O Trator Voador por Jackson Flores Junior- Revista Força Aérea Nº 2
- P-47 Thunderbolt - www.cradleofaviation.org/
- P-47 Thunderbolt - Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Republic_P-47_Thunderbolt
- Aeronaves Militares Brasileiras – 1915 á 2016 por Jackson Flores Jr