Dodge WC-53 Carryall (TP)

História e Desenvolvimento.
No início do século XX, em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge embarcaram em um ambicioso empreendimento: criar um automóvel que se destacasse dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Inicialmente, a produção era quase artesanal, com a fabricação de poucas dezenas de veículos. Contudo, a partir de 1914, esse processo evoluiu para uma produção em série, marcando o nascimento da Dodge Brothers Motor Company. Rapidamente, a empresa conquistou prestígio no competitivo mercado de automóveis de passeio dos Estados Unidos, alcançando uma significativa participação nesse setor. O êxito comercial proporcionou à Dodge recursos financeiros que viabilizaram, na década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado comercial civil. A entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial levaria a montadora a fornecer milhares de veículos militarizados a Força Expedicionária Americana (AEF), se destacando o Dodge Light Repair Truck e a Dodge Ambulance. Infelizmente, a trajetória dos irmãos fundadores foi interrompida por seu falecimento precoce (ambos no ano de 1920), e neste momento as viúvas dos irmãos, Matilda Dodge e Anna Dodge, assumiram o controle acionário da empresa. No entanto, sem a liderança direta dos fundadores, a Dodge Brothers Motor Company foi vendida em 1928 para a Chrysler Corporation, marcando o início de uma nova fase sob o conglomerado. Os primeiros modelos utilitários lançados no mercado norte-americano foram desenvolvidos com base nas plataformas dos veículos de passageiros da Chrysler, o que reduziu os custos de projeto e produção. A utilização compartilhada de ferramental e processos de manufatura resultou em preços competitivos, conferindo à Dodge uma forte vantagem comercial. Assim como os automóveis de passeio, os novos veículos utilitários da Dodge alcançaram expressivo sucesso de vendas no mercado interno, consolidando a reputação da marca como sinônimo de robustez e versatilidade, especialmente em atividades pesadas e em ambientes fora de estrada. O crescimento contínuo das vendas gerou recursos adicionais, permitindo que a empresa planejasse projetos ainda mais ambiciosos a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global começou a se tornar preocupante, especialmente na Europa, com a ascensão do Partido Nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto gerou inquietação em diversas nações, incluindo os Estados Unidos, que, embora adotassem uma postura de neutralidade, permaneciam atentos a possíveis ameaças futuras. Diante da possibilidade de uma corrida armamentista global, a diretoria da Dodge Motor Company vislumbrou uma oportunidade estratégica no mercado militar. Assim, em 1934, a empresa passou a investir recursos próprios no desenvolvimento de projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte, aproveitando a expertise adquirida em projetos anteriores para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1937, a Dodge Brothers Motor Company, já integrada à Chrysler Corporation, alcançou um marco significativo ao apresentar ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seu primeiro modelo experimental de caminhão militar: o K-39-X-4, um veículo de 1 ½ toneladas equipado com tração integral nas quatro rodas. Submetido a rigorosos testes de campo, o protótipo impressionou os militares por sua robustez e desempenho, culminando na assinatura de um contrato para a produção de aproximadamente 800 unidades. Nos meses subsequentes, as primeiras entregas foram realizadas, e a confiança depositada no modelo levou à celebração de novos contratos, desta vez envolvendo os caminhões Dodge VC-1 e VC-6, de ½ tonelada, que se tornariam peças-chave no portfólio da empresa. Paralelamente, a Dodge lançou versões civis desses veículos no mercado norte-americano, que alcançaram notável sucesso comercial. Esse êxito incentivou a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan. Projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios, essa fábrica marcou um avanço estratégico na capacidade produtiva da companhia. No ano seguinte, em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente renovada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e pela designação “Job-Rated”, que prometia atender às mais diversas demandas de trabalho, consolidando a reputação da marca por versatilidade e inovação. Enquanto isso, o cenário geopolítico global tornava-se cada vez mais tenso, com ameaças emergindo na Europa e no Pacífico. Diante da necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas norte-americanas, o Exército dos Estados Unidos definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga: ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ toneladas, 4 toneladas e 7 ½ toneladas. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando de Intendência do Exército (US Army Quartermaster Corps) aprovou três modelos de caminhões comerciais com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 ½ tonelada 4x4, o GMC de 2 ½ toneladas 6x6 e o Mack de ½ tonelada 6x6. Nesse contexto, a Dodge-Fargo Division da Chrysler assegurou um contrato significativo no verão de 1940 para a produção de 14.000 unidades do modelo de ½ tonelada com tração integral 4x4, designado como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro do mesmo ano, e, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o modelo foi redesignado como série WC (Weapons Carriers). A letra “W” indicava o ano de início da produção (1941), enquanto “C” representava a classificação de ½ tonelada. Posteriormente, o código “C” foi estendido para modelos de ¾ tonelada e 1 ½ tonelada 6x6, com o primeiro veículo dessa família sendo o G-505 WC de ½ tonelada.
Ao longo de 1940, a Dodge Motor Company consolidou sua relevância no cenário militar ao produzir mais de seis mil caminhões leves com tração integral 4x4, pertencentes à série Dodge WC de ½ tonelada. Esses veículos, encomendados por meio de dois contratos firmados com o governo norte-americano, incluíam os modelos VF-401 a VF-407, equipados com a tecnologia de motor T-203 (Dodge G-621). Tratavam-se de evoluções dos modelos experimentais pré-guerra, como o RF-40 (-X) e o TF-40 (-X) (ou T-200/T-201), construídos sobre um chassi com a mesma distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros). Esses novos caminhões WC substituíram os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada, também pertencentes à série original G-505, no arsenal do Exército dos Estados Unidos (US Army). Entre o final de 1940 e o início de 1942, a Dodge, em colaboração com a Fargo Motor Car Company, produziu um total de 82.000 veículos de ½ tonelada com tração 4x4, atendendo a diversos contratos celebrados com o Departamento de Guerra dos Estados Unidos. Os modelos WC-1 e WC-50, pertencentes à classe de ½ tonelada, destacavam-se pela intercambialidade de 80% de seus componentes com os novos modelos de ¾ tonelada lançados posteriormente, uma característica que otimizava a logística e a manutenção em campo. Em 1942, a Dodge atualizou sua linha de caminhões, dividindo-a em duas categorias principais: o modelo G-502, de ¾ tonelada, com tração integral 4x4 e chassi mais curto, e o G-507, de ½ tonelada, com tração 6x6, projetado para transporte de carga e tropas. Apesar das melhorias no design, a empresa manteve, de forma estratégica, a nomenclatura da família WC, o que gerava certa confusão. O WC-51 era equipado com um motor de seis cilindros flathead (T-214), com 3.800 cm³ e aproximadamente 92 cavalos de potência. Sua baixa taxa de compressão proporcionava torque robusto, ideal para operações fora de estrada, embora resultasse em um consumo de combustível relativamente elevado .  A família Dodge WC destacou-se pela impressionante versatilidade, abrangendo 38 variantes que incluíam transporte de tropas, carga, ambulâncias, veículos de comando, estações móveis de comunicações, unidades equipadas com canhões de 57 mm, oficinas móveis e veículos de reconhecimento, entre outros. Muitas dessas versões apresentavam cabines abertas com cobertura de lona, adaptadas às necessidades específicas do campo de batalha. Entre estas seria decidido criar uma versão com carroceria totalmente fechada, sendo destinada ao transporte de comandantes próximo a frente de batalha, objetivando assim complementar o emprego dos carros oficiais em serviço que eram derivados de modelos comerciais. Visando novamente a intercambialidade, seria decidido como ponto de partida fazer uso da plataforma do Dodge WC-51, empregando principalmente seus chassis e conjunto mecânico de transmissão e suspensão. A carroceria fechada viria de um modelo comercial da montadora lançado no mercado no ano de 1939, aproveitando assim toda uma linha de ferramental já existente nas linhas de produção.

O Dodge T-214 WC-53, projetado para atender às exigentes demandas das operações militares, incorporava o motor T-214 SV, um modelo convencional de cabeçote plano (flathead) com válvulas laterais, produzido até a década de 1960. Com seis cilindros dispostos em V, uma cilindrada de 3.800 cm³ e potência de 105 cavalos, o motor apresentava uma baixa taxa de compressão, que lhe conferia um torque robusto, ideal para operações fora de estrada em terrenos desafiadores. Contudo, essa configuração resultava em um consumo elevado de combustível, um desafio em operações prolongadas, embora compensado por sua confiabilidade em condições adversas. A carroceria do WC-53, estampada em aço pela Wayne Body Works com base em um design de origem comercial, destacava-se por suas quatro amplas janelas laterais pivotantes, que proporcionavam excelente visibilidade aos ocupantes. Desenvolvido principalmente para o transporte de oficiais de alta patente, o veículo foi projetado com o objetivo de oferecer o maior conforto possível dentro de sua categoria. Seu interior contava com assentos dianteiros dobráveis, facilitando o acesso aos bancos traseiros, que eram mais confortáveis, e otimizava o espaço interno com a fixação externa do estepe, posicionado no lado esquerdo, próximo à porta do motorista. Curiosamente, embora a porta do condutor fosse funcional, ela não podia ser aberta, exigindo que o motorista utilizasse a porta do passageiro para entrar no veículo. Na parte traseira, duas portas de abertura lateral, inspiradas no modelo comercial tipo van, simplificavam o acesso à carga e a manutenção do sistema de rádio, reforçando a versatilidade do veículo. O primeiro protótipo do Dodge T-214 WC-53 foi apresentado ao Quartel-General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) em dezembro de 1940. Submetido a um rigoroso programa de testes de campo, o veículo impressionou os oficiais avaliadores por sua robustez, funcionalidade e capacidade de atender às necessidades operacionais. Com a homologação formalizada, o modelo, agora oficialmente designado Dodge T-214 WC-53, recebeu seu primeiro contrato de produção em abril de 1941. A fabricação em série foi iniciada em setembro do mesmo ano nas linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, em Detroit, Michigan, marcando o início de uma trajetória que consolidaria o WC-53 como um pilar logístico essencial para as forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. Os primeiros carros de série passariam a ser entregues as primeiras unidades operativas do Exército dos Estados Unidos (US Army) dispostas no território continental, em outubro do mesmo ano, com os primeiros veículos destinados a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) logo em seguida. Em uso operacional o modelo receberia inúmeros elogios por parte de seus usuários, muito em função de seu conforto não só em vias pavimentadas como também em ambientes fora de estrada principalmente no inverno, superando em muito neste aspecto as versões de comando Dodge WC-56 e WC-57 em uso até então pelos oficiais comandantes. O modelo também seria adquirido em larga escala pelo comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em bases áreas para o transporte de oficiais e pilotos.
O Dodge T-214 WC-53 enfrentou seu batismo de fogo em 7 de dezembro de 1941, durante o ataque japonês às bases militares no arquipélago do Havaí, quando dezenas desses veículos foram alvejados em Pearl Harbor. Apesar das adversidades, sua robustez e versatilidade se destacaram nas frentes de batalha da Segunda Guerra Mundial. Inicialmente projetado para o transporte de oficiais de alta patente, o WC-53 revelou-se muito mais do que um simples veículo de comando. Ele passou a desempenhar papéis estratégicos, como posto de rádio móvel para coordenar operações e sala de mapas na linha de frente, oferecendo aos comandantes uma plataforma confiável para a tomada de decisões em cenários de combate. Durante a invasão da Europa, em junho de 1944, alguns desses veículos foram empregados em missões de reconhecimento no rigoroso inverno europeu, demonstrando notável capacidade de adaptação às condições mais desafiadoras. Até agosto de 1945, a produção do Dodge WC-53 atingiu a marca de 8.400 unidades, um testemunho de sua eficácia e do custo-benefício que oferecia tanto em termos de construção quanto de operação. Sua resistência em campo, aliada à simplicidade mecânica, garantiu um desempenho excepcional, consolidando-o como um pilar logístico das forças aliadas. No âmbito do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), um número limitado desses veículos foi fornecido a nações aliadas, incluindo a União Soviética, o Brasil, a Austrália e a Grã-Bretanha, fortalecendo a cooperação militar durante o conflito. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Dodge WC-53 continuou a desempenhar um papel relevante, sendo empregado durante a Guerra da Coreia (1950–1953) em missões de comando e apoio logístico. A grande quantidade de veículos produzidos assegurou sua longevidade, com muitas unidades mantidas em serviço até o início da década de 1960. À medida que modelos mais modernos, como o Dodge M-37, começaram a substituí-los, os excedentes do WC-53, muitos em excelente estado de conservação, foram incorporados a programas de assistência militar. Por meio desses programas, os Estados Unidos cederam essas viaturas a nações alinhadas com seus objetivos geopolíticos na Guerra Fria, incluindo França, Espanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Alemanha Ocidental, Itália, Japão, Grécia, Irã, Cuba, Portugal, África do Sul, Israel e Suíça. Em alguns desses países, o WC-53 permaneceu em serviço operacional até o início da década de 1980, testemunhando a durabilidade e o impacto duradouro desse veículo. O Dodge WC-53 não foi apenas uma ferramenta de guerra, mas um símbolo de resiliência e inovação, que serviu com distinção em momentos cruciais da história. Sua capacidade de operar em condições extremas e sua versatilidade em diversas funções reforçam o legado de dedicação dos militares que o utilizaram, deixando uma marca indelével na história militar global.

Emprego na Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Dentre os equipamentos fornecidos, os utilitários Dodge WC-51 e WC-52, com tração integral 4x4, começaram a ser entregues ao Brasil no final de 1942. Esse atraso inicial decorreu da prioridade dada às forças armadas norte-americanas, que demandavam grandes quantidades desses veículos para os esforços de guerra. Quase a totalidade destes veículos era representado por viaturas recém produzidas das linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, e Chrysler Corporation.   Entre os veículos do lote inicial, destacavam-se 56 carros de comando Dodge T-214 WC-53, destinados a reforçar a capacidade logística e operacional do país. Recebidos no Rio de Janeiro, esses veículos foram distribuídos aos quartéis-generais do Exército Brasileiro nas regiões Sudeste e Nordeste, com pelo menos três unidades alocadas ao recém-criado Ministério da Aeronáutica (MAer). Essas viaturas foram destinadas às Base Aérea dos Afonsos e Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, para o transporte de oficiais de alta patente, desempenhando um papel essencial na coordenação e mobilidade das operações. Os Dodge WC-53 recebidos pertenciam à versão Carryall, caracterizada por um nível de sofisticação incomum para veículos militares da época. Equipados com itens típicos de automóveis de luxo do mercado norte-americano, como sistema de aquecimento para os seis ocupantes, bancos estofados em couro, luzes internas de leitura para consulta de mapas e um sistema elétrico de 12 volts DC, esses veículos ofereciam um conforto excepcional sem comprometer as robustas características off-road da plataforma Dodge, com tração 4x4. Essa combinação de requinte e funcionalidade refletia o compromisso de proporcionar aos oficiais um ambiente adequado para o comando, mesmo em condições adversas. Embora não existam registros oficiais precisos, estima-se que uma pequena fração desses veículos estava equipada com sistemas de rádio de longo alcance SCR-193 ou SCR-245 (Signal Corps Radio), tecnologia de ponta que permitia comunicação entre veículos, fosse em movimento ou estacionados. Esses equipamentos, embora raros, reforçavam a capacidade de coordenação tática, um diferencial estratégico em operações militares. A ausência de dados exatos sobre a quantidade de viaturas com esse pacote de comunicação sublinha os desafios de documentação da época, mas não diminui a relevância desses sistemas para as missões realizadas.
A chegada dos Dodge WC-53, ao lado de outros modelos da família, como os WC-51, WC-52, WC-56 e WC-57, marcou um momento decisivo na modernização das Forças Armadas Brasileiras. Esses veículos foram fundamentais para acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, alinhada aos padrões militares do pós-guerra. A robustez, a versatilidade e o conforto dos WC-53 não apenas atenderam às necessidades operacionais, mas também simbolizaram o avanço técnico e a determinação do Brasil em consolidar sua capacidade militar. Assim como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, seria estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. Para o comando da força expedicionária seria escolhido o general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais, que teria a sua disposição três Regimentos de Infantaria (6º Regimento de Infantaria de Caçapava,  1º Regimento de Infantaria e o 11º Regimento de Infantaria), quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 mm e um de calibre 155 mm); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação (pertencente a Força Aérea Brasileira); um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações). Sua estrutura organizacional incluiria ainda o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música. O contingente estimado a ser enviado, seria da ordem de vinte e cinco mil soldados, e deveria atuar dentro do conceito operacional do Exército dos Estados Unidos (US Army), e desta maneira a Força Expedicionária Brasileira, deveria apresentar alta capacidade de mobilidade, devendo assim ser dotada de muitos veículos de transporte de pessoal de todos os modelos, sendo os mesmos em uso nas forças aliadas naquele momento. Atendendo ao cronograma estabelecido, o primeiro contingente brasileiro desembarcaria na cidade de Nápoles na Itália 16 de julho de 1944,  e após um breve período de treinamento passariam a integrar os efetivos do V Corpo do Exército dos Estados Unidos, sob o comando do general Mark Wayne Clark. Neste momento as forças brasileiras receberiam. Nesta etapa a Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia todo o seu armamento, equipamentos e veículos, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementação do Exército dos Estados Unidos (US Army), baseado na cidade italiana de Tarquinia. 
Porém ao contrário dos demais modelos da família de veículos utilitários desta montadora, os Dodge WC-53 Carryall não seriam fornecidos ao contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Acredita-se que esta decisão foi baseada em experiências de combate na Europa, onde em diversas ocasiões os WC-53 devido ao seu porte e silhueta eram facilmente identificados pelas forças alemães como carros de transporte de oficiais, se tornando assim alvos prioritário no ataque a comboios.  O incrementar destas ocorrências aliadas a informações colhidas pelos serviços de inteligência dos aliados, relegariam ao modelo a partir de 1943 sua operação somente na retaguarda dos fronts na  Europa e no  Pacífico. O recebimento das viaturas restantes Dodge WC-53 Carryall até o final do ano de 1945,  elevariam a frota para mais de cinquenta carros, permitindo assim que estes fossem distribuídos a diversas unidades do Exército Brasileiro, entre estes o comando da Polícia Militar do Exército (que posteriormente receberia a denominação de Polícia do Exército) e a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), no estado do Rio de Janeiro. Em uso nestas unidades estes novos utilitários especiais, passariam a ser empregados em missões de transporte de oficiais internamente ou externamente, transporte de autoridades civis em eventos cívicos e transporte de pequenas cargas e suprimentos, sempre atuando em conjunto com os Dodges WC-56 e WC-57 Comando. Posteriormente os carros remanescentes seriam transferidos para outras unidades a fim de serem empregados em tarefas de posto de comunicação e comando de artilharia de campanha. Sua robustez, facilidade de manutenção (similar a toda família de veículos militares da Dodge) e demais as qualidades operacionais descritas anteriormente lhe garantiram dentro do Exército Brasileiro uma ótima reputação em seus anos de serviço, recebendo em suas fileiras a designação militar padrão nacional de “VTP” Camioneta Viatura de Transporte Pessoal ¾ Ton 4X4.  Acredita-se que pelo menos cinco ou seis carros foram empregados pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) para uso de seus oficiais em serviço nas bases áreas de Fortaleza e Natal (Parnamirin Field), sendo depois transferidos a Força Aérea Brasileira ao término na Segunda Guerra Mundial, no entanto não existem registros documentais ou fotográficos quem comprovem esta informação. Apesar do envelhecimento da frota e a carência de peças de reposição, o modelo se manteve em uso fazendo uso da grande comunalidade de peças entre os demais veículos Dodge existentes na frota permitiram estender a vida útil destes carros no Exército Brasileiro. Durante a segunda metade década de 1960, alguns carros deste modelo foram inclusos nos contratos de modernização junto a empresa Motopeças, procedendo neste processo a troca do motor original a gasolina por um nacional a diesel. A partir de 1965 os Dodge WC-53 Carryal passaram a ser a ser substituídos por modelos semelhantes de fabricação nacional como os Toyota Bandeirante 4X4 e os F-85 & F-106 Rural Willys – Ford, os últimos WC-53 foram desativados somente em 1976, completando 34 de serviço. Atualmente muitos destes exemplares encontram-se conservados em algumas unidades militares ou sob a tutela de entusiastas e colecionadores.  

Em Escala.
Para recriar com autenticidade o veiculo de transporte de pessoal Dodge T-214 WC-53 Carryall, identificado com o número de frota “EB20-1395”, foi utilizado o kit em resina na escala 1/35 produzido pela Accura. Este modelo destaca-se pelo elevado nível de acabamento e pela facilidade de montagem. Não foram necessárias modificações para representar fielmente a versão empregada pelo Exército Brasileiro. A aplicação dos decais, confeccionados pela Electric Products e pertencentes ao conjunto “Exército Brasileiro 1942-1982”, permitiu reproduzir com exatidão as marcações e o esquema de pintura utilizados
O padrão de cores descrito no sistema Federal Standard (FS) reflete o esquema tático de pintura adotado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, projetado para garantir camuflagem e funcionalidade em diversos teatros de operações. No Exército Brasileiro, esse mesmo padrão foi mantido ao longo de todo o período de serviço dos veículos, incluindo o Dodge T-214 WC-53 Carryall. Infelizmente, a ausência de registros fotográficos detalhados dificulta a comprovação precisa da aplicação dos símbolos nacionais brasileiros e dos números de identificação de frota.


Bibliografia : 
- Dodge WC Series – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947

F-8 Gloster Meteor

História e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1930, o Ministério da Aviação Alemão (Reichsluftfahrtministerium), avançava a largos passos em seu programa experimental de aeronaves a jato, com o primeiro protótipo desta inciativa alçando voo em 27 agosto de 1939, quando o Heinkel He 178 um pequeno monomotor monoplace, propulsado por um motor turbojato Heinkel Strahltriebwerk HeS 3, projetado por Hans Joachim Pabst von Ohain alçou voo. Este programa não passaria desapercebido pelo Ministério do Ar da Grã-Bretanha, que desde o ano de 1938, com base em relatórios de inteligência, acompanhava o desenrolar destes importantes experimentos alemães. Neste contexto o projeto de uma turbina a jato de compressor centrífugo modelo Whittle W.1, projetada pelo engenheiro aeronáutico Frank Whittle, ex-oficial da Força Aérea Real (Royal Air Force – RAF), passaria a receber prioridade em seu desenvolvimento. Está programa atravessaria uma série de dificuldades técnicas e políticas, com o projeto sendo considerado finalmente de propriedade governamental, sendo escolhida neste contexto a empresa Gloster Aircraft Company - G.A.C, a missão de se projetar e construir uma aeronave propulsada por aquela turbina. (hoje, essa aeronave seria chamada de “demonstrador de tecnologia”). Construído de acordo com a especificação E.28/39, o Gloster G.40 – denominado “Pioneer” – era pequeno e leve o suficiente para que a turbina, de pequena potência (390Kg de empuxo), pudesse impulsioná-lo. Projetado por George Carter (projetista-chefe), dois protótipos foram construídos e, em pouco mais de um ano, o primeiro – nº de matrícula W4041/G, a letra “G” indicando que a aeronave deveria ser mantida sob guarda armada permanente, ao aterrissar em local diferente de onde estava baseado – estava pronto para os testes de taxiamento no campo da Gloster em Hucclecote, no dia 7 de abril de 1941, sob o comando do piloto-chefe de provas, P.E.G. Sayer. No dia 15 de maio, o “Pioneer” voou pela primeira vez, a partir da base RAF Cranwell, tendo o voo durado 17 minutos e sendo bem-sucedido. Após mais de dez horas de voo, o W4041/G foi tirado do programa de testes à espera da instalação da nova turbina W.1A, de 526Kg de empuxo. Os voos de teste foram retomados a partir de 4 de fevereiro de 1942; após o sexto voo, a nova turbina teve de ser retirada, devido a sobreaquecimento no cone de exaustão. Pouco mais de dez dias após, no segundo voo após a reinstalação da turbina, com um novo cone de exaustão, modificado para suportar as temperaturas mais altas geradas pela W.1A, uma das lâminas da turbina quebrou, causando excessiva vibração na aeronave; Sayer conseguiu, não obstante, aterrissar com o W4041/G. Em 2 de junho, uma pane no controle de admissão do combustível, ao voar a 30.000 pés, fez com que o voo fosse abortado; quatro dias depois, a turbina desligou-se após excessiva vibração, com o que Sayer foi obrigado a trazer o W4041/G em voo planado até a pista em Edge Hill. Essas sucessivas panes na turbina fizeram com que se instalasse um novo sistema de lubrificação, e somente após três meses e meio os voos foram reiniciados. Em 27 de setembro, nova pane no sistema de lubrificação, em um voo perante uma delegação norte-americana; ao aterrissar, a ponta da asa esquerda tocou no chão, danificando a parte inferior dela. Com a morte de Sayer em um acidente aéreo no dia seguinte, enquanto pilotava um caça monomotor Hawker Typhoon, os voos foram retomados por Michael Daunt, no dia 6 de novembro, desta vez com sucesso, após a substituição das tubulações de óleo por outras de maior diâmetro.

Em 1º de março de 1943, o W4046/G realizou seu primeiro voo, equipado com uma turbina W.2B de 544Kg de empuxo, sob o comando do piloto da Gloster, John Grierson. Ambas as aeronaves foram transferidas para o Royal Aircraft Establishment, em Farnborough, para a realização de mais testes. Em 30 de julho, o W4046/G, ao voar a uma altitude de 35.000 pés, pilotado pelo Squadron Leader Douglas Davie, teve seus ailerões imobilizados, colocando-o em um “spin” invertido; o piloto foi projetado para fora da cabine, e o W4046/G caiu no solo. O W4041/G permaneceu em uso para a realização dos voos de teste e, no início da primavera de 1943, recebeu uma turbina Power Jets W2/500, de 771Kg de empuxo; subsequentes modificações aumentaram a sua potência para 798Kg. Ao final do ano, a turbina W2/500 foi retirada e várias semanas passaram-se até que o W4041/G recebesse uma outra turbina. Os voos de teste só reiniciaram em abril de 1944; porém, com o seu sucessor, o Gloster G.41, prestes a entrar em serviço ativo, poucos voos foram realizados. Em 28 de abril de 1946, foi colocado em exposição no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia, em Londres, onde permanece até hoje. Voltando um pouco no tempo, já em agosto de 1940, G. Carter havia submetido um projeto inicial de caça a jato, o Gloster G.41: era um birreator, dada a pequena potência das turbinas então existentes, monoplace, de asas retas, equipado com quatro canhões de 20mm e trem de pouso triciclo. Em novembro do mesmo ano, o Ministério do Ar expediu a especificação F.9/40, baseada no projeto da Gloster, e encomendou 12 protótipos à empresa, com números de série DG202/G a DG213/G (posteriormente, esse número foi reduzido para seis e, por fim, aumentado para oito). O nome escolhido para o F.9/40 foi resultado de um longo processo; entre as inúmeras sugestões, citamos “Thunderbolt”, “Cyclone”, “Wildfire”, “Scourge”, “Terrific”, “Terrifier”, “Tempest”, “Avenger”, “Ace”, “Annihilator” e “Reaper”. Por fim, o Ministério de Produção de Aeronaves escolheu e insistiu no nome “Meteor”, após desistirem do nome “Thunderbolt”, escolhido para batizar o caça a pistão Republic P-47. Imediatamente após a encomenda ter sido firmada, a produção dos protótipos foi iniciada. As primeiras turbinas W.2B, produzidas pela Rover, não podiam, no entanto, ser utilizadas em voo, pelas constantes quebras das pás dos compressores. Isso acarretou demoras no desenvolvimento da aeronave, o que quase levou ao cancelamento do contrato! Felizmente, as primeiras turbinas Halford H.1, suficientemente confiáveis para serem utilizadas em voo, foram entregues em novembro de 1942 e o projeto pôde continuar. As turbinas existentes na época – Rover W.2B ou W.2/500, Rolls-Royce W.2B/23 e Halford H.1 – eram todas do tipo centrífugo, no qual o ar é acelerado e comprimido por um único compressor, passando por um conjunto de câmaras de combustão dispostas radialmente em torno do corpo da turbina. Apesar de simples, esse tipo de turbina requer uma tomada de ar com uma grande área frontal, o que aumenta o arrasto; além disso, o tubo de escape dos gases da turbina deve ser o menor possível, para minimizar a perda de potência. A alternativa é uma turbina de fluxo axial, na qual o ar é comprimido por uma série de rotores com pás, exigindo uma entrada de ar de menor área; uma turbina desse tipo, a Metropolitan-Vickers F.2, chegou a ser testada no protótipo DG204/G. O baixo rendimento dessa turbina, bem como a queda do protótipo após apenas 3h de voo, levaram ao cancelamento do desenvolvimento da turbina F.2 para uso no Meteor.
O primeiro voo foi realizado pelo quinto protótipo, equipado com turbinas H.1 de 1.500lb de empuxo, no dia 5 de março de 1943, a partir da estação em Cranwell. Nos dias 12 de junho e 24 de julho, o primeiro e o quarto protótipos realizaram seus primeiros voos, respectivamente, equipados com turbinas W.2B/23. No dia 13 de novembro, o terceiro protótipo fez seu voo inicial, equipado com turbinas F.2, instaladas sob as asas, em um arranjo diferente dos demais protótipos. Ainda em novembro, o segundo protótipo realizou seu primeiro voo, equipado com uma turbina Power Jets W.2/500. O sexto protótipo voou a 24 de julho de 1945, equipado com duas turbinas de Havilland Goblin, as quais viriam a equipar o caça a jato de Havilland Vampire. O sétimo protótipo havia realizado seu primeiro voo a 20 de janeiro de 1944, equipado com uma cauda de desenho modificado e freios aerodinâmicos. Por fim, o oitavo e último exemplar de pré-série voou a 18 de abril de 1944, equipado com as turbinas Rolls-Royce W.2B/37 Derwent I. Os primeiros exemplares de série foram os vinte Gloster G.41A Meteor Mk.I, equipado com as turbinas W.2B/23C Welland, e incorporavam pequenas modificações em relação aos exemplares de pré-série, incluindo um canopi com melhor visibilidade para trás. Muitos desses foram utilizados como aeronaves de teste, para desenvolvimento de turbinas e da aeronave em si, incluindo o 18º exemplar, chamado de “Trent-Meteor” e que foi a primeira aeronave do mundo propulsionada por um motor turboélice (uma turbina Derwent movia uma hélice pentapá Rotol, através de um eixo ligado a uma caixa de redução), tendo voado nessa configuração a 20 de setembro de 1945. O Gloster Meteor, em sua versão F.I, seria o primeiro caça a jato do mundo a ser usado operacionalmente por um esquadrão, o No. 616 "South Yorkshire" da Força Aérea Auxiliar (Auxiliary Air Force), o qual receberia seus dois primeiros exemplares no dia 12 de julho de 1944. O esquadrão realizaria as primeiras surtidas operacionais no dia 27 de julho e obteve as suas primeiras vitórias no dia 4 de agosto, quando duas bombas-voadoras alemãs V-1 foram abatidas pelos Flying-Officer (F/O) Dean e F/O Roger (o primeiro perturbando o fluxo de ar abaixo da asa da V-1 com a ponta da asa de seu Gloster Meteor F.I, colocando-a em um "spin" irrecuperável e o segundo a tiros de canhão). No dia 18 de dezembro de 1944, os primeiros Gloster Meteor F.III foram entregues ao esquadrão e no dia 4 de fevereiro uma esquadrilha seria deslocada para a Bélgica, sob controle do Grupo nº 84, 2ª Força Aérea Tática, da Força Aérea Real (Royal Air Force). Em abril de 1945, o esquadrão no. 504 "County of Nottingham" passou a ser a segunda unidade a operar o Gloster Meteor. O Meteor F.III carregava uma maior quantidade de combustível, bem como uma cobertura deslizante da cabine. Apenas quinze exemplares foram construídos com as turbinas Welland; todos os restantes duzentos e sessenta e cinco exemplares utilizaram as turbinas Derwent, algumas delas em naceles alongadas. A versão seguinte, F.IV, utilizou estas mesmas turbinas e alguns deles tiveram a envergadura reduzida em 1,78m (5ft 10in); também, a partir do 89º exemplar, a fuselagem foi acrescida de uma seção de 0,30 metros à frente das asas, o que contribuiu para diminuir o problema de instabilidade longitudinal presente nas versões anteriores.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, o advento dos aviões de combate movidos a reação provocaria a obsolescência quase que imediata dos modelos de aeronaves com motores a pistão, provocando assim uma corrida para o reequipamento de diversos países. Na Grã-Bretanha as novas versões posteriores do Gloster Meteor F.III e F.IV passariam a dominar incialmente os aeródromos ingleses e logo em seguidas os franceses, após o modelo ser adquirido pela Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). A partir de 1947, mais nações passariam a se interessar pela aeronave de caça inglesas, entre elas a Argentina, que faria uso de créditos de guerra, com a Inglaterra disponíveis em sua balança comercial, para proceder a aquisição de cem células da versão Gloster Meteor F.IV (sendo cinquenta usadas da Força Aérea Real - RAF e cinquenta novas aeronaves de fábrica). Neste mesmo período iniciar-se-ia o processo de treinamento e conversão dos pilotos da Força Aérea Argentina (FAA) na Inglaterra, no transcorrer deste programa seriam identificadas inúmeras dificuldades, pois apesar das aeronaves serem fáceis de planejar, os jatos apresentavam certas peculiaridades em termos de conceitos de projeto (sistemática inglesa), o que poderiam gerar riscos de acidentes graves durante o processo de adaptação dos novos pilotos. Neste contexto, a única maneira de treinar os pilotos argentinos, era retirar a cobertura da cabine e fazer várias corridas pela pista, com um instrutor do britânico deitado sobre a fuselagem, atrás da cabine, gritando instruções ao aluno. Interessante é notar que a própria Força Aérea Real (RAF) treinava seus futuros pilotos de Gloster Meteor em caças a pistão, após o qual passavam por checagem da cabine, no solo, até que eram autorizados a realizarem seu primeiro voo a jato. Ciente destas necessidades, os engenheiros da Gloster Aircraft Company. iniciariam com recursos próprios os estudos para o desenvolvimento de uma versão específica para treinamento e conversão. Este projeto seria desenvolvido com base em uma célula do modelo Gloster Meteor F.IV, estendendo a fuselagem, na área do nariz em 76 cm, removendo o armamento de quatro canhões de 20 mm, colocando uma cobertura com molduras sobre a cabine de pilotagem (aluno e instrutor sentados em tandem). No objetivo de se obter uma boa relação de custo e benefício, esta versão adotou o conceito de simplicidade tanto em termos de avionica quanto no despojamento, não recebendo provisão para sistemas de armas e assentos ejetores. O protótipo designado como Gloster Meteor T.7, ostentando a matrícula civil G-AKPK, voou pela primeira vez em 19 de março de 1948, sendo logo destinado a um completo programa de ensaios em voo, supervisionado pelos instrutores de conversão da Força Aérea Real (RAF).
Após o  transcorrer de seis meses, este programa de ensaios em voo seria concluído com sucesso, com a diretoria industrial da Gloster Aircraft Company - G.A.C autorizando sua produção em série, com o modelo sendo oferecido não só para a Força Aérea Real (RAF), mas também para os operadores da versão monoposta da aeronave. O primeiro contrato seria celebrado no mesmo ano com o governo argentino, que faria a aquisição de dez aeronaves para uso pela Força Aérea Argentina (Fuerza Aerea Argentina). Neste mesmo período a nova aeronave seria avaliada pelo Ministério do Ar da Grã-Bretanha, com seu desempenho e a real funcionalidade do modelo no processo de treinamento e conversão agradando os oficiais envolvidos neste processo. Desta maneira logo seria assinado o primeiro contrato, envolvendo cinquenta aeronaves, com contratos subsequentes sendo firmados nos anos seguintes, totalizando seiscentas e quarenta aeronaves entregues a Força Aérea Real (RAF). Acordos de exportação seria conquistados neste mesmo período, com o modelo Gloster Meteor TF-7 sendo incorporado as forças aéreas da França, Dinamarca, Bélgica, Egito, Israel, Brasil e Nova Zelândia agregando mais sessenta e duas aeronaves produzidas.  A carreira do Gloster Meteor TF-7 acompanharia lado a lado a história das versões monoplace, com importante participação nas fases inicias da Guerra da Coréia (1950 – 1953), quando aeronaves do Esquadrão Nº 77,  da Força Aérea Real Australiana – RAAF (Royal Australian Air Force), foram destacados para operar a partir de Pohang, na Coréia do Sul. Neste conflito seu batismo de fogo se daria em 29 de agosto de 1951, quando oito deles foram engajados por um grande número de MIG-15 sobre Chongju, a uma altitude de 35.000ft. Superiores em manobrabilidade, os caças soviéticos derrubaram um Gloster  Meteor F-8 e danificaram outros dois, sem sofrerem nenhuma perda.  Os embates seguintes mostrariam que o caça inglês não estava apto a enfrentar a ameaça dos novos caças a jato soviéticos, sendo substituídos na linha de frente pelos novos caças North American F-86 Sabre. Logo em seguida estas aeronaves seriam retiradas do serviço ativo na Inglaterra e França, substituídos por aeronaves mais modernas. As células exportadas apresentariam uma sobrevida maior em países como Brasil e Argentina até meados da década seguinte, quando falhas estruturais demandariam sua aposentadoria precoce.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira contava com mais de mil e quinhentas modernas aeronaves militares, com quase a sua totalidade sendo recebida a partir de 1942, nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Em termos de capacidade ofensiva dispunha-se de um grande número de células de aeronaves de primeira linha, como os famosos caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, Curtiss P-40 Warhawk e aeronaves de ataque Douglas A-20 Havoc e North American B-25 Mitchel. Esta combinação de aeronaves de combate combinada com modelos de transporte e patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), tornavam está a segunda maior força aérea das Américas, e a maior arma aérea do hemisfério sul do planeta. No entanto, o advento e maturidade da aplicação de motores turbo jatos em uma nova geração de aeronaves militares, tornaria os caças e bombardeiros de ataque a pistão virtualmente obsoletos em poucos anos. Além disso, a rápida substituição das aeronaves com motores a pistão pelos caças com motor a reação, nas linhas de produção das empresas de construção aeronáutica mundial, dificultava a manutenção das aeronaves a pistão em serviço, principalmente pela escassez no fluxo de obtenção de peças de reposiçao, fator este provocado pela descontinuidade da produção destes aviões logo após o término do conflito. Já os pilotos de caça brasileiros ressentiam-se da falta de uma aeronave moderna na qual pudessem desempenhar suas missões, e principalmente rivalizar com alguns de seus vizinhos que já dispunham deste tipo de aeronave de combate. Apesar desta importante necessidade operacional, o governo brasileiro neste momento carecia, de recursos financeiros para adquirir o número necessário de aeronaves para equipar no mínimo de três esquadrões de caça de linha de frente. Dado o alto custo unitário de um Republic F-84E Thunderjet ou North-American F-86F Sabre (US$300.000 e US$450.000, respectivamente), o total de US$ 15 milhões de dólares projetado para equipar um ou dois esquadrões em muito excedia os recursos disponíveis. E mesmo que custassem menos, não poderiam ser entregues a curto prazo, visto a prioridade de se enviar tais aeronaves às unidades da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) envolvidas diretamente na Guerra da Coréia (1950 - 1953), e tão necessárias para se fazer frente aos modernos caças soviéticos Mikoyan-Gurevich MIG-15. E por fim, o governo norte-americano, naquele período, não se mostrava inclinado a vender aeronaves de combate avançadas às nações latino-americanas, alegando que isso alteraria o equilíbrio de forças no continente.

Uma solução seria então prospectada no mercado europeu, buscando uma aeronave que se enquadrasse na dotação orçamentaria vigente do Ministério da Aeronáutica (MAer) e apresentasse o menor prazo de entrega possível de um grande lote de aeronaves. Esta alternativa seria materializada em uma proposta apresentada pela empresa britânica Gloster Aircraft Company - G.A.C, com seu jato de caça e ataque Gloster F.8 Meteor. Desta maneira conversações seriam conduzidas entre o governo brasileiro e o inglês, visando a aquisição desta aeronave, com estas tratativas culminando em novembro de 1952, na assinatura de um contrato para a aquisição de sessenta exemplares da versão Gloster Meteor F.8 e dez da variante de treinamento e conversão Gloster Meteor T.7. Os termos deste acordo estipulavam a troca das aeronaves por cerca de 15.000 toneladas de algodão (equivalentes, à época, a quatro milhões de libras esterlinas), a um custo unitário por célula de 42.810 e 40.310 libras esterlinas, respectivamente (a diferença correspondendo a material sobressalente, treinamento de pessoal, transporte e seguro das aeronaves no transporte para o Brasil e uma reserva para cobrir alguma eventualidade). A Força Aérea Brasileira designaria então a versão monoplace como F-8 e a de biplace de treinamento e conversão como TF-7. Os Gloster Meteor F-8 adquiridos pelo Brasil estavam configurados tanto para missões de interceptação como para ataque ao solo, à semelhança das aeronaves adquiridas pelas forças aéreas australianas e israelenses. Para tanto, carregavam o armamento interno padrão de quatro canhões de 20 mm Hispano-Suiza HSS-GM/804, com cadência de 750 a 800 tiros por minuto. Cada canhão era armado com 195 cartuchos; a munição foi adquirida da fábrica belga FN.no nariz; as asas eram reforçadas para carregar dez foguetes HVAR de 5 polegadas ou duas bombas de 500lb. A fim de aumentar sua autonomia de voo, podiam transportar dois tanques subalares de 454 litros e um ventral de 794 litros. Dez pilotos foram enviados à Grã-Bretanha para realizarem a conversão para a aeronave, entre eles os comandantes do 1º Grupo de Aviação de Caça - Esquadrão Jambock e dos 1º, 2º e 3º esquadrões daquela unidade, do 1º/14º Grupo de Aviação – Esquadrão Pampa os oficiais de operações destes grupos de aviação e caça, um líder de esquadrilha da unidade gaúcha, os futuros comandantes do 1º GAVCA e do 1º/14º GAV, além do futuro oficial de operações do 1º Grupo de Aviação de Caça. Um grupo de cinco oficiais e sargentos especialistas da aeronáutica receberam instrução técnica sobre a operação e manutenção das turbinas e da célula junto as fábricas da Rolls-Royce e da Gloster Aircraft Company.
Após a instrução teórica, os pilotos brasileiros completariam em média dez horas de instrução de vôo nos Gloster Meteor TF-7, a partir da pista de treinamento do fabricante em Moreton Valence, antes de solarem no Gloster Meteor F-8, utilizando apenas as aeronaves pertencentes ao lote adquirido pelo Brasil. O primeiro oficial da Força Aérea Brasileira a fazê-lo foi o então Major-Aviador Joao Eduardo Magalhães Motta, a 12 de fevereiro de 1953. Segundo relatos, voar o Gloster F-8 Meteor foi considerado até mais fácil do que voar o Republic P-47D Thunderbolt, à exceção do sistema de freio, que era comandado por um gatilho no manche; para se fazer uma curva, utilizava-se freio diferencial, pressionando-se o pedal esquerdo ou direito de forma apropriada. Particularmente difícil, no entanto, foi enfrentar os rigores do inverno britânico; voos com pouco mais de 20 minutos de duração eram conseguidos após muitos dias no solo à espera de condições climáticas favoráveis. Outra dificuldade foi se acostumarem ao sistema de controle de tráfego aéreo britânico, quando total confiança tinha de ser depositada no controle de aproximação por radar; uma voz feminina, muitas vezes, dava as devidas orientações de rumo e altitude até que, através das nuvens, neblina e neve, surgisse a cabeceira da pista. Após a aceitação das aeronaves prontas pelo COMFIREM (Comissão de Fiscalização e Recebimento de Material), as células foram desmontadas e remetidas ao Brasil por via naval, tendo as duas primeiras aeronaves Gloster Meteor TF-7 chegado ao Brasil em 13 de abril de 1953, sendo seguido por mais duas unidades no dia 20 do mesmo mês. Estas seriam remetidas por via terrestre para Fábrica do Galeão, onde foram montadas sob a supervisão técnica do engenheiro da Gloster Aircraft Company o Senhor Freeman. Finalmente no dia 22 de maio de 1953 sob o comando do piloto de provas da Gloster Aircraft Company, Sr Andrew McDowall, o Gloster Meteor TF-7 “FAB 4301” realizaria o primeiro voo no Brasil de uma aeronave a reação que envergasse as cores verde e amarela. Enquanto não se concluíam as obras de ampliação da pista e do pátio de estacionamento da Base Aérea de Santa Cruz – BASC, os Meteors destinados aos 1º/1º e 2º/1º Grupo de Aviação de Caça permaneceram sediados na Base Aérea do Galeão, de onde foram realizadas surtidas de treinamento, incluindo a readaptação dos pilotos que haviam feito o estágio na Gloster. Em julho, as aeronaves, já montadas e testadas, deslocaram-se para a Base Aérea de Santa Cruz (BASC); as demais, seguiram à medida que ficavam prontas. Em agosto, iniciou-se o processo de conversão operacional na nova aeronave, com um extenso curso teórico, dadas as peculiaridades de operação do novo caça. Ainda sem terem instalados os rádio-goniômetros AN/ARN-6, nesse período realizaram-se algumas viagens, incluindo uma no trajeto Rio-Salvador-Recife-Natal-Fortaleza-Belém, que exigiu um enorme esforço logístico, incluindo o transporte de combustível JP-1 para aquelas localidades. Durante a viagem, ocorreu a primeira fragmentação do canopi (acidente que ocorreria com certa frequência nos primeiros anos de operação do Meteor), e por pouco não se perdeu piloto e aeronave.

Os primeiros Meteors destinados ao 1º/14º GAV – dois TF-7 (um deles o FAB 4308) e seis F-8 – saíram do Campo de Marte em direção a Cumbica no dia 3 de setembro de 1954, só chegando à Base Aérea de Canoas – BACO no dia 23, devido às más condições climáticas; um outro F-8, pertencente ao 1º Grupo de Aviação de Caça e já equipado com o rádio-goniômetro, foi pilotado pelo Ten.-Cel.-Av. Magalhães Motta; seu F-8 foi, por sua vez, pilotado por um piloto do 1º GAVCA. Passou então o 1º/14º GAV a dedicar-se à conversão de seus pilotos ao Meteor. Devido à retirada do serviço ativo das aeronaves Curtiss P-40, condenadas por fadiga do metal, os pilotos encontravam-se quase que sem nenhuma atividade aérea, utilizando alguns poucos North-American T-6. A chegada dos F-8 Meteor trouxe então vida nova ao Esquadrão “Pampa”, o qual passou a realizar vários voos de instrução, incluindo viagens de elemento ao longo de todo o estado do Rio Grande do Sul, para “mostrar a bandeira”. Também foi uma esquadrilha do “Pampa” a primeira da Força Aérea Brasileira a realizar uma demonstração aérea no exterior utilizando aeronaves a reação, ao abrilhantar os festejos do centenário do General Artigas, no Uruguai. Entre as atividades de treinamento, as tripulações do 1º/14º GAV realizavam as de instrução de tiro aéreo e terrestre, de início deslocando-se até a Santa Cruz; depois, utilizou-se a área de tiro próximo à Canoas, de 1957 a 1963, quando se passou a utilizar o campo de provas de São Jerônimo.  Cabe recordar que a utilização dos Meteor como aeronave de interceptação foi mínima, dada a inexistência de uma rede de alerta antecipado no Brasil, à época. Os radares de que dispunham os 1º e 2º esquadrões de Controle e Alarme eram antiquados e sujeitos a constantes falhas, de sorte que o uso dos Meteor foi centrado no emprego aerotático, de interdição e apoio aéreo aproximado, como havia sido utilizado pelos australianos na guerra da Coréia. Para tanto, utilizavam bombas de emprego geral de 250lb e 500lb, bem como foguetes HVAR de 5”. A fragmentação do canopi, relatada anteriormente, foi outro problema que afetou a operação do F-8. Ao chegarem ao Brasil, os canopis tinham a parte traseira em metal, o que obstruía a visão do piloto naquela área tão vital – pois “o inimigo que tu não vês é o que te derrubará!”. Esse canopi foi muito criticado pelos pilotos ingleses e a Gloster providenciou um outro, feito todo ele de “plexiglass”, oferecendo 360° de visão irrestrita ao piloto. Seria providenciada a troca do canopi de desenho antigo pelos novos em fins de 1957, após uma série de acidentes ocorridos com os F-8 sediados em Santa Cruz. Se supõe que tenham sido causados pela brusca mudança de temperatura ao levar a aeronave a grandes altitudes, após estarem estacionados sob o sol inclemente do Rio de Janeiro, pois a dilatação do “plexiglass” era diferente da do metal, levando a uma pressão excessiva deste último sobre o primeiro. Após a substituição, não mais ocorreram acidentes desse tipo. Também foram adquiridos capacetes rígidos para os pilotos para substituir os capacetes de couro, remanescentes de uma época passada; em janeiro de 1957, um piloto teve sua vida salva quando a fragmentação do canopi de seu F-8 fez com que dois pedaços se enterrassem em seu capacete, sem, no entanto, feri-lo.
Os Glosters Meteors foram retirados de serviço quando, dada a mudança em seu emprego, de caça de defesa aérea para aeronave de emprego aerotático, mas esforço foi imposto à sua estrutura, pela necessidade de se voar a baixas altitudes. Em junho de 1961, a Gloster enviou correspondência estabelecendo cuidados a serem tomados ao se usar os Meteor em voos a baixa altitude. Em fevereiro de 1962, a Gloster enviou outra correspondência, na qual proibia-se o uso dos T.7 com mais de 2.280h de voo e dos F-8 com mais de 1.750h; como nenhum dos Meteor brasileiros sequer haviam se aproximado desses números, a correspondência foi desconsiderada (o próprio 1º/14º GAV nem chegou a ser notificado). Finalmente, a 24 de abril de 1965, a Hawker Aviation Ltd., companhia que havia absorvido a Gloster, comunicou uma série de restrições ao uso dos Gloster Meteor: proibição de manobras em configuração limpa que excedessem a carga de -3g a +5g, e proibição de passar mais de 10% do tempo de voo abaixo de 1.000 pés. Se tais condições não fossem respeitadas, o surgimento de fissuras nas longarinas das asas seria quase uma certeza. Isso levou a um súbito cessar das operações do Gloster Meteor no Brasil, até que técnicos da Hawker realizassem testes nas aeronaves que se encontravam na BASC, BACO e no PAe-SP. Muitas aeronaves foram consideradas condenadas e algumas outras tiveram suas vidas estendidas em 50% através da realização de reparos em suas longarinas. Assim, a 31 de outubro de 1966, o 1º/14º GAV cessou suas operações com os Meteor, passando a utilizar os Lockheed AT-33A-20-LO. A 30 de novembro de 1966, uma esquadrilha, composta pelos Maj.-Av. Ernani (comandante do esquadrão), Cap.-Av. Jaeckel (oficial de operações), Cap.-Av. Trompowski e Ten.-Av Gatti, levou os Meteors remanescentes do “Pampa” para o Parque de Aeronáutica de são Paulo (PAe-SP), após 21.837h de voo nos TF-7/F-8, realizadas pelo 1º/14º GAV. O 1º Grupo de Aviação de Caça retirou os Meteor de serviço entre 1966 e 1968. O último voo de um TF-7 foi no dia 7 de outubro 1971, realizado pela aeronave 4309. Porém, a Força Aérea Brasileira operaria ainda um outro F-8, o qual foi matriculado inicialmente como 4399 e, posteriormente, como 4460. Ele foi construído a partir de peças de reposição e uma célula central que se encontravam armazenados no Parque de Aeronáutica de são Paulo (PAe-SP),, e utilizado como rebocador de alvos pelo 1º Grupo de Aviação de Caça, a partir da segunda metade de 1970. Inicialmente pintado em alumínio, depois recebeu uma camuflagem em dois tons de verde e uma de côr parda, semelhante às do EMB.326GB AT-26 Xavante, brevemente utilizado pelo 1º Grupo de Aviação de Caça no início da década de 1970. Seu último voo deu-se em 22 de abril de 1974, quando, após várias evoluções sobre os céus da Base Aérea de Santa Cruz (BASC), dirigiu-se ao Campo dos Afonsos aonde, após voos rasantes sobre a pista, pousou pela última vez e foi entregue ao Museu Aeroespacial, onde repousa até hoje, lado a lado com o TF-7 4309.

Em Escala.
Para representarmos o Gloster F-8 Meteor  "FAB 4422" célula pertencente ao 2º/1º Grupo de Aviação de Caça, empregamos o antigo modelo produzido pela GIIC Models na escala 1/48, tendo em vista que em sua época de aquisição ainda não havia sido lançado o excelente kit da Airfix. Os foguetes HVAR/FASC de 5″ foram retirados do set de armamentos do Douglas Invader A-26B da Revell. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais presentes no novo set FCM 48-053 que permite representar varias aeronaves deste modelo em uso na Força Aérea Brasileira. Este set inclui também excelentes mascaras de pintura para a versão de pintura do padrão "ovo estalado".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um padrão de pintura de alta visibilidade denominado como “ovo estalado”, que foi aplicado as aeronaves do ao 1º/1º e ao 2º/1º Grupo de Aviação de Caça, para auxiliar nas missões de treinamento de combate aéreo. Inicialmente as aeronaves ostentavam um padrão de pintura de metal natural, operando desde o seu recebimento em 1953. Já as aeronaves pertencentes ao 1º/14º Grupo de Aviação viriam a empregar outros padrões de pintura durante sua carreira na Força Aérea Brasileira. Como citado anteriormente o F-8 FAB 4460 receberia uma camuflagem em dois tons de verde e uma de cor parda, semelhante às empregadas novos Embraer EMB.326GB AT-26 Xavante.

Bibliografia :
-  Revista ASAS nº20  AMX na FAB – Claudio Luchesi e Carlos Felipe Operti
- Gloster Meteor O Primeiro Jato do Brasil - Por Aparecido Camazano Alamino - Editora C&R
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Dodge WC-62 e WC-63 (VTR - VTNE)

História e Desenvolvimento.
A Dodge Brothers Motors Company, fundada no início do século XX, desempenhou um papel significativo na indústria automotiva norte-americana, evoluindo de uma produção artesanal para um importante fornecedor de veículos militares e comerciais. Em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge iniciaram um empreendimento para desenvolver um automóvel inovador, distinto dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Nos primeiros anos, a produção era predominantemente artesanal, com dezenas de veículos fabricados manualmente. Em 1914, a empresa foi formalmente estabelecida como Dodge Brothers Motors Company, adotando a produção em série, o que ampliou sua capacidade produtiva e marcou o início de sua ascensão no mercado. A Dodge Brothers Motors Company rapidamente conquistou notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio, capturando uma fatia significativa do setor. O sucesso comercial gerou recursos financeiros substanciais, permitindo investimentos em novos segmentos e consolidando a marca como sinônimo de qualidade e confiabilidade. O falecimento dos irmãos fundadores em 1920 representou um marco crítico na história da empresa, levando a mudanças significativas em sua gestão e orientação estratégica. Apesar desse impacto, a Dodge continuou a operar com foco em crescimento e inovação, preparando-se para novas oportunidades de mercado. Em 1928, a Dodge Brothers Motors Company foi adquirida pela Chrysler Corporation, passando a integrar um conglomerado que incluía marcas como De Soto, Plymouth e Fargo. Sob a nova gestão, a marca Dodge manteve sua identidade e expandiu sua presença, beneficiando-se dos recursos e da estrutura organizacional da holding. A partir de meados da década de 1920, a Dodge direcionou esforços para o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado civil. Esses modelos foram baseados nas plataformas de veículos comerciais de passageiros da marca, uma estratégia que reduziu os custos de projeto e produção ao utilizar ferramental e processos de manufatura existentes. Os utilitários alcançaram êxito comercial, destacando-se no transporte de cargas e em atividades pesadas fora de estrada, reforçando a reputação da Dodge como uma marca robusta e versátil. O crescimento contínuo das vendas proporcionou recursos adicionais à Dodge, permitindo à empresa planejar projetos mais ambiciosos a curto e médio prazo. A competitividade comercial dos utilitários, impulsionada pelos baixos custos de produção, consolidou a posição da Dodge no mercado norte-americano e abriu caminho para sua diversificação. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global tornou-se preocupante, com a ascensão do partido nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto, aliado à possibilidade de uma corrida armamentista global, levou os Estados Unidos a antecipar potenciais ameaças, apesar de sua política oficial de neutralidade. A diretoria da Dodge Motors Company identificou uma oportunidade estratégica no mercado militar, vislumbrando a demanda por veículos especializados para atender às forças armadas.

Em 1934, utilizando recursos próprios, a Dodge iniciou o desenvolvimento de protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte. Esses projetos foram fundamentados na experiência adquirida durante a Primeira Guerra Mundial, quando a empresa forneceu veículos leves às forças armadas norte-americanas. O foco em caminhões militares marcou o início de uma nova fase de crescimento, alinhada às necessidades emergentes do setor de defesa. Em 1937, a Dodge realizou uma apresentação oficial ao comando do Exército dos Estados Unidos, exibindo seu primeiro caminhão experimental, o K-39-X-4, um modelo de 1½ toneladas com tração integral nas quatro rodas. Submetido a testes de campo, o veículo impressionou os militares por seu desempenho, resultando na assinatura de um contrato para a produção de aproximadamente 800 unidades. As entregas começaram nos meses subsequentes, marcando o início da colaboração da Dodge com o setor militar. O sucesso do K-39-X-4 levou à assinatura de novos contratos, mais significativos, para a produção dos modelos Dodge VC-1 e VC-6, ambos de ½ tonelada. Esses veículos foram projetados para atender às necessidades militares, mas versões destinadas ao mercado civil também foram lançadas, alcançando grande sucesso comercial no mercado doméstico norte-americano. Esse êxito incentivou a Dodge a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan, projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios. Em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente redesenhada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e designada como “Job-Rated”. Essa linha foi desenvolvida para atender a uma ampla variedade de tarefas e trabalhos, combinando funcionalidade, durabilidade e estética contemporânea. O lançamento reforçou a posição da Dodge no mercado civil e preparou a empresa para atender às demandas emergentes do setor militar. No final da década de 1930, as crescentes tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico evidenciaram a necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas dos Estados Unidos. O Exército definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga útil: ½ tonelada, 1½ tonelada, 2½ toneladas, 4 toneladas e 7½ toneladas. Esse padrão visava garantir a eficiência logística e a prontidão operacional em um cenário de potenciais conflitos globais. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) testou e aprovou três caminhões comerciais padrão com tração nas quatro rodas: Dodge de 1½ toneladas 4x4; GMC de 2½ toneladas 6x6; Mack de ½ tonelada 6x6. Esses modelos foram selecionados para atender às necessidades estratégicas do Exército, estabelecendo as bases para contratos de produção em larga escala. No verão de 1940, a Dodge-Fargo Division da Chrysler Corporation recebeu um contrato para fornecer 14.000 unidades de caminhões de ½ tonelada com tração integral 4x4, designados como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro de 1940. 
Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial em 1941, os caminhões da série VC da Dodge foram redesignados como série WC (Weapons Carriers). A letra “W” indicava o ano de início da produção (1941), enquanto o “C” representava a classe inicial de ½ tonelada. Posteriormente, o código “C” foi estendido a modelos de ¾ tonelada e 1½ toneladas 6x6. O primeiro modelo da família WC, a versão G-505 de ½ tonelada, tornou-se um pilar da logística militar do Exército dos Estados Unidos (US Army). Durante o ano de 1940, a Dodge Motors Company produziu mais de 6.000 caminhões leves com tração integral 4x4 do modelo Dodge WC de ½ tonelada, sob dois contratos firmados com o governo norte-americano. Esses veículos, identificados como modelos VF-401 a VF-407 (equipados com o motor tipo T-203 da Dodge G-621), eram variações dos protótipos pré-guerra RF-40 (-X) e TF-40 (-X) (ou T-200/T-201). Montados em um chassi com distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros), os novos caminhões WC substituíram os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada, pertencentes à série original G505. Entre o final de 1940 e o início de 1942, foram produzidas aproximadamente 82.000 unidades de caminhões WC de ½ tonelada com tração 4x4, sob diversos contratos com o Departamento de Guerra dos Estados Unidos. A produção foi realizada tanto pela Dodge Motors Company quanto pela Fargo Motor Car Company, demonstrando a capacidade industrial da Chrysler Corporation em atender às demandas do esforço de guerra. Os modelos WC-1 e WC-50, pertencentes à classe de ½ tonelada, apresentavam 80% de intercambialidade de componentes com os modelos subsequentes de ¾ tonelada, um requisito essencial para a manutenção em campo. Em 1942, a Dodge atualizou a carga útil, introduzindo: Modelo G-502: Um caminhão de ¾ tonelada 4x4, mais curto; Modelo G-507 (1943): Um caminhão de 1½ toneladas 6x6, projetado para transporte de pessoal e carga. Apesar das melhorias no design, esses modelos mantiveram cerca de 80% de componentes intercambiáveis com os de ½ tonelada, garantindo eficiência logística e operacionalidade próxima às linhas de frente. A família Dodge WC alcançou um total de 38 variantes, projetadas para atender a diversas funções militares, incluindo: Transporte de tropas; Transporte de carga; Ambulância; Carro-comando; Estação móvel de comunicações; Canhoneiro com arma de 57 mm; Oficina leve e Reconhecimento. Versões complementares com cabine aberta e cobertura de lona foram desenvolvidas para ampliar a versatilidade operacional, adaptando-se às condições adversas dos fronts de batalha. Um dos principais diferenciais da série WC era a intercambialidade de 80% das peças de reposição entre todas as versões e modelos produzidos pela Dodge. Essa padronização facilitou significativamente a logística de suprimentos e os processos de manutenção durante a Segunda Guerra Mundial, permitindo reparos rápidos e eficientes em diferentes teatros de operações. A série WC tornou-se um componente crítico da logística militar dos Estados Unidos, substituindo veículos obsoletos e proporcionando mobilidade, confiabilidade e versatilidade às forças armadas. 

Em fins do ano de 1942 o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) viria a alterar a configuração padrão de um pelotão armado de infantaria, passando de oito para doze homens, aumentando assim além da capacidade de combate a possibilidade de sobrevivência no campo de combate. No entanto em termos de material esta nova disposição, traria problemas na capacidade de mobilidade das tropas norte-americanas, tendo em vista que doze soldados não podiam ser transportados nos modelos Dodge WC-51 e WC-52 Beep com tração integral de 4X4, que até então representavam o sustentáculo das tropas motorizadas. Para solucionar este problema, o Major General Courtney Hodges, um dos principais comandantes do exército, sugeriu a montadora o desenvolvimento de uma versão alongada dos modelos de utilitários em serviço até então, visando assim comportar a nova configuração do pelotão de infantaria. Com base neste pleito, em fevereiro de 1943, sua equipe de projetos iniciou o desenvolvimento de um novo utilitário de maior porte que fizesse uso de um sistema de tração integral 6X6. No objetivo de se buscar o aproveitamento do ferramental existente e consequente otimização do processo de produção, seria empregado como ponto de partida a plataforma e componentes do Dodge WC-51. Ao fazer uso de um chassi de maiores dimensões, seria necessário promover mudanças em componentes críticos como suspensão e transmissão, o peso extra resultando deste processo levaria a necessidade de incorporação de um motor mais potente sendo escolhido então o Dodge T-223 com 93 hp de potência. O veículo que emergiria deste conceito poderia ser classificado como um caminhão de infantaria com grande capacidade fora de estrada (off road), apresentando uma estabilidade incrível em terrenos acidentados, graças ao seu baixo centro de gravidade e banda de rodagem larga (que é a mesma, dianteira e traseira).  A tração nas seis rodas e a grande distância ao solo permitiam que o veículo superasse muitos perigos, seu bom ângulo de aproximação e saída o possibilitava subir e descer encostas íngremes sem enterrar o para-choque ou a estrutura traseira no solo. Sua distribuição de carga era feita de forma uniforme sobre os três eixos podendo operar sem maiores percalços em terrenos lamacentos ou praias. Ainda como ponto positivo, sua silhueta baixa o tornava de difícil visualização a distância, e seu consequente piso baixo da carroceria facilitava em muito os processos de carregamento e descarregamento de tropas ou carga. Os primeiros carros pré-série seriam completados até meados do mesmo sendo então submetidos a testes de aceitação pelo Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps), com estes sendo validados para emprego operacional em setembro. O modelo agora designado como Dodge WC-62  (G-507/ T-223 ) teria sua produção em série iniciada no mês de novembro, com os primeiros carros sendo entregues logo em seguida. A exemplo dos modelos anteriores da família de utilitários desta montadora, seria desenvolvida uma versão equipada com um sistema de guincho elétrico do modelo Braden MU2 com capacidade de tração de até 3.409 kg, com este veículo recebendo a denominação de WC-63. 

Após um breve período de adaptação e treinamento, estes dois modelos começaram a ser disponibilizados em grandes quantidades as forças armadas norte-americanos, passando a se faze presentes em todos os fronts de batalha ao longo do conflito. Inicialmente seu escopo de tarefas seria focado nas tarefas de transporte de tropas e cargas na linha de frente, porém em uso constante observou-se que o emprego da tração 6X6 melhoria significadamente não só na transposição de terrenos adversos, mas também em estradas normais, fazendo com que os Dodges WC-62 e WC-63 passassem a ser empregados no Exército dos Estados Unidos (US Army) em tarefas de reboque de artilharia leve antitanque, geralmente peças de 37 mm e 57 mm. Até o termino do conflito seriam produzidos cerva de quarenta e três veículos divididos entre as versões principais Dodge WC-62 e WC-63, tendo saído das linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, na cidade de Detroit e da Chrysler Corporation. Estes veículos seriam inclusos também no portifólio do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) sendo fornecidos a nações aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. Logo após o término da guerra uma grande parte da frota pertencente ao em operação na Europa seria abandonada, com muitos veículos sendo incorporados as forças armadas da Áustria, França e Bélgica. Em serviço junto ao Exército dos Estados Unidos (US Army) os Dodges WC-62 e WC-63 voltariam a um cenário de conflagração real durante a Guerra da Coreia (1950 – 1953). A partir da segunda metade da década de 1950 estes veículos começaram a ser desativados das forças armadas norte-americanas, sendo substituídos por versões da família Dodge M-37. Este processo resultaria em um grande lote excedente de veículos que seriam repassados a nações alinhadas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos através de programas de ajuda militar, como Grécia, Irã, Nicarágua, Portugal e Suíça. 

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

Naquele período, o Exército Brasileiro encontrava-se em um estado de obsolescência no que tange a armamentos e equipamentos, destacando-se entre suas principais deficiências a escassez de caminhões militares com tração integral 4x4 e 6x6. Os poucos veículos disponíveis eram insuficientes para atender às demandas operacionais da força terrestre. A partir do final de 1941, o Brasil começou a receber os primeiros lotes de veículos militares destinados às Forças Armadas, no âmbito do programa de assistência militar. Contudo, os primeiros utilitários da família Dodge WC foram entregues somente ao final de 1942. Esses veículos, em sua maioria, eram viaturas recém-fabricadas nas linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck e da Chrysler Corporation. Dentre os modelos iniciais, destacavam-se os utilitários Dodge WC-62 e WC-63 Big Shot, que passaram a ser utilizados pelos regimentos de infantaria localizados na cidade do Rio de Janeiro. A incorporação desses veículos com tração integral 4x4 ao Exército Brasileiro representou um marco significativo, elevando a doutrina operacional da força terrestre a um novo patamar. Essa modernização permitiu a substituição de uma frota de veículos leves civis, até então inadequados para fins militares, bem como de modelos obsoletos, como os Vidal & Sohn Tempo-Werk Tempo G1200, de origem alemã, recebidos em 1938, mas insuficientes para equipar uma unidade mecanizada. Nesse estágio inicial, aproximadamente trezentos utilitários norte-americanos da família Dodge WC, incluindo os modelos WC-51, WC-52, WC-62 e WC-63, foram entregues. Essa aquisição marcou o início de um processo de transição do Exército Brasileiro, que passou de uma força predominantemente hipomóvel para uma força terrestre moderna e mecanizada. Em conformidade com os compromissos assumidos junto aos Aliados, o Brasil formalizou sua participação no esforço de guerra em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada no Boletim Reservado de 13 de agosto do mesmo ano. Esse dispositivo legal instituiu a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com a missão de atuar em operações de combate no teatro europeu, sob os auspícios do Exército Brasileiro. A FEB foi estruturada segundo os padrões operacionais do Exército dos Estados Unidos (US Army), sendo composta pelas seguintes unidades: Três Regimentos de Infantaria: 1º Regimento de Infantaria, 6º Regimento de Infantaria (Caçapava) e 11º Regimento de Infantaria. Quatro Grupos de Artilharia: Três equipados com obuses de 105 mm e um com obuses de 155 mm. Uma Esquadrilha de Aviação: Pertencente à Força Aérea Brasileira, destinada a missões de ligação e observação. Unidades de Apoio: Um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de transmissões. O comando da FEB foi confiado ao General-de-Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, cuja liderança foi essencial para a organização e condução das operações.
O contingente estimado a ser enviado, seria da ordem de vinte e cinco mil soldados, e deveria atuar dentro do conceito operacional do Exército dos Estados Unidos (US Army), e desta maneira a Força Expedicionária Brasileira, deveria apresentar alta capacidade de mobilidade, devendo assim ser dotada de muitos veículos de transporte de pessoal de todos os modelos, sendo os mesmos em uso nas forças aliadas naquele momento. Atendendo ao cronograma estabelecido, o primeiro contingente brasileiro desembarcaria na cidade de Nápoles na Itália 16 de julho de 1944,  e após um breve período de treinamento passariam a integrar os efetivos do V Corpo do Exército dos Estados Unidos, sob o comando do general Mark Wayne Clark. Nesta etapa a Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia todo o seu armamento, equipamentos e veículos, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementação do Exército dos Estados Unidos (US Army), baseado na cidade italiana de Tarquinia.  Seriam dispostos um grande numero de caminhões, jipes e veiculos utilitários de médio porte, entre estes 137 viaturas 6X6 dos modelos Dodge WC-62 e WC-63.  O batismo de fogo da FEB ocorreu em 14 de setembro de 1944, durante as operações iniciais no Vale do Rio Serchio, na região da Toscana, Itália. Nesse dia, o 6º Regimento de Infantaria (6º RI), conhecido como "Regimento Ipiranga", oriundo de Caçapava, São Paulo, entrou em combate contra posições alemãs na Linha Gótica, uma fortificada linha defensiva estabelecida pelas forças do Eixo. Durante a Campanha da Itália, no âmbito da Segunda Guerra Mundial, os utilitários com tração integral 6x6 da família Dodge WC, pertencentes à Força Expedicionária Brasileira (FEB), desempenharam um papel essencial nas operações militares. Os utilitários Dodge WC-62 e WC-63 foram exaustivamente empregados no transporte de tropas e suprimentos, garantindo a mobilidade das unidades do Exército Brasileiro em terrenos acidentados e sob condições climáticas rigorosas. Sua capacidade de tração integral 6x6 assegurou o deslocamento eficiente em regiões montanhosas e lamacentas, características do front italiano. Esporadicamente, os Dodge WC-62 foram requisitados pelo Pelotão de Sepultamento (PS), unidade responsável pela coleta, identificação e sepultamento de militares brasileiros falecidos, além do envio de pertences pessoais aos familiares. Nessas operações, os veículos proporcionaram suporte logístico essencial, operando em conjunto com outras viaturas para cumprir essa delicada missão.

Seguindo o modelo adotado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), os Dodge WC-62 foram utilizados para tracionar peças de artilharia leves e médias, notadamente o canhão anticarro M-1 de 57 mm. Essa função reforçou a capacidade de mobilidade da artilharia brasileira no campo de batalha italiano, permitindo o reposicionamento rápido das peças em resposta às dinâmicas durante os momentos de batalha. Os veículos Dodge WC-62 e WC-63 da Força Expedicionária Brasileira (FEB) operaram em algumas das mais desafiadoras ações da Campanha da Itália, incluindo os combates em Montese, Castelnuovo di Vergato, Monte Castello, Camaiore, Monte Prano, Zocca, Collecchio e Fornovo. Nessas operações, enfrentaram condições extremas, como terrenos irregulares, chuvas intensas e o rigoroso inverno italiano. Apesar disso, demonstraram notável adaptação ao ambiente de guerra, mantendo funcionalidade mesmo com manutenção realizada em campo, frequentemente sem instalações adequadas ou ferramentas especializadas. Após o término do conflito em 08 maio de 1945, os caminhões Dodge WC-62 e WC-63 bem como os demais veículos, armas e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira seriam encaminhados ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta organização os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval.  Os veículos Dodge WC-62 e WC-63, modelos Big Shot, chegaram ao Brasil em tempo de integrar o desfile da Vitória, realizado em 18 de julho de 1945, na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi homenageada, exibindo ao público suas conquistas e glórias. No período pós-guerra, esses utilitários foram incorporados as unidades de infantaria motorizada e   também as companhias de canhões anti carro para tracionar os canhões M-1 de 57 mm. Nas duas décadas subsequentes, os veículos Dodge desempenharam um papel fundamental no processo de modernização e transformação da Força Terrestre Brasileira. Contudo, ao final da década de 1950, a frota começou a apresentar desafios operacionais significativos, especialmente devido à baixa taxa de disponibilidade. Esse cenário foi agravado pela dificuldade na aquisição de peças de reposição, particularmente para o motor a gasolina Dodge T-214, de seis cilindros, com válvulas laterais e refrigeração a água, cuja produção foi descontinuada nos Estados Unidos em 1947. 
Diante dessa conjuntura, tornou-se imperativa a busca por uma solução emergencial. Assim, o Exército Brasileiro, por meio de negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), viabilizou a aquisição de um lote significativo de utilitários mais modernos, pertencentes à família Dodge M-37 e M-43. A partir de 1966, o Brasil passou a receber mais de trezentos veículos usados desses modelos, marcando um novo capítulo na renovação de sua frota militar.   Concomitantemente às iniciativas de modernização da frota, a equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), sediado em São Paulo, conduziu estudos para substituir os motores a gasolina Dodge T-214, originalmente instalados nos utilitários Dodge (WC-51,WC-52, WC-53, WC-54, WC-62, WC-63), por motores a diesel de fabricação nacional. Essa iniciativa alinhava-se a programas similares em andamento, como a remotorização de caminhões GMC CCKW, Studebaker US6 e veículos meia-lagarta White Motors M-3, M-3A1 e M-5 Half Track. Contudo, o projeto de remotorização dos veículos Dodge não avançou além da fase inicial de prototipagem. Como medida paliativa, optou-se pela retífica dos motores a gasolina originais de grande parte da frota dos modelos Dodge WC-51 e WC-52, bem como de um número reduzido de unidades dos modelos WC-62 e WC-63. Esse processo foi executado pela empresa paulista Motopeças S/A, conferindo uma sobrevida operacional a essas viaturas. Apesar disso, a partir do final da década de 1970, os utilitários remanescentes começaram a ser gradualmente substituídos por caminhões militarizados de produção nacional, em um processo que se estendeu até o final da década de 1980. No período pós-guerra, os WC-62 e WC-63 foram amplamente empregados em operações de treinamento, transporte de tropas e equipamentos, além de apoio logístico em diversas regiões do país. Sua presença fortaleceu a capacidade do Exército de operar em cenários variados, contribuindo para a consolidação de uma doutrina militar mais dinâmica e adaptada às necessidades do contexto da Guerra Fria. Esses veículos também simbolizaram a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, reforçando o orgulho nacional pela atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com a desativação progressiva, muitos desses veículos foram leiloados a entusiastas ou alienados como sucata, marcando o encerramento de sua trajetória no Exército Brasileiro.

Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-63 "FEB 330", pertencente ao 11º Regimento de Infantaria da Companhia Anti Carros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) empregamos o excelente kit da AFV Club, na escala 1/35. Modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão WC-62 (sem o guincho elétrico frontal). Incluímos em resina, artefatos que simulam a carga em formato de caixas e lonas de campanha. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como complemento do livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático aplicado a todos os veículos em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, padrão este com os veículos foram cedidos ao Exército Brasileiro na Itália, recebendo neste momento apenas as marcações nacionais. Este esquema seria mantido durante o tempo de serviço dos Dodges WC-62 e WC-63,alterando-se apenas o padrão de matrícula, seguindo este esquema até sua desativação.


Bibliografia :

- FEB na Segunda Guerra Mundial, por Luciano Barbosa Monteiro
- Dodges WC Series - http://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series#WC51
- Standard Catalog of U.S. Military Vehicles, 1942
- Dodge 6X6 WC-63 da  FEB, por Expedito Stephani Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/Dodge.pdf